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Fonseca, Pedro José da. Rudimentos da grammatica portugueza – T01

Rudimentos
da
Grammatica
Portugueza.

Parte I.

Capitulo I.
Da Grammatica em geral.

Grammatica he a arte de
fallar, e escrever correctamente.

Arte he huma collecção de regras,
que ensinão a fazer bem alguma
cousa. A Grammatica he arte, porque
dá preceitos para fallar, e escrever
huma lingoa correctamente, isto
he sem erros. Estes preceitos se formão
de observações feitas sobre o modo,
com que as pessoas bem educadas,
1e os bons Autores costumão fallar,
e escrever a lingoagem da sua
nação.

A Grammatica, de que havemos
de tratar, pertence em especial á lingoa
Portugueza, por ser privativa ao
dito idioma. Della reduzida a principios
claros, e breves, para facilitar
assim o modo de apprendela, se procura,
e deseja dar somente aos que de
novo entrão no seu estudo, a primeira,
fundamental, e indispensavel instrucção.
Por este motivo o presente
Opusculo se intitula Rudimentos da
Grammatica Portugueza
.

As palavras consideradas como sinaes
dos nossos pensamentos são a
materia da sobredita Grammatica. Divide-se
ella em duas Partes. A primeira
trata de cada huma das palavras soltas,
e desunidas humas das outras ; e
a segunda das palavras juntas, e ordenadas
de modo, que exprimão algum
conceito. Os Grammaticos chamão
Oração ás palavras assim juntas,
e a cada huma de per si Parte da
oração
.

As Partes da oração na nossa lingoa
2se reduzem a nove, que pela ordem
seguinte se denominão Nome,
Pronome, Articulo, Verbo, Participio,
Adverbio, Preposição, Conjunção,
Interjeição
.

Capitulo II.
Do Nome.

Nome he huma voz, ou dicção,
que se apropria a cada pessoa,
ou cousa para dar a conhecer, e differençar
de outra. Divide-se em Substantivo
e Adjectivo.

§. I.
Do substantivo.

Nome substantivo he o
que significa alguma substancia
corporea, ou espiritual, e que por si
só póde subsistir na oração sem dependencia
de alguma outra palavra,
que o qualifique.

Quando as qualidades dos individuos
se conhecem pelos sentidos, estes
taes individuos se chamão substancias
3corporeas
, assim como : homem,
arvore, casa
, &c., e a ellas por serem
verdadeiras substanticias, pertence
propriamente a denominação de substantivos.

Mas como ha outros individuos,
cujas qualidades por sua natureza não
podem fazer impressão sobre os nossos
orgãos, e só são conhecidos pelo
entendimento, tambem estes por extensão
se denominão substantivos, entendendo-se
como substancias espirituaes,
que simplesmente são, assim
como, sabedoria, virtude, consciencia,
&c. Além disto lhes compete o
nome de substantivos, porque subsistem
por si sós no discurso, sem que
necessitem unir-se a alguma outra palavra
para se entender o que significão.

O Substantivo he, ou commum,
ou proprio.

Substantivo commum, que tambem
se chama appellativo, he huma denominação,
que convém a muitas pessoas,
ou a muitas cousas.

Substantivo proprio he o que exprime
huma idéa singular, e convém
4unicamente a huma só pessoa, ou
cousa.

Reino he substantivo commum,
ou appellativo, por ser nome, que indistinctamente
pertence a todos os Reinos ;
porém Portugal he substantivo
proprio em razão de só convir ao Reino
assim chamado. Da mesma sorte
Homem, Mulher, Cidade, Rio, e
outros semelhantes nomes são substantivos
communs ; mas os nomes Tito,
Berenice, Lisboa, Téjo
, &c. são
substantivos proprios.

§. II.
Do Adjectivo.

Nome adjectivo he o que
se ajunta ao substantivo para denotar
a sua qualidade.

A palavra adjectivo vem do Latim
adjectus, accrescentado ; porque
realmente o Adjectivo se accrescenta
sempre ao Substantivo expresso, ou
subentendido. Exemplos : O homem
avaro da fazenda, he prodigo da honra. (1)15

Gente ambiciosa nem sonhar que
outrem val, póde soffrer
. (1)2

Porém ambos os Adjectivos, que
nos precedentes exemplos tem seus
substantivos expressos, se achão
com elles subentendidos nos seguintes versos :

Ajunta o precioso ouro que adoras,
Avaro cobiçoso, taes riquezas,
Que havidas temes, que perdidas choras.

Procura honras, estados, e altezas,
Ambicioso vão, farta esse peito,
Que em fim comtigo acabão essas grandezas.
(2)3

O Adjectivo emprega-se muitas vezes
em lugar do Substantivo, ou no
mesmo sentido deste ; com o qual uso
se chama adjectivo substantivado.
Exemplos : Com o alheio nunca se
fez cousa boa
. (3)4

O tempo o máo descobre, o bom apura. (4)5

Isto se fez tão frequente que
muitos destes adjectivos substantivados
passão já no commum uso por
substantivos, como : o frio, o sereno,
6o deserto, o povoado, e varios
outros.

Por conclusão qualquer palavra,
com que se qualifica o substantivo,
e que fixando-lhe o significado, lhe
extende, ou restringe o valor, e não
offerece ao espirito mais que hum mesmo
objecto, esta tal palavra he verdadeiro
adjectivo. Assim dizendo-se :
hum Philosopho Rei, o termo Rei neste
sentido toma a natureza de adjectivo ;
mas se se disser : hum Rei Philosopho,
a palavra Philosopho fica então
sendo o adjectivo.

Da mesma sorte dizendo-se que
hum Soberano he,, mais pai da Patria.

Que Brutos, ou que Augustos, ou Trajanos ;

ou denominando-o,

Rei homem, Rei, e pai, Senhor, e amigo (1)6

As palavras pai, e homem são
tambem aqui rigorosos adjectivos.

Quando tambem hum dos nossos
bons Poetas, applica a si a resposta,
que segundo o apologo a Formiga deo
á Cigarra, concluindo depois :7

Mas eu quizera só poder passar
Os baixos da pobreza em tempos taes,
Para d'homens formigas gracejar.
(1)7

He claro que o termo formigas
neste lugar he como os sobreditos hum
puro adjectivo.

De igual natureza são as palavras,
(e semelhantemente quaesquer outras)
que se notão nas duas seguintes frases :

Não ha homem tão pygmeo, ou
tão formiga, que não aspire a ser gigante
. (2)8

Se vós não venceis os vicios, em
quanto são pygmeos, como os vencereis
depois que forem gigantes ?
(3)9

Os Adjectivos tem commummente
duas terminações, huma em o para
o substantivo masculino, e outra em a
para o feminino, como : homem virtuoso,
mulher virtuosa.

Os que tem terminação em ez,
ol, or, u
, e um para o masculino tambem
a tem para o feminino em a, o
qual se lhes accrescenta, como : Portuguez,
Portugueza ; Hespanhol, Hespanhola,
8creador, creadora ; crú, crua ;
hum, huma, &c
. (*)10

Porém os que pelo primeiro modo
a formão em ão, pelo segundo a
mudão em ã, antigamente ãa, como :
homem Christão, Religião Christã.

Da mesma sorte o adjectivo Bom,
perdendo o m, se lhe accrescenta hum
a, e passa a ter suas syllabas, dizendo-se :
bom, boa. Ao contrario Máo,
perde o o, dizendo-se : máo, má.

A Commum dando-se-lhe duas terminações
no singular (posto que bons
Autores Portuguezes de ordinario lha
não dêm) se suprime o m da primeira,
entrando em seu lugar a syllaba a
para formação da segunda, dizendo-se :
commum, commua. (**)11

Ha tambem Adjectivos de huma
só terminação para ambos os generos.
A maior parte destes taes adjectivos
acabão em e, dizendo-se igualmente :
9grande cuidado, e grande afflicção.
Outros acabão em l, como : leal,
fiel, facil, azul
. Outros em r, como :
exemplar, melhor. Outros em z, como :
capaz, cortez, feliz, veloz, e
poucos em m, e o, como : affim, (1)12
ruim, só, e algum outro. (*)13

O adjectivo Grão, contrahido de
grande, serve tambem para qualquer
dos dous generos, como : grão Letrado,
grão fidelidade Portugueza
.

§. III.
Do Genero dos Nomes.

Genero he na sua origem a relação,
e correspondencia das palavras
com hum, ou outro sexo, e em
geral com tudo, que he macho, ou
femea.10

Genero vem do Latim generare,
gerar ; porque dizendo-se que huma
cousa he de hum genero, tanto val
como dizer-se que foi gerada em huma
certa classe.

O querer distinguir as pessoas, e
os animaes segundo a differença dos
dous sexos, foi o primeiro motivo da
distinção dos seus nomes em dois generos,
hum masculino, e outro feminino.

O Genero masculino convém aos
homens, e animaes machos ; e o feminino
ás mulheres, e animaes femeas.

Huma vez assim estabelicida esta
distinção dos dous generos, se extendeo
depois por imitação aos demais
nomes das cousas, que nenhuma relação
tinhão com qualquer dos dous
sexos.

Os generos dos nomes geralmente
se conhecem na nossa lingoa, ou pelos
Articulos, que lhes precedem, ou
pelos Adjectivos, que os mofificão.

O articulo o, e a primeira terminação
dos adjectivos, que tem duas,
dão a conhecer o genero masculino ;
11e o articulo a, e a segunda terminação
dos ditos adjectivos, o genero
feminino. Exemplos : Os corpos retratão-se
com o pincel, as almas com a
penna
. (1)14

Aquella santa, aquella igual justiça
No bom zelo só está, não em livros mudos,
Que zelos máos a tornão injustiça. (2)15

Por este modo com facilidade se
percebe o sentido, em que se tomão
os nomes, que se accommodão igualmente
a pessoas de hum, e outro sexo,
como : Infante, Martyr, hypocrita,
interprete, taful
, &c. Assim
mesmo se differença tambem o significado
dos que sendo propriamente de acções,
ou cousas, passão a designar homens,
como : atalaia, cabeça, guarda,
guarda-roupa, guia, lingoa, trombeta
,
&c.

Outro tanto succede a respeito dos
nomes dos animaes. Muitos delles são
communs a machos, e femeas ; mas
por meio dos articulos, ou das terminações
diversas dos adjectivos, que se
12lhes ajuntão, o uso os dividio em dous
generos, e fez huns masculinos, como :
elefante, corvo, javali, rouxinol,
&c., e outros femininos, como :
abada, codorniz, onça, perdiz, &c.
Estes nomes em Grego, e Latim se
chamão Epicenos, isto he promiscuos.

A differença dos seus generos na
nossa lingua, segue regularmente a fórma
das terminações. Igual differença
estabeleceo tambem o uso nos generos
dos nomes, que significão plantas, e
arvores ; donde vem ser azinheiro, e
pereiro do genero masculino, e azinheira,
e pereira do feminino.

O uso fixou tambem o genero dos
nomes, que tomárão outro differente
daquelle, que já tiverão. Alleluia, bagagem,
origem
, e alguns nomes mais,
forão antigamente do genero masculino,
e hoje só são do feminino.

Ao contrario cometa, eccho, fim,
planeta
, &c. sendo em outro tempo
do genero feminino, se fizerão do
masculino.

Por tanto ainda a querer dizer-se
ao presente com bons Autores, o ou
hum, a ou huma diadema, personagem,
13scisma, tribu
, &c. nem por
isso ha entre nós nomes do genero
ambiguo, ou incerto, isto he, que se
usão indistinctamente como masculinos,
e femininos : pois que as sobreditas
palavras ficão sendo neste caso
tão sómente daquelle genero, que lhes
determinão os articulos, ou adjectivos. (*)16

Tambem não temos genero neutro,
porque todos os nossos substantivos o
tem certo, e determinado. Pelo que
até mesmo as dicções isto, isso, aquillo,
tudo
, são, como qualquer outra
voz substantivada, do genero masculino.
Assim o mostra o articulo, se ellas
o admittem, ou a terminação do
adjectivo, com que se unem, ou concordão,
dizendo-se por exemplo : Isto
mesmo, isso mesmo, aquillo mesmo
he bom, ou máo
. O tudo deste
mundo, e do outro he a alma, e não
he o mundo
. (1)1714

§. IV.
Do Número dos Nomes.

Numero he a propriedade, que
as palavras tem para designar
huma, ou muitas cousas.

Os números dos nomes são dous,
singular, e plural.

O singular dá-se quando a palavra
significa huma só cousa, como :
A verdade he isenta, e secca, e a
poucos bem assombrada
. (1)18

O plural mostra que as palavras
significão muitas cousas, como : As
mercês feitas a indignos, não honrão
os homens, affrontão as honras
. (2)19

Todas as vozes, que se referem
a substantivos, que tem singular, e
plural, tem como elles igualmente ambos
os referidos números, os quaes
por isso se dão aos Adjectivos, aos
Articulos, aos Pronomes, e aos Participios.

A terminação dos nomes no singular
15he de varios modos ; mas no
plural he sempre em s, o qual basta
accrescentar ao singular dos vocabulos,
que se terminão em vogal, para lhes
formar o plural. Porém os que no singular
acabão em consoante por differentes
modos formão o plural.

Os nomes acabados em al, ol, e
ul
, tirada a consoante do singular,
tem o plural em es, como : animal,
animaes ; leal, leaes ; farol, faroes ;
taful, tafues ; azul, azues
. Exceptuão-se
mal, cal de moinho, e Consul,
que conservando o l, formão o plural
males, cáles, e Consules.

Pelo mesmo modo os que no singular
acabão em el, tem o plural em
is, como : broquel, broqueis ; fiel,
fiéis
. A palavra, mel, segundo Barros, (1)20
não tem plural : mas antigamente
lho davão, e dizião meles. (2)21

Os em il com accento agudo mudão
o l em s, como : fusil, fusís ;
subtil, subtís
. Porém os adjectivos em
il, sem o dito accento, trocão o il
16em eis, como : facil, faceis ; habil,
habeis
.

Os em m perdem-no para tomar
ns, como : ram, ou rã, rans, ou
rãs ; bem, bens ; fim, fins ; som,
sons ; atum, atuns ; commũ, communs
.
A palavra dom, dadiva, admitte o
plural dões, ou dons. (*)22 E posto que
alguns em lugar do m, e n, ponhão
til sobre a vogal, especialmente sobre
o a, e e, que dizem ser diphthongos
ãa, e ẽe, escrevendo no singular
maçã, pentẽ, e no plural maçãas,
pentẽes
, o til neste caso suppre as duas
referidas consoantes, mas não lhes destroe
a essencia.

Os nomes em es conservão esta
mesma terminação em ambos os números,
como : Alferes, caes, ourives,
lestes, prestes, simples
, a que
depois se deo o plural simplices. (**)23

Os nomes calis, e Deos tem o
plural calices, e Deoses.

Aos nomes, que no singular acabão
em r, e z, se accrescenta no plural
17es, como : mar, mares ; paz, pazes ;
mulher, mulheres ; mez, mezes ; martyr,
martyres ; paiz, paizes ;
flor, flores ; voz, vozes ; luz,
luzes
. O mesmo succede aos adjectivos,
que no singular tem terminação
em ar, or, az, ez, is, oz, uz.

O plural dos nomes em ão tem
tres differentes terminações, huma em
ães, como : cães, pães, capitães ; outra
em ãos, como : grãos, mãos,
Christãos
, e a terceira em ões, ou
oens, como : acções, sermões, opiniões,
ou acçoens, sermoens, opinioens.

Os nossos Orthografos sim nos
estabelecem sobre este particular algumas
regras, fundadas na derivação, e
analogia ; mas como as taes regras
por hum, e outro modo além de difficultosas
são pouco firmes, a sobredita
variedade se deve principalmente
practicar conformando-a com o uso.
Este que só permitte dizer se Alemães,
capellães, escrivães, tabelliães
, soffre
todavia sem que se conheça disparidade
alguma, dizer-se bençãos, ou
benções, cidadãos, ou cidadões, villãos,
ou villões.18

Os Nomes commummente recebem
hum, e outro número, singular, e plural.
Alguns porém ha, que não costumão
ter mais que hum destes números.

Todos os nomes, que significão
alguma cousa única não devêrão ter
plural. Taes são os dos planetas, os
dos quatro elementos, os proprios das
pessoas, e terras, e varios outros. (*)24

Porém a maior parte delles tem
plural todas as vezes, que se lhes dá
outro qualquer sentido, que não seja
o da sua primitiva significação. Apontaremos
alguns dos mais notaveis, que
ou sempre, ou de ordinario se usão
no singular.

I. Os nomes dos metaes tomados
em geral, como : o ouro, a prata, o
ferro, o aço, o cobre, o estanho, o
chumbo
, &c.

II. Os nomes das virtudes habituaes,
como : a fé, a caridade, a
continencia, a lealdade, a sinceridade
,
&c.

III. Os infinitos usados como substantivos
19quando se lhes não póde
ajuntar algum adjectivo, como : o andar,
o comer, o dormir
, &c. E da
mesma sorte os adjectivos substantivados,
como : o necessario, o superfluo,
o util
, &c.

IV. Os nomes de algumas artes,
sciencias, e profissões, como : Grammatica,
Metaphysica, Milicia
, &c.
Exceptua-se Mathematica, que tem
plural.

V. Alguns nomes collectivos, como :
Infantaria, Cavalleria, Gentilidade,
Christianismo, Paganismo
, &c.

VI. Ultimamente os nomes das
cousas, que tem medida, e pezo, como :
arrabe, azeite, cal, leite, mel,
mosto, sal, salitre, vinagre, vinho
,
&c. E os das sementes, os da maior
parte da especiaria ; ou de quaesquer
aromas, e cheiros, como : trigo, cevada,
centeio, milho, beijoim, canella,
cravo, pimenta ; açafrão, coentro,
hortellã, incenso
, &c. Além disto
Baptismo, a cólera, contrição,
estima, Eucharistia, Extrema-Unção,
a fama, fel, a fome, a gloria,
Predestinação, praxi, a purpura
20sangue, a sede, o silencio, o
somno, o universo
 ; e muitas outras
palavras, que a observação fará conhecer,
pelo commum não tem plural.

Ao contrario ha nomes, que ou
sempre, ou quasi sempre só tem plural,
como : alviçaras, andas, arredores,
arrhas, calças, cãs, ciroulas,
completas, confins, esgares, esponsaes,
exequias, fezes, gages, grelhas,
herpes, laudes, matinaes, preces,
refens, reliquias, semeas, trévas,
viveres
, &c.

O único meio mais seguro para
bem distinguir os sobreditos nomes,
he recorrer aos articulos.

Os nomes, que não admittem mais
que o articulo o, ou a não tem plural ;
e os que só admittem o articulo
os, ou as, não tem singular.

§. V.
Das varias differenças, ou especies
de nomes.

Os Nomes são, ou Primitivos,
ou Derivados.

Primitivos são os que na nossa
21lingoa não tem origem de outro algum
desta mesma lingoa ; e Derivados
são os que se formão dos Primitivos.
A palavra pedra, por exemplo,
he hum nome primitivo ; porém as
dicções pedreiro, pedreira, pedraria,
&c. são nomes derivados. (*)25

A estes segundos pertencem os
Gentilicos, ou Nacionaes, os Patronimicos,
os Aumentativos, e os Diminutivos.

Gentilicos, ou Nacionaes são os
que declarão de que gente, nação,
ou patria cada hum he, como de Portugal,
Portuguez ; do Alemtejo, Alemtejão ;
de Tras-os-Montes, Transmontano ;
de Bragança, Braganção, ou
Bragancaz ; de Lisboa, Lisbonense,
ou Lisbonez.

Patronimicos são os que antigamente
só designavão filiação, como :
bernardes, que valia filho, ou filha
de Bernardo ; Marques de Marco ;
Martins de Martim, contracção de
Martinho ; Peres de Pero, antigo, o
mesmo que Pedro ; Soares de Soeiro,
Vasques, ou Vaz de Vasco.22

Estes, e outros semelhantes, que
na sua origem forão adjectivos, e derivados
dos nomes proprios, primitivos
das pessoas, converteo o uso em
appellidos das familias, e assim se
empregão ao presente.

Aumentativos são os que com mudança
na terminação augmentão o sentido
aos seus primitivos, como : homenzarrão
derivado de homem ; mulherão,
de mulher ; mocetão, de moço ;
rapagão, de rapaz.

Estes taes nomes, ou denotão muita
corpulencia, e grandeza, ou desproporção,
e menos preço. Aos de
menos preço pertence o do seguinte
exemplo : Guarde-nos Deos de enterdermos
os erros, sem nos desviarmos
delles, e de sermos sabechões, e eloquentes
para escusar culpas, affeiçoar
enganos, e afeitar paixões
. (1)26

Mas nem sempre os aumentativos
são ditos em desprezo, e abatimento
da pessoa, ou cousa, a que os attribuimos ;
pois que ás vezes servem
tambem para louvar. Como tal servio
23já o nome Antão, aumentativo de Antonio,
segundo nota o P. Vieira, (1)27
dizendo : “Perto de cem annos havia,
que o primeiro Ermitão S. Paulo
vivia em huma cova, quando nella
o visitou o grande Antonio,
a quem nós para significar a sua
mesma grandeza, chamamos Antão.” (*)28

Os aumentativos terminão-se pela
maior parte em ão ; outros em az,
como : beberraz, belleguinaz, (2)29 ladravaz, (3)30
lingoaraz, truanaz (4)31
ve'baraz, (5)32 &c. alguns em aço,
como : mestraço, ricaço, soberbaço (6)33
&c., e poucos femininos em ona,
como : mocetona, molherona, &c.24

Diminutivos são aquelles nomes,
que com differente terminação dos seus
primitivos lhes diminuem o significado,
como : homemzinho, derivado de
homem ; mulherinha, ou mulherzinha,
de mulher ; filhinho, e filhinha,
de filho, e filha. Exemplo : Dos leõeszinhos
se formão os leões, dos Trigesinhos
os Tigres, e dos peccados pequenos
os grandes
. (1)34

Delles se usa para indicar diminuição
na quantidade, ou qualidade do
sugeito, de que se trata. Tambem servem
para exprimir o carinho, ou a
idéa do desprezo, que por seu meio
se quer excitar. (*)35

Os diminutivos tem varias terminações,
de sorte que segundo diz João
de Barros, (2)36 muitos delles se formão,
e acabão mais por vontade do
povo, que por alguma regra de boa
Grammatica.

Mas assim mesmo a terminação
mais ordinaria para o masculino dos
substantivos, e adjectivos, he em inho,
25e para o feminino em inha. Alguns
pelo dito modo a tem em ete, e eta,
como : doudete, escudete, mocete,
pannete, pequenete, pistolete, pobrete
,
&c., ou tambem : ilheta, moceta,
villeta
, &c.

Os adjectivos a tem ás vezes em
ino, como : pequenino, tamanino,
&c. : os substantivos masculinos em
ote, ou oto, como : baçorote, camarote,
perdigoto
, &c., e os femininos
em agem, ilha, e ota, como : villagem,
camilha, galeota
, &c.

Outras differenças, ou especies de
nomes ha, que se distinguem por diversas
denominações.

Collectivos se chamão aquelles nomes,
que no singular offerecem ao espirito
muitas pessoas, ou cousas da
mesma especie, unidas humas com outras.
Assim o nome povo significa muitos
homens, bosque muitas arvores,
e cidade muitas casas.

Estes nomes, e outros semelhantes,
como : arvoredo, concelho, congresso,
espingradaria, exercito, gente,
junta, manada, marinhagem, ossada,
povoação, ramalhete, rebanho,
26tribunal
, &c. porque comprehendem
hum todo, se dizem collectivos geraes.
Os outros, que só abrangem alguma
parte de hum todo, se dizem
collectivos partitivos. Taes são : infinidade,
multidão, quantidade, a maior
parte
, &c.

Verbaes são os nomes, que nascem,
ou se derivão dos verbos, como :
de andar, andada, andadeiro,
andador, andadura, andança, andante,
andareijo, andarengo, andarilho,
andejo
, &c.

Compostos são os nomes, que se
compõe de duas palavras Portuguezas,
inteiras, ou com alguma mudança.

Estas taes palavras podem ser, ou
dous substantivos, como : arquibanco,
ferropêa, mestre-sala, norte-sul, pontapé,
redefole, varapáo, usufructo
, &c. :
ou dous adjectivos, como : sacrosanto,
todopoderoso, vangloriosa, verd'escuro,
verdenegro
, &c. :

ou substantivo, e adjectivo, como :
boquirrota, cantochão, lugar-tenente,
malfeitor, manirroto, Missa #######,
pontagudo
, &c. :

Ou adjectivo, e substantivo, como :
27altibaixo, centopêa, gentilhomem,
machafemea, meiodia, menoridade,
salvoconducto
, &c.

ou nome, e verbo, como : prolfaça, &c.
ou verbo, e nome, como : baixamar,
beijamão, botafogo, catasol, cresta-colméas,
esfo'agato, fincapé, guarda-porta,
passatempo, pintalegrete,
pintarroxo, sacabuxa, sacapeouro,
talhamar, torcicolo, tornasol, tornaviagem,
valhacouto
, &c.

ou verbo, e adverbio, como : passavante,
puxavante
, &c.

ou preposição, e nome, como : antemanhã,
contramestre, contratempo,
entrecosto, parabem, parapeito, semrazão,
sobresalto, traspé
, &c.

ou dous verbos, como : corrimaça,
ganhaperde, mordefuge, vaivem
, &c. :
ou dous adverbios, como : senão,
subst. masc.
Finalmente alguns nomes ha compostos
de tres dicções, como : capa em colo, (1)37
embora, fidalgo, malmequer,
todiaje
vulgar, (2)38 ventapopa, (3)39
&c.28

Como os adjectivos exprimem as
qualidades das cousas, com mais, ou
menos extensão, pois se póde dizer
por exemplo, tratando-se de hum livro :
He bom, he melhor que outro,
he
optimo, ou o melhor de todos os
livros
, e fallando-se dos homens em
geral : Os avós forão máos, os filhos
são peores, os netos serão pessimos
. (1)40

Estes tres differentes modos de
exprimir as ditas qualidades chamão-se
gráos de significação, ou de comparação,
e formão tres especies de
adjectivos, que vem a ser Positivo,
Comparativo, e Superlativo.

Positivo he o que exprime simplesmente
a qualidade sem nenhuma
comparação, como : Hum grande merecimento
sobre huma grande ingratidão,
fica muito mais subido
. (2)41

Ainda que o Positivo não he propriamente
gráo de significação, ou de
comparação, com tudo conta-se pelo
primeiro destes gráos em razão de ser
29como fundamento, e origem dos outros
dous.

Comparativo he o que além da
qualidade exprime comparação, como :
Maior preço tem largar fazenda, e
ser pobre por Christo, que dar muita
fazenda aos pobres de Christo
. (1)42

Não ha cauza mais affrontosa, nem
que maior horror faça a quem tem
honra, que o mentir
. (2)43

Alguns comparativos ha na nossa
lingoa, que se exprimem por huma só
palavra, como são os adjectivos :
maior, menor, melhor, peor, superior,
inferior, anterior, exterior,
posterior
. Os demais adjectivos são
precedidos dos adverbios mais, menos,
tão
, ou tanto, quando formão
comparativos, os quaes por este modo
se reduzem a tres especies, vem a
ser :

Comparativo de superioridade, a
que se antepõe mais, como : Quem
na severidade do castigo não dá falhas
á fraqueza humana, dá licença que
30o tenhão por mais insolente que justo
. (1)44

Comparativo de inferioridade, precedido
de menos, como : Se do Rei
he propria a justiça, com que castiga
delictos, não lhe he menos propria
a clemencia, com que perdoa
. (2)45

Os adjectivos maior, melhor, menor,
peor
, que tomamos do Latim já
formados comparativos, conservão em
Portuguez a mesma propriedade, e por
si sós sem os adverbios mais, e menos,
os dous primeiros são comparativos
de superioridade, e os outros dous
de inferioridade. Exemplos : Não ha
maior perigo que falta de luz em
quem guia ; e boa tenção, em quem
erra
. (3)46

O que se ganha por seu dono, he
melhor que o que fica dos antigos
. (4)47

Sempre são menores os males, que
se dispensão pela mão de Deos, que
31os que se executão pelas mãos dos
homens
. (1)48

Peores são que os corvos os que
tirão os olhos aos homens pela paga
do que lhe devem, e se sustenyão, e
crescem com as usuras do alheio
. (2)49

Comparativo de igualdade com o
adverbio tão antes de si, como : A
fazenda, a vida, as victorias, e todas
as felicidades do Mundo, são
tão falsas, e vãas como o mesmo Mundo,
com o qual todas acabão
. (3)50

Inimiga não ha tão dura, e fera
Como a virtude falsa da sincera. (4)51

Dos exemplos precedentes se vê
que toda a comparação tem dous termos.
Hum delles he a cousa, que se
compara, e o outro he a cousa que
serve de comparação. Estes dous termos
se ajuntão nas duas primeiras especies
de comparativos pela conjunção
que, e na terceira pela conjunção como.

Superlativo he o que exprime a
32qualidade no seu gráo supremo. Divide-se
em absoluto, e relativo.

Superlativo absoluto he o que exprime
alguma qualidade no seu supremo
gráo ; mas sem relação a nenhuma
outra cousa.

O adverbio mui, ou muito, ou
qualquer outro que lhe equival, dá
tambem a mesma propriedade ao adjectivo,
a que se antepõe. Exemplos :
A esmóla he huma grangearia certissima
para bens temporaes, e eternos
. (1)52

Sendo muito poucos no mundo os
homens, que podem luzir ; aquelles
diante dos quaes se possa luzir, ainda
são muito menos
. (2)53

Superlativo relativo he o que exprime
a qualidade no seu gráo supremo,
porém com relação a alguma outra
cousa, á qual precedem expressas,
ou subentendidas as preposições de,
ou entre.

Para este fim se põe o articulo o,
ou a antes de maior, menor, melhor,
33peor, mais, menos
. Exemplos : O
maior premio das acções heroicas, he
fazelas
. (1)54.

A maior de todas as luzes celestes
he o Sol, e a menor de todas he a
Lua
. (2)55

A melhor, e a peor cousa, que
ha no mundo, he o conselho. Se he bom
he o maior bem, se ha máo, he o
peor mal
. (3)56

Entre todas as cousas do mundo, que
se podem ver com os olhos, e entender
c'o entendimento o maior milagre, e a
mais rara maravilha he o homem
. (4)57

O bom espirito, que pretende fama
Ser louvado do povo não deseja,
Que sempre ao menos sabio mais afama. (5)58

Os superlativos rigorosamente
Portuguezes, formão-se de hum positivo,
tambem Portuguez, accrescentando-lhe
issimo a ultima consoante,
como : cruelissimo de cruel, santissimo
de santo.34

Os adjectivos terminados em m,
e ão, mudão estas terminações em n
para formarem pelo sobredito modo os
seus superlativos, como : bom, bonissimo ;
commum, communissimo
 ; e de
hum formou o P. Vieira, (1)59 unissimo.
Da mesma sorte chão forma chanissimo ;
são, sanissimo
 ; e vão, vanissimo.
O adjectivo máo muda o o
em l, e assim forma o superlativo
malissimo.

Os que hoje se terminão em z, e
antigamente acabavão em ce, sem perderem
a sua primeira formação regular,
trocão agora o z em c, como :
tenaz, tenacissimo ; feliz, felicissimo ;
atroz, atrocissimo
.

Quaesquer outros superlativos, que
não são assim formados, passarão da
lingoa Latina para a nossa sem mais
alteração que a troca de us em o na
terminação masculina do seu primeiro
caso, ou nominativo. Taes são além
de muitos outros : antiquissimo, asperrimo,
dulsissimo, humillimo, miserabilissimo,
nobilissimo, terribilissimo
,
&c.35

Porém se estes mesmos se formarem,
como já se tem feito : antiguissimo, (1)60
asperissimo, (2)61 docissimo, (3)62
humildissimo, (4)63 miseravelissimo, (5)64
nobrissimo, (6)65 terrivelissimo, (7)66
&c. ficarão sendo puramente
Portuguezes. Os superlativos maximo,
optimo, pessimo, summo, supremo

nos vierão do Latim pelo modo
sobredito. (*)67

Numeraes são os nomes, que exprimem
a quantidade, e ordem das cousas.

Estes nomes são, ou adjectivos,
ou substantivos. Os adjectivos distinguem-se
em absolutos, ou cardeaes,
36e em ordinaes. Dos substantivos huns
são collectivos, e outros partitivos.

Numeraes absolutos, ou cardeaes
chamão-se aquelles, que servem absoluta,
e simplesmente para designar cada
hum dos números de per si, como :
hum, ou huma, dous, ou duas,
tres, quatro, cinco, seis, sete, oito,
nove, dez, onze, doze, treze,
quatorze, quinze, dezeseis, dezesete,
dezoito, dezenove, vinte, trinta,
quarenta, cincoenta, secenta, setenta,
oitenta, noventa, cem, mil
.

Mil cousas para a vida nos sobejão,
E cem mil faltão para a vaidade ;
Pergunta aos que mais tem, se mais desejão.
(1)68

Chamão-se cardeaes da palavra latina
cardo, inis, que significa couceira
da porta
, porque são como entrada,
e origem das outras especies dos
nomes de número.

Ordinaes são os nomes de números,
com que se designa a ordem, e
collocação das cousas com dependencia
de huma a outras, como : primeiro,
segundo, terceiro, quarto,
37quinto, sexto, septimo, oitavo, nono,
decimo, undecimo, duodecimo,
decimo-tercio, ou terceiro, decimo-quarto
,
&c. Tambem alguns destes
nomes ordinaes tem ás vezes terminação
em eno, como : noveno, dezeno,
onzeno, dozeno, quatorzeno, centeno
.

Numeraes collectivos são os que
exprimem huma quantidade determinada
de cousas, como reduzidas a huma
só. Taes são os nomes : duzia, centena,
milhar, milheiro, milhão
, &c.
Desta mesma qualidade são os termos :
centenares de legoas ; decada de annos,
de livros, ou de Ave-Marias ; millenario
de annos ; novena, ou trezena
de algum Santo ; quarentena da embarcação ;
quinteladas de pimenta ;
trintario de Missas, &c. ; e na Poesia :
terceto, quarteto, quintilha,
sextina, oitava, decima
, &c.

Cuidais que sois hum homem único ;
e não só sois hum de duzias, senão
de milhares, ou de milheiros : ha
sete mil como vós, e póde ser que
melhores
. (1)6938

Distributivos são os que exprimem
as partes de hum todo, como :
ametade, o terço, huma terça, o
quarto, huma quarta, o quinto, huma
sesma, o oitavo, a decima, o dizimo,
a vintena
, &c.

Tambem ha nomes numeraes, que
se chamão proporcionaes, ou aumentativos,
como : dobro, tresdobro, centuplo,
&c. substantivos, e dobrado,
tresdobrado, quadropeado, anoveado
,
&c. adjectivos. outros se dizem de
repetição. A esta classe pertencem os
cardeaes, e ordinaes, quando se lhes
ajunta a palavra vez, como : huma
vez, duas vezes
, &c. ou a primeira
vez, a segunda vez
, &c.

Huma, e outra vez affirmo, e digo
Que na vida do campo corre a vida,
E a alma tambem menos perigo.
(1)7039

Capitulo III.
Do Pronome.

Pronome he huma palavra, que
se põe em lugar do nome. Exemplo :

Aquelle Deos eterno, que criou
Este mundo, com quanto ne'le vemos,
Aquelle o regeo sempre, e conservou.
(1)71

Os pronomes que do primeiro verso,
e aquelle do ultimo estão aqui
por Deos ; e da mesma sorte os pronome
elle do segundo verso, e o do
derradeiro se põe em lugar de mundo.

Ha seis especies de Pronomes, que
vem a ser : Pronomes pessoaes, possessivos,
demonstrativos, relativos,
absolutos, indefinitos
.

§. I.
Dos Pronomes pessoaes.

Pronomes pessoaes são os que designão
as pessoas, ou se põe em
lugar das mesmas pessoas.40

A primeira exprime-se no singular
em ambos os generos por eu, que
com variedade na terminação, tambem
se diz mim, me, comigo ; e no
plural por nós, ou com nosco, ou por
nós outros no masculino, e nós outras
no feminino.

A segunda pessoa exprime-se pelas
vozes tu, te, ti, comtigo, que
servem no singular para ambos os generos ;
e no plural pelas dicções vós,
com vosco
, ou vós outros para o masculino,
e vós outras para o feminino.

Vós, posto que por sua natureza
seja do numero plural, toma a significação
do singular sempre que se falla
a huma só pessoa. Neste sentido
disse Camões (1)72 : Vós, poderoso Rei ;
e fallando em particular a cada hum,
se lhe póde tambem dizer : Guardai-vos
de vós, se vós quereis guardado
. (2)73
Os superiores tratando com inferiores,
e ainda mesmo iguaes com
iguaes, frequentemente costumão servir-se
desta expressão.

Nós apenas se ajunta a nome do
41singular, quando hum Prelado falla
da sua propria pessoa com os seus
Diocesanos. Tambem os Escritores algumas
vezes se designão a si mesmos
por hum semelhante modo.

A terceira pessoa, pela qual se entende
não só homem, e mulher, mas
qualquer cousa, de que se falla, exprime-se
no singular masculino por elle,
e o, e no plural do mesmo genero
por elles, e os. Ella, e a servem
para o singular feminino, ellas, e as
para o plural. Lhe convem ao singular,
e lhes ao plural de hum, e outro
genero. Se, si, comsigo accommodão-se
aos dous generos em ambos
os números. (*)74 Exemplos : Dizia
Tertulliano : Que se prejudica Deos
na honra por se assinalar na paciencia;
pois ha gente tão ignorante, que
por verem que os soffre o Criador á
elles, e negão a elle
. (1)75

O premio das acções honradas,
ellas o tem em si, e o levão logo comsigo
. (2)7642

Quem com os seus feitos não he
claro, pouco lhe aproveita honrar-se
dos alheios
. (1)77

Os animos desejosos de fazer
bem, mais os lisonjea, quem lhes pede,
que quem os louva
. (2)78

Os pronomes o, a, os, as, quando
se ajuntão aos outros, me, te,
lhe, lhes
, contrahem-se em huma só
syllaba, perdendo estes ultimos a sua
terminação, e tomando a dos primeiros.
Exemplos : Isso he disse-mo, antes
que to diga
. (3)79 Locução proverbial.

A dor, a que o conselho não der
fim, dar-lho-ha o tempo
. (4)80

Pouco faz, ou baixamente avalia
suas acções, quem cuida que lhas podem
pagar os homens
. (5)81

Quando porém são precedidos pelos
pronomes nós, e vós, mudão
estes o s em l, parecendo formar assim
huma só dicção. Exemplos : Compadeçamo-nos
43da fraqueza do juizo,
porque não sendo escolha nossa, o recebemos
como nolo derão
. (1)82

A graça dos Reis póde vola tirar
a calumnia ; a graça de Deos só vola
póde tirar a culpa
. (2)83

Igualmente se troca o r em l dos
infinitos dos verbos, que se antepõe
aos sobreditos pronomes o, a, os,
as
, como : Os homens podem reprehender
o mundo ; mas emendalo só
Deos he poderoso
. (3)84

Sabem os virtuosos que o dar fazenda
aos pobres de Christo, e principalmente
áquelles, que o bem servem,
he o mesmo que pola em banco
seguro, e dala a ganho certo, e
sabido
. (4)85

Quem dos conselhos, que pede,
não tira mais fructo que ouvilos, he
sinal que quer antes ser lisonjeado,
que aconselhado
. (5)86

Estes taes pronomes distinguem-se
44dos articulos, que tem a mesma forma,
porque sendo articulos se põe
sempre antes de nomes, como : o dia,
a noite, os homens, as mulheres, o
bom, o máo ; porém sendo pronomes,
se põe sempre antes, ou depois
de verbos, como : Fallou do Scipião
Africano com Masinissa lhe dizia
 :
vence teu coração ; não o afees. (1)87

Fazenda acquirida com desserviço
de Deos, e contra seus Mandamentos !
Deos nos livre. O servilo he o
verdadeiro caminho de a acquirir, e
de a conservar
. (2)88

Dos referidos pronomes o, a, os,
as
, se usa todas as vezes que acção
dos verbos termina nelles, segundo
mostrão além dos exemplos já acima
postos, estes seguintes :

O ouro a terra o cria, a terra o tem,
Se alguma cousa val, he só por ser
Hum instrumento bom para usar bem. (3)89

A injuria do inimigo, que se rende,
45he menos gloria, vingala, que
perdoala
. (1)90

Soffrer vicios nos amigos, sem
lhos viver, he fazelos proprios
. (2)91

Quando se pospõe ás terceiras
pessoas nos tempos dos verbos, que
tem terminação em m, ou em ão, para
evitar hiato, se lhes mette no permeio
hum n, como : O ser bom, o
fazer bem, #### Deos de si ; o
ser justo, ou a fazer justiça, vem
lhe de nós
. (3)92

A hum apercebido tornão-no os
golpes da tortura, armado de paciencia
. (4)93

O mesmo passa com o adverbio
não. Exemplos : Obra de prudentes he
poder fazer mal, e não no fazer
. (5)94

Almas, que sonhando andais,
O muito não no troqueis
Por nada, como o trocais.
(6)9546

As pessoas do futuro no indicativo
dos verbos se interrompem ás vezes,
mudando o r do meio em l, pela
interposição dos sobreditos pronomes,
como : dilo-hei, falo-has, telo-ha,
&c. que tanto valem, como : direi-o,
farás-o, terá-o
, &c.

O mesmo succede a respeito dos
outros pronomes pessoaes, me, te, se,
nós, vós, lhe, lhes
, se bem que nestes
se não faz a dita mudança do r
em l, como se vê neste exemplo :

Diz S. Paulo, homens errados,
Se os odios entre vós crescem,
Comer-vos heis aos bocados.
(1)96

Me, te, lhe, nós, vós, lhes,
quando a acção dos verbos, a que se
ajuntão, nelles se não termina, servem
para denotar que se nos dá, ou
dirige alguma cousa, ou que se nos
segue algum damno, ou proveito, o
assim se diz : por me fazer mercê,
por te dar gosto, disse-lhe a verdade,
rendeo nos as graças, fica-nos
obrigado, contou-lhes cousas espantosas.47

Tambem servem para mostrar que
a acção dos verbos activos, se termina
nas mesmas pessoas, que regem
estes verbos, como : eu me acovardo,
tu te affliges, elle se louva, &c.

Além disto significão os effeitos,
que as causas externas produzem nos
sugeitos por elles indicados, como
quando se diz : admiro-me, compadeces-te,
enternece-se, &c. Estes verbos,
posto que activos, não significão
que as pessoas são as que causão
a si proprias os referidos sentimentos ;
mas sim que ellas os recebem de outras
cousas.

Demais se ajuntão aos verbos neutros,
quando estes se usão como reciprocos,
por exemplo : eu me parto,
tu te vás, elle se adormece, &c. e
aos mesmos reciprocos, como : abraço-me
com elle, tu te arrependes, elle
se agasalha, ou se hospeda com alguem,
ou em algum lugar, &c.

Ultimamente a palavra se denota
a voz passiva dos verbos. Exemplos :
A omissão he o peccado, que com mais
facilidade
se commette, e com mais
difficuldade
se conhece : e o que facilmente
48se commette, e difficultosamente
se conhece, raramente se emenda. (1)97

Guardem-se as leis tão severa, e
inviolavelmente, que se desenganem
todos que se não hão de dispensar,
que com o Não, que ellas dizem se
livrarão os Principes de o dizer
. (2)98

§. II.
Dos Pronomes demonstrativos.

Pronomes demonstrativos são aquelles,
que indicão, ou mostrão
a pessoa, ou cousa, de que se trata
no discurso.

Este, esse, aquelle são os tres
pronomes, que ha desta qualidade, e
todos elles em ambos os números tomão
a terminação a no feminino.

Isto, isso, aquillo, que delles
procedem, não tem plural, nem significão
cousas, ou acções determinadas,
e tanto valem como : esta cousa, essa
cousa, aquella cousa
.49

Quando porém qualquer das tres
primeiras palavras, acima declaradas,
modifica algum substantivo, e se põe
antes delle, porém não em seu lugar,
mais propriamente se deve denominar
adjectivo demonstrativo que verdadeiro
pronome, como quando se diz :

Não he aquella nobreza, nem se chama,
Que s'ennobrece só de prata, e d'ouro,
E nelle põe seu estado, gloria, e fama.
(1)99

Estes taes adjectivos chamão-se
demonstrativos, porque tem a propriedade
de mostrar, e quasi offerecer aos
olhos os objectos, que determinão.
Na Lusiada (2)100 quando o Condestavel
diz :

Eu só com meus vassallos, e com esta
(E dizendo isto arranca meia espada)
Defenderei da força dura, e infesta
A terra nunca d'outrem sojugada.

O adjectivo demonstrativo esta
produz aqui por hum modo bem sensivel
o referido effeito.

Este, esse, aquelle differem entre
50si, quanto ao sentido, em que se tomão,
segundo a distancia dos objectos,
que indicão, ou segundo a ordem,
com que estes objectos forão antes
enunciados.

Quando as referidas palavras concorrem
todas tres no discurso, os objectos,
que ellas mostrão, conformão-se
então á maior, ou menor proximidade,
com que primeiro forão expostos,
ou se achão collocados e respeito
do lugar, e tempo. assim (pelo que
pertence ao lugar) este exprime o objecto
immediato á pessoa, que falla :
esse designa o objecto visinho á pessoa,
a que se falla ; e aquelle, o que
está hum pouco apartado de alguma
das taes pessoas.

Este, e Aquelle todas as vezes,
que servem para differençar entre si
dous objectos ; este indica sempre o
objecto máis chegado em tempo, ou
em lugar ; e aquelle, o mais distante
pelo dito modo.

Como de huma, e outra cousa os
exemplos são frequentissimos, baste
só quanto ao tempo o dos seguintes
versos :51

Eu vejo aqui, e alli hum grão thesouro,
Eu vejo armas antigas cá deixadas
Deste, e daquelle, que matou Rei Mouro.

Mas que aproveita áquelle, de que olhadas
Sómente são, mostralas por vangloria,
Pois que por elle as vemos deshonradas ?
(1)101

Quanto ao lugar ; em huma estancia
da Lusiada, (2)102 distingue os
retratos de dous clarissimos Infantes
nossos, quem mostrando-os na pintura,
os tinha já dado a conhecer pelos
seus nomes proprios, dizendo :

Olha cá dous Infantes Pedro, e Henrique,
Progenie generosa de Joane ;
Aquelle faz que fama illustre fique
Delle em Germania, com que a morte engane :
Este, que elle nos mares o publique
Por seu descobridor, e desengane
De Ceita a Maura tumida vaidade,
Primeiro entrando as portas da Cidade.

Este, esse, aquelle, unindo-se ao
adjectivo outro, formão composição
em ambos os generos, e perdem no
singular a ultima letra, e no plural as
duas ultimas, desta maneira : estoutro,
essoutro, aquelloutro
, masc. sing. estoutra,
52essoutra, aquelloutra, fem.
sing. estoutros, essoutros, aque'loutros,
masc. plur. estoutras, essoutras,
aquelloutras
, fem. plur.

Se algum dos sobreditos vocabulos
se emprega como pronome em huma
significação vaga de pessoas, ou
de cousas, o entendimento suppre então
a idéa subentendida homem, cousa,
ou outra semelhante. Mas para
que esta tal significação bem se entenda,
he necessario que se explique, e
determine pelas palavras subsequentes,
sem as quaes os referidos pronomes
não podem subsistir no discurso. Exemplo :

Este que vês olhar com gesto irado
Para o rompido Alumno, mal soffrido
Dizendo lhe, que o exercito espalhado
Recolha, e torne ao campo defendido :
Egas Moniz se chama o forte velho
Para leaes vassallos claro espelho.
(1)10353

§. III.
Dos Pronomes possessivos.

Pronomes possessivos são os que
denotão a possessão, e propriedade
de alguma cousa, como : meu,
teu, seu, nosso, vosso
.

Alguns Grammaticos lhes dão o
nome de adjectivos possessivos, em razão
de terem a forma, e significação
de adjectivos : outros o de adjectivos
pronominaes possessivos, por serem
adjectivos, que determinão o significado
dos pronomes pessoaes.

Como quer que seja, estes nomes
chamão-se possessivos, porque designão
possessão, e propriedade. Dizendo-se
pois meu livro, tua livraria,
as palavras meu, e tua, que determinão
livro, e livraria, indicão
a relação de propriedade de livro a
mim, e de livraria a ti, e tanto valem
como dizer-se : O livro, que me
pertence, e de que sou possuidor
 :
a livraria, que te pertence, de que tu
és possuidor
.

O primeiro ladrão, que houve no
54mundo, foi o primeiro homem… Condemnou
Deos este primeiro ladrão a
que comesse o seu pão com o suor do
seu rosto. Mas os ladrões, que vierão
depois, souberão, e pudérão tanto,
que trocárão a sentença : e em lugar
de comerem o seu pão com o suor
do seu rosto, comem o pão não seu
com o suor do rosto alheio
. (1)104

Meu, teu, seu, formão o feminino,
minha, tua, sua ; e em ambos
os generos se lhes accrescenta no plural
hum s. Nosso, e vosso guardão as
terminações dos adjectivos acabados em
o. Estes dous vocabulos, posto que
meramente convém a muitas pessoas,
todavia o uso permitte que se accommodem
a huma só, da mesma sorte
que os seus primitivos nós, e vós.

Todos elles se tomão no singular
substantivadamente, dizendo-se : o meu,
o teu, o seu
, &c. assim como :

Olhai que o ferro se deo
Para cousas proveitosas,
Depois este meu, e teu
Fez delle as armas damnosas.
(2)10555

A mais injusta cousa desta vida
he tirar o seu a seu dono
. (1)106

Sempre ouvi dizer que melhor era
o meu, que o nosso
. (2)107

Finjo-me brando, e amigo,
Tiro de vós o que posso,
Cubiço por meu o vosso,
Sinto huma cousa, outra digo.
(3)108

§. IV.
Dos Pronomes relativos.

Pronomes relativos são aquelles,
que dizem relação a hum nome,
que precede, o qual se chama antecedente.
Exemplo :

Aquelles são sós homens, que se afamão
Com letras, com saber, com que alumião
O mundo, e tudo o mais fortuna chamão.
(4)109

O primeiro que he hum pronome
relativo, porque diz relação ao outro
pronome pessoal, aquelles, que
56he o seu antecedente, subentendendo-se-lhe
homens ; e o segundo que pelo
mesmo modo exprime os nomes letras,
e saber, que lhe precedem.

Que, qual, quem, cujo, não os
pronomes relativos, que ha na nossa
lingoa. Delles só o ultimo tem terminação
feminina em a. Os outros tres
sem a mudarem, se referem aos nomes
de hum, e outro genero. Que,
e quem não tem plural ; porém este
se designa no relativo que pelos articulos
os, ou as. Qual, e cujo, ambos
tem plural.

Quem não só diz relação aos nomes
do singular, como se vê ordinariamente ;
mas tambem aos do plural,
segundo mostrão os dous seguintes
exemplos :

Tornão da terra os Mouros c'o recado
Do Rei, para que entrassem, e comsigo
Os dous, que o Capitão tinha mandado,
A quem se o Rei mostrou sincero amigo.
(1)110

Bemaventurados aquelles, a quem
estão perdoadas suas maldades
. (2)11157

Cujo, cuja, ainda que se costuma
concordar com a cousa, de que se falla,
e não com a pessoa, a que se refere,
nem por isso deixa de ser relativo
da dita pessoa ; pois sempre quer
dizer tanto, como se expressamente,
havendo-se nomeado a pessoa, se dissesse :
de quem, ou da qual he a cousa,
que precede, ou se pospõe ao relativo,
que, com ella está concordado.
Exemplo :

E tu nobre Lisboa, que no mundo
Facilmente das outras és Princeza,
Que edificada foste do facundo,
Por cujo engano foi Dardania acceza.
(1)112

Facundo, que por excellencia significa
Ulysses, fundador de Lisboa,
he a pessoa, a que se refere cujo,
concordado com engano, e quer dizer :
Ulysses por engano de quem, ou
do qual Troia foi abrazada.

No mesmo sentido se vê ainda
mais claramente no lugar seguinte :
Que póde faltar a quem tem por seu
hum Deos, cujo he tudo quanto ha
no Ceo, e na terra ?
(2)11358

E assim mesmo deve entender-se
quando a cousa com que elle concorda,
se lhe antepõe ; como : Quiz.. ver
a sepultura destes corpos por reverencia
de cujos erão
 : (1)114 isto he das
pessoas
de quem os corpos erão.

Sete enganos fingio Rebecca para
tirar a casa, a cuja era
. (2)115

Entende-se Esaú, de quem era a
casa, ou a que, ou ao qual pertencia.

§. V.
Dos Pronomes absolutos.

Pronomes absolutos são os que não
dizem relação a algum nome precedente.

Assim os pronomes que, qual,
quem, cujo, os quaes
são relativos,
quando tem antecedente, faltando-lhes
elle se chamão absolutos. Destes pronomes
nos servimos commummente
nas frases de interrogação, e naquellas,
que denotão dúvida, incerteza, &c.
Exemplos :59

Que lhe aproveitará a qualquer
homem, e que lhe aproveitou a Alexandre
ser senhor do mundo, se perder
a sua alma ?
(1)116

Qual será aquelle povo tão perdido,
Que a si não seja mais affeiçoado,
Que a outro estranho, e pouco conhecido !
(2)117

Não se engana quem deseja ser
honrado, mas engana-se quem busca
honra entre gente sem honra
. (3)118

E todos esses bens, que ajuntaste,
e chamas teus, cujos serão ?
(4)119

Tambem estes pronomes, quando
são absolutos, se distinguem dos relativos
pela differença da significação.

Que he pronome relativo, se corresponde,
como fica dito, ao substantivo
antecedente, e a repetir-se depois,
quer dizer qual com o artigo, que
lhe compete. Exemplo : Os homens
prudentes sempre costumárão conformar-se
com os tempos, em que
60vivêrão
. (1)120 Isto he com os tempos em os
quaes tempos vivêrão.

Que he pronome absoluto, quando
se toma em hum sentido vago, e
indeterminado. No qual sentido unicamente
se lhe póde subentender cousa.
Exemplos : O que se dá pedido, e rogado,
já custa tanto, como comprado
. (2)121

Tudo seus avessos tem,
O que não experimentares.
Não cuides que o sabes bem.
(3)122

O que quer dizer a cousa que.

Qual, posto eu de ordinario se
refere a hum substantivo expresso, e
com elle concorda ; mas não se reputa porém
adjectivo, mas sim pronome absoluto,
se denota hum objecto indeterminado,
ou designa confusamente a
natureza, e qualidades de alguma cousa.
Neste sentido diz Camões (4)123 descrevendo
o combate dos doze de Inglaterra :61

Qual do cavallo vós, que não dece,
Qual c'o cavallo em terra dando, geme,
Qual vermelhas as armas faz de brancas,
Qual c'os penachos do elmo açouta as ancas.

Quem he igualmente pronome absoluto,
sempre que se lhe póde substituir
que pessoa, ou a pessoa que.
Exemplos : Pouco estima a vida presente
quem trata da eterna : e quem
para morrer nasceo, só huma boa, e
gloriosa morte he bem que deseje
. (1)124
Nesta frase quem val o mesmo que
a pessoa que.

Sabeis vós quem crê a Deos (diz
o Espirito Santo) quem faz o que
Deos lhe manda
. (2)125 Aqui o primeiro
quem quer dizer que pessoa, e o segundo
a pessoa que.

Quem, ainda que se entenda de
muitas pessoas, sempre o adjectivo,
que lhe diz relação, se põe no masculino,
e no singular. Exemplo : Não
falta quem por quatro dias de riso,
compre ignominia, que nenhum tempo
apaga
. (3)12662

Mas se o verbo, que elle rege,
está no plural, a este número vai tambem
a voz subsequente, que delle depende.
Exemplos : Quem são os ricos
neste mundo ? Os que tem muito ?
Não ; porque quem tem muito, deseja
mais, e quem deseja mais, falta-lhe
o que deseja, e essa falta o faz
pobre
. (1)127

Quereis provar quem são os homens,
tentais com ouro, e com prata
. (2)128

Cujo, cuja, he como os precedentes
pronome absoluto, se em seu lugar
se póde pôr de quem, tomado em
hum sentido geral, e indeterminado.
Exemplos : Perguntou mais o Senhor,
cuja era aquella imagem, e cujo o nome
escrito nas letras
. (3)12963

§. VI.
Dos Pronomes indefinitos.

Pronomes indefinitos são os que
exprimem hum objecto vago, e
indeterminado.

Os que especialmente pertencem a
esta classe, por não puderem entrar
em nenhuma das sobreditas, são : alguem,
ninguem, algum, nenhum,
qualquer, quemquer, cada hum, cada
qual, muitos, todos, outrem, hum,
outro, tal, tudo, nada
.

Qualquer destas palavras he pronome,
quando se põe em lugar de nome,
e não se ajunta a hum substantivo
expresso, nem se refere a pessoa,
ou cousa determinada. Dizendo-se por
exemplo : Se alguem te perguntar :
Ninguem corre atraz de ti, sim se
falla de huma pessoa, mas não se designa
qual ella seja.

O mesmo he se a respeito de muitas
pessoas, se disser : Huns cahem,
outros fogem, alguns se determinão em o esperar
. (1)13064

Para maior clareza, e confirmação
do que fica dito, se applica huma,
ou outra autoridade dos nossos bons
Escritores, a cada hum dos sobreditos
vocabulos, nos seguintes exemplos :

Alguem.

Não guarda o tempo respeito
A alguem, que com gosto viva ;
O que he mais livre cativa,
E faz livre o mais sujeito.
(1)131

Ninguem. Ninguem ha tão recto
juiz de si mesmo, que os diga
o que he, ou seja o que diz
. (2)132

Ao Conde de Borba D. Vasco
Coutinho, que humas vezes fallava
muito alto, e outras muito baixo, disse
ElRei D. João II. estando em hum
conselho : “Conde, os vossos baixos
são tão baixos, que vos não ouve
ninguem, e os altos tão altos, que
se não ouve ninguem comvosco.” (3)133

Algum. Huma das principaes
obras do bom varão, he quando
algum
65tem mais necessidade, tanto mais o
ajudar
. (1)134

Alguns vão maldizendo, e blasfemando
Do primeiro, que guerra fez no mundo.
(2)135 (*)136

Nenhum. Todos querem mais
do que pódem
, nenhum se contenta
com o necessario, todos aspirão ao
superfluo, e isto he o que se chama
luxo
. (3)137

Qualquer. A lei não tem obrigação
de ser sempre a mesma ; mas o
obediente tem sempre obrigação de obedecer
á lei
, qualquer que ella seja. (4)138

Quemquer. Nunca perde, nem
he possivel que perca a propria alma,
quem de verdade procura a humildade
interior ; pois o mesmo Christo
perguntado pelos discipulos prometteo
a
quemquer que nella se aventajasse
não qualquer lugar, mas o
melhor de seu Reino
. (5)13966

Cada hum. Não se ha de crer d
e ligeiro, e a ninguem menos que

cada hum a si mesmo. (1)140

Cada hum traz em si mesmo seu perigo,
Herdado desta natural fraqueza,
Que tanto faz hum homem de si amigo. (2)141

Cada qual. Para sua emenda
deve ter
cada qual de nós, ou hum
grande amigo, ou hum grande inimigo
.
Este nos descobre as falhas, e
aquelle não as approva
. (3)142

Cada qual com seus vicios abraçado,
Põr-lhe outro nome, e nelles envelhece. (4)143

Muitos. Muitos ha que não
contentes com pôr o seu nome, ainda
nos livros, que escrevem do desprezo
da fama, como nota Cicero ; querendo
não só ser lidos, mas vistos, põe na
primeira Estampa o seu Retrato
. (5)14467

Amor faz os bons Reis, não medo ; amor
Estados dá, e conserva : o que he temido
De muitos, muitos teme.
(1)145

Todos.

A morte faz guerra
A rico, e a pobre,
Todos somos terra,
Todos terra cobre.
(2)146

Quem quer que o temão por injustos modos,
Quando todos o temem, teme todos.
(3)147

Outrem. Os homens, que tirão
a si seus devidos louvores, parece
pretenderem que
outrem os ponha
sobre elles em dobro
. (4)148

Quando a graça dos Reis se funda
na graça de Deos, nem ella póde
cahir, nem
outrem a póde derrubar. (5)149

Hum outro. Fallando de Lisboa se disse :68

Mora hum lá fóra além do gráo Vicente,
Outro cá na Esperança ; e hei de ver ambos,
Foge inda o dia ao muito diligente.
(1)150

Ha huns a quem o zelo come, e
ha
outros, que comem do zelo. (2)151

Tal. Quando suppre pessoa, usa-se
em ambos os números, e tanto póde
dizer-se : Tal semêa, que muitas
vezes não colhe ; como : Taes semeão
que
, &c.

A lei natural faz jubilar os velhos,
e a mesma natureza nos obriga,
que como a
taes lhe ministremos
o necessario
. (3)152

Quando porém representa cousa
sómente se emprega no singular, dizendo-se
por exemplo : Tal não ha,
não faças tal
, &c.

He máo jogo este das lingoas,
Ou tal fiz, ou tal não fiz,
A cada canto hum juiz,
Vem-se em tanto á praça as mingoas.
(4)153

Tudo. Tudo quebranta a brandura,
69tudo sojuga a humilde, tudo
acaba o soffrimento
. (1)154

Tudo apparece, tudo logo soa ;
Ficou esta vingança aos innocentes,
Que o mesmo mal a seu autor pregoa.
(2)155

Nada. A consciencia, que de
nada se culpa, de
nada se teme. (3)156

Sejão os Principes liberaes no que
não custa
nada, e serão os vassallos
agradecidos no que talvez dá muito
. (4)157

Capitulo IV.
Do Articulo.

Articulo, ou artigo he huma
parte da oração, que se antepõe
aos nomes para mostrar de que
genero são.

O antepõe-se ao masculino do singular,
e a ao feminino. A mesma differença
70seguem no plural os, e as.
Exemplos :

He mais seguido
O exemplo do Principe, que a dura
Força de lei, ou premio promettido.
(1)158

Os Ministros hão de ser como as
leis. As leis hão de ser poucas, e bem
guardadas ; e
os Ministros poucos,
e escolhidos
. (2)159

“Vem este nome Artigo, de articulus,
dicção Latina, derivada de
Arthon grega, que quer dizer juntura
de nervos, a que nós propriamente
chamamos artelho. E bem
como da liança, e ligadura dos nervos
se sustem o corpo, assi do
ajuntamento do artigo aos casos do
nome se compõe a oração.” (3)160

O articulo antepõe-se aos nomes
communs, quando por elle se quer significar
huma total especie de cousas,
huma, ou muitas cousas determinadas.
Exemplos : A honra dos Principes só
71em suas acções, e não no louvor dos
lisonjeiros consiste
. (1)161

O cego interesse
Desfaz amizades ;
Nas prosperidades
A soberba crece.
(2)162

Os testamentos dos ricos mostrão
os thesouros, que acquirírão ; os dos
justos as virtudes, que exercitárão
. (3)163

A significação do nome não se restringe
a pessoa, ou cousa determinada
pela força, ou natureza do articulo,
o qual nada significa por si mesmo ;
porém sim por huma restricção
tacita, ou expressa, com que o nome
commum se faz particular, e individuo
de alguma especie.

Restricção tacita he a que procede
das circunstancias do lugar onde se
falla ; como se em Portugal, e seus Senhorios
se disser o Rei, ou com o
antigo articulo Castelhano elRei, logo
72se percebe, que se trata do nosso Augustissimo
Soberano.

Restricção expressa, ou se faz por
hum adjectivo, como :

Então será o Rei grande, se for justo,
Ou defendendo bem o bem ganhado,
Ou despojando o occupador injusto.
(1)164

Ou por hum pronome seguido de
hum verbo, como :

Da Patria pai será o Rei chamado,
Que a justiça começa dos que a tratão,
Antes de ser do povo provocado.
(2)165

O articulo sómente se põe antes
dos substantivos sommuns. Debaixo
desta denominação devem comprehender-se
os nomes proprios, os adjectivos,
os pronomes absolutos, os adverbios,
as preposições, e os verbos
quando se tomão substantivados, e como
nomes communs em sentido determinado.

Para melhor intelligencia disto mesmo
se applicão a cada huma das precedentes
73vozes sobre si os seguintes
exemplos :

Nomes proprios : Quando o nome
de João de Barros se substitue, dizendo-se
o Livio Portuguez, ou Camões
se nomeia o Homero Lusitano, e Coimbra,
a Athenas de Portugal, ou Athenas
se acha denominada a Coimbra da
Grecia
, (1)166 estes nomes proprios, com
que os outros se supprem, admittem
articulos, por isso que passão a ser
communs todas as vezes, que se lhes
dá hum semelhante sentido.

Pela mesma causa tem articulos todos
os nomes proprios da seguinte
clausula : Nos Brasis, nas Angolas,
nas Goas, nas Malacas, nos Macaus,
onde o Rei se conhece só por fama,
e se obedece só por nome, ahi são necessarios
os criados de maior fé, e
os talentos de maiores virtudes
. (2)167

Adjectivos : Sabemos ser mais gloriosa
cousa para insignias de honra
o acquirido, que o herdado
. (3)168

Quem pede o illicito, e o injusto,
74merece que lhe neguem o licito, e o
justo
. (1)169

Té do bem o sobejo sempre he mal. (2)170

Pronomes absolutos : Que he o único
destes pronomes com uso de articulo.
Quando exprime pessoa, o admitte
em ambos os generos, e números.
Quando porém significa a cousa
que sómente recebe o masculino do
singular.

Os que são tocados d'algum vicio,
qualquer autoridade, que lhe parece
fazer por elles, bem entendida, mal
entendida, logo sahe á praça, em
desculpa de seu defeito
. (3)171

Nunca o que de sua natureza he
bem, póde perder, ou danar-se por
muito, nem o que he máo, melhorar por
pouco
. (4)172

Adverbios : Não he o tempo, senão
a razão, a que dá o credito, e
autoridade aos Escritores : nem se deve
75perguntar
o quando, senão o como
escrevêrão. (1)173

Neste mundo d'escarneo tudo he graça,
Não sabemos o quando, o como, e quanto. (2)174

Preposições : O deserto he o donde
e o por onde se sobe ao Ceo. (3)175

Porque Jacob amava a Rachel,
por isso servia a Lubam, e o amor
não está
no por isso, está no porque. (4)176

Verbos : Faz mal a muita gente
o prestar para muito. (5)177

A natureza fez o comer para o
viver, e a gula fez o comer muito
para
o viver pouco. (6)178

O articulo pertence sempre ao
substantivo commum, e só com elle
se deve ajuntar, posto que vá antes
de algum adjectivo, que se acha immediato
ao mesmo articulo. Exemplos :
76O bom conselho antes tarde, que nunca
se ha de tomar
. (1)179

O verdadeiro desterro he estar o
homem alongado de Deos
, e a verdadeira
patria he estar conjuncto, e unido
a elle com pureza de animo, e viveza
de fé
. (2)180

Mas os nomes communs não admittem
articulos, I. quando se usão
em sentido geral, e indefinito, assim
dizendo-se :

Onde ha homens, ha cobiça, (3)181
os nomes communs homens, e cobiça
não tem articulo, porque se tomão
em sentido indefinito.

Pela mesma razão quando se diz :
No juizo Universal tomará Deos conta,
mas dará
tempo : no Juizo particular
toma conta, e não dá
tempo ;
porque primeiro toma o tempo, e depois
a conta. (4)182 As palavras tempo,
e conta só na ultima parte desta frase
levão articulos, por ser aqui onde particularmente
77se determina qual seja o
tempo, e a conta, de que se trata.

II. Quando são precedidos de algum
adjectivo, que lhes determina a
significação, e de algum pronome demonstrativo,
ou possessivo, como : meu,
teu, seu, nosso, vosso, este, esse,
aquelle, hum, algum, nenhum, cada,
qualquer, certo, tal, muitos, &c
.
Exemplos :

Hum asno carregado de dinheiro
Trépa por onde quer, acaba tudo,
E não acaba pouco o lisonjeiro.
(1)183

Es doente, teu pai não,
Digo outro tal da virtude,
Pola ventura es tu são,
Porque teu pai tem saude ?
(2)184

III. Todas as vezes, que se lhes
dirige a oração. Exemplos :

Teme teus erros, mocidade cega. (3)185

Sabei, Christãos, sabei, Principes,
sabei Ministros, que se vos ha de
pedir estreita conta do que fizestes,
78mas muito mais estreita do que
deixastes de fazer
. (1)186

A preposição a quando precede
ao articulo a, ou as contrahe-se a huma
só syllaba, que se pronuncia com
a aberto, e se assinala com accento
agudo. O mesmo se faz com o pronome
aquelle. Exemplos :

Vai-te, Alma, em paz á gloria sempiterna,
Vai : que quem por a lei sacra, e Divina,
A solta, aquelle a dá, que o Ceo governa.
(2)187

O interesse não tem respeito nem
ás Leis, nem ao primor, nem á verdade,
e primeiro, que tudo o perde ao
mesmo Deos
. (3)188

Segue o favor humano áquelles,
em cuja casa vê a fortuna benigna
. (4)189

A preposição de se reduz a huma
só dicção sempre que se lhe segue algum
dos dous articulos em hum, e outro
numero, dizendo-se do, da, dos,
das
. Exemplos : A principal parte da
reformação
do mundo pende dos pais,
79e
das mãis : dai-me a criação dos filhos
reformada, dar-vos-hei o mundo
santo
. (1)190

A preposição em da mesma sorte
por causa de suavidade, e doçura
na pronunciação se troca, ou transforma
em no, na, nos, nas. Exemplos :

Não ha no mundo vicio sem castigo. (2)191
A fama na virtude está segura. (3)192
Nos bens desta vida não está o perder,
Que assi como assi cá hão de ficar,
Pois hei de morrer.
(4)193

Nas obras virtuosas qualquer tardança
faz damno, e a presteza he
necessaria
. (5)194

A preposição por, ou a antiga
per, a qual o uso moderno lhe preferio,
quando se ajunta com articulo,
unida a qualquer dos sobreditos muda
o r final em l, e assim se diz pelo,
ou pela, &c. Exemplos : O galadrão,
onde a justiça he verdadeira, não se
80mede
polos fruitos da seara, senão
polo cuidado, e diligencia, que em
semear poz o Lavrador
. (1)195

A prudencia he filha do tempo, e
da razão : da razão pelo discurso,
do tempo pela experiencia
. (2)196

Nota. Ha certos nomes de regiões,
provincias, ilhas, montes, rios,
cidades, villas, &c. aos quaes nomes,
posto que proprios se ajunta sempre
articulo. Taes são : o Brasil, a America ;
o Alemtejo, a Extremadura ; o
Funchal, a Madeira ; o Caucaso, os
Pyreneos ; o Tejo, o Douro ; o Porto,
a Guarda ; o Mogadouro, a Gollegã,
&c.

Alguns dizem que a razão disto
he porque se suppre pela figura ellipsis,
entre o articulo, e o nome proprio
algum nome commum, ao qual
pertence o articulo ; como : o (reino)
Congo : o (rio) Guadiana, a (provincia)
Extremadura. Outros porém
entendem, e deste parecer he Duarte
Nunes do Leão, (3)197 que a isto não
81se póde dar razão, senão pedilo assim
a orelha, e costume.

A este respeito o que especialmente
deve attender-se he o uso. Além
de que tem-se advertido, I. que os
nomes dos lugares tomão articulo todas
as vezes, que por outra maneira
pódem ser appellativos, ou communs,
como : A Bahia, a Guarda, as Alagoas,
o Porto, o Rio de Janeiro, os
Arcos, &c. II. que aos ditos nomes
se ajunta sempre articulo, sendo, ou
ainda hoje pouco conhecidos, ou tendo-o
sido, quando delles se começou
a ter conhecimento, como : a India,
a China, o Brasil, o Japão, o Mexico,
o Canadá, o Maranhão, o Pará,
a Flórida, a Virginia, &c.82

Capitulo V.
Do Verbo.

§. I.
Da definição, e divisão do Verbo.

Verbo he huma palavra, que
explica, ou huma acção feita ; ou
huma acção recebida pelo sujeito ; ou
simplesmente significa o estado do sujeito.

Sujeito, ou agente he a pessoa,
ou cousa, de que se falla.

Verbo, segundo a sua etymologia,
quer dizer palavra, e talvez por
ser a mais essencial da oração, por
elle se formão, e enuncião todos
os nossos discursos, se lhe deo por
excellencia huma tal denominação.

O Verbo divide-se em varias especies.
As principaes são as seguintes.
Verbo activo he aquelle, que exprime
a acção feita pelo sujeito. Tambem
se chama transitivo, querendo
assim dar a entender, que a sua acção
83ou significação passa a outra cousa,
e nella se termina. Exemplos :

O tempo gasta as pedras, gasta o ferro. (1)198

Os trabalhos assim como aperfeiçoão
a virtude, tambem crião entendimento,
e
adelgação o engenho. (2)199

Verbo passivo he aquelle, que
exprime a acção recebida pelo sujeito.
Denomina-se assim por significar paixão,
isto he que alguem padece, ou
soffre a acção feita. Exemplo :

As estatuas do tempo são gastadas,
Tambem o forão já suas memorias,
Se não forão das Musas conservadas.
(3)200

A acção porém do verbo passivo,
exprimio-se na nossa lingoa, tomando
todos os modos, tempos, e pessoas
do verbo substantivo ser, e ajuntando-lhe
o participio passivo do verbo,
de que nos queremos servir. Assim por
exemplo no verbo amar, se exprimirá
a voz passiva, dizendo-se no presente
84do indicativo : eu sou amado, tu
és amado, elle he amado
, &c.

Tambem se exprime a dita voz,
pelo pronome se, ajuntando-se este ás
terceiras pessoas dos verbos activos em
qualquer dos dous números, sendo as
taes terceiras pessoas de cousas inanimadas.
Exemplo : O tempo, que se toma
para fazer melhor o officio, não se
tira ao officio. (1)201

Verbo neutro he aquelle, que simplesmente
exprime o estado do sujeito,
sem significar acção alguma, ou
feita, ou recebida pelo mesmo sujeito.
Taes são todos os verbos dos dous seguintes
versos com qualquer sujeito,
de que exprimão o estado.

Salta, corre, sibila, acena, e brada : (2)202
Arde, morre, blasfema, e desatina. (3)203

Da mesma qualidade são tambem
os cinco, de que se forma o primeiro
verso deste terceto :85

Se ris, s'estudas, vélas, andas, dormes,
Não receba do corpo o espirito dano,
Nem todo em puro espirito te transformes.

E igualmente todos na presente (1)204
frase : Ainda que o superior erre,
e nós
acertemos, o erro he desobedecendo
acertar, e o acerto fora errar
obedecendo. (2)205

Dá-se a esta especie de verbo o
nome de neutro, do Latim neuter,
neutra, neutrum
, que significa nem
hum, nem outro
, por causa de não
ser activo, nem passivo.

Além dos referidos verbos ha tambem
huns chamados pronominaes, e
outros impessoaes ou mono-pessoaes.

Verbos pronominaes são aquelles,
que se conjugão com os dous pronomes
da mesma pessoa, como : eu me
compadeço, tu te compadeces, elle se
compadece
, &c.

Estes verbos pronominaes tem significação
passiva, sempre que o sujeito
he hum nome de cousas inanimadas,
como : Muitas vezes se perde por
86preguiça o que
se ganha por justiça. (1)206

As cousas estimão se pelo que valem,
e não pelo que custão
. (2)207

Algumas vezes tem a dita significação,
ainda quando o sujeito he hum
nome de pessoas, como : No juizo de
Deos até hum ladrão
se salva, no juizo
dos homens S. João Baptista
se
condemna. (3)208

De todas as pessoas, que se governão
por queremos, podeis esperar
todos os desatinos do mundo ; porque
o principio de todos os erros dos homens
he sua vontade, porque se não
houvesse, quero, não haveria erros
. (4)209

Os verbos pronominaes chamão-se
reflexivos, quando a acção, que elles
exprimem, reflecte, ou recahe sobre o
sujeito, que a produz, como : armar-se,
entristecer-se, ferir-se
, &c.

Desconhece-se de homem o que não
sabe perdoar
. (5)21087

Quem furtou, e se deshonrou no
pouco, muito mais facilmente o fará
no muito
. (1)211

Tambem se chamão reciprocos,
quando exprimem huma acção reciproca
de duas, ou mais pessoas, como :
abraçar-se, acutilar-se, saudar-se,
&c.

Para que o verbo seja reciproco
sem equivocação, he necessario ás
vezes ajuntar-lhe as palavras hum a
outro, entre si, mutuamente, reciprocamente
.
Exemplos : He grande
companheira da oração a lição dos livros
devotos, dão-se as mãos, e
ajudão-se
muito bem huma á outra. (2)212

Em nenhum estudo bom póde haver vicio,
As artes entre si communicão,
Cada huma ajuda a outra em seu officio.
(3)213

O muro, e o soldado defendem-se
reciprocamente ; o muro defende o soldado,
e o soldado defende o muro
. (4)214

Igualmente se diz serem pronominaes,
88ou reciprocos certos verbos, que
sem mudança no significado humas vezes
admittem pronomesm e outras não,
como : adormecer, adormecer-se ; ajoelhar,
ajoelhar-se ; casar, casar-se ;
partir, partir-se ; sahir, sahir-se
, &c.

Verbos impessoaes, ou mono-pessoaes
são aquelles que só se usão na
terceira pessoa do singular, como :
acontece, convém, cumpre, importa,
monta, parece, releva, succede
, &c.
Exemplo : A mim convém dar doutrina,
a ti
releva apprender sciencia, aos
homens
apraz ter dinheiro, ás mulheres
cumpre honestidade, e a todos
obedecer aos preceitos da Igreaja
. (1)215

Chamão-se impessoaes, ou monopessoaes
isto he de huma só pessoa,
por terem unicamente a terceira do s
ingular, a qual de ordinario se occulta,
e he necessario supprir com a imaginação,
quando se procura o agente
do verbo. assim dizendo-se : amanhece,
anoitece, chove, neva, orvalha,
troveja, ou trovoa
, (2)216 venta, &c.
89os agentes destes verbos, que podem
ser Deos, o Ceo, a nuvem, &c. pela
maior parte se subentendem, suppondo-se
como fica dito. A's vezs porém
se achão expressos, assim como :
Se amanhece o Sol, a todos aquenta ;
e se
chove o Ceo, a todos molha. (1)217

Os verbos pessoaes se usão algumas
vezes no sentido de impessoaes,
quando não tem pessoa determinada,
que sirva de mobil, ou principio da
sua significação. Exemplo : Para não
mentir não he necessario ser Santo
,
basta ser honrado : porque não ha cousa
mais affrontosa, nem que mais
horror faça a quem tem honra, que
o mentir
. (2)218

O verbo haver, quando se usa como
impessoal nas terceiras pessoas do
singular, tem a propriedade de convir
tambem ao plural do substantivo,
em que termina a sua significação, e
assim se diz : Ha occasião, e ha muitas
occasiões ; havia este, e havia
90aquelles ; houve algum, e houve alguns
,
&c.

Ha muitos zeladores de lingoa, e
poucos de obra. (1)219

Quantos ha na nossa aldea,
Leões, e lobos fingidos,
Que houverão do andar despidos
Se não fora á pelle alhea.
(2)220

Alguns tambem denominão defectivos
estes verbos impessoaes. Porém
hum tal nome parece que só deve
apropriar-se, não aos que carecem de
certo número de pessoas, por se lhes
haver já dado a sua especifica denominação ;
mas sim aos que tem falta
de alguns tempos, como são : prazer,
ou aprazer, jazer, soer
, (*)221 e algum
outro.

Ultimamente distinguem-se os verbos
91em simplices, compostos, e frequentativos.
Verbos simplices são aquelles, a
que não se une alguma outra parte da
oração, como : dizer, fallar, ouvir,
&c.

Nesta classe entrão os verbos, que
se formão de nomes da nossa lingoa,
por meio das preposições, ou particulas
compositivas a, e em, como :
abaixar, aprontar, emmagrecer, engrandecer,
&c. (*)222.

Verbos compostos são os que se
compõe de outra palavra differente, ou
são precedidos de preposições.

A parte que serve de composição
92ao verbo, póde ser, ou huma palavra
inteira, como : bem-querer, mal-lograr,
menos-prezar, &c. ou algum
tanto desfigurada, como : maniatar,
manobrar, manter, rarefazer
, &c.

Commummente os verbos, ou se
compõe de preposições, que entre nós
tem significado de per si, como : ante,
contra, entre, sub
, ou se, sobre,
v. g. antever, contraminar, entreconhecer,
subescrever, socavar, sobresahir
 :
ou se compõe de alguma das
duas preposições, ou particulas inseparaveis,
puramente tambem da nossa
lingoa, quaes são des, e tres, v. g.
desacatar, desobrigar, tresdobrar,
trespassar
.

Assim como o caminho certo de
ter pão he servir a Deos, assim o caminho
certo de se perder o pão, que
se tem, he
desservilo. (1)223

De qualquer modo que o verbo
assim se acha composto, com tanto
que elle, e a palavra da composição
sejão da lingoa Portuguesa, este tal
verbo se póde chamar verbo composto
proprio
.93

Verbos compostos improprios chamar-se-hão
por conseguinte todos os
que em grande número nos vierão da
lingoa Latina donde os tomamos já
compostos com as palavras, e preposições
da mesma lingoa.

Nesta conta hão de entrar tambem
varios outros, que sendo Portuguezes,
quando simplices, tomão a
composição das preposições Latinas,
v. g. retelhar, retornar, transplantar,
transtornar
, &c.

Verbos frequentativos, rigorosamente
taes, são os que denotão a acção
frequente dos seus primitivos, como :
choramingar, choviscar, escrevinhar,
espicaçar, espezinhar
, &c.

§. II.
Da Conjugação, e propriedades do
Verbo.

Conjugação quer dizer ajuntamento
e o conjugar hum verbo consiste
em ajuntar, ou recitar as suas differentes
terminações, como : eu fallo,
tu fallas, elle falla, nós fallamos,
vós fallais, elles fallão
.94

Destas differentes terminações procedem
quatro propriedades do mesmo
verbo, que são Modos, Tempos, Números,
e Pessoas.

Os Modos do verbo são as diversas
maneiras, com que delle se usa
com variedade nas inflexões.

Os Tempos do verbo são as terminações,
que dão a conhecer, se
aquillo que o verbo exprime, deve
referir-se ao presente, ao passado, ou
ao futuro, como : eu faço, nós fizemos,
elles farão
.

Com a mesma acção, com que Deos
creou o Mundo, o escreve sempre, está,
e estará conservando até o fim delle
. (1)224

Os Números do verbo são dous,
singular, e plural. Se o agente, que
modifica o verbo, he hum só individuo,
o verbo está então no singular ;
mas se o tal agente designa dous, ou
muitos individuos o verbo neste caso
está no plural. Exemplo :

O merecimento da esmóla não consiste
em que a comão aquelles para
95quem a
dais ; senão em que vós a
deis para que elles a comão. (1)225

Consiste está aqui no singular,
porque tem por agente hum só individuo,
que he merecimento ; porém os
verbos comão, dais, e deis estão no
plural por serem muitos individuos o
seu agente.

As Pessoas do verbo são tres em
cada numero. A primeira he a que
falla : eu amo, nós amamos. A segunda
he aquella, a quem se falla : tu
amas, vós amais
. A terceira he a
pessoa, ou cousa, de que se falla :
elle, ou ella ama, elles, ou ellas
amão
.

O tempo, que se vai, não torna mais,
E se torna, não tornão as idades. (2)226

§. III.
Dos Modos do Verbo.

Os Modos de exprimir a significação
dos verbos são quatro. O Indicativo,
o Imperativo, o Subjunctivo,
96ou Conjunctivo, e o Infinito, ou
Infinitivo.

O Indicativo, que quer dizer demostrador,
he o que indica, ou demostra
affirmação simples, isto he sem
dependencia de alguma outra palavra
precedente.

Exemplos : he verdadeiro senhor
da fazenda quem a
sabe dar, e
repartir. Escravos
são della os que a
fechão, e enthesourão. (1)227

Não teme, não espera,
Não pende da fortuna, ou vãos cuidados
A consciencia pura.
(2)228

Cada hum dos sobreditos verbos
demostra huma affirmação simples sem
dependencia de alguma outra palavra,
que se lhe possa pôr antes, nem della
necessita para formar sentido claro
em qualquer parte do discurso, onde
estiver.

O Imperativo, que quer dizer
mandador, exprime a acção de mandar,
pedir, ou exhortar. Exemplos :97

Põe em Deos teu cuidado, alma esquecida,
E sómente a Deos ama, e delle treme.
(1)229

Abre essa bocca (dizia hum Filosofo
a hum mancebo, que não devia
ser falto de pessoa) saberemos o que
ha em ti. (2)230

O Subjunctivo, ou Conjunctivo,
que quer dizer ajuntador, assim dito
porque depende de huma conjunção,
que lhe precede, não demostra affirmação,
e separado daquillo, de que
he precedido, não póde por si só formar
sentido claro. Exemplo : Salomão
pedia a Deos, que o não
fizesse rico,
nem pobre ; mas que lhe
desse o
necessario para passar a vida, receando
que não
poderia ser Santo em
qualquer daquelles extremos
. (3)231

O sentido destas palavras assim
ordenadas he claro ; mas deixará de o
ser, supprimindo-se as que precedem
aos conjunctivos fizesse, desse, poderia,
98cada hum dos quaes não basta
de per si a formar oração perfeita.

Daqui vem que o subjunctivo necessita
ajuntar-se com outro verbo expresso,
ou supprido, que aperfeiçoe o
sentido da oração. E por isso na conjugação
deste Modo se antepõe ás vozes
dos tempos alguma expressão condicional,
v. g. se, que, posto que,
ainda que, como
, &c. com a qual se
declara a dependencia, que ele tem de
outro verbo precedente.

O Infinito, ou Infinitivo, que
quer dizer não acabado, exprime a
acção, ou significação do verbo de
huma maneira indefinita, e indeterminada
sem affirmação, ou com affirmação
feita em geral, não designando
tempos, números, nem pessoas.

A palavra amar por exemplo sómente
faz conhecer em commum a significação
deste verbo, sem exprimir
quaes, e quantas pessoas amão, nem
como, nem quando. Por esta causa he
necessario ao infinito outro verbo que
determine o sentido. Exemplo : A verdade
(que por isso se pinta despida)
não sabe
encobrir, nem fingir, nem
99enfeitar, nem córar, e muito menos
enganar. (1)232

§. IV.
Dos Tempos do Verbo.

Os Tempos do verbo são as terminações,
que dão a conhecer se
aquillo, que o verbo exprime, deve
referir-se ao presente, ao passado, ou
ao futuro, como : eu amo, eu amei,
eu amarei
,

O Presente do indicativo denota
o que he, se faz, ou succede actualmente.
Exemplos : Cada hum he as
suas acções, e não
he outra cousa. (2)233

Os Santos então triunfão, quando
o mundo cuida que triunfa delles. (3)234

O Preterito distingue-se em tres
especies, que são imperfeito, perfeito,
mais que perfeito
, entre os Grammaticos
plusquamperfeito.

O Preterito imperfeito denota a
acção como presente no tempo, em
que se obrou, ou succedeo outra acção.
100Exemplos : Quem fez o que devia,
devia o que fez : e ninguem espera
paga de pagar o que
devia. (1)235

Quando tinha valor a Poesia,
Suspirava Alexandre por Homero.
E Cesar a Virgilio enriquecia.
(2)236

O Preterito perfeito denota huma
acção feita, ou succedida em hum
tempo inteiramente passado, e de que
nada resta. Exemplos : O desprezo a
ninguem
melhorou, a honra a muitos. (3)237

Os Reinos, e os Imperios poderosos,
Que em grandeza no Mundo mais crescêrão,
Ou por valor de esforço florecérão,
Ou por Varões nas letras espantosos.
(4)238

O Preterito mais que perfeito,
ou plusquamperfeito denota que huma
cousa estava já feita, e tinha succedido,
quando outra se fez, ou succedeo.
Exemplo : O Emperador Carlos
V. no dia em que renunciou o governo,
101confessou que em todo o tempo
delle, nem hum só quarto de hora tivera
livre de afflicções, e molestias
. (1)239

O Futuro denota que huma cousa
será, se fará, ou succederá. Exemplos :
Entre todas as obras de misericordia
nenhuma se ha de antepôr á
que o Sabio aventajou a todas, dizendo
 :
Tem misericordia da tua alma, e
agradarás a Deos. (2)240

Só alto, só ditoso chamarei
Quem desprezando a baixa, e pobre terra,
Aos Ceos seus olhos ergue, este honrarei.
(3)241

O Imperativo denota hum Presente
quanto á acção de mandar ; porém
designa hum Futuro a respeito daquillo,
que se manda fazer. Exemplos :

Tua fé, teu Rei, tua terra, teu nome ama ;
Dos bons te ajuda ; em Deos espera, e crê ;
Accenderás de amor huma viva chamma.
(4)242102

Dizei, essas riquezas, que juntais
Tanto ás custas d'almas, ó cubiçosos,
Quando lograr-vos dellas esperais !
(1)243

O Subjunctivo, ou Conjunctivo
tem todos os mesmos Tempos do Indicativo,
com differença porém de inflexões,
ou terminações como se verá
na Conjugação dos Verbos.

Deve todavia advertir-se que tendo
o preterito imperfeito do Subjunctivo
tres terminações, huma em ra, outra
em ria, e a terceira em se, como :
amara, amaria, amasse, não se póde
usar dellas indistintamente suppondo-as
todas de igual valor. Succede
pois que muitas vezes diversificão entre
si quanto ao sentido, ou segundo
o contexto da clausula ; ou segundo a
differente collocação das palavras.

Quem dissesse por exemplo : Se eu
fora hum dos benemeritos, em mim
mesmo, e no meu proprio merecimento

achara tão grandes razões de me
consolar, que sem outra mercê, nem
despacho me
dera por mui contente, e
satisfeito
. (2)244 Aqui fora, ou fosse
103formão equivalente sentido ; mas não
assim, se em lugar de huma, ou outra
das ditas vozes puzessemos seria.
Da mesma sorte valendo tanto dizer
achára, ou acharia, me dera, ou me
daria
, nenhuma destas terminações se
póde sem impropriedade substituir com
a outra em se, dizendo achase, e me
desse
.

Mas as duas terminações em ria,
e se nunca se podem supprir huma
com outra ; pois a haver quem diga :

Se eu me pudesse á minha vontade
Formar meus fados, mais não quereria
Que meãmente segurar a vida
C'o necessario.
(1)245

Neste exemplo nem a terminação
em se, pudesse, admitte em seu lugar
a outra em ria, poderia ; nem
tambem quereria soffre trocar-se em
quizesse.

O Infinito, ou Infinitivo tem Presente,
Preteritos, Futuro, Participio,
e Gerundios presente, e passado.

Mas o Presente, os Preteritos, e
104o Futuro não são verdadeiramente seus ;
porém sim relativos ao verbo, que lhe
precede. Por exemplo : Todo o homem
deseja ser, deseja ter, deseja poder, (1)246
Como deseja denota aqui o Presente,
por isso se diz que os Infinitos
subsequentes estão no Presente, o
que tambem succede a respeito dos
outros Tempos.

Do Participio se tratará em Artigo
sobre si ; por tanto passemos ao
Gerundio.

O Gerundio he huma inflexão do
verbo, com a qual se denota que o
seu significado tem dependencia de outro
verbo principal, que com elle entra
na mesma frase.

Zombando se dizem as verdades.
Nesta frase a acção principal he : se
dizem as verdades
, á qual está subordinada
a acção, que exprime o gerundio
zombando, por ser dependente
da principal, e só designar o modo,
ou meio de se dizerem as verdades.

Chama-se Gerundio do verbo Latino
105gero, trago ; porque traz comsigo
a significação do verbo, de que se
deduz.

O gerundio, indeclinavel por sua
natureza, qualquer que seja o genero,
e número, a que se refira, tem tres
terminações ; huma em ando para os
verbos com infinito em ar, outra em
endo para os em er, e a terceira em
indo para os em ir, como : amar,
amando ; ler, lendo ; ouvir, ouvindo.

Os gerundios humas vezes designão
o estado do sujeito, a razão, ou
o fundamento da acção ; e outras vezes
dão a conhecer huma circunstancia
da acção, huma maneira, ou hum meio
de chegar a hum fim. Exemplos : A
verdadeira fidalguia he hum tributo
perpetuo devido á virtude, que os filhos
de nobres são obrigados a lhe
pagar todos os dias de sua vida, e
por isso não se alcança só
nascendo,
mas morrendo, e vivendo. (1)247

Magoa-se o bom esprito, se, roubando
Lhe vão seu preço, e a quem não he devido
Juizos enganados o estão dando.
(2)248106

Os gerundios dos dous precedentes
lugares designão em ambos elles o
estado do sujeito.

Alguns ha (diz hum illustre Poeta) (1)249

Que se fazem afamados
Julgando, e interpretando duramente,
Dos innocentes fazendo culpados.

Os referidos gerundios neste lugar
tanto valem, como se dissera porque
julgão, porque interpretão, porque
fazem
, e exprimem o motivo,
ou o fundamento da acção.

A disciplina militar prestante,
Não se apprende, Senhor, na fantasia,
Sonhando, imaginando, ou estudando,
Senão vendo, tratando, e pelejando.
(2)250

Todos estes gerundios mostrão
aqui a circunstancia da acção de que
se trata, a maneira, ou meio, com
que a Arte da guerra se apprende, ou
deixa de apprender.

O gerundio presente denota hum
presente relativo ao verbo, de que depende.
107Exemplos : Passando Dom João
de Castro acaso pela Jubiteria
, vendo
estar penduradas humas calças de
obra
, parando o cavallo, perguntou
de quem erão, e
tornando-lhe o official,
que as mandára fazer Dom Alvaro,
filho do Governador da India,
pedio Dom João de Castro huma tisoura,
com que as cortou todas
, dizendo
para o mestre : Dizei a esse rapaz,
que compre armas
. (1)251

Perdido tudo no mar,
Sahindo o grão Zeno a nado,
Vendo a fazenda ondejar,
Assi, disse, despejado
Me mandão filisofar.
(2)252

O gerundio preterito denota por
si mesmo hum tempo passado. Este
gerundio he sómente o dos verbos auxiliares
haver, e ter, seguindo-se-lhe
participio passivo, e ambos juntos fazem
então hum sentido equivalente ao
preterito perfeito do verbo de que se
forma o participio. Exemplo : Havendo
108aceitado David o desafio com o Gigante,
a munição, que prevenio para
a sua funda, forão cinco pedras
. (1)253
Nesta frase, havendo aceitado, tanto
quer dizer como, depois que aceitou.

O gerundio he ás vezes precedido
da preposição em, principalmente quando
denota huma circunstancia da acção,
huma maneira, ou hum meio de
chegar a gum fim. Exemplos : Como
o mundo estima só o que espanta
, em
faltando particularidades extraordinarias,
e fóra do commum : do ordinario,
e do commum nenhum caso
faz
. (2)254

Nobreza, e desunida não póde ser,
porque
em sendo desunida, logo deixa
de ser nobreza, logo he vileza
. (3)255

O gerundio sempre que delle se
usa pelo referido modo, póde resolver-se
por hum tempo do verbo, a
que pertence o gerundio, e pelas particulas
condicionaes se, ou quando.
Assim o primeiro dos sobreditos gerundios
109se póde resolver dizendo : se
faltão
, ou quando faltão ; e o segundo
substituindo lhe : se for, ou quando
seja
, e semelhantemente quaesquer
outros.

O gerundio dos verbos andar, estar,
ir, vir
, póde preceder ao gerundio
dos outros verbos, assim como :
andando vendo, estando convalescendo,
indo continuando seu caminho,
vindo passeando
.

§. V.
Dos Tempos simplices, e compostos.

Os Tempos do Verbo são, ou simplices,
ou compostos.

Tempos simplices denominão-se
aquelles, que se exprimem por huma
só palavra, ou unicamente acompanhados
dos pronomes pessoaes.

Por exemplo no verbo amar são
Tempos simplices do Modo indicativo,
o presente, amo ; o preterito imperfeito,
amava ; o preterito perfeito,
amei ; o preterito mais que perfeito
110ou plusquamperfeito, amára ;
e o futuro, amarei.

No Imperativo, ama tu, amai
vós
, presente a respeito do que manda,
e futuro a respeito do que ha de
obedecer.

No Conjunctivo o presente, ame ;
o preterito imperfeito, amára, amaria,
amasse
 ; e o futuro, amar, amares,
&c.

No Infinito, o presente, amar ;
o participio activo, amante ; o participio
passivo, amado ; e o gerundio,
amando.

Tempos compostos são aquelles, que
se conjugão sempre com alguns Tempos
simplices dos verbos auxiliares Ter,
ou Haver.
Por exemplo no mesmo verbo
amar são tempos compostos no Modo
indicativo, o preterito perfeito,
hei, ou tenho amado ; o preterito mais
que perfeito, ou plusquamperfeito,
havia, ou tinha amado, e o futuro,
hei de amar.

No Conjunctivo, o preterito perfeito,
haja, ou tenha amado ; o preterito
mais que perfeito, ou plusquamperfeito,
111houvera, ou tivera amado,
houvesse
, ou tivesse amado ; e o futuro,
houver, ou tiver amado, haverei,
ou terei amado.

No Infinito, o preterito, haver,
ou ter amado ; o futuro, haver de
amar
, ou ter de amar ; e o gerundio
preterito, havendo, ou tendo amado.

§. VI.
Dos Verbos auxiliares, e sua conjugação.

Verbos auxiliares são os que
ajudão a conjugar certos tempos
dos outros verbos, os quaes tempos,
como fica dito, se chamão compostos.

A palavra auxiliar deriva-se da
Latina auxiliaris, a qual significa que
vem em soccorro
, ou dá ajuda.

Ser, Ter, Haver são os tres verbos
auxiliares, de que nos servimos.

O verbo ser, que tambem se nomeia
substantivo, quando affirma a
substanticia, ou o ser do sujeito, que
lhe exercita a significação, he auxiliar
112sempre que com os seus números,
pessoas, modos, e tempos, tanto simplices,
como compostos, suppre junto
com o participio passivo do verbo,
de que se trata, a voz passiva deste
mesmo verbo.

Esta voz passiva na lingoa Portugueza,
e em muitas outras vulgares,
não se exprime como a activa, por
tempos simplices. De sorte que dizendo-se
com huma só palavra de differente
terminação amo, amas, ama ; na
voz passiva deste verbo só póde dizer-se,
sou amado, es amado, he amado.

Ter, e Haver são igualmente verbos
auxiliares, porque servem como
de soccorro aos outros para formar diversos
tempos.

Mas he necessario que elles sejão
seguidos de hum participio passivo
com a terminação em o, ou do infinito de
algum verbo, precedendo a este a preposição
de, para assim formarem os
tempos compostos dos outros verbos.

Do primeiro modo denotão sempre
hum tempo passado, assim como :
As injurias, que os poderosos fazem
113aos pequenos, de que elles se não podem
defender, Deos
tem tomado por
sua conta vingalas
. (1)256

E do segundo modo, hum tempo
futuro, assim como :

Não se ha de fazer mal por quantos bens
Se possão d'ahi seguir.
(2)257

He força que haja pretenções, e
pretendentes, mas estes não
hão de
ser as pessoas, senão os officios. (3)258

A conjugação dos tres sobreditos
verbos, posto que pertence á segunda
dos irregulares em er, com tudo precederá
á de todos os outros, tanto pela
dependencia, que estes tem della,
como por serem os taes verbos os mais
principaes da lingua, e de uso frequentissimo.114

Conjugação
do verbo substantivo
Ser.

Indicativo.

Tempo presente.

Singular. Eu sou, tu es, (*)259 elle he.

Plural. Nós somos, vós sois, elles são.

Preterito imperfeito.

S. Eu éra, tu éras, elle éra.

P. Nós éramos, vós éreis, elles érão.

Preterito perfeito.

S. Eu fui, tu foste, elle foi.

P. Nós fomos, vós fostes, elles fôrão.

Preterito perfeito composto.

S. Eu tenho, tu tens, elle tem sido.

P. Nós temos, vós tendes, elles tem sido.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito
.

S. Eu fora, tu foras, elle fora.

P. Nós foramos, vós foreis, elles forão.115

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito composto
.

S. Eu tinha, tu tinhas, elle tinha sido.

P. Nós tinhamos, vós tinheis, elles tinhão
sido.

Futuro.

S. Eu serei, tu serás, elle será.

P. Nós seremos, vós sereis, elles serão.

Futuro composto.

S. Eu hei, tu has, elle ha de ser.

P. Nós havemos, vós haveis, elles hão
de ser.

Imperativo.

Presente, ou Futuro.

S. Sê tu, seja elle.

P. Sejamos nós, sede vós, sejão elles.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Presente.

S. Que Eu seja, tu seja,s elle seja.

P. Que Nós sejamos, vós sejais,
elles sejão.116

Preterito imperfeito.

S. Que Eu fora, seria, ou fosse ;
Que tu foras, serias, ou fosses.
Que elle fora, seria, ou fosse.

P. Que Nós foramos, seriamos, ou
fossemos ; vós foreis, serieis,
ou fosseis ; elles forão,
serião, ou fossem.

Preterito perfeito composto.

S. Que Eu tenha, tu tenhas, ella tenha
sido.

P. Que Nós tenhamos, vós tenhais,
elles tenhão sido.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito
.

S. Se Eu fora, ou fosse ; tu foras,
ou fosses ; elle fora, ou fosse.

P. Se Nós foramos, ou fossemos ;
vós foreis, ou fosseis ; elles
forão, ou fossem.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito composto
.

S. Se Eu tivera, ou tivesse ; tu
tiveras, ou tivesses ; elle tivera,
ou tivesse sido.

P. Se Nós tiveramos, ou tivessemos ;
vós tivereis, ou tivesseis ;
elles tiverão, ou tivessem sido.117

Futuro.

S. Se Eu for, tu fores, elle for.

P. Se Nós formos, vós fordes,
elles forem.

Futuro composto.

Este Futuro forma-se do futuro
dos verbos auxiliares Ter, e Haver,
seguindo-se-lhe o participio passivo ;
ou do futuro do indicativo dos ditos
dous verbos, desta maneira : Se eu
tiver, ou houver sido : Já então eu
terei, ou haverei sido
, e semelhantemente
nas demais pessoas.

Infinito, ou Infinitivo.

Presente impessoal.

Ser.

Presente pessoal.

S. Ser eu, seres tu, ser elle.
P. Sermos nós, serdes vós, serem elles.

Preterito.

Ter sido.

Futuro.

Haver de ser.

Participio.

Sido.118

O participio Sido não se usa sem
ser acompanhado de hum dos dous
verbos auxiliares Ter, e Haver.

Gerundio.

Sendo.

Conjugação
do verbo auxiliar
Ter.

Indicativo.

Presente.

S. Eu tenho, tu tens, elle tem.

P. Nós temos, vós tendes, elles tem.

Preterito imperfeito.

S. Eu tinha, tu tinhas, elle tinha.
P. Nós tinhamos, vós tinheis, elles
tinhão.

Preterito perfeito.

S. Eu tive, tu tiveste, elle teve.

P. Nós tivemos, vós tivestes, elles tiverão.

Preterito perfeito composto.

S. Eu tenho tido. As demais pessoas
são as mesmas do presente do indicativo
119deste verbo, ajuntando-se a todas
o participio passivo.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito
.

S. Eu tivera, tu tiveras, elle tivera.

P. Nós tiveramos, vós tivereis, elles
tiverão.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito composto
.

S. Eu tinha tido. As outras pessoas
são como o participio passivo as do
preterito imperfeito.

Futuro.

S. Eu terei, tu terás, elle terá.

P. Nós teremos, vós tereis, elles terão.

Futuro composto.

S. Eu hei, tu has, elle ha de ter.

P. Nós havemos, vós haveis, elles hão
de ter.

Imperativo.

Presente, ou Futuro.

S. Tem tu, tenha elle.

P. Tenhamos nós, tende vós, tenhão
elles.120

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Presente.

S. Que Eu tenha, tu tenhas, elle tenha.

P. Que Nós tenhamos, vós tenhais,
elles tenhão.

Preterito imperfeito.

S. Que Eu tivera, teria, ou tivesse ;
tu tiveras, terias, ou tivesses ;
elle tivera, teria, ou
tivesse.

P. Que Nós tiveramos, teriamos,
ou tivessemos ; vós tivereis,
terieis, ou tivesseis ; elles
tiverão, terião, ou tivessem.

Preterito perfeito composto.

S. Que eu tenha tido. Seguem-se as
outras pessoas, que são as do presente
deste mesmo conjunctivo juntas ao
participio passivo.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito
.

S. Se eu tivera, ou tivesse ; tu tiveras,
ou tivesses ; elle tivera,
ou tivesse.

P. Se Nós tiveramos, ou tivessemos,
121vós tivereis, ou tivesseis, elles
tiverão, ou tivessem.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito composto
.

Este Tempo em todas as pessoas
guarda as mesmas terminações do precedente,
e só differe delle, em se accrescentar
o participio passivo, dizendo-se :
Se eu tivera, ou tivesse tido,
&c.

Futuro.

S. Se eu tiver, tu tiveres, elle tiver.

P. Se Nós tivermos, vós tiverdes,
elles tiverem.

Futuro composto.

O futuro composto forma-se, ou
do fututo antecedente, seguindo-se-lhe
o participio passivo, ou do futuro do
indicativo de hum dos dous verbos
auxiliares ter, e haver, desta maneira :
Se eu tiver tido. Já então eu terei,
eu haverei tido
, &c.122

Infinito, ou Infinitivo.

Presente impessoal.

Ter.

Presente pessoal.

S. Ter eu, teres tu, ter elle.

P. Termos nós, terdes vós, terem elles.

Preterito.

Ter tido.

Futuro.

Haver de ter.

Participio.

Tido.

Gerundio.

Tendo.

Conjugação
do verbo auxiliar
Haver.

Indicativo.

Presente.

S. Eu hei, tu has, elle ha.

P. Nós havemos, (*)260 vós haveis, (**)261
elles hão.

Preterito imperfeito.

S. Eu havia, tu havias, elle havia.

P. Nós haviamos, vós havieis, elles
havião.

Preterito perfeito.

S. Eu houve, tu houveste, elle houve.

P. Nós houvemos, vós houvestes, elles
houverão.

Preterito perfeito composto.

S. Eu tenho, tu tens, elle tem havido.

P. Nós temos, vós tendes, elles tem havido.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito
.

S. Eu houvera, tu houveras, elle houvera.

P. Nós houveramos, vós houvereis, elles
houverão.124

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito composto
.

S. Eu tinha, tu tinhas, elle tinha havido.

P. Nós tinhamos, vós tinheis, elles
tinhão havido.

Futuro.

S. Eu haverei, tu haverás, elle haverá.

P. Nós haveremos, vós havereis, elles
haverão.

Futuro composto.

S. Eu hei, tu has, elle ha de haver.

P. Nós havemos, vós haveis, elles
hão de haver.

Imperativo.

Presente, ou Futuro. (*)262

S. Haja elle.

P. Hajamos nós, havei vós, hajão elles.125

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Presente.

S. Que eu haja, tu hajas, elle haja.

P. Que Nós hajamos, vós hajais,
elles hajão.

Preterito imperfeito.

S. Que eu houvera, haveria, ou
houvesse ; tu houveras, haverias,
ou houvesses ; elle houvera,
haveria, ou houvesse.

P. Que Nós houveramos, haveriamos,
ou houvessemos ; vós
houvereis, haverieis, ou houvesseis ;
elles houverão, haverião,
ou houvessem.

Preterito perfeito composto.

S. Que eu tenha, tu tenhas, elle tenha
havido.

P. Que Nós tenhamos, vós tenhais,
elles tenhão havido.126

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito
.

S. Se eu houvera, ou houvesse ; tu
houveras, ou houvesses ; elle
houvera, ou houvesse.

P. Se Nós houveramos, ou houvessemos ;
vós houvereis, ou houvesseis ; elles houverão,
ou houvessem.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito composto
.

S. Se eu tivera, ou tivesse ; tu tiveras,
ou tivesses ; elle tivera
ou tivesse havido.

P. Se Nós tiveramos, ou tivessemos ;
vós tivereis, ou tivesseis ;
elles tiverão, ou tivessem
havido.

Futuro.

S. Se eu houver, tu houveres, elle
houver.

P. Se Nós houvermos, vós houverdes,
elles houverem.

Futuro composto.

Este futuro forma-se, ou do futuro
do conjunctivo de Ter, ou do futuro
do indicativo deste mesmo verbo,
127dizendo-se : Se eu tiver havido : Já
então eu terei havido
.

Infinito, ou Infinitivo.

Presente impessoal.

Haver.

Presente pessoal.

S. Haver eu, haveres tu, haver elle.

P. Havermos nós, haverdes vós, haverem
elles.

Preterito.

Ter havido.

Participio.

Havido.

Este participio depende sempre
do verbo auxiliar Ter.

Gerundio.

Havendo.

Nota. Haver da mesma sorte
que Ter, serve como verbo auxiliar
para a formação dos tempos compostos
de quaesquer outros verbos, seguindo-se-lhe
o participio passivo de
cada hum delles ; e assim igualmente
se diz : Hei, ou tenho amado : Havia,
ou tinha amado
, e semelhantemente
128em os demais tempos. Mas para se
evitar embaraço na conjugação dos ditos
tempos compostos, se usa sómente
do verbo Ter, sendo facil substituir-lhe
os correspondentes tempos, e
pessoas de Haver, quando com este
ultimo se quizerem conjugar.

§. VII.
Dos Verbos Regulares, e da Formação
dos seus Tempos simplices.

Verbos regulares são os que observão
sempre huma mesma regra
na sua conjugação. Nestes verbos
ha certas letras radicaes ao principio,
as quaes são inalteraveis em todos os
seus modos, tempos, numeros, e pessoas.
A estas taes letras radicaes se seguem
certas terminações, as quaes
posto que sejão proprias de cada pessoa,
são commuas a todos os verbos
da mesma conjugação.

As tres differentes terminações dos
Infinitos dos nossos verbos, são as
que constituem outras tantas conjugações ;
a primeira em ar, a segunda
em er, e a terceira em ir.129

As letras radicaes dos verbos regulares
são as que precedem ás tres
sobreditas terminações dos infinitos.
Assim nos verbos da primeira conjugação
como amar, as letras radicaes
são am ; nos da segunda em er, como
temer, são radicaes tem, e nos
da terceira em ir, como partir, são
radicaes part.

Terminações das pessoas são as
outras letras, que estão depois das radicaes.
Sabido isto será facil formar os
Tempos simplices dos verbos regulares
em cada huma das tres referidas
conjugações, logo que aos infinitos se
tirarem as ultimas letras ar, er, ir,
e se accrescentarem ás que restão as
terminações, que diversificão as pessoas
pelo modo, que se vê praticado
nos exemplos das tres subsequentes
conjugações.

Para completar as ditas conjugações,
se lhes ajuntão tambem os Tempos
compostos. Delles se põe sómente
em razão de brevidade, a primeira
pessoa do singular, pois que as outras
se supprem a pouco custo, ficando já
130conjugadas nos verbos auxiliares Ter,
e Haver.

Primeira conjugação
Dos verbos Regulares, que no Infinito
acabão em ar.

Amar

Indicativo.

Tempo presente.

S. Eu am-o, tu am-as, elle am-a.

P. Nós am-amos, vós am-ais, elles
am-ão.

Preterito imperfeito.

S. Eu am-ava, tu am-avas, elle am-ava.

P. Nós am-avamos, vós am-aveis, elles
am-avão.

Preterito perfeito.

S. Eu am-ei, tu am-aste, elle am-ou.

P. Nós am-ámos, vós am-astes, elles
am-árão.

Preterito perfeito composto.

S. Eu tenho am-ado, &c.131

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito
.

S. Eu am-ára, tu am-áras, elle am-ára.

P. Nós am-áramos, vós am-areis, elles
am-árão.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito composto
.

S. Eu tinha am-ado, &c.

Futuro.

S. Eu am-arei, tu am-arás, elle am-ará.

P. Nós am-aremos, vós am-areis, elles
am-arão.

Futuro composto.

S. Eu hei de am-ar, &c.

Imperativo.

Presente, ou Futuro.

S. Am-a tu, am-e elle.

P. Am-emos nós, am-ai vós, am-em
elles.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Presente.

S. Que eu am-e, tu am-es, elle am-e.

P. Que nós am-emos, vós am-eis,
elles am-em.132

Preterito imperfeito.

S. Que eu am-ára, am-aria, ou am-asse,
tu am-áras, am-arias,
ou am-asses, elle am-ára,
am-aria, ou am-asse.

P. Que Nós am-áramos, am-ariamos,
ou am-assemos, vós
am-áreis, am-arieis, ou
am-asseis, elles am-árão,
am-arião, ou am-assem.

Preterito perfeito composto.

S. Que eu tenha am-ado, &c.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito
.

S. Se Eu am-ára, ou am-asse, tu
amáras, ou am-asses, elle
am-ára, ou am-asse.

P. Se Nós am-áramos, ou am-assemos,
vós am-areis, ou am-asseis,
elles am-arão, ou am-assem.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito composto
.

S. Se eu tivera, ou tivesse am-ado, &c.

Futuro.

S. Se Eu am-ar, tu am-ares, elle
am-ar.

P. Se Nós am-armos, am-ardes,
am-arem.133

Futuro composto.

S. Se eu tiver am-ado, &c.
Já então eu terei am-ado, &c.

Infinito, ou Infinitivo.

Presente impessoal.

Am-ar.

Presente pessoal.

S. Am-ar eu, am-ares tu, am-ar elle.

P. Am-armos nós, am-ardes vós, am-arem
elles.

Preterito composto.

Ter am-ado.

Futuro composto.

Haver de am-ar.

Participio activo.

Am-ante.

Participio passivo.

Am-ado, am-ada.

Gerundio.

Am-ando.

Segunda conjugação.
Dos Verbos Regulares, que no infinito
acabão em er.134

Temer.

Indicativo.

Presente.

S. Eu tem-o, tu tem-es, elle tem-e.

P. Nós tem-emos, vós tem-eis, elles
tem-em.

Preterito imperfeito.

S. Eu tem-ia, tu tem-ias, elle tem-ia.

P. Nós tem-iamos, vós tem-ieis, elles
tem-ião.

Preterito perfeito.

S. Eu tem-i, tu tem-este, elle tem-eo.

P. Nós tem-emos, vós tem-estes, elles
tem-êrão.

Preterito perfeito composto.

S. Eu tenho tem-ido, &c.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito
.

S. Eu tem-êra, tu tem-êras, elle tem-êra.

P. Nós tem-êramos, vós tem-êreis, elles
tem-êrão.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito composto
.

S. Eu tinha tem-ido, &c.

Futuro.

S. Eu tem-erei, tu tem-erás, elle tem-erá.135

P. Nós tem-eremos, vós tem-ereis,
elles tem-erão.

Futuro composto.

S. Eu hei de tem-er, &c.

Imperativo.

Presente, ou Futuro.

S. Tem-e tu, tem-a elle.

P. Tem-amos nós, tem-ei vós, tem-ão
elles.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Presente.

S. Que eu tem-a, tu tem-as, elle
tem-a.

P. Que Nós tem-amos, vós tem-ais,
elles tem-ão.

Preterito imperfeito.

S. Que eu tem-êra, tem-eria, ou
tem-esse, tu tem-êras, tem-erias,
ou tem-esses, elle
tem-êra, tem-eria, ou tem-esse.

P. Que Nós tem-êramos, tem-eriamos,
ou tem-essemos, vós
136tem-êreis, tem-erieis, ou tem-esseis,
elles tem-êrão, tem-erião,
ou tem-essem.

Preterito perfeito composto.

S. Que eu tenha tem-ido, &c.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito
.

S. Se eu tem-êra, ou tem-esse, tu
tem-êras, ou tem-esses, elle
tem-êra, ou tem-esse.

P. Se Nós tem-êramos, ou tem-essemos,
vós tem-êreis, ou tem-esseis,
elles tem-êrão, ou
tem-essem.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito composto
.

S. Se eu tivera, ou tivesse tem-ido,
&c.

Futuro.

S. Se eu tem-er, tu tem-eres, elle
tem-er.

P. Se Nós tem-ermos, vós tem-erdes,
elles tem-êrem.

Futuro composto.

S. Se eu tiver tem-ido, &c.
Já então eu terei tem-ido, &c.137

Infinito, ou Infinitivo.

Presente impessoal.

Tem-er.

Presente pessoal.

S. Tem-er eu, tem-eres tu, tem-er elle.

P. Tem-ermos nós, tem-erdes vós,
tem-erem elles.

Preterito composto.

Ter tem-ido.

Futuro composto.

Haver de tem-er.

Participio activo.

Tem-ente.

Participio passivo.

Tem-ido, tem-ida.

Gerundio.

Tem-endo.

Terceira conjugação.
Dos Verbos Regulares, que no Infinito
acabão em ir.138

Partir.

Indicativo.

Presente.

S. Eu part-o, tu part-es, elle part-e.

P. Nós part-imos, vós part-is, elles
part-em.

Preterito imperfeito.

S. Eu part-ia, tu part-ias, elle part-ia.

P. Nós part-iamos, vós part-ieis, elles
part-ião.

Preterito perfeito.

S. Eu part-i, tu part-iste, elle part-io.

P. Nós part-imos, vós part-istes, elles
part-irão.

Preterito perfeito composto.

S. Eu tenho part-ido, &c.

Preterito mais que oerfeito, ou
plusquamperfeito
.

S. Eu part-ira, tu part-iras, elle part-ira.

P. Nós part-iramos, vós part-ireis,
elles part-irão.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito composto
.

S. Eu tinha part-ido, &c.139

Futuro.

S. Eu part-irei, tu part-irás, elle part-irá.

P. Nós part-iremos, vós part-ireis, elles
part-irão.

Futuro composto.

S. Eu hei de part-ir, &c.

Imperativo.

Presente, ou Futuro.

S. Part-e tu, part-a elle.

P. Part-amos nós, part-i vós, part-ão
elles.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Presente.

S. Que eu part-a, tu part-as, elle
part-a.

P. Nós part-amos, vós part-ais,
elles part-ão.

Preterito imperfeito.

S. Que Eu part-ira, part-iria, ou
part-isse, tu part-iras, part-irias,
ou part-ises, elle part-ira,
part-iria, ou part-isse.

P. Que Nós part-iramos, part-iriamos,
140ou part-issemos, vós
part-ireis, part-irieis, ou
part-isseis, elles part-irão,
part-irião, ou part-issem.

Preterito perfeito composto.

S. Que eu tenha part-ido, &c.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito
.

S. Se eu part-ira, ou part-isse, tu
part-iras, ou part-isses, elle
part-ira, ou part-isse.

P. Se Nós part-iramos, ou part-issemos,
vós part-ireis, ou
part-isseis, elles part-irão, ou
part-issem.

Preterito mais que perfeito, ou
plusquamperfeito composto
.

S. Se eu tivera, ou tivesse part-ido, &c.

Futuro.

S. Se eu part-ir, tu part-ires, elle
part-ir.

P. Se Nós part-irmos, vós part-irdes,
elles part-irem.

Futuro composto.

S. Se eu tiver part-ido, &c.
Já então eu terei part-ido, &c.141

Infinito, ou Infinitivo.

Presente impessoal.

Part-ir.

Presente pessoal.

S. Part-ir eu, part-ires tu, part-ir elle.

P. Part-irmos nós, part-irdes vós, part-irem
elles.

Preterito composto.

Ter part-ido.

Futuro composto.

Haver de part-ir.

Participio passivo.

Part-ido, part-ida.

Gerundio.

Part-indo.

§. VIII.
Dos Verbos irregulares.

Verbos irregulares são os que
na formação dos Tempos simplices
se apartão das regras commuas
ás tres conjugações regulares, terminando,
ou todos, ou alguns delles
por hum modo incompetente á algum
outro verbo.142

Advirta-se porém que não se devem
ter por irregulares aquelles verbos,
em que se dá a identidade de
letras radicaes, e terminações, que
constituem a regular norma das tres
precedentes conjugações, posto que
nelles haja algumas leves mudanças na
Orthografia.

Pelo que convém conservar no número
de regulares os verbos acabados
em car, e gar, sem embargo de que
os primeiros mudão o c em qu, e os
segundos admittão u depois do g,
nas vozes em que entra c. Pois ainda
que no preterito perfeito do indicativo
dos verbos ficar, e julgar, se diga,
fiquei, julguei ; e no presente do
conjunctivo, fique, julgue, esta alteração
he puramente orthografica, sendo
o c equivalente ao qu, pronunciando-se
com força ; e sendo tambem
inalteravel ajuntar sempre a letra u ao
g, quando se lhe segue e, por isso
se escreve julgue, pague, e não julge,
page
.

Pela mesma razão deixão de ser irregulares
os verbos cahir, e sahir,
com os seus compostos ; porque escrevendo-se
143antigamente cair, sair,
ou caiir, saiir, ficárão retendo a sua
forma, tanto a primeira pessoa do presente
do indicativo caio, saio, como
todas as do presente do conjunctivo,
caia, saia, &c.

Outro tanto se ha de entender dos
verbos acabados em ger, como : abranger,
constranger, eleger, tanger
, &c.
e em gir, como : affligir, cingir,
fingir, tingir
, &c. todas as vezes que
o g por motivo de lhe abrandar a
pronunciação, se muda em j, seguindo-se-lhe
o, e a, e por isso se diz :
abranjo, afflijo ; abranja, afflija, em
lugar de abrango, affligo ; abranga,
affliga
.

Os verbos crer, e ler, a que hoje
se accrescenta hum i, ou y, na primeira
pessoa do presente do indicativo,
pronunciando-se creio, leio, e na
primeira, e terceira do presente do
conjunctivo, creia, leia, parece desnecessario
havelos por irregulares sem
outro motivo mais que huma tão accidental
innovação.

O mesmo passa a respeito dos verbos
da primeira conjugação, que no
144infinito tem por letra radical e, como :
afear, enlear, galantear, recear,
&c. posto que nas mesmas pessoas
dos sobreditos tempos de crer, e ler,
se lhes tenha modernamente introduzido
o i ou y.

Isto assentado, passemos a mostrar
a irregularidade daquelles verbos, que
nas diversas terminações de tempos,
e pessoas admittem mudança, ou antes,
ou depois das letras radicaes. De
huma, e outra cousa se fará sómente
expressa menção. As pessoas, que deixão
de se declarar, seguem todas a
conjugação regular, ou dellas carecem
os ditos verbos.

Verbos irregulares.
Da primeira Conjugação em ar.

Alumiar.

Este verbo tem irregularidade,
quando se considera (segundo hoje se
usa) sómente escrito com a letra radical
i, e não com e ao modo antigo.
Por esta causa elle alumêa, ou alumeia,
145elles alumêão
, ou alumeião nos
presentes do indicativo, e conjunctivo ;
alumèa, ou alumeia tu, alumêe,
ou alumeie elle, alumeem, ou alumeiem
elles
, no imperativo se reputão
terminações irregulares. Dellas usão
bons Autores, e o adagio : O ignorante,
e a candêa a si queima, e a
outros
alumêa. (1)263 Muitos porém dos
nossos Classicos dizem alumia, &c.
e o P. Vieira ainda que de ordinario
assim diga, algumas vezes usa de alumêa,
&c.

Dar.

Indicativo.

Pres. Eu dou. Pret. perf. Tu déste,
elle deo, nos demos, vós déstes, elles
dérão. Pret. mais que perf. Eu déra,
tu déras, elle déra, nós deramos, vós
déreis, elles dérão.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pret. imperf. Eu déra…ou désse, tu
déras…ou désses, elle déra…ou désse,
146nós déramos…ou déssemos, vós
déreis…ou désseis, elles dérão…
ou déssem. Pret. mais que perf. He
como o precedente, e carece da terminação
em ria, que alli se omittio
por ser regular. Fut. Eu dér, tu déres,
elle dér, nós dérmos, vós dérdes,
elles dérem.

Estar.

Indicativo.

Pres. Eu estou. Pret. perf. Eu estive,
tu estiveste, elle esteve, nós estivémos,
vós estivestes, elles estiverão.
Pret. mais que perf. Eu estivera, tu
estiveras, elle estivera, nós estiveramos,
vós estivereis, elles estiverão.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pret. imperf. Eu estivera…ou estivesse,
tu estiveras…ou estivesses,
elle estivera…ou estivesse, nós estiveramos…
ou estivessemos, vós estivereis…
ou estivesseis, elles estiverão…
ou estivessem. Pret. mais que
147perf
. Tem as mesmas duas antecedentes
terminações. Fut. Eu estiver, tu
estiveres, elle estiver, nós estivermos,
vós estiverdes, elles estiverem.

NOTA. Ainda que nos dous sobreditos
verbos a II, e III. pess. do
pres. do indicat. dás, dá, estás, está,
e a II. do sing. do imperat. dá,
está, se pronunciem com a de som
aberto ; e o e na II, e III pess. do
sing., e na III do plur. do pres. do
conjunct. tenha som fechado, dés, dé,
dém
, e antigamente estês, estê, estêm,
assim como o tem nas duas terceiras
em ambos os numeros do imperat.
visto que estas terminações,
quanto ao mais, são regulares, por
isso se supprimirão acima nos seus
competentes lugares.

Verbos irregulares.
Da segunda conjugação em er.

Caber.

Este verbo admitte hum i antes
do b radical na 1. pessoa do sing. do
148pres. do indicat. na III do sing. na
I. e III do plur. do imperat., e em
todas as do pres. do conjunct. Igualmente
troca o a em ou em todos os
seus preteritos, e no fut. do conjunct.
pelo modo seguinte.

Indicativo.

Pres. Eu caibo. Pret. perf. Eu coube,
tu coubeste, elle coube, nós coubemos,
vós coubestes, elles couberão.
Pret. mais que perf. Eu coubera, tu
couberas, elle coubera, nós couberamos,
vós coubereis, elles couberão.

Imperativo.

Pres. ou fut. Caiba elle, caibamos
nós, caibão elles.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pres. Eu caiba, tu caibas, elle caiba,
nós caibamos, vós caibais, elles caibão.
Pret. imperf. Eu coubera…ou
coubesse, tu couberas…ou coubesses,
elle coubera…ou coubesse, nós couberamos…
149ou coubessemos, vós coubereis…
ou coubesseis, elles couberão,
ou coubessem. Pret. mais que
perf
. Tem as mesmas duas antecedentes
terminações em todas as pessoas.
Fut. Eu couber, tu couberes, elle couber,
nós coubermos, vós couberdes,
elles couberem.

Dizer.

Indicativo.

Pret. Eu digo, elle diz. Pret. perf.
Eu disse, tu disseste, elle disse, nós
dissemos, vós dissestes, elles disserão. (*)264
Pret. mais que perf. Eu dissera,
tu disseras, elle disseras, nós disseramos,
vós dissereis, elles disserão. Fut.
Eu direi, tu dirás, elle dirá, nós diremos,
vós direis, elles dirão.

Imperativo.

Pres., ou futur. Diga elle, digamos
nós, digão elles.150

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pres. Eu diga, tu digas, elle diga,
nós digamos, vós digais, elles digão.
Pret. imperf. Eu dissera, diria, ou
dissesse ; tu disseras, dirias, ou dissesses ;
elle dissera, diria, ou dissesse ;
nós disséramos, diriamos, ou dissessemos ;
vós dissereis, dirieis, ou dissesseis ;
elles disserão, dirião, ou dissessem.
Pret. mais que perf. Tem a
primeira, e terceira terminação do tempo
precdente. Fut. Eu disser, tu disseres,
elle disser, nós dissermos, vós
disserdes, elles disserem.

Participio passivo.

Dito, dita. Deste participio com
a terminação em o, e dos verbos auxiliares
ter, e haver, se formão os
tempos compostos. A irregularidade
do sobredito verbo, seguem os seus
compostos, bemdizer, contradizer,
desdizer, maldizer, predizer
.151

Fazer.

Indicativo.

Pres. Eu faço, (*)265 elle faz. Pret. perf.
Eu fiz, tu fizeste, elle fez, nós fizemos,
vós fizestes, elles fizerão. Pret.
mais que perf. Eu fizera, tu fizeras,
elle fizera, nós fizeramos, vós fizereis,
elles fizerão. Fut. Eu farei, tu farás,
elle fará, nós faremos, vós fareis, elles
farão.

Imperativo.

Pres., ou fut. Faça elle, façamos nós,
fação elles.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pres. Eu faça, tu faças, elle faça,
nós façamos, vós façais, elles fação.
Pret. imperf. Eu fizera, faria, ou fizesse ;
tu fizeras, farias, ou fizesses ;
elle fizera, faria, ou fizesse ; nós
fizéramos, fariamos, ou fizessemos ; vós
fizereis, farieis, ou fizesseis ; elles fizerão
152farião, ou fizessem. Pret. mais
que perf
. Conforma-se ao precedente
nas duas terminações em ra, e se. Fut.
Eu fizer, tu fizeres, elle fizer, nós fizermos,
vós fizerdes, elles fizerem.

Participio passivo.

Feito, feita. Delle se formão os
tempos compostos pelo modo já declarado
no participio do verbo Dizer.
A irregularidade sobredita passa inalteravel
do simples a todos os seus
compostos, como : contrafazer, desfazer,
prefazer, rarefazer, refazer,
satisfazer
.

Jazer.

Este verbo he defectivo, e tambem
irregular em algumas pessoas dos
seguintes modos. As pessoas, de que
se faz menção, sómente são aquellas,
de que se acharão exemplos.153

Indicativo.

Pres. Eu jaço, (1)266 elle jaz, vós jazedes. (2)267
Pret. perf. Tu jouveste,
elle jouve, (3)268 nós jouvemos, (4)269.
vós jouvestes, (5)270 elles jouverão. (6)271
Fut. Nós jaremos, (7)272 elles jarão. (8)273

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pres. Elle jaça, (9)274 elles jação. (10)275154

Pret. mais que perf. Eu jouvesse, (1)276
elles jouvessem. (2)277 Fut. Elles jouverem. (3)278

Poder.

Este verbo além de ser irregular
em algumas pessoas nos tempos do indicativo,
e conjunctivo, como se mostrará
abaixo, muda o o radical em o em u
em todas as pessoas dos preteritos, e
nas do futuro do conjunctivo. Dos preteritos
apenas se exceptua no perfeito
do indicativo a terceira pessoa do singular,
que se pronuncia com o fechado,
pôde, para differença de póde,
com o aberto, terceira pessoa do presente.
A segunda terminação do preterito
imperfeito em ria no conjunctivo
he tambem exceptuada, porque segue
a conjugação regular em todas as
pessoas.

Indicativo.

Pres. Eu posso. Pret. perf. Eu pude,
tu pudeste, elle pôde, nós pudemos,
155vós pudestes, elles pudérão. Pret. mais
que perf
. Eu pudéra, tu pudéras, elle
pudéra, nós pudéramos, vós pudéreis,
elles pudérão.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pres. Eu possa, tu possas, elle possa,
nós possamos, vós possais, elles
possão. Pret. imperf. Eu pudéra…
ou pudesse, tu pudéras… ou pudesses,
elle pudéra… ou pudesse, nós
pudéramos…ou pudessemos, vós pudéreis…
ou pudesseis, elles pudérão…
ou pudessem. Pret. mais que
perf
. Conjuga-se em todas as pessoas
como o antecedente sem a terminação
em ria. Fut. Eu puder, tu pudéres,
elle puder, nós pudermos, vós puderdes,
elles pudérem.

Prazer.

Este Verbo como impessoal, só se
usa nas terceiras pessoas do singular,
e tem a irregularidade seguinte.156

Indicativo.

Pres. Praz. Pret. perf. Prouve. Pret.
mais que perf. Prouvéra. Fut. Prouverá.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pret. imperf. e mais que perf. Prouvéra,
prouvesse. Fut. Prouver. A mesma
irregularidade se dá nos seus compostos
aprazer, desaprazer.

Querer.

Indicativo.

Pres. Elle quer. (*)279 Pret. perf. Eu
quis, tu quizeste, elle quiz, nós quizemos,
vós quizestes, elles quizerão.
Pret. mais que perf. Eu quizera, tu
quizeras, elle quizera, nós quizéramos,
vós quizereis, elles quizerão.157

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pres. Eu queira, tu queiras, elle queira,
nós queiramos, vós queirais, elles
queirão. Pret. imperf. Eu quizera…
ou quizesse, tu quizeras… ou quizesses,
elle quizera… ou quizesse, nós
quizeramos… ou quizessemos, vós
quizereis… ou quizesseis, elles quizerão…
ou quizessem. Pret. mais que
perf
. Tem as duas precedentes terminações
em todas as pessoas. Fut. Eu
quizer, tu quizeres, elle quizer, nós
quizermos, vós quizerdes, elles quizerem.

Saber.

Indicativo.

Pres. Eu sei. Pret. perf. Eu soube,
tu soubéste, elle soube, nós soubémos,
vós soubestes, elles souberão.
Pret. mais que perf. Eu soubéra, tu
soubéras, elle soubéra, nós soubéramos,
vós soubéreis, elles soubérão.158

Imperativo.

Pres. ou fut. Saiba elle, saibamos
nós, saibão elles.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pres. Eu saiba, tu saibas, elle saiba,
nós saibamos, vós saibais, elles saibão.
Pret. imperf. Eu soubéra… ou
soubesse, tu soubéras… ou soubesses,
elle soubéra… ou soubesse, nós soubéramos…
ou soubessemos, vós
soubéreis… ou soubesseis, elles soubérão…
ou soubessem. Pret. mais que
perf
. Como o precedente. Fut. Eu souber,
tu souberes, elle souber, nós soubermos,
vós souberdes, elles souberem.

Trazer.

Indicativo.

Pres. Eu trago, elle traz. Pret. perf.
Eu trouxe, tu trouxeste, elle trouxe,
nós trouxemos, vós trouxestes, elles
159trouxerão. (*)280 Pret. mais que perf.
Eu trouxéra, tu trouxéras, elle trouxéra,
nós trouxéramos, vós trouxéreis,
elles trouxérão. Fut. Eu trarei, tu trarás,
elle trará, nós traremos, vós trareis,
elles trarão.

Imperativo.

Pres., ou fut. Traga elle, tragamos
nós, tragão elles.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pres. Eu traga, tu tragas, elle traga,
nós tragamos, vós tragais, elles tragão.
Pret. imperf. Eu trouxera, traria,
ou trouxesse ; tu trouxéras, trarias,
ou trouxesses ; elle trouxéra, traria,
ou trouxesse ; nós trouxéramos, trariamos,
ou trouxessemos ; vós trouxéreis,
trarieis, ou trouxesseis ; elles trouxérão,
160trarião, ou trouxessem. Pret. mais
que perf
. Eu trouxéra, ou trouxesse.
As demais pessoas como as precedentes
nas duas terminações. Fut. Eu trouxer,
tu trouxeres, elle trouxer, nós
trouxermos, vós trouxerdes, elles trouxerem.

Valer.

Pres. Eu valho, elle val.

Imperativo.

Pres., ou fut. Valha elle, valhamos
nós, valhão elles.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pres. Eu valha, tu valhas, elle valha,
nós valhamos, vós valhais, elles valhão.

Segue a irregularidade deste verbo
o seu composto equivaler.161

Ver.

Indicativo.

Pres. Eu vejo, vós vedes. Pret. perf.
Tu viste, elle vio, nós vimos, vós
vistes, elles virão. Pret. mais que perf.
Eu víra, tu víras, elle víra, nós víramos,
vós vireis, elles virão.

Imperativo.

Pres., ou fut. Veja elle, vejamos nós,
vejão elles.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pres. Eu veja, tu vejas, elle veja, nós
vejamos, vós vejais, elles vejão. Pret.
imperf. Eu vira… ou visse, tu viras…
ou visses, elle víra… ou visse,
nós víramos… ou vissemos, vós víreis…
ou visseis, elles vírão… ou
vissem. Pret. mais que perf. Como as
terminações precedentes. Fut. Eu vir,
tu vires, elle vir, nós virmos, vós
virdes, elles virem.162

Participio passivo.

Visto, vista.

Com a mesma irragularidade se
conjugão os seus compostos, antever,
prover, rever
.

Arder, e Morrer.

Ambos estes verbos tiverão antigamente
a seguinte irregularidade. Pres.
do Indicat. Eu arço ; eu mouro. Imperat.
Arça elle, arção elles ; noura
elle, mourão elles. Pres. do conjunct.
Elle arça, elles arção ; elle moura,
elles mourão. Isto he tão frequente nos
nossos melhores AA. do Seculo XVI.
que por isso se não comprova com autoridades.

Verbos irregulares.
Da terceira conjugação em ir.

[Verbos como Medir, Pedir]

Os verbos, que tem e antes da radical
d, como medir, pedir, mudão
o d em c nos tempos, e pssoas seguintes.163

Indicativo.

Pres. Eu meço ; eu peço.

Imperativo.

Pres., ou fut. Meça elle ; peça elle,
meção elles, peção elles.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pres. Eu meça, ou peça, tu meças,
ou peças, elle meça, ou peça, nós
meçamos, ou peçamos, vós meçais,
ou peçais, elles meção, ou peção. (*)281

Despedir, e Impedir mudão o e
em i em algumas pessoas dos seguintes
tempos. Pres. do indicat. Eu despido,
ou me despido ; eu impido. Imperat.
Despide, ou despide-te tu ; impide
tu ; despida, ou despida-se elle ;
impida elle ; despidão, ou despidão-se
164elles ; impidão elles. Pres. do conjunct.
Eu despida, ou me despida,
eu impida, &c. (*)282

Os verbos, em que a letra e se
antepõe ás radicaes g, p, r, t, v,
como : fregir, despir, ferir, mentir,
servir
, mudão o dito e em i na I.
pess. do pres. do indicat. nas III do
sing., e plur. do imperat., e em todas
do pres. do conjunctivo.

Como as terceiras do imperativo
em ambos os números tem a mesma
configuração das duas taes do conjunctivo,
por ellas se devem regular na
subsequente lista dos verbos acima declarados,
em que se dá a referida irregularidade.

Pres. Do indicat. Do conjunct.

Advertir. | advirto. | advirta.
Assentir. | assinto. | assinta.
Competir. | compito. | compita.
Conferir. | confiro. | confira.
Conseguir. | consigo. | consiga.
Consentir. | consinto. | consinta.
165Deferir. | defiro. | defira.
Desconsentir. | desconsinto. | desconsinta.
Desmentir. | desminto. | desminta.
Despir. | dispo. | dispa.
Dissentir. | dissinto. | dissinta.
Enxerir. | enxiro. | enxira.
Ferir. | firo. | fira.
Fregir. | frijo. | frija,
Mentir. | minto. | minta.
Preseguir. | presigo. | presiga.
Presentir. | presinto. | presinta.
Proseguir. | prosigo. | prosiga.
Referir. | refiro. | refira.
Repetir. | repito. | repita.
Resentir. | resinto. | resinta.
Seguir. | sigo. | siga.
Sentir. | sinto. | sinta.
Vestir. | visto. | vista. (*)283

Os verbos, em que precede o ás
radicaes br, e rm, como : cobrir,
descobrir, encobrir, dormir
, mudão
o dito o em u na I. pess. do pres. do
indicat. eu cubro, eu durmo, e na III
do sing. I, e III do plur. do imperat.
cubra ella, durma elle ; cubramos
166nós, durmamos nós ; cubrão elles,
durmão elles
. A mesma mudança
se faz em todas as pessoas do pres. do
conjunct. eu cubra, ou durma, tu cubras,
ou durmas
, &c. Outro tanto
succede aos dous compostos descobrir,
e encobrir. (*)284

Os verbos, em que as letras radicaes,
b, d, g, l, m, p, ss, st,
são precedidas de u, ou o mesmo u
he a radical, mudão o tal u em o, na
II pess. do sing. do pres. do indicat.
e nas III. do dito tempo em ambos
os números, e assim tambem na II.
do imperat. Por esta causa subir, acudir,
sacudir, fugir, bulir, engulir,
sumir, consumir, cuspir, tussir,
construir, destruir
, se conjugão no
pres. do indicat. tu sobes, elle sobe,
elles sobem
, e no imperat. sobe tu, e
da mesma sorte todos os outros. Exceptua-se
presumir, que por inteiro
he regular. (**)285167

Os verbos, que tem u antes da radical
z, perdem o e final na III. pessoa
do pres. do indicat. Taes são :
conduzir, deduzir, induzir, produzir,
reduzir, traduzir, luzir
, e os
compostos deste, reluzir, trasluzir,
dizendo-se : elle conduz, elle deduz,
&c. (*)286

Nos seguintes verbos dá-se a irregularidade,
que mostrão os tempos,
pessoas pelo modo abaixo declarado.

Ir.

Este verbo he o mais irregular de
todos na nossa lingoa. Alguns dos seus
tempos nenhuns vestigios conservão do
infinito, e por isso se põe aqui a sua
inteira conjugação.

Indicativo.

Pres. Eu vou, tu vás, elle vai, nós
imos (**)287,ou vamos, vós ides,
168 (*)288 elles vão. Pret. imperf. Eu hia, tu
hias, elle hia, nós hiamos, vós hieis,
elles hião. Pret. perf. Eu fui, tu foste,
elle foi, nós fomos, vós fostes,
elles forão. Pret. mais que perf. Eu
fora, tu foras, elle fora, nós foramos,
vós foreis, elles forão. Fut. Eu irei,
tu irás, elle irá, nós iremos, vós ireis,
elles irão.

Imperativo.

Pres., ou fut. Vai tu, vá elle, vamos
nós, ide vós, (**)289 vão elles.169

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pres. Eu vá, tu vás, elle vá, nós vamos,
vós vades, elles vão. Pret. imperf.
Eu fora, iria, ou fosse ; tu foras,
irias, ou fosses ; elle fora, iria,
ou fosse ; nós foramos, iriamos, ou
fossemos ; vós foreis, irieis, ou fosseis ;
elles forão, irião, ou forão.
Pret. mais que perf. Eu fora, ou fosse.
Seguem-se as demais pessoas com as
suas competentes terminações. Fut. Eu
for, tu fores, elle for, nós formos,
vós fordes, elles forem.

Infinito.

Pres. Ir. Part. passivo. Ido, ida. Gerundio.
Indo.170

Ouvir.

Este verbo tem irregularidade na
I. pess. do pres. do indicat. eu ouço :
nas III em ambos os números do imperat.
ouça elle, oução elles ; e na I.
do plur. ouçamos nós. Tambem a tem
nas pessoas todas do pres. do conjunct.

Vir.

Este verbo se conjuga por inteiro
em razão da sua muita irregularidade.

Indicativo.

Pres. Eu venho, tu vens, elle vem,
nos vimos, vós vindes, elles vem. Pret.
imperf. Eu vinha, tu vinhas, elle vinha,
nós vinhamos, vós vinheis, elles
vinhão. Pret. perf. Eu vim, tu vieste,
elle veio, nós viemos, vós viestes,
elles vierão. Pret. mais que perf.
Eu viera, tu vieras, elle viera, nós
vieramos, vós viereis, elles vierão.
Fut. Eu virei, tu virás, elle virá, nós
viremos, vós vireis, elles virão.171

Imperativo.

Pres., ou fut. Vem tu, venha elle,
venhamos nós, vinde vós, venhão elles.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pres. Eu venha, tu venhas, elle venha,
nós venhamos, vós venhais, elles
venhão. Pret. imperf. Eu viera, viria,
ou viesse ; tu vieras, virias, ou viesses ;
elle viera, viria, ou viesse ; nós
vieramos, viriamos, ou viessemos ; vós
viereis, virieis, ou viesseis ; elles vierão,
virião, ou viessem. Pret. mais
que perf
. Eu viera, ou viesse. As outras
pessoas conjugão-se com as terminações
correspondentes ás do tempo
acima posto. Fut. Eu vier, tu vieres,
elle vier, nós viermos, vós vierdes,
elles vierem.

Infinito.

Pres. Vir. Part. passivo. Vindo, vinda.
Gerundio. Vindo.

Igual irregularidade guardão os seus
172compostos, avir, convir, desavir,
desconvir, intervir, sobrevir
.

Pôr.

Este verbo por isso que não pertence
a nenhuma das conjugações regulares,
se conjuga inteiramente sobre si
como irregular.

Indicativo.

Pres. Eu ponho, tu pões, elle põe,
nós pomos, vós pondes, elles põe.
Pret. imperf. Eu punha, tu punhas,
elle punha, nós punhamos, vós punheis,
elles punhão. Pret. perf. Eu
puz, tu puzeste, elle pôs, nós puzemos,
vós puzestes, elles puzerão. Pret.
mais que perf. Eu puzera, tu puzeras,
elle puzera, nós puzeramos, vós
puzereis, elles puzerão. Fut. Eu porei,
tu porás, elle porá, nós poremos,
vós poreis, elles porão.

Imperativo.

Pres., ou fut. Põe tu, ponha elle,
173ponhamos nós, ponde vós, ponhão
elles.

Subjunctivo, ou Conjunctivo.

Pres. Eu ponha, tu ponhas, elle ponha,
nós ponhamos, vós ponhais,
elles ponhão. Pret. imperf. Eu puzera,
poria, ou puzesse ; tu puzeras,
porias, ou puzesses ; elle puzera, poria,
ou puzesse ; nós puzeramos, poriamos,
ou puzessemos ; vós puzereis,
porieis, ou puzesseis ; elles puzerão,
porião, ou puzessem. Pret. mais que
perf
. Eu puzera, ou puzesse. Segue
nas demais pessoas as duas terminações
precedentes. Fut. Eu puzer, tu puzeres,
elle puzer, nós puzermos, vós
puzerdes, elles puzerem.

Infinito.

Pres. Pôr. Part. passivo. Posto, posta.
Gerundio. Pondo.

Todos os verbos compostos de
pôr, se conjugão como o seu simples,
taes são : antepôr, compôr, depôr,
descompôr, dispôr, expôr, impôr, indispôr
174interpôr, oppôr, prepôr, presuppôr,
propôr, pospôr, repôr, sobrepôr,
suppôr, transpôr
.

A' exceição de depôr, e oppôr,
que tem participio activo, depoente,
e oppoente, os demais todos carecem
delle.

Os tempos compostos dos sobreditos
verbos irregulares, observão a
norma geral de composição, acima
expressa nos verbos regulares.

Capitulo VI.
Do Participio.

§. I.
Da sua definição, e divisão.

Participio he hum nome adjectivo,
que tem algumas propriedades
do verbo, de que se forma. Taes
são amante, e amado, ambos formados
do verbo amar.

Chama-se participio, porque participa
da natureza do nome, e da natureza
do verbo.175

Participa da natureza do nome adjectivo,
porque serve para qualificar
os substantivos, e muitas vezes tem
hum masculino, e hum feminino, hum
singular, e hum plural, como : homem
amante da verdade, e temente a Deos
 :
justiça amada pelo innocente, e temida
pelo criminoso
. A qualquer destes
se póde igualmente dar hum plural, a
que se refira.

Participa da natureza do verbo,
de que se deriva, tanto na formação,
como na significação.

O participio divide-se em activo,
e passivo. Activo he o que significa
acção, como : amante, temente, ouvinte.
Passivo he o que significa paixão,
como : amado, temido, ouvido.

Os participios activos formados de
verbos da primeira conjugação acabão
em ante, como : amante ; os da segunda,
em ente, como : temente ; e
os da terceira, em ente, ou inte, como :
assistente, ouvinte.

Os participios passivos formados
de verbos da primeira conjugação, acabão
em ado, como : amado ; e os da
segunda, e terceira em ido, como : temido,
conseguido
.176

Huns, e outros designão o tempo
da sua acção por meio dos verbos
expressos, ou subentendidos, com que
se ajuntão, por exemplo : he amante,
e he amado significão tempo presente :
era amante, e era amado significão
preterito imperfeito, e assim os demais.

Ha quantidade de participios passivos
irregulares na terminação. Os
mais notaveis são os seguintes : Aberto,
absolto, absoluto, acceito, afflicto,
coberto
, e os seus compostos,
descoberto, encoberto, confesso, confuso,
defeso, desperto, dito, e os seus
compostos bemdito, contradito, &c
.
diviso, escrito, excluso, expresso,
farto, feito
, e os seus compostos,
contrafeito, desfeito, &c. incluso,
morto, oppresso, posto, e os seus
compostos, anteposto, deposto, &c
.
prezo, professo, roto, solto, visto,
e os seus compostos, antevisto, previsto,
&c.

Alguns destes deixão a sobredita
terminação, e tomão a regular dos
verbos, de que procedem, quando,
ou com algum dos verbos auxiliares
177servem para lhes formar os tempos
compostos, ou com o verbo ser a voz
passiva. Daqui vem dizer-se : o réo
foi confundido com as provas do seu
delicto, e o
tem confessado : havendo
despertado do somno : tem-se
fartado de fruta : muitos complices
são incluidos no crime : os culpados
forão recolhidos ao carcere, e tem-se
soltado os innocentes.

Quando porém estes participios
se usão com outros verbos, de ordinario
requerem a terminação irregular,
e assim se diz : o réo ficou confuso,
e se acha confesso : estou desperto,
farto : o requerimento vai incluso no
memorial
 : os culpados conservão-se
reclusos no carcere, e os innocentes
achão-se soltos.

Outros participios ha, os quaes tem
terminação passiva, e significação activa.
Entre elles merecem particular advertencia
os seguintes :

Acreditado, a, que tem credito, e boa
reputação
.

Agradecido, que agradece.

Atrevido, que se atreve, ousado, ou
petulante
.178

Arriscado, que arrisca, ou se arrisca.

Arrufado, que se arrufa.

Calado, que cala, ou sabe calar.

Cansado, que cansa, ou he enfadonho
na sua conversação
.

Comedido, que tem comedimento.

Confiado, que confia.

Considerado, que considera.

Costumado, que costuma.

Crescido, que cresceo.

Desconfiado, que desconfia.

Desenganado, que desengana.

Desesperado, que desespera.

Despachado, diligente, expedito.

Determinado, que se determina.

Dissimulado, que dissimula.

Encolhido, que tem encolhimento, ou
covardia
.

Engraçado, que tem graça.

Entendido, que tem entendimento.

Esforçado, que tem esforço.

Fingido, que finge.

Lido, que lê, ou tem lido muito.

Moderado, que tem moderação.

Occupado, que tem occupações.

Ousado, que tem ousadia.

Parecido, que se parece, ou tem semelhança
com outro
.179

Pausado, que procede, ou obra com
pausa
.

Precatado, que tem precaução.

Prezado, que se preza do que faz,
ou diz
.

Presumido, que presume, ou tem presunção.

Recatado, que tem recato, ou cautela.

Sabido, que sabe muito.

Sentido, que sente muito qualquer
pezar, ou offensa
.

Soffrido, que tem soffrimento.

Valido, que tem valimento.

Assim fallando de si, e do seu
tempo, diz hum dos nossos antigos
escritores : (1)290

Vimos os mui comedidos
Não lembrarem se nascêrão
E os mui entremettidos
Vimos em cousas mettidos,
Que elles nunca merecérão.

Os sobreditos participios, e varios
outros, que tem esta mesma propriedade,
igualmente se usão em significação
passiva, todas as vezes, que assim
180o pede o sentido da oração, e
delle só deve tirar-se o conhecimento
de huma tal differença.

O uso entre nós não permitte formar
de todos os verbos participios
activos. Nisto se portárão os Antigos
com mais liberdade, tanto assim, que
de muitos por elles usados deixámos
de nos servir. (*)291

Participios activos rigorosamente
taes, são os que conservão a regencia
dos seus verbos. Destes participios apenas
existem alguns poucos na nossa lingoa.
Os principaes são os seguintes :
Assistente em : bastante a : correspondente
a : existente em : participante de
 :
passante de : pertencente a : residente em :
semelhante a : temente a. (**)292

Homem, que não virdes temente
a Deos, zombai de toda a sua discrição. (1)293181

Tambem entrão neste número,
obstante, e tocante, nas expressões,
isto não obstante, no, ou pelo tocante
a isto
 ; e da mesma sorte os que
precedidos da voz, em que exercitão
a sua acção se reputão commummente
dicções compostas, como : mal-dizente,
mal-fazente, missa-cantante
, (1)294
&c.

Os demais participios, em que não
ha a regencia dos seus verbos, passão
a ser adjectivos verbaes, como : amante
de, ouvinte de
, &c. Estes taes,
supprimindo-se pela figura ellipsis o
seu substantivo, deste frequentemente
tomão a natureza, e até mesmo admittem
a concordancia de qualquer outro
adjectivo, e assim se diz : hum amante
cego, hum ouvinte attento
, &c.

O credito do estudante consiste
em ser
bom estudante. (2)295

A terminação dos participios activos
he sempre em e para os dous generos
em ambos os números.

Os participios dos verbos neutros,
posto que impropriamente, chamão-se
182todavia por força do costume, activos,
e passivos, e assim está em uso
nomear vivente, participio activo, e
vivido, participio passivo.

Os participios passivos não menos
que os activos humas vezes se usão
como adjectivos verbaes, e outras como
substantivos. São adjectivos, quando
se diz : hospede bem, ou mal agasalhado ;
lugar povoado, campos semeados,
ou terras semeadas, &c. porém
a dizer-se : hum agasalhado gostoso ;
o povoado ; os semeados, ou as
semeadas, (1)296 &c. vem por este modo
a ter uso de substantivos.

§. II.
Do uso do participio passivo.

O Participio passivo ajunta-se com
os verbos auxiliares ter, ou haver,
para formar os tempos compostos
do verbo, de que procede, como :
tem tido, ou havido, &c. Desta maneira
não tem plural, nem terminação
183feminina, porque se considera unido
aos ditos verbos auxiliares.

Por tanto, ou o agente do verbo
seja hum só, ou sejão muitos, sempre
o participio conserva invariavel a
terminação em o, sem respeitar, nem
o número, nem o genero do referido
agente. Isto mesmo se observa com o
termo da acção do verbo. Assim, ou
se falle de huma, ou de muitas pessoas
de qualquer dos dous sexos, igualmente
se diz : que tem merecido premio,
ou premios, mercê, ou mercês
. (*)297

Algumas vezes porém se acha o
participio passivo concordado em terminação,
e numero com o termo da
acção, ou significação do verbo. Assim
184o mostrão os tres seguintes exemplos,
além de muitos outros, que se
encontrão em bons Autores, e por
brevidade se omittem.

Coge Çofar chegado a Dio, foi ter
com elRei Radur, por feitor de Raez
Soleimão, por lhe ter dados muitos
presentes da parte de seu amo, e
dadas
muitas esperanças de elle ir com
huma grande armada pera lançarem
os Portuguezes da India
. (1)298

O verdadeiro amigo na adversidade
se acha mais perto, e aquelle
casa visita de melhor vontade, que a
prospera fortuna
tem desemparada. (2)299

Basta que hum tenha recebida huma
obra boa, para se obrigar a dizer
bem de quem lha fez
. (3)300

Tambem se usa do participio passivo,
quando junto elle ao verbo ser,
suppre assim a voz passiva dos verbos.
Por este modo se lhe dá a concordancia
de genero, e número com o agente
do sobredito verbo. exemplos : Se
185vossos serviços são mal
premiados,
baste-vos saber que são bem conhecidos. (1)301

Olhe bem cada hum por si,
Que estes bens falsos daqui,
Se não são mandados, mandão. (2)302

Ultimamente se usa do participio
passivo, como de qualquer adjectivo,
concordando-o com o substantivo, que
qualifica em genero, e numerom e assim
se diz : homem honrado ; gente
perdida ; bens herdados ; lagrimas derramadas
.

Muito melhor herdados ficão os filhos
criados em bons costumes, que
na esperança de herdar muita fazenda
. (3)303186

Capitulo VII.
Do Adverbio.

Adverbio he huma palavra,
que se ajunta ao verbo para lhe
modificar, e determinar a significação
com alguma circunstancia.

Assim dizendo-se : dorme, acorda,
estuda
, a significação de qualquer
destes verbos he simples, e não tem
circunstancia alguma, que a modifique ;
porém dizendo-se : dorme pouco, acorda
cedo, estuda muito
, o significado
de cada hum dos referidos verbos, se
modifica então pela circunstancia, que
exprime o adverbio, que se lhe ajunta,
e por este meio se determina o
sentido, que singularmente lhe convem.

O mesmo passa a respeito dos adverbios,
que se ajuntão aos verbos nos
dous exemplos seguintes :

Não merece menos, quem bem,
e fielmente aconselha, que quem animosamente
peleja. (1)304187

A's vezes se diz bem, melhór, e mal,
Assim
se faz o livro.
(1)305

Adverbio quer dizer palavra junta
ao verbo
. esta voz veio-nos da Latina
adverbium, que se forma de ad,
junto, e de verbum, o verbo. Denomina-se
assim, porque como o seu
mais frequente uso (segundo fica dito)
consiste em modificar a significação do
verbo, não deve por conseguinte estar
delle remoto.

Sem embargo disto, o adverbio
pelo sobredito modo se ajunta igualmente
ao nome, e até mesmo a outro
adverbio, como : verdadeiramente Rei ;
assás douto ; bem aproveitado ; assim
como ; tanto mais, &c.

O adverbio he huma palavra simples,
ou huma expressão abbreviada
com o mesmo valor de huma preposição,
e de hum nome. Pelo que sabiamente
vem a dizer o mesmo que
com sabedoria ; ahi, o mesmo que nesse
lugar
 ; onde, o mesmo que no qual
lugar
, ou em que lugar, &c.

Os adverbios reduzem-se ordinariamente
188a seis classes, e segundo a
circunstancia, com que elles modificão,
ou determinão a significação
dos verbos, são denominados.

I. De tempo, quaes são os que respondem
á pergunta quando ? Como :
agora, logo, hoje, hontem, cedo, tarde,
depois, nunca, sempre
, &c.

O mais supremo bem que hoje se alcança,
A' manhã logo dentre as mãos vos foge :
Não ha mais certo mal que em bens mudança,
Se hontem tristes alegre, chorais hoje.
(1)306

II. De lugar : como : aqui, alli,
ahi, cá, lá, acolá, onde, dentro, fóra,
perto, longe
, &c.

A virtude onde está, por si se manifesta. (2)307

III. De modo, ou de qualidade,
como : bem, mal, assim, fielmente,
verdadeiramente
, &c.

Todo o homem, que emprega bem
a vida, vive muito, por cedo que
morra
. (3)308189

IV. De quantidade, como : muito,
pouco, assás
, &c.

Os que vivem sem fructo da Republica,
diremos, que durárão
muito,
mas que vivêrão pouco. (1)309

O cobiçoso, e cego se cative
De seu ouro, sem Deos ajunte, e guarde,
Que nunca guardar muito por bom tive.
(2)310

V. De comparação, como : mais,
menos, melhor, peor, como, tanto
,
ou tão, quasi, &c.

São companheiras inseparaveis da
virtude
, como a sombra do corpo,
honra, e fama gloriosa
. (3)311

VI. De ordem ; como : primeiro,
ou primeiramente, antes, depois, ultimamente,
&c.

A mais dura cousa, que tem a
vida, he chegar a pedir, e
depois de
chegar a pedir, ouvir hum Não
. (4)312

Os adjectivos juntos aos verbos na
terminação masculina, usão-se muitas
vezes como adverbios ; porque deste
190modo mais exprimem a circunstancia
de huma acção, que a qualidade de
huma cousa. Taes são por exemplo,
alto, baixo, claro, quando se ajuntão
ao verbo fallar ; rijo, a ferir,
ou bater ; caro, ou barato, a comprar,
e vender, &c.

He sentença antiquissima de todos
os Sabios, que ninguem
comprou
mais caro que quem pedio. (1)313

Os claros corações claro se vêm. (2)314

O adverbio differença-se da preposição,
porque a esta deve seguir-se a
regencia de alguma palavra, que aperfeiçoe
o sentido ; porém o adverbio
não requere depois de si outra alguma
dicção para formar sentido completo.
Daqui vem que a mesma voz se
póde considerar humas vezes como adverbio,
e outras como preposição. Assim
perto, e longe são adverbios, a
dizer-se por exemplo : Fulano mora
perto, ou longe ; e preposições, quando
se diz : Fulano mora perto, ou
longe da Cidade.191

Posto que o adverbio seja huma
palavra simples ; com tudo annexando-lhe
(como de ordinario se faz) huma,
ou mais dicções, se converte em
voz complexa, de tal modo entre si
ligada, que fica parecendo hum só
vocabulo. Por esta razão, segundo o
parecer de algunsm lhe convém o nome
de adverbio composto, assim como :
atégora, atéqui, daqui, dalli,
demais, embora, jámais, antontem,
entretanto, senão
, &c.

E da mesma sorte se devêrão tambem
denominar todos os adverbios de
qualidade, que se formão de hum adjectivo
concordado com esta palavra
mente, que quer dizer vontade, como :
boamente, felizmente, grandemente,
&c.

Nenhuma sciencia se apprende fundadamente
senão em escólas, onde a
conferencia, e emulação põe espéras,
e aviva os engenhos
. (1)315

Estes adverbios de qualidade, quando
concorrem dous, ou mais juntos,
e se ligão com conjunção, ao ultimo
192a este só se ajunta a terminação em
mente, que nos primeiros se subentende ;
assim como : Nem a Deos, nem
aos que estão em seu lugar, se podem
perguntar os porquês : obedecelas sim

muda, e cegamente. (1)316

Porém ás vezes ainda havendo conjunção,
cada hum dos sobreditos adverbios
conserva a sua inteira terminação,
se por este modo se inculca com
mais vigor aquillo, que com elles se
quer expressar, assim como : Vivemos
neste mundo, diz o Apostolo
, sobriamente,
piamente, e justamente. (2)317

Quando esta especie de locuções
consta de palavras soltas, isto he, divididas
humas das outras de maneira,
que qualquer dellas se lê sobre si,
costuma então chamar-se modo, ou
fórmula adverbial, como : a torto, e
a direito ; ao perto e ao longe ; ás
claras, e ás escuras ; de improviso ;
de mais a mais ; des
, ou desde agora ;
em continente, em vão, para logo ;
por demais ; sobre maneira
, ou
sobre modo, &c.193

He por demais cortar os vicios
pola rama, e arrancar os peccados, se
lhe não corteis as raizes tambem ;
que he a ociosidade
. (1)318

Em vão vive, em vão obra, em vão deseja,
Quem o bem, que deseja, a outro não faz. (2)319

Capitulo VIII.
Da Preposição.

Preposição he huma palavra,
a qual com a sua regencia denota
a relação, que humas cousas tem com
outras.

Chama-se preposição do Latim
praeponne, por antesm porque se põe
antes da sua regencia, isto he antes
da palavra, que lhe serve de complemento,
sem a qual o sentido fica
imperfeito. Exemplo : As victorias
dos Portuguezes numa ##########
por Arithmetica, sempre #######
##### a muitos
.

A preposição por, nesse lugar não
194formaria sentido, se a palavra Arithmetica
deixasse de o completar.

A preposição he huma simples palavra,
e por tanto não se deve dar hum
tal nome ao substantivo, que se acha
precedido de huma preposição, e seguido
de outra, como : a respeito de,
em presença de, por causa de, sem
embargo de
, &c.

Verdadeiras preposições, fallando
restrictamente, são as seguintes : a,
ante, após, até, com, contra, de,
des, em, entre, para, perante, por,
segundo, sem, sob, sobre, trás
.

Ha porém outras preposições, que
precedendo ás duas a, e de, servem
de as reger. Taes são, abaixo de,
acima de, além de, após de, atrás
de, conforme a, debaixo de, defronte
de ; dentro de, des de, diante de, fora
de, junto a
, ou de, longe de,
perto de
.

Ainda que as preposições por innumeraveis
modos exprimem as differentes
relações, que as cousas pódem ter
humas com outras ; todavia ##### #####
particularmente se distinguem as que
denotão.195

Lugar, como : a, abaixo de, acima
de, além de, áquem de, perante,
sob, sobre
.

Ordem, como : após, ou após de,
atrás de, depois de, detrás de, diante
de, entre
.

União, isto he, que servem para
aproximar, e unir as cousas, como :
ácerca de, além de, com, conforme,
segundo
.

Separação, como : excepto, fóra,
longe de, salvo, e antigamente salvante,
sem
.

Fim, como : até, para, por.

Especificação, ou distinta expressão,
com que se determinão as cousas
particulares, como a, de, em, v. g.
andar á caça, pelejar a ferro, e a fogo ;
homem de qualidade, Cidade de
Lisboa ; estar em pé, viver em socego.
Qualquer destas preposições especifica,
determina, ou restringe a palavra, a
que se antepõe.

Mas succede muitas vezes, que
huma mesma preposição designa diversas
relações. Por exemplo a preposição
a denota lugar, ordem, fim,
&c. Lugar, como : ir á praça, estar à
196porta ; ordem, como : vêm dous a
dous, caminhão passo a passo, fim da
acção, como : sahir a passeio, pôr-se
a comer, deitar-se a dormir.

Além destas relações especifica varias
outras, as quaes por seu grande
número, a brevidade, que observamos,
não permitte aqui particularizar.

Capitulo IX.
Da Conjunção.

Conjunção he huma palavra,
que serve para ajuntar entre si as
differentes partes do discurso.

As conjunções distinguem-se com
varios nomes. Entre ellas porém as
mais consideraveis nomeão-se copulativas,
disjunctivas, adversativas,
condicionaes, causaes, continuativas
.

Copulativas são as que ajuntão as
palavras, ou proposições dumas com
outras, como : e, nem, antepondo-se-lhe
outra negação, tambem, que, (*)320
197como precedido de assim, ou tanto.
Exemplos :

Pompas e ventos, titulos inchados
Não são descanço, nem mais doce sono.
(1)321

Os trabalhos assim como aperfeiçoão
a virtude
, tambem crião entendimento,
e adelgação o engenho
. (2)322

Com os osso do grande Affonso
de Albuquerque, dizia el Rei Dom
João o III
, que tinha segura a India. (3)323

Quando o coração he nobre, assim
sente o mal alheio
, como o proprio. (4)324

Esta he a injustiça da fama, que
tanto desacredita com o presumido
,
como offende com o verdadeiro. (5)325

Disjunctivas são as que denotão
alternativa no sentido das cousas, de
que se falla, como : ou, já, agora,
ou ora, quer, quando. Exemplos : Hum
dos maiores males, que se póde fazer
198a hum Reino, he, ou desenganar
, ou
encurtar, ou afroxar as esperanças
aos homens ; porque he tirar-lhe o
principal cabedal de que se sustentão
. (1)326

O Rei de Melinde fallando com
o Heroe da Lusiada :

Agora lhe pergunta pelas gentes
De toda a Hesperia ultima, ónde mora ;
Agora pelos povos seus visinhos,
Agora pelos humidos caminhos.
(2)327

Aquelle he prudente, que tem o
meio nas cousas, e no discurso de
sua vida póde soffer tudo o que succede
com animo quieto, e constante

ora seja prospero, ora adverso. (3)328

Nas quaes será que fuja ao que o Ceo tem
Em si determinado,
Quer seja para mal, quer para bem.
(4)329

He bem para notar serem os Japões
entre si tão conformes em todos
seus estilos, que tem posto, e assinalado
199hum dia certo, no qual por
todas as ilhas se deixem as roupas
de hum tempo, e tomem as do outro ;
de tal maneira, que todos a huma
amanhecem vestidos
, quando de verão,
quando de inverno. (1)330

Adversativas são as que atão duas
idéas, ou proposições, mostrando a
opposição, differença, ou restricção,
que se dá na segunda a respeito da
primeira, como : mas, porém, quando,
todavia, se bem, ainda, ainda
que, posto que, e antigamente em que
.
Exemplos : O amor, a amizade verdadeira,
não nas bonanças
, mas na
adversidade se conhece
. (2)331

O cobiçoso, que não he avarento,
serve-se do dinheiro
 ; porém o avarento
em lugar de se servir delle, serve-o
a elle
. (3)332

Não he facil conhecer quaes são os
aduladores, e quaes os amigos de veras
.
Todavia se conhecem huns dos outros
nas adversidades
. (4)333200

He propriedade intrinseca das virtudes
luzirem mais
, quando mais
combatidas, e serem vistas com estimação,
e respeito
, ainda naquelles
tempos, em que florecem os vicios
. (1)334

Que tem o que não tem gosto da vida,
Inda que só do mundo senhor seja.
(2)335

Todos os artigos de nossa santa
Fé, são acerca de nós principios, ou
fundamentos da verdade della, que o
não cremos, ou confessamos assim,
porque cuidemos que o entendemos,
senão por estarmos certos, que o revelou,
e disse Deos a quem
, posto
que não entendamos, he razão, que
creamos
. (3)336

Condicionaes são os que suppõe
necessaria alguma condição para ligarem
entre si os membros de hum discurso,
como : se, senão, quando, como.
Exemplos :

Mais val a carta geita, a pobre herdade,
Que, ó rica Arabia, ó India, o teu thesouro,
Se a justiça se rouba, se á verdade. (4)337201

Quando as mercês não são prova
de ser homem, senão de ter homem ;
e quando não significão valor
, senão
valia ; pouca injuria se faz a quem
se não fazem
. (1)338

Quão doce he o louvor, e a justa gloria
Dos proprios feitos, quando são soados.
(2)339

A cobiça se emprega nas mais humildes,
e indignas cousas da terra
,
como dellas possa tirar fruito e cobiçoso. (3)340

Causaes são as que exprimem a
causa de alguma cousa, ou a razão,
porque se faz, como : porque, pois, pois
que
. Exemplos : Certo dos máos
senão deve fiar ninguem
, porque seus
galardões sempre são conformes á sua
condição
. (4)341

Continuativas são as que servem
para continuar o discurso, como : por
tanto, pois, como, assim, assim mesmo
,
ou assim que. Exemplos : Quem
são os ricos neste mundo ? Os que tem
202muito ? Não ; porque quem tem muito,
deseja mais, e quem deseja mais,
falta-lhe o que deseja, e essa falta
o faz pobre
. Pois quem he o verdadeiro
rico ? Aquelle, que não quer nada,
porque nenhuma cousa lhe falta
. (1)342

A autoridade maior, que o Principe
dá aos homens, he o poder, e superioridade,
que sobre os outros lhe
entrega
 : como esta he a maior, que
Deos concede aos Reis
. (2)343

Hum membro, que não sente o
dano, que lhe fazem, he sinal de morto
 ;
assim a consciencia, que não sente
os males, de que está cheia, vem-lhe
de ser paralitica, e de estar no
cabo
. (3)344

Quão facil he ao corpo a sepultura !
Quaesquer ondas do mar, quaesquer outeiros
Estranhos, assim mesmo como aos nossos
Receberão de todo o illustre os ossos.
(4)345

A conjunção he huma palavra simples,
e única, v. g. ou, nem, pois,
203&c. mas como o uso de tal modo tem
unido algumas vozes, que sendo por
sua natureza separaveis, parecem huma
só dicção, v. g. porque, senão,
ainda que
, &c. estas taes vozes tambem
se reputão conjunções, denominando-se
as primeiras, simplices, e as
segundas, compostas.

Qualquer locução em fim, ou conste
de duas dicções separadas, ou de
mais, com tanto que sirva para atar,
e unir as palavras, as orações, e as
sentenças humas com outras, he verdadeiramente
huma conjunção composta.
Desta qualidade são as seguintes :
ainda quando, como quer que, com
tanto que, convem a saber, dado que,
de sorte que, entretanto que, fóra
disto, isto he, se bem que, supposto
que
, e outras semelhantes.

Capitulo X.
Da Interjeição.

Interjeição he huma palavra,
que serve para exprimir algum affecto,
ou movimento do animo, como
204a alegria, a dor, o medo, o desejo,
a aversão, &c.

Não he ter ouro, e sangue alcançar tudo,
Que isto engana mil vezes a vontade :
Ah dotes naturaes não vos entende
Quem menos vos estima, ou quem vos vende.
(1)346

Commũmente se assignão nos
differentes affectos suas especiaes interjeições,
e se diz por exemplo, que
ah exprime a dor, ou afflicção, e oh
a alegria. He porém certo que por
huma mesma interjeição se explicão
varios affectos, e por tanto a qual delles
cada huma pertence, sómente o
tom, com que se profere, ou as palavras,
a que se ajunta, o podem particularizar.

No seguinte lugar do P. Vieira, (2)347
a interjeição oh, que denota affirmação
na primeira frase, nas duas ultimas
exclamações indica lastima, e indignação.
Oh bemaventurados os cégos,
(diz elle) porque estais livres
de ver a cara do mundo, e tantas falsidades,
e erros como nelle se vêm !
205Que cousa he ver ao ignorante no lugar
do sabio ? ao covarde comendo a
praça do valente ? ao entremettido com
valimento, ao murmurador bem ouvido,
aos bons gemendo, aos máos triunfando,
a virtude a hum canto e o
vicio com autoridade ?
Oh que entremezes
da fortuna
 ! Oh que tragedias
do mundo
 !

Esta mesma interjeição oh póde
tambem exprimir varios outros affectos,
e particularmente o desejo, como
bem adverte o sobredito P. Vieira, (1)348
dizendo : “Todos os que se desejão,
se o affecto rompeo o silencio,
e do coração passou á boca,
o que pronuncião naturalmente he
Oh.”

De mais O' serve per si de interjeição
de chamar, como : O' piedoso
Deos, lembrai-vos de nós
. (2)349

A interjeição he huma simples
palavra e por conseguinte este nome
não convem mais que aquelles breve sons,
se expressos rápidos, em que
o animo prorompe quasi involuntariamente
206ou para desabafar-se da paixão,
que o opprime, ou para intimar
a outrem o que com rigor intenta
communicar-lhe. Taes são as seguintes
vozes : ah, ai, alto, animo, eia,
fóra, huì, oh, olá, oxalá, sus, tá
,
e antigamente guai. (*)350

“Outras muitas interjeições temos
(diz João de Barros (1)351) que mais
se demostrão nos actos, e meneos
de quem os faz, do que a letra os
póde exprimir ; que quasi são tantas
em especie, como temos de paixões
naturaes.”

A' interjeição não se póde assignar
lugar proprio no discurso, por quanto
207ou ella se ponha antes, ou depois de
qualquer outra parte da oração, sempre
que fôr naturalmente impellida pelo
affecto, que a provoca, onde quer
que se colloque, he assás expressiva.208

Parte II.

Capitulo I.
Da syntaxe, ou construcção em
geral.

Syntaxe, ou Construcção he o
modo de dispôr, e ordenar as palavras,
e frases segundo as regras da
Grammatica.

O termo syntaxe vem de outro Grego,
que significa ordem, construcção.

Esta syntaxe, construcção, ou ordem
consiste na união, encadeamento,
ou estructura das palavras, e frases,
conforme ás leis do uso, e ao genio
particular de cada huma das lingoas.209

Divide-se a Syntaxe em simples,
e figurada. De ambas vamos tratar,
começando pela simples.

Syntaxe, ou construcção simples,
que tambem se chama natural, e regular
he a que observa com exacção,
aquella ordem, por meio da qual ajuntando-se
as palavras humas com outras,
os pensamentos se dão a entender
clara, e distintamente.

Por tanto sempre que o contexto
das taes palavras formar oração, isto
he algum sentido, com que de huma
cousa se affirma, ou nega outra, para
que seha recta a composição das
partes da dita oração, convem saber
em cada huma dellas, a concordancia,
e regencia que lhe compete. De huma,
e outra se dirá o necessario nos
capitulos subsequentes.

Capitulo II.
Da concordancia.

Concordancia he a união,
com que as palavras regularmente
se ajuntão, e confirmão entre si.210

As regras da concordancia na syntaxe
simples
são as que se seguem,
poucas, e faceis, por isso que dictadas
pela mesma natureza.

I. O articulo concorda em genero,
e número com o nome commum, ou
appellativo. Exemplos : O meio, em
que consiste
a fortaleza, he entre o
temor, e a ousadia. (1)352

Antigamente estavão os Ministros
ás portas das Cidades : agora estão as
Cidades ás portas dos Ministros. (2)353

II. O adjectivo concorda em genero,
e número com o substantivo. Exemplos :

Que he este formoso puro, senão guerra,
Muito melhor quando de nós se esconde,
Ou na encoberta areia, ou n'alta serra.
(3)354

Nas ficções fabulosas ha Heróes
furiosos, mas não ha Heróes estupidos. (4)355

Se o adjectivo qualifica dous substantivos
do plural differentes em genero,
211concorda com o que antes, ou
depois lhe he immediato. Exemplos :
O Sabio não queria muita riqueza,
nem muita pobreza, porque em ambos
estes estados ha tentações, e
perigos
não pequenos. (1)356

Não ha cousa, que mais quebrante
animos, e
lingoas serpentinas, que
largar-lhes o campo com silencio
. (2)357

A's vezes porém o adjectivo por
preferencia concorda com o substantivo
masculino, ainda que delle esteja
mais remoto que o feminino. Exemplos :
Os vicios, e não as virtudes,
são
os que entre si discordão. (3)358

Os louros, e heras, de que coroados
Serão os bons Poetas, já crecendo
Soberbamente vão por ti honrados.
(4)359

Mas se os taes dous substantivos
estão no singular, neste caso o adjectivo
posto no plural, concorda em
genero com o masculino. Exemplos :
Notou o Arcebispo (D. Fr. Bartholomeu
212dos Martyres em certo Clerigo)
em quanto o esteve ouvindo que o
manteo, e roupeta, que trazia além
de rotos por mais de huma parte, estavão
no ultimo fio de
velhos, e gastados. (1)360

Duas cousas sómente se hão mister
Na Republica boa, corpo, e alma :
Ditosa aquella, que ambos bons tiver.
(2)361

Quando porém destes dous substantivos
masculino, e feminino, hum
for do singular, e outro do plural, o
adjectivo concorda em genero, e número
com o do plural. Exemplos : Livrai,
Senhor, não sómente a mim,
que não são vossos
poderes, e liberalidade
tão limitados ; mas a todo vosso
povo de todas suas tribulações, de
que continuamente está cercado
. (3)362

Pareça bem a purpura, e o marfim,
Os luzidos metaes, a prata fina ;
Mas eu vou, elles ficão cé sem mim.
(4)363

Do contrario ha tambem exemplos,
213e taes são além de outros estes
dous :

Porque essas honras vãs, esse ouro puro
Verdadeiro valor não dão á gente,
Melhor he merecelos, sem os ter,
Que possuilos, sem os merecer.
(1)364

De branca seda leva o charo esposo
As calças, e o jubão de ouro lavrados. (2)365

Mas para evitar a dissonancias,
que póde seguir-se de concordar por
alguns dos referidos modos o adjectivo
de duas terminações, melhor será
substituir-lhe outro de huma só, ou
variar a frase dando a cada hum dos
substantivos seu differente, e especial
adjectivo.

Se o adjectivo he immediato a
muitos substantivos de cousas, concorda
unicamente com o ultimo em genero,
e numero. Exemplos : O amor,
e amizade
verdadeira, não nas bonanças,
más na adversidade se conhece
. (3)366

A verdadeira honra não consiste
214nas estatuas dos antigos, nem nos pavezes,
e escudos, em que se conserva
a memoria dos principios da nobreza,
senão na virtude, valor, magnanimidade,
e esforço
proprio. (1)367

Excepções.

Os adjectivos de duas terminações,
quando se tomão adverbialmente, não
tem mais que a masculina do singular,
assim como : Disse alto, e publicamente(2)368
Cousa certo muito
para condoer
 ; (3)369 Murcha-se a virtude
(diz Seneca) se não tem adversario,
e então se vê quanta he, quando
a paciencia mostra
quanto póde. (4)370

Excepto, salvo, e supposto, quando
são preposições, não tomão genero,
nem número do substantivo, ou
pronome, a que precedem, assim como :
Excepto Grammatica Latina ;
excepto alguns mercadores, e officiaes
215mecanicos
 ; excepto algumas casas de
pessoas nobres
. (1)371

Salvo a honra ; (2)372 salvo os direitos ; (3)373
fantesias sem alicece não
dão outro fruito
, salvo magoas a seu
dono
. (4)374

Supposto esta certeza. (5)375

Mediante, quando serve de preposição
não toma o número plural dos
substantivos, ou pronomes subsequentes,
assim como : Mediante os quaes
(mimos do Ceo) passou aquella trabalhosa
hora
. (6)376

Mediante as superiores hierarchias
dos Anjos revela
(Deos) seus
mysterios ás inferiores
. (7)377

III. O relativo qual concorda com
o seu substantivo antecedente em genero,
e numero. E posto que nelle haja
huma só terminação, os artigos lhe
differenção o genero. Exemplos : O
216maior bem, ou o único bem, que tem
as supremas dignidades do Mundo he
serem hum degráo, sobre
o qual se
levante mais a virtude
. (1)378

A boa guia he a inclinação boa,
A qual nasce do claro entendimento,
E com facil discurso ao melhor voa.
(2)379

Cujo, cuja, quando he relativo
concorda tambem pelo sobredito modo
com o seu antecedente expresso,
ou subentendido. Exemplos : Letras
em máo sugeito são peste, e pernicioso
veneno Quantos Letrados ha
que o são para sustentar, e defender
seus máos partidos, e cégos consehos,
aos quaes não servem de mais as sciencias,
que de mãos, com que roubão
o alheio, e o dão a
cujo não he. (3)380

Ao rico tudo lhe cabe,
O pobre lamenta, e sua,
He só a canceira sua,
E o bem de cujo Deos sabe.
(4)381

O, quando se refere aos adjectivos,
217e aos verbos, não toma concordancia
de genero, nem de numero. Exemplos :
Os doutos quanto mais o são,
tanto menos se satisfazem de si, entendendo
o muito que ainda ha para saber
. (1)382

Se eu quero parecer discreto á
custa da ignorancia do outro, parecer
zeloso á custa dos peccados do
proximo, fazer meus negocios, e de
meus amigos ao som do requerimento
das partes, trato estas cousas como
melhor me servem, não como a
obrigação do officio
o pede. (2)383

IV. Os verbos concordão com os
substantivos, e pronomes em número,
e pessoa. Exemplo : Deos não tem necessidade
de que nós o
sirvamos : nos
he que temos necessidade de o servir
a elle
. (3)384

O verbo tem concorda aqui com
o substantivo Deos, porque está como
elle no singular, e ambos são terceiras
pessoas deste mesmo número ; porém
os verbos sirvamos, e temos,
218que concordão com o pronome nós,
primeira pessoa do plural, estão por
esta causa em igual pessoa, e número.

Vós em lugar de tu ; o verbo, de
que he agente, com elle concorda no
plural, más o adjectivo conserva-se
no singular. Exemplo : He tanto menos
o que nos basta, do que com que
nos contentamos, que se na vida
seguirdes
a opinião, nunca sereis rico,
se a conformareis com a natureza,
nunca
foreis pobre. (1)385

Nesta frase os verbos seguirdes,
sereis, conformareis
, e foreis, cujo
agente subentendido he vós em lugar
de tu, estão no plural, mas os adjectivos
rico, e pobre conservão-se no
singular.

Nós, quando significa eu, tem a
mesma sobredita concordancia, ou a
pessoa, que falla, se sirva de huma
tal expressão por modestia, ou por
algum outro respeito. Exemplo : Porque
dos verbos irregulares
(diz João
de Barros (2)386 ha hi tanto número,
que seria (como diz o proverbio)
219maior o capello que a capa, e por não

cahirmos nelle, antes sejamos breve,
que prolixo.

Usado tambem como simples palavra,
igualmente o seu adjectivo se
põe no singular. Exemplo : Aquelles
Nós tão presumido, e tantas vezes
inculcado nesta demanda, era todo o
fundamento da sua censura
. (1)387

Quando muitos substantivos, atados
com conjunção, servem de agente
ao verbo, commummente se põe este
no plural. Exemplos : He engano
cuidar ninguem que se encurtão os annos
com o trabalho
. O mimo, e a
ociosidade são a lima surda, que os
corta, e abbrevia
. (2)388

A sabedoria, e a virtude não se
deixão em testamento, porque se levão ;
e nós todos a matar-nos pelo que
se ha de deixar
. (3)389

Nunca Alexandre, ou Cesar nas confusas
Guerras o estudo deixão grande espaço ;
Que as armas já mais delle são escusas.
(4)390220

Excepções.

Algumas vezes pelo sobredito modo
(e por isso se disse commummente)
o verbo se põe no singular. Exemplos :
Rei, e Reino sem commercio,
ou com o commercio desfavorecido,
nunca será opulento
. (1)391

Sejão á boa tenção obras iguais,
E a boa tenção, e obra á patria sirva,
Demos a quem nos deo, e devemos mais.
(2)392

Da mesma sorte o verbo se põe
no singular, quando alguma das conjunções,
ou, e nem, repetida ata os
referidos substantivos. Exemplos : O
desattento, ou ignorancia, donde menos
se espera, tem mór graça
. (3)393

Não ha idade tão florente, nem
saude tão robusta, nem vida tão regrada,
que te nha hum só momento seguro
. (4)394

Tudo, e Nada, se são precedidos
221de muitos substantivos, ainda mesmo
do plural, requerem o verbo no singular.
Exemplos : O ouro, os diamantes,
as perolas
, tudo he terra, e da
terra
. (1)395

Os jogos dos pastores,
As lutas entre a rama,
Nada me faz contente.
(2)396

Hum, e outro admitte a concordancia
do verbo em qualquer dos dous
números, e assim póde igualmente dizer-se :
Hum, e outro he bom ; hum,
e outro são bons
. O mesmo he a respeito
de nem hum, nem outro. (*)397

V. Os Collectivos partitivos, seguindo-se-lhes
a preposição de, e hum
plural, com este concorda o adjectivo,
o pronome, e o verbo subsequente.
Exemplos : A multidão dos artificios
de fogo, que continuamente succedião
222huns a outros, alumiavão a fumaça
da polvora, que de dia fora mais escura
. (1)398

Pedio certo mercador a elRei D.
João III. que se quizesse vestir de
hum panno, que tinha muito rico, o
qual lhe daria de graça, e com este
ardil, em elRei o vestindo, vendeo
elle a mór valia huma
quantidade de
peças d'aquella cor, que lhe havião
entrado n'huma partida. (2)399

Os Collectivos geraes a si tomão
simplesmente a concordancia do adjectivo,
do pronome, e do verbo, ainda
que se lhes siga hum plural, e por
isso deve dizer-se : O exercito dos infieis
foi inteiramente desbaratado
, e
não pelo modo precedente.

A razão desta differença vem de
que o collectivo partitivo, e o plural,
que se lhe segue, ambos fazem huma
só expressão, porém o collectivo geral
por si só offerece huma idêa com
absoluta independencia do que se lhe
póde seguir.223

Capitulo III.
Da Regencia.

Regencia he a acção, que humas
palavras tem sobre outras, e
o modo regular de as ajuntar entre si.
Dá-se regencia todas as vezes que
huma palavra restringe, ou determina
a significação de outra. A que está
antes, rege ; e a que está depois, he
regida. Exemplo : A fortuna nunca
iguala os desejos dos homens
. (1)400

Estas palavras os desejos restringem,
e determinão a acção do verbo
iguala, o qual considerado por si só
denota huma especie de acção geral,
e indeterminada. Da mesma sorte estas
palavras dos homens são determinadas
pelas outras precedentes os desejos.

A regencia he, ou simples, ou
composta.

Regencia simples he a que restringe,
ou determina a significação do
verbo sem preposição expressa, ou subentendida.
Exemplo :224

A honra cria, e faz a arte excellente. (1)401

A palavra arte restringe sem preposição
o significados dos verbos cria,
e faz.

Regencia composta he a que restringe,
ou determina a significação do
nome, ou verbo por meio de huma
preposição expressa, ou subentendida.
Exemplo :

Prudencia, e lealdade só sustem
Os bons Imperios : daqui nasce o amor,
Que ao povo o Rei, ao Rei seu povo tem.
(2)402

Ao povo, ao Rei são regencias
compostas por causa da preposição a.

Me, te, se, lhe, nós, vós, se,
lhes
tambem são regencias compostas,
quando valem o mesmo que a mim,
a ti, a elle, a nós, a vós, a elles
.
Exemplos :

Já de mal, que me venha, não me arredo. (3)403

Me, que pela primeira vez he aqui
regencia composta, pela segunda he
regencia simples.225

De que te pódes, homem, gloriar
Senão só dá razão ? Se a mal empregas,
Que nome com razão te pódes dar ?
(1)404

O primeiro te he regencia simples ;
o segundo, regencia composta.

Os pronomes dos seguintes exemplos
tão sómente pertencem á regencia
composta.

A maldade, como não tem honra ;
não cessa, por mais que a si mesma

se prejudique, de a perseguir nos outros. (2)405

Quando a fortuna he maior, então
se deve ter em menos, ou
haver-lhe
maior medo. (3)406

Muito ordinario he mandar-nos
Deos trabalhos para serem meio de o
buscarmos : e tambem instrumento de
nos fazer mercês
. (4)407

O Mundo tanto mente a quem dá
o que deseja, como a quem o nega ;
porque ainda que vos dê o que pretendeis
,
226nega-vos o gosto, que esperaveis
de achar ahi
. (1)408

Os homens de gravidade, e honra
correm-se de dizer mal dos outros,
inda que sejão seus inimigos ; porque
he fraqueza mulheril, e sinal de covardia
fazer-se guerra com as lingoas
. (2)409

A satisfação, que dos inimigos
havemos de tomar, he querer-lhes, e
fazer-lhes todo o bem, que pudermos
. (3)410

Sobre esta materia passamos a expôr
o que he indispensavel, e mais
convem saber-se em particular.

§. I.
Da Regencia, ou Construcção do nome,
e das outras partes da oração
antes do verbo.

Para se formar oração deve haver
sempre hum verbo, ao qual precede
algum substantivo, ou pronome
227claro, ou occulto, que sirva de agente, (*)411
ou principio da acção, ou significação
do mesmo verbo.

Assim dizendo-se : Antonio estuda ;
eu escrevo
, nestas duas preposições,
o substantivo Antonio, da primeira,
e o pronome eu, da segunda,
que per si sós não fazem sentido, seguindo-se-lhes
os sobreditos verbos,
exprimem desta maneira a acção, ou
significação competente aos taes verbos.

Todas as vezes porém que ou o
substantivo, ou o pronome se não achão
expressos antes do verbo, he necessario,
que se subentendão para que se dê
228sentido, e forme oração ; por exemplo :
Hajamos paz, morreremos velhos, (1)412
o pronome nós precede aqui occulto
a ambos estes verbos.

A falta do dito pronome se suppre
da mesma sorte nos seguintes verbos :

Igualmente de hum só principio vimos ;
Igualmente a hum fim todos corremos,
E huma estrada commum, e igual seguimos.
(2)413

Os nomes communs, ou appellativos
quasi sempre são precedidos do
articulo, que lhes convem, como : o
dia, os dias, a noite, as noites. Exemplos :
O mimo he o que corrompe
os humores, e encurta a vida, e não o
trabalho
. (3)414

As Magnetes attrahem o ferro,
e os Magnates o ouro
. (4)415

Os nomes proprios de ordinario
não tem articulo, e assim se diz : João
229de Barros foi o primeiro, que pôs a
nossa linguagem em arte
. (1)416

Dario com seus thesouros poderoso,
Rico despojo foi ao Grego pobre,
Só d'honra, só de fama cobiçoso.
(2)417

Do Articulo, e seu uso se tratou
no capitulo IV. da primeira Parte.

Os pronomes demonstrativos antepõe-se
aos substantivos, como : este
prado florece ; esse rio vai caudaloso ;
aquelle monte alveja de neve
.

Torne este nosso tempo áquella idade
Que tudo era sã paz, e puro amor,
Sem meu, sem teu, sem muros, sem Cidade.
(3)418

Os nomes, que servem de agente
ou principio á acção, ou significação
do verbo, costumão admittir entre si,
e o verbo outras palavras, que vem a
ser as seguintes.

Todos os nomes communs, que
precedem ao verbo, podem ter depois
de si outros regidos da preposição de,
os quaes mostrão a relação, que faz
230dependente huma cousa da outra. Exemplos :
O muro da virtude he a honra,
e derrubado este muro, a virtude,
que elle defendia, facilmente se
rende
. (1)419

O agradecimento das mercês passadas
assegura as por vir, e crece
a confiança com a memoria dos beneficios
. (2)420

Pelo mesmo modo podem tambem
levar comsigo quaesquer adjectivos,
que com elles concordão, como : A
vida solitaria he vida de extremos
 :
ou faz Anjos, ou demonios. (3)421

As acções generosas, e não os pais
illustres, são os que fazem fidalgos. (4)422

Os sobreditos adjectivos são ás vezes
seguidos de substantivos com as
preposições a, de, em, &c. como :
Muitas vezes as cousas vistas aos
olhos fazem mór abalo, que as que
o entendimento secretamente ensina
. (5)423231

A virtude acompanhada de nobreza
realça tanto, que passa a extremos
de formosura
. (1)424

A opinião recebida em povo lança
de filhos em netos tão altas raizes,
que nunca se mais arrancão
. (2)425

Outras vezes admittem depois de
si verbos regidos de preposições, por
exemplo : Assim como o caminho certo
de ter pão he servir a Deos ; assim
o caminho certo de se perder o
pão, que se tem, he desservilo
. (3)426

Aos nomes proprios tambem póde
ser immediato antes do verbo o
pronome se, como : Nunca o demonio
se mata muito pelo que á honra, e
gloria de Deos importa pouco
. (4)427

Os pronomes pessoaes varião a
terminação, quando pelo referido modo
cada hum delles a si proprio vai
immediato, como : Eu me instruo,
tu te recreas, elle se desgosta com o
estudo
. Se me não visse constrangido
232da necessidade, diz, fallando de si,
hum Poeta. (1)428

Eu me rira de ter requerimentos,
Que fazem ser hum homem chocarreiro,
E causão outros mil abatimentos.

Os nomes commũs, ou appellativos
postos antes do verbo, igualmente
se antepõe aos nomes proprios com
a preposição de, como : Os Reis de
Portugal por confissão do mundo não
só são Reis, mas Pais dos seus vassallos
. (2)429

Da mesma sorte precedem aos modos
adverbiaes, que correspondem á
adjectivos, como : Os homens de bem
hão de regular suas acções por duas
leis, pela lei de Deos, e pela lei de
quem são
. (3)430

Aos pronomes relativos com o seu
verbo, como :

O tempo, que se vai, não torna mais,
E se torna, não tornão as idades.
(4)431233

Os homens, que se querem sinalar
nas letras, e nas armas, e bons
costumes, devem velar muito, e dormir
pouco
. (1)432

E os participios, como : Os homens
amantes da razão devem guardar
em suas acções huma tal ordem,
que a propria harmonia dellas mostre
serem guiadas pela luz racional : não
só escolhendo as obras dignas, mas
as competentes
. (2)433

A guerra (diz Cicero) tomada
por temeridade he dos brutos ; a forçada,
e por necessidade, dos homens
. (3)434

A virtude louvada vive, e crece,
E o louvor altos casos persuade.
(4)435

Qualquer nome em fim póde ter
depois de si conjunção, pela qual ligando-se-lhe
outro nome, ambos elles
se põe antes do verbo, como : O ouro,
e as riquezas não são boas de si,
nem más ; mas o bom, ou máo uso
234dellas engrandece, ou desacredita
a quem as possue
. (1)436

§. II.
Da Construcção do verbo, e adverbio,
e outras partes da oração antes
do nome.

O Nome, quando se põe depois do
verbo, he o termo da sua acção,
ou significação.

Assim dizendo-se : Quem busca
virtude, Deos o ajuda
. (2)437

Na primeira parte desta frase o
nome virtude termina, e acaba a acção
do verbo busca, a qual sem o dito
nome fica suspensa, por isso que
se não chega a formar oração completa.

Os verbos activos, ou transitivos
tem sempre o referido termo, sem preposição
quando he nome de cousa, e
com a preposição a, sendo nome de
pessoa. Sem preposição, por exemplo :
235A ingratidão perverte o juizo, perturba
a razão, cega o entendimento,
corrompe a vontade, e impede o caminho
da salvação
. (1)438

Com preposição : Ninguem se estime
a si, ou depreze
a outros pelo
que póde dar, ou tirar a fortuna
. (2)439

Lia Alexandre a Homero de maneira
Que sempre se lhe sabe á cabeceira.
(3)440

Além do nome, que lhes serve
de termo, se lhes póde algumas vezes
ajuntar outro nome, regido de alguma
preposição, ao qual se dirige a acção,
ou significação do mesmo verbo. Exemplos :
O interesse não tem respeito,
nem ás leis, nem ao primor, nem
á verdade, e primeiro que tudo o perde
ao mesmo Deos. (4)441

Ninguem melhor edifica casa para
si, que quem levanta templos para
Deos. (5)442236

Os verbos neutros, ou intransitivos
não tem depois de si nome, que
sirva de termo á sua acção, ou significação.
O qual se faz desnecessario,
por isso que no agente, que precede
ao verbo, fica elle comprehendido.

Quando se diz por exemplo, que
alguem

Suspira, e chora, e cança, e geme, e sua. (1)443

Nenhum destes verbos admitte depois
de si nome substantivo, a que
passe a sua acção, ou significação,
pelo motivo de serem todos intransitivos.
O mesmo he, quando se diz :

A consciencia pura
Não teme, não espera,
Não pende da fortuna, ou vãos cuidados.
(2)444

Os verbos, que commũmente se
chamão reciprocos, só podem ter,
ou antes, ou depois de si os pronomes
equivalentes ás pessoas, que lhes
precedem. A acção, ou significação retrocede
assim ás mesmas pessoas, que
della são principio, ou agente. Portanto
igualmente se diz : eu me arrependo,
237ou arrependo-me, tu te arrependes,
ou arrependes-te
, &c. Antes
do verbo, assim como : Quem comsigo
se aconselha, comsigo se depenne. (1)445

De muitas causas serve conhecermos
quem somos : mas de huma, a
meu juizo, muito principalmente de
nos corrermos de nós : porque taes somos
todos, que não será possivel conhecermo-nos
bem, sem nos envergonharmos
muito de nós mesmos
. (2)446

Depois do verbo, assim como : O
imprudente
aconselha-se comsigo, o
prudente
aconselha-se com os homens,
e prudentissimo
aconselha-se com Deos. (3)447

Não ha cousa mais contraria á
pureza, e limpeza da lei de Deos que
o desavergonhamento, porque todos
os vicios tem cara, só este parece que
a não tem, porque carece de remedio,
que todos os outros tem, que he correr-se
huma pessoa do que faz
. (4)448238

Todos os sobreditos verbos recebem
depois de si adverbios, que lhes
qualificão, modificão, aumentão, ou
diminuem a significação. Exemplos :
Nossa natureza tem mal as redeas
á prosperidade ; e he grande siso não
largar todas as vélas aos bons successos
. (1)449

Não vive muito, senão quem emprega
bem a vida, nem
viveo pouco
quem todo o tempo della aproveitou. (2)450

Huma das propriedades, que tem
a gente muito contente, e confiada
de si, he (segundo diz Santo Agostinho)

enganar-se facilmente, e nunca conhecer
a verdade
.

Igualmente em lugar de adverbios
admittem nomes substantivos com diversas
preposições segundo o valor, e
officio de cada huma dellas, assim como :
lêr com gosto o livro, seguir
contra vontade o exemplo, amar de
verdade
o estudo, passar em socego a
vida, arrepender-se por necessidade,
239ir sobre aviso, alegrar-se sobre maneira,
ou sobre modo, &c.

Os que são de verdade justos,
não são rigorosos por natureza, senão
por obrigação, e necessidade
. (1)451

Val mais sobrestar com isso antes
de começar, que retirar depois
com vergonha
. (2)452

O que vai de vagar, mais se segura. (3)453

Por conclusão todos os substantivos
postos depois do verbo podem levar
comsigo os seus adjectivos, e a
estes podem tambem seguir-se outros
nomes precedidos de preposições, assim
como : Sinal he evidente de excellente
bondade
ser o homem brando,
e amoroso para aquelles sobre que tem
imperio
. (4)454

Serem contagiosos os vicios he mal
ordinario de todas as enfermidades. (5)455
240

Das Musas o rigor, ou amizade
De fama escura, ou clara nos faz dignos,
Ou seja com mentira, ou com verdade.
(*)456

§. III.
Da Construcção de huns verbos com
outros.

Os verbos ajuntão-se huns com outros,
ou simplesmente, ou mediante
alguma preposição.

Simplesmente, assim como : Nenhuma
pessoa
póde fugir ás cousas,
que hão de ser
. (1)457

São os livros entre todas as alfaias,
a que com mais razão se ama
de quem
sabe conhecer o preço, das
que merecem ser estimadas
. (2)458

Por meio de preposição se ajuntão
pelo modo seguinte : O odio, que
não he de todo acabado, com qualquer
occasião
se torna a inflammar. (3)459

A obrigação, e pureza da lei de
241Deos não só prohibe o peccado, senão
o perigo ; e quem se
deliberou a perigar,
já cahio, porque se expoz a
cahir. (1)460

Mal se faz de crer o que se não
cuida, nem espera
. (2)461

Ha mister muita vigilancia para
se não perder, quem trata, não tanto

de sustentar, e remediar a vida,
quanto de accrescentar, e accumular
fazenda
. (3)462

Os verbos ajuntão-se com os participios,
e gerundios sem preposição.
Exemplos : A velhice he idade para
ter trabalhado, e não para trabalhar,
para ter, mas não para fazer
. (4)463

São os bons geralmente aborrecidos
dos máos ; porque estão vendo nelles
huma continua reprovação de seus
costumes
. (5)464

Quando o Demonio tentou a Judas
que fosse ladrão, não lhe disse
logo que havia de vender a Christo ;
242mas porque
começou cerceando as esmolas
dos Discipulos
, acabou vendendo
o Mestre. (1)465

§. IV.
Da Construcção do verbo com o pronome.

Os pronomes pessoaes, e demonstrativos
se ajuntão aos verbos,
quando a significação destes recahe sobre
os ditos pronomes, pondo-se, ou
antes, ou depois dos mesmos verbos,
com aquellas terminações, que são
proprias de cada hum delles.

Pelo que tanto póde dizer-se : me
louvas, te estimo, se vai, o, ou a lisonjeo,
os, ou as engrandecem, se
vingão ; como : louvas-me, estimo-te,
vai-se, lisonjea-o, ou lisonjea-a, engrandecem-nos,
ou engrandecem-nas,
vingão-se.

Deixe-se reprender de quem bem se ama,
Que, ou se aproveita, ou quer aproveitar-se.
(2)466
243

Se os pronomes vão depois dos
verbos, chamão-se encliticos, ou arrimados,
por isso que se lhes arrimão
de modo que formão com elles huma
só dicção, á qual ás vezes se contrahem
dous pronomes, como : Que livro
he esse ? Dá-mo cá
.

Os pronomes, quando ha dous
verbos, ou precedem ao primeiro, ou
se pospõe a qualquer delles, como :
me quero recrear, quero-me recrear,
quero recrear-me
, &c.

Os pronomes humas vezes denotão
o termo da acção do verbo, como :
me affliges com isso ; outras vezes
denotão a pessoa, a que se dirige
a dita acção, como : me causas afflicção
com isso
.

Quando o Heróe da Lusiada, diz
a elRei D. Manoel, que lhe commette
a famosa expedição do descobrimento
da India,

O' Rei subido,
Aventura-me a ferro, a fogo, a neve,
He tão pouco por vós, que mais me parece
Ser esta vida cousa tão pequena :
(1)467244

O pronome me junto aos verbos
aventurar, e penar serve de termo
á acção de hum, e outro ; mas proseguindo
o mesmo Heróe, quando depois
do Rei,

Com mercês sumptuosas me agradece
E com razões me louva esta vontade :
(1)468

aqui o sobredito pronome designa a
pessoa, a que se dirige a acção dos
verbos agradecer, e louvar, da qual
he termo o substantivo vontade.

Os encliticos assim mesmo se costumão
empregar. Quando porém dous
delles se reduzem a huma só dicção,
ou syllaba, hum serve de termo á acção
do verbo, e ao outro se dirige a
mesma acção. Por tanto dizendo-se :
Que livro he esse ? dá-mo cá. O pronome
o, que se refere ao substantivo
livro, he o termo da acção do verbo
dar, dirigindo-se esta ao pronome
me, relativo da pessoa, que falla, e
a quem o livro se ha de dar, ou trazer.

Os pronomes o, e a do singular,
245os, e as do plural sómente servém
para significar o termo da acção do
verbo ; para o que nunca podem servir
lhe no singular, e lhes no plural, (*)469
pois que estes não representão
mais, que o sugeito a quem a acção
se dirige, ou a quem della resulta
damno, ou proveito.

Aos primeiros bastem para exemplo
os dous seguintes lugares : A ira
he como servidor diligente, que antes
de ouvir todo o recado, já parte, e
quando chega aonde
o mandão, não sabe
o que ha de dizer
. (1)470

Os postos não costumão dar vista,
antes a tirão
a quem a tem, a
tanto mais, quanto mais altos
. (2)471

E aos segundos, estoutros dous :

Menos se escandaliza, e menos sente
Negarem-lhe o que he seu, hum raro esprito,
Que veio dar a outrem cegamente.
(3)472

Ha ignorantes tão altivos, que
se despresão de perguntar, ou porque
246presumem, que tendo sabem, ou
porque se não presuma, que lhes falta
alguma cousa por saber
. (1)473

Os dous primeiros pronomes pessoaes,
eu, e tu no singular, e o terceiro,
elle, em ambos os números,
tem huma terminação, a qual recebe
o seu total valor daquella preposição,
que lhe precede, e deve sempre acompanhala.
Por tanto só póde dizer-se :
a mim, a ti, a si, e semelhantemente
com qualquer das outras preposições.
Com a preposição com se diz : comigo,
comtigo, comsigo
.

Pelo que, ou se ponhão antes,
ou depois dos verbos, formão com
elles construcção. Exemplos : As más
lingoas não fazem mal senão a si
. (2)474

Mas como alcançarão os mortaes homens
Aquillo, que o Divino entendimento
comsigo dispõe, e determina.
(3)475

Quem aconselha contra Deos,
aconselha
contra si. (4)476247

Que gosto dás na vida, que mór bem
Que ter homem de si conhecimento !
Quem isto só alcança, tudo tem.
(1)477

O amigo puro
Em ti, como em si mesmo he diligente.
(2)478

Qualquer dos sobreditos pronomes
já esteja antes do verbo, já depois
delle, se repete algumas vezes em duas
differentes terminações para assim dar
mais clareza, ou força á oração. Exemplo :
He regra geral, que quem se
quer muito a si, ou para si, quer
pouco aos outros, e para os outros
. (3)479

Outras vezes succede ajuntarem-se
com o verbo as tres diversas terminações
de hum mesmo pronome,
assim como : eu me envergonho de mim
mesmo
, &c.248

§. V.
Da Regencia das preposições.

As preposições regem as palavras,
que se lhes seguem por differentes
modos. Do uso das principaes se
tratará em particular, dizendo de cada
huma sobre si, o que se entende
ter mais importante, e necessario.

A.

Esta preposição tem tantas, e tão
varios officios, que por isso apenas
dos mais consideraveis se poderá aqui
fazer memoria.

Denota a pessoa, ou cousa personalizada,
que serve de termo á acção
do verbo
, como : amar a Deos,
ao proximo ; lêr a Homero.

Servir a Deos com o dinheiro,
bem póde ser, e he bem que seja ; mas
servir
a Deos, e ao dinheiro juntamente
he impossivel
. (1)480

A pessoa, ou o lugar, a que se
249dirige alguem, ou alguma cousa
, como
escrevi a Antonio, foi a Coimbra,
este caminho vai ter á Cidade.

Ao Reino cumpre em todo elle
Ter, a quem o seu mal doa,
Não passar tudo a Lisboa,
Que he grande o pezo, e com elle
Mette o barco n'agoa a proa.
(1)481

A melhor traça de accrescentar
os nossos bens he soccorrer com elles

aos pobres. (2)482

O fim da acção do verbo precedente,
como : deo a andar, pôs-se a
comer, deitou-se a dormir.

Quem não cuida primeiro o que promette,
A quebrar a palavra se aventura.
(3)483

Sem conselho nenhuma cousa façamos,
porque nenhum homem he tão
sabio, que não esteja sugeito
a errar. (4)484

O lugar, e o tempo, em que se
faz, ou succede alguma cousa
, como :
250estar á janella, á borda d'agoa ; jantar
ao meio dia, recolher-se á meia
noite.

Assás de esquecido de sua fragilidade
he aquelle, que então começa
temer a morte, quando ella está
á
porta. (1)485

A distancia, e o tempo, que se
dá entre dous termos
, como : de Lisboa
a Santarem, de poppa a proa ;
de Sol a Sol, de dia a dia.

Ninive, Corte de Nino, foi a maior
cidade do mundo : andava-se de porta

a porta, não menos, que em tres dias
de caminho
. (2)486

O modo, com que se effeitua alguma
cousa
, como : andar a cavallo,
pelejar a pé quedo, correr a toda a
brida.

O vicio na gente nobre, he vicio
posto
a cavallo, e entronizado, que
em lugar de ser estranhado, e aborrecido,
se faz honrar, e respeitar,
e deste exemplo nasce o estrago, e
perdição de muitos
. (3)487251

Mil cousas, que no público tachamos,
Seguimos no secreto á redea solta,
Cuidando d'enganar, nos enganamos.
(1)488

A quantidade, e número, como :
as lagrimas lhe corrião a pares, o exercito
deita a cem mil homens.

Hum tyranno cruel, hum avarento,
Que só vive de força, só de engano,
Contando armentios cento a cento.
Que de novo ó curral trazem cada anno :….
Este vemos viver, seu gado crece,
Triste do virtuoso, que padece.
(2)489

A conformidade a alguma cousa,
como : á lei de Christão, á fé de homem
honrado, ao meu parecer.

Cresce o merecimento á medida de
huma boa vontade, e quanto quereis,
tanto mereceis
. (3)490

Se o mundo nos não anda á vontade,
Não he para estranhar, pois he hum sonho,
Que nunca com ninguem tratou verdade.
(4)491

A distribuição, ou conta proporcional,
252como : a cinco por cento,
dous a dous.

Se a hum mercante, que póde
quebrar, dais o vosso dinheiro
a cinco
por cento ; a Deos, que tem por
fiador a sua palavra, e por seguro a
sua Omnipotencia, porque o não dais

a cento por hum ? (1)492

O preço das cousas, como : trigo
a cruzado o alqueire, panno a dous
mil réis o covado. Hum Poeta nosso,
referindo os acontecimentos memoraveis
da sua idade, diz : (2)493

Anno vi tão abastado,
Que a oito reaes comprado
Foi o alqueire de pão ;
Outro (*)494 vimos, em que não
Se achava por hum cruzado.

O termo, ou fim de algum prazo
de tempo
, como : daqui a huma hora,
pagar huma letra á vista, morrer a
poucos dias de doença.253

Sempre o dia peor he o que vem :
Comece de viver á primeira hora
Quem ouder, e a quem Deos quis tanto bem.
(1)495

A situação dos paizes, povos, e
edificios
, como : a mão direita, ou á
esquerda, ao Nascente, ao Poente,
ao Norte, ao Sul.

Quem sabe por onde vai,
Leva sua conta feita,
Nunca do caminho sai,
Não olha a quem diz, tomai
A esquerda, ou a direita.
(2)496

O costume, uso, ou feitio de alguma
cousa
. Neste sentido ajunta-se
á terminação feminina do adjectivo,
dizendo-se : a antiga, á Hespanhola,
á Portugueza, á soldadesca, &c.

Como o professar vida monastica
he enterrar, se quizerdes na comida
ter ventagem, poder-vos-hão dizer que
vos sepultastes
a mourisca, ou a gentilica,
com banquetes na cova
. (3)497

Quando porém se diz, por exemplo :
254No trajo vestia mais ao soldado,
que ao Cortezão ; (1)498 antes do
substantivo subentende-se modo de, e
antes do adjectivo, simplesmente modo.

O mobil, ou principio, e o fim de
alguma acção
, como : á instancia, a
requerimento, a rogos de alguem, a
força de braço.

Camões (2)499 tratando do Governador
da India Numo da Cunha, assim
diz :

O forte Raçaim se lhe dará,
Não sem sangue porém, que nelle geme
Melique, porque á força só de espada
A tranqueira soberba vê tomada.

O instrumento, com que se executa
alguma cousa
, como : dessangrado
a açoutes, metter a ferro, e a fogo,
passar á espada.

Foi sem malicia, e sem erro
A boa idade dourada,
Seguio fogo a prateada,
Não tardou muito a de ferro,
Que tudo trouxe á espada.
(3)500255

A connexão, que humas cousas
tem com outras
, como : a proposito
de… a respeito de… á volta de…

A' conta da mesma honra abominão
os Japões toda a serie de furto,
e com elle o jogo, dizendo eu ninguem
joga sem cobiça, e que vai muito
pouco de cobiçar a furtar
. (1)501

A differença das pessoas, das acções,
e das causas entre si
, como :
quanto vai de Pedro a Pedro, vai muito
de rir a chorar, ser como de branco
a preto.

De homem a homem a gloria maior
he de quem a dá
. (2)502

Ha tanta distancia do que alcançou
sciencia
ao idiota, como de homem
ao que o não he
. (3)503

Quanto vai do engano é sã verdade,
Tanto vai d'hum amigo ao lisonjeiro,
Hum te falla á razão, outro á vontade.
(4)504

O excesso, ou ventagem, que hum
tem, ou pretende ter em alguma cousa
,
256como : desafiar alguem a correr,
apostar com outro a cantar.

A tanger, e cantar te desafio,
Não te pareça muito atrevimento,
Que tambem eu de meu saber confio.
(1)505

Significa algumas vezes o mesmo
que até, como : chegou-lhe a agoa á
cintura, subio ao cume do monte.

Se chega, ó Rei do Ceo, humano rogo
A teus ouvidos, ouve nossos brados. (2)506
Vendo ora o mar até o inferno aberto,
Ora com nova furia ao Ceo subia.
(3)507

Usa-se tambem na significação de
contra, ou direito, como : ir a algum
lugar, lançar barro á parede,
volver costas ao inimigo.

Quem nos Ceos tem a esperança,
Navega a seguro porto ;
E que parecendo morto,
Peza o que faz em balança.
(4)508257

Serve de principio á formação de
muitas frases, e locuções, ou modos
adverbiaes, como : a braço partido,
a torto, e a direito, á mão tente,
ás furtadellas, ás vezes, &c.

Toma-se em sentido condicional,
quando no principio da oração precede
ao infinito dos verbos, e corresponde
então ao adverbio se, v. g. a fallar
verdade, a ter certeza disso, são expressões,
que equivalem a estoutras,
se hei de fallar verdade, se tivera certeza
disso.

Quando se põe antes dos pronomes
qual, e quem, seguindo-se a estes
o adverbio mais, denota competencia
de vencimento, ou superioridade,
assim como :

As mercês aos serviços se accommodem,
Acudindo com tempo ao pobre afflicto,
Que ao rico, a quem mais, todos acodem.
(1)509

De

A grande variedade, que se encontra
no uso desta preposição, não
permitte dar-se aqui delle inteiro, e
258individual conhecimento. Isto não obstante
dar-se-ha todavia aquelle, que
se julga ser de mais importancia.

Usa-se, ou simples, ou unida ao
articulo, principalmente para denotar
tres cousas.

I. A possessão de propriedade, ou
de uso
, como : lei de Deos, casa de
Antonio.

Principios de Instituta, e o primeiro
do Codigo não bastão para serventia
de cargos, que pertencem a
homens de honra, e consciencia
. (1)510

A presença da virtude faz parecer
mais clara a fealdade dos vicios
. (2)511

II. A materia, de que he, ou se
faz alguma cousa
, como : vaso de vidro,
baixella de prata.

Em vaso cristalino, puro e liso
Parece mal qualquer pequeno argueiro,
Que no de barro fica sendo riso.
(3)512

III. O lugar donde vem, ou sabe
alguma pessoa, ou cousa
, como : venho
259de Coimbra, noticia mandada de
Londres.

Aos que andão mettidos em negocios,
bascolejados, e perturbados, trafegando
com o mundo, falla Deos como

de outeiro, como quem lhe brada
de longe. (1)513

Serve além disto para mostrar, e
exprimir outras muitas cousas, e entre
ellas especialmente as seguintes, que
vem a ser :

Abundancia, ou pouquidade de alguma
cousa
, como : dia de calma, anno
de fome, copioso, ou esteril de
fructos, cheio, ou isento de cuidados.

A barca pequena, ou batel da náo
de carga, não sustem o vento, inda
que vá fornida
de armas, e vélas ;
assim os que carecem de virtude, e
tem pouca prudencia, se se vém no
alto das honras, com quaesquer pés
de vento se perdem
. (2)514

Opportunidade, como : hora de recreação,
tempo de estudo.

Costumavão os Principes Portuguezes
260aproveitar as
horas do comer
com praticas de homens sabios. (1)515

Tempo, em que succede alguma
cousa
, como : de manhã, de tarde,
de verão, de inverno.

Oh se os livros fallárão, quantas
ignorancias havião de dizer, que consultão
com elles de noite, os que
de
dia se publicão grandes letrados. (2)516

Usa-se tambem engtre alguns adjectivos,
e verbos no infinito, e val o
mesmo que para, como : bom de dizer,
facil de intentar, difficil de conseguir.

Nenhuma cousa he tão forte de
soffrer, que o tempo não a abrande. (3)517

Regras de Philosophia são boas de
dar, e más de experimentar. (4)518

Põe-se entre nomes appellativos,
e os proprios das terras, como Imperio
de Alemanha, Reino de Portugal,
Cidade de Lisboa, Villa de Santarém,
261Serra de Cintra, Mosteiro de
Alcobaça, lugar, ou Aldêa de…&c.
Mas entre taes nomes se subentendem
sempre algumas palavras, v. g.
Reino (que tem o nome) de Portugal,
&c.

Toma-se no significado de outras
preposições ; as que porém mais de
ordinario lhe correspondem são

Com, como : de industria, de
vontade, de caso pensado.

Quem de verdade ama a justiça,
e os mais bens da Républica, não
pretende tanto administrala, como que
seja bem administrada por quem quer
que for
. (1)519

Desde, como : de Belém a Lisboa,
de monte a monte, de mar a mar.
Os animaes, diz Sá de Miranda, (2)520

A quem nós brutos chamamos,
Que guardão leis naturaes,
Nós outros não nas guardamos,
A isto obrigados mais….
Não tem repartida a terra.
262Por marcos tão desiguaes,
Por sangue, por fogo, e guerra,
Com que hum tem de serra a serra,
Outros nada, ou dous tojaes.

Por, como : de meu conselho,
abafar de colera, chorar de gosto,
tremer de medo.

He Veloso no braço confiado,
E de arrogante crê que vai seguro.
(1)521

Se a miseria não se alternára,
que hoje vem por huns, e á manhã
por outras, não puderamos soffrer-nos,
os prosperos de malquistos, e os mesquinhos

de desprezados. (2)522

Mette se algumas vezes de permeio
entre dous nomes, ou por graça,
e propriedade da lingoa, ou para
maior viveza da expressão, e assim se
diz : o máo de Thyoneo, (3)523 o máo
faminto do lobo, (4)524 o velhaco de fulano,
a embusteira da velha, &c.

Como eu vejo hum homem desculpar-se
com o que não faz, dou-o por
263perdido. Eu não mato, eu não furto
.
Peccador de ti, que me dá a mim
não fazeres tudo isso, se o que fazes,
basta para te levar ao inferno
 ? (1)525

Outras vezes se colloca pela mesma
sobredita razão entre adjectivos,
que exprimem lastima, ou queixa, e
substantivos, ou adjectivos substantivados,
e pronomes correspondentes aos
primeiros adjectivos, como : triste de
mim, desgraçado de ti, coitado de
quem ha de esperar remedio de seu
contrario. (2)526

Pobres dos pobres, que não tem
dinheiro, e mais
pobres dos ricos, que
nelle se fião
. (3)527

Coitados de nós, que a mais certa
cousa, que temos, he o arrependimento
.
Mas de que vem ? de se errarem
os principios, donde se seguem
os máos fins
. (4)528

Põe-se antes do infinito dos verbos,
ou seja depois de outro verbo,
264ou depois de hum nome. Depois de
verbo, como :

Trás o mal está a bonança,
Folga de viver, te digo,
Que quem vive, tudo alcança.
(1)529

Depois de nome, como : Tem Deos
tanto
cuidado de acudir aos seus, que
nas maiores necessidades acode sempre
com maior soccorro
. (2)530

Serve para formar o futuro do
infinito, pondo-se depois do verbo
auxiliar haver, como : Quem ha de
ganhar honra ; não se ha de entregar
ao descanço
. (3)531

De tambem se põe ás vezes, por
elegancia, e propriedade da lingoa,
depois de alguns verbos, e antes da
dicção, em que elles passão a exercer
o seu significado, como : Mal de faz
de crer o que se não cuida, nem espera. (4)532 (*)533265

Em

Esta preposição seguindo-se-lhe
nomes appellativos com articulo, converte-se em
huma só syllaba, e toma
o genero, e numero dos articulos subsequentes,
dizendo-se no, na, nos,
nas
.

O seu uso mais frequente consiste
em denotar :

O lugar onde, como : estar em
Lisboa, metter-se em casa.

O grande Rei D. Diniz, Rei nunca
assás louvado
, (1)534

Fez primeiro em Coimbra exercitar-se
O valeroso officio de Minerva.
(2)535

O tempo, em que se está, succede,
e faz alguma cousa, ou o que
se empraga em fazela
, como : estar
em ferias, em tempo de paz, ou de
266guerra, em Abril vai onde has de ir,
e torna ao teu covil, isto se fez, ou
concluio em breves horas, em hum
instante, &c.

Da boa fortuna não ha que fiar,
que como o mar
em hum momento se
muda
. (1)536

A lealdade dos Portuguezes para
seu Rei he tão natural, que nunca

em tempo algum se achou nelles rebelião,
nem desconhecimento, mas
cada hum morrerá por o servir quando
cumprir
. (2)537

As obras, cujo fim de algum bem
commum, passada a murmuração, ficão
ellas vivas, e a memoria de seu
autor por mais dentadas, que
em vida
lhe dém
. (3)538

O gráo, em que se possue alguma
sciencia, arte, ou qualidade do
animo
, como : insigne em ambos os
Direitos, versado em Theologia.

Huma celebridade illustre em fama,
e reputação não se vence em pouco
tempo
. (4)539267

Por mil, e mil grandezas em mil partes
Soando vai a nobre, e grão Lisboa
Em armas tanto, quanto em boas artes,
Em pureza de Fé quanto mais soa.
(1)540

A occupação, ou o exercicio, em
que se está empregado
, como : andar
em guerra, estar em oração.

Em lição boa, que o vicio máo desterra,
Do tempo enganarás horas pezadas,
Porque estas sós te podem fazer guerra.
(2)541

Serve tambem de principio a alguns
modos adverbiaes, como : em continente,
em geral, em extremo.

Do peccado commettido, diz o Sabio
(Eccles. 5.) não perca ninguem
o medo, porque inda que o castigo se
dilate
, em final elle ha de vir. (3)542

Usa-se além disto antes do infinito
dos verbos, como : O dominio do
mundo não consiste
em o possuir, consiste
em o pizar. (4)543

Aos que tudo põe em fallar, quem
268faz que não ouve, os açama ; quem
lhes respondem os accende
. (1)544

Em mudar trajes, em mudar lugares
Não consiste teu bem, teu bem consiste
Em te despir de ti, a ti mudares.
(2)545

Tambem se põe antes do gerundio,
como : Tem todas as virtudes
Christãs entre si tal parentesco, tal
connexão, e encadeamento, que
em dizendo
homem virtuoso, he consequencia
forçada que não seja descuidado
em nenhuma
. (3)546

Por.

Esta preposição, quando se lhe segue
articulo antes do nome, muda o
l em r, e se diz polo, pola, e hoje
conservando-se ainda em lugar de por
a antiga preposição per, está em uso
dizer-se pelo, pela, pelos, pelas.

Serve para significar diversas cousas,
a saber :

Causa final, ou motivo, por que
269se effeitua alguma cousa
, como : por
mais não poder, por passatempo, por
serviço de Deos.

Mal se póde crer, que he rigoroso
por obrigação, quem o he ordinariamente
por condição
. (1)547

Lugar, como : ir por terra, ou
por mar, andar por onde o carro anda.

Porque sempre por via irá direita,
Quem do opportuno tempo se aproveita.
(2)548

Meio, como : fallar por interposta
pessoa, requerer por procurador,
conseguir por empenho, ou por intervenção
de outrem.

A honra não se póde perder, nem
ganhar senão
por defeitos, ou merecimentos
proprios, e não
por cousas,
que procedem de estilos, e obrigações
dos cargos, que não podem, nem devem
alterar os quilates da pessoa
. (3)549

Modo, como : por necessidade, por
bem, por mal.270

Estes homens, com quem tratão,
(Homens não, mas leões bravos)
Por força tudo rematão :
Os leões não se resgatão,
Nem se vendem por escravos.
(1)550

Preço, como : comprar, ou vender
por

Sendo a honra geralmente tão cobiçada,
que se achão em todas as nações
homens, que dem a vida
por ella,
os Portuguezes são os que nisso
querem ganhar a todas as gentes em
determinação, e ousadia, prezando-se
de mais atrevidos, e denodados desprezadores
de perigos
. (2)551

Tempo, como : foi degradado por
dez annos, ou por toda a vida.

Quanto melhor he a terra, tanto
mais alto mato cria, e nelle toda
a sorte de bichos peçonhentos, se lhe
falta
por muito tempo quem bem a
cultive
. (3)552

Equival a varias outras expressões,
e significa o mesmo que

A favor de, como : advogar, ou
interceder por271

Quanto ás cousas da India (disse
o grande Albuquerque) ella fallará
por si, e por mim. (1)553

Os homens honrados sempre são
pola verdade, e em toda a parte a
honrão, defendem, e favorecem
. (2)554

A trazer, como : ir por alguma
cousa, v. g. por lenha ao mato, por
agoa á fonte, &c. e segundo diz o
adagio : Olhai não vades por lã, e
venhais trosquiado
. (3)555

A troco de, ou mediando hum certo
preço
, como : dar tanto por tanto,
fazer troca por troca, dar, ou trocar
huma cousa por outra, v. g. o trigo
por azeite, &c.

Os animos, que exercitão de seu
natural as virtudes, não buscão graças

por ellas. (4)556

Triste de quem no dia derradeiro
Tem o suor alheo por pagar,
Pois a alma ha de vender por o dinheiro.
(5)557272

Em conceito, ou em opinião de,
como : deixar por morto, dar por seguro,
contar por certo, comprar por
bom, ter por homem honrado, &c.

A patria he mãi santissima, pola
qual julgão todos os Sabios, que
se deve pôr a vida, e que isto havemos
de ter
por summa gloria. (1)558

Em lugar de, como : servir, ou
pagar por outro.

O pobre virtuoso, e o sesudo
Perca do que merece, a saudade,
E tome a paciencia por escudo.
(2)559

Em qualidade, ou exercicio de,
como : estar por Governador, tomar
por compadre, receber por marido,
ou por mulher.

As cousas da honra acerca daqueles
que a caso
por vida, precedem
todos os perigos da vida
. (3)560

Ajunta-se ao infinito dos verbos,
como : por fallar verdade, por assim
dizer, por comprazer comtigo.

O cobiçoso não soffre a devassidão
273do sensual, o soberbo não compadece
a ladrão, o homicida estranha haver
### ####### : tudo a culpa alhea he
mais ####
por desaggravo a propria,
que não se enxerga, ou tem
desculpa
. (1)561

Se por merecer me affronto,
Sou homicida da honra ;
Já mais alimpou deshonra,
O ter riquezas sem conta.
(2)562

Capitulo IV.
Da Syntaxe, ou Construcção figurada.

Syntaxe, ou Construcção figurada
he a que se aparta da simples,
e natural, quando, se o uso assim
o pede, ou melhor convém á elegancia,
e energia da expressão.

Figura, que propriamente quer dizer
ficção, se commette na construcção,
e ordem das partes do discurso,
sempre que nelle usamos de alguma
274locução apartada do commum uso de
fallar, e que primeiramente nos occorre.

Como as expressões figuradas, ou
fingidas servem para substituir as naturaes,
e verdadeiras, os Grammaticos
com propriedade chamão figura
huma tal substituição.

Dá-se figura na oração por quatro
modos : I. se as palavras se transpõe ;
II. se faltão ; III. se sobrão ; IV. se
nellas deixa de se guardar alguma das
regras de concordancia. Os nomes,
com que se distinguem, são os Gregos,
de hyperbaton, ellipsis, pleonasmo,
syllepsis
. Destas figuras por
serem as principaes, ou as unicas (como
querem huns Grammaticos) passamos
a tratar em particular.

§. I.
Da Hyperbaton.

Hyperbaton, isto he transposição
de palavra, faz-se quando
se inverte, ou perturba a ordem
natural das palavras.

A ordem, e construcção natural
275pede que o substantivo preceda ao adjectivo,
o nome, e o pronome ao verbo,
quando são o agente, ou principio
da sua acção, e o verbo ao adverbio ;
porém esta ordem de commum
se inverte ao contrario, tanto porque
o uso geralmente admittido pelas pessoas,
que bem fallão, e escrevem, o
autoriza ; como porque muitas vezes
he assim conveniente fazelo para dar
ao que se diz maior elegancia, e energia.

Esta differença se vê nos dous seguintes
exemplos.

I. O soldado generoso estima a
guerra, porque deseja a victoria ; e
não recusa o combate, porque aspira
ao triunfo
. (1)563

A construcção natural se acha
pontualmente observada em todas as
partes da sobredita frase. O substantivo
soldado está aqui precedido do seu
articulo masculino o. Segue-se-lhe o
adjectivo generoso, que o qualifica,
com elle concordado em genero, e número.
Immediato a hum, e outro vai
276logo o verbo estima, posto na terceira
pessoa do singular ; e no presente
do indicativo, porque a voz, que exprime,
pertence ao dito tempo, e modo,
e porque em pessoa, e número
deve concordar com o nome soldado,
que he o principio da sua acção. O
termo desta he com o seu articulo feminino
a, o nome guerra, subsequente
por isso ao mesmo verbo.

Na oração, que com esta prende
a particula causal porque, como tambem
no segundo membro da mesma
clausula, ligado com o primeiro
pela conjunção e, a collocação das palavras
he igualmente simples, e natural.

II. Os generosos, e fieis Soldados,
e Capitães toda a gloria de suas façanhas,
e victorias a devem renunciar
de sua parte, e não a querer para
si, e para sua fama, e honra, senão
inteiramente para o Rei, a quem
servem
. (1)564

Neste exemplo ha hyperbaton, pois
que os adjectivos generosos, e fieis
se antepõe aos substantivos soldados,
277e capitães, e o nome gloria, que he
o termo da acção do verbo renunciar,
posto antes delle, com o pronome a,
que se lhe ajunta por elegancia, separa
o dito verbo dos dous substantivos
agentes do verbo devem, que lhe precede,
e o põe no modo infinito.

A hyperbaton se usa muitas vezes
(como se adverte acima) para maior
elegancia do discurso. Donde vem,
que dizendo-se por exemplo : Raramente
se perde lugar, que póde ser
soccorrido
 ; (1)565 nestas palavras, que soão
agradavelmente quando assim ordenadas,
perdem muito desta graça, ou
elegancia, se reduzidas á sua ordem
natural se enuncião desta maneira : Lugar,
que póde ser soccorrido, perdesse
raramente
.

Usa-se tambem para maior energia,
quando a ordem natural das palavras
se inverte a respeito daquellas,
cujo significado constitue o objecto
principal, ou mais attendivel da sentença.
Exemplo : De preverter a ordem
das cousas, e levarem ás vezes
278ao fundo o proveito publico respeitos
particulares, e fazer siso de accommodar
as cousas a pretenções, nascem
todas as injustiças, e todos os
males
. (1)566

Como a preverter a ordem das
cousas
, &c. he o objecto principal
desta clausula, e dalli procedem todas
as injustiças, e todos os males, a sentença
primeira logo por aquellas palavras,
em que consiste a sua força, as
quaes por isso precedem ás que segundo
a ordem natural deverião ir antes,
dizendo-se : Todas as injustiças
nascem de preverter, &c.

Pela hyperbaton (segundo fica mostrado)
não só os adjectivos se antepõe
aos substantivos, os adverbios aos
verbos, e estes aos nomes, que são
principio da sua acção, e os que della
são termo aos mesmos verbos ; mas
em virtude da dita figura por uso estabelecido,
alguns adjectivos, constantemente
precedem aos substantivos, e
taes são com particularidade os seguintes.279

Os adjectivos algum, e nenhum
em proposições affirmativas, sempre se
põe antes dos substantivos, pois que
dizendo-se : Algum desgosto me espera,
nenhuma alegria tenho ; não póde
dizer-se : Espera-me desgosto algum,
tenho alegria nenhuma
. Exemplos :
Escandalizar he propriamente empeçar
em alguma cousa para cahir ; ora
não sómente me escandaliza o que me
diz, ou faz cousa que me offende, e
me parece mal ; mas muito mais me
escandaliza se me patrece bem, porque
então me faz cahir de todo
. (1)567

Nenhum homem póde nunca acertar
se senão tiver por parte em todas
as cousas, a que se vir affeiçoado, e
se se não valer mais de si, que de
ninguem
. (2)568

Os adjectivos muito, e pouco nunca
se pospõe, quando se ajuntão immediatamente
com os substantivos. Exemplos :
Muitos negocios acontece perderem-se,
por não haver quem comece
a movelos
. (3)569280

Tem pouca força as leis para a
obediencia, onde faltão os exemplos
para a imitação
. (1)570

O adjectivo certo, quando se toma
em sentido vago, e indeterminado,
significando hum tal, tambem vai sempre
primeiro que o substantivo. Exemplos :
Teve (Santo Ignacio de Loyola,
quando moço, e soldado) huma
pendencia com
certo poderoso, e diz
a historia, que contra huma rua de
espadas, sem fazer hum pé atraz se
sustentou só com a sua
. (2)571

Costume he de homens sesudos, e
prudentes não descobrir seu animo,
nem publicar seus segredos temerariamente,
mas eleger com deliberação,
e consideração
certas pessoas, de que
se fiem
. (3)572

Alguns adjectivos diversificão a
significação, postos, ou antes, ou depois
dos substantivos, por exemplo :
bom homem, pobre homem, querem dizer
differente cousa, que homem bom,
homem pobre
. Por este motivo hum dos
281nossos antigos Comicos (1)573 assim diz :
A quem ouvirdes chamar bom homem,
dai-lhe esmóla de dó delle. O mesmo
passa a respeito de varios outros adjectivos,
que remettemos á observação,
e e tudo da lingoa.

Tambem a energia de algumas expressões
se modifica por meio da soberdita
inversão dos adjectivos. Exemplo :
Hum Principe estrangeiro (disse
o P. Vieira)… bem pudera ser
nosso Rei ; mas vai grande differença
de ser
nosso Rei, ou ser Rei
nosso. (2)574

E com igual advertencia diz em
outro lugar : (3)575 Em respeito dos mesmos
Pais huma cousa he ser
filho seu,
e outra muito differente ser o seu filho.
Jacob tinha tantos filhos, como
sabemos, mas o seu filho era Joseph
.

O articulo, e o adjectivo, postos
antes, ou depois de hum nome proprio,
algumas vezes mudando de lugar,
mudão igualmente de sentido, o
tomão differente accepção.282

Esta frase : vi o rico Lucullo, significa,
vi Lucullo, que he rico.

Vi Lucullo o rico, dá a entender
que ha mais de hum Lucullo, e que
entre elles eu vi aquelle, que dos outros
se distingue por suas riquezas.

Este que Affonso o Bravo se chamou. (1)576

Pela mesma razão do uso, ou por
queremos anticipar a qualificação dos
verbos ao seu significado, de ordinario
se lhes antepõe os adverbios, dizendo-se :
bem está, muito importa,
pouco val, tarde chega, nunca vem,
&c.

Pouco presta escrever grandes volumes
Por parte da virtude, contra o vicio ;
Vencem boas palavras máos costumes.
(2)577

Quando na oração a ordem das palavras
se acha algum tanto confusa,
esta especie de hyperbaton se chama
com nome grego synchysis, que quer
dizer confusão. Huma tal licença permitte-se
283mais no verso do que na prosa. (*)578

§. II.
Da Ellipsis.

Ellipsis quer dizer, falta, ou
defeito. Commette-se esta figura,
quando se supprime, ou cala huma,
ou mais palavras, que serião necessarias
para a regularidade da construcção,
mas não para intelligencia do que
se exprime.

O natural desejo, e muitas vezes
a necessidade urgente de expressar pronta,
e brevemente os nossos conceitos,
faz que o uso da ellipsis seja, não só
commodo, mas ainda indispensavel,
284e muito frequente em toda a sorte de
discurso.

No familiar he ordinario dizer-se :
A Deos, até logo, bons dias, bem
vindo, que tal
 ? e em todas estas expressões,
e outras semelhantes se dá
ellipsis, pois que sem ella, tomadas
grammaticalmente não formão oração,
porque lhes falta verbo, por cujo meio
o sentido se constitue cabal, e perfeito.

Mas logo que em cada huma das
sobreditas expressões se substitue o
verbo supprimido pela ellipsis, a construcção
fica inteira, e regular, desta
maneira : A Deos te encommendo, ou
peço que te guarde
 ; até logo, que
voltarei ; bons dias te dê Deos ; bem
vindo sejas ; que tal te parece
 ?

Com a mesma frequencia se usa
da ellipsis em todo genero de escritos,
e difficultosamente deixará ella de
se encontrar já neste, já naquelle lugar.
Exemplos : O caminho da verdade
he único, e simples, e o da falsidade
vario, e infinito
. (1)579285

No segundo membro desta clausula
faltão, e devem supprir se o substantivo
caminho, e o verbo he, pois
para inteirar a construcção, que pede
a Grammatica, devera dizer-se : O caminho
da verdade he único, e simples,
e o caminho da falsidade he vario, e
infinito
.

Antes poucas letras com boa consciencia,
que muitas sem temor de
Deos
. (1)580

Aqui em ambas as orações falta
o verbo haja, ou algum outro com
que se forme sentido, e o nome letras,
expresso na primeira, suppõe-se
na segunda.

Quando Camões (2)581 refere a prodigiosa
apparição de Christo Senhor
N. no campo de Ourique ao primeiro
Rei de Portugal, e diz que

Elle adorando a quem lhe apparecia,
Na Fé todo inflammado, assi gritava,
Aos infieis, Senhor, aos infieis ;
E naõ a mim, que creio o que podeis.
286

As palavras, aos infieis, repetidas,
e a mim, não farião sentido por
falta de verbo, se aquelle se não completasse
pela ellipsis, supprindo duas
vezes antes de aos infieis, algum verbo,
v. g. apparecei, ou mostrai-vos,
e appareçais
antes de a mim. Mas
como a presteza, com que o glorioso
Principe naturalmente prorompeo nestas
vozes, pedia brevidade, e vehemencia,
a construcção grammatical dellas
sim he imperfeita ; porém o conceito
tanto he mais energico, quanto he assim
mais conciso.

Apposição, que nenhuma outra cousa
he senão a mesma ellipsis, so
faz quando se põr seguidos sem conjunção
dous, ou mais substantivos pertencentes
a huma mesma cousa, assim
como : O Tejo, rio principal da Europa,
entra no mar em
Lisboa, cidade
das mais nobres do mundo. (1)582

Em tal caso, de commum se suppre
entre os substantivos immediatos
hum verbo, e hum pronome relativo.
Assim quando se diz : O Tejo, rio ;
287Lisboa, cidade
, se suppre de permeio
o relativo que, e o verbo he, e semelhantemente
em quaesquer outros.

Quando os nomes proprios das
provincias, reinos, rios, e até mesmo
os das pessoas contra a regra geral
admittem articulo, como : o Brasil,
o Portugal antigo, o Douro, o Camões
 ;
se suppre da mesma sorte pela
ellipsis algum nome commum, ou appellativo,
como : provincia, reino,
rio, poeta
.

Tambem se supprem algumas palavras
sempre que os adverbios se ajuntão
irregularmente com os adjectivos ;
por tanto dizendo-se : As cousas bem
acertadas hão de ter execução breve. (1)583

Hum engenho naturalmente mordaz,
assim reprehende as cousas, que
não sabe, como as que entende
. (2)584

Nestes lugares, se supprem duas
palavras, vem a ser
no primeiro, que
são
, e no segundo, que he, e por
tanto os sobreditos adverbios bem, e
288naturalmente, não se ajuntão com os
adjectivos acertadas, e mordaz, mas
sim com os verbos supprimidos.

Posto que da figura ellipsis pareça
ter-se dito quanto basta para se conhecer
a sua natureza, e principaes
qualidades ; todavia bem he que se
advirta ser ella de repetido, e frequentissimo
uso na nossa lingoa. Este conhecimento
será motivo de se buscar,
e descobrir a dita figura em muitas
frases, e locuções, que á primeira vista
se tem por defeituosas, ou irregulares,
e que por meio della se reduzem
ás regras geraes, de que não são excepções.

§. III.
Do Pleonasmo.

Pleonasmo quer dizer sobegidão
de palavras, o qual então he
figura, quando se usa de palavras,
posto que superfluas, com tudo uteis,
e convenientes para dar, ou mais força
á expressão, ou maior certeza, e
efficacia ás cousas, que se dizem, e
asseverão. Exemplos :289

Vi claramente visto (*)585 o lume vivo,
Que a maritima gente tem por santo,
Em tempo de tormenta, e vento esquivo,
De tempestade escura, e triste pranto.
(1)586

Onde ha vergonha, e honra não
se póde affirmar senão o que se vê
c
'os olhos, ou se ouve de dignos de
. (2)587

O pleonasmo he porém vicioso,
quando se dizem algumas palavras,
que se podem escusar, e são absolutamente
superfluas, como : olhou-me com
os seus olhos ; fallou-me com a sua boca
 ;
porque ninguem póde olhar, e
fallar senão por olhos, e boca propria.

Sem embargo disto, o uso permitte
pela figura pleonasmo, que a certas
locuções se accrescentem algumas
290palavras, que sendo no rigor grammatical
desnecessarias, servem de lhes
dar maior firmeza, e energia. Daqui
vem que algumas vezes se soffre o dizer-se :
eu o vi com os meus olhos ;
ouvi-o com estes ouvidos ; escrevi-lhe
por
minha mão ; e ainda mesmo : subir
para cima, descer para baixo, voar
pelo ar, recuar para traz, &c.

Igualmente está em uso ajuntar o
adjectivo mesmo, ou proprio a hum
nome, ou pronome, como : eu mesmo
o presenciei, tu proprio mo contaste,
elle mesmo o certificou.

Pela mesma causa, ou talvez para
maior clareza se costumão repetir
com diversa terminação os pronomes
me, te, se, e se diz : parece-me a
mim, a ti te affirmo, a elle lhe disse.

Quem tanto a si mesmo, tanto amima,
Que a si se favorece, e se perdoa
Qu'espirito mostrará em prosa, ou rima ?
(1)588

De si mesmo se lembra quem das
miserias alheias se lastima
. (2)589

Perguntavão a hum daquelles Padres
291do ermo, donde lhe viera tanta
prudencia ? Respondeo, que de nunca
dar entrada a pensamentos de fazer
caso de
si proprio. Porque he cousa
muito certa estar muito ju8nta a opinião
de si com parvoice
. (1)590

§. IV.
Da Syllepsis.

Syllepsis quer dizer concebimento,
e se faz todas as vezes,
que na concordancia das palavras se
attende, não o valor, que ellas tem,
mas o sentido, que se concebe.

Commette-se esta figura nos generos,
e nos números.

Syllepsis do genero he quando
proferimos hum genero, e concebemos
outro. As vozes, com que as pessoas
se qualificão pelos seus tratamentos,
v. g. Magestade, Alteza, Excellencia,
&c. são nomes do genero feminino ;
porém se os individuos, a respeito de
que as proferimos, são homens, em
292razão, da idéa, que concebemos, se
ajuntão os ditos nomes a adjectivos,
e participios de terminação masculina,
dizendo-se : Sua Magestade, justo, e
pio, foi servido ordenar, &c.

Camões se aproveitou da licença,
que permitte esta figura no seguinte
lugar da Lusiada : (1)591

Mas já o Planeta, que no Ceo primeiro
Habita, cinco vezes apressada,
Agora meio rosto, agora inteiro
Mostrara, em quanto o mar cortava a armada.

Aqui o adjectivo apressada na terminação
feminina não concorda com
o substantivo masculino Planeta, expresso ;
porém sim com o feminino
Lua, por ser este o que o Poeta havia
concebido no pensamento.

Da mesma sorte diz o P. Vieira :
Vemos tantas velhices decrepitas, tão
enfeitiçadas das paredes de Palacio,
que tropeçando nas escadas, sem vista,
e sem respiração as sobem todos
os dias, bem esquecidos dos que lhe
restão de vida
. (2)592293

Syllepsis do número dá-se quando
concebemos o plural pelo singular, ou
ao contrario. Desta maneira se o agente
do verbo he hum collectivo, e se
lhe segue a preposição de, e hum plural,
com este concorda o verbo em
número, e não com o collectivo. Exemplos :

Aqui dos Scythos grande quantidad vivem. (1)593

Das ovelhas a maior parte ao desamparo
dos pegureiros
se perdêrão. (2)594

Esta mesma concordancia se encontra
assim feita, seguindo-se ao collectivo
partitivo a preposição de, e depois
della outro collectivo geral ? Exemplo :
Povoavão os dagráos muita
sorte de gente, que parecião pobres. (3)595

Syllepsis do genero, e do número
tambem se faz juntamente, assim como :
Onde estavão armadas tamanha
somma de rendas, e leitos como para
tanta cavellaria parecia necessario
. (4)596294

Syllepsis do número não menos
se faz, quando na oração concorrem
dous, ou mais substantivos do singular,
de ambos os generos, e o adjectivo
posto no plural, concorda com
o do genero mais nobre, qual he o
masculino a respeito do feminino, assim
como : Antonio, sua mulher, e
huma filha estão
todos enfermos.

O mesmo he, quando na oração
concorrem muitos agentes da significação
do verbo, e estes são differentes
pessoas do singular. O verbo
posto então no plural concorda com
o agente da pessoa mais nobre, qual
he a primeira, quanto á segunda, e
terceira, e a segunda, quanto á terceira,
assim como : Eu, e tu logramos
saude ; eu, e vós estamos assentados.

Dizendo Luiz XIV, ao Conde de
Grammont : Já sei a vossa idades,
o Bispo de Senlis, que tem 84 annos,
me deo por época, que ambos vós tinheis
estudado juntamente na mesma
classe. Senhor
(replicou o Conde) esse
Bispo cita de falso ; porque nem elle,
nem
eu nunca estudámos.295

Tu e Antonio folgais de ouvir as
vidas dos Santos
. (*)597

Capitulo V.
Do Barbarismo, e Solecismo.

Do Barbarismo, e Solecismo trataremos
em ultimo lugar com a
possivel brevidade. Estes dous vicios,
que entre outros são, os que mais
particularmente se oppõe á oração pura,
e correcta, merecem especial advertencia.

§. I.
Do Barbarismo.

Barbarismo he todo genero de
expressão, estranho á lingoa que
se falla.

A palavra barbarismo procede
do costume, que os Gregos, e Romanos
tinhão de chamar barbaros, isto he,
estrangeiros, os outros povos.

O barbarismo commette-se, ou
296simplesmente nas palavras, ou na estructura
das partes da oração. O primeiro
he contrario á pureza da lingoagem,
e o segundo á construcção,
ou syntaxe. De hum, e outro passamos
a dizer o mais importante.

O barbarismo das palavras comprehende
todos os termos, que, ou
por muito antigos, ou por muito novos,
ou por muito estranhos apenas
podem ser entendidos por hum pequeno
número de pessoas.

Nenhum dos escritos antigos, e
autores primevos de qualquer idioma
deixa de ter quantidade de palavras
inintelligiveis. A respeito destes vocabulos
muito velhos, ou, por melhor
dizer, já hoje antiquados e obsoletos,
basta repetir o que judiciosamente ponderou
Francisco Rodriguez Lobo. (1)598
Convem a saber :

“Não tenho (diz hum dos interlocutores
do dialogo) por grande
vicio aproveitar de algumas (palavras)
antigas, muito bem usadas
em outro tempo, e desterradas sem
297razão na nossa idade. Não faltão
(responde o outro interlocutor) curiosos,
que por acharem pobre a
lingoa, ou por elles o estarem de
seus vocabulos, fazem alguns ao seu
modo…”

“E ao que dizeis de palavras antigas,
posto que em algum tempo
fossem boas, não o ficão sendo na
parte, em que se perdeo o uso dellas ;
pois, como já disse, esse he
o fundamento, e a razão das palavras :
e assim não diremos, leixou,
trouve, dixe, casicais, acram,
leidisse
, e outros vocabulos, de
que usárão Autores gravissimos, de
cujos escritos podemos apprender
a perfeição da lingoagem Portugueza.
E bastou o contrario uso, para
nesta parte puderem seguir os que
agora escrevem, e fallão bem.”

A esta doutrina, que he geral, e
sómente a verdadeira se conforma João
de Barros, (1)599 dizendo : “A meu juizo
tão mal parece hum vocabulo
Latino, mal derivado a nós, como
298algumas palavras, que achamos por
escrituras antigas, as quaes o tempo
deixou esquecer.” Da mesma
sorte Fr. Heitor Pinto (1)600 diz : “As
palavras para boas não hão de ser
muito antigas, cá como diz Phavorino…
a lingoagem ha de ser de
vocabulos presentes, e a vida de
costumes antigos.”

As palavras muito novas tambem
se devem ter por barbarismo, em quanto
de commum consentimento se não acharem
geralmente recebidas. Taes
são ao presente além de outras, por
exemplo : exactidão contra derivação,
e analogia, polidez desnecessaria, pois
que ha policia, polimento, civilidade,
cortezia, urbanidade
, &c.

Os termos tomados do Latim, do
Italiano, do Francez, ou de alguma
outra lingoa estranha, igualmente se
hão de considerar como novos, e por
conseguinte barbaros, em quanto o
uso os não houver naturalizado.

Do Latim, por exemplo : innascivel,
299 (1)601 infatuar, (2)602 nado
(3)603
por nascido, &c. (*)604

Do Italiano, v. g. abondança, (4)605
mancar
(5)606 por faltar, pregarias
300 (1)607 por orações, ou preces, tinello (2)608
&c.

Do Francez, v. g. afferes por negocios,
argem por dinheiro, reproche
por improperio, ou cousa mal feita
com que se dá na cara, a quem a fez,
&c. (*)609

Tambem ha barbarismo quando
huma palavra da lingoa se toma em
sentido differente daquelle, que o uso
lhe tinha assignado. Taes se devêrão
reputar logo que de Francezes se convertêrão
em Portuguezes quanto ao significado,
v. g. os termos, carnagem,
significando mortandade, matança, carniçaria
de gente, passagem, certo lugar
de hum Autor, que se allega ;
301plano, desenhom ou projecto de huma
obra, &c. (*)610

O barbarismo das frases se commette,
ainda que as palavras, de que
ellas se compõe, sejão proprias da
lingoa, se a contextura destas se não
conforma ao uso recebido na mesma
lingoa, por exemplo, jogar peças,
havendo-se de dizer, representar farças,
ou qualquer drama, (1)611 &c.

O barbarismo da Grammatica faz-se
de varios modos.

I. A respeito dos Articulos, he
barbarismo supprimir o articulo, que
se deve pôr, pôlo quando deve omittir-se,
ou finalmente pôr hum em lugar
de outro. Exemplos : Os pais, e
mãis
, diga-se os pais, e as mais ;
cantando espalharei por toda
a parte,
diga-se por toda parte. Quanto ao pôr
hum articulo em lugar de outro, “claramente
vemos (são palavras de
302João de Barros (1)612) que para o entendimento
ficar satisfeito he necessario
artigo masculino ao nome masculino,
e artigo feminino, ao feminino ;
porque não diremos, das homens
he obrar virtude, e dos aves
avoar.”

II. A respeito dos Pronomes consiste
o barbarismo em os calar quando
devem ser expressos, por exemplo :
seu pai, e mai, diga-se seu pai,
e sua mãi
 ; seus vestidos, e joias,
diga-se seus vestidos, e suas joias.

Em hum Escritor illustre, que diz :
O inimigo sem medo trata da sua satisfação,
o inimigo com medo trata
da sua satisfação, e odio : emende-se,
e do seu odio.

O maior desejo, que tem, e devem
ter os pais, he serem taes seus
filhos, que não só os igualem, mas
os venção, e excedão a
ellas. (2)613

O pronome elles, com que se conclue
esta frase, sim pudera omittir-se ;
porém a construcção das palavras, não
303ficaria perfeita, por isso que menos
animada, e expressiva.

O mesmo fora, se no ultimo verso
do terceto seguinte, o pronome
elle, que se refere a ouro, se calara,
e em seu lugar se puzera a conjunção
e.

Mas, ah ! vemos que agora tal poder
Lhe tem o mundo dado, que elle manda,
Elle a virtude julga, elle o saber.
(1)614

Tambem se deve attender muito
que o relativo se ponha sempre no seu
lugar competente, e não onde possa
occasionar equivoco ao sentido da oração.
Nesta clausula, por exemplo,
Quem a vida aventura pela honra,
não perde nada, inda que fique sem

ella, (2)615 dá-se equivoco. O pronome
ella mal collocado, mais parece referir-se
ao substantivo honra, proximo,
com quem póde suppôr-se concordado,
do que ao substantivo vida, ao qual
efectivamente pertence.

III. A respeito dos Verbos dá-se
barbarismo, quando se lhes erra a conjugação,
304como se faz dizendo : eu
despeço
por eu despido, elle impeça
por elle impida, elle requer por elle
requere
, (*)616 trouve por trouxe, hade-me
por ha-me de, eu prova, tu provas
no conjunctivo do verbo prover,
em lugar de eu proveja, tu provejas,
&c.

Glorêa, e Premêa tem por si huma,
ou outra autoridade. Gloría, e
Premia são a conjugação regular, e
por tano a mais seguida. Aluméa, e
305Alumia são igualmente de muitos dos
nossos Classicos.

Neste lugar de Camões : E folgarás
de veres a policia, (1)617 emende-se
de ver. E assim tambem os dous seguintes :
Não te espantes De a Bacco
nos teus Reinos receberes. (2)618 Faz te
mercê… de c'os olhos corporaes veres. (3)619

IV. A respeito dos Adverbios, faz-se
barbarismo, quando se deixar de
pôr o adverbio, onde devêra estar,
ou ao contrario. Exemplos : O Rosario
(diz hum dos nossos melhores
AA.) póde-se tomar na boca, e meditar
no coração, na Igreja, e fóra della,
na casa, e no campo, no mar,
e na terra, e em todo o lugar por

306menos santo, e profano que seja. Antes
de profano devêra pôr-se o adverbio
mais.

O adverbio mas he superfluo, sempre
que se ajunta a antes, como nota
Faria, e Sousa sobre este verso de
Camões : (1)620

Mas antes muito mais se esforça assim. (2)621

V. A respeito das Preposições ha
em fim barbarismo, ou se faltão em
seus devidos lugares, ou se estão onde
se fazem desnecessarias. Exemplos :
Por bem, e mal, diga-se e por mal.

He desnecessaria a preposição, dizendo-se
por exemplo : Do homem, de
que fallávamos, vem agora, em lugar
de dizer : O homem, de que fallavamos,
vem agora
. (3)307

§. II.
Do Solecismo.

Solecismo (1)622 he hum erro directamente
contrario ás regras da
Grammatica.

Sem fallarmos dos mais grosseiros,
em que só costumão cahir as pessoas
da plebe, apontaremos os outros,
que por serem menos sensiveis, commettem
algumas vezes aquelles, que
não tem feito da lingoa o estudo necessario.

O solecismo faz-se por differentes
modos.

I. A respeito dos Nomes, quando
se lhes dá, ou o genero de que não
são, ou o que não se acha em actual
308uso, como : hum jota, (1)623 hum contra-peçonha, (2)624
a Egypto, (3)625 os Eneidas, (4)626 &c.

Gloria singular he de Portugal,
que nem no Reino, nem em toda a
Monarquia domine hum só palmo de
terra, que não fosse conquistada a infieis
. (5)627
Dizendo-se conquistado haveria
solecismo.

II. A respeito dos Pronomes. A
leitura dos livros Francezes tem introduzido
no idioma Portuguez huma
superabundancia de pronomes, que lhe
he absolutamente estranha. Nas traducções,
que ha de alguns delles, se póde
a cada linha notar este defeito. Em
hum tal genero de escrever (e póde
ser que não só nelle) já commũmente
(servir-me-hei das palavras de D. Fr.
Amador Arraiz (6)628) he tida a erudição
por trabalho diurno, a que no
cabo do dia se deve o jornal
.309

III. A respeito dos Verbos, principalmente
quando se lhes não dá a
concordancia de pessoa, e número com
o agente.

Camões com mais liberdade do que
permitte a prosa, assim diz : (1)629

Que mais o Persa fez naquella empresa,
Onde rosto, e narizes se cortava ?

O mesmo Poeta por obrigação da
rima trocou os tempos em outros dous
lugares, dizendo :

Naquelle Deos, que o Mundo governava (2)630
Senão no Summo Deos, que o Ceo regia.
(3)631

IV. A rspeito das Preposições,
como : morto com espada, edificio posto
em terra, successo contado por pedaços,
diga-se, morto á espada, edificio
posto por terra, successo contado
a pedaços, &c.310

1(1) Eufros. act. 5. sc. 10.

2(1) Paiv. Serm. part. 1. f. 271.

3(2) Ferreir. Poem. Lusit. l. 1. cart. 10.

4(3) Vieir. Serm. t. 1. col. 58.

5(4) Bernard. Lim. cant. 27.

6(1) Ferreir. Poem. 1. cart. 1.

7(1) Bernard. Lim. cart. 5.

8(2) Vieir. Serm. t. 2. p. 253.

9(3) Id. ibid. t. 7. p. 67.

10(*) Os Adjectivos acabados em ez, ol, e
or tiverão antigamente esta só terminação para
os substantivos de ambos os generos, como :
lingoagem Portuguez, nação Hespanhol,
cidade competidor, &c.

11(**) Veja-se a nota primeira no fim do volume.

12(1) Affim, adj. Leão, Orthogr. f. 13., e
Orig. c. 7.

13(*) Os adj. acabados hoje em il, sem accento
agudo na ultima syllaba, tinhão antigamente
mais huma, accrescentando-se-lhes a
vogal e, como : esterile, facile, fertile, &c.
O mesmo se fazia aos que agora acabão em
az, iz, oz, com a mudança do z em e, dizendo-se :
contumace, felice, atroce, &c.

14(1) Vieir. Serm. t. 3. p. 100.

15(2) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 2.

16(*) Veja-se a nota II.

17(1) Vieir. Serm. t. 2. p. 71.

18(1) Sous. Vid. de D. Fr. Berth. dos Mart. l.
c. 13.

19(2) Vieir. Serm. t. 1. col. 319.

20(1) Grammat. p. 105.

21(2) Azurar. Chron. de D. J. I. part. 3. c. 5.
Resend. Chron. de D. J. II. c. 116.

22(*) Veja-se a nota III.

23(**) Veja-se a nota IV.

24(*) Veja-se a nota V.

25(*) Veja-se a nota VI.

26(1) D. Fr. Amad. Arrais, Dial. 10. c. 4.

27(1) Serm. t. 7. p. 400. o mesmo Vieira
(ibid. t. 8. p. 119) chama ao Santo Job o
valentão de Deos ; e em outro lugar (t. 14.
p. 42.) denomina Aman, grande valido, e
primeiro Ministraço del Rei Assuero.

28(*) Veja-se a nota VII no fim do volume.

29(2) Sá de Mirand. Estrang. act. 2. Ferreir.
Cos. cct. 2. sc. 3. f. 145.

30(3) Ferreir. Epist. act. 3. sc. 5.

31(4) Leão, Orthogr. f. 23.

32(5) Barr. Grammat. p. 87.

33(6) Sous. Vid. de D. Fr. Berth. dos Mart.
f. 3. c. 15.

34(1) Vieir. Serm. t. 7. p. 65.

35(*) Veja-se a nota VIII.

36(2) Grammat. p. 37.

37(1) Sá de Mirand. Obr. ecl. 3. est. 10.

38(2) Eufros. act. 3. ac. 5. f. 129.

39(3) Paiv. Serm. part. 2. p. 79.

40(1) Vieir. Serm. t. 2. p. 36.

41(2) Id. ibid. t. 1. col. 327.

42(1) Sous. Vid. l. 4. c. 25.

43(2) Vieir. Serm. t. 4. p. 135.

44(1) Paiv. Serm. t. 1. f. 204.

45(2) Pint. Ribeir. Lustr. ao Desemb. c. 5.
num. 62.

46(3) Lucen. Vid. do P. Franc. de Lav. l. 7.
c. 18.

47(4) Mor. Primitiv. de Ingl. Part. ## ## 20.

48(1) Vieir. Serm. t. 14. p. 64.

49(2) Id. ibid. t. 9. p. 473.

50(3) Id. ibid. t. 2. p. 426.

51(4) Cam. Lusiad. cant. 10. est. 113.

52(1) Fr. Heit. Pint. Imag. da Vid. Christ.
part. 2. dial. 1. c. 18.

53(2) Vieir. Serm. f. 124. p. 266.

54(1) Id. ibid. t. 1. col. 312.

55(2) Id. Ibid. t. 1. col. 181.

56(3) Id. ibid. t. 2. p. 215.

57(4) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 3. c. 1.

58(5) Bernard. Lim. cart. 1.

59(1) Serm. t. 7. p. 100.

60(1) Lucen. Vid. l. 7. c. 13.

61(2) Cam. Rim. eleg. 6. est. 1. Brit. Mon.
Lusit. Part. 1. l. 2. c. 18.

62(3) Fr. Heit. Pint. Imag. part. 1. dial. 5.
c. 4. Vieir. Serm. t. 6. p. 18.

63(4) D. Fr. Amad. Arraz, Dial. 10. c. 32.
Brit. Chron. de Cist. l. 1. c. 28.

64(5) Sous. Vid. l. 1. c. 24.

65(6) Fr. Heit. Pint. Imag. part. 2. dial. 3. c. 10.

66(7) Vieir. Serm. t. 1. col. 1059.

67(*) Veja-se a nota IX.

68(1) Bernard. Lim, cart. 8.

69(1) Vieir. Serm. t. 5. p. 102.

70(1) Bernard. Lim. cart. 27.

71(1) Ferreir. Poem. L. 1. cart. 7.

72(1) Lusiad. cant. 1. est. 3.

73(2) Vieir. Serm. t. 1. col. 829.

74(*) Veja-se a nota X.

75(1) Lucen. Vid. l. 8. c. 23.

76(2) Vieir. Serm. t. 1. col. 313.

77(1) Mor. Palmeir. de Ingl. part. 1. c. 6.

78(2) Vieir. Serm. t. 14. p. 64.

79(3) Eufros. act. 2. sc. 4.

80(4) D. Fr. Amad. Arran. Dial. 2. c. 7.

81(5) Vieir. Serm. t. 1. col. 314.

82(1) Ribeir. de Maced. Obr. t. 2. p. 123.

83(2) Vieir. Serm. t. 2. p. 295.

84(3) Eufros. act. 1. sc. 1.

85(4) Sous. Hist. part. 1. l. 6. c. 5.

86(5) Paiv. Serm. part. 1. f. 255.

87(1) D. Fr. Amad. Arrais. Dial. 2. c. 15.

88(2) Vieir. Serm. t. 12. p. 213.

89(3) Ferreir. Poem. l. 1. cant. 4.

90(1) Mor. Palmeir. part. 2. c. 42.

91(2) Ferreir. de Vasc. Anlegr. act. 1. sc. 9.

92(3) Vieir. Serm. t. 9. p. 214.

93(4) Lob. Part. Peregr. l. 1. jorn. 2. f. 10.

94(5) Eufros. act. 9. sc. 10.

95(6) Sá de Mirand. Obr. cart. 2. est. 36.

96(1) Id. ibid. cart. 5. est. 36.

97(1) Vieir. Serm. t. 3. p. 165.

98(2) Id. ibid. t. 2. p. 103.

99(1) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 4.

100(2) Cant. 4. est. 19.

101(1) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 4.

102(2) Cant. 3. est. 37.

103(1) Cam. Lusiad. cant. 8. est. 13.

104(1) Vieir. Serm. t. 3. p. 242.

105(2) Sá de Mirand. Obr. cart. 5. est. 52.

106(1) Mor. Palmeir. part. 2. c. 119.

107(2) Sá de Mirand. Vilhalp. act. 4. sc. 8.

108(3) Ferreir. de Vasc. Cart. no fim da Aulegr.
f. 182.

109(4) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 6.

110(1) Cam. Lusiad. cant. 2. est. 14.

111(2) Vieir. Serm. t. 3. p. 111.

112(1) Cam. Lusiad. cant. 3. est. 57.

113(2) Paiv. Serm. part. 3. f. 112.

114(1) Barr. Decad. 2. l. 3. c. 10.

115(2) Vieir. Serm. 3, 1. col. 334.

116(1) Id. ibid. t. 2. p. 241.

117(2) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 3.

118(3) Paiv. Serm. part. 2. p. 396.

119(4) Vieir. Serm. t. 5. p. 456.

120(1) Sous. Vid. l. 1. c. 55.

121(2) Id. ibid. l. 5. c. 19.

122(3) Sá de Mirand. Obr. ecl. 1. est. 36.

123(4) Lusiad. cant. 6. est. 64.

124(1) Lucen. Vid. l. 1. c. 3.

125(2) Vieir. Serm. t. 2. p. 250.

126(3) Sous. Vid. l. 5. c. 14.

127(1) Vieir. Serm. t. 8. p. 195.

128(2) Id. ibid. t. 4. p. 414.

129(3) Id. ibid. t. 5. p. 131.

130(1) Memor. das Proez. l. 1. c. 1.

131(1) Lob. Primav. florest. 4. f. 15.

132(2) Vieir. Serm. t. 5. p. 39.

133(3) Resend. Chron. c. 195.

134(1) D. Fr. Amad. Arraiz. Dial. 5. c. 3.

135(2) Cam. Lusiad. cant. 4. est. 44.

136(*) Veja-se a nota XI.

137(3) Vieir. Serm. t. 6. p. 209.

138(4) Id. ibid. t. 11. p. 336.

139(5) Lucen. Vid. l. 7. c. 16.

140(1) Id. ibid. l. 6. c. 2.

141(2) Ferreir. Poem. l. 2. cant. 1.

142(3) D. Fr. Amad. Arraiz. Dial. 1. c. ###.

143(4) Castr. Ulyss. cant. 3. col. 102.

144(5) Vieir. Serm. 2. p. 100.

145(1) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 1.

146(2) Bernard. Rim. ao Bom Jes. Endeth.

147(3) Castr. Ulyss. Cant. 5. est. 86

148(4) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 7. c. 7.

149(5) Vieir. Serm. t. 2. p. 296.

150(1) Ferreir. Poem. l. 2. cart. 4.

151(2) Vieir. Serm. t. 5. p. 104.

152(3) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 8. c. 3.

153(4) Sá de Mirand. Obr. ecl. 8. est. 27.

154(1) Lucen. Vid. l. 7. c. 12.

155(2) Ferreir. Poem. l. 2. cart. 2.

156(3) Lucen. Vid. l. 6. c. 1.

157(4) Vieir. Serm. t. 4. p. 445.

158(1) Ferreir. Poem. l. 2. cart. 3.

159(2) Vieir. Serm. t. 2. p. 359.

160(3) Barr. Grammat. p. 99.

161(1) Mor. Palmeir. part. 2. c. 98.

162(2) Bernard. Rim. ao Bom Jes. Endech.

163(3) Vieir. Serm. t. 23. p. 18.

164(1) Ferreir. Poem. l. 2. cart. 3.

165(2) Id. ibid. l. 2. cart. 3.

166(1) Vieir. Serm. t. 3. p. 277.

167(2) Id. ibid. t. 1. col. 498.

168(3) Barr. Decad. 1. l. 4. c. 11.

169(1) Vieir. Serm. t. 12. p. 336.

170(2) Sá de Mirand. Obr. ecl. 4.

171(3) Barr. Vicios. Vergonh.

172(4) Sous. Hist. part. 1. l. 5. c. 19.

173(1) Hist. do Futur. L. 1. n. 210.

174(2) Vieir. Sá de Mirand. Obr. ecl. 4.

175(3) Vieir. Serm. t. 3. p. 204.

176(4) Id. ibid. t. 4. p. 132.

177(5) Sous. Hist. part. 2. l. 1. c. 4.

178(6) Vieir. Serm. t. 7. p. 401.

179(1) Mor. Palmeir. part. 1. c. 39

180(2) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 3. c. 31.

181(3) Sá de Mirand. Obr. cart. 1. est. 4.

182(4) Vieir. Serm. t. 2. p. 455.

183(1) Bernard. Lim. cart. 27.

184(2) Sá de Mirand. Obr. acl. 3. est. 49.

185(3) Ferreir. Castr. act. 3.

186(1) Vieir. Serm. t. 3. p. 164.

187(2) Cam. Rim. eleg. 10. est. 3.

188(3) Lucen. Vid. l. 2. c. 3.

189(4) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 1. c. 2.

190(1) Paiv. Serm. part. 2. p. 260.

191(2) Cam. Rim. ecl. 2. est. 46.

192(3) Bernard. Lim. cart. 15.

193(4) Gil Vic. Obr. l. 1. f. 65.

194(5) Mor. Palmeir. part. 2. c. 65.

195(1) Sous. Vid. l. 3. c. 1.

196(2) Vieir. Serm. t. 13. p. 24.

197(3) Orthogr. f. 65.

198(1) Sá de Mirand. Obr. cart. 7.

199(2) Sous, Hist. part. 1. l. 3. o. 6.

200(3) Bernard. Lim. cart. 26.

201(1) Vieir. Serm. t. 1. col. 554.

202(2) Cam. Lusiad. cant. I. est. 2.

203(3) Id. ibid. cant. 5. est. 6.

204(1) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 11.

205(2) Lucen. Vid. l. 4. c. 4.

206(1) Eufros. act. 4. sc. 6.

207(2) Vieir. Serm. t. 4. p. 151.

208(3) Id. ibid. t. 5. p. 58.

209(4) Paiv. Serm. part. 1. f. 114.

210(5) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 1. c. 5.

211(1) Vieir. Serm. t. 3. p. 340.

212(2) Sous. Vid. l. 4. c. 24.

213(3) Ferreir. Poem. l. 2. cart. 2.

214(4) Vieir. Serm. t. 15. p. 224.

215(1) Barr. Grammat. p. 156.

216(2) Ferreir. Poem. l. 1. son. 48. Paiv. Serm.
part. 1. f. 6.

217(1) Vieir. Serm. t. 11. p. 151.

218(2) Id. ibid. t. 4. p. 185.

219(1) Sous. Hist. part. 1. l. 5. c. 29.

220(2) Lob. Ecl. 1.

221(*) Soer, costumar, foi verbo de uso frecuentissimo
em todos os nossos Escritores do
Seculo XVI. Achão-se porém do dito verbo
as pessoas (á excepção da primeira) do presente
do indicativo, e todas as do preterito
imperfeito do referido modo, e nenhuma mais
em qualquer dos outros modos.

222(*) «Tem os Hespanhoes hum a seu proprio,
e peculiar, com que formão os verbos,
que querem, como cuando dizemos de
manso, amansar, de pedra, apedrejar, de
noite, anoitecer, de cabo, acabar, de proveito,
aproveitar
, de paro, aparar, e outros
infinitos. Os quaes são simplezes, e não
compostos, porque a verdadeira composição
he, quando se ajunta a preposição aos verbos :
o que não he nestes. Porque não ha
proveitar, nem pedrejar, nem mansar para
dizermos que se compõe com a dicta preposição
ad.» Leão, Orthogr. f. 40.

223(1) Vieir. Serm. l. 12. p. 216.

224(1) Id. ibid. l. 3. p. 405.

225(1) Id. ibid. t. 1. col. 971.

226(2) Cam. Rim. centur. 3. son. 20.

227(1) Sous. Vid. l. 2. c. 28.

228(2) Ferreir. Poem. l. 1. col. 3.

229(1) Sá de Mirand. Obr. Eleg. á morte
do Princ. D. João.

230(2) Sous. Hist. part. 3. l. 1. c. 6.

231(3) Vieir. Serm. t. 4. p. 170.

232(1) Id. ibid. t. 2. p. 91.

233(2) Id. ibid. t. 5. p. 116.

234(3) Sous. Vid. l. 3. c. 15.

235(1) Vieir. Serm. t. 1. col. 315.

236(2) Bernard. Lim. cart. 31.

237(3) Vieir. Serm. t. 3. p. 502.

238(4) Cam. Rim. centur. 1. 104. 21.

239(1) Vieir. Serm. t. 6. p. 74.

240(2) Lucen. Vid. l. 7. c. 16.

241(3) Ferreir. Poem. ecl. 12.

242(4) Id. ibid. l. 2. cart. 3.

243(1) Bernard. Lim. cart. 5.

244(2) Vieir. Serm. t. 1. col. 382.

245(1) Ferreir. Castr. act. 2.

246(1) Vieir. Serm. t. 1. p.145.

247(1) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 10. c. 17.

248(2) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 3.

249(1) Id. ibid. l. 2. cart. 2.

250(2) Cam. Lusiad. cant. 10. est. 153.

251(1) Freir. Vid. de D. João de Castr. L. 1.
num. 35.

252(2) Sá de Mirand. Obr. cart. 4. est. 15.

253(1) Vieir. Serm. 1. 6. p. 32.

254(2) Sous. Hist. part. 2. l. 6. c. 23.

255(3) Vieir. Serm. t. 7. p. 113.

256(1) Vieir. Serm. t. 10. p. 324.

257(2) Ferreir. Castr. act. 3. sc. 1.

258(3) Vieir. Serm. t. 6. p. 150.

259(*) Eres por Es se dizia antigamente. Bernard.
Ribeir. Men. l. 2. c. 13. Mor. Palmeir.
part. 1. c. 27. e outros.

260(*) Hemos contracção de Havemos acha-se
muitas vezes nos nossos bons AA. Barr. Decad.
4. l. 1. c. 12. D. Fr. Amad. Arraiz, Dial.
2. c. 16. Vieir. Serm. t. 2. p. 305.

261(**) Heis contracção de Haveis. Leão, Chron.
de D. Din. F. 121. Lob. Past. Peregr. l.
1. jorn. 12. f. 34.

262(*) Ter, e Haver como verbos auxiliares
não tem imperativo, do qual sómente se usa
quando são activos, e se dá a ambos o mesmo
significado. A segunda pessoa do sing. de
Haver, que antigamente foi Have, não está
hoje em uso, D. Cath. Inf. Regr. l. 2. c. 4.
Rogo-te que nem te cures de manifestar, nem
reprehender os feitos escondidos de teu irmão
mas ave cuidado dos teus. – l. 2. c. 12. E
porém, ó tu homem, ave por bem, &c.

263(1) Delicad. Adag. p. 101.

264(*) Veja-se a nota XII.

265(*) Feis por Fazes. Não está hoje em uso.
Sá de Mirand. Obr. ecl. 8. est. 13.

266(1) Barr. Grammat. p. 139., e 142. Eufros.
act. sc. 7. f. 37. D. Fr. Amad. Arraiz,
Dial. 1. c. 12.

267(2) Eufros. act. 2. sc. 7. f. 91.

268(3) Resend. Chr. de D. J. II. c. 52. Sá de
Mirand. Obr. ecl. 4. est. 13. Leão, Chron. de D.
Din. f. 134.

269(4) Sá de Mirand. Estrang. prol.

270(5) Id. Obr. vilanc. f. 153.

271(6) Resend. Chr. de D. J. II c. 121. Lucen.
Vid. l. 10. c. 2. Fern. Lop. Chr. de D. J.
I. part. 1. c. 22. p. 150.

272(7) Sá de Mirand. Estrang. act. 1.

273(8) A. Chron. de D. J. I. part. 1. c. II
p. 16.

274(9) Ferreir. Castr. act. 1. f. 214. D. Fr. Amad.
Arraiz, Dial. 1. c. 16.

275(10) Fern. Lop. Chron. de D. J. I. part. 1.
f. 212. p. 195.

276(1) Id. ibid. part. 1. c. 87. p. 1148. e part.
2. c. 69. p. 177.

277(2) Barr. Decad. 2. l. 10. c. 5.

278(3) Ferreir. #### act. 4. sc. 6. f. 106.

279(*) Ques por Queres. Sá de Mirand. Obr.
ecl. 3. est. 73. Orient. Lusit. L. 1. f.
19.

280(*) Antigamente eu trouve, tu trouveste,
&c. e a mesma forma guardavão todos os outros
preteritos, que deste procedem, e o Fut.
do Conjunct. eu trouver, tu trouveres, &c.
Lobo, Cort. na Ald. dial. 9. 82. já tem por
antigo este uso.

281(*) Alguns dos nossos Classicos tem no conjunct.
eu mida, eu pida, &c. Cam. Rim. eleg.
1. est. 3. Paiv. Serm. part. 2. p. 377. Bernard.
Lim. ecl. 13. e cart. 27. Pide tu. D.
Cath. Inf. Regr. l. 1. c. 16.

282(*) Veja-se a nota XIII.

283(*) Veja-se a nota XIV.

284(*) Tambem se acha : Cubre tu, Ferreir.
Castr. act. 3. Descubre tu, Bernard. Lim. ecl.
1. Elle encubre, Leão, Chron. de D. Din. f.
119. Encubre tu. Bernard. Lim. ecl. 3.

285(**) Veja-se a nota XV.

286(*) Veja-se a nota XVI.

287(**) Imos. Tal foi a primeira formação, que
se deo a esta pess. do verbo Ir ; e ainda depois
de se usar vamos, quasi sempre se servem
della os nossos bons AA., e até mesmo os
mais modernos, quaes são os PP. Antonio Vieira,
e Manoel Bernardes. Vamos. I. pess. do
plur. do pres. do indicat. já se dizia no tempo
mais culto da nossa lingoagem. D. Fr. Amad.
Arr. Dial. 2. c. 13. Aonde quer que vamos,
vai com nosco nossa carne nascida, e criada no
peccado. – dial. 4. c. 11. E porque vamos
seguindo o mesmo Autor, &c. Sous. Hist. part.
3. l. a. c. 1. Correm os annos, foge a vida,
e todos vamos á terra, como agoa, que se some
nella, sem mais tornar, nem apparecer.

288(*) Is por Ides. Mor. Palm. part. 2. c. 94.
Sá de Mirand. Obr. cart. 2. est. 74. Cam. Lusiad.
cant. 4. est. 91. Brit. Chron. l. 4. c. 5.
e outros. Vais, antiq. Por Ides. Mor. Palmeir.
part. 4. c. 95. ibid. c. 128.

289(**) I por Ide. Barr. Orthogr. p. 191. Tem
mais este i (pequeno) outro officio, serve de
verbo ao modo imperativo, como quando dizemos :
i, vós lá ; i, vós diante ; o que tambem
os Latinos usárão. Bernard. Ribeir. Ecl. 3.
Ivos, minhas cabras, ivos. Eufros. act. 2. sc.
5. Ivos embora. Ferreir. Poem. l. 1. od. 7. Soberbas
portas, prodigas larguezas, Vãos faustos,
vãas palavras, Ivos longe de mim, i tristes
ventos.

290(1) Resend. Miscellan. p. 167.

291(*) Veja-se a nota XVII.

292(**) Antigamente se deo a alguns participios
a regencia dos seus verbos, a qual hoje
não está em uso, por ex. D. Fr. Br. de Barr.
Espelh. L. 3. c. 18. Em tal maneira que nenhuma
cousa seja que possa fazer meio entre
Deos, e a alma amante a elle.

293(1) Eufros. act. 1. sc. 4.

294(1) Sous. Vid. l. 3. c. 24.

295(2) Vieir. Serm. t. 11. p. 338.

296(1) Sá de Mirand. Obr. ecl. 8. est. 32. Lob.
Past. Peregr. l. 1. jorn. 2. l. 7.

297(*) O mesmo he com o verbo auxiliar Haver.
D. Cath. Inf. Regr. l. 6. c. 16. Porque
se doe, e he triste o amado de haver ao amor
offendido ; nom que se entristeça por si,
mas por aquelle, cujo mandado despresou, e cuja
ordenança houve trespassado. Vieir. Serm.
t. 6. p. 390. Muitas occasiões he tido o Brasil
de se restaurar. – t. 15. p. 21. Esta foi a
Victoria do Espirito Santo… huma das mais
notaveis, que hão tido no Brasil as armas Catholicas.

298(1) Barr. Decad. 4. l. 1. c. 8.

299(2) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 1. c. 2.

300(3) Lob. Cort. na Ald. Dial. 13. f. 131.

301(1) Vieir. Serm. t. 1. col. 323.

302(2) Sá de Mirand. Obr. cart. 5. est. 44.

303(3) Barr. #####. ######.

304(1) Id. Decad. 4. l. 8. c. 7.

305(1) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 8.

306(1) Orient. Lusit. l. 1. pros. 12. f. 75.

307(2) Mor. Palmeir. part. 2. c. 57.

308(3) Paiv. Serm. part. 1. f. 163.

309(1) Id. ibid. part. 3. p. 252.

310(2) Bernard. Lim. cart. 1.

311(3) Sous. Hist. part. 1. l. 2. c. 28.

312(4) Vieir. Serm. t. 1. p. 87.

313(1) Id. ibid. l. 2. p. 191.

314(2) Sá de Mirand. Obr. cart. 6.

315(1) Serm. Hist. part. 1. l. 2. c. 18.

316(1) Vieir. Serm. t. 15. p. 191.

317(2) Id. ibid. #######, ###.

318(1) #### Serm. part. 1. f. 210.

319(2) Ferreir. ##### l. 4. cart. ###.

320(*) Que he conjunção quando se lhe não
póde substituir o qual, a qual, ou a qual cousa,
como por ex. Olha que #### ## ### ## ######
val. Sá de Mirand. Obr. ecl. 2.

321(1) Ferreir. Castr. act. 2.

322(2) Sous. Hist. part. 1. l. 1. c. 6.

323(3) Vieir. Serm. t. 1. p. 479.

324(4) Mor. Palmeir. part. 11. c. 31.

325(5) Vieir. Serm. t. 7. p. 465.

326(1) Paiv. Serm. part. 1. f. 165.

327(2) Cam. Lusiad. cant. 2. est. 168.

328(3) Fr. Heit. Pint. #### part. 2. dial. 1. c. 3.

329(4) Bernard. Lim. ecl. ###.

330(1) Lucen. Vid. l. 7. c. 5.

331(2) Mor. Palmeir. part. 1. c. 11.

332(3) Vieir. Serm. t. 7. p. 125.

333(4) D. Fr. Amad. Arraiz. Dial. 1. c. 10.

334(1) Ribeir. de Maced. Obr. t. 2. p. 261.

335(2) Bernard. Lim. ecl. 4.

336(3) Lucen. Vid. l. 10. c. 9.

337(4) Ferreir. Poem. l. 2. car. 4.

338(1) Vieir. Serm. t. 1. col. 118.

339(2) Cam. Lusiad. cant. 5. est. 98.

340(3) Lob. Cort. na Ald. Dial. 6. f. 57.

341(4) Mor. Palmeir. part. 2. c. 96.

342(1) Vieir. Serm. t. 8. p. 194.

343(2) Pint. Ribeir. Relaç. 1. num. 13.

344(3) Paiv. Serm. part. 1. f. 115.

345(4) Cam. Lusiad. cant. 5. est. 83.

346(1) Lob. Past. Peregr. l. 2. jorn. 6. f. 101.

347(2) Serm. t. 1. p. 74.

348(1) Ibid. t. 4. p. 16.

349(2) Barr. Orthogr. p. 191.

350(*) Da interj. Guai ainda os bons
AA. do melhor seculo da nossa lingoagem.
Barr. Grammat. p. 160. Ai daquelles que tem
pouca fazenda, e guai dos que a ganhão com
mao titulo. Eufros. act. 4. sc. 4. Guai de quem
má fama cobra. D. Fr. Amad. Arraiz, Dial.
1. c. 22. Guai de nós, &c. O mesmo A. Dial.
3. c. 24. formou daqui o verbo Guaiar, dar
ais. Sous. Vid. l. 6. c. 11. Sempre os bons
forão com perseguições exercitados, e guai dos
que vivem sem ellas, que atrás arriscados vivem.

351(1) Grammat. p. 149.

352(1) Vieir. Serm. t. 14. p. 71.

353(2) Id. ibid. t. 1. col. 554.

354(3) Ferreir. Poem. 2. cart. 4.

355(4) Ribeir. de Maced. Obr. t. 2. p. 137.

356(1) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 3. c. 5.

357(2) Sous. Vid. l. 4. c. 6.

358(3) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 2. c. 2.

359(4) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 13.

360(1) Sous. Vid. l. 5. c. 19.

361(2) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 3.

362(3) Paiv. Serm. part. 3. f. 293.

363(4) Ferreir. Poem. l. 2. cart. 4.

364(1) Cam. Lusiad. cant. 9. est. 93.

365(2) Cort. Real, Naufr. cant. 4.

366(3) Mor. Palmeir. part. 2. c. 31.

367(1) Lob. Cort. na Ald. Dial. 15. f. 147.

368(2) Resend. Chron. c. 14.

369(3) Barr. Decad. 3. l. 3. c. 9.

370(4) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 2. c. 5.

371(1) Barreir. Chrorogr. f. 58. – f. 28. – f. 27.

372(2) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 5. c. 6.

373(3) Leão, Chron. de D. Din. f. 114.

374(4) Ferreir. de Vasc. Aulegr. Act. 5. sc. 5.

375(5) Brit. Chron. l. 6. c. 31.

376(6) Id. ibid. l. 5. c. 23.

377(7) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 6. c. 10.

378(1) Vieir. Serm. t. 2. p. 11.

379(2) Ferreir. Poem. l. 2. cart. 1.

380(3) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 10. c. 4.

381(4) Lob. Ecl. 3.

382(1) Sever. Discurs. Vid. de J. de Barr.

383(2) Paiv. Serm. part. 1. f. 324.

384(3) Vieir. Serm. t. 12. p. 160.

385(1) Lucen. Vid. l. 5. c. 3.

386(2) Grammat. p. 144.

387(1) Vieir. Serm. t. 1. col. 679.

388(2) Sous. Hist. part. 3. l. 1. c. 6.

389(3) Vieir. Serm. t. 15. p. 265.

390(4) Cam. Rim, eleg. 4. est. 4.

391(1) Vieir. Serm. t. 9. p. 470.

392(2) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 3.

393(3) Lob. Cort. na Ald. dial. 11. f. 107.

394(4) Vieir. Serm. t. 1. col. 1066.

395(1) Id. ibid. t. 4. p. 195.

396(2) Cam. Rim. ecl. 2. est. 9.

397(*) Hum, e outro concorda sempre com o
subst. no sing. mas em Fr. Luiz de Sousa
(Vid. l. 5. c. 4.) se encontrar : Não erão bem
despedidos de
hum, e outro Arcebispos, quando,
&c.

398(1) Pint. Pereir. Hist. da India J. 2. c. 38.
p. 187.

399(2) Lob. Cort. Ald. dial. 2. f. 25.

400(1) Vieir. Serm. t. 2. p. 16.

401(1) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 4.

402(2) Id. ibid. l. 1. cart. 2.

403(3) Cam. Rim. canç. 10. est. 11.

404(1) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 6.

405(2) Lucen. Vid. l. 9. c. 1.

406(3) Mor. Palmeir. part. 1. c. 36.

407(4) Sous. Hist. part. t. l. 3. c. 34.

408(1) Paiv. Serm. part. 1. f. 123.

409(2) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 1. c. 23.

410(3) Lucen. Vid. l. 10. c. 16.

411(*) Agente he o mesmo, que na Grammatica
Latina se chama nominativo ; e na Logica,
sujeito da proposição. “Chamão os Latinos (diz
João de Barros, Grammat. p. 97.) ao primeiro
caso Nominativo, por ser o primeiro,
que noméa a cousa, e nelle está a
cousa, que he, ou a pessoa, que faz ; per
semelhante exemplo : A cobiça he raiz de
todos os males
. Esta cobiça em ser raiz, fica
em o caso nominativo. A liberalidade faz os
Principes amados
. E por esta liberalidade ser
autor desta obra, está em o caso nominativo,
pela segunda parte da regra.”

412(1) Eufros. act. 1. sc. 1.

413(2) Ferreir. Poem. l. 2. cart. 2.

414(3) Sous. Mist. part. 3. l. 3. c. 26.

415(4) Vieir. Serm. t. 4. p. 421.

416(1) Barr. Grammat. p. 103.

417(2) Ferreir. Poem. l. 2. cart. 3.

418(3) Id. ibid. ecl. 12.

419(1) Vieir. Serm. t. 10. p. 256.

420(2) Paiv. Serm. part. 1. f. 237.

421(3) Sous. Vid. l. 3. c. 17.

422(4) Vieir. Serm. t. 5. p. 117.

423(5) Fernand. Palmeir. part. 3. c. 8.

424(1) Sous. Hist. part. 1. l. 1. c. 1.

425(2) Barreir. Chorogr. f. 24.

426(3) Vieir. Serm. t. 12. p. 216.

427(4) Lucen. Vid. l. 6. c. 15.

428(1) Bernard. Lim. cart. 27.

429(2) Vieir. Serm. t. 13. p. 34.

430(3) Id. ibid. t. 3. p. 130.

431(4) Cam. Rim. centur. 3. son. 20.

432(1) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 1. c. 8.

433(2) D. Franc. Man. Epanaf. 3. p. 153.

434(3) Vieir. Serm. t. 9. p. 411.

435(4) Cam. Lusiad. cant. 4. est. 81.

436(1) Lob. Cort. na Ald. dial. 6. f. 60.

437(2) Ferr. Brist. Act. 1. sc. 3.

438(1) Fr. Heit. Pint. Imag. Part. 2. dial. 5.
c. 12.

439(2) Vieir. Serm. t. 11. col. 95.

440(3) Cam. Lusiad. cant. 5. est. 96.

441(4) Lucen. Vid. l. 2. c. 2.

442(5) Vieir. Serm. t. 15. p. 319.

443(1) Ferreir. Poem. eleg. 7.

444(2) Id. ibid. l. 1. col. 1.

445(1) Eufros. act. 3. sc. 2.

446(2) Paiv. Serm. part. 1. f. 91.

447(3) Vieir. Serm. t. 11. p. 23.

448(4) Paiv. Serm. part. 1. f. 124.

449(1) Sous. Hist. part. 2. l. 3. c. 4.

450(2) Paiv. Serm. part. 3. f. ####.

451(1) Id. ibid. part. 2. f. 505.

452(2) Sous. Vid. l. 3. c. 7.

453(3) Bernard. Lim. cart. 27.

454(4) D. Fr. Amad. Arraiz. Dial. 4. c. 14.

455(5) Vieir. Serm. t. 3. p. 227.

456(*) Bernard. Lim. cart. 14.

457(1) Mor. Palmeir. part. 2. c. 55.

458(2) Sous. Hist. part. a. l. 2. c. 10.

459(3) Fr. Heit. Pint. Imag. Part. 2. dial. 1.
c. 13.

460(1) Vieir. Serm. t. 4. p. 275.

461(2) Sous. Hist. part. 2. l. c. 23.

462(3) Paiv. Serm. part. 1. f. 331.

463(4) Vieir. Serm. t. 5. p. 109.

464(5) Ribeir. de Maced. Obr. t. 2. p. 269.

465(1) Vieir. Serm. 7. p. 67.

466(2) Ferreir. Poem. ####. ###. #.

467(1) Cam. Lusiad. cant. 4. est. 79.

468(1) Ibid. est. 82.

469(*) Veja-se a nota XVIII.

470(1) Leão, Orig. c. 7.

471(2) Vitr. Serm. t. 1. col. 623.

472(3) Ferreir. Poem. l. 2. cart. 23.

473(1) Vieir. Serm. t. 7. p. 215.

474(2) Paiv. Serm. part. 3. f. 50.

475(3) Cort. Real. Cerc. de Diu, cent. 114.

476(4) Vieir. Serm. 1. 2. p. 133.

477(1) Bernard. Lim. cart. 2.

478(2) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 8.

479(3) Paiv. Serm. part. 2. f. 318.

480(1) Vieir. Serm. t. 2. p. 235.

481(1) Sá de Mirand. Obr. cart. 3. est. 73.

482(2) Vieir. Serm. t. 12. p. 147.

483(3) Pereir. Elegiad. Cant. 8. f. 103.

484(4) Vieir. Serm. 1. 12. p. 146.

485(1) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 3. c. 2.

486(2) Vieir. Serm. t. 3. p. 13.

487(3) Sous. Vid. L. 3. c. 9.

488(1) Bernard. Lim. cart. 2.

489(2) Id. ibid. ecl. 6.

490(3) Sous. Vid. l. 3. c. 27.

491(4) Bernard. Lim. cart. 8.

492(1) Vieir. Serm. t. 2. p. 258.

493(2) Resend. Miscellan. f. 168.

494(*) O anno de 1521.

495(1) Ferreir. Poem. l. 2. cart. 6.

496(2) Sá de Mirand. Obr. c. 8. est. 9.

497(3) Sous. Hist. part. 3. l. a. c. 9.

498(1) Lob. Cort. na Ald. Dial. 12. f. 103.

499(2) Lusiad. cant. 10. est. 61.

500(3) Sá de Mirand. Obr.### # ### ###.

501(1) Lucen. Vid. l. 7. c. 2.

502(2) Vieir. Serm. t. 3. p. 407.

503(3) Lob. Cort. na Ald. Dial. 15. f. 253.

504(4) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 11.

505(1) Bernard. Lim. ecl. 12.

506(2) Id. ibid.

507(3) Cam. Lusiad. cant. 6. est. 80.

508(4) Ferreir. de Vasc. Cart. no fim da Aulegr.
f. 182.

509(1) Bernard. Lim. cart. 16.

510(1) D. Fr. Amad. Arraiz. Dial. 5. c. 4.

511(2) Brit. Chron. de Cist. L. 2. c. 29.

512(3) Bernard. Lim. cart. 33.

513(1) Fr. Heit. Pint. Imag. part. 1. dial. 5.
c. 6.

514(2) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 2. c. 5.

515(1) Pint. Ribeir. Lustr. ao Desemb. c. 2. n.
162.

516(2) Vieir. Serm. t. 3. p. 289.

517(3) Nor. Palmeir. part. 1. c. 10.

518(4) Ferreir. de Vasc. Aulegr. act. 2. sc. 6.

519(1) Paiv. Serm. part. 2. f. 31.

520(2) Obr. ecl. 8. est. 59 – 60.

521(1) Cam. Lusiad. cant. 5. est. 31.

522(2) Ferreir. de Vasc. Aulegr. Act. 1. sc. 4.

523(3) Cam. Lusiad. cant. 6. est. 6.

524(4) Sá de Mirand. Obr. ecl. 4.

525(1) Paiv. Serm. part. 2. f. 412.

526(2) Ferreir. de Vasc. Aulegr. act. 1. sc. 5.

527(3) Vieir. Serm. t. 4. p. 24.

528(4) Ferreir. Brist. act. 3. sc. 4.

529(1) Bernard. Ribeir. Ecl. 1.

530(2) Fernand. Palmeir. part. 3. c. 31.

531(3) Id. ibid. c. 95.

532(4) Sous. Hist. part. 2. l. 1. c. 13.

533(*) Por semelhante modo se diz : Ouvir-se
chamar de hypocrita. Sous. H. 1. 5. 38. Dizer
de não
, abs. Vieir. Serm. 1. col. 338. Dizer
de não a alg
. C. Brit. Chr. 4. 32. Fazer-se
de mal a alg. (segue-se-lhe infinito) Brit.
Chr. 4. 35. Sous. Vid. 2. 18. Não se fazer
muito de rogar. Brit. Chr. 3. 26. Responder
de
não a alg. Id. ibid. c. 15.

534(1) Ferreir. Poem. epitaf. 2.

535(2) Cam. Lusiad. cant. 3. est. 97.

536(1) Ferreir. de Vasc. Aulegr. Act. 3. sc. 6.

537(2) Leão, Chron. de D. Sanch. II. f. 73.

538(3) Barr. Apolog. ao principio da Decad. IV.

539(4) Sous. Vid. l. 1. c. 26.

540(1) Bernard. Rim. ao Bom Jes. oit. a S. Anton.
no seu dia.

541(2) Id. Lim. cart. 25.

542(3) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 5. c. 14.

543(4) Vieir. Serm. t. 8. p. 193.

544(1) Lucen. Vid. l. 5. c. 11.

545(2) Bernard. Lim. cart. 8.

546(3) Sous. Vid. l. 5. c. 11.

547(1) Paiv. Serm. part. 2. f. 47.

548(2) Cam. Lusiad. cant. 1. est. 76.

549(3) Pint. Pereir. Hist. da Ind. l. 1. c. 12.
f. 55.

550(1) Sá de Mirand. Obr. ecl. 8. est. 59.

551(2) Pint. Pereir. Hist. da Ind. l. 2. c. 4. f. 94.

552(3) Lucen. Vid. l. 2.

553(1) Barr. Decad. 2. l. 10. c. 8.

554(2) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 1. c. 14.

555(3) Eufros. act. 2. sc. 3.

556(4) Pint. Ribeir. Relaç. 1. num. 1.

557(5) Cam. Rim. centur. 3. son. 34.

558(1) D. Fr. Amad. Arraiz. Dial. 4. c. 1.

559(2) Bernard. Lim. cart. 27.

560(3) Barr. Decad. 1. l. 7. c. 11.

561(1) Eufros, est. 2. sc. 7.

562(2) Ferreir. de Vasc. Cart. no fim da #####
f. 184.

563(1) Vieir. Serm. t. 3. p. 22.

564(1) Id. ibid. t. 3. p. 407.

565(1) Sous. Vid. l. 2. c. 11.

566(1) Paiv. Serm. part. 2. p. 102.

567(1) Paiv. Serm. part. 1. f. 244.

568(2) Id. ibid. part. 3. f. 79.

569(3) Sous. Hist. part. 1. l. 5. c. 2.

570(1) Vieir. Serm. t. 9. p. 182.

571(2) Id. ibid. t. 1. col. 393.

572(3) D. Fr. Amad. Arraiz. Dial. 3. c. 3.

573(1) Eufros, act. 1. sc. 3.

574(2) Serm. t. 13. p. 41.

575(3) Ibid. t. 3. p. 41.

576(1) Cam. Lusiad. cant. 3. est. 94.

577(2) Bernard. Lim. cart. 2.

578(*) Manoel de Faria, e Sousa, Comment.
á Lusiad. t. 1. col. 131. sobre este lugar de
Camões, cant. 3. est. 94. Que em terreno Não
cabe o altivo peito tão pequeno. Assim diz :
“El texto tiene algo de dificil por el hyperbaton :
ordenesse assi : Que em terreno tão
pequeno não cabe o peito altivo. Esto usado
cõ la moderacion que lo hace el P. como
judicioso, es gala i elegancia en tan grãdes
hõbres como el, i cõ frequencia no lo usan
ingenios hõmbres, sino pueriles.”

579(1) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 3. ######.

580(1) Id. ibid. 5. c. 16.

581(2) Lusiad. cant. 3. est. 45.

582(1) Barr. Grammat. p. 168.

583(1) Mor. Palmeir. part. 2. c. 198.

584(2) Barreir. Chorogr. f. 244.

585(*) Far. e Sous. Comment. á Lusiad. t. 2.
col. 479 “O este modo vi visto claramente,
que es com apricto afirmativo afirma el
Gama que vio la luz que los marineros llàman
Santelmo.”

586(1) Cam. Lusiad. cant. 5. est. 18.

587(2) D. Fr. Amad. Arraiz, Dial. 4. c. 17.

588(1) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 12.

589(2) Orient. Lusit. #######.

590(1) Paiv. Serm. part. 2. f. 355.

591(1) Cant. 5. est. 24.

592(2) Vieir. Serm. t. 2. p. 42.

593(1) Cam. Lusiad. cant. 3. est. 9.

594(2) Lob. Primav. florest. 4. f. 19.

595(3) Sous. Vid. 1. 6. c. 8.

596(4) Mor. Palmeir. part. 2. c. 49.

597(*) Veja-se a nota XIX.

598(1) Cort. na Ald. dial. 9. f. 82.

599(1) Dial. em louv. da nossa ling.

600(1) Imag. part. 1. dial. 1. c. 8.

601(1) Vieir. Serm. t. 7. p. 147.

602(2) O P. Vieira, que usa desta palavra,
Serm. t. 2. p. 228. na versão de hum Texto
(Reg. L. 2. c. 15. v. 31.) o faz com a prevenção
seguinte. Eis-aqui o lugar : “Peço-vos,
Senhor, que infatueis o conselho de Achitofel.
Nunca a nossa lingoa me pareceo pobre
de palavras, senão neste Texto. Infatuar
significa fazer imprudente, fazer ignorante,
fazer nescio, e ainda significa mais : e tudo
isto pedia David, que fizesse Deos ao conselho
de Achitofel.”

603(3) Cam. Lusiad. cant. 5. est. 68. Far., e
Sous. Comment. t. 2. col. 592., “Nado, por
nacido : oy no lo usan los politicos de Portugal ;
la gente campestre si : para que se
vea, que no todo lo mas llegado al Latin
es mejor ; pues nado mas corresponde a natus,
que nacido.”

604(*) Veja-se a nota XX.

605(4) Cam. Lusiad. cant. 5. est. 54. Fat.,
e Sous. Somment. T. 2. col. 570. “Es voz
que usan nuestros Montaneses : mas que tuvo
autoridade en aquel siglo : i quando no
la tuviera, con la sua la podia el Poeta
introduzir, o usar ; i mas acordandose que
es Italiana buena, i sonante.”

606(5) Mancar por faltar, acha-se em Jorge de
Lemos, Hist. dos Cercos, &c. impr. em 1585.
part. 2. c. 4. em Fernão d'Alvares do Oriente,
Lusit. impr. em 1607. l. 2. pros. 2. f. 98.
Sem embargo de tão boas autoridades o Público
não admittio esta palavra.

607(1) Mor. Palmeir. part. 2. c. 160.

608(2) Fr. Luiz de Sousa, que usa desta palavra
(Vid. l. 1. c. 11.) o faz com advertida
cautella, dizendo “Refeitocio, ou tinel-”
lo (como agora chamamos com nome Italiano)
&c.

609(*) Veja-se a nota XXI.

610(*) Veja-se a nota XXII.

611(1) Em huma versão Francesa feita por bom
A. se lê : “Eramos nella (torre) Mirões das
peças, que se jogavão em toda Europa.
Aristippo fazia os argumentos das que as
devião jogar.”

612(1) Grammat. p. 200.

613(2) Vieir. Serm. t. 2. p. 35.

614(1) Ferreir. Poem. l. 1. cart. 4.

615(2) Mor. Palmeir. part. 1. c. 84.

616(*) Requere he como dizem todos os nossos
bons AA. Requerer vem do Latim requirere.
Entre nós segue a conjugação regular dos
verbos em er, e só admitte i antes da radical
r nas pessoas de alguns tempos. O presumir-se
que este verbo he composto de querer deo
talvez motivo ao abuso de se introduzir requer
na III pess. do pres. do indicat. Nas obras impressas
em vida de Fr. Luiz de Sousa sempre
se lê requere ; e assim tambem em alguns tomos
dos Sermões do P. Vieira, e inalteravelmente
no primeiro volume, “cuja correcção,
como dizem, correo por sua conta,” segundo
escreve o P. D. Luiz Caetano de Lima,
Orthogr. da ling. Portug. p. 209. Cam.
Lusiad. cant. 8. est. 32. O Gama com instancia
lhe requere.

617(1) Lusiad. cant. 7. est. 72. Far., e Sous.
Comment. t. 3. col. 335. “De veres. Es un
termino Portugues tan malo, que siempre
me admire de que el P. le usasse, aviendo
sido el illustrador de nuestra lengua…
lo ajustado es, de ver.”

618(2) Ibid. cant. 6. est. 15.

619(3) Ibid. cant. 10. est. 76. Garcez Ferreir.
Comment. t. 2. p. 281. not. 180… “Esta loucução :
De c'os olhos veres he bastantemente
licenciosa, devendo ser : de ver c'os olhos.”

620(1) Rim. centur. 2. son. 49. ib. Far., e
Sous. Comment. t. 1. p. 251. col. 2, “Generalmente
usan todos mal de estas dos dicionaes
(mas antes) juntandolas : porque el
más, y el antes, en tal ocasion tienen un
proprio sentido : mejor quedara este verso,
deziendo ; Antes se esforça muito mais assim.”

621(2) Barr. Grammat. p. 167.

622(1) “Vem este vocabulo, solecismo, de
huma Cidade da Cilicia, que se chamava
Solos, a qual dizem que povoou Solon. E
porque a esta povoação concorrêrão povos de
diversas nações, que corrompêrão a verdadeira,
e pura lingoa dos Gregos, chamárão
elles a esta corrupção solecismo, donde os
Romanos tomarão este vocabulo, que nós
ora usamos.” Barr. Grammat. p. 165.

623(1) Huma jota Eufros. act. 5. sc. 10. f. 218.
Paiv. Serm. part. 1. f. 285.

624(2) Lucen. Vid. l. 4. c. 8. p. 262.

625(3) Orient. Lusit. l. 3. pros. 4. f. 221.

626(4) Id. ibid. l. 3. pros. 1. f. 273.

627(5) Vieir. Serm. t. 2. p. 141.

628(6) Dial. 4. c. 3.

629(1) Lusiad. cant. 3. est. 41.

630(2) Ibid. cant. 1. est. 12.

631(3) Ibid. cant. 3. est. 43.