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Figueiredo, Pedro José de. Arte da grammatica portugueza – T01

Arte
da
grammatica portugueza.

Proemio.
Definição, e divisão da Grammatica.

Grammatica (a)1 é a arte de fallar, e escrever correctamente
segundo o uso recebido.

Chama-se arte, porque ensina os preceitos e regras para bem
ordenar a oração.

Oração é a união conveniente, ou bem disposta ordem de
palavras, com que exprimimos nossos pensamentos.

As palavras ou se consideram soltas, isto é, cada uma por
si; ou ligadas, e reunidas no contexto da oração.

Nas soltas, ou separadas deve-se attender ás letras com que
se escrevem; ao tom ou accento da sua pronunciação; e ao valor
ou differença que entre si tem, pelo que significam: nas ligadas,
ou reunidas no contexto á ordem, e correspondencia, que devem
guardar entre si.

Daqui vem as quatro partes, em que se divide a Grammatica:
Orthografia, Prozodia, Etymologia, e Syntaxe (b)2.

A Orthografia estabelece as regras de escrever as palavras
com as letras devidas, evitando pôr uma por outra, e alguma
de mais ou de menos.

A Prozodia ensina a pronunciação, som, e accento diverso,
correspondente a cadauma dellas segundo as letras e syllabas, de
que se compõe.

A Etymologia determina suas differenças na significação e uso.

A Syntaxe, contemplando as palavras já unidas, e no contexto
da oração, como partes que a constituem, prescreve a ordem
e correspondencia, que devem guardar para a boa composição.5

Livro I.
Etymologia.

Parte I.

Etymologia é a parte da Grammatica, que ensina a conhecer,
e distinguir entre si as diversas vozes ou palavras da oração.

As vozes ou palavras, de que se compõe a oração portugueza,
são quatro: Articulo, Nome, Verbo, e Particula.

Capitulo I.

Articulo.

Articulo é a voz, ou a parte da oração, que precede ao
Nome como signal, ou distinctivo de suas propriedades.

As propriedades do Nome são tres: Genero, Numero, e Relação.

O Genero mostra a differença no nome quanto ao sexo; e
é de dous modos: masculino, e feminino.

Numero marca a distincção, porque apartamos um de muitos;
e tambem se divide em dous: singular para significar uma
cousa só, e plural para significar muitas.

A relação determina o gráo da dependencia, que tem entre
si, e são seis as relações no nome que se dizem Agente, Pessoa,
Restringente, Recipiente, Paciente
, e Circumstancia.

O Articulo mostra pela differença em si mesmo estas propriedades
do Nome (a)3, e é de dous modos, umas vezes é definido
designando cousa certa e determinada; outras é indefinido,
e denota a cousa indeterminadamente pela maneira seguinte (b)4:6

Masculino.
Def. | Indef. | Def. | Indef.
Singular. | Plural.
O. | Os.
Do, De. | Dos, De.
Ao, A. | Aos, A.
O, Ao, A. | Os, Aos, A.
O, Do, De. | Os, Dos, De.

Feminino.
Def. | Indef. | Def. | Indef.
Singular. | Plural.
A. | As.
Da, De. | Das, De.
A’. A. | A’s, A.
A, A. | As, A.
A, Da, De. | As, Das, De.

II.
Nome, e suas especies.

O Nome é a voz, ou palavra, com que na oração designamos
o sujeito, ou sua qualidade, como: homem, prudente.

O Nome ou é substantivo, ou adjectivo.

Substantivo significa, ou dá a conhecer o sujeito, seja pessoa,
ou cousa, que existe ou se suppõe existir, assim real, como
incorporea, como: homem, leão, sciencia, affabilidade.

O adjectivo denota a qualidade do sujeito, ou seja propriedade
a elle annexa, ou accidente, que se lhe possa atribuir; e
por isso não pode estar na oração sem substantivo expresso, ou occulto,
como: prudente, feroz; e assim diremos unindo-lhes os
substantivos: homem prudente, leão feroz; dos quaes o primeiro
denota accidente, o segundo propriedade.

O substantivo divide-se em proprio e appelativo. Proprio
é o que pertence a uma só cousa, ou se dá a um só individuo,
como: Lisboa, Coimbra, que só convem a estas cidades.

O appelletivo convem, ou pode competir a muitos individuos
do mesmo genero, como: homem, cidade, rio, animal,
que se diz geralmente sem pensamento mais deste homem que
daquelle, mais desta, ou daquella cidade, rio, ou animal que
do outro.

O appellativo pode ser collectivo, augmentativo, ou diminutivo.
Collectivo é o que no singular significa multidão de cousas
como: povo, gente, cohorte, exercito; dos quaes os primeiros
significam multidão de homens, e os segundos multidão de soldados.

O augmentativo accrescenta a significação ao principal,
donde se deriva; e pela maior parte se terminam em ão, como:
7de pataca, patacão; de cavalleiro, cavalleirão; ou em az, como:
de ladrão, ladrabaz; de rufião, rufianaz.

Diminutivo tira, ou significa com diminuição o mesmo que
o principal, ou primitivo, donde nasce; delles ha muitos na lingua
portugueza, e acabam de ordinario em inho, e inha, como:
de filho, filhinho; de vara, varinha; de mulher, mulherinha ou
mulherzinha; de peixe, peixezinho ou peixinho; ou em ete, eta,
como: de livro, livrete; de panno, pannete; de villa, villeta;
de ilha, ilheta.

III.
Nome substantivo.

O nome é em si indeclinavel, pois, tirada a differença dos
numeros, nenhuma mudança ou variedade admitte em sua terminação;
mas para se poderem distinguir em cada um delles as
differentes relações é necessario que seja precedido do articulo; e
considera-se de duas maneiras (*)5.

I.
Nomes acabados nas vogaes
a, e, i, o, u.

Singular.
A Rainha.
O’ Rainha.
Da Rainha.
A’ Rainha.
A Rainha.
Da Rainha.

Plural.
As Rainhas.
O’ Rainhas.
Das Rainhas.
A’s Rainhas.
As Rainhas.
Das Rainhas.8

II.
Nomes acabados nas consoantes.
l, m, r, s, z.

Singular.
O Cardial.
O’ Cardial.
Do Cardial.
Ao Cardial.
O Cardial.
Do Cardial.

Plural.
Os Cardiaes.
O’ Cardiaes.
Dos Cardiaes.
Aos Cardiaes.
Os Cardiaes.
Dos Cardiaes.

Assim se pode juntar a qualquer destes nomes o articulo indefinido.

Os proprios, como por sua natureza são determinados, admittem
sómente o indefinido.

Nenhum nome temos, que acabe em outras letras alem destas
dez apontadas, salvo de fôr peregrino, trazido a uso da nossa
lingua, que se deverá escrever com as letras de sua origem, como:
Jacob, Isac, Madrid, Canon, Agamenon, e outras irregulares
que, ainda que estejam adoptados, devem-se reputar como
taes (a)6.

IV.
Formação do plural dos nomes.

No formar dos pluraes deve-se attender ás letras, em que
os nomes acabam no singular.

Todo o que no singular acaba em vogal accrescenta ao plural
um s, como: Rainha, Rainhas; lã, lãs; maçã, maçãs;
ave, aves; lei, leis; olho, olhos; báhú, báhús
.

Tiram-se desta regra, os que acabam no dithongo ão, dos
quaes uns mudam para ães, como: cão, cães; pão, pães; capitão,
capitães
; outros para ões, como sermão, sermões; coração,
corações; opinião, opiniões
. Mas muitos seguem a regra,
como: mão, mãos; irmão, irmãos; cidadão, cidadãos (b)7.

Dos que acabam nas consoantes, os em al, ol, ul mudam
9o l em es, como: Cardial, Cardiaes; farol, faroes; taful, tafues.
Exceptua-se mal, que tem no plural males; consul, e os
seus compostos visconsul, proconsul, que fazem consules, visconsules,
proconsules
; e real, que tambem por contracção faz reis.

Os acabados em el mudam o l em is, como: annel, anneis;
painel, paineis
.

Os em il agudo trocam o l em s, como: ceitil, ceitis; ardil,
ardis
. Tiram-se os adjectivos, que terminam em il grave,
os quaes mudam todos o il em eis, como: agil, ageis; inutil,
inuteis; docil, doceis
; etc. (a)8.

Em todos os acabados em m se converte o m em ns, como:
bem, bens; serafim, serafins; som, sons; dom, dons (b)9; jejum,
jejuns.

Os que acabam nas consoantes r, z, accrescentam no plural
a syllaba es, como: mar, mares; prazer, prazeres; martyr,
martyres; flor, flores; catur, catures; paz, pazes; vez,
vezes; raiz, raizes; noz, nozes; luz, luzes.

Na letra s acabam no singular mui poucos nomes, como:
Deos, que tem no plural Deozes; calis, que faz calices; e os adjectivos
simples, e duples, a que uns dão simplices, e duplices,
e outros conservam-lhe a mesma terminação do singular; alguns
que não fazem mudança do singular oara o plural, como: alferes,
cáes, arraes, ourives
(c)10, etc; e os proprios de homem,
assim como: Carlos, Domingos, Malachias, Marcos, Zacharias,
Mathias
, com os patronymicos Alvares, Henriques, Pires, Vasques,
e semelhantes.

Ainda que seja ordinario nos nomes terem ambos os numeros,
ha todavia nomes, que, por não admittirem algum delles,
são chamados defectivos, e heteroclitos.

Destes uns tem só singular, e carecem de plural, e são todos
os proprios de homem, mulher, reino, provincia, cidade,
monte, rio
, etc, excepto se se tomam em outro sentido como communs;
e os que competem a uma cousa única, e a significam individualmente,
taes são: oiro, prata, cal, sal, mel (d)11, trem,
ferrugem
, e alguns mais.

Outros sem admittirem singular tem só plural, como os nomes:
primicias, exequias, andas, fezes, viveres, alviçaras, preces,
fauces
, e outros, que pelo uso se aprenderão facilmente.10

V.
Nome adjectivo.

O nome adjectivo ou tem duas terminações, uma para o substantivo
masculino, outra para o feminino, como: justo, justa;
ou tem uma só, que serve igualmente para ambos, como: prudente.

Acabam os adjectivos de duas terminações nas vogaes o, u,
e no dithongo ão; e nas consoantes m, e r.

Os primeiros fomagnifirmam a terminação feminina mudando o o
em a, como: justo, justa; perfeito, perfeita; os segundos accrescentam
a mesma letra a, como: crú, crúa; nú, núa; e os
acabados no dithongo ão perdem o o, como: são, sã; meão,
meã; cortezão, cortezã
.

Dos que acabam nas consoantes mudam os primeiros para
a o m final, como: bom, boa; commum, commua (a)12; excepto
um, uma; algum, alguma; nenhum, nenhuma; e os que acabam
na letra r, que são pela maior parte os derivados dos verbos,
accrescentam a vogal a, assim como: amador amadora; defensor,
defensora; vencedor, vencedora
.

VI.
Differentes especies do adjectivo.

O adjectivo ou é adjectivo propriamente dito, isto é, que
se junta, ou accrescenta á cousa, ou substancia, para lhe denotar
a sua qualidade: ou é pronome, isto é, que se põe em lugar
da mesma cousa, não para lhe declarar qualidade, mas para indicar
a pessoa: ou é participio, isto é, que não só lhe denota a
qualidade, mas até lhe chega a descobrir a acção. Estas são as
tres propriedades do sujeito, que vem a ser: qualidade, pessoa,
e acção.

Destes ultimos, isto é, dos participios trataremos depois dos
verbos, por ser o lugar proprio, que lhes assignam quasi todos
os grammaticos.

Dos adjectivos, ou que se ajuntam ao sujeito, e exprimem
qualidade, ha varias differenças: podem ser, segundo as varias
significações que admittem, partitivos, possessivos, numeraes,
patrios, gentilicos, pozitivos, comparativos
, e superlativos.11

Partitivo é o que significa dividida parte de alguma multidão,
como: um, algum, qualquer, cada.

Possessivo é o derivado do mesmo nome do possuidor da
cousa, como: Christão de Christo, paternal de pai, e são muito
raros.

O numeral significa numero; quando este numero é indeterminado,
como: um, dous, tres, chama-se numeral cardinal; e
quando é certo, e determinado, como: primeiro, segundo, terceiro,
é numeral ordinal.

Patrio designa a patria donde é algum natural, como: de
Lisboa lisbonense ou lisboez; de Coimbra conimbricense ou
coimbrão; de Braga bracharense; de Evora eborense, ou evorense.

Gentilico declara a gente, provincia, ou nação, como: assyrio,
grego, africano, portuguez, catalão.

O pozitivo explica a qualidade da cousa absoluta, e simplesmente,
como: grave, douto, prudente.

O comparativo augmenta a significação do pozitivo, e exprime
pela comparação de outro a mesma qualidade em maior
gráo, e faz-se juntando ao pozitivo o adverbio mais, como: mais
grave, mais douto, mais prudente
.

O superlativo ainda accrescenta mais, e levanta ao gráo
mais subido a significação do pozitivo, juntando ao pozitivo o
adverbio muito, dizendo: muito grave, muito douto, muito prudente.

A maior parte dos superlativos se formam tambem do mesmo
pozitivo, mudando-lhe a terminação em issimo, e levando
já em si a significação superlativa, assim como: de grave, gravissimo;
de douto, doutissimo; de prudente, prudentissimo.

VII.
Formação dos superlativos.

Formam-se os superlativos conforme a terminação dos seus
pozitivos.

Se acaba o pozitivo em o, ou e muda esta ultima vogal
em issimo, assim como: de bello, bellissimo; de grave gravissimo (a)13.
Tiram-se desta regra sagrado, que faz sacratissimo;
frio, frigidissimo; e aspero, e misero que tem os superlativos
aspérrimo, misérrimo.12

E dos que acabam em e, nobre, que faz nobilissimo; e
celebre e salubre, que fazem celebérrimo, salubérrimo (a)14.

Tiram-se mais os acabados em co, e go, dos quaes mudam,
os primeiros a syllaba final co em quissimo, como: rico, riquissimo;
pouco, pouquissimo; fresco, fresquissimo; fraco, fraquissimo:
e os segundos mudam o o em uissimo, como: largo, larguissimo;
longo, longuissimo; amargo, amarguissimo; á excepção
de parco, parcissimo, que segue a regra, e amigo que tem
amicissimo; e antigo, antiquissimo.

Os pozitivos acabados em ão fazem o superlativo mudando
o o final em nissimo, como: de são, sanissimo; de vão, vanissimo;
de chão, chanissimo. Tira-se Christão, que faz Christianissimo.

Os pozitivos acabados em l formam o superlativo accrescentando-se-lhe
issimo, como: especial, especialissimo; igual, igualissimo;
perjudicial, perjudicialissimo; cruel, cruelissimo; util,
utilissimo; fertil, fertilissimo; azul, azulissimo: e assim do mesmo
modo os pozitivos que acabam em r, como: singular, singularissimo;
particular, particularissimo. Exceptuam-se dos que
acabam em l, fiel, que tem fidelissimo; infiel, infidelissimo: os
que se terminam na syllaba vel, que mudam o v em b, como:
notavel, notabilissimo; terrivel, terribilissimo; abominavel, abominabilissimo (b)15;
e os pozitivos facil, difficil, e fragil, que
fazem facillimo, dificillimo, e fragillimo (c)16.

O pozitivo acabado em m muda o m em nissimo, como:
de bom, bonissimo; de commum, communissimo.

O pozitivo em z, muda o z final em cissimo, como: de
capaz, capacissimo; de feliz, felicissimo; de atroz, atrocissimo (d)17.

Exceptuam-se destas regras alguns pozitivos com comparativos,
e superlativos proprios, taes são:

Grande, maior, maximo.
Pequeno, menor, minimo.
Bom, melhor, optimo.
Máo, peior, pessimo (e)18.13

Aos quaes se podem juntar interno, que tem interior, intimo;
externo, exterior, extremo; e antigo, anterior, antiquissimo.

Pelo mesmo modo se exceptuam alguns comparativos, a
que damos superlativos tambem irregulares, mas carecem de pozitivos,
como: inferior, infimo; posterior, postremo (a)19; superior,
supremo, ou summo; ulterior, ultimo
; e citerior, que nem
tem pozitivo, nem superlativo.

Em geral não formam comparativos, nem superlativos os
partitivos, numeraes, patrios, gentilicos, e os pronomes, e assim
todos aquelles, cuja significação não pode crescer, ou augmentar-se.

VIII.
Pronome.

Quando o nome substantivo não está na oração, mas está
por elle outro que particularmente o designa em quanto á pessoa,
este, como disse, chama-se pronome, e significa pessoa, ou cousa
determinada. Divide-se o pronome em demonstrativo, reciproco,
relativo
, e interrogativo.

Pronomes demonstrativos.

Da primeira pessoa.

Singular.
Eu.
De mim.
Me, ou a mim.
Me, ou a mim.
Mim, ou de mim.

Plural.
Nós.
De nós.
Nos, ou a nós.
Nos, ou a nós.
Nós, ou de nós.

Da segunda pessoa.

Singular.
Tu.
O’ tu.
De ti.
Te, ou a ti.
Te, ou a ti.
Ti, ou de ti.

Plural.
Vós.
O’ vós.
De vós.
Vos, ou a vós.
Vos, ou a vós.
Vós, ou de vós.14

Da terceira pessoa.

Singular.
Elle, ella.
D’elle, d’ella.
Lhe, ou a elle, lhe, ou a ella.
O, ou a elle, a, ou a ella.
Elle, ou d’elle, ella, ou d’ella.

Plural.
Elles, ellas.
D’elles, d’ellas.
Lhes, ou a elles, lhes, ou a ellas.
Os, ou a elles, as, ou a ellas.
Elles, ou d’elles, ellas, ou d’ellas.

Esta mesma ordem do pronome elle, que tambem é relativo,
guardam os outros pronomes demonstrativos de terceira pessoa,
só com a differença de levarem todos no singular unicamente
uma terceira terminação, ou forma, a que se pode chamar neutra,
desta sorte:

Este, esta, isto.
Esse, essa, isso.
Aquelle, aquella, aquillo (a)20.

E assim tambem os seus compostos:

Estemesmo, estamesma, istomesmo.
Essemesmo, essamesma, issomesmo.
Aquellemesmo, aquellamesma, aquillomesmo.

Porem estoutro, estoutra; essoutro, essoutra; aquelloutro,
aquelloutra
tem só duas terminações.

Algumas vezes não são estes rigorozos pronomes, mas usam-se
como adjectivos, acompanhando, e modificando os mesmos nomes,
que por si só podiam significar.

Pronome reciproco.

Singular e plural.

De si.
Se, ou a si.
Se, ou a si.
Si, ou de si.15

Dos pronomes demonstrativos pessoaes, eu, e tu, e deste
pronome reciproco, tambem por isso chamados primitivos, nascem
os adjectivos possessivos, ou derivados, a que os grammaticos
chamam commumente pronomes: isto é, do singular eu,
tu, de si
nascem meu, minha; teu, tua; seu, sua; e do plural
nós, e vós nascem nosso, nossa; vosso, vossa; os quaes tambem
por isso são de primeira, segunda, e terceira pessoa.

Pronomes relativos.

Singular.
Que, o qual; que, a qual.
De que, cujo, do qual; de que, cuja, da qual.
A que, ao qual; á que, á qual.
Que, o qual; que, a qual.
De que, do qual; de que, da qual.

Plural.
Que, os quaes; que, as quaes.
De que, cujos, dos quaes; de que, cujas, das quaes.
A que, aos quaes; á que, ás quaes.
Que, os quaes; que, as quaes.
De que, dos quaes; de que, das quaes.

Pronomes interrogativos.

Singular.
Quem, qual.
De quem, cujo, cuja, de qual.
A quem, a qual.
Quem, qual.
De quem, de qual.

Plural.
Quem, quaes.
De quem, cujos, cujas, de quaes.
A quem, a quaes.
Quem, quaes
De quem, de quaes
.16

Capitulo II.

Genero dos nomes.

Todos os nomes substantivos hão de pertencer necessariamente
a um de tres generos, ou masculino, ou feminino, ou commum
de dous
; isto é, commum a um, e a outro genero.

Conhecem-se facilmente pelos articulos, que lhes precedem;
pois o articulo o mostra os do genero masculino, e o articulo a
os do feminino. Distinguem-se tambem por uma de duas maneiras,
ou pela significação, ou pela terminação.

Genero, que se conhece pela significação.

I.

São do genero masculino todos os nomes, que significam
macho, assim proprios, como appellativos; ou sejam nomes de
homem, como: João, Antonio; ou de brutos animaes, como:
leão, javali; ou de couzas, que se refiram do homem, como:
Principe, Cardial.

Pertencem igualmente ao genero masculino os proprios de
máres, assim como: Oceano, Baltico; de rios, como: Tejo,
Mondego
; de ventos, como: norte, nordeste; e os dos mezes,
como: Fevereiro, Julho; e os das letras do Abecedario, a, b,
c, d
, etc.

II.

São femininos, ou sejam proprios, ou appellativos, os nomes,
que significam femea; sejam de mulheres, como: Maria,
Ignacia
; ou de brutos, como: ovelha, rapoza; ou de couza,
que diga respeito a mulher, como: Condessa, Baroneza.

Da mesma sorte são femininos os que significam alguma
das quatro partes do mundo, como: Europa, Azia, Africa,
America
; os das principaes sciencias, e artes liberaes, como:
Theologia, Mathematica, Grammatica, Poesia; e quazi todos
os das virtudes, e vicios, como: Prudencia, Generosidade, Crueldade,
Ingratidão
, e semilhantes.17

III.

São communs de dous, ou pertencem ora a um, ora a outro
genero os nomes, que com uma só terminação significam
juntamente macho, e femea, e se lhes pode unir qualquer dos
articulos, como: martyr, infante, virgem; e da mesma sorte
os que chamam epicenos, que com um só artigo significam igualmente
macho, e femea, como: cobra, açor, perdiz, balea, elefante,
crocodilo
, que sempre se dizem do mesmo modo, ou seja
macho, ou femea, e competem ao genero do articulo, que lhes
precede.

Genero, que se conhece pela terminação.

Nomes acabados nas vogaes.

I.

Os nomes acabados em a são femininos, como: Rainha,
baixella
.

Tiram-se os proprios de homem, como: Caligula, Seneca,
Boaventura
; de rios, como: Lima, Guadiana; de montes, como:
Etna, Oeta; os que dizem respeito, ou se referem ao homem,
como: Monarcha, poeta, eremita, os quaes pertencem ao
genero masculino pela regra da significação. Tambem se exceptuam:
dia, clima, maná, enigma, estratagema, poema, thema,
diadema, idioma, mappa, cometa, planeta
(a)21, e alguns mais
de origem grega, que o uso ensinará.

II.

Os nomes acabados em e são do genero masculino, como:
bosque, semblante, arrabalde, monte.

Exceptuam-se neve, face, prole, cohorte, fonte, arvore (b)22,
pyramide etc; todos os que pela regra da significação denotam
cousa femea, como os proprios: Calliope, Cybéle; os que acabam
em ade, como: saudade, prosperidade, bondade, puridade,
variedade
: ainda que Abbade, e Frade são masculinos; os que
tem no final ice com a penultima aguda, como: velhice, sandice,
e os que acabam em e agudo, assim como: galé, polé, maré,
18com os monosyllabos, fé, cré, sé; porem caffé, boldrié, petipé,
etc., são conforme a regra.

III.

São tambem masculinos os que terminam em i, o, e u, assim
como: comboi, javali, livro, olho, breu, bambú.

Tiram-se lei, grei; alguns acabados em o agudo, como:
ilhó, mó, enxó, etc, e tribu (a)23, que são do genero feminino.

Os que fenecem no dithongo ão, tambem são masculinos,
como: limão, sertão, trovão.

Tiram-se mão, rebellião, opinião, etc; os que acabam em ção,
pção
, como: perfeição, adoração, prezumpção, adopção, excepto
cabeção, arção, coração, torção, etc; os acabados em dão,
xão
, e zão, como: mansidão, gratidão, genuflexão, compaxão,
prizão, lezão
, e outros.

Nomes acabados nas consoantes.

I.

São masculinos todos os nomes, que acabam em l, assim
como: Cardial, annel, covil, caracol, paul.

Exceptua-se cál que é do genero feminino.

II.

Os acabados em em são femininos, assim como: ordem, linhagem (b)24,
origem, viagem, personagem, ferrugem, imagem.

Tiram-se bem, trem, pagem, desdem, vintem, e homem etc.
que são masculinos.

III.

Todos os que finalizam em im, om, um são do genero masculino,
como: fim (c)25, jasmim, som, jejum.19

IV.

São tambem masculinos os nomes acabados em r, assim
como: pomar, talher, nadir, vapor, catur.

Exceptuam-se mulher, colher, cor, dor, flor; e dos acabados
em ur Aljezur, que são femininos.

Pertencem á regra geral os infinitos dos verbos, quando fazem
as vezes de nomes, como: amar, ver, arguir, dispor, que
são do genero masculino.

V.

Os acabados em s, e z são masculinos, como: atlas, ourives,
arraes, editos, jús
(a)26; e assim cartaz, arnez, juiz,
algoz, arcabuz
.

Tiram-se os de terminação em as defectivos de singular,
como: arras, andas, cócegas, alviçaras etc; alguns da terminação
em es, como: preces, efemerides, etc; e de is, e us os
nomes dosis, parafrasis, hypothesis (quando se escrevem por este
modo), cutis, e Venus; e na letra z: paz, tenaz, vez, torquez,
matriz, codorniz, voz, noz, cruz, luz
; e alguns poucos
mais, que são femininos.20

Parte II.

Capitulo I.

Verbo em geral, e suas principaes especies.

Verbo é a voz, com que na oração significamos acção, que
alguem pratica, ou recebe.

Divide-se em quanto ao genero, e significação em activo,
e passivo. Activo é o que denota, ou manifesta acção, que alguem
pratica, como: amo, que denota a acção, que eu agora
faço de amar.

Este ou é transitivo, ou intransitivo.

Transitivo é o que significa acção, que sahe do sujeito
que a pratica, e recebe em pessoa, ou cousa estranha, como:
amo por ex. a verdade; onde a verdade é a couza, em que recahe
a acção de amar, que eu pratico.

Intransitivo é o que significa, ou manifesta acção, que,
sem passar a pessoa, ou couza estranha, fica no sugeito, que a
pratica, como: durmo, rio, folgas, choras, desmaia, adoece;
pois a significação destes verbos não sabe, nem passa a sugeito
estranho.

O transitivo pode ser reflexivo, ou reciproco.

Reflexivo é aquelle, cuja acção retrocede, e vê recaïr na
mesma pessoa, que a pratica. Faz-se com os pronomes me, te,
se, nos, vos, se
, como: compadeço-me, queixas-te, abstem-se,
etc; onde a acção destes verbos recahe nos seus mesmos agentes:
mas alem destes propriamente reflexivos, podem todos os verbos
transitivos fazer-se reflexivos.

Se nas vozes do plural se encontra mutuamente acção do
verbo entre si de maneira, que cada uma das pessoas, que a
pratica, a recebe tambem da outra, chama-se então reciproco,
como: alegram-se, defendiam-se; pois não se entende a acção
destes verbos, que cada um se alegra, ou defendia a si mesmo,
mas ambos se alegram, ou defendiam um ao outro.

O verbo passivo é o que significa acção, que alguem recebe,
quando já vẽ da pessoa, ou couza, em quem recaïra primeiro,
21assimcomo: a verdade é amada por mim, onde é amada
por mim
designa receber eu a acção de amar, que já antes pratiquei.
E daqui se conhece, que para se dar verbo passivo, é
necessario suppô-lo primeiro na activa.

O passivo ou é substantivo, ou adjectivo. O primeiro significa
ser, ou existencia do sugeito, e leva em si significação passiva,
e sómente é o verbo Ser: o segundo exprime qualidade,
e não tẽ significação passiva em si, mas ha mister ser acompanhado
do passivo substantivo Ser, e são todos os outros na voz
passiva.

Differença dos verbos em suas conjugações.

Pode-se considerar o verbo tambem em quanto ás suas
propriedades.

Dão-se no verbo quatro propriedades: modo, tempo, numero,
e forma.

Os modos são dous: finitivo, que denota acção com pessoa
determinada: e infinitivo, a mesma acção indeterminadamente,
ou sem pessoa: o primeiro divide-se em indicativo, imperativo,
e conjunctivo.

Os tempos são tres: presente, preterito, e futuro; o pretérito
é de tres maneiras: imperfeito, perfeito, e plusquamperfeito;
e o futuro de duas primeiro, e segundo.

Tambem os tempos são simples ou compostos: simples, os
que tẽ só uma voz; compostos, ou de circumloquio, os que se
formam de duas ou mais vozes.

Os numeros são dous: singular, e plural, no que convem
com o nome.

As formas são tres: primeira, segunda, e terceira tanto no
singular como no plural, em que corresponde tambem ao nome
as suas tres pessoas eu, tu, elle.

Emquanto a estas propriedades divide-se o verbo em regular,
e irregular.

Regular é o que em todas as propriedades segue, e guarda
a ordem da conjugação commum; e irregular, ou anomalo, o
que se affasta em alguma couza, e não vai em tudo a ella conforme.

As conjugações regulares são tres, e conhecem-se pelos infinitivos;
primeira dos verbos, que acabam o infinitivo em ar,
como amar; segunda, em er, como: receber; terceira em ir,
como: admittir.

Se a irregulariadde provẽ de carecer o verbo de algumas
22vozes, chama-se defectivo, como os verbos demolir, munir, reflectir,
que se não dizem em todos os tempos; e se se conjuga
sómente pelas terceiras formas, como: acontece, apraz etc,
chama-se commumente impessoal.

Tambem pertencem aos irregulares os verbos, que chamamos
auxiliares. Dizem-se auxiliares, por ajudarem a formar as
vozes compostas nos outros verbos.

São tres, e de duas maneiras. Um serve para supprir inteira
a voz passiva, e é o verbo ser; pois não temos verbo proprio
passivo: os outros ajudam a formar as vozes compostas,
tanto na activa, como na passiva, e são os dous, haver, e ter.

Algumas vezes deixam comtudo de ser auxiliares.

Quando são auxiliares servem unicamente para determinar
a significação dos verbos, cujos tempos ajudam a formar: quando
vem sós, não são auxiliares, tem significação propria (a)27.
Como servem para conjugar os outros, começaremos por elles.

Conjugações dos auxiliares.

Do auxiliar passivo.
Ser.

Indicativo.

Prezente.

S. Sou (b)28.
E’s.
E’.

P. Somos.
Sois.
São.

Pretérito imperfeito.

S. Era.
Eras.
Era.

P. Eramos.
Ereis.
Eram.23

Pretérito perfeito.

S. Fui.
Foste.
Foi.

P. Fomos.
Fostes.
Foram.

Pretérito perfeito composto.

S. Hei, ou tenho sido.
Hás, ou tens sido.
Há, ou tem sido.

P. Havemos, ou temos sido.
Haveis, ou tendes sido.
Hão, ou tem sido.

Pretérito plusquam perfeito.

S. Fora.
Foras.
Fora.

P. Foramos.
Foreis.
Foram.

Pretérito plusquam perfeito composto.

S. Havia, ou tinha sido.
Havias, ou tinhas sido.
Havia, ou tinha sido.

P. Haviamos, ou tinhamos sido.
Havieis, ou tinheis sido.
Haviam, ou tinham sido.

Futuro primeiro.

S. Serei.
Serás.
Será.

P. Seremos.
Sereis.
Serão.

Futuro primeiro composto.

S. Hei, ou tenho de ser.
Has, ou tens de ser.
Ha, ou tem de ser.

P. Havemos, ou temos de ser.
Haveis, ou tendes de ser.
Hão, ou tem de ser.

Futuro segundo.

S. Haverei, ou terei sido.
Haverás, ou terás sido.
Haverá, ou terá sido.

P. Haveremos, ou teremos sido.
Havereis, ou tereis sido.
Haverão, ou terão sido.24

Imperativo.

Prezente.

S. .
Seja.

P. Sêde.
Sejam.

Conjunctivo.

Prezente.

S. Seja.
Sejas.
Seja.

P. Sejamos.
Sejáis.
Sejam.

Pretérito imperfeito.

S. Seria.
Serias.
Seria.

P. Seriamos.
Serieis.
Seriam.

Pretérito perfeito.

S. Fora.
Foras.
Fora.

P. Foramos.
Foreis.
Foram.

Pretérito perfeito composto.

S. Houvera, ou tivera sido.
Houveras, ou tiveras sido.
Houvera, ou tivera sido.

P. Houveramos, ou tiveramos sido.
Houvereis, ou tivereis sido.
Houveram, ou tiveram sido.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Fosse.
Fosses.
Fosse.

P. Fossemos.
Fosseis.
Fossem.25

Pretérito plusquamperfeito composto.

S. Houvesse, ou tivesse sido.
Houvesses, ou tivesses sido.
Houvesse, ou tivesse sido.

P. Houvessemos, ou tivessemos sido.
Houvesseis, ou tivesseis sido.
Houvessem, ou tivessem sido.

Futuro primeiro.

S. For.
Fores.
For.

P. Formos.
Fordes.
Forem.

Futuro primeiro composto.

S. Houver, ou tiver de ser.
Houveres, ou tiveres de ser.
Houver, ou tiver de ser.

P. Houvermos, ou tivermos de ser.
Houverdes, ou tiverdes de ser.
Houverem, ou tiverem de ser.

Futuro segundo.

S. Houver, ou tiver sido.
Houveres, ou tiveres sido.
Houver, ou tiver sido.

P. Houvermos, ou tivermos sido.
Houverdes, ou tiverdes sido.
Houverem, ou tiverem sido.

Infinitivo.

Prezente, e pretérito imperfeito.

Ser.

Pretérito perfeito, e plusquamperfeito.

Haver, ou ter sido.

Futuro.

Haver, ou ter de ser.26

Gerundio.

Sendo.

Gerundio composto.

Havendo, ou tendo sido.

Supino.

Sido.

Dos auxiliares activos.

I.
Haver.

Indicativo.

Prezente.

S. Hei.
Has.
Ha.

P. Havemos.
Haveis.
Hão, ou ha (a)29.

Pretérito imperfeito.

S. Havia.
Havias.
Havia.

P. Haviamos.
Havieis.
Haviam, ou havia.

Pretérito perfeito.

S. Houve.
Houveste.
Houve.

P. Houvemos.
Houvestes.
Houverão, ou houve.27

Pretérito perfeito composto.

S. Hei, ou tenho havido.
Houveste, ou tens havido.
Houve, ou tem havido.

P. Houvemos, ou temos havido.
Houvestes, ou tendes havido.
Houveram, houve, tem, ou tem havido.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Houvera.
Houveras.
Houvera.

P. Houveramos.
Houvereis.
Houveram, ou houvera.

Pretérito plusquamperfeito composto.

S. Havia, ou tinha havido.
Havias, ou tinhas havido.
Havia, ou tinha havido.

P. Haviamos, ou tinhamos havido.
Havieis, ou tinheis havido.
Haviam, havia, tinham, ou tinha havido.

Futuro primeiro.

S. Haverei.
Haverás.
Haverá.

P. Haveremos.
Havereis.
Haverão, ou haverá.

Futuro primeiro composto.

S. Hei, ou tenho de haver.
Hás, ou tens de haver.
Ha, ou tem de haver.

P. Havemos, ou temos de haver.
Haveis, ou tendes de haver.
Hão, ha, tem, ou tẽ de haver.

Futuro segundo.

S. Haverei, ou terei havido.
Haverás, ou terás havido.
Haverá, ou terá havido.

P. Haveremos, ou teremos havido.
Havereis, ou tereis havido.
Haverão, haverá, terão, ou terá havido.28

Imperativo.

Prezente.

S. .
Haja.

P. Havei.
Hajam, ou haja.

Conjunctivo.

Prezente.

S. Haja.
Hajas.
Haja.

P. Hajamos.
Hajais.
Hajam, ou haja.

Pretérito imperfeito.

S. Haveria
Haverias
.
Haveria.

P. Haveriamos.
Haverieis.
Haveriam, ou haveria.

Pretérito perfeito.

S. Houvera.
Houveras.
Houvera.

P. Houveramos.
Houvereis.
Houveram, ou houvera.

Pretérito perfeito composto.

S. Houvera, ou tivera havido.
Houveras, ou tiveras havido.
Houvera, ou tivera havido.

P. Houveramos, ou tiveramos havido.
Houvereis, ou tivereis havido.
Houveram, houvera, tiveram, ou tivera havido.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Houvesse.
Houvesses.
Houvesse.

P. Houvessemos.
Houvesseis.
Houvessem, ou houvesse.29

Pretérito plusquamperfeito composto.

S. Houvesse, ou tivesse havido.
Houvesses, ou tivesses havido.
Houvesse, ou tivesse havido.

P. Houvessemos, ou tivessemos havido.
Houvesseis, ou tivesseis havido.
Houvessem, houvesse, tivessem, ou tivesse havido.

Futuro primeiro.

S. Houver.
Houveres.
Houver.

P. Houvermos.
Houverdes.
Houverem, ou houver.

Futuro primeiro composto.

S. Houver, ou tiver de haver.
Houveres, ou tiveres de haver.
Houver, ou tiver de haver.

P. Houvermos, ou tivermos de haver.
Houverdes, ou tiverdes de haver.
Houverem, houver, tiverem ou tiver de haver.

Futuro segundo.

S. Houver, ou tiver havido.
Houveres, ou tiveres havido.
Houver, ou tiver havido.

P. Houvermos, ou tivermos havido.
Houverdes, ou tiverdes havido.
Houverem, houver, tiverem, ou tiver havido.

Infinito.

Prezente, e pretérito imperfeito.

Haver.

Pretérito perfeito, e plusquamperfeito.

Haver, ou ter havido.30

Futuro.

Haver, ou ter de haver.

Gerundio.

Havendo.

Gerundio composto.

Havendo, ou tendo havido.

Supino.

Havido.

II.
Ter.

Indicativo.

Prezente.

S. Tenho.
Tens.
Tẽ.

P. Temos.
Tendes.
Tem.

Pretérito imperfeito.

S. Tinha.
Tinhas.
Tinha.

P. Tinhamos.
Tinheis.
Tinham.

Pretérito perfeito.

S. Tive.
Tiveste.
Teve.

P. Tivemos.
Tivestes.
Tiveram
.31

Pretérito perfeito composto.

S. Hei, ou tenho tido.
Has, ou tens tido.
Ha, ou tẽ tido.

P. Havemos, ou temos tido.
Haveis, ou tendes tido.
Hão, ou tem tido.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Tivera.
Tiveras.
Tivera.

P. Tiveramos.
Tivereis.
Tiveram.

Pretérito plusquamperfeito composto.

S. Havia, ou tinha tido.
Havias, ou tinhas tido.
Havia, ou tinha tido.

P. Haviamos, ou tinhamos tido.
Havieis, ou tinheis tido.
Haviam, ou tinham tido.

Futuro primeiro.

S. Terei.
Terás.
Terá.

P. Teremos.
Tereis.
Terão.

Futuro segundo.

S. Hei, ou tenho de ter.
Has, ou tens de ter.
Ha, ou tẽ de ter.

P. Havemos, ou temos de ter.
Haveis, ou tendes de ter.
Hão, ou tem de ter.

Futuro segundo composto.

S. Haverei, ou terei tido.
Haverás, ou terás tido.
Haverá, ou terá tido.

P. Haveremos, ou teremos tido.
Havereis, ou tereis tido.
Haverão, ou terão tido.

Imperativo.

Prezente.

S. Tem.
Tenha.

P. Tende.
Tenham.32

Conjunctivo.

Prezente.

S. Tenha.
Tenhas.
Tenha.

P. Tenhamos.
Tenhais.
Tenham.

Pretérito imperfeito.

S. Teria.
Terias.
Teria.

P. Teriamos.
Terieis.
Teriam.

Pretérito perfeito.

S. Tivera.
Tiveras.
Tivera.

P. Tiveramos.
Tivereis.
Tiveram.

Pretérito perfeito composto.

S. Houvera, ou tivera tido.
Houveras, ou tiveras tido.
Houvera, ou tivera tido.

P. Houveramos, ou tiveramos tido.
Houvereis, ou tivereis tido.
Houveram, ou tiveram tido.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Tivesse.
Tivesses.
Tivesse.

P. Tivessemos.
Tivesseis.
Tivessem
.

Pretérito plusquamperfeito composto.

S. Houvesse, ou tivesse tido.
Houvesses, ou tivesses tido.
Houvesse, ou tivesse tido.

P. Houvessemos, ou tivessemos tido.
Houvesseis, ou tivesseis tido.
Houvessem, ou tivessem tido.33

Futuro primeiro.

S. Tiver.
Tiveres.
Tiver.

P. Tivermos.
Tiverdes.
Tiverem.

Futuro primeiro composto.

S. Houver, ou tiver de ter.
Houveres ou tiveres de ter.
Houver, ou tiver de ter.

P. Houvermos, ou tivermos de ter.
Houverdes, ou tiverdes de ter.
Houverem, ou tiverem de ter.

Futuro segundo.

S. Houver, ou tiver tido.
Houveres, ou tiveres tido.
Houver, ou tiver tido.

P. Houvermos, ou tivermos tido.
Houverdes, ou tiverdes tido.
Houverem, ou tiverem tido.

Infinitivo.

Prezente, e pretérito imperfeito.

Ter.

Pretérito perfeito, e plusquamperfeito.

Haver, ou ter tido.

Futuro.

Haver, ou ter de ter.

Gerundio.

Tendo.

Gerundio composto.

Havendo, ou tendo havido.34

Supino.

Tido.

Esta mesma ordem guardam em sua conjugação os verbos
Abster, Conter, Deter, Entreter, Manter, Obter, Reter, Suster.

Conjugação dos verbos regulares.

I.
Amar.

Indicativo.

Prezente.

S. Amo.
Amas.
Ama
.

P. Amamos.
Amais.
Amam
.

Pretérito imperfeito.

S. Amava.
Amavas.
Amava.

P. Amavamos.
Amaveis.
Amavam.

Pretérito perfeito.

S. Amei.
Amaste.
Amou.

P. Amamos.
Amastes.
Amaram.

Pretérito perfeito composto.

S. Hei, ou tenho amado.
Has, ou tens amado.
Ha, ou tem amado.

P. Havemos, ou temos amado.
Haveis, ou tendes amado.
Hão, ou tem amado.35

Pretérito plusquamperfeito.

S. Amára.
Amáras.
Amára.

P. Amáramos.
Amáreis.
Amáram.

Pretérito plusquamperfeito composto.

S. Havia, ou tinha amado.
Havias, ou tinhas amado.
Havia, ou tinha amado.

P. Haviamos, ou tinhamos amado.
Havieis, ou tinheis amado.
Haviam, ou tinham amado.

Futuro primeiro.

S. Amarei.
Amarás.
Amará.

P. Amaremos.
Amareis.
Amarão.

Futuro primeiro composto.

S. Hei, ou tenho de amar.
Hás, ou tens de amar.
, ou tem de amar.

P. Havemos, ou temos de amar.
Haveis, ou tendes de amar.
Hão, ou tem de amar.

Futuro segundo.

S. Haverei, ou terei amado.
Haverás, ou terás amado.
Haverá, ou terá amado.

P. Haveremos, ou teremos amado.
Havereis, ou tereis amado.
Haverão, ou terão amado.

Imperativo.

Prezente.

S. Ama.
Ame.

P. Amai.
Amem.36

Conjunctivo.

Prezente.

S. Ame.
Ames.
Ame.

P. Amemos.
Ameis.
Amem.

Pretérito imperfeito.

S. Amaria.
Amarias.
Amaria.

P. Amariamos.
Amarieis.
Amariam.

Pretérito perfeito.

S. Amára.
Amáras.
Amára.

P. Amáramos.
Amáreis.
Amáram.

Pretérito perfeito composto.

S. Houvera, ou tivera amado.
Houveras, ou tiveras amado.
Houvera, ou tivera amado.

P. Houveramos, ou tiveramos amado.
Houvereis, ou tivereis amado.
Houveram, ou tiveram amado.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Amasse.
Amasses.
Amasse.

P. Amassemos.
Amasseis.
Amassem.

Pretérito plusquamperfeito composto.

S. Houvesse, ou tivesse amado.
Houvesses, ou tivesses amado.
Houvesse, ou tivesse amado.

P. Houvessemos, ou tivessemos amado.
Houvesseis, ou tivesseis amado.
Houvessem, ou tivessem amado.37

Futuro primeiro.

S. Amar.
Amares.
Amar.

P. Amarmos.
Amardes.
Amarem.

Futuro primeiro composto.

S. Houver, ou tiver de amar.
Houveres, ou tiveres de amar.
Houver, ou tiver de amar.

P. Houvermos, ou tivermos de amar.
Houverdes, ou tiverdes de amar.
Houverem, ou tiverem de amar.

Futuro segundo.

S. Houver, ou tiver amado.
Houveres, ou tiveres amado.
Houver, ou tiver amado.

P. Houvermos, ou tivermos amado.
Houverdes, ou tiverdes amado.
Houverem, ou tiverem amado.

Infinitivo.

Prezente, e pretérito imperfeito.

Amar.

Pretérito perfeito, e plusquamperfeito.

Haver, ou ter amado.

Futuro.

Haver, ou ter de amar.

Gerundio.

Amando.38

Gerundio composto.

Havendo, ou tendo amado.

Supino.

Amado.

II.
Receber.

Indicativo.

Prezente.

S. Recebo.
Recebes.
Recebe.

P. Recebemos.
Recebeis.
Recebem.

Pretérito imperfeito.

S. Recebia.
Recebias.
Recebia.

P. Recebiamos.
Recebieis.
Recebiam.

Pretérito perfeito.

S. Recebi.
Recebeste.
Recebeu.

P. Recebemos.
Recebestes.
Receberam.

Pretérito perfeito composto.

S. Hei, ou tenho recebido.
Has, ou tens recebido.
Ha, ou tem recebido.

P. Havemos, ou temos recebido.
Haveis, ou tendes recebido.
Hão, ou tem recebido.39

Pretérito plusquamperfeito.

S. Recebera.
Receberas.
Recebera.

P. Receberamos.
Recebereis.
Receberam.

Pretérito plusquamperfeito composto.

S. Havia, ou tinha recebido.
Havias, ou tinhas recebido.
Havia, ou tinha recebido.

P. Haviamos, ou tinhamos recebido.
Havieis, ou tinheis recebido.
Haviam, ou tinham recebido.

Futuro primeiro.

S. Receberei.
Receberás.
Receberá.

P. Receberemos.
Recebereis.
Receberão.

Futuro primeiro composto.

S. Hei, ou tenho de receber.
Hás, ou tens de receber.
Ha, ou tem de receber.

P. Havemos, ou temos de receber.
Haveis, ou tendes de receber.
Hão, ou tem de receber.

Futuro segundo.

S. Haverei, ou terei recebido.
Haverás, ou terás recebido.
Haverá, ou terá recebido.

P. Haveremos, ou teremos recebido.
Havereis, ou tereis recebido.
Haverão, ou terão recebido.

Imperativo.

Prezente.

S. Recebe.
Receba.

P. Recebei.
Recebam.40

Conjunctivo.

Prezente.

S. Receba.
Recebas.
Receba.

P. Recebamos.
Recebais.
Recebam.

Pretérito imperfeito.

S. Receberia.
Receberias.
Receberia.

P. Receberiamos.
Receberieis.
Receberiam.

Pretérito perfeito.

S. Recebera.
Receberas.
Recebera.

P. Receberamos.
Recebereis.
Receberam.

Pretérito perfeito composto.

S. Houvera, ou tivera recebido.
Houveras, ou tiveras recebido.
Houvera, ou tivera recebido.

P. Houveramos, ou tiveramos recebido.
Houvereis, ou tivereis recebido.
Houveram, ou tiveram recebido.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Recebesse.
Recebesses.
Recebesse.

P. Recebessemos.
Recebesseis.
Recebessem.

Pretérito plusquamperfeito composto.

S. Houvesse, ou tivesse recebido.
Houvesses, ou tivesses recebido.
Houvesse, ou tivesse recebido.

P. Houvessemos, ou tivessemos recebido.
Houvesseis, ou tivesseis recebido.
Houvessem, ou tivessem recebido.41

Futuro primeiro.

S. Receber.
Receberes.
Receber.

P. Recebermos.
Receberdes.
Receberem.

Futuro primeiro composto.

S. Houver, ou tiver de receber.
Houveres, ou tiveres de receber.
Houver, ou tiver de receber.

P. Houvermos, ou tivermos de receber.
Houverdes, ou tiverdes de receber.
Houverem, ou tiverem de receber.

Futuro segundo.

S. Houver, ou tiver recebido.
Houveres, ou tiveres recebido.
Houver, ou tiver recebido.

P. Houvermos, ou tivermos recedido.
Houverdes, ou tiverdes recebido.
Houverem, ou tiverem recebido.

Infinitivo.

Prezente, e pretérito imperfeito.

Receber.

Pretérito perfeito, e plusquamperfeito.

Haver, ou ter recebido.

Futuro.

Haver, ou ter de receber.

Gerundio.

Recebendo.42

Gerundio composto.

Havendo, ou tendo recebido.

Supino.

Recebido.

III.
Admittir.

Indicativo.

Prezente.

S. Admitto.
Admittes.
Admitte.

P. Admittimos.
Admittis.
Admittem.

Pretérito imperfeito.

S. Admittia.
Admittias.
Admittia.

P. Admittiamos.
Admittieis.
Admittiam.

Pretérito perfeito.

S. Admitti.
Admittiste.
Admittiu.

P. Admittimos.
Admittistes.
Admittiram.

Pretérito perfeito composto.

S. Hei, ou tenho admittido.
Has, ou tens admittido.
Ha, ou tem admittido.

P. Havemos, ou temos admittido.
Haveis, ou tendes admittido.
Hão, ou tem admittido.43

Pretérito plusquamperfeito.

S. Admittira.
Admittiras.
Admittira.

P. Admittiramos.
Admittireis.
Admittiram.

Pretérito plusquamperfeito composto.

S. Havia, ou tinha admittido.
Havias, ou tinhas admittido.
Havia, ou tinha admittido.

P. Haviamos, ou tinhamos admittido.
Havieis, ou tinheis admittido.
Haviam, ou tinham admittido.

Futuro primeiro.

S. Admittirei.
Admittirás.
Admittirá.

P. Admittiremos.
Admittireis.
Admittirão.

Futuro primeiro composto.

S. Hei, ou tenho de admittir.
Hás, ou tens de admittir.
Ha, ou tem de admittir.

P. Havemos, ou temos de admittir.
Haveis, ou tendes de admittir.
Hão, ou tem de admittir.

Futuro segundo.

S. Haverei, ou terei admittido.
Haverás, ou terás admittido.
Haverá, ou terá admittido.

P. Haveremos, ou teremos admittido.
Havereis, ou tereis admittido.
Haverão, ou terão admittido.

Imperativo.

Prezente.

S. Admitte.
Admitta.

P. Admitti.
Admittam.44

Conjunctivo.

Prezente.

S. Admitta.
Admittas.
Admitta.

P. Admittamos.
Admittais.
Admittam.

Pretérito imperfeito.

S. Admittiria.
Admittirias.
Admittiria.

P. Admittiriamos.
Admittirieis.
Admittiriam.

Pretérito perfeito.

S. Admittira.
Admittiras.
Admittira.

P. Admittiramos.
Admittireis.
Admittiram.

Pretérito perfeito composto.

S. Houvera, ou tivera admittido.
Houveras, ou tiveras admittido.
Houvera, ou tivera admittido.

P. Houveramos, ou tiveramos admittido.
Houvereis, ou tivereis admittido.
Houveram, ou tiveram admittido.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Admittisse.
Admittisses.
Admittisse.

P. Admittissemos.
Admittisseis.
Admittissem.

Pretérito plusquamperfeito composto.

S. Houvesse, ou tivesse admittido.
Houvesses, ou tivesses admittido.
Houvesse, ou tivesse admittido.

P. Houvessemos, ou tivessemos admittido.
Houvesseis, ou tivesseis admittido.
Houvessem, ou tivessem admittido.45

Futuro primeiro.

S. Admittir.
Admittires.
Admittir.

P. Admittirmos.
Admittirdes.
Admittirem.

Futuro primeiro composto.

S. Houver, ou tiver de admittir.
Houveres, ou tiveres de admittir.
Houver, ou tiver de admittir.

P. Houvermos, ou tivermos de admittir.
Houverdes, ou tiverdes de admittir.
Houverem, ou tiverem de admittir.

Futuro segundo.

S. Houver, ou tiver admittido.
Houveres, ou tiveres admittido.
Houver, ou tiver admittido.

P. Houvermos, ou tivermos admittido.
Houverdes, ou tiverdes admittido.
Houverem, ou tiverem admittido.

Infinitivo.

Prezente, e pretérito imperfeito.

Admittir.

Pretérito perfeito, e plusquamperfeito.

Haver, ou ter admittido.

Futuro.

Haver, ou ter de admittir.

Gerundio.

Admittindo.46

Gerundio composto.

Havendo, ou tendo admittido.

Supino.

Admittido.

Por este modo se conjugam todos os verbos de qualquer das
conjugações regulares; pois em tudo guardam esta mesma ordem.

Duas couzas convem todavoa advirtir para boa intelligencia:
primeira conhecer o prezente do infinitivo; por ser este a
raiz donde se formam, pela maior parte, quasi todos os outros
tempos, e vozes simples do mesmo verbo; segunda conhecer no
mesmo prezente do infinitivo as differentes letras, de que elle se
compõe.

Dividem-se as letras, que entram na composição de qualquer
verbo, em tres maneiras: letra figurativa; letra, ou letras
iniciaes; e letras terminativas.

Letra figurativa é a que na voz do infinitivo fere a ultima
vogal, e em todas as mais vozes do verbo vai antes das terminações
na ordem da conjugação, como por ex. em amar a letra
m; em receber o b etc; e se a ultima syllaba começar por vogal,
será figurativa a vogal immediata da syllaba antecedente,
como em allumiar, annunciar a letra i; e em exceptuar, substituir
a letra u, etc.

Iniciaes são todas as que precedem á figurativa, sejam muitas,
como em receber as letras rece, ou uma só, como em amar
a letra a; as quaes são sempre fixas, e sem mudança nas conjugações
regulares.

As letras terminativas são as que depois da figurativa constituem
as formas, ou varias mudanças segundo os tempos, e
modos dos verbos; e são sempre constantes em cada uma das
suas vozes simples nas conjugações regulares.

Para maior clareza destas vai a taboa seguinte:47

Taboa
das conjugações regulares.

Primeira. | Segunda. | Terceira.

Indicativo.

Prezente.

S. o –as –a. | S. o –es –e. | S. o –es –e.
P. amos –ais -am. | P. emos –eis -em. | P. imos –is -em.

Pretérito imperfeito.

S. ava –avas –ava. | S. ia –ias –ia. | S. ia –ias –ia.
P. avamos –aveis -avam. | P. iamos –ieis –iam. | P. iamos –ieis –iam.

Pretérito perfeito

S. ei –aste –ou. | S. i –este –eu. | S. i –iste –im.
P. amos –astes –aram. | P. emos –estes –eram. | P. imos –istes –iram.

Pretérito plusquamperfeito

S. ára –áras –ára. | S. era –eras –era. | S. ira –iras –ira.
P. áramos –áreis –áram. | P. eramos –ereis –eram. | P. iramos –ireis –iram.

Futuro.

S. arei –arás –ará. | S. erei –erás –erá. | S. irei –irás –irá.
P. aremos –areis –arão. | P. eremos –ereis –erão. | P. iremos –ireis –irão.

Imperativo.

Prezente.

S. a –e. | S. e –a. | S. e –a.
P. ai –em. | P. ei –am. | P. i –am.

Conjunctivo.

Prezente.

S. e –es –e. | S. a –as –a. | S. a –as –a.
P. emos –eis –em. | P. amos –ais –am. | P. amos –ais –am.

Pretérito imperfeito.

S. aria –arias –aria. | S. eria –erias –eria. | S. iria –irias –iria.
P. ariamos –arieis –ariam. | P. eriamos –erieis –eriam. | P. iriamos –irieis –iriam.

Pretérito perfeito.

S. ára –áras –ára. | S. éra –éras –éra. | S. ira –iras –ira.
P. áramos –áreis –áram. | P. éramos –éreis –éram. | P. iramos –ireis –iram.

Pretérito plusquamperfeito

S. asse –asses –asse. | S. esse –esses –esse. | S. isse –isses –isse.
P. assemos –asseis –assem. | P. essemos –esseis –essem. | P. issemos –isseis –issem.

Futuro.

S. ar –ares –ar. | S. er –eres –er. | S. ir –ires –ir.
P. armos –ardes –arem. | P. ermos –erdes –erem. | P. irmos –irdes –irem.

Infinitivo.

Prezente, e pretérito imperfeito.

-ar. | -er. | -ir.

Gerundio.

-ando. | -endo. | -indo.

Supino.

-ado. | -ido. | -ido.48

Verbos na voz passiva.

Como carecemos em nossa linguagem de verbos proprios
passivos, para supprir esta falta nos valemos do auxiliar Ser,
como já dissemos; e a cada uma das suas vozes juntamos o participio
do verbo, que queremos na passiva; o que se pratica nas
vozes simples e compostas, tanto nos regulares, como nos irregulares
por esta maneira:

Indicativo.

Prezente.

S. Sou. | E’s. | E’. Amado. Recebido. Admittido.

P. Somos. | Sois. | São. Amados. Recebidos. Admittidos.

Pretérito imperfeito.

S. Era. | Eras. | Era. Amado. Recebido. Admittido.

P. Eramos. | Ereis. | Eram. Amados. Recebidos. Admittidos.

Pretérito perfeito.

S. Fui. | Foste. | Foi. Amado. Recebido. Admittido.

P. Fomos. | Fostes. | Foram. Amados. Recebidos. Admittidos.49

Pretérito plusquamperfeito.

S. Fora. | Foras. | Fora. Amado. Recebido. Admittido.

P. Foramos. | Foreis. | Foram. Amados. Recebidos. Admittidos.

Futuro primeiro.

S. Serei. | Serás. | Será. Amado. Recebido. Admittido.

P. Seremos. | Sereis. | Serão. Amados. Recebidos. Admittidos.

Futuro segundo.

S. Haverei, ou terei sido. | Haverás, ou terás sido. | Haverá, ou terá sido. Amado. Recebido. Admittido.

P. Haveremos, ou teremos sido. Havereis, ou tereis sido. Haverão, ou terão sido. Amados. Recebidos. Admittidos.

Imperativo.

Prezente.

S. Sê. | Seja. Amado. Recebido. Admittido.

P. Sêde. | Sejam. Amados. Recebidos. Admittidos.

Conjunctivo.

Prezente.

S. Seja. | Sejas. | Seja. Amado. Recebido. Admittido.50

P. Sejamos. | Sejais. | Sejam. Amados. Recebidos. Admittidos.

Pretérito imperfeito.

S. Seria. | Serias. | Seria. Amado. Recebido. Admittido.

P. Seriamos. | Serieis. | Seriam. Amados. Recebidos. Admittidos.

Pretérito perfeito.

S. Fôra. | Fôras. | Fôra. Amado. Recebido. Admittido.

P. Foramos. | Foreis. | Foram. Amados. Recebidos. Admittidos.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Fosse. | Fosses. | Fosse. Amado. Recebido. Admittido.

P. Fossemos. | Fosseis. | Fossem. Amados. Recebidos. Admittidos.

Futuro primeiro.

S. Fôr. | Fores. | Fôr. Amado. Recebido. Admittido.

P. Fôrmos. | Fôrdes. | Fôrem. Amados. Recebidos. Admittidos.51

Futuro segundo.

S. Houver, ou tiver sido. Houveres, ou tiveres sido. Houver, ou tiver sido. Amado. Recebido. Admittido.

P. Houvermos, ou tivermos sido. Houverdes, ou tiverdes sido. Houverem, ou tiverem sido. Amados. Recebidos. Admittidos.

Infinitivo.

Prezente, e pretérito imperfeito.

Ser. | Amado. Recebido. Admittido.

Pretérito perfeito, e plusquamperfeito.

Haver, ou ter sido. | Amado. Recebido. Admittido.

Futuro.

Haver de ser. | Amado. Recebido. Admittido.

Gerundio.

Sendo. | Amado. Recebido. Admittido.

Participio.

Amado, a. Recebido, a. Admittido, a.

Além desta passiva ordinaria supprida com o auxiliar Ser,
e o participio, temos outra maneira de formar a voz passiva,
tomando as terceiras vozes do singular da activa, em qualquer
dos tempos, e accrescentando a cada uma dellas antes ou depois
o pronome pessoal indefinido, se, que perde então a natureza
de reflexivo, e reciproco, e assim dizemos significando passivamente.
A virtude ama-se, ou se ama, em lugar de é amada;
amavam-se, ou amaram-se as virtudes, ou as virtudes se amavam,
ou se amaram, em lugar de eram, ou foram amadas etc.
Mas este modo de formar a passiva é imperfeito; porque só tẽ
lugar nas terceiras formas, e se equivóva muito com o modo de
formar os verbos reflexivo, e reciproco.52

Verbos irregulares.

Ainda que os verbos irregulares, ou anomalos tenham em
suas conjugações variedade, ou mudança, por não guardarem
em parte a ordem dos antecedentes, admittem todavia em sua
irregularidade regra, para que todos hajam de seguir constantemente
uns aos outros. Dá-se a irregularidade ou na troca da
figurativa, ou das iniciaes, ou das terminativas, ou de todas.
Donde se vê, que uns verbos são rigorozamente irregulares, outros
tem apenas leve mudança na ordem commum das conjugações
regulares. Uns são irregulares da primeira conjugação, outros
da segunda, outros da terceira.

Irregulares da primeira conjugação.

Estar. | dar.

Indicativo.

Prezente.

S. Estou. | Estás. | Está.
P. Estamos. | Estais. | Estão.
S. Dou. | Dás. | .
P. Damos. | Dais. | Dão.

Pretérito imperfeito.

S. Estava, etc.
P. Estavamos, etc.
S. Dava, etc.
P. Davamos, etc.

Pretérito perfeito.

S. Estive etc. | Estiveste etc. | Esteve, etc.
P. Estivemos, etc. | Estivestes etc. | Estiveram etc.
S. Dei etc. | Deste, etc. | Deu, etc.
P. Demos etc. | Destes etc. | Deram etc.53

Pretérito plusquamperfeito.

S. Estivera etc. | Estiveras etc. | Estivera, etc.
P. Estiveramos, etc. | Estivereis, etc. | Estiveram, etc.
S. Dera etc. | Deras etc. | Dera etc.
P. Deramos etc. | Dereis etc. | Deram etc.

Futuro primeiro.

S. Estarei, etc.
P. Estaremos, etc.
S. Darei etc.
P. Daremos etc.

Futuro segundo.

S. Terei estado, etc.
P. Teremos estado, etc.
S. Terei dado est.
P. Teremos dado etc.

Imperativo.

Prezente.

S. Está. | Esteja.
P. Estai. | Estejam.
S. . | .
P. Dai. | Dem.

Conjunctivo.

Prezente.

S. Esteja. (a)30 | Estejas. | Esteja.
P. Estejamos. | Estejais. | Estejam.
S. Dê, etc.
P. Dêmos etc.

Pretérito imperfeito.

S. Estaria, etc.
P. Estariamos, etc.
S. Daria etc.
P. Dariamos, etc.54

Pretérito perfeito.

S. Estivera, etc. | Estiveras, etc. | Estivera, etc.
P. Estiveramos, etc. | Estivereis, etc. | Estiveram, etc.
S. Déra etc. | Déras etc. | Dera etc.
P. Deramos etc. | Dereis etc. | Deram, etc.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Estivesse, etc. | Estivesses, etc. | Estivesse, etc.
P. Estivessemos, etc. | Estivesseis, etc. | Estivessem, etc.
S. Desse etc. | Desses etc. | Desse etc.
P. Dessemos etc. | Desseis etc. | Dessem, etc.

Futuro primeiro.

S. Estiver, etc. | Estiveres, etc. | Estiver, etc.
P. Estivermos, etc. | Estiverdes, etc. | Estiverem, etc.
S. Der etc. | Deres etc. | Der etc.
P. Dermos etc. | Derdes etc. | Derem, etc.

Futuro segundo.

S. Tiver estado, etc.
P. Tivermos estado, etc.
S. Tiver dado etc.
P. Tivermos dado, etc.

Infinitivo.

Prezente, e pretérito imperfeito.

Estar, etc.
Dar, etc.

Os verbos que tem por figurativas c e g como Atacar, ficar,
trocar, rogar, affagar, negar
, etc, sem que por isso se
reputem rigorozamente irregulares, tem mudança só nas vozes
em que se lhe segue a letra c; os primeiros trocam a figurativa c
55em qu dizendo: Ataquei, ataque, ataques, ataquemos, ataqueis,
fiquei, fique, fiques, fiquemos
, etc; e os segundos conservam
a figurativa accrescentando a letra u depois della, dizendo:
Roguei, rogue, rogues, roguemos, rogueis, affaguei, affague,
affagues
etc.

Irregulares da segunda conjugação.

Saber. | poder.

Indicativo.

Prezente.

S. Sei.
P. Sabemos, etc.
S. Posso.
P. Podemos, etc.

Pretérito imperfeito.

S. Sabia etc.
P. Sabiamos etc.
S. Podia etc.
P. Podiamos, etc.

Pretérito perfeito.

S. Soube, etc. | Soubeste. | Soube.
P. Soubemos, etc. | Soubestes. | Souberam.
S. Pude, etc. | Pudeste. | Pôde.
P. Pudemos etc. | Pudeste. | Puderam.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Soubera, etc. | Souberas. | Soubera.
P. Souberamos, etc. | Soubereis. | Souberam.
S. Pudera, etc. | Puderas. | Pudera.
P. Puderamos, etc. | Pudereis. | Puderam.

Futuro primeiro.

S. Saberei, etc.
P. Saberemos, etc.
S. Poderei, etc.
P. Poderemos, etc.56

Futuro segundo.

S. Terei sabido, etc.
P. Teremos sabido, etc.
S. Terei podido, etc.
P. Teremos podido, etc.

Imperativo.

Prezente.

S. Sabe. | Saiba.
P. Sabei. | Saibam.
S. pôde. | Possa.
P. Podei. | Possam.

Conjunctivo.

Prezente.

S. Saiba. | Saibas. | Saiba.
P. Saibamos. | Saibais. | Saibam.
S. Possa. | Possas. | Possa.
P. Possamos. | Possais. | Possam.

Pretérito imperfeito.

S. Saberia, etc.
P. Saberiamos, etc.
S. Poderia, etc.
P. Poderiamos, etc.

Pretérito perfeito.

S. Soubera, etc. | Souberas. | Soubera.
P. Souberamos, etc. | Soubereis. | Souberam.
S. Pudera, etc. | Puderas. | Pudera.
P. Puderamos, etc. | Pudereis. | Puderam.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Soubesse, etc. | Soubesses. | Soubesse.
P. Soubessemos, etc. | Soubesseis. | Soubessem.
S. Pudesse, etc. | Pudesses. | Pudesse.
P. Pudessemos, etc. | Pudesseis. | Pudessem.57

Futuro primeiro.

S. Souber, etc. | Souberes. | Souber.
P. Soubermos, etc. | Souberdes. | Souberem.
S. Puder, etc. | Puderes. | Puder
P. Pudermos, etc. | Puderdes. | Puderem.

Futuro segundo.

S. Tiver sabido, etc.
P. Tivermos sabido, etc.
S. Tiver podido, etc.
P. Tivermos podido, etc.

Infinitivo.

Prezente, e pretérito imperfeito.

Saber, etc.
Poder, etc.

O verbo Caber tẽ a mesma irregularidade de Saber só com
a differença, que na primeira forma do prezente do Indicativo
faz Caibo.

Valêr. | querer.

Indicativo.

Prezente.

S. Valho. | Vales. | Val.
P. Valemos, etc.
S. Quero, etc. | Queres. | Quer.
P. Queremos, etc.

Pretérito imperfeito.

S. Valia, etc.
P. Valiamos, etc.
S. Queria, etc.
P. Queriamos, etc.

Pretérito perfeito.

S. Vali, etc.
P. Valemos, etc.
S. Quis, etc. | Quizeste. | Quiz
P. Quizemos, etc. | Quizestes. | Quizeram.58

Pretérito plusquamperfeito.

S. Valêra, etc.
P. Valeramos, etc.
S. Quizera, etc. | Quizeras. | Quizera.
P. Quizeramos, etc. | Quizereis. | Quizeram.

Futuro primeiro.

S. Valerei, etc.
P. Valeremos, etc.
S. Quererei, etc.
P. Quereremos, etc.

Futuro segundo.

S. Terei valido, etc.
P. Teremos valido, etc.
S. Terei querido, etc.
P. Teremos querido, etc.

Imperativo.

Prezente.

S. Val. (a)31 | Valha.
P. Valei. | Valham.
S. Quer. (b)32 | Queira.
P. Querei. | Queiram.

Conjunctivo.

Prezente.

S. Valha. | Valhas. | Valha.
P. Valhamos. | Valhais. | Valham.
S. Queira. | Queiras. | Queira.
P. Queiramos. | Queirais. | Queiram.

Pretérito imperfeito.

S. Valeria, etc.
P. Valeriamos, etc.
S. Quereria, etc.
P. Quereriamos, etc.59

Pretérito perfeito.

S. Valêra, etc
P. Valeramos, etc.
S. Quizera, etc. | Quizeras. | Quizera.
P. Quizeramos, etc. | Quizereis. | Quizeram.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Valesse, etc.
P. Valessemos, etc.
S. Quizesse, etc. | Quizesses. | Quizesse.
P. Quizessemos, etc. | Quizesseis. | Quizessem.

Futuro primeiro.

S. Valer, etc.
P. Valermos, etc.
S. Quizer, etc. | Quizeres. | Quizer.
P. Quizermos, etc. | Quizerdes. | Quizerem.

Futuro segundo.

S. Tiver valido, etc.
P. Tivermos | valido, etc.
S. Tiver querido, etc.
P. Tivermos | querido, etc.

Infinitivo.

Prezente, e pretérito imperfeito.

Valer, etc.
Querer, etc.

A irregularidade de Valer tem os seus compostos Desvaler,
Equivaler
.

Vêr. | dizer.

Indicativo.

Prezente.

S. Vejo. | Vês. | Vê.
P. Vêmos. | Vêdes. | Vêm.
S. Digo. | Dizes. | Diz.
P. Dizemos, etc. | Dizeis. | Dizem.60

Pretérito imperfeito.

S. Via, etc.
P. Viamos, etc.
S. Dizia, etc.
P. Diziamos, etc.

Pretérito perfeito.

S. Vi etc. | Viste. | Viu.
P. Vimos, etc. | Vistes. | Viram.
S. Disse, etc. | Disseste. | Disse.
P. Dissemos, etc. | Dissestes. | Disseram.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Vira, etc. | Viras. | Vira.
P. Viramos, etc. | Vireis. | Viram.
S. Dissera, etc. | Disseras. | Dissera.
P. Disseramos, etc. | Dissereis. | Disseram.

Futuro primeiro.

S. Verei etc.
P. Veremos, etc.
S. Direi, etc. | Dirás. | Dirá.
P. Diremos, etc. | Direis. | Dirão.

Futuro segundo.

S. Terei visto, etc.
P. Teremos visto, etc.
S. Terei dito, etc.
P. Teremos dito, etc.

Imperativo.

Prezente.

S. . | Veja.
P. Vede. | Vejam.
S. Dize. | Diga.
P. Dizei. | Digam.

Conjunctivo.

Prezente.

S. Veja. | Vejas. | Veja.
P. Vejamos. | Vejais. | Vejam.
S. Diga. | Digas. | Diga.
P. Digamos. | Digais. | Digam.61

Pretérito imperfeito.

S. Veria, etc.
P. Veriamos, etc.
S. Diria. | Dirias. | Diria.
P. Diriamos. | Dirieis. | Diriam.

Pretérito perfeito.

S. Vira, etc. | Viras. | Vira.
P. Viramos, etc. | Vireis. | Viram.
S. Dissera, etc. | Disseras. | Dissera.
P. Disseramos, etc. | Dissereis. | Disseram.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Visse, etc. | Visses. | Visse.
P. Vissemos, etc. | Visseis. | Vissem.
S. Dissesse, etc. | Dissesses. | Dissesse.
P. Dissessemos, etc. | Dissesseis. | Dissessem.

Futuro primeiro.

S. Vir, etc. | Vires. | Vir.
P. Virmos, etc. | Virdes. | Virem.
S. Disser, etc. | Disseres. | Disser.
P. Dissermos, etc. | Disserdes. | Disserem.

Futuro segundo.

S. Tiver visto etc.
P. Tivermos visto, etc.
S. Tiver dito, etc.
P. Tivermos dito, etc.

Infinitivo.

Prezente, e pretérito imperfeito.

Ver, etc.
Dizer, etc.

Supino.

Visto.
Dito.62

Antever, Entrever, Prever, Rever, seguem o seu simples
Vêr.

E assim a Dizer, seus compostos: Bemdizer, Condizer,
Contradizer, Desdizer, Maldizer, Predizer
.

Fazer. | Trazer.

Indicativo.

Prezente.

S. Faço. | Fazes. | Faz.
P. Fazemos, etc.
S. Trago. | Trazes. | Traz.
P. Trazemos, etc.

Pretérito imperfeito.

S. Fazia, etc.
P. Faziamos, etc.
S. Trazia, etc.
P. Traziamos, etc.

Pretérito perfeito.

S. Fiz etc. | Fizeste. | Fez.
P. Fizemos, etc. | Fizestes. | Fizeram.
S. Trouxe etc. | Trouxeste. | Trouxe.
P. Trouxemos etc. | Trouxestes. | Trouxeram.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Fizera, etc. | Fizeras.. | Fizera.
P. Fizeramos, etc. | Fizereis. | Fizeram.
S. Trouxera etc. | Trouxeras. | Trouxera.
P. Trouxeramos etc. | Trouxereis. | Trouxeram.

Futuro primeiro.

S. Farei, etc. | Farás. | Fará.
P. Faremos, etc. | Fareis. | Farão.
S. Trarei etc. | Trarás. | Trará.
P. Traremos etc. | Trareis. | Trarão.63

Futuro segundo.

S. Terei feito, etc.
P. Teremos feito, etc.
S. Terei trazido etc.
P. Teremos trazido, etc.

Imperativo.

Prezente.

S. Faze. | Faça.
P. Fazei. | Façam.
S. Traze. | Trega.
P. Trazei. | Tragam.

Conjunctivo.

Prezente.

S. Faça. | Faças. | Faça.
P. Façamos. | Façais. | Façam.
S. Traga. | Tragas. | Traga.
P. Tragamos. | Tragais. | Tragam.

Pretérito imperfeito.

S. Faria. | Farias. | Faria.
P. Fariamos. | Farieis. | Fariam.
S. Traria. | Trarias. | Traria.
P. Trariamos. | Trarieis. | Trariam.

Pretérito perfeito.

S. Fizera, etc. | Fizeras. | Fizera.
P. Fizeramos, etc. | Fizereis. | Fizeram.
S. Trouxera etc. | Trouxeras. | Trouxera.
P. Trouxeramos etc. | Trouxereis. | Trouxeram.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Fizesse, etc. | Fizesses. | Fizesse.
P. Fizessemos, etc. | Fizesseis. | Fizessem.
S. Trouxesse etc. | Trouxesses. | Trouxesse.
P. Trouxessemos etc. | Trouxesseis. | Trouxessem.64

Futuro primeiro.

S. Fizer, etc. | Fizeres. | Fizer.
P. Fizermos, etc. | Fizerdes. | Fizerem.
S. Trouxer etc. | Trouxeres. | Trouxer.
P. Trouxermos etc. | Trouxerdes. | Trouxerem.

Futuro segundo.

S. Tiver feito, etc.
P. Tivermos feito, etc.
S. Tiver trazido etc.
P. Tivermos trazido, etc.

Infinitivo.

Prezente, e pretérito imperfeito.

Fazer, etc.
Trazer, etc.

Supino.

Feito.

Os compostos de fazer, como: contrafazer, desfazer, perfazer,
prefazer, rarefazer, refazer, satisfazer
, tem a mesma
irregularidade. O verbo jazer tẽ nos prezentes, jaço, jaça, no
pretérito perfeito, jouve, e nos outros, que delle se formam jouvera,
jouvesse, jouver
.

Os verbos, que tem a figurativa g, como: abranger, constranger,
eleger, proteger, reger
, etc. trocam-na em j quando
se lhe segue a ella o, ou a; e diz-se: abranjo, abranja, abranjas,
constranjo, constranja, elejo, eleja
, etc.

Da mesma sorte perder muda a figurativa d em c nas mesmas
vozes, dizendo: perco, perca, percas, etc.

Nos verbos crer, e ler, e seus compostos descrer, reler,
tresler
; e assim em requerer mette-se em meio nestas mesmas
vozes a letra i, e se diz: creio, creia, leio, leia, requeiro,
requeiras
, etc.65

Irregulares da terceira conjugação.

Ir. | Vir.

Indicativo.

Prezente.

S. Vou. | Vais. | Vai.
P. Vamos, ou imos (a)33. | Ides. | Vão.
S. Venho. | Vens. | Vẽ.
P. Vimos. | Vindes. | Vem.

Pretérito imperfeito.

S. Ia. | Ias. | Ia.
P. Iamos. | Ieis. | Iam.
S. Vinha. | Vinhas. | Vinhas.
P. Vinhamos. | Vinheis. | Vinham.

Pretérito perfeito.

S. Fui etc. | Foste. | Foi.
P. Fomos, etc. | Fostes. | Foram.
S. Vim etc. | Vieste. | Veio.
P. Viemos etc. | Viestes. | Vieram.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Fora etc. | Foras. | Fora.
P. Foramos, etc. | Foreis. | Foram.
S. Viera etc. | Vieras. | Viera.
P. Vieramos etc. | Viereis. | Vieram.

Futuro primeiro.

S. Irei, etc.
P. Iremos, etc.
S. Vierei etc.
P. Viremos, etc.66

Futuro segundo.

S. Terei ido, etc.
P. Teremos ido, etc.
S. Terei vindo, etc.
P. Teremos vindo, etc.

Imperativo.

Prezente.

S. Vai. | .
P. Ide. | Vão.
S. Vẽ. | Venha.
P. Vinde. | Venham.

Conjunctivo.

Prezente.

S. . | Vás. | .
P. Vamos. | Vades. | Vão.
S. Venha. | Venhas. | Venha.
P. Venhamos. | Venhais. | Venham.

Pretérito imperfeito.

S. Iria, etc.
P. Iriamos, etc.
S. Viria, etc.
P. Viriamos, etc.

Pretérito perfeito.

S. Fora, etc. | Foras. | Fora.
P. Foramos, etc. | Foreis. | Foram.
S. Viera etc. | Vieras. | Viera.
P. Vieramos etc. | Viereis. | Vieram.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Fosse, etc. | Fosses. | Fosse.
P. Fossemos, etc. | Fosseis. | Fossem.
S. Viesse etc. | Viesses. | Viesse.
P. Viessemos etc. | Viesseis. | Viessem.

Futuro primeiro.

S. For, etc. | Fores. | For.
P. Formos, etc. | Fordes. | Forem.
S. Vier etc. | Vieres. | Vier.
P. Viermos etc. | Vierdes. | Vierem.67

Futuro segundo.

S. Tiver ido, etc.
P. Tivermos ido, etc.
S. Tiver vindo, etc.
P. Tivermos vindo, etc.

Infinitivo.

Prezente, e pretérito imperfeito.

Ir, etc.
Vir, etc.

Supino.

Ido.
Vindo.

Os compostos de vir, como: avir, contravir, convir, desavir,
desconvir, entrevir
, ou intervir, reconvir, sobrevir, assemelham-se
em tudo ao simples.

Medir, e pedir mudam a figurativa dç quando se lhe
segue o, ou a, dizendo: meço, meça, meças, meçamos, peço,
peça, peças
, etc; e assim ouvir muda tambem a figurativa v em
ç, dizendo: ouço, ouça, ouças, etc; mas os compostos de pedir,
impedir, despedir, fazem impido, impida, despido, despida
, etc.

Os que tem por figurativa g, como: affligir, cingir, corrigir,
dirigir, fingir, fugir, surgir, resurgir, tingir
, etc, trocão
nas mesmas vozes a figurativa g em j, e diz-se: afflijo,
afflija, corrijo, corrija, cinjo, cinja, dirijo
, etc; mas os que tẽ
a letra u liquida depois da mesma figurativa, perdem-na, como:
conseguir, perseguir, proseguir, que fazem consigo, consiga,
persigo, prosigo
, etc.

Os que por uso acabam em hir, como: sahir, e cahir com
seus compostos descahir, recahir, sobrecahir, e assim abstrahir,
attrahir, contrahir, distrahir, retrahir
, etc, perdem nas mesmas
vozes o h, e se diz: saio, saia, caio, caia, etc.

Servir, e os que na syllaba antecedente ás figurativas g,
m, p, r, t
, admittem a letra e, assim como: fregir, seguir,
remir, despir, ferir, sentir
com seus compostos etc, mudam
todos nas mesma vozes o dito e em i dizendo-se: sirvo, sirva,
frijo, sigo, rimo, dispo, firo
, etc.

Os que tem o na syllaba que precede ás figurativas m, s,
como: dormir, tossir, ou b, levando depois de si liquida a letra
r, como: cobrir, e os seus compostos descobrir, encobrir
68trocam-no em u nas mesmas vozes, dizendo: durmo, durma,
tusso, cubro, descubro
, etc.

Ao contrario os verbos, cujas figurativas são b, d, g, l,
m, p
, precedidas de syllaba, em que entra a letra u, como:
subir, acudir, fugir, engulir, sumir, cuspir; com os verbos
construir, destruir, que tem esta mesma vogal por figurativa,
á excepção de prezumir, que he regular, mudam todos o mesmo
u em o nas vozes, em que se segue á figurativa a letra e,
dizendo: sobe, sobes, acode, foge, engole, some, cospe, constroe,
destroe
(a)34.

Os que tem z por figurativa depois da vogal u, como: luzir,
com seus compostos desluzir, reluzir, transluzir; e assim
conduzir, deduzir, induzir, introduzir, produzir, reduzir, seduzir,
traduzir
perdem a letra terminativa e na terceira forma
do singular no prezente do indicativo, e diz-se: luz, deduz, reluz,
transluz, conduz, seduz
, etc. (b)35.

Rir tem irregularidade nas vozes do prezente do indicativo
rio, ris, ri, rides, rim; no imperativo ri, ria, ride, riam;
no prezente do conjunctivo ria, rias, ria, riamos, riais, riam.

Irregular de todas as conjugações (c)36.

Por.

Indicativo.

Prezente.

S. Ponho. | Pões. | Põe.
P. Pomos. | Pondes. | Põem.

Pretérito imperfeito.

S. Punha. | Punhas. | Punha.
P. Punhamos. | Punheis. | Punham.69

Pretérito perfeito.

S. Puz, etc. | Puzeste. | Poz.
P. Puzemos etc. | Puzestes. | Puzeram.

Pretérito plusquam perfeito.

S. Puzera, etc. | Puzeras. | Puzera.
P. Puzeramos, etc. | Puzereis. | Puzeram.

Futuro primeiro.

S. Porei, etc. | Porás. | Porá.
P. Poremos, etc. | Poreis. | Porão.

Futuro segundo.

S. Terei posto, etc.
P. Teremos posto, etc.

Imperativo.

Prezente.

S. Põe. | Ponha.
P. Ponde. | Ponham.

Conjunctivo.

Prezente.

S. Ponha. | Ponhas. | Ponha.
P. Ponhamos. | Ponhais. | Ponham.

Pretérito imperfeito.

S. Poria. | Porias. | Poria.
P. Poriamos. | Porieis. | Poriam.70

Pretérito perfeito.

S. Puzera, etc. | Puzeras. | Puzera.
P. Puzeramos, etc. | Puzereis. | Puzeram.

Pretérito plusquamperfeito.

S. Puzesse, etc. | Puzesses. | Puzesse.
P. Puzessemos, etc. | Puzesseis. | Puzessem.

Futuro primeiro.

S. Puzer etc. | Puzeres. | Puzer.
P. Puzermos, etc. | Puzerdes. | Puzerem.

Futuro segundo.

S. Tiver posto, etc.
P. Tivermos posto, etc.

Infinitivo.

Prezente, e pretérito imperfeito.

Por.

Pretérito perfeito, e plusquamperfeito.

Ter, ou haver posto.

Futuro.

Ter, ou haver de pôr.

Gerundio.

Pondo. Tendo, ou havendo posto.

Supino.

Posto.71

Esta conjugação serve para todos os compostos do verbo por,
como: antepor, compor, contrapor, depor, descompor, dispor,
expor, impor, indispor, interpor, ou entrepor, oppor, pospor,
prepor, presuppor, propor, repor, sobrepor, sotopor, suppor,
transpor
.

Verbos defectivos, e impessoaes.

Verbos defectivos, como fica dito, são aquelles, a que o
uso costuma negar algumas vozes. Assim feder he defectivo, por
carecer de todas as vozes, em que depois da figurativa d se deveria
seguir o, ou a (a)37. Do mesmo modo são defectivos os verbos
brandir, compellir, demolir, discernir, expellir, munir,
submergir
, e outros que o uso ensinará.

Nesta classe dos defectivos podem incluir-se os impessoaes,
assim chamados, porque não tem primeira, nem segunda forma,
e se conjugam pelas terceiras do singular; taes são aprazer, comprazer,
desaprazer, acontecer, chover, cumprir, importar, pezar

na significação de ter arrependimento etc.

Seja exemplo aprazer (b)38, que se conjuga no indicativo,
prezente apraz, imperfeito aprazia, perfeito aprouve, plusquamperfeito
aprouvera, futuro aprazerá. No conjunctivo, prezente
apraza, imperfeito aprazeria, perfeito aprouvera, plusquamperfeito
aprouvesse, futuro aprouver. No infinitivo, prezente, e imperfeito
aprazer, gerundio aprazendo, supino aprazido.72

Capitulo II.
Tempos dos verbos em particular.

Tres tempos se devem considerar principalmente em qualquer
verbo, alem do participio passivo, com que se forma, como
mostramos, toda a voz passiva: O prezente do infinitivo; o pretérito
perfeito do indicativo
, que são as duas raizes, donde se
deduzem as vozes simples nas conjugações regulares; e o supino,
com que ajudam a formar os dous auxiliares activos os tempos
de circumloquio.

Do prezente do infinitivo nascem os prezentes, e imperfeitos
dos outros modos, os futuros, com o imperativo, e gerundio.

Do pretérito perfeito do indicativo formam-se o perfeito do
conjunctivo, os plusquamperfeitos, o supino, e o participio.

Exemplo I.

Prez. | Imp. | Futur. | Imp. | Prez. | Imp. | Futur. | Gerund.
Prez. do Infin.
1. Conj. Am -ar -o -ava -arei -a -e -aria -ar -ando.
2. Conj. Receb -er -o -ia -erei -e -a -eria -er -endo.
3. Conj. Admitt -ir -o -ia -irei -e -a -iria -ir -indo.

Exemplo II.

Plusq. perf. | Perf. conj. | Plusq. perf. | Supin. | Particip.
Pret. Perf.
1. Conj. Am -ei -ara -ara -asse -ado -ado, -ada.
2. Conj. Receb -i -era -era -esse -ido -ido, -ida.
3. Conj. Admitt -i -ira -ira -isse -ido -ido, -ida.

O Supino, he a voz do infinitivo activa; que se ajunta em
todos os verbos aos dous auxiliares ter, e haver para formar com
elles os tempos compostos, ou de circumloquio; nem tẽ plural,
nem terminação feminina (a)39, e nisso se distingue dos participios
passivos, os quaes, ainda que por elle se formem, tem todos
ambos os generos, e terminações, por ser isto da natureza do
participio.

Participio, como a sua mesma voz significa, é a parte da
oração, que participa juntamente da natureza de nome, e de
verbo: isto é, tira do nome o genero, e relação; e do verbo o
tempo, e a acção; mas é de ordinario incluido nas conjugações.73

Daqui se deduz, que nem ao gerundio, nem ao supino podemos
sem erro chamar participios; pois nenhum delles se pode
incluir nesta definição: e que os verbos intransitivos carecem todos
de passiva (a)40; por não terem participio (b)41, para ajuntar
ao auxiliar passivo, ainda que todos tenham supino para formar
os tempos de circumloquio com os auxiliares activos.

Convem tambem distinguir o participio de alguns nomes
verbaes, ou que se dirivam dos verbos, mas nem por isso são
participios (c)42. Por quanto sómente é participio, como dissemos
do verbo, o que significa com tempo acção de uma couza empregada
em outra, e suppõe acção, e paciente, o que se não
pode dizer dos nomes verbaes: e do contrario se seguirá dar a
uns verbos mais participios que a outros; admittir participios sem
verbo donde nasçam: o que seria notavel absurdo.

E ha entre o gerundio, e o supino esta differença, que o
gerundio é voz do prezente, e o supino do pretérito, e não somente
nisto se distinguem, mas tambem, e principalmente,
porque o gerundio se toma sempre só, e como voz simples do verbo,
e o supino ha mister de ser acompanhado dos auxiliares,
sem os quaes se não pode usar, pois tem unicamente lugar nos
tempos compostos.

Primeira conjugação.
I.

Os verbos da primeira conjugação tem o pretérito em ei, e
o supino em ado, assim como: amar, amei, amado: louvar,
louvei, louvado
.

Muda no pretérito estar, que faz estive, estado.

Tem por contracção supino de dous modos: ou participio
differente do supino entre outros:

Acceitar, acceitei, acceitado, acceito.
Annexar, annexei, annexado, annexo.
Apromptar, apromptei, apromptado, prompto.
Arrebatar, arrebatei, arrebatado, rapto (d)43.
Captivar, captivei, captivado, captivo.
Cegar, ceguei, cegado, cego.
Descalçar, descalcei, descalçado, descalço.
74Entregar, entreguei, entregado, entregue.
Enxugar, enxuguei, enxugado, enxuto.
Escuzar, escuzei, escusado, escuso.
Exceptuar, exceptuei, exceptuado, excepto.
Expressar, expressei, expressado, expresso.
Expulsar, expulsei, expulsado, expulso.
Fartar, fartei, fartado, farto.
Gastar, gastei, gastado, gasto.
Inquietar, inquietei, inquietado, inquieto.
Isentar, isentei, isentado, isento.
Juntar, juntei, juntado, junto.
Limpar, limpei, limpado, limpo.
Manifestar, manifestei, manifestado, manifesto.
Matar, matei, matado, morto.
Occultar, occultei, occultado, occulto.
Pagar, paguei, pagado, pago.
Professar, professei, professado, professo.
Quietar, quietei, quietado, quieto (a)44.
Salvar, salvei, salvado, salvo.
Seccar, sequei, secado, seco.
Segurar, segurei, segurado, seguro.
Sepultar, sepultei, sepultado, sepulto.
Soltar, soltei, soltado, solto.
Sujeitar, sujeitei, sujeitado, sujeito.
Vagar, vaguei, vagado, vago
.

Segunda conjugação.
II.

Os da segunda conjugação fazem o pretérito em i, e supino
em ido, assim como: receber, recebi, recebido; entender, entendi,
entendido
.

Mudam no pretérito:

Aprazer, aprouve, aprazido (b)45.
Caber, coube, cabido.
Haver, houve, havido.
Jazer, jouve (c)46.
Poder, pude, podido.
Querer, quiz, querido.
75Saber, soube, sabido.
Ser, fui, sido.
Ter, tive, tido (a)47, abster, abstive, abstido,
e assim os mais compostos.
Trazer, trouxe, trazido
.

Mudam no supino ver, vi, visto, e os seus compostos antever,
entrever, prever, rever
.

Mudam no pretérito, e supino juntamente dizer, disse,
dito
, com os seus compostos bemdizer, condizer, contradizer,
desdizer
, etc.

Fazer, fiz, feito, e assim contrafazer, desfazer, e os mais
compostos.

Tem por contracção dous supinos; ou supino differente do
participio.

Absolver, absolvi, absolvido, absolto (b)48.
Absorber, absorbi, absorbido, absorto.
Accender, accendi, accendido, acceso.
Attender, attendi, attendido, attento.
Conhecer, conheci, conhecido, cognito (c)49.
Convencer, convenci, convencido, convicto.
Converter, converti, convertido, converso.
Corromper, corrompi, corrompido, corrupto.
Defender, defendi, defendido, defêzo (d)50.
Eleger, elegi, elegido, eleito.
Encher, enchi, enchido, cheio.
Envolver, envolvi, envolvido, envolto.
Escrever, escrevi, escrevido, escrito, com seus compostos.
Interromper, interrompi, interrompido, interrupto.
Morrer, morri, morrido, morto.
Nascer, nasci, nascido, nado.
Prender, prendi, prendido, preso.
Reconhecer, reconheci, reconhecido, recognito.
Romper, rompi, rompido, roto.
Suspender, suspendi, suspendido, suspenso.
Torcer, torci, torcido, torto.
Volver, volvi, volvido, volto
.76

Terceira conjugação.
III.

Os da terceira conjugação fazem o pretérito em i, e o supino
em ido, assim como admittir, admitti, admittido; decidir,
decidi, decidido
.

Muda quanto ao pretérito ir, que faz fui, ido.

No pretérito, e supino:

Vir, vim, vindo, com seus compostos avir, convir, contravir,
desavir
, etc.

Admittem supino dobrado por contracção, ou diverso do
participio:

Abrir, abri, abrido, aberto.
Abstrahir, abstrahi, abstrahido, abstracto.
Affligir, affligi, affligido, afflicto.
Cobrir, cobri, cobrido, coberto, e seus
compostos descobrir, encobrir.
Concluir, conclui, concluido, concluso.
Confundir, confundi, confundido, confuso.
Contrahir, contrahi, contrahido, contracto.
Diffundir, diffundi, diffundido, diffuso (a)51.
Dirigir, dirigi, dirigido, directo.
Distinguir, distingui, distinguido, distincto.
Dividir, dividi, dividido, diviso (b)52.
Erigir, erigi, erigido, erecto.
Exhaurir, exhauri, exhaurido, exhausto.
Expellir, expelli, expellido, expulso.
Exprimir, exprimi, exprimido, expresso.
Extinguir, extingui, extinguido, extincto.
Extrahir, extrahi, extrahido, extracto.
Fregir, fregi, fregido, fricto.
Imprimir, imprimi, imprimido, impresso.
Incluir, inclui, incluido, incluso.
Infundir, infundi, infundido, infuso.
Inserir, inseri, inserido, inserto.
Instruir, instrui, instruido, instructo (c)53.
77Opprimir, opprimi, opprimido, oppresso (a)54.
Possuir, possui, possuido, possesso.
Reprimir, reprimi, reprimido, represso.
Submergir, submergi, submergido, submerso.
Supprimir, supprimi, supprimido, suppresso.
Surgir, surgi, surgido, surto.
Tingir, tingi, tingido, tinto
.

Pôr com todos seus compostos faz o pretérito em uz, e o
supino em osto, assim como: pôr, puz, posto; antepor, antepuz,
anteposto
, etc.

Nos verbos, em que ha dous supinos, o segundo, ou o
contracto é de ordinario, donde se forma o participio (b)55. Em
alguns delles, como o contracto não tem uso na activa, é propriamente
participio, e diverso do supino: esta differença se pode
observar com muita facilidade em cada um dos mesmos verbos,
notando com qual dos auxiliares se pode juntar; se com os dous
auxiliares da activa, e então é supino; se com o auxiliar passivo,
e é então participio; ou com ambos, sendo juntamente supino,
e participio.

Entre os participios ha tambem alguns no Portuguez com
significação activa, e muitas vezes denotam tempo diverso; e
não podem então servir para com elles se formar a voz passiva,
como entre outros são:

Acautelado. O que tẽ cautela.
Agastado. O que se agasta.
Agoniado. O que tẽ agonia.
Agradecido. O que agradece.
Apressado. O que tẽ pressa.
Arrecadado. O que arrecada.
Arriscado. O que arrisca.
Attrevido. O q~ tẽ atrevimento.
Attentado. O que attenta.
Aturado. O que atura.
Calado. O que cala.
Carecido. O que carece.
Confiado. O que confia.
Considerado. O que considera.
Costumado. O que costuma.
Desattẽtado. O que não attenta
.

Desconfiado. O que desconfia.
Desenganado. O que desengana.
Desmaiado. O que desmaia.
Encolhido. O que encolhe.
Entendido. O que entende.
Esforçado. O que tẽ esforço.
Espantado. O que se espanta.
Lido. O que lê.
Ousado. O que ousa.
Previsto. O que prevê.
Prezumido. O que prezume.
Recatado. O que tẽ recato.
Resignado. O que se resigna.
Sabido. O que sabe.
Sentido. O que sabe.
Valido. O q̃ tẽ valimento
.78

Parte III.
Particula (a)56.

Particula é a voz, ou palavra invariavel, que carece de
propriedades, e que só serve de marca, ou signal com que na ordem
do discurso se manifestam as circumstancias.

Divide-se em quatro especies: adverbio, preposição, conjuncção,
interjeição
.

I.
Adverbio.

Adverbio é a particula, que denota as circumstancias da
acção, isto é, a voz, que se junta ao verbo para lhe modificar,
ou determinar sua significação (b)57.

Tambem se junta ao nome, em quanto serve para modificar
a qualidade, ou attributo annexo á pessoa, ou sugeito da
acção, mas só ao nome adjectivo; por isso se diz qualidade, ou
attributo, como: amo muito. Pouco diligente.

Consideram-se os adverbios ou em quanto á sua forma, ou
em quanto á sua significação. Do primeiro modo podem ser os
adverbios, simples, compostos, dirivados.

Simples ou primitivos são os que não tiram origem de outros,
assim como: hontem, onde, sim, logo. Compostos são os
feitos de duas vozes, como: antehontem, assimcomo, logoque,
jágora
. Dirivados são todos os que se deduzem da terminação feminina
dos adjectivos, accrescentando-se-lhe a palavra mente,
assim como: ousadamente, certamente, sabidamente, prudentemente, etc. (c)58.

Em quanto á sua significação podem ser de muitos modos,
como por exemplo:

De tempo: jáagora, ainda, então, hoje, hontem, antehontem,
amanhã, antes, depois, logo, cedo, nunca, tarde, atégora,
sempre, jámais, quandoquerque, entretanto
, etc. (d)59.79

De lugar: ahi, alli, aqui, cá, lá, acolá, onde, donde,
algures, dahi, dalli, daqui, dentro, fora, perto, longe, poronde,
ondequerque, atéqui
, etc.

De ordem: antes, primeiro, depois, já, avante, antesque,
primeiroque, quasi
, etc.

De qualidade: bem, assim, mal, acinte, com os dirivados.

De quantidade: muito, pouco, mais, menos, assás, tanto, etc.

De mostrar: eis, eisaqui, eisalli, eisahi.

De perguntar: como, comoassim, porque, quando, atéquando.

De affirmar: sim, assim, poisnão, etc.

De negar: não, nada, aindanão, tãopouco, etc.

De duvidar: aliàs, talvez, porventura, etc. (a)60

De excluir: só (b)61, sómente, tãosomente, apenas, etc.

II.
Preposição.

A preposição, segunda especie de particula, é a voz, que
denota a circumstancia manifestada pelo nome, a que ella sempre
precede (c)62.

Dezigna da mesma sorte que o adverbio o tempo, o lugar,
a ordem, o modo, ou qualidade, mas differença-se delle, porque
o adverbio manifesta por si só a circumstancia, e a preposição
juntamente com o nome, que se lhe segue (d)63.

Algumas vezes se antepõe immediatamente ao verbo, e ao
nome adjectivo, para tambem lhe modificar, e variar a sua significação (e)64.

São as preposições de tres maneiras, umas recahem immediatamente
sobre o nome que lhes serve de complemento sem
admittir articulo, ou admittem unicamente o definido o, a; outras
levam em meio o indefinido de, ou o definido do, da; outras
fazem mediar promiscuamente ora um, ora outro articulo.

Precedem immediatamente ao nome sem articulo, ou admittem
só o definido o, a: a, ante, até, com, conforme, contra,
em, entre, para, per, perante, por, salvo, segundo, sem,
sob, sobre
.80

Admittem sempre um dos dous articulos, ou o indefinido
de; ou o definido do, da, ácerca, alem, antes, acima, abaixo,
ápar, áquem, arriba, atraz, defronte, dentro, depois,
detraz, diante, longe, perto
.

Admittem tanto um como outro: após, de, excepto, junto,
fora
(a)65.

Em algumas das preposições ha grande variedade no modo
de usar dellas. A’ preposição com, junta aos pronomes demonstrativos
eu, e tu no singular; ou ao reciproco de si, pospõe-se
sempre o augmento syllabico go, formando com ella um só vocabulo,
e se diz: comigo, comtigo, comsigo; e no plural co,
dizendo comnosco, comvosco.

A preposição em junta a nomes, que levem antes o articulo
o, a, perde a letra e, e muda o m em n, que vai ferir o
articulo, e se diz, n’o, n’a, n’os, n’as, em lugar de em o,
em a, em os, em as
.

Nas preposições per, e por, antespostas ao mesmo articulo
a o, converte-se o r em l, dizendo-se em lugar de: pero, pera,
pelo, pela
; e de poro, pora, polo, pola. (b)66.

A preposição de, quando se lhe segue o articulo indefinido
de, ou o definido do, da, dos, das, costuma-se por eufonia
accrescentar a letra s, e se diz: des de, des do, des da, des dos,
des das
: e quando é o articulo o, ou a, perde a letra e, e vai
a consoante d ferir o mesmo articulo, e se diz; d’o, d’a, d’os,
d’as
; que é contracção de de o, de a, de os, de as.

Por onde haja grande cuidado em distinguir o de, articulo
da preposição de; assim do mesmo modo a preposição a tambem
do articulo a (c)67; na qual, quando concorrem ambas, isto é,
quando o articulo se segue á preposição a, se diz por elisão
denotando-se com accento agudo á, ás, e não a a, a as, como
antigamente estava em uso.

Muitas preposições não são rigorosas preposições, e mais
propriamente lhes chamariamos nomes, taes são: segundo, conforme,
excepto, junto
, que algumas vezes são adjectivos; e acima,
abaixo, defronte
, etc, que são substantivos precedidos de
preposições; mas são contadas no numero das preposições, porque
o uso as tem assim adoptado.81

III.
Conjunção.

A conjunção é a particula caracteristica da dependencia,
ou a voz que designa a dependencia que as acções tem entre si
no discurso para formarem sentido perfeito, e completo (a)68.

Ha dellas varias especies; mas principalmente são:

Copulativas: e, outrosi, tambem.

Disjunctivas: nem, ou, já, ora, agora, quer, quando.

Condicionaes: com, aindaque, se, senão, comtantoque,
semque
.

Causaes: porque, pois, porquanto, poisque.

Conclusivas: logo, portanto, peronde, assimque, comque,
peloque
.

Comparativas: assimque, como, assimcomo, assimtambem,
tanto, quanto, bemcomo
.

Adversativas: mas, porem, postoque, suppostoque, aindassim,
todavia
.

IV.
Interjeição.

Chama-se interjeição a particula, ou voz breve, e curta
que exprime as varias paixões da nossa alma, como amor,
odio, etc.

Tem os grammaticos dividido a interjeição em differentes
classes, segundo os varios affectos que explicam, porem como
esta divisão não pode ser exacta, e é mais embaraçada que util,
basta saber, que das interjeições jumas denotam um só affecto,
como: oxalá! que é demonstrativa de desejo; ai! hui! de dor;
ha! he! de riso; ah! de sobresalto; oh! ah! de admiração: ou
significam promiscuamente varios affectos, como: ó! que denota
prazer, afflicção, admiração, exclamação, etc, e outras que o
uso ensinará, em que se conhece o que significam da occasião,
e tom com que se proferem.

Ainda que entre as particulas seja mui notavel a differença,
como de suas definições se colhe; algumas, e não poucas vezes,
se trocam umas per outras, valendo a mesma particula já como
preposição, já como adverbio, ou conjunção (b)69, assim como:
82porque é conjunção causal, e adverbio interrogativo; logo adverbio
de tempo, poronde adverbio de lugar, e outras vezes
conjunções conclusivas; com conjunção condicional, e preposição;
agora, quando adverbios de tempo e conjunções disjunctivas;
fora, dentro preposições e adverbios de lugar, etc.

Deve por tanto em cada uma conhecer-se, que particula
seja, e quando se toma ou faz as vezes de outra; para que se
não confundam, e sirvam de embaraço no determinar cada parte
da oração.83

Livro II.
Prozodia.

Prozodia é a parte da Grammatica, que ensina a devida
pronunciação das palavras a fim de fallar com pureza, e policia.

A palavra é o espirito proferido pela voz distinta, e articulada,
instituida para significarmos os pensamentos, e conceitos
da alma; e compõe-se de letras, e syllabas.

E’ a letra uma voz indivizivel, não qualquer senão aquella
unicamente da qual se possa formar palavra intelligivel (a)70; e
se nota per uma simples figura, como: a, b, c, etc.

Destas umas são vogaes, outras consoantes. Vogal, diz-se
assim porque cada uma de per si sem ajuda de outra se pode
pronunciar, e formar som; e consoante val tanto como letra que
soa com outra, isto é, que não soa sem ajuntamento de alguma
das vogaes.

Da união, ou ajuntamento de duas vogaes diversas dentro
da mesma syllaba formam-se os dithongos (b)71. Ha na lingua
portugueza nove communs, como: ai, ao, au, ei, eu, iu, ei,
ou, ui
; e tres proprios, ou nazaes, ãe, ão, õe, assim chamados,
porque na primeira das duas vogaes se sente um som nazal.

As letras vogaes são os elementos do som, e as consoantes
os elementos da articulação: por cuja razão todas as consoantes
devem considerar-se, e chamar-se mudas (c)72. Donde se segue,
que sem vogal não se pode dar syllaba; e quantas vogaes, tantas syllabas.

E’ por tanto a syllaba o som completo de huma vogal, ou
de um dithongo per si só; ou acompanhado com uma duas ou
mais consoantes, que se pronunciam debaixo de um espirito ou
de um accento.84

Capitulo I.
Som, e accento regular.

O accento nas palavras é o tom, ou a varia modulação
na voz em pronunciar cada syllaba; e é ou alto, ou baixo, isto
é, agudo ou grave, segundo o tempo que a voz nelle se demora.

O agudo se diz assim, porque se levanta a voz mais na
sylalba, e se demora nella mais tempo do que nas outras; o grave
ao contrario e menor, tem mais baixo som, e pronuncia-se
mais velozmente.

Todas as palavras tẽ um só accento predominante (a)73;
e aindaque sejam compostas de muitas syllabas, não pode haver
mais que um em cada palavra, o qual unicamente pode ter lugar
ou na syllaba ultima, ou penultima, ou antepenultima.

Dicções acabadas em vogal.

I.

As dicções acabadas em a tem a ultima grave, como: honra,
vida, amára, recebêra
.

Tem aguda a terminação a, acolá, alvará, tafetá, maná,
Pará, oxalá
. A terceira forma no singular do futuro primeiro
do indicativo nos verbos, como: amará, lerá, será; e no verbo
estar a voz do prezente do indicativo está. Tambem se exceptuam
os nomes, em que dá a esta vogal som nazal, como:
romã, manhã, maçã, etc; com os da terminação feminina
dos adjectivos acabados em o dithongo ão, assimcomo: meã,
cidadã, aldeã, cortezã
, etc.

II.

As terminações em e são tambem graves, assim como: fonte,
arvore, virtude, prudente, constante
; e nos verbos ame, procure,
veste, recebe
.

Tiram-se galé, polé, maré, caffé, libré, petipé, relé,
até
, etc.85

Exceptua-se tambem o nome mercê; nos verbos as vozes
relê, treslê, revê; e todas as particulas compostas da conjunção
que, como: aindaque, postoque, porque, logoque, jáque, antesque,
ondequerque, quandoquerque, tantoque
, etc, as quaes são
todas agudas, e por serem uma só dicção devem escrever-se unidas,
e não apartadas.

III.

São agudas as terminações em i como: javali, aqui, alli,
eisahi, atéqui, outrosi
; e a primeira forma do singular dos perfeitos
nos verbos da segunda, e terceira conjugação, como: recebi,
defendi, sahi, ouvi, conclui, parti
; com as vozes do imperativo
na segunda forma do plural nos mesmos verbos da terceira,
admitti, fugi.

São igualmente agudas todas as dicções acabadas em qualquer
dos dithongos ai, ei, oi, como: amai, ficai, serei, mandei,
comboi
.

Exceptua-se o adverbio quasi, que tem terminação grave.

IV.

As dicções acabadas em o são graves como: templo, navio,
modo, frio, apto, incerto; e nos verbos amo, recebo, digo,
aborreço, rio, vigio
, etc.

E’ aguda a terminação em o nos nomes avó, roqueló, ilhó,
filhó, enxó
, etc.

V.

Nas dicções em u é aguda a terminação nos nomes bajú,
bambú: e nos verbos em que ha dithongos
, como: amou, despojou,
recebeu, defendeu, subiu, vestiu
, etc.

Tira-se o nome tribu, que tẽ grave a terminação.

VI.

As dicções que fenecem no dithongo ão são agudas, assim
como: união, traição, occasião, lição; nos verbos, estão prezente
de estar; com todas as vozes do futuro primeiro do indicativo
na terceira forma do plural, como: amarão, lerão, admittirão,
sahirão, porão, disporão
, etc.

São graves as terminações dos nomes Estevão, Christovão,
e benção, orgão, frangão, sotão, rabão, na significação de hortaliça,
acordão, orfão, oregão.86

Das dicções acabadas nas consoantes.

I.

As dicções acabadas em l, são agudas, assim como: coral,
baixel, ceitil, farol, paul
.

São graves em al os nomes Tentugal, Setubal. Em el o
nome savel com os adjectivos em vel como: admiravel, agradavel,
terrivel, infallivel, impossivel
, etc. Os adjectivos docil,
facil, agil, fertil, util, debil
, etc, em il. E na terminação em
ul o nome consul com os seus compostos visconsul, proconsul.

II.

As terminações, am e em são graves, assim como: estavam,
amaram, defendiam, puzeram
, e assim os mais prezentes, imperfeitos,
perfeitos, e plusquamperfeitos de todos os verbos. Nas
palavras de terminação em em, os nomes imagem, virgem, ordem,
pagem
; com os verbos amem, fazem, receberem, lessem,
pórem, ouvissem
.

E’ aguda a terminação em nos nomes vintem, desdem, parabem,
armazem; nos verbos as vozes detem, mantem, contem,
treslem, convem, desconvem, revem
; nas conjunções porem,
sebem, tambem
; nas preposições alem, aquem.

III.

Todas as dicções acabadas em im, om, um, são agudas, como:
jasmim, marfim, atum, jejum.

IV.

As dicções terminadas em r tem aguda a syllaba final, assim
como: altar, prazer, nadir, calor, catur; e os infinitivos
dos verbos, como: louvar, agradar, receber, agradecer, admittir,
arguir, contrapor, dispor
, etc.

Nas acabadas em ar são graves ambar, nectar, aljofar,
açucar
; e martyr na terminação em ir.

V.

As terminações as, es, os, que são os pluraes dos nomes
em a, e, o, são todas graves, assimcomo: casas, palmas, arvores,
87virtudes, olhos, livros; e assim os defectivos do singular,
como: exequias, fauces, editos; e nos verbos todas as vozes,
que não forem de futuro, como: amas, amavas, amaras, recebesses,
admittires, louvavamos, defenderamos, vestissemos
, etc.

Tiram-se em as o nome Thomas, com os pluraes dos nomes
acabados em a agudo, como: alvaras, tafetas, etc; os
adverbios assás, aliás; e nos verbos a segunda forma do singular
do futuro do indicativo, assimcomo: amarás, receberás, lerás,
irás, porás
, etc; e estás prezente do verbo estar.

Tambem se exceptuam os pluraes dos nomes acabados em
ã nazal, assimcomo: maçãs, romãs, com as terminações femininas
dos adjectivos: cortezãs, meãs, aldeãs, etc.

Em es os pluraes dos nomes em e, agudo como: marés,
galés
, e mercês, plural do nome mercê; e nos verbos relês, revês,
descrês
.

E na terminação em os os nomes avós, roquelós, etc: e
após preposição.

VI.

As dicções em is, e us tem a terminação aguda, assimcomo:
ceitis, buris, subtis, civis, que são os pluraes dos nomes
em il agudo: e as vozes do prezente admittis, sentis, ouvis nos
verbos da terceira conjugação; e o nome Jesus.

Os nomes calis, lapis, cutis, dosis, parenthesis, hypothesis,
e outros, que se escrevem por este modo segundo sua etymologia,
são graves.

E na terminação em us tribus plural de tribu.

VII.

As dicções que finalizam em qualquer dos dithongos ais,
eis, eus, ois, ous
, etc, são agudas, assimcomo: cais, arrais,
leis, meus, combois, grous
, etc; nos verbos as vozes amais,
ensinais, sabeis, dizeis, fareis, tereis, admittireis
; e assim os
dithongos ães, ãos, ões que são os pluraes dos nomes acabados
em ão, como: cães, capitães, irmãos, cidadãos, questões, acções, etc.

No dithongo eis são graves os pluraes dos nomes em il grave
no singular, como: faceis, estereis, ageis, doceis; os adjectivos,
que no singular acabam em vel, como: terriveis, veneraveis,
apraziveis
; e nos verbos as vozes do imperfeito, e plusquamperfeito
tanto do indicativo, como do conjunctivo na segunda
88forma do plural com a do perfeito do conjunctivo, assim
como: amaveis, recebereis, irieis, déreis, fosseis, fizesseis.

E na terminação em o dithongo ãos os pluraes dos nomes
acabados no singular em ão grave, como, acordãos, orgãos,
bençãos, orfãos
, etc.

VIII.

São graves as dicções acabadas em ens, que são os pluraes
dos nomes em em no singular, assim como: imagens, homens,
ordens, pagens
.

Tiram-se os que no singular acabam em em agudo, como:
parabens, vintens, armazens, desdens; e nos verbos abstens,
mantens, convens, desconvens
, etc.

IX.

As dicções acabadas em ins, ons, uns, pluraes dos nomes,
que no singular tem im, om, um, todas são agudas, assim como:
jasmins, jejuns, alguns.

X.

Todas as terminações em az, ez, iz, oz, uz, são agudas,
assim como: cartaz, tenaz, garupez, convez, raiz, matriz, cadoz,
arcabuz
; e assim as vozes do prezente, e perfeito em alguns
verbos irregulares, como: desdiz, contradiz, propoz, dispoz,
induz, rebuz
, etc.

Capitulo II.
Som, e accento irregular.

Variam, e alteram o som, ou accento, que as palavras
guardam regularmente em sua pronunciação as figuras de dicção,
a que os grammaticos chamam de metaplasmo.

E’ o metaplasmo a troca, ou mudança da forma antiga, e
usada das palavras em outra nova forma, accrescentando, diminuindo,
ou trocando letras. Seu uso é commum assim em proza,
como em rima, porem nesta mais frequente.

Faz-se necessario o conhecimento destas figuras; e podem
89reduzir-se todas a seis classes, ou fazem-se por seis modos differentes:
por accrescentamento de alguma letra, ou syllaba; por
diminuição; contracção; separação; commutação ou troca; e
transposição.

I.

O accrescentamento pode dar-se em principio da dicção, em
meio, ou no fim; e nascem daqui tres figuras: protheze ou appozição,
accrescenta no principio, como fazem os poetas em arreceozo
e atambor em lugar de receozo e tambor. Ex:

Mas polo sprito de erro arreceoso (a)74
Co os ciumes da vacca, arreceozos (b)75
Soam os atambores, e pandeiros (c)76

Epentheze ou interposição accrescenta no meio, como: termino
por termo, descender por descer, pagano por pagão. Ex:

Pois os vedados terminos quebrantas (d)77
Sobre a terra Africana descendeu (e)78
No grosso escudo rompe do pagano (f)79

Paragoge ou posposição accrescenta no fim, como: martyre
por martyr, architector por architecto, error por erro. Ex:

E depoisque do martyre Vicente (g)80
O grande architector co’ o filho dando (h)81
De todos os mortaes, ó error cego (i)82

II.

Por diminuição ou subtracção formam-se outras tres figuras,
porque se dá igualmente no principio, no meio, e no fim da dicção.90

Afereze diminue no principio, como conselhar por aconselhar,
liança
por aliança, bobeda por abobeda. Ex:

Se te não aconselhar, meus são teus erros (a)83
E se queres com pactos, e lianças (b)84
Nas bobedas, e leitos retumbavam (c)85

Syncope diminue no meio, como: esprito por espirito, perla
por perola, sabrozo por saborozo. Ex:

Com novo esprito ao mestre seu mandava (d)86
Como em concha scabroza perla altiva (e)87
E depoisque o licor sabrozo toca (f)88

Apocope diminue no fim, como: faro por farol, lizonge
por lizongee, aspid por aspide. Ex:

E nesta noute um faro que nos guia (g)89
Mais que d’haver quem possa lizonjar-te (h)90
A’quelle aspid formozo que entre flores (i)91

III.

Faz-se a contracção ou em uma só dicção, ou em duas;
do primeiro modo provẽ a figura synereze, que contrahe, ou junta
duas vogaes em uma só syllaba dentro da mesma dicção, como:
tua, e sua (k)92, que ficam de uma syllaba só, furia de
duas, piedozo de tres, tempestuozo de quatro. Ex:0123.

Em ti se banhe, e pize tua verdura (l)93
91Ao doce Tejo e sua corrente amena (a)94
Acommettem com furia denodada (b)95
O’ tu piedoso só co’ a luza gente (c)96
Em brava costa ou tempestuosa praia (d)97

Ao segundo modo pertencem a synalefa e a ecthlipse. Synalefa
dá-se quando, por evitar o hiato (e)98, com a vogal, inicial
da dicção seguinte se elide a ultima vogal da antecedente.
Tẽ lugar nas preposições a, ou de antes do articulo definido o,
a ou antes de nome, que comece por vogal; porque ou se contrahem
ambas em uma só, dizendo: ó, á, d’o, d’a, ou a consoante
d da preposição vai ferir a vogal primeira do nome, que
se lhe segue, e se dirá: d’ouro, d’agua, d’ambos em lugar de
de ouro, de agua, de ambos, que faria desagradavel hiato.

No verso é muito frequente; e contribue em particular para
fazer o numero expedito, suave, e magestoso, segundo os speectos,
que se exprimem, o não se fazer conta na medida da
ultima vogal da primeira dicção, quando a immediata começa
tambem por vogal. Ex:

Suspira, e geme, e chora a alma cativa (f)99
Aquelle vive só a quem coube em sorte (g)100
De baixeza os argue e de ira cheio (h)101
Fundado em proprio amor a escada he audacia (i)102
Animara o meu peito aura canora (k)103

Tambem por esta figura se costumam elidir os dithongos
das clauzulas antecedentes, e é isto mui frequente nos poetas.
Ex:

Nadando vai, e latindo assi o mancebo (l)104
Que tu, falso Cupido, não aparelhas (m)105
92O castigo que dais me vai avizando (a)106
Para noute sem fim de meu orizonte (b)107

Algumas vezes não se faz a elizão, aindaque concorram
vogaes, quando se pretende com o mesmo hiato contribuir para
maior realce da pintura natural do speecto. Ex:

Lá onde mais debaixo está do polo (c)108
Sobre as azas inclitas da fama (d)109
Do altissimo Calpe dividiu (e)110
Nas mãos vai a cahir de seu imigo (f)111

A ecthlipse, quando acaba a dicção antecedente em m precedido
de vogal, e a immediata principia tambem por vogal,
ou dithongo elide a ultima syllaba da dicção primeira, como na
synalefa. Tẽ lugar, quando a prepozição com se antepõe a nomes,
que levam o articulo definido o a, porque a consoante c
da preposição, omittindo-se o o, e o m, vai recahir immediatamente
sobre o articulo, e se diz: c’o temor, c’o perigo em lugar
de com o temor, com o perigo. Fora desta occazião só se usa no
verso. Ex:

Partem o tempo entre si que era devido (g)112
Tornem a ouvir as nynfas, e os pastores (h)113
Não receio que a neguem á minha historia (i)114
Outro Libano fazem os frescos prados (k)115
Uns dardos do alto decem, outros subiam (l)116

Estas contracções erão mui vulgares nos antigos poetas (m)117.93

IV.

Pela separação formam-se duas figuras: dierese, pela qual
duas vogaes, que deveriam fazer dithongo, se tornam entre si
divididas em duas syllabas. E’ permittida aos poetas, que desatados
os dithongos fazem Tui de duas syllabas, mostrais de tres,
e primeira de quatro. Ex:

Da soberba Tui que a mesma sorte (a)118
Feros vos mostrais, e cavalleiros (b)119
Da primeira co terreno seio (c)120

Tmesi, não só divide a palavra, mas mette-lhe alguma letra
ou syllaba em meio por causa da euphonia. E’ frequente, quando
depois de algumas vozes nos verbos vẽ o relativo o, a, porque
se lhe mette em meio a letra n, dizendo-se: amaram-no,
fazerem-no, buscam-no, recebem-na
; e do mesmo modo em outras
vozes compostas do verbo auxiliar haver, quando este se
pospõe, e se lhe segue ou o mesmo relativo o, a, lhe, ou os
pronomes me, te, se, nos, vos, porque então se diz, por exemplo:
manda-lo-hei, tirar-lhe-ha, dar-me-hia, e nestes verbos
dir-te-hei, far-te-ha, em que ha juntamente a syncope pondo
dir, e far por contracção em lugar de dizer, e fazer.

V.

A commutação, ou troca faz-se pela figura antithese, que
substitue a consoante aspera com outra suave, e de mais facil
pronunciação, assim nos infinitivos dos verbos, seguindo-se-lhe o
relativo o, a immediatamente, troca o r em l por ser mais brando,
e diz: ama-lo, defende-lo, tira-la, senti-la, etc; e em todas
as formas dos verbos acabadas em s, quando se lhe ajunta o
mesmo relativo, igualmente muda para l como amaste-lo, defendemo-lo,
admittia-lo
, etc; e nas preposições per, por antepostas
ao articulo definido o, a, muda, como em seu lugar fica
dito, o r e, l, dizendo: pelo, pela, polo, polos, etc.

VI.

Da transpozição nasce ultimamente a figura metathese; consiste
na mudança da ordem das letras em uma palavra, como
por exemplo: corcodilo, por crocodilo, cravão por carvão.94

Livro III.
Syntaxe.

Syntaxe é a parte da Grammatica que ensina a conveniencia,
harmonia, ou bem ordenada contextura das partes da oração
entre si.

As partes da oração, em quanto á Syntaxe, devem considerar-se
de duas maneiras; umas primarias ou essenciaes, e outras
menos principaes ou accessorias (a)121.

As primarias ou essenciaes são o verbo ou acção, e o nome
ou sugeito da acção: e dizem-se assim porque só ellas subsistem
per si, e são o fundamento e principio da oração.

Em cada uma destas partes, isto é, tanto no verbo ou acção
como no nome, ou sugeito da acção dão-se as propriedades mui
distintas entre si, que se explicaram em seu lugar.

No verbo ou acção: modo, tempo, numero, e forma (b)122.

No nome ou sugeito da acção: genero, numero, e relação;
e esta dividida pelas modificações diversas de agente, pessoa,
restringente, recipiente, paciente
, e circumstancia (c)123.

As partes menos principaes ou accessorias são articulo, e
particula; e chamam-se menos principaes, ou accessorias, como
seus nomes indicam (d)124; porque a primeira ou articulo não é
mais do que o característico das propriedades do nome, ou sugeito
da acção; e a particula o caracteristico das circumstancias,
e não podem subsistir sem as primarias, e só com ellas tem lugar
na oração.

Divide-se a Syntaxe em simples, e irregular.95

Capitulo I.
Da syntaxe simples.

Syntaxe simples ou natural é a que se conforma em tudo,
ou segue sempre as regras communs da arte: é de concordancia,
ou de regencia.

Syntaxe irregular é a que parece afastar-se das regras prescriptas
para a boa compozição, quando assim o requer o uso,
ou a maior elegancia, e energia da oração.

Syntaxe de concordancia.

A Syntaxe de concordancia ou intransitiva ensina as regras
da mutua correspondencia, ou connexão, que as partes da oração
devem guardar entre si.

Esta só tẽ lugar nas partes primarias ou essenciaes; porque
as accessorias, como não admittem propriedades, não podem ser
susceptiveis de concordancia.

As regras de concordancia são tres: do verbo com o agente:
do nome substantivo com outro; do nome adjectivo com o substantivo.

I.
Do verbo com o agente.

Deve sempre o verbo, ou acção concordar com o nome que
designa o agente ou sugeito que exercita a sua significação, seja
verdadeiro ou virtual, esteja claro ou occulto em duas couzas,
isto é, nas duas ultimas propriedades communs a ambos, de numero
e forma correspondente á pessoa. Ex: Se vos eu digo verdade,
porque me não credes
(a)125?

O verbo digo concorda com o pronome eu, que é o seu
agente, e está como elle no mesmo numero e forma correspondente
à pessoa; e o verbo credes, cujo agente subentendido é
vós, está, por convir com elle, na segunda forma, e ambos são
do plural.96

II.
Do substantivo com outro.

Dous ou mais substantivos continuados, pertencentes á mesma
couza, tão dependentes um do outro, que não possam em
meio admittir conjunção, devem concordar na propriedade de
relação; isto é, sem attender ás outras propriedades, aindaque
sejam de diverso genero, e numero, basta que estejam só na
mesma relação um do outro, a quem se refere. Ex: O fogo, e
agua elementos tão proveitosos quanto dâno tem feito por meio
de máos homens
(a)126? Pyrrho sobre o sepulcro de Achilles em
Troia sacrificou a Polyxena delicias da formosura, e honestidade
Troiana
(b)127.

Em ambos os exemplos estão os substantivos só concordando
em relação. O nome fogo, agua, e elementos no primeiro exemplo,
aindaque diversos em genero, e numero, são o agente da
acção tem feito; e no segundo os dous Polyxena e delicias discordes
em numero convem tambem na relação de paciente da
acção sacrificou.

III.
Do adjectivo com o substantivo.

O adjectivo de qualquer qualidade que seja deve convir com
o substantivo a que pertence, em todas as tres propriedades de
genero, numero, e relação; assim diremos: Ferro frio, relva
verde, sol claro, calma ardente, area secca, pedra dura
(c)128.
Ex: A falsa prosperidade do mundo he hum dâno desejado,
hum desterro contente do descanso, hũ a peçonha saboroza, hũa
aspereza suave, hũa enfermidade deleitoza, hũ tormento voluntario,
hũa morte branda, finalmente he hum mal tido por bẽ
(d)129.
He a ambição falsa, desleal, cheia de envejas, vingativa, atreiçoada (e)130.

Esta terceira concordancia requer tres couzas que são o genero,
o numero, e a relação; e estabelecendo sempre fixo o
97substantivo, determina, que o adjectivo para convir com elle se
haja de variar pela terminação em correspondencia ao genero do
substantivo, e concordar com elle nas outras duas propriedades
do numero e relação, communs a ambos. Assim no primeiro
exemplo concordam igualmente entre si falsa com prosperidade,
desejado
com dâno, contente com desterro, saboroza com peçonha,
suave
com aspereza, deleitoza com enfermidade, voluntario
com tormento, e branda com morte; e no segundo os adjectivos
falsa, desleal, cheia, vingativa, atreiçoada em tudo
concordantes com o nome substantivo ambição.

Syntaxe de regencia.

A Syntaxe de regencia, ou transitiva, mostra a dependencia
que as partes da oração tem umas a respeityo das outras para
as determinar mais de uma maneira que de outra, ensinando a
usar dellas variamente segundo as differentes occasiões.

Sómente nas duas partes primarias verbo, e nome se pode
dar o reger, ou ser regido. As outras como não figuram per si
na oração, nem são mais do que demonstrativos dellas, não podem
ter efficacia para reger, e por não serem susceptiveis de
modificação não podem admittir em si o serem regidas.

Do que está dito se infere 1º que só o verbo parte essencial,
e a mais principal da oração tem virtude de reger: 2º que
só o nome polas varias modificações, que em algumas de suas
relações admitte, pode ser regido.

Diz-se em algumas de suas relações, porque nem todas são
regidas.

Relações que não são regidas.

I.
Relação do agente.

Em toda a oração, assimcomo não pode deixar de haver
acção manifestada pelo verbo, assim é necessario que haja o sugeito
que a promova, o qual se designa pelo nome, ou pronome
expresso, ou occulto, verdadeiro, ou virtual. Este ou seja
pessoa, ou couza, como exercita a significação do verbo, se
chama o agente. Esta relação determina-se no nome polo seu
proprio signal que é o articulo, ou o definido o, a, os, as conforme
a propriedade de genero, e numero, se for appellativo, ou
commum; ou sem elle, se for nome proprio, ou pronome; por
98serem estes, como se disse, demonstrativos de si mesmos. Ex:
Cezar venceu, Pompeio morreu, Rufo fugio.Catão se matou;
acabou a Dictadura; e perdeu-se a liberdade (a)131.

Esta primeira relação não é regida; porque para assim se
considerar era necessario que fosse modificada pelo verbo, e por
conseguinte dependente delle; mas já reprezentou com elle tanta
igualdade, que formaram ambos concordancia entre si.

II.
Relação de pessoa.

A pessoa ou couza, com quem se falla directamente, ou
por quem se chama, que é a segunda relação ou de pessoa, a
qual acompanha de ordinario com o verbo no modo imperativo,
deve ser designada pela interjeição ó clara, ou occulta. Ex:
Corre ó infante corre; soccorre ao teu amor (b)132. Sabei, Christãos,
sabei, Principes, sabei, Ministros, que se vos ha de pedir
estreita conta do que fizestes, mas muito mais estreita do que
deixastes de fazer
(c)133.

Tambem esta relação, que se diz particularmente de pessoa
(pois ainda a ser de couza inanimada, ou insensivel sempre se
toma personalizadamente) não é regida; porque não é sugeito da
acção, nem tem com ella dependencia, determinando-a, ou
sendo por ella determinada; é sugeito inteiramente estranho, que
não figura na oração, mas a quem toda ella se dirige.

Excluidas estas duas, ficam para poderem ser regidas as
relações que se seguem.

Relações regidas.

I.
Relação de restringente.

Quando a um nome substantivo appellativo se siga outro
substantivo, a que preceda como distinctivo o articulo indefinido
de (d)134 ou o definido do, da, dos, das, esse tẽ a relação de restringente,
99porque limita, e restringe a significação do primeiro,
o qual deve ser appellativo (a)135. Ex: As lagrimas dos meninos
são claros signaes da mizeria de nossa vida
(b)136. A aurora é o
rizo do ceo, a alegria dos campos, a respiração das flores, a
harmonia das aves, a vida e alento do mundo
(c)137. Assim no
primeiro exemplo os nomes meninos, mizeria, e vida; e no segundo
ceo, campos, flores, aves, e mundo são restringentes,
porque, vindo depois de outros nomes substantivos, são denotados
pelos articulos proprios da relação de restringente.

II.
Relação de recipiente.

Se a acção se estende mais, e alem daquelle, em quem recahe,
se pode attribuir a algum outro sugeito differente, ou seja
pessoa ou couza este é chamado o recipiente, e se manifesta na
oração pelo nome que levar antes de si o articulo indefinido a,
ou o definido ao, á, aos, ás, Ex: O Principe aos bons se ha
de mostrar brando, e suave, e aos máos carregado, e temerozo
(d)138
. Ninguem enveje ás estrellas sua perpetuidade, nem a Deos
a antiga possessão do Ceo, nẽ ao Sol nada se lhe encobrir
(e)139.

Os articulos que precedem aos nomes bons, e máos, no
primeiro exemplo; e no segundo aos nomes estrellas, Deos, e
sol declaram bem a relação do recipiente.

III.
Relação de paciente.

O sugeito, em quem se emprega acção, ou sobre quem
immediatamente recahe a significação do verbo activo no modo
finitivo ou infinitivo, é chamado o paciente (f)140, seja um só, ou
sejam muitos; e tẽ esta relação por distinctivo o articulo indefinido
a, ou o definido o, ao, os, aos masculinos, ou os femininos
a, as. Ex: Quebrantam as delicias, e vicios sensuaes o valor,
100abatem o esforço, escurecem a razão, negam o respeito á
honra, e nobreza
(a)141. A historia verdadeira apascenta os
doutos, adelgaça os grosseiros, encaminha os moços, ensina os mancebos,
recrea os velhos, anima aos baixos, sustenta aos bons,
castiga aos maus, resuscita aos mortos, e a todos dá fruto a sua
lição
(b)142.

Assim os sugeitos valor, esforço, razão, e respeito no primeiro
exemplo, e doutos, grosseiros, moços, mancebos, velhos,
baixos, bons, maus, mortos
, e fruto no segundo são os pacientes
dos verbos, que nelles empregam sua acção propria, e immediatamente
fazem recahir a força ou verdade de sua significação.

Algumas vezes não vem acompanhados do distinctivo. Ex:
Quem tem virtude, e conselho pode governar mundos inteiros (c)143.
Onde se vê virtude, conselho, e mundos sem caracteristico.

IV.
Relação de circumstancia.

Tudo que na oração não é acção, ou sugeito, é circumstancia.
Chamam-se circumstancias as differentes particularidades
da acção ou da pessoa, que concorre; ou de couza, como da
causa, materia, lugar, tempo, fim, instrumento, e modo, e são
significadas pelo nome que acompanha a mesma acção precedido
do seu proprio distinctivo, que é a preposição clara ou occulta.
Ex: Quanto mais de louvor he, quem de seu natural, e sem
nenhum mestre, nem preceitos de Filosofia pode alcançar per si
o que poucos sabedores, ajudados de tantos mestres em muito
tempo, e com grande trabalho se poderão alcançar
(d)144? Bem-aventurado
he aquelle que separado dos negocios, lavra cõ seus
bois a terra, que herdou de seu pai, sem cuidados de interesse
(e)145.
As circumstancias tanto no primeiro como no segundo exemplo
se denotam pelas preposições de, sem, per, em, com antepostas
a cadaum dos nomes, que as dão bem a conhecer.

Contribue muito para a boa composição o conhecer quaes
preposições mais convem, e como se deva usar cada uma dellas,
101mas a lição, e estudo dos classicos ensinam melhor do que as
regras.

Tambem se declaram as circumstancias pelos adverbios;
mas ha nisto differença, porque do primeiro modo para aperfeiçoar
o sentido deve preceder clara, ou subentendida a preposição,
como caracteristico da relação, e seguir-se o nome como complemento
della sempre claro; e os adverbios per si só bastam a formar
o sentido completo (a)146. Ex: Não merece menos quem bem,
e fielmente aconselha, que quem animosamente peleja
(b)147. Não
vive muito, sendo quem emprega bem a vida, nem viveo pouco
quem todo o tempo della aproveitou
(c)148.

Os adverbios nem sempre pertencem, ou dizem respeito á
acção, algumas vezes vão annexos ás qualidades do sugeito; isto
é, aos nomes adjectivos para lhes modificar tambem e determinar
sua significação. Ex: As couzas bem acertadas hão de ter
execução breve
(d)149. A mais dura couza, que tem a vida, he chegar
a pedir
(e)150.

Construcção dos verbos.

Como a construcção dos verbos é muito intrincada, e varía
pola diversa maneira com que se explica a acção, convem distingui-la
segundo os modos em que elle se divide, e é de tres maneiras:
acção absoluta, acção incidente, e acção subalterna.

Acção absoluta forma per si só sentido completo, e designando-se
pelo verbo no modo indicativo ou no imperativo, demostra
affirmação simples e sem dependencia de outra. Ex: Cada
um uza de seus costumes
(f)151. A cobiça é raiz de todolos males (g)152.

Acção incidente manifesta-se na oração pelo verbo no conjunctivo,
ou no indicativo condicional, não indica per si affirmação
simples, depende de outra antecedente, e não faz sem
ella sentido completo; per onde nunca o verbo pode estar no
conjunctivo, semque seja determinado depois de outro verbo no
indicativo claro, ou occulto por alguma das conjuncções condicionaes
se, sendo, aindaque, que, antesque, postoque, atéque,
102comoquerque, etc, os quaes comtudo não regem o conjunctivo,
mas declaram a dependencia, que elle tẽ, com a voz do indicativo
antecedente. Ex: Senão foramos gerados de Adão, não
nasceramos injustos
(a)153. Aindaque a lei seja rigoroza, he jugo
suave; aindaque tenha preceitos difficultozos, he carga leve
(b)154.

A acção subalterna é indefinida, e indeterminada, exprime-se
pelo verbo no modo infinitivo, e vai sempre incluida em alguma
antecedente ou seja absoluta, ou incidente; e daqui vem
que para ser levado o verbo ao infinitivo é necessario, que seja
precedido de outro do finitivo (c)155, o qual deve ser considerado
tambem como principal. Ex: A lei natural faz jubilar os velhos (d)156.
Os antigos levavam á India a fé, e iam buscar a honra
;
e os modernos levam á India a cobiça, e vão buscar a riqueza (e)157.

No primeiro exemplo a acção infinitiva jubilar é subalterna,
e está incluida na antecedente principal faz; e a acção buscar
no segundo exemplo repetida é precedida, a subordinada de
iam, e de vão sem as quaes não podia ser levada ao infinitivo.

A oração da voz activa pode resolver-se, ou mudar-se para
a voz passiva facilmente por este modo. O que era paciente na
activa vai para agente; o que era agente explica-se por circumstancia
com a preposição per, ou de; e o verbo muda-se para o
mesmo modo e tempo e tempo da voz passiva, e concordando em numero,
e forma com o novo agente; e tudo o mais, que estiver na
activa, fica da mesma sorte. ex: Amo a verdade a qual será
na passiva: A verdade é amada de mim (f)158.

Da doutrina destas poucas regras claro está: 1.ª que só ha
uma parte da oração com valor para reger ou determinar as outras,
que é o verbo, ou acção: 2.º que das seis relações do nome
ou sugeito da acção as duas primeiras agente, e pessoa não
são regidas: 3.º que das ultimas quatro o recipiente, e paciente
são regidas sem preceder a cadauma dellas mais do que o seu
caracteristico proprio, que é o articulo: e as outras restringente,
e circumstancia além do articulo levam antes de si, a primeira
sempre expresso o substantivo appellativo, cuja significação restringe;
a segunda a preposição, que pode estar clara ou occulta.103

Capitulo II.
Syntaxe irregular.

A Syntaxe irregular e figurada consiste propriamente no
uso das figuras.

Entende-se por figura a locução apartada do commum uso
de fallar, que parecendo não guardar a direita concordancia, ou
regencia polas regras communs da grammatica, está todavia authorizada
elegantemente pelo uso, e costume da linguagem sem
se oppor a ellas.

Dividem-se em tres classes, e são, ou por faltar palavra na
oração; ou por se accrescentar, ou por se transpor da ordem natural:
e daqui nascem tres figuras, que são: ellypse, pleonasmo,
e hyperbato.

I.
[ellypse]

Ellypse é figura mui frequente, e de que tanto nos servimos,
que não podemos fallar polidamente sem ella (a)159; e dá-se
quando se supprime na oração alguma palavra, ou certas palavras,
que para bom, e completo sentido se devem substituir pelas
regras da syntaxe simples, e todos commumente entendem
de uma mesma maneira sem perturbar a clareza. Ex: E se fizerdes
bem a quem volo faz, que graças por isso
(b)160? Antes
poucas letras com boa consciencia, que muitas sem temor de
Deos
(c)161. Se olhais para cima; uma escada que chega até o ceo;
se olhais para baixo; um precipicio que vai parar no inferno (d)162.

Em cada um destes exemplos se devem supprir as acções para
sua inteira construcção; no primeiro mereceis, no segundo haja,
e no terceiro vedes. Esta figura contribue muito para a brevidade,
que é uma das virtudes do discurso, tanto mais energico,
quanto mais concizo.

Ha tres especies de ellypse, ou para se entender melhor,
divide-se esta figura em outras tres figuras, e são: zeugma, syllepse,
e enallage.

A zeugma não suppre de fora o que falta na oração, mas
104toma o de alguma oração vizinha, conservando-lhe todas suas
propriedades. Ex: O mercador no trato; o lavrador no campo;
e o bom frade na religião se deleita (a)163. No Ceo creou Deos os
Anjos; no ar as aves; no mar os peixes; na terra as plantas,
os animaes, e ultimamente o homem
(b)164.

Nestas orações se entendem sem mudança, no primeiro
exemplo o verbo deleita, que está claro só na ultima: e no segundo
as palavras creou e Deos, que só vem na primeira.

Syllepse, segunda especie de ellypse toma tambem a palavra
que falta da oração vizinha, mas com mudança de algum
accidente. Ex: Tu, e Antonio, e os bons homens com as mulheres
devotas folgaes de ouvir as vidas dos Santos
(c)165.

Para se applicar o verbo folgaes a cadauma das orações,
deve mudar-se, para concordar com seus agentes (d)166.

Faz-se por tres modos esta mudança: de numero, de genero,
ou de ambos juntamente.

De numero, quando concebemos polo singular o plural;
devendo entender-se para concordancia em lugar do nome expresso
algum equivalente. Ex: Em tempo de contagião são peste fina
um genero de nascidas que chamam carbunculos
(e)167. Eisaqui
o estado em que estão toda esta infinidade de almas, cujo remedio,
e salvação fiou Deos de nosso zelo, e da nossa christandade
(f)168.

Em ambos estes exemplos os agentes do singular devem ser
substituidos por equivalentes para concordarem com os verbos no
plural (g)169.

De genero, quando por um genero comcebemos outro, entendendo
tambem o equivalente em lugar do nome expresso na
oração, como nestes exemplos:

Mas já o planeta, que no Ceo primeiro
Habita, cinco vezes apressada,
Agora meio rosto, agora inteiro,
Mostrára, em quanto o mar cortava a armada
(h)170.
105Estas figuras todas, que apparecem,
Bravos em vista, e feros nos aspeitos,
Mais bravos e mais feros se conhecem,
Pela fama
(a)171.

No primeiro para concordar com apressada em lugar de
planeta deve entender-se o equivalente Lua, concebido na mente
do poeta: e no segundo os dous adjectivos bravos, e feros
concordam com heroes que se deve substituir em lugar de figuras.

Dá-se juntamente syllepse de numero, e de genero nestes
exemplos:

Ditoza condição, ditoza gente
Que não são de ciumes offendidos
(b)172.

Ou me louve, ou reprenda; gente cega,
Nem os estimo, nem me vão movendo
(c)173.

Enallage, ultima especie de ellipse, põe umas partes da
oração por outras, ou troca uns pelos outros os seus accidentes.
Assim se toma o verbo em lugar do nome, e ordinariamente o
infinitivo pelo nome cognato (d)174. Ex: Amar, e saber a poucos
se concede
(e)175. O dar he titulo de senhor, e insignia de dominio,
e o receber he de servo
(f)176.

Que foi daquelle cantar,
Das gentes tão celebrado
(g)177.

Ou tambem alguma particula, como: O agora, e depois
dos bons he muito differente do agora, e depois dos máos, porque
aos bons o seu agora de tristeza temporal converte-se em depois
d’alegria para sempre; e pelo contrario aos máos o seu agora
de alegria transitoria converte-se em depois de pena sem fim
(h)178.

Os porques de Deos são só a elle manifestos (i)179.106

II.
[Pleonasmo]

Pleonasmo, ou accrescentamento dá-se, quando, para maior
affirmação do que queremos significar, empregamos alguma
palavra, ou palavras sobejas, e que poderiamos sem quebra
da intelligencia escuzar. E’ contraria á Ellypse. Ex: Quando
viu por seus olhos, e ouviu com seus ouvidos na primeira pouzada,
em que entrárão, um pobre estalajadeiro atrevidamente
pôr em pratica, e disputa misterios soberanos da fé
(a)180. Tantos
outros assombros da natureza, e prodigios inauditos, vistos com
os olhos, palpados com as mãos, e pizados com os pés
(b)181.

Quando das palavras accrescentadas provem mais efficacia,
e energia á oração, é muito excellente figura, como se vê deste
exemplo:

Vi claramente visto o lume vivo,
Que a maritima gente tẽ por santo
(c)182.

porem se não dão mais força, e são absolutamente redundantes,
torna-se vicioso o seu uso, assim mal se soffreria alguem dizer:
Olhou-me com os seus olhos, e fallou-me com a sua bocca (d)183.
Onde são de todo redundantes as palavras seus olhos, sua bocca,
porque ninguem pode olhar, e fallar senão por olhos, e bocca
propria.

III.
[hyperbato]

O hyperbato é a transposição ou ordem inversa das partes
da oração, e dá-se todas as vezes que alternativamente se commutam
ou trocam as palavras, e a collocação natural vai um pouco
fora do uso commum, o que contribue muito para dar ornato,
harmonia, e graça á oração. Ex:

Em versos divulgado numerosos (e)184.
A grita se levanta ao Ceo, da gente (f)185.

Nestes lugares a ordem natural era: Divulgado em versos
107numerosos. A grita da gente se levanta, etc; mas foi artificiosamente
mudada para ficar mais corrente, e harmonioza (a)186.

Quando esta transposição é mais sensivel de maneira que resulta
della, mas sem vicio, mistura nas palavras, chama-se synchesys,
que é uma das principaes especies do hyperbato. Ex.

Entre todos c’o dedo era notado
Lindos moços de Arzilla em galhardia
(b)187.

Por ver em que montanhas, se dos mares
Livrou, anda vagando, e em que lugares
(c)188.

No primeiro destes exemplos é a ordem natural das palavras:
Era notado c’o dedo em galhardia entre todos os lindos
moços de Arzilla
. E no segundo: Por ver, se livrou dos mares,
em que montanhas, e em que lugares anda vagando
.

No uso destas figuras a boa razão, e discurso ensinam que
ellas são as gallas, e enfeites da oração; mas assimcomo as gallas
do corpo são ora agradaveis, ora de grandissimo enfado segundo
a occasião, assim quando por ellas provem ao que dizemos
energia, primor, graça laconica, e gravidade, então devidamente
são consideradas figuras, e verdadeiros ornamentos da oração;
e ao contrario quando empregadas incompetentemente, e
com uso immoderado, em vez de produzirem bom effeito, trazem
á oração deformidade, e embaraço na intelligencia, que he
opposta á natura da linguagem, são vicios e devem-se evitar
com a maior cautella, porquanto da boa elocução a principal
virtude é a clareza.

Mas não basta só que a oração seja clara, é tambem necessario
para em tudo ficar perfeita que seja correcta, e vernacula,
poloque se devem acautelar dous grandes vicios, que são o solecismo,
e o barbarismo.

Incorre-se quanto ao primeiro commettendo desigualdade,
ou desconcerto das partes da oração, corrompendo, e perturbando
os termos e modos da linguagem na construcção sem respeito
ás regras da syntaxe.

Consiste o segundo na introducção de vozes peregrinas ainda
não adoptadas, contra a propriedade, e pureza da linguagem;
e commette-se na contextura per algum modo apartada do uso
108dos que fallam bem, e dos melhores escritores; e no errado accento
e pronunciação, que deve ter as condições da boa elocução;
no que se pecca muito mais do que se pensa.

São ambos vicios mui grosseiros, em que caem não só idiotas,
e do vulgo, mas muitos, que não tem da lingua o conhecimento
necessario.

Por ultimo deve evitar-se o Arcaïsmo, ou o uso immoderado
de vozes antigas, ou de syntaxe fora da pratica commum,
porque tambem nisto está grandissima imperfeição.

Fim109

1(a) Nota nº 1.

2(b) Nota nº 2.

3(a) Nota nº 3.

4(b) Nota nº 4.

5(*) Nota nº 5.

6(a) Nota nº 6.

7(b) Nota nº 7.

8(a) Nota nº 8.

9(b) Nota nº 9.

10(c) Nota nº 10.

11(d) Nota nº 11.

12(a) Nota nº 12.

13(a) Nota n.º 13.

14(a) Nota n.º 14.

15(b) Nota n.º 15.

16(c) Nota n.º 16.

17(d) Nota n.º 17.

18(e) Nota n.º 18.

19(a) Nota n.º 19.

20(a) Nota n.º 20.

21(a) Nota n.º 21.

22(b) Nota n.º 22.

23(a) Nota n.º 23.

24(b) Nota n.º 24.

25(c) Nota n.º 25.

26(a) Nota n.º 26.

27(a) Nota n.º 27.

28(b) Nota n.º 28.

29(a) Nota n.º 29.

30(a) Veja-se a nota n.º 30.

31(a) Veja-se a Nota n.º 31.

32(b) Veja-se a Nota n.º 32.

33(a) Veja-se a Nota n.º 33.

34(a) Veja-se a Nota n.º 34.

35(b) Veja-se a Nota n.º 35.

36(c) Veja-se a Nota n.º 36.

37(a) Veja-se a Nota n.º 37.

38(b) Veja-se a Nota n.º 38.

39(a) Veja-se a Nota n.º 39.

40(a) Veja-se a Nota n.º 40.

41(b) Veja-se a Nota n.º 41.

42(c) Veja-se a Nota n.º 42.

43(d) Veja-se a Nota n.º 43.

44(a) Veja-se a Nota n.º 44.

45(b) Veja-se a Nota n.º 45.

46(c) Veja-se a Nota n.º 46.

47(a) Veja-se a Nota n.º 47.

48(b) Veja-se a Nota n.º 48.

49(c) Veja-se a Nota n.º 49.

50(d) Veja-se a Nota n.º 50.

51(a) Veja-se a Nota n.º 51.

52(b) Veja-se a Nota n.º 52.

53(c) Veja-se a Nota n.º 53.

54(a) Veja-se a Nota n.º 54.

55(b) Veja-se a Nota n.º 55.

56(a) Veja-se a Nota n.º 56.

57(b) Veja-se a Nota n.º 57.

58(c) Veja-se a Nota n.º 58.

59(d) Veja-se a Nota n.º 59.

60(a) Veja-se a Nota n.º 60.

61(b) Veja-se a Nota n.º 61.

62(c) Veja-se a Nota n.º 62.

63(d) Veja-se a Nota n.º 63.

64(e) Veja-se a Nota n.º 64.

65(a) Veja-se a Nota n.º 65.

66(b) Veja-se a Nota n.º 66.

67(c) Veja-se a Nota n.º 67.

68(a) Veja-se a Nota n.º 68.

69(b) Veja-se a Nota n.º 69.

70(a) Veja-se a Nota n.º 1.

71(b) Veja-se a Nota n.º 2.

72(c) Veja-se a Nota n.º 3.

73(a) Veja-se a Nota n.º 4.

74(a) Ferreir. livr. II. cart. II.

75(b) Cam. Luziad. cant. III. est. 66.

76(c) Ibid. cant. II. Est. 73.

77(d) Ibid. cant. V. est. 41.

78(e) Ibid. cant. I. est. 77.

79(f) Menez. Malac. liv. XII. est. 50.

80(g) Cam. Luziad. cant. III. est. 74.

81(h) Ibid. cant. IV. est. 104.

82(i) Cort. Real Naufrag. cant. VI. fol. 64.

83(a) Ferreir. Castr. act. I.

84(b) Cam. Luziad. cant. VII. est. 62.

85(c) Menez. Malac. liv. VIII. est. 77.

86(d) Cam. Luziad. cant. II. est. 64.

87(e) Mauzinh. Affons. cant. X. est. 61.

88(f) Menez. Malac. liv. VIII. est. 43.

89(g) Sá de Mirand. Canç. a N. Senhora 4.

90(h) Caminh. epist. 20.

91(i) Veiga Laura liv. V. od. 3.

92(k) Veja-se a Nota n.º 5.

93(l) Fereir. liv. I. sonet. 50.

94(a) Castr. Uliss. cant. VIII. est. 26.

95(b) Barret. Eneid. liv. II. est. 66.

96(c) Menez. Malac. liv. IV. est. 10.

97(d) Mauzinh. vid. de D. Izabel pag. 52 y.

98(e) Veja-se a Nota n.º 6.

99(f) Ferreir. Castr. act. I. scen. I.

100(g) Bernard. Lim. cart. 13.

101(h) Andrad. Cerco de Diu cant. XI. est. 20.

102(i) Cruz, Encomio de S. Vicente cant. I. est. 18.

103(k) Galhegos, Templ. da Memor. liv. II. Est. 185.

104(l) Cam. Luziad. cant. IX. est. 74.

105(m) Lobo, Primav. praias do Tejo, Florest. VII.

106(a) Estaço, Rhytm. sonet. a fol. 3.

107(b) Mauzinh. Rhytm. soneto 7.

108(c) Cam. Luziad. cant. III. est. 8.

109(d) Ibid. cant. IX. est. 5.

110(e) Cam. Eleg. II. est. 5.

111(f) Cam. Canç. XVI. est. 4.

112(g) Sá de Mirand. Eglog. IV. num. 5.

113(h) Lobo, Pastor peregrin. liv. II. jornad. 8.

114(i) Veig. Laur. liv. VI. od. 10.

115(k) Mau. Thomaz, Insul. liv. IV. est. 21.

116(l) Castr. Ulyss. cant. VIII. est. 55.

117(m) Veja-se a Nota n.º 7.

118(a) Cam. Luzid. cant. III. est. 89.

119(b) Ibid. cant. III. est. 130.

120(c) Ibid. cant. IX. est. 21. Veja-se a Nota n.º 8.

121(a) Veja-se a Nota n.º 1.

122(b) Veja-se a Nota n.º 2.

123(c) Veja-se a Nota n.º 3.

124(d) Veja-se a Nota n.º 4.

125(a) Leão Orthog. p.77. Barret. Orthog. p. 220.

126(a) Ferr. de Vasconcel. Ulysip. act. V. sc. II.

127(b) Fernand. Alm. Instruid. tom. II. cap. I. docum. 15.
num. 30.

128(c) Lobo, Cort. dial. III.

129(d) Heit. Pint. II. dial. 1. cap. 12.

130(e) Lucena, liv. II. cap. 2.

131(a) Lobo, Cort. dialog. III.

132(b) Ferreira, Castro, act. III, choro.

133(c) Vieira, Sermões III. n.º 226.

134(d) Veja-se a Nota n.º 5.

135(a) Veja-se a Nota n.º 6.

136(b) Heit. Pint. I. dial. 2.º cap. 4.º

137(c) Vieira, Serm. I. col. 251.

138(d) Heit. Pint. I. dial. 3.º cap. 3.º

139(e) Arraes, dial. III. cap. 31.

140(f) Veja-se a Nota n.º 7.

141(a) Lucena, liv. II. cap. 2.º

142(b) Lobo, Cort. dial. I.

143(c) Correa, Cosnspiraç. XIX. 4. § 13.

144(d) Barros, Panegirico de D. João III.

145(e) Heit. Pint. I. dial. V. cap. 4.º

146(a) Veja-se a Nota n.º 8.

147(b) Barros, Decad. IV. liv. 8. cap. 7.

148(c) Paiva, Serm. tom. III, pag. 1252.

149(d) Moraes, Palmeir. part. II. cap. 101.

150(e) Vieir. Serm. II. p. 87.

151(f) Rezend. Paradox. de Cicer. Paradox. V.

152(g) Barr. Gram. pag. 98.

153(a) Heit. Pint. I. dial. 2º cap. 3.º

154(b) Vieir. Serm. XI. pag. 151.

155(c) Veja-se a Nota n.º 9.

156(d) Arraes Dialog. VIII. 8.

157(e) Vieir. Serm. VIII. pag. 273.

158(f) Barr. Grammatic. fol. 118.

159(a) Veja-se a Nota n.º 10.

160(b) Thom. de Jes. Trabalh. XXIV.

161(c) Arraes, Dial. V. cap. 16.

162(d) Vieir. Serm. I. col. 135.

163(a) Barr. Gram. pag. 166. Leão, Orthograf. pag. 76.

164(b) Vieir. Serm. I. col. 409.

165(c) Barr. Gram. pag. 157.

166(d) Veja-se a Nota n.º 11.

167(e) Sous. Hist. III. liv. 2.º cap. 17.

168(f) Vieir. Serm. IV. num. 463.

169(g) Veja-se a Nota n.º 12.

170(h) Cam. Luziad. cant. V. est. 24.

171(a) Cam. Luziad. cant. VIII. est. 2.

172(b) Ibid. cant. VII. est. 41.

173(c) Ferreir. liv. I. cart. 8 = Veja-se a Nota n.º 13.

174(d) Veja-se a Nota n.º 14.

175(e) Vasconcel. Eufrosin. act. I. scen. I.

176(f) Arraes, Dial. V. cap. 8.

177(g) Cam. II. part. das Rim. redondilh. 13.

178(h) Heit. Pint. part. I. dial. IV. cap. 3.º

179(i) Vieir. Serm. VI. núm. 356.

180(a) Sous. Hist. I. liv. I. cap. 2.º

181(b) Vieir. Serm. VIII. pag. 224.

182(c) Cam. Luziad. cant. V. est. 18.

183(d) Barr. Gram. pag. 168.

184(e) Cam. cant. I. est. 9.

185(f) Ibid. cant. II. Est. 91.

186(a) Veja-se a Nota n.º 15.

187(b) Quebed. Affons. Afr. cant. IX. est. 73.

188(c) Barret. Eneid. liv. I. est. 132.