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Oliveira, Bento José de. Nova Grammatica Portugueza – T01

[Nova Grammatica Portugueza]

Introducção
Dos elementos das linguas em geral, e dos da Portugueza
em particular

1. Dos sons articulados da voz humana, significativos por convenção,
se formam as palavras, que são a materia commum de
todas as linguas.

Ha pois nas palavras dous elementos distinctos — vozes e articulações ;
os quaes respresentados pela escriptura, chamam-se
letras (1)1.

2. As letras que representam as vozes, chamam-se vogaes ; e
as que representam as articulações, consoantes (2)2.

As vogaes dividem-se em oraes e nasaes (3)3. São oraes — a, e, i,
(y), o, u
 ; e nasaes — ã, ẽ, ĩ, õ, ũ ; ou an, am (antes de b, p), en,
in, im, on, om, un, um
.

As consoantes são simples ou compostas (4)4. As simples são — b,
1c, d, f, g, h, j, k, l, m, n, p, q, r, s, t, v, x, z
 ; e as compostas
ch (1)5 (que sôa quasi como x), lh, nh, e ph (que sôa como f).

3. Das letras se formam as syllabas e as palavras ; das palavras
as orações, os periodos e os discursos.

4. Duas vogaes reunidas em uma só syllaba chamam-se diphthongo.

Os diphthongos tambem se dividem, como as vogaes, em oraes
e nasaes. São oraes — ai (ou ae), au (2)6, ei, eu, iu, oi, (ou oe), ou,
iu
(ou ue) ; e nasaes — ãe (ou em), ão (ou am), e õe.

5. Syllaba é o som produzido por duas ou mais letras, das quaes
uma necessariamente deve ser vogal ou diphthongo ; como — arvo-res,
dou-tor, lei
. Uma vogal por si só muitas vezes fórma
syllaba, ainda que impropriamente, como — a-gui-a.

As palavras, conforme o número das syllabas de que constam,
denominam-se monossylabas, as de uma só syllaba, dissyllabas
as de duas, trissyllabas as de tres, polysyllabas as de quatro ou
mais.

6. Grammatica é a disciplina que tracta dos elementos das linguas.

Divide-se em geral e particular. Grammatica geral é a disciplina
que tracta dos principios geraes e communs a todas as linguas.
Grammatica particular é a disciplina que ensina a falar e
a escrever sem erros qualquer lingua em particular : assim a Grammatica
Portugueza é a disciplina, que ensina a falar e a escrever
correctamente a lingua portugueza.

7. As partes da Grammatica são quatro — etymologia, syntaxe,
prosodia
e orthographia.2

Parte primeira
Etymologia

8. Etymologia (ou lexiologia) é a primeira parte da grammatica,
que tracta da origem e natureza das palavras.

9. As diversas especies de palavras, de que consta a lingua
portugueza, ou as partes do discurso em portuguez, são dez : de
terminação variavel seis, e invariavel quatro.

São variaveis — o nome, o adjectivo, o artigo, o pronome, o
participio e o verbo ; e invariaveis — a preposição, o adverbio, a
conjuncção e a interjeição.

Capitulo I
Dos nomes e adjectivos

Do nome

10. Nome (ou substantivo) é uma palavra variavel, com que damos
a conhecer as cousas, as pessoas e as qualidades em abstracto (1)7,
como — rosa, homem, prudencia.3

11. O nome é proprio ou commum. O proprio convem a uma
só pessoa ou cousa, como — Pedro, Tejo. O commum (ou appellativo)
convem a uma classe de cousas ou pessoas, como —
rio, homem. O nome commum que no singular significa multidão,
chama-se collectivo, como — exército, rebanho.

12. Nos nomes ha principalmente duas cousas que considerar
— o número e o genero.

Número é a differente terminação que se dá ao nome para exprimir
unidade ou multiplicidade.

Os numeros são dous — singular e plural. O nome está no
singular, quando significa uma só cousa ou pessoa, como — rosa,
homem
. Está no plural, quando significa muitas cousas ou pessoas,
como — rosas, homens.

Genero, e a diversa fórma que o nome toma para designar macho
ou femea.

Os generos são dous — masculino e feminino. São do genero
masculino os nomes dos individuos do sexo masculino, e das cousas
que o uso considera taes, como — homem, cão, livro. São
do genero feminino os nomes dos individuos do sexo feminino, e
das cousas que o uso considera taes, como — mulher, loba, caixa.

13. Chamam-se communs de dous os substantivos, que com a
mesma terminação designam homem ou mulher, como — virgem,
martyr
(o virgem, a virgem ; o martyr, a martyr).

14. Dizem-se epicênos os nomes de animaes, que se nomêam ou só
em masculino, como — o elephante, o tigre ; ou só em feminino,
como — a aguia, a sardinha, etc. Nestes nomes distingue-se o
genero com as palavras macho ou femea, que se lhes accrescentam,
como — o elephante femea, a aguia macho, etc.4

Formação do número plural

15. O plural dos nomes e adjectivos acabados em vogal ou diphthongo,
fórma-se junctando um s á terminação do singular :
como — livro, livros ; maçã, maçãs ; teu, teus ; mão, mãos.

Nota. Muitos dos nomes terminados em ão fazem o plural, uns
em ães, como — pão, pães ; capitão, capitães ; outros em ões, como
acção, acções ; occasião, occasiões. O uso vivo da lingua, melhor
que regras, os fará distinguir.

16. Os nomes acabados

1.° em al, ol, ul, formam mudando o l em es, como
quintal, quintaes ; lençol, lençoes ; taful, tafues ; azul, azues.

2.° em el, il (breve) trocam estas terminações em eis, como
broquel, broquéis ; papel, papéis ; facil, faceis ; fossil, fósseis ;
habil, habeis
.

3.° em il agudo mudam o l em s, como — ardil, ardís ; funil,
funís
.

4.° em m mudam o m em ns, como — homem, homens ; imagem,
imagens ; bom, bons
.

5.° em r, z, no plural accrescenta-se es, como — mar, mares ;
mulher, mulheres ; noz, nozes ; luz, luzes
.

6.° em s no plural não alteram a terminação, menos deus (no
sentido mythologico), que faz deuses ; simples e duples, que fazem
simplices e duplices.

17. Os nomes proprios, como exprimem um individuo só, não têm
plural ; quando porém lhes damos este número, é figuradamente, para
significar individuos da mesma classe ou caracter, como — os Virgílios,
os Homeros, os Cesares, os Alexandres, etc., isto é, os poetas celebres
como Virgilio e Homero ; e os grandes generaes como Cesar, etc.

18. Tambem não se usam no plural os nomes que significam :

1.° metaes ou substancias elementares inorganicas, como — ouro, prata,
cobre, hydrogeneo, azote, carbone, sulphato
, etc. ; excepto, se queremos
significar peças, artefactos, porções ou especies accidentalmente
differentes, como — estar a ferros ; todas as pratas ; aguas mineraes, thermaes,
etc. ;5

2.° productos animaes ou vegetaes, como — leite, mel, cera, seda,
canella
, etc. ;

3.° ventos, como norte, sul, etc. ; todavia, cursando dias e temporadas,
costumamos dizer — « entraram-lhe os sues, os nordestes, as brisas :
cursavam os levantes, » etc. ;

4.° qualidades habituaes, como — fé, esperança, e caridade ; menos
quando são tomadas pelos actos d’ellas, como — « duas fés e crenças. »
« Deus aborrece avarezas, » i. é, os actos viciosos da avareza.

19. Usam-se geralmente no plural os nomes que significam pares, multidão
ou congestão de cousas da mesma especie, como — bragas, calças,
ciroulas, preces, fezes, fauces, exequias, víveres, sêmeas
, etc. : todavia
muitas vezes encontram-se alguns no singular.

Nomes ha, em fim, que com uma só terminação designam ambos os
numeros, como — prestes, ourives, alferes, arraes, caes (1)8, etc.

Graus do nome

20. Os graus do nome são dous — augmentativo e diminutivo.

O augmentativo exaggera a significação do nome primitivo
d’onde se deriva, como — de homem homemzarrão ; de mulher
mulhèrão, mulherona, mulheraça ; de moço mocetão.

O diminutivo attenua ou deprime a significação do nome primitivo
d’onde se deriva, como — de homem homemzinho ou homemzito ;
de filho filhinho ; de mulher mulherinha ou mulherita ;
de livro livrinho.

21. Conhece-se o augmentativo pelas terminações seguintes :

1.° ão. Esta, que é a mais geral, de ordinario serve para augmentar
mais, como — de febre febrão ; de caixa caixão ; de memoria memorião ;
de casaca casacão ; de velhaco velhacão.

Os augmentativos em ão são sempre masculinos, e formam o feminino
mudando esta terminação em ona, como — de mulherão mulherona ; de mocetão
mocetona. Muitos substantivos, ao passar a este grau, alteram a parte
radical antes da terminação augmentativa ão, como — homemzarrão, sabichão,
sanctarrão, raparigão, narigão
, etc.

2.° az, aço, aça. Estas terminações empregam-se para augmentar menos,
como — de mestre mestraço ; de rico ricaço ; de suberbo suberbaço ;
de peccador, peccadoraço.6

22. O diminutivo conhece-se pelas terminações seguintes :

1.° inho, inha, acabando os primitivos em vogal ou consoante, e zinho,
zinha
, terminando em diphthongo ; e serve este grau para diminuir
mais, como — de filho filhinho ; de filha filhinha ; de mulher mulherinha ;
de rapaz rapazinho, etc.

2.° ête, ito, ita, ico, óte, ota, óto, para diminuir menos, como — moço
mocête ; livro livrito ; rei reizito ; filho filhito ou filhote ; ilha ilhote ou
ilhota ; burro burrico ; pico picôto, etc.

Afóra estas terminações, que são as mais vulgares, diminutivos ha acabados
em ácho, êjo, como — riacho, lebracho, animalejo, logarejo, diminutivos
de rio, lebre, animal, logar ; e outros em ulo, ula, tomados directamente
do latim, como — globulo, conventiculo, homunculo, cellula,
pellicula, particula
, diminutivo de cella, globo, pelle, parte, etc.

Advirta-se : 1.° que os augmentativos muitas vezes tambem se tomam
em accepção depreciativa, quando por escarneo chamâmos ironicamente
grande ao que de si é pequeno e insignificante, como — sabichão
ao ignorante, valentão ao fraco, etc. ; 2.° que os diminutivos
umas vezes exprimem carinho, como — filhinho, beijinho, etc. ; outras
desprêzo, como — homemzito, mulherica.

Do adjectivo.

23. Adjectivo é uma palavra variavel, que se juncta ao nome
para o determinar ou qualificar.

Os adjectivos dividem-se geralmente em — determinativos e
qualificativos.

Adjectivos determinativos

24. Os adjectivos determinativos significam o maior ou menor
número dos individuos, a que se extende a significação do nome
com que concordam.

Dividem-se em — demonstrativos, relativos-conjunctivos, interrogativos,
numeraes, universaes
e partitivos.

25. Demonstrativos são os adjectivos que mostram ou trazem
á memoria as pessoas e as cousas, como — este, esse, aquelle,
o mesmo, o
.

Este indica que o nome com que concorda está presente, e juncto
á pessoa que fala. Esse mostra-o algum tanto distante, e immediato á
pessoa com quem se fala. Aquelle determina tambem um nome presente,
7porém mais remoto d’uma e d’outra. Ex. : De quem é esse livro?
(perguntâmos a outrem que o tem, e elle, mostrando-o, responde :)
este livro é meu ; aquelle é de Pedro. Mesmo sem artigo pospõe-se a qualquer
dos demonstrativos ou pronomes para lhes dar mais fôrça : como —
este mesmo, aquelle mesmo, eu mesmo, tu mesmo, etc. Ex. : « Eu mesmo
o vi, » Com o artigo serve para mostrar a identidade d’alguma pessoa
ou cousa antecedentemente nomeada : como — « Francisco estuda, e eu
faço o mesmo. »

26. Relativos-conjunctivos são os adjectivos, que não só se referem
a uma palavra ou sentido antecedente, mas junctam entre
si duas orações, como — quem, que, o qual, cujo (1)9.

Assim nesta phrase — « Deus que nos creou, é infinitamente bom » a
palavra que refere-se ao nome antecedente Deus, e juncta entre si as
duas orações — Deus é infinitamente bom, e este (Deus) nos creou.

27. Interrogativos são os mesmos relativos conjunctivos, quando
servem para interrogar ou perguntar, directa ou indirectamente,
como — quem? que? qual? cujo? (2)10

28. Numeraes dizem-se os adjectivos que designam número,
ordem numerica
ou quantidade. Dividem-se em cardinaes, numeraes
e quantitativos.

Os cardinaes significam somente número, como — um, dois,
tres, quatro, vinte, cem
, etc. ; os ordinaes, ordem numerica,
como — primeiro, segundo, terceiro, vigesimo, etc. ; os quantitativos
quantidade indefinida, como — muito, pouco, quanto,
tanto, mais, menos
.

29. Universaes são os adjectivos que exprimem a totalidade
dos individuos, collectiva, ou distributivamente. Dividem-se em
collectivos e distributivos.

Os collectivos comprehendem todos os individuos junctos, como
8todo, nenhum ; e os distributivos, cada hum dos individuos de
per si, como — quem quer, qualquer, cada.

30. Partitivos são os adjectivos que significam parte de totalidade
como — algum, outro (1)11, tal (2)12.

O adjectivo certo umas vezes é determinativo (quando indíca uma pessoa
ou cousa certa para quem fala, mas que se occulta é pessoa ou pessoas
para quem se fala), outras vezes é qualificativo. No 1.° caso precede
sempre o substantivo com que concorda ; e no 2.° póde ir antes ou depois.
Ex. do 1.° « Certo amigo », isto é, um amigo, que eu bem conheço : ex. do
2.° « um amigo certo », isto é, um amigo fiel.

Os adjectivos determinativos distingue-se dos qualificativos por
quatro signaes : — 1.° não alteram a significação do nome com que concordam ;
2.° precedem-no sempre ; 3.° a sua significação não tem graus ;
4.° são mui poucos, comparados com os qualificativos, cujo número, é, por
assim dizer, infinito.

Adjectivos qualificativos ou attributivos.

31. Qualificativos ou attributivos são os adjectivos que denotam
as propriedades ou qualidades dos substantivos com que
concordam. Dividem-se em — explicativos e restrictivos.

Os explicativos significam alguma propriedade essencial ás cousas
ou pessoas, e por isso servem só de ampliar a significação do
substantivo com que concordam, como — Deus justo, homem
mortal
.

Os restrictivos significam alguma qualidade accidental ás cousas
ou pessoas, e pos isso limitam a significação do substantivo,
com que concordam, como — homem virtuoso, sabio, etc.

Graus dos adjectivos e adverbios qualificativos.

32. Os adjectivos qualificativos, e os adverbios derivados d’estes,
admittem tres graus em sua significação — positivo, comparativo
e superlativo.9

O adjectivo ou adverbio é positivo, quando enuncia simplesmente
uma qualidade sem augmento nem diminuição, como —
justo, justamente.

O adjectivo ou adverbio é comparativo, quando a sua significação
está elevada a um grau mais ou menos alto, ou egual á de
outro, com o qual se compara ; como —

Mais ou menos justo / justamente do que. — Tão justo / justamente como.

Conhece-se o comparativo pelas palavras mais ou menos antepostas
ao positivo seguindo-se do que, ou tão seguindo-se como.

O adjectivo ou adverbio é superlativo, quando sua significação
está elevada a um grau muito alto ou muito baixo, como
— muito justo, muito justamente, ou justissimo, justissimamente
(que se chama superlativo absoluto) ; o mais justo de…, (que se
chama superlativo relativo ou comparativo). Conhece-se o superlativo
absoluto, além d’outros modos, pela palavra muito anteposta
ao positivo, ou pela terminação — issimo, issimamente ; e o
superlativo relativo ou comparativo pelas palavras o mais antepostas
ao positivo, seguindo-se de.

Exceptuam-se alguns adjectivos, que têm comparativos e superlativos
de origem latina. Os mais vulgares são os seguintes :

Positivo | Comparativo | Superlativo
Bom | melhor | optimo
Mau | peór | pessimo
Grande | maior | maximo
Pequeno | menor | minimo

Outros têm sómente o superlativo da mesma origem. Taes são :

Positivo | Superlativo
Facil | facillimo
Difficil | difficillimo
Fiel | fidelissimo
Infiel | infidelissimo
Amigo | amicissimo
Vão | vanissimo
São | sanissimo
10Positivo | Superlativo
Christão | christianissimo
Aspero | asperrimo
Celebre | celeberrimo
Nobre | nobilissimo, | etc.

33. Não tem graus :

1.° Os adjectivos derivados, como — portuguez, lisbonense,
celeste, terrestre, maritimo, aureo, argenteo, corporeo
, etc. ;

2.° Os que significam estado ou condição, como — nascido,
morto, desterrado, casado
, etc. ;

3.° Os adjectivos verbaes em ôr, ôra, como — salvador, vencedor,
matador
.

Adjectivos derivados.

34. Chamam-se patrios os adjectivos derivados do nome de cidade,
villa ou aldeia, onde alguem nasceu : como — lisbonense
(natural de Lisboa), conimbricense (natural de Coimbra).

Gentilicos são os que declaram a nação a que alguma pessoa
ou cousa pertence, como — portuguez (de Portugal) ; italiano
(de Italia).

Variações genericas dos adjectivos.

35. Os adjectivos portuguezes são uniformes, biformes, ou triformes.
Os uniformes têm uma só fórma para ambos os generos
— masculino e feminino ; os biformes duas, a 1.ª para o masculino,
e a 2.ª para o feminino ; os triformes tres, a 1.ª para o masculino,
a 2.ª para o feminino, e a 3.ª para o neutro, quando não
concordam com algum nome masculino ou feminino, mas sim
com um verbo no infinito, oração ou sentido. Nos uniformes exprime-se
o genero neutro pela sua única fórma, e nos biformes
pela primeira fórma. Ex. : « Tal não ha. — Isto é facil, é bello, é
bom, etc. »

As terminações d’uns e d’outros são as seguintes :

Uniformes

Os acabados em
e doce, amante / al, el, il leal, amavel, facil / ar exemplar / az, iz, oz capaz, feliz, veloz / im assim, ruím11

Biformes

Os acabados em
o, a justo, justa / êz, êza inglez, ingleza / ôr, ôra tutôr, tutôra / ú, úa nú, núa / ão, ã pagão, pagã

Exceptuam-se cortez e montez, que são uniformes.

Triformes

Demonstrativos
Este, esta, isto (1)13 / Esse, essa, isso / Aquelle, aquella, aquillo / O, a (art. def.) / Um, uma (art. indef.)

Relativos-Conjunctivos
Quem (para pessoas) / Que / Qual / Cujo, cuja

Aos demonstrativos este, esse, aquelle, póde junctar-se o adjectivo
outro, e denominam-se por isso — demonstrativos compostos.
Formam-se assim — est’outro, est’outra ; ess’outro, ess’outra ;
aquell’outro, aquell’outra
.

Interrogativos
Quem? (para pessoas) / Qual? / Que? / Cujo, Cuja?

Numeraes
Um, dois, tres, quatro, cinco, etc. Cardinaes. / Primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, etc. / Ordinaes.

Quantitativos
Muito, muita / Pouco, pouca / Quanto, quanta / Tanto, tanta / Mais / Menos.12

Universaes
Todo, toda, tudo / Ninguem (para pess.) / Nenhum, nenhuma, nada / Collectivos. / Quemquer, (para pess.) / Qualquer / Cada / Distributivos.

Partitivos
Outrem (para pess.) / Outro, outra (al antiquado) (1)14 / Alguem (para pess.) / Algum, alguma (algo antiq.) / Tal

Pronomes pessoaes

36. Pronome é uma palavra variavel, que se emprega em vez
do nome para evitar a repetição d’este, e mostrar o papel, que
no discurso representa a pessoa ou cousa que elle significa.

Em qualquer discurso figuram sempre tres pessoas : 1.ª aquella,
que fala — eu, nós ; 2.ª aquella com quem se fala — tu, vós ; e
3.ª aquella de quem se falla — elle, ella ; elles, ellas. Ex. : Eu leio ;
tu estudas, elle escuta
.

Os pronomes pessoaes são as unicas palavras na nossa lingua, que,
para exprimir as differentes funcções que exercem na oração, variam
a sua fórma da maneira seguinte :

Eu, tu, nunca admittem preposição, e são sempre subjeito (2)15.

Nós, vós, elle, ella, elles, ellas, sem preposição são subjeito, e podem,
regidos de preposição, ser complemento.

Mim, ti, si, só podem ser complemento de preposição, e por isso, sob esta
fórma, nunca são subjeito. Com a preposição com tomam as fórmas —
comigo, comtigo, comsigo.

Lhe é ordinariamente complemento terminativo ; algumas vezes tambem
exprime relação de attribuição.13

Se (1)16 (reflexo), complemento objectivo ou terminativo.

O, a, os, as, depois de verbo ou participio activos, são sempre complemento
objectivo.

Adjectivos possessivos.

37. De cada um dos pronomes pessoaes, no singular e no plural,
se formam os adjectivos possessivos — meu, teu, seu (d’elle,
d’ella, d’elles, d’ellas), nosso, vosso. Tem este nome, porque, além
de indicarem o substantivo com que concordam, mostram tambem
a pessoa que o possue, ou a quem elle pertence.

Formam-se assim :

1.ª pessoa De mim forma-se meu, minha / De nós forma-se nosso, nossa
2.ª pessoa De ti forma-se teu, tua / De vós forma-se vosso, vossa
3.ª pessoa De si (reflexo) seu, sua.

Do artigo

38. Os artigos são uns adjectivos determinativos, que se junctam
ao nome para indicar, que elle se toma, não na sua generalidade,
mas em um sentido individual, determinado ou indeterminado.
Para o primeiro caso temos o artigo o, a, (sing.) ; os, as
(plur.), que se chama definido : para o segundo, o artigo um, uma
(sing.) ; uns, umas (plur.), que se chama indefinido.

O artigo definido o, a, determina a palavra a que está juncto,
mostrando que ella ou já é, ou vai a ser conhecida ; como : — « Li
os romances que me mandaste. »

O artigo indefinido um, uma, denota que a palavra, com que
concorda, se toma em sentido individual, mas não determinado ;
como : — « Li uns romances. »14

Usos do artigo o

39. O artigo o tem ainda no discurso os usos seguintes :

1.° Substantiva qualquer parte da oração para poder servir de subjeito,
attributo ou complemento d’algum verbo : como — o justo, o bello,
o sublime. « O como, e o quando. — O fazer isso não me é licito. — Respeito
o teu saber. »

2.° Apropría os nomes communs : como — o Porto, a Bahia, a Extremadura,
etc. ; e, vice-versa, dos proprios faz communs, como — os Ciceros,
os Camões ; isto é, os oradores como Cicero, os poetas como
Camões (n.° 18).

3.° Referindo-se a um nome adjectivo, e ainda a um sentido, antecedente
serve de attributo sem variar a sua fórma o, e por isso se
considera no genero neutro ; como — « Nobreza é ser rico, e vir de
paes, que o fôssem. (1)17 É mais moça, mais formosa, mais mulher do
que tu (2)18. »

4.° Quando fazemos duas classes oppostas, usâmos do artigo repetido ;
como : — « Virá a julgar os vivos e os mortos. » Aliás diremos sem
repetição : « os honrados e fieis subditos de Vossa Magestade. »

Omitte-se o artigo :

1.° nos nomes proprios, por serem determinados por si mesmos,
como — Antonio, Coimbra, Lisboa (3)19.

2.° quando o nome se toma na sua generalidade, como — « Pobreza
não é vileza. »

3.° quando o nome commum se usa attributivamente, como — « Este
animal é cavallo. »15

Do participio.

40. O participio é um adjectivo verbal mixto, que do verbo
toma as vozes, os tempos, e o regime, e do adjectivo a significação
de qualidade. Temos dois — um imperfeito e outro perfeito. (1)20

O participio imperfeito exprime existencia ou acção não acabada ;
e conhece-se pelas terminações — ando, endo, indo, como
— « louv-ando, dev-endo, applaud-indo. »

O participio perfeito significa existencia ou acção já acabada ;
e conhece-se pelas terminações — ado, ido, como — « louv-ado,
dev-ido, applaud-ido. »

41. O participio perfeito, tendo variações numeraes e genericas, é
passivo, isto é, significa uma acção recebida pelo substantivo com que
concorda : como — « louv-ado, louv-ada, louv-ados, louv-adas. » Com este
participio e o verbo ser, conjugado com os seus auxiliares, se fórma a
passiva dos verbos adjectivos, como adeante veremos.

Capitulo II
Do verbo

42. Verbo, é uma palavra variavel, que na oração liga o subjeito
com o attributo, mostrando que o attributo existe no subjeito.
Assim, nesta oração — « Deus é bom, » a palavra é, que
liga o subjeito Deus com o attributo bom, chama-se verbo.

43. O verbo, em geral, divide-se em substantivo e adjectivo.
O verbo substantivo (ou abstracto) sómente liga o subjeito com o
16attributo, do qual está separado ; este é só o verbo ser. O verbo
adjectivo (ou concreto) tem o attributo incluido em si ; taes são
todos os outros verbos, como — amo, que val tanto, como — sou
amante
ou amando.

44. O verbo adjectivo exprime ou uma acção, como — cultivar,
andar
 ; ou um estado e qualidade, como — viver, brilhar. D’aqui
vem a divisão geral do verbo adjectivo em transitivo e intransitivo.

45. O verbo transitivo é o que significa uma acção, que, practicada
pelo subjeito, passa para um ou mais objectos extranhos,
ou reverte para o mesmo subjeito. Pede por isso um ou mais complementos.
Ex. : — « O lavrador cultiva a terra. — Pedro feriu-se. »
cultiva… o quê?… a terra. Feriu… a quem?… se (a si). Terra
e se são complementos dos verbos cultiva e feriu.

46. O verbo intransitivo é o que exprime mero estado e qualidade
do subjeito, ou ainda uma acção que não passa do subjeito
que a practíca, como — viver, brilhar, saltar. Ex. : — « Antonio
vive. — O sol brilha. — O menino salta. » Vive…brilha…salta
o que? Taes perguntas são absurdas. Os verbos viver, brilhar e
saltar não pedem complementos.

47. O verbo transitivo, porque exprime uma acção, que requer
ou um objecto em que se empregue, ou um termo a que se dirija,
ou um objecto e um termo junctamente, subdivide-se em
activo, relativo, e activo-relativo.

48. Verbo activo é o que pede depois de si uma palavra ou
oração, onde recáe immediatamente a acção do subjeito. Tal palavra
ou oração chama-se complemento objectivo ou directo. Ex. :
« O discipulo escuta seu mestre. — Estimo que tenhas saude. » As
palavras seu mestre e a oração que tenhas saude são complemento
objectivo dos verbos escuta e estimo.

49. Verbo relativo é o que requer uma palavra ou oração, regida
de preposição, para servir de termo á sua significação relativa.
Tal palavra ou oração chama-se complemento terminativo ou
indirecto. Ex. : — « Sáio de casa, e vou para a aula. » As palavras
de casa, e para a aula, são complemento terminativo ou indirecto
dos verbos sáio e vou.17

50. Os verbos transitivos muitas vezes se usam intransitivamente,
quando enunciam só a qualidade ou a acção do subjeito, abstrahindo
de qualquer objecto em que ellas se empreguem. Ex. : — « Este menino
estuda muito. — Um pedir brando, um rogar suave. »

Tambem a muitos verbos intransitivos algumas vezes se dá elegantemente
significação transitiva. Ex. : — « Viver vida nova ; morrer morte
desastrada. — Se eu não gritára, elle estivera quêdo (intransitivo). —
Gritam ordens os cabos » (activo) (1)21

51. Verbo activo-relativo é o que tem depois de si dous complementos,
um objectivo e outro terminativo. Ex. : — « Dei um
livro a Pedro
. » As palavras um livro são complemento objectivo,
e a Pedro complemento terminativo do verbo dei.

52. Nos verbos adjectiivos temos que considerar :

1.° A sua accepção, que póde ser natural, como — lavrar a terra ;
ou figurada, como — lavrar um auto.

2.° A sua especie e podem ser primitivos, como — dormir ; ou derivados,
como — dormitar.

3.° A sua figura ; e podem ser simples, como — unir ; ou compostos,
como — desunir.

53. Os verbos transitivos (activos e activos-relativos) têm duas
vozes, isto é, duas maneiras differentes de significar a mesma
acção : activa, quando o subjeito é que practíca a acção ; passiva
quando o subjeito é que recebe a acção practicada por outro.
Ex. : — « O lavrador cultiva a terra (activa). — A terra é cultivada
pelo lavrador » (passiva).

54. Em cada voz deve attender-se a quatro cousas (quatro accidentes
do verbo) : numeros, pessoas, modos e tempos.

Os numeros são dous — cingular e plural, assim como nos
nomes.

As pessoas são tres em cada numero : 1.ª, 2.ª, 3.ª, que se conhecem
pelas terminações do verbo, como — louv-o, louv-as,
louv-a ; louv-âmos, louv-ais, louv-am.

Os modos, isto é, as differentes maneiras como se enuncia a
significação do verbo, são de duas especies — pessoaes e impessoal.
18Os modos pessoaes são o indicativo, o condicional, o imperativo
e o conjunctivo. O infinito (em portuguez) é impessoal
e pessoal.

O indicativo exprime affirmação d’um modo absoluto e independente,
como — Estudei.

O condicional exprime affirmação, supposta certa condição, como —
« Saberia, se estudasse. »

O imperativo exprime o mesmo que o indicativo, contendo além d’isso
idêa de preceito, súpplica ou exhortação, como — « Honra teu pae e tua
mãe. »

O conjunctivo exprime a significação do verbo de um modo suspenso,
e dependente d’outro verbo ou participio, como — « Quero que estudes. »

O infinito exprime a significação primitiva do verbo d’um modo vago
e indeterminado ; como — « Devemos estudar para saber. »

Os tempos, isto é, as fórmas, que os verbos tomam para indicar,
que a causa foi, é, ou ha de ser, são — uns primarios, e
outros secundarios. Os primarios são tres — presente, preterito
e futuro ; os secundarios são — imperfeito, mais-que-perfeito e
futuro perfeito.

O presente declara que a cousa é presentemente, como — « Eu estudo. »

O preterito declara que a cousa foi, como — « Eu estudei. »

O futuro declara, que a cousa será ou ha de ser, como — « Eu estudarei. »

O preterito imperfeito indíca uma acção hoje passada, mas que o não
era, quando outra se fez, como — « Eu estudava a licção, quando tu
chegaste. »

O mais-que-perfeito indíca uma acção passada, quando se realizou
outra tambem já passada, como — « Eu tinha estudado a licção, quando
tu chegaste. »

O futuro perfeito indíca uma acção futura, relativamente ao momento
em que eu falo, mas que será preterita antes de se realizar outra tambem
futura, como — « Terei estudado a lição, quando tu chegares. »

Da conjugação dos verbos.

55. Recitar um verbo em todas as pessoas, numeros, tempos
e modos d’ambas as vozes, é conjugal-o.

Os verbos adjectivos recitam-se por certos modelos geraes ou
conjugações.19

Estas são tres, e distinguem-se pelo presente do infinito. Acaba
a 1.ª em ar, como louv-ar ; a 2.ª em er, como dev-er, a 3.ª em
ir, como applaud-ir.

Raizes de formação dos tempos.

56. Em cada conjugação ha certos tempos primordiaes, d’onde
todos os mais se formam. Chamam-se raizes de formação.

As raizes de formação são três : o infinito, o presente do indicativo
(na 1.ª e 2.ª pessoa do singular e plural), e o preterito
perfeito
(na 2.ª pessoa do singular).

Do infinito formam-se : o presente, o preterito imperfeito, o
preterito perfeito, o futuro imperfeito, do indicativo, o condicional
e os participios.

Do presente do indicativo forma-se : da 1.ª pessoa do singular
o presente do conjunctivo ; da 2.ª d’ambos os numeros, as
2.ª pessoas do imperativo, que são as mesmas do presente do
indicativo, tirado o s final (1)22.

Do preterito perfeito (2.ª pessoa do singular) formam-se : o
preterito mais-que-perfeito do indicativo, o preterito e futuro
imperfeitos
do conjunctivo.

57. Em cada raiz devem distinguir-se dous elementos differentes :
1.° a radical — a primeira parte, invariavel em todas as
pessoas e numeros, e que representa a ideia do attributo : 2.° a
terminação, — a última parte variavel, e que exprime a idêa do
verbo ser com todas as modificações de pessoas, numeros, tempos
e modos. Assim nas formas louv-o, louv-as, louv-a, a primeira
parte louv (por louvando ou louvador) é a radical ; e as últimas
o, as, a, (por sou, es, é) são as terminações.

Modo da formação dos tempos

58. Os tempos secundarios formam-se junctando á competente
radical as terminações respectivas, da maneira seguinte :20

1.ª Raiz

Conjugações
Infinito
1.ª | 2.ª | 3.ª

Presente impessoal

Louv-ar, | Dev-er, | Applaud-ir

Presente pessoal

S | ar | er | ir / ares | eres | ires / ar | er | ir

P. | armos | ermos | irmos / ardes | erdes | irdes / arem | erem | irem

Indicativo

Presente

S. | o | o | o / as | es | es / a | e | e

P. | âmos | èmos | imos / ais | eis | ís / am | em | em

Preterito imperfeito

S. | ava | ia | ia / avas | ias | ias / ava | ia | ia

P. | ávamos | iamos | iamos / aveis | ieis | íeis / avam | iam | iam

Preterito perfeito

S. | ei | i | i / aste | este | iste / ou | eu | iu

P. | ámos | emos | imos / astes | estes | istes / áram | êram | iram21

Louv- | Dev- | Applaud-

Futuro imperfeito

S. | arei | erei | irei / arás | erás | irás / ará | erá | irá

P. | aremos | eremos | irêmos / areis | erêis | ireis / arão | erão | irão

Condicional

S. | aria | eria | iria / arias | erias | iria / aria | eria | iria

P. | ariamos | eriamos | iriamos / arieis | ereis | irieis / ariam | eriam | iriam

Participio imperfeito

ando | endo | indo

Participio perfeito

ado | ido | ido

2.ª Raiz

Louv-o | Dev-o | Applaud-o,

Conjunctivo

Presente

S. | e | a | a / es | as | as / e | a | a

P. | êmos | âmos | âmos / eis | ais | ais / em | am | am22

Imperativo

S. | a | e | e / e | a | a

P. | êmos | âmos | âmos / ai | ei | i / em | am | am

3.ª Raiz

Louva- / Deve- / Applaudi- | ste

Indicativo

Pret. mais q. perfeito

S. | ra / ras / ra

P. | ramos / reis / ram

Conjunctivo

Preterito imp.

sse / sses / sse / ssemos / sseis / ssem

Futuro imp.

r / res / r / rmos / rdes / rem

Nota. As terminações d’estes tempos são as mesmas nas tres conjugações,
tanto regulares como irregulares ; e formam-se mudando a terminação
ste em ra, sse, e r.

59. Para bem conjugar um verbo adjectivo regular é mistér :
1.° ver pelo infinito a qual das conjugações elle pertence ; 2.° conhecer
as suas tres raizes, e as terminações dos tempos pertencentes
a cada uma ; 3.° distinguir, em cada raiz, a radical da
terminação, e ir junctando successivamente á radical as terminações
respectivas ; 4.° saber conjugar os verbos auxiliares, com que
se formam os tempos compostos. Começaremos pela conjugação
d’estes, e depois pelas dos verbos adjectivos regulares.

Verbos auxiliares.

60. Chamam-se verbos auxiliares, os que, junctos e conjugados
com outro verbo ou participio, formam os tempos compostos.
Os mais frequentes são ter, haver e ser.

Com os verbos auxiliares ter e haver, conjugados com o participio
perfeito de qualquer verbo, formam-se os tempos perfeitos
23compostos
, e com o infinito impessoal, regido da preposição de,
forma-se o futuro imperfeito composto, as linguagens começadas
ou projectadas. Com o verbo auxiliar ser e seus participios, formam-se
todos os tempos da passiva dos verbos adjectivos. (1)23

Conjugação dos verbos auxiliares
Ter, Haver, e Ser.

61. Conjugação dos verbos auxiliares ter, haver, e ser.

Infinito

Presente impessoal

Ter | Haver

Presente pessoal

S. | Ter | Haver / teres | haveres / ter | haver

P. | termos | havermos / terdes | haverdes / terem | haverem

Participio imperfeito

Tendo | Havendo

Indicativo

Presente

S. | Tenho | Hei / tens | has / tem | ha

P. | temos | havemos / tendes | haveis / têm | hão

Preterito imperfeito

S. | Tinha | Havia / tinhas | havias / tinha | havia

P. | tinhamos | haviamos / tinheis | havieis / tinham | haviam

Preterito perfeito

S. | Tive | Houve / tiveste | houveste / teve | houve

P. | tivemos | houvemos / tivestes | houvestes / tiveram | houveram

Preterito mais-que-perfeito

S. | Tivera | Houvera / tiveras | houveras / tivera | houvera

P. | tiveramos | houveramos / tivereis | houvereis / tiveram | houveram24

Futuro

S. | Terei | Haverei / terás | haverás / terá | haverá

P. | teremos | haveremos / tereis | havereis / terão | haverão

Condicional

S. | Teria | haveria / terias | haverias / teria | haveria

P. | teriamos | haveriamos / tereieis | haverieis / teriam | haveriam

Conjunctivo

Presente

S. | Tenha | haja / tenhas | hajas / tenha | haja

P. | tenhamos | hajàmos / tenhais | hajais / tenham | hajam

Preterito imperfeito

S. | Tivesse | houvesse / tivesses | houvesses / tivesse | houvesse

P. | tivessemos | houvessemos / tivesseis | houvesseis / tivessem | houvessem

Preterito mais que perfeito

S. | Tivera (1)24 | houvera (1)25 / tiveras | houveras / tivera | houvera

P. | tiveramos | houveramos / tivereis | houvereis / tiverem | houveram

Futuro

S. | Tiver | houver / tiveres | houveres / tiver | houver

P. | tivermos | houvermos / tiverdes | houverdes / tiverem | houverem25

Conjugação do verbo substantivo e auxiliar
Ser

62. Conjugação do verbo substantivo e auxiliar ser (1)26

Infinito

Presente impessoal

Ser

Presente pessoal

S. | Ser / seres / ser
P. | sermos / serdes / serem

Preterito impessoal

Ter sido

Preterito Pessoal

S. | Ter / teres / ter | sido
P. | termos / terdes / terem | sido

Futuro Impessoal

Haver de ser

Futuro Pessoal

Haver / haveres / haver | de ser
havermos / haverdes / haverem | de ser

Participio imperfeito

Sendo

Participio perfeito

Sido

Participio perfeito Composto

Tendo sido

Indicativo

Presente

S. | Sou / es / é
P. | somos / sois / são

Preterito imperfeito

S. | Era / eras / era
P. | eramos / ereis / eram

Preterito perfeito

S. | Fui / foste / foi
P. | fomos / fostes / foram26

Preterito perfeito composto

S. | Tenho / tens / tem | sido
P. | temos / tendes / têm | sido

Preterito mais-que-perfeito

S. | Fôra / foras / fôra
P. | foramos / foreis / foram

Preterito mais-que-perf. composto

S. | Tinha / tinhas / tinha | sido
P. | tinhamos / tinheis / tinham | sido

Futuro imperfeito

S. | Serei / serás / será
P. | seremos / sereis / serão

Futuro imperfeito composto

S. | Hei (1)27 / has / ha | de ser
P. | havemos / haveis / hão | de ser

Futuro perfeito composto

S. | Terei / terás / terá | sido
P. | teremos / tereis / terão | sido

Condicional

Imperfeito

S. | Sería / serías / sería
P. | seriamos / serieis / seriam

Perfeito

S. | Teria / terias / teria | sido
P. | teriamos / terieis / teriam | sido

Imperativo

S. | Sê / seja
P. | sejâmos / sêde / sejam

Conjunctivo

Presente

S. | Seja / sejas / seja
P. | sejâmos / sejais / sejam27

Preterito imperfeito

S. | Fôsse / fôsses / fôsse
P. | fôssemos / fôsseis / fôssem

Preterito perfeito composto

S. | Tenha / tenhas / tenha | sido
P. | tenhâmos / tenhais / tenham | sido

Preterito mais-que-perf. composto

S. | Tivesse / tivesses / tivesse | sido
P. | tivessemos / tivesseis / tivessem | sido

Futuro imperfeito

S. | For / fores / for
P. | formos / fordes / forem

Futuro imperfeito composto

S. | Houver / houveres / houver | de ser
P. | houvermos / houverdes / houverem | de ser

Futuro perfeito composto

S. | Tiver / tiveres / tiver | sido
P. | tivermos / tiverdes / tiverem | sido28

Paradigmas ou modêlos das tres conjugações
regulares do verbo adjectivo

63. Paradigmas ou modêlos das tres conjugações
regulares do verbo adjectivo

Voz activa

Conjugações
1.ª | 2.ª | 3.ª
Infinito

Presente impessoal

Louv-ar | Dev-er | Applaud-ir

Presente pessoal

S. | Louv-ar | -er | Applaud-ir / -ares | -eres | -ires / -ar | -er | -ir

P. | -armos | -ermos | -irmos / -ardes | -erdes | -irdes / -arem | -erem | -irem

Preterito impessoal

Ter louvado | -devido | -applaudido

Preterito pessoal

S. | Ter / teres / ter | louvado / -devido / -applaudido
P. | termos / terdes / terem | louvado / devido / applaudido

Futuro impessoal

Hever de louvar | -de dever | -de applaudir29

Futuro pessoal

S. | Haver / haveres / havermos | de louvar | de dever | de applaudir
P. | haver / haverdes / haverem | de louvar | de dever | de applaudir

Participio imperfeito

Louv-ando | Dev-endo | Applaud-indo

Participio perfeito

Louv-ado | Dev-ido | Applaud-ido

Participio perfeito composto

Tendo louvado | -devido | -applaudido

Indicativo

Presente

S. | Louv-o | Dev-o | Applaud-o / -as | -es | -es / -a | -e | -e

P. | -âmos | -emos | -imos / -ais | -eis | -is / -am | -am | -em

Preterito imperfeito

S. | Louv-ava | Dev-ia | Applaud-ia / -avas | -ias | -ias / -ava | -ia | -ia

P. | -avamos | -iamos | -iamos / -aveis | -ieis | -ieis / -avam | -iam | -iam

Preterito perfeito

S. | Louv-ei | Dev-i | Applaud-i / -aste | -este | -iste / -ou | -eu | -iu

P. | -ámos | -emos | -imos / -astes | -estes | -istes / -aram | -eram | -iram30

Preterito perfeito composto

S. | Tenho / tens / tem | louvado | -devido | -applaudido
P. | temos / tendes / têm | louvado | -devido | -applaudido

Preterito mais-que-perfeito

S. | Louv- | Deve- | Applaudi-ra (1)28 / — | — | -ras / — | — | -ra

P. | — | — | -ramos / — | — | -reis / — | — | -ram

Preterito mais-que-perfeito-composto

S. | Tinha / tinhas / tinha | louvado / — | — | — | devido / — | — | — | -applaudido

P. | tinhamos / tinheis / tinham | louvado / — | — | — | devido / — | — | — | -applaudido

Futuro imperfeito

S. | Louv-arei | Dev-erei | Applaud-irei / -arás | -erás | -irás / -ará | -erá | -irá

P. | -aremos | -eremos | -iremos / -areis | -erêis | -irêis / -arão | -erão | -irão

Futuro imperfeito composto

S. | Hei / has / ha | de louvar / — / — / — | de dever / — / — / — | de applaudir

P. | havemos / haveis / hão | de louvar / — / — / — | de dever / — / — / — | de applaudir31

Futuro perfeito

S. | Terei / terás / terá | louvado / — / — / — | -devido / — / — / — | -applaudido

P. | teremos / tereis terão | louvado / — / — / — | -devido / — / — / — | -applaudido

Condicional

Imperfeito

S. | Louv-aria | Dev-eria | Applaud-iria / -arias | -erias | -irias / -aria | -eria | -iria

P. | -ariamos | -eriamos | -iriamos / -arieis | -erieis | -irieis / -ariam | -eriam | -iriam

Perfeito

S. | Teria / terias / teria | louvado / — / — / — | -devido / — / — / — | -applaudido

P. | terìamos / terieis / teriam | louvado / — / — / — | -devido / — / — / — | -applaudido

Imperativo

Futuro

S. | Louv-a | Dev-e | Applaud-e / -e | -a | -a

P. | -emos | -amos | -amos / -ai | -ei | -i / -em | -am | -am

Conjunctivo

Presente

S. | Louv-e | Dev-a | Applaud-a / -es | -as | -as / -e | -a | -a

P. | -emos | -amos | -amos / -eis | -ais | -ais / -em | -am | -am32

Preterito imperfeito

S. | Louva- | Deve- | Applaudi-sse (1)29 / — | — | -sses / — | — | -sse

P. | — | — | -ssemos / — | — | -sseis / — | — | -ssem

Preterito perfeito composto

S. | Tenha / tenhas / tenha | louvado / — | — | — | devido / — | — | — | applaudido

P. | tenhamos / tenhais / tenham | louvado / — | — | — | devido / — | — | — | applaudido

Preterito mais-que-perfeito composto

S. | Tivesse / tivesses / tivesse | louvado / — | — | — | devido / — | — | — | applaudido

P. | tivessemos / tivesseis / tivessem | louvado / — | — | — | devido / — | — | — | applaudido

Futuro imperfeito

S. | Louva- | Deve- | Applaudi-r (2)30 / — | — | -res / — | — | -r

P. | — | — | -rmos / — | — | rdes / — | — | -rem

Futuro imperfeito composto

S. | Houver / houveres / houver | de louvar / — / — / — | de dever / — / — / — | de applaudir

P. | houvermos / houverdes / houverem | de louvar / — / — / — | de dever / — / — / — | de applaudir33

Futuro perfeito

S. | Tiver / tiveres / tiver | louvado / — | — | — | devido / — | — | — | -applaudido

P. | tivermos / tiverdes / tiverem | louvado / — | — | — | devido / — | — | — | -applaudido

Voz passiva

64. A voz passiva dos verbos activos forma-se de dous modos :

1.° conjugando com o verbo ser o participio perfeito passivo
d’estes verbos, concordado em genero e número com o subjeito ;

2.° junctando ás terceiras pessoas da activa e ao participio imperfeito
dos mesmos verbos o pronome indefinido se, quando este
não se refere ao subjeito.

Conjugação do verbo Louvar na sua Voz Passiva
para norma das conjugações passivas
dos verbos activos

Infinito

Presente impessoal

Ser louvado
ou
Louvar-se

Presente Pessoal

S. | Ser louvado, louvada / seres — / ser —
ou
louvar-se

P. | sermos louvados, louvadas / serdes — / serem —
ou
louvarem-se

Preterito impessoal

Ter sido louvado, a
ou
Ter-se louvado

Preterito pessoal

S. | Ter sido louvado, a / teres — / ter —
ou
ter-se louvado

P. | termos sido louvados, as / terdes — / terem —
ou
terem-se louvado34

Futuro impessoal

Haver de ser louvado
ou
Haver de se louvar

Futuro pessoal

S. | Haver de ser louvado, a / haveres — / haver —
ou
haver de se louvar

P. | havermos de ser louvados, as / haverdes — / haverem —
ou
haverem de se louvar

Participio imperfeito

S. | Sendo louvado, a
P. | — louvados, as
ou
S. e P. | Louvando-se

Participio perfeito

S. | Louvado, a
P. | Louvados, as

Participio perfeito composto

S. | Tendo sido louvado, a
P. | — louvados, as
ou
S. e P. | Tendo-se louvado

Indicativo

Presente

S. | Sou louvado, a / es — / é —
ou
louva-se

P. | Somos louvados, as / ois — / são —
ou
louvam-se

Preterito imperfeito

S. | Era louvado, a / eras — / era —
ou
louvava-se

P. | eramos louvados, as / ereis — / eram —
ou
louvavam-se

Preterito perfeito

S. | Fui louvado, a / foste — / foi —
ou
louvou-se

P. | fomos louvados, as / fostes — / foram
ou
louvaram-se

Preterito perfeito composto

S. | Tenho sido louvado, a / tens — / tem —
ou
tem-se louvado

P. | temos sido louvados, as / tendes — / têm —
ou
têm-se louvado35

Preterito mais-que-perfeito

S. | Fôra louvado, a / fôras — / fôra —
ou
louvára-se

P. | foramos louvados, as / foreis — / foram
ou
louvaram-se

Preterito mais-que-perf. composto

S. | Tinha sido louvado, a / tinhas — / tinha —
ou
tinha-se louvado

P. | tinhamos sido louvados, as / tinheis — / tinham —
ou
tinham-se louvado

Futuro imperfeito

S. | Serei louvado, a / serás — / será —
ou
se louvará ou louvar-se-á

P. | seremos louvados, as / sereis — / serão —
ou
se louvarão ou louvar-se-ão

Futuro imperfeito composto

S. | Hei de ser louvado, a / has — / ha —
ou
ha de se louvar

P. | havemos de ser louvados, as / haveis — / hão —
ou
hão de se louvar

Futuro perfeito composto

S. | Terei sido louvado, a / terás — / terá —
ou
se terá ou ter-se-á louvado

P. | teremos sido louvados, as / tereis — / terão —
ou
se terão ou ter-se-ão louvado

Condicional

Imperfeito

S. | Seria louvado, a / serias — / seria —
ou
se louvaria ou louvar-se-ia

P. | seriamos louvados, as / serieis — / seriam —
ou
se louvariam ou louvar-se-iam

Perfeito

S. | Teria sido louvado, a / terias — / teria —
ou
se teria ou ter-se-ia louvado

P. | teriamos sido louvados, as / terieis — / teriam —
ou
se teriam ou ter-se-iam louvado36

Imperativo

S. | Sê louvado, a / seja — / ou
louve-se

P. | sejamos louvados, as / Sêde — / sejam —
ou
louvem-se

Conjunctivo

Presente

S. | Seja louvado, a / sejas — / seja —
ou
se louve

P. | sejamos louvados, as / sejais — / sejam —
ou
se louvem

Preterito imperfeito

S. | Fôsse louvado, a / fôsses — / fôsse —
ou
se louvasse

P. | fossemos louvados, as / fosseis — / fossem —
ou
se louvassem

Preterito perfeito composto

S. | Tenha sido louvado, a / tenhas — / tenha —
ou
se tenha louvado

P. | tenhamos sido louvados, as / tenhais — / tenham —
ou
se tenham louvado

Pret. mais-que-perf. comp.

S. | Tivesse sido louvado, a / tivesses — / tivesse —
ou
se tivesse louvado

P. | tivessemos sido louvadas, as / tivesseis — / tivesse —
ou
se tivessem louvado

Futuro imperfeito

S. | For louvado, a / fores — / for —
ou
Se louvar

P. | formos louvados, as / fordes — / forem —
ou
se louvarem

Futuro imperfeito composto

S. | Houver de ser louvado, a / houveres — / houver —
ou
houver de se louvar

P. | houvermos de ser louvados, as / houverdes — / houverem —
ou
houverem de se louvar37

Futuro perfeito composto

S. | Tiver sido louvado, a / tiveres — / tiver —
ou
se tiver louvado

P. | tivermos sido louvados, as / tiverdes — / tiverem —
ou
se tiverem louvado

Linguagens começadas

65. As linguagens começadas formam-se dos verbos auxiliares
haver ou ter, seguidos da preposição de a reger o infinito do
verbo que se quer conjugar, tanto na voz activa como na passiva.
Tem este nome (tambem o de projectadas ou iniciaes), porque
significam um facto, que começa a existir interiormente na tenção,
antes de se realizar exteriormente.

Activa

Infinito

Presente impessoal

Haver ou ter de louvar

Presente Pessoal

S. | Haver ou ter / haveres ou teres / haver ou ter | de louvar
P. | havermos ou termos / haverdes ou terdes / haverem ou terem | de louvar

Participio

Havendo ou tendo de louvar

Indicativo

Presente

S. | Hei ou tenho
has ou tens
ha ou tem

P. | havemos ou temos
haveis ou tendes
hão ou têm

Preterito imperfeito

S. | Havia ou tinha / havias ou tinhas / havia ou tinha | de louvar
P. | haviamos ou tinhamos / havieis ou tinheis / haviam ou tinham | de louvar

Preterito perfeito

S. | Houve ou tive / houveste ou tiveste / houve ou teve | de louvar
P. | houvemos ou tivesmos / houvestes ou tivestes / houveram ou tiveram | de louvar

Preterito mais-que-perfeito

S. | Houvera ou tivera / houveras ou tiveras / houvera ou tivera | de louvar
P. | houveramos ou tiveramos / houvereis ou tivereis / houveram ou tiveram | de louvar38

Futuro

S. | Haverei ou terei / haverás ou terás / haverá ou terá | de louvar
P. | haveremos ou teremos / havereis ou tereis / haverão ou terão | de louvar

Condicional

S. | Haveria ou teria / haverias ou terias / haveria ou teria | de louvar
P. | haveriamos ou teriamos / haverieis ou terieis / haveriam ou teriam | de louvar

Conjunctivo

Presente

S. | Haja ou tenha / hajas ou tenhas / haja ou tenha | de louvar
P. | hajâmos ou tenhâmos / hajais ou tenhais / hajam ou tenham | de louvar

Preterito imperfeito

S. | Houvesse ou tivesse / houvesses ou tivesses / houvesse ou tivesse | de louvar
P. | houvessemos ou tivessemos / houvesseis ou tivesseis / houvessem ou tivessem | de louvar

Preterito mais que perfeito

S. | Houvera ou tivera / houveras ou tiveras / houvera ou tivera | de louvar
P. | houveramos ou tiveramos / houvereis ou tivereis / houveram ou tiveram | de louvar

Futuro

S. | Houver ou tiver / houveres ou tiveres / houver ou tiver | de louvar
P. | houvermos ou tivermos / houverdes ou tiverdes / houverem ou tiverem | de louvar

Passiva

Infinito

Presente

Impess. | Haver ou ter de ser louvado, a
ou
— de se louvar

Pess. S. | Haver ou ter de ser louvado, a / haveres ou teres — / haver ou ter —
ou
— de se louvar

P. | havermos ou termos de ser louvados, as / haverdes ou terdes — / haverem ou terem —
ou
— de se louvar39

Participio

S. | Havendo ou tendo se ser louvado, a
ou
— de se louvar

P. | — de ser louvados, as
ou
— de se louvar

Indicativo

Presente

S. | Hei ou tenho de ser louvado, a / has ou tens — / ha ou tem —
ou
— de se louvar

P. | havemos ou temos de ser louvados, as / haveis ou tendes — / hão ou têm —
ou
— de se louvar

Preterito imperfeito

S. | Havia ou tinha de ser louvado, a / havias ou tinhas — / havia ou tinha —
ou
— de se louvar

P. | haviamos ou tinhas, etc.

E assim por diante, observando-se o que fica dicto sobre a formação
da voz passiva (n.° 64), e das linguagens começadas (n.° 65).

Verbos reflexos, pronominaes e reciprocos

66. Reflexos são todos os verbos activos, quando exprimem a
acção do subjeito reflexa sobre si mesmo, e por isso têm por complemento
algum dos pronomes me, te, se, posto antes, no meio ou
depois dos verbos. Ex. : « Eu me julgo feliz. Julgas-te. Julgar-te-ás
(por julgarás-te). » (1)3140

67. Pronominaes dizem-se os verbos que sempre se conjugam
com dous pronomes, isto é, os que nunca admittem por
complemento senão o pronome da pessoa do subjeito. Ex. : « Eu
me
abstenho, tu te abstens, etc. »

68. Reciprocos denominam-se os verbos que com os pronomes
nos, vos, se, exprimem acção reciproca entre dois ou mais
subjeitos. Ex. : « Eu e João auxiliamos-nos (ou auxiliamo-nos) mutuamente.
— Davam-se os parabens de se verem salvos : » isto é,
davam entre si ou uns aos outros os parabens, etc. Sendo só dois
os subjeitos tambem se póde exprimir a acção reciproca pondo
o verbo no singular concordado com um d’elles, e levando o outro
a preposição com. Ex. : « Carteio-me com Antonio. »

Verbos irregulares, defectivos, e unipessoaes

69. Chamam-se

irregulares todos os verbos, que ou alteram a radical primitiva,
ou as terminações do modèlo da conjugação a que pertencem ;

defectivos, os que carecem de raizes, tempos ou pessoas ;

unipessoaes, os que se usam só nas terceiras pessoas ;41

Conjugação d’alguns verbos irregulares sómente
nos tempos, onde têm a irregularidade

1.ª Conjugação

d-ar

Indic. Pres.— Dou, -as, -á, -amos,
-ais, -ão.

— Pret. Perf. — D-ei, -este, -eu,
-émos, -estes, -eram.

De de-ste (3.ª raiz) forma-se regularmente.

de ra / sse / r

est-ar

Indic. pres. — Est-ou, -ás, -á, etc.

— Pret. Perf. — Estive, estive-ste,
esteve, estiv-emos, -estes, -eram.

De estive-ste (3.ª raiz) forma-se
regularmente

estive ra / sse / r

Conjunct. pres. — Estej-a, -as,
-a, -amos, -ais, -am.

2.ª Conjugação

cab-er

Indic. pres. — Caib-o, cab-es, e,
etc.

De caibo vem o presente do conjunctivo
caib-a, -as, -a, etc.

(A irregularidade dá-se aqui só na
radical.)

— Pret. Perf. — Coube, coube-ste,
coube, -emos, -estes, -eram.

De coube-ste (3.ª raiz) forma-se

coube ra / sse / r

cr-er

Indic. pres. — Crei-o, cr-es, cr-ê,
cr-emos, cr-edes, crê-em.

De crei-o vem o presente do conjunctivo
crei-a, -as, -a, etc.

Imper. — Crê, crei-a, crei-amos,
crede, crei-am.

diz-er

Indic. pres. — Dig-o, diz-es, diz,
diz-emos, -eis, -em.

De dig-o vem dig-a, -as, a, -amos,
-ais, -am (pres. do conj.)

— Pret. Perf. — Disse, disse-ste,
disse, -emos, -estes, -eram.

— Futuro imp. — Dir-ei, -ás, -á,
-emos, -eis, -ão
.

Condicional — Dir-ia, as, a, etc.

Diria e direi têm de menos a syllaba
ze, por syncope.

De disse-ste (3.ª raiz) forma-se

disse ra / sse / r

Participio perf. —Dicto, dicta.

faz-er

Indic. pres. — Faç-o, faz-es, faz,
faz-emos, -eis, -em.

De faç-o, vem faç-a, -as, -a, etc.
(pres. do conj.)42

— Pret. Perf. — Fiz, fize-ste, fez,
fizemos, -estes, eram.

— Fut. imperf. — Far-ei, -ás, -á,
etc.

Condicional — Far-ia, -ias, -ia,
etc.

Farei e faria em lugar de fazerei,
fazeria, por syncope.

De fize-ste forma-se

fize ra / sse / r

Participio perf. — Feito, feita.

hav-er

(Fica conjugado nos verbos auxiliares,
pag. 25.)

Participio perf. — Havido, havida.

Nota. Este verbo, quando tem
tempos compostos, não é auxiliar ; é
activo, e significa o mesmo que ter.

perd-er

Indic. pres. — Perc-o, perd-es, -e,
etc.

De perc-o vem perc-a, -as, -a, etc.
(pres. do conj.).

pod-er

Indic. pres. — Poss-o, pod-es, -e,
etc.

De poss-o vem poss-a, -as, -a,
etc. (pres. do conj.).

— Pret. Perf. — Pude, pod-este,
pôde, pod-émos, -estes, -eram.

De pode-ste forma-se

pode ra / sse / r

Não tem imperativo (Veja-se a
nota ao verbo querer).

por

(Contrahido de poer antigo).

Indic. pres. — Ponh-o, põ-es,
-e, pômos, pondes, põ-em

De ponh-o vem ponh-a, -as, -a,
etc. (pres. do conj.).

— Pret. Imp. — Punha, punhas,
punha, púnhamos, punheis, punham
.

— Pret. Perf. — Puz, poz-este,
poz, poz-emos, -estes, -eram.

De poze-ste forma-se

poze ra / sse / r

Participio imperf. — Pondo.
— perf. — Posto, posta.

prazer

(Unipessoal)

Indic. pres. — Praz, d’onde vem
praz-a (imperativo ou conj.)

— Pret. Perf. — Prouv-e.

Suppondo a 2.ª pessoa prouv-este,
fórma-se d’aqui

prouve ra / sse / r43

quer-er

Indic. pres. — Quer-o, -es, quer,
quer-emos, -eis, -em.

— Pret. Perf. — Quiz, quiz-este,
quiz, quiz-emos, -estes, -eram.

De quize-ste (3.ª raiz) fórma-se

quize ra / sse / r

Conjunct. pres. — Queir-a, -as,
-a, etc.

(Não tem imperativo.) (1)32

requer-er

Indic. pres. — Requeir-o, requer-es,
requer, requer-emos, -eis, -em.

De requeir-o vem requeir-a, -as,
-a, etc. (pres. do conj.).

sab-er

Indic. pres. — Sei, sab-es, -e,
-emos, -eis, -em.

— Preter. Perf. — Soub-e, -este,
soub-e, soub-emos, -estes, -eram.

De soube-ste (3.ª raiz) forma-se

soube ra / sse / r

Conjunct. pres. — Saib-a, -as, -a,
etc.

ter

(Fica conjugado nos verbos auxiliares,
pag. 25.)

Participio perf. — Tido, tida.
(Veja-se a nota ao verbo haver)

traz-er

Indicat. Pres. — Trag-o, traz-es,
traz, traz-emos, -eis, -em.

De trag-o (2.ª raiz) vem trag-a,
-as, -a, etc. (pres. do conj.)

— Pret. Perf. — Troux-e, -este,
troux-e, -emos, -estes, -eram.

De trouxe-ste forma-se

trouxe ra / sse / r

— Fut. imperf. — Trarei, trarás,
trará
, etc.

Condicion. — Traria, trarias, traria,
etc.

Trarei e traria, por syncope de
trazerei, trazeria.

val-er

Indic. pres. — Valh-o, val-es, val,
(ou vale), val-emos, -eis, -em.

De valh-o (2.ª raiz) vem valh-a,
-as, -a, etc. (pres. do conj.)

ver

Indicat. Pres. — Vej-o, v-ês, -ê,
-emos, vedes, vê-em.

De vej-o, (2.ª raiz) vem vej-a, -as,
-a, etc. (pres. do conj.)

— Pret. Perf. — Vi, vi-ste, v-iu,
v-imos, -istes, -iram.44

Participio perf. — Visto, vista.
De vi-ste (3.ª raiz) forma-se

vi ra / sse / r

3.ª Conjugação

dor-mir

Indic. pres. — Durm-o, dorm-es,
-e, -imos, -is, -em.

Conj. pres. — Durm-a, -as, -a, etc.

ir

Indicat. Pres. — Vou, vais, vai,
vamos, ides, vão
.

— Pret. Perf. — Fui, foste, foi,
fomos, fostes, foram
.

De fo-ste (3.ª raiz)

ra / sse / r

Conjunct. pres. — Va, va-s, -a,
v-amos, vades, vão.

med-ir, ped-ir

Indic. pres. — Meç / Peç -o, med / ped -es,
-e, -imos, -is, -em.

Conjunct. pres. — Meç / Peç -a, -as, -a,
-amos, -ais, -am.

ouv-ir

Indic. Pres. — Ouç-o, ouv-es, e,
-imos, etc.

Conj. pres. — Ouç-a, -as, -a, etc.

r-ir

Indic. pres. — Rio, ris, ri, rimos,
rides, riem
.

Conjunct. pres. — Ri-a, -as, -a, etc.

sa-ir

Indic. pres. — Sai-o, sa-es, sa-e,
-imos, -ís, -em.

Conj. pres. — Sai-a, -as, -a, etc.

sent-ir

Indic. pres. — Sint-o, sent-es, -e,
-imos, -is, -em.

Conjunct. pres. — Sint-a, -as, -a,
etc.

v-ir

Indic. pres. — Venh-o, vens, vem,
v-imos, vindes, vêm.

— Pret. Imp. — Vinha, vinhas,
vinha, vinhamos, vinheis, vinham
.

— Pret. Perf. — Vim, vie-ste, veio,
viemos, viestes, vieram
.

De vie-ste (3.ª raiz) fórma-se

vie ra / sse / r

Participio imperf. e perf. — Vindo.45

70. Dos defectivos carecem das pessoas, cujas terminações começam
por a ou o, os verbos abolir, banir, brandir, carpir,
colorir, compellir, demolir, discernir, exinanir, expellir, feder
.

71. Verbos unipessoaes são propriamente aquelles, que se usam
sómente nas terceiras pessoas do singular, como — amanhece,
anoitece, chove, neva, orvalha, troveja, venta
, etc. Os subjeitos
d’estes verbos podem ser o dia, o tempo, o céu, a nuvem, etc.,
os quaes de ordinario se subintendem ; todavia ás vezes se expressam,
como : — « Se amanhece o sol, a todos aquenta, e se
chove o céu, a todos molha. »

Verbos frequentativos e inchoativos

72. Tem a nossa lingua muitos verbos derivados já de nomes e adjectivos,
já de outros verbos, com terminação propria para exprimirem
uns a frequencia ou reiteração, outros o principio da acção que elles significam ;
e por isso aquelles chamam-se frequentativos, estes inchoativos.
Conhecem-se os frequentativos pelas terminações ear, egar, ejar, itar ; e
os inchoativos pela terminação ecer. D’uns e d’outros aponctaremos aqui
alguns para exemplo.

Frequentativos

Derivados de nomes e adjectivos

De alma | almejar, amiudar a respiração, desejar ardentemente.

badalo | badalejar, dar badaladas a miudo.

bafo | bafejar, deitar bafo repetidas vezes.

bôcca | boquejar, / boquear, ou bocejar, abrir a bocca amiudadamente. Boquejar,
falar baixinho, é diminutivo ; e neste
sentido tambem significa murmurar.

doido | doidejar, andar a fazer ou a dizer doidices.

grave | gravitar, actuar o grave.

Derivados de verbos

De chupar | chupistar, chupar a miudo.

cravar | cravejar, cravar a miudo ou muitos cravos.

dormir | dormitar, dormir a pequenos intervallos.

espannar | espannejar, limpar com panno amiudadas vezes.

exercer | exercitar, exercer a miudo.46

De fumar | fumegar, estar a deitar fumo continuadamente.

passar | passear, passar muitas vezes por um mesmo
logar ; andar a passo, de vagar, por exercicio
ou vadiação, etc.

saltar | saltear, andar aos saltos.

voltar | voltear, dar repetidas voltas.

Inchoativos.

Derivados de nomes e adjectivos

De alvor | alvorocer, começar a raiar o alvor ou claridade
do dia.

bolor | bolorecer, começar a fazer-se bolorento.

bravo | embravecer, começar a fazer-se bravo.

doido | endoidecer, começar a fazer-se doido.

Derivados de verbos.

De abastar | abastecer, começar a prover com abundancia.

barbar | embarbecer, começar a ter barba.

doer | adoecer, começar a estar doente.

dormir | adormecer, começar a dormir.

finar-se | fenecer, começar a finar-se.

morrer | esmorecer, começar a morrer.

murchar | emmurchecer, começar a fazer-se murcho.

raivar | enraivecer, começar a ter raiva. (1)33

Observações sobre o uso do infinito e dos participios

73. Na lingua portugueza ha dois infinitos (singularidade que ella
tem entre todas) — um impessoal e outro pessoal.

O infinito impessoal emprega-se de tres modos :

1.° Representando um substantivo verbal abstracto, póde servir de
subjeito, attributo e de complemento, já de verbo já de preposição.
Ex. : « O ler é proveitoso. Quero ler. Dá-me um livro para ler. »

2.° Juncto aos verbos auxiliares fórma as phrases verbaes compostas,
que exprimem as differentes modificações do seu significado, como —
frequencia, proximidade, persistencia. Ex. : « Anda a cantar. Vou a perceber
ou percebendo. Estou a escrever. »

3.° Juncto aos verbos de movimento denota circumstancia de fim
para que
. Ex. : « Foram observar. »

O infinito pessoal representa uma existencia ou acção por modo vago
47e indeterminado, contendo ao mesmo tempo a idêa de pessoa ou de número.
Ex. :

« Deixas correr ás portas o inimigo
Por ires buscar outro de tão longe… »

Sobre a regular applicação d’estas duas fórmas dos tempos do infinito,
observem-se as duas regras geraes seguintes :

1.ª Quando o infinito tem subjeito proprio, e fórma com elle uma
oração, concorda com o subjeito em número e pessoa. Ex. : « Affirmava
não existirem antipodas. — Trabalha, filho meu, por agradarem tuas
obras a Deus. » (1)34

2.ª Quando o infinito não tem subjeito proprio, ou faz com outro
verbo uma fórma composta, conserva-se invariavel. Ex. : « Folgarás de
ver, e não de veres. Acabaram de ler, e não de lerem. Hão de observar,
etc. »

Participios

74. Os participios imperfeitos empregam-se de dous modos :

1.° Conjugam-se ou com o continuativo estar, para exprimir ora a
continuação ora a persistencia da acção já começada, como — « estou
escrevendo, ou a escrever » ; ou com o inchoativo ir, para designar o principio
da acção, como — « vai amanhecendo ou a amanhecer. »

2.° Subordinados a outra oração formam phrases oracionaes ou de
modo, ou de circumstancia, ou de causa, ou de condição.

Exemplos.

De modo | « Zombando se dizem verdades : » isto é, como zombar
ou a zombar.

De circumstancia | « Imperando Augusto, nasceu Jesus Christo : » isto
é, quando imperava ou governava, etc.

De causa | « Vendo Rumecão os muitos mortos… e que os
seus acudiam já com obediencia mais remissa,
mandou tocar a recolher : » isto é, Rumecão, porque
via
, etc.

De condição | « Ámanhã, não chovendo, farei jornada : » isto é, se
não chover
.

75. Os participios perfeitos têm os usos seguintes :

1.° Conjugados, sem variar a sua fórma terminada em o, com os
verbos auxiliares haver e ter, ajudam a formar os tempos perfeitos
compostos dos verbos activos, a que os mesmos participios pertencem.
Ex. : « O menino tem estudado muito. — As mercês que me haveis feito. —
A chuva tinha caido, etc. »48

2.° Conjugados com o verbo ser e seus particípios, tomando as fórmas
do genero e número do subjeito, servem para formar a voz passiva :
como — eu sou louvado ; ella foi louvada ; nós fomos louvados, etc.

3.° Como adjectivos verbaes junctam-se aos nomes para lhes modificar
a significação : como — exército derrotado, praça entrada e rendida.

4.° Precedendo o nome que modificam, formam phrases oracionaes
de tempo depois que. Ex. « Concluidos os negocios de Diu, começou a
fortuna a sobresaltar o estado com novos accidentes : » isto é, depois
que foram concluidos, etc.

5.° Sendo geralmente passivos, alguns têm significação activa, como
arriscado, que se arrisca ; calado, que cala ; confiado, que confia,
etc. : outros têm significação ora activa, ora passiva, como — atraiçoado,
o que atraiçoa ; atraiçoado por alguem ; homem acreditado, que tem credito,
cousa acreditada por alguem ; homem lido, que tem lido muito,
instruido ; carta lida por alguem, etc.

76. Ha muitos verbos que têm dois participios perfeitos, um
inteiro e regular, outro irregular, de ordinario contracto do primeiro,
ou tirado do verbo radical latino. Os irregulares são tambem
adjectivos, e muitas vezes se substantivam. Aponctaremos os
principaes em cada conjugação.

1.ª Conjugação

Verbos | Participios regul. | Participios irregul.

Acceitar | acceitado | acceito
Affeiçoar | affeiçoado | affecto
Annexar | annexado | annexo
Captivar | captivado | captivo
Descalçar | descalçado | descalço
Entregar | entregado | entregue
Enxugar | enxugado | enxuto
Exceptuar | exceptuado | excepto
Excusar | excusado | excuso
Exemptar | exemptado | exempto
Expressar | expressado | expresso
Expulsar | expulsado | expulso
Fartar | fartado | farto
Gastar | gastado | gasto
Ignorar | ignorado | ignoto
Junctar | junctado | juncto
Limpar | limpado | limpo
Manifestar | manifestado | manifesto
49Mixturar | mixturado | mixto
Murchar | murchado | murcho
Occultar | occultado | occulto
Pagar | pagado | pago
Professar | professado | professo
Quietar | quietado | quieto
Salvar | salvado | salvo
Seccar | seccado | secco
Segurar | segurado | seguro
Sepultar | sepultado | sepulto
Soltar | soltado | solto
Subjeitar | subjeitado | subjeito
Suspeitar | suspeitado | suspeito
Vagar | vagado | vago

2.ª Conjugação

Verbos | Participios regul. | Participios irregul.

Absolver | absolvido | absolto ou absoluto
Absorver | absorvido | absorto
Accender | accendido | acceso
Attender | attendido | attento
Conter | contido | conteúdo (ant.)
Convencer | convencido | convicto
Corromper | corrompido | corrupto
Defender | defendido | defeso
Escrever | escrevido | escripto
Incorrer | incorrido | incurso
Involver | involvido | involto
Manter | mantido | manteúdo (ant.)
Morrer | morrido | morto
Nascer | nascido | nado
Perverter | pervertido | perverso
Querer | querido | quisto
Resolver | resolvido | resoluto
Ter | tido | teúdo (ant.)
Torcer | torcido | torto50

3.ª Conjugação

Verbos | Participios regul. | Participios irregul.

Abrir | abrido | aberto
Abstrahir | abstrahido | abstracto
Affligir | affligido | afflicto
Concluir | concluido | concluso
Contrahir | contrahido | contracto
Diffundir | diffundido | diffuso
Distinguir | distinguido | distincto
Dividir | dividido | diviso
Erigir | erigido | erecto
Exhaurir | exhaurido | exhausto
Eximir | eximido | exempto
Extinguir | extinguido | extincto
Extrahir | extrahido | extracto
Frigir | frigído | fricto
Imprimir | imprimido | impresso
Incluir | incluido | incluso
Infundir | infundido | infuso
Inserir | inserido | inserto
Omittir | omittido | omiso
Opprimir | opprimido | oppresso
Possuir | possuido | possesso
Restringir | restringido | restricto
Submergir | submergido | submerso
Supprimir | supprimido | suppresso
Surgir | surgido | surto
Tingir | tingido | tincto

A maior parte dos participios irrgulares são entes adjectivos
verbaes do que participios ; e é esta a razão, por que elles dizem
melhor com os auxiliares ser ou estar, do que com ter : como —
« Estou afflicto : sou suspeito. (1)35 »51

Capitulo III
Das particulas ou palavras invariaveis

Da preposição

77. Preposição é uma palavra invariavel, que, posta entre duas,
as liga mostrando que a segunda é complemento da primeira.
Neste exemplo — « Vou para a quinta, » para é uma preposição,
que liga vou a quinta, mostrando que quinta é complemento de
vou.

78. As preposições portuguezas propriamente dictas (1)36 são —
a, ante, após, até, com, contra, de, em, entre, para, por, sem,
sob, sôbre. Desde
e perante são duas preposições reunidas em uma
só — des e de, per e ante.

79. As preposições admittem duas divisões, segundo os aspectos
sob que se consideram :

1.° Quanto á sua significação designam primariamente relações materiaes
de logar onde, d’onde, por onde, a ou para onde ; como — « Saí de
casa
, passei pela praça, fui á quinta, recostei-me no jardim, voltei-me
contra o sol, retirei-me para a cidade, entrei em casa, » etc.

De indicar estas relações materiaes passaram figuradamente a exprimir
outras similhantes immateriaes, por exemplo, — a mostrar o objecto
da acção do subjeito, que é como o logar para onde ella passa
e onde termina : como — « Veio a casa, veio a ser bom estudante, » etc.52

2.° Quanto à sua construcção, umas vêm sempre unidas a nomes,
adjectivos e verbos, e se chamam inseparaveis ; outras nunca vêm unidas
á palavra que determinam, e chamam-se separadas ; e outras podem
vir separadas ou unidas, e chamam-se communs.

As inseparaveis, que, na maior parte, só se encontram em palavras
tomadas do latim, são — ab, abs, ad, anti, circum, co, con (por com),
des, dis, en, in (por em), ex, extra, inter, ob, per, pos, pre, pro, re, retro,
sotto, sub
.

As separadas são — após, até, para, sem.

As communs são — a, ante, com, contra, de, em, entre, por, sob, sôbre.

80. Como as preposições communicam alguma cousa de sua significação
ás palavras, a que estão unidas, pareceu-nos util apresental-as
aqui com as suas respectivas significações mais usadas.

Ab, abs, apartamento | « Abrogar, rogar que se tire a lei ;
abstrahir, separar de ; absente, que
está longe de, » etc.

Ad, logar a ou para onde | « Adjuncto, juncto ou proximo a :
admittir, dar entrada a ou em. »
Ad muda o d em e, f, g, l, n, p,
r, s, t
, segundo fôr alguma d’estas
letras a primeira da palavra a que
está unida, ficando ac, af, ag, al, an,
ap, ar, as, at
, como — accusar, affligir,
aggravar, alluvião, annotação,
applicar, arrogar-se, assumir,
attender
.

Ante, antecedencia, precedencia,
prioridade | « Antepôr, pôr antes, dar preferencia :
antediluviano, homem ou cousa
existente antes do diluvio universal :
antepassados, os nossos maiores
ou os que viveram antes de nós. »

Anti, contrariedade, opposição | « Antagonista, o que lucta contra,
contrário, opposto ; antípodas, homens
que habitam logares da terra
diametralmente oppostos aos em
que habitâmos ; antipapa, papa que
não é eleito canonicamente, ou o
que pretende ser reconhecido por
tal contra o verdadeiro e legitimo. »

Co, con, (por com), companhia,
concomitancia | « Coordenar, pôr com ou por ordem,
dispôr ; conforme, que tem a mesma
fórma, identico. »53

Contra, opposição | « Contradizer, affirmar o contrário ;
contrastar, estar contra, oppôr-se,
resistir. »

De, de cima abaixo, de dentro para
fóra, acabamento | « Demittir, abaixar ou tirar do posto,
emprego, etc. ; despeitar, olhar para
baixo ou com desprêso ; depennar,
tirar as pennas ; depreciar, abater
o preço ; defuncto, o que acabou de
gosar a vida. »

Des, negação, privação | « Desintender, não intender ; desvalido,
sem valimento. »

Di, dis, para diversas partes | « Dispersar, lançar para diversas
partes ; dispôr, pôr em ordem, distribuir. »

E, de dentro para fóra | « Eminente, que sobresáe, excellente ;
enervar, tirar a fôrça aos nervos,
debilitar ; evadir, saír para fóra de ;
evocar, chamar para fóra, fazer apparecer. »

En ou em, onde ou sôbre | « Endividar-se, metter-se em dividas ;
emmagrecer, fazer-se magro.
Nas palavras propriamente portuguezas
pouco influe esta preposição. »

Ex, lugar d’onde | « Exigir, pedir ou sollicitar de ; eximir,
tirar de, livrar ; exportar, levar
do porto em fóra. »

Extra, fóra, além | « Extrajudicial, fóra do juizo ; extraordinario,
fóra da ordem. »

In, onde ou para onde (com verbos
e palavras derivadas d’estes),
negação (com adjectivos) | « Induzir, levar a alguma acção ;
importar, levar ou trazer para dentro ;
incauto, não acautelado ; inerme,
desarmado ; inhabil, não habil. »
In muda o n em l ou m nas palavras
a que se une, começadas por alguma
d’estas letras, como — illicito, não
licito ; immovel, que não se move.

Intro, para dentro | « Introduzir, metter para dentro. »

Ob, defronte | « Objecção, cousa que se lança defronte
para obstar, argumento com
que se combate. » Ob muda o b em
c, p, como — « occupar, tomar ou
encher algum espaço : oppôr, pôr
defronte ou contra. »54

Per, perfeição, augmento | « Perfeito, completamente feito ou
acabado ; pertinaz, muito tenaz ; perduravel,
muito duradouro. »

Pos, posteridade | « Pospôr, pôr depois ; postergar, lançar
para traz das costas. »

Pre, precedencia | « Presidente, o que está sentado
deante, o que preside a alguma assemblêa :
camara, côrtes, etc. ; presumir,
tomar antes para si, conjecturar ;
presuppôr, suppôr d’ante
mão. »

Pro, para deante | « Projecto, tenção de fazer alguma
cousa para o futuro. Próvido ou
providente, o que vê ao longe, acautelado. »

Re, para traz, repetição | « Repellir, empurrar para traz ; reimprimir,
tornar a imprimir. »

Retro, para traz | « Retrogradar, voltar atraz, desandar. »

Sob, soto, sub, debaixo, segundo,
immediato | « Sobcolôr, sob pretexto, debaixo
de pretexto ; soto-mestre, segundo
mestre ; sotopôr, pôr debaixo ; subdelegado,
o que faz as vezes de delegado ;
submetter, metter debaixo,
subjeitar, domar. » O b muda-se em
r, p, s nas palavras começadas por
alguma d’estas letras, como — sorrir,
suppôr, suster
.

Sobre, em cima de | « Sobrepôr, pôr em cima ; sobreestar,
parar. »

Trans (d’onde vem tras, tres) | « Transgredir, passar além dos termos,
transgredir a lei, os preceitos,
violal-os. Transcrever, escrever
passando de um para outro papel.
Traspassar ou trespassar, passar
além, atravessar, varar, v. g.,
com estoque. Tresler, ler em demasia
ou mais do que convem, usar
mal da sciencia. »

Ultra, além, da outra banda, mais
que | « Ultramar, as terras d’além-mar,
isto é, as terras que ficam além do
mar que banha as costas de Portugal,
como a America, Asia, etc. »
Ultraliberal, liberal exaltado.55

Do adverbio

81. Adverbio é uma palavra invariavel, que se juncta aos verbos,
adjectivos e adverbios para lhes modificar a significação.
Neste exemplo — « Cicero falava eloquentemente », eloquentemente
é um adverbio, que modifica o verbo falava, mostrando de que
modo falava Cicero.

Todo o adverbio val tanto como um nome regido de preposição,
assim como eloquentemente é o mesmo que com eloquencia.

82. Os adverbios, segundo a sua significação, dividem-se em
adverbios de qualidade, modo, logar, tempo, quantidade, affirmação,
exclusão, negação, dúvida
e designação.

83. 1.° Qualidade. Os adverbios de qualidade, comprehendendo
a maior parte dos de modo, são os mesmos adjectivos qualificativos,
addicionada (á forma feminina, quando biformes) a
palavra mente (1)37 ; como — « prudentemente, sanctamente ». Havendo
adverbios continuados, só ao último se juncta a terminação adverbial ;
como — « amorosa, cordial e alegremente. »

2.° Modo. Bem, mal, assim, acintemente.

3.° Logar. Onde, aqui, ahi, alli, áquem, álem, cá, lá, acolá,
longe, perto, fóra, dentro, algures, nenhures
.

4.° Tempo. Agora, ainda, hoje, hontem, ámanhã, então, logo,
antes, depois, cedo, tarde, quando, sempre, já, nunca, jámais
.

5.° Quantidade. Mui, muito, pouco, mais, menos, tam, quam,
assás, quasi
.

6.° Affirmação. Sim, certamente, verdadeiramente, ainda,
até
(2)3856

7.° Exclusão. ou sómente, apenas, unicamente, sequer,
senão
.

8.° Negação. Não, menos.

9.° Dúvida. Talvez, acaso, quiçá (ant. talvez)

10.° Designação. Eis, eis aqui, eis ahi, eis alli.

84. Usam-se como adverbios :

1.° certos adjectivos na fórma masculina, concordados com substantivo
occulto, como — primeiro, em primeiro lugar, ou primeiramente ;
por ultimo, por ultimo logar, ou ultimamente ; falar alto, baixo, claro,
intelligivel
, etc., em tom alto, baixo, claro, em voz intelligivel ; comprar
caro, barato, por preço caro, barato ; custar pouco, muito, pouco,
muito dinheiro, etc.

2.° certos nomes regidos de preposição, como — com effeito, em verdade,
de proposito, por acinte, em fim, ao menos, pelo menos, acima, de
cima, á medida que, ao passo que
, etc.

3.° certos adverbios com preposição, como — d’onde, por onde, aonde,
para onde, d’aqui, até aqui, d’ahi, d’alli, d’áquem, d’além, de sôbre,
até agora, desde então, ante hontem
.

Os adjectivos no caso do número 1.° denominam-se adjectivos adverbiados ;
e locuções adverbiaes as palavras de que tractam os numeros 2.°
e 3.°.

Da conjuncção

85. Conjuncção é uma palavra invariavel, que liga entre si
duas orações, ou duas partes d’uma mesma oração. Neste exemplo
— « Desejo mas temo », mas é uma conjucção, que liga entre
si as duas orações desejo e temo, pondo a segunda em opposição
com a primeira. Nest’outro — « O desejo e o medo me
inquietam », e é outra conjuncção, que liga entre si desejo e medo,
subjeitos da mesma oração.

86. Todas as conjuncções podem reduzir-se a duas grandes
classes : — coordenativas e subordinativas. As coordenativas sómente
ligam as orações ou suas partes, como — as copulativas
(comprehendidas as continuativas), as explicativas, as disjunctivas,
57as adversativas e as conclusivas. As subordinativas ligam e
subordinam, como — as condicionaes, as causaes, as concessivas,
as circumstanciaes, e as integrantes, comprehendendo as dubitativas.

Umas e outras com as locuções conjunctivas, que lhes correspondem,
são as seguintes (1)39

Conjuncções | Locuções equivalentes

1.° Copulativas (para ligar de perto)

E, tambem, nem | bem assim, não só… mas tambem,
já…já, além de, de mais de
.

2.° Continuativas (para ligar de longe)

Pois, ora (2)40, outrosim | em ou na verdade, com effeito,
além d’isto, de mais, de mais
a mais, de mais d’isto
.

3.° Explicativas (para aclarar)

Como | assim como, bem como, como se, de sorte que.

4.° Circumstanciaes de tempo

Como, quando | tanto que, logo que, antes que,
primeiro que, depois que,
em quanto
.

5.° Disjunctivas (para separar)

Ou, ora | quer…quer, já…já.58

6.° Adversativas (para distribuir e oppôr)

Mas, porém, todavia | apesar de, com tudo, não obstante (1)41,
ainda assim, antes,
senão
(2)42, senão quando (3)43

7.° Concessivas (para oppôr)

Embora | Ainda que, com quanto, dado
que, posto
ou supposto que,
se bem que, pois
ou pois que,
por mais
ou por muito que.

8.° Conclusivas (para concluir)

Logo, pois (pospositivo) | por conseguinte, por consequencia,
por isso, por tanto, pelo
que, assim que, por onde,
com que
, etc.

9.° Condicionaes (para tornar dependente)

Se | se não, com tanto que, sem que,
quando, menos de, dado caso
que
.59

10.° Causaes (para dar a razão)

Porque, ou que, pois ( ant.,
porque) | já que, pois que, visto que, visto
como, para que, como, a fim
de
.

11.° Integrantes e dubidativas
(para completar e mostrar dúvida)

Que se | se por ventura, se acaso.

12.° Palavras correlativas (para designar correlação)

Onde… ahi ; tal… qual ; para onde… para ahi ; quanto
tanto ; tanto… como ; tam… quam ou que ; assim como… assim
tambem
, etc. E outras palavras mais, das quaes uma não possa intender-se
sem a outra, a que se refira (1)44

Da interjeição

87. Interjeição é uma palavra invariavel, aspirada e de ordinario
curta, com que exprimimos varios affectos e transportes de
nossa alma, como alegria, dor, admiração, indignação, etc.

As interjeições são de varias especies, assim como os affectos
que ellas exprimem ; como — oh! que denota alegria ; — ah! oh!
admiração ; hui! ai! dor ; fóra! irra! (chulo), indignação ; oxalá!
oh! desejo. Servem para chamar : Ó, ólá! — para excitar e animar :
Eia! Sus! Animo! — para applaudir : Bem! bravo! etc.

Cada interjeição val por uma ou mais orações. É pois esta palavra
eminentemente synthetica, por comprehender as idêas com
suas relações, que formam o todo de um juizo ou pensamento, e
por isso de natureza differente das outras, de que até qui temos
tractado, que são todas analyticas, isto é, partes d’esse todo, examinadas
cada uma em separado.60

Parte segunda
Syntaxe

88. Syntaxe (ou coordenação) é a parte da grammatica que
ensina o modo como as palavras devem junctar-se para formar a
oração, e as orações combinar-se para compôr o discurso.

89. A syntaxe ensina : 1.° a conformar as terminações dos adjectivos
com o genero e número dos nomes a que pertencem, e
as dos verbos com o número e pessoa de seus subjeitos ; e chama-se
syntaxe de concordancia : 2.° a junctar ás palavras os complementos,
que ellas pedem em razão de sua significação ; e chama-se
syntaxe de regencia : 3.° a dispôr as palavras na oração e
as orações no discurso pela ordem local auctorizada pelo uso ; e
chama-se syntaxe de construcção. Divide-se pois a syntaxe em tres
partes : de concordancia, regencia e construcção (ou collocação).

Complemento diz-se a palavra ou oração, que se juncta a outra
para lhe completar o sentido, a fim de que não fique suspenso ;
como — « Amigo do rei. — Amigo de retribuir os beneficios
recebidos. »

90. A syntaxe é regular ou irregular. É regular, quando a
concordancia, a regencia e a construcção se fazem segundo as regras
geraes da mesma syntaxe ; e é irregular ou figurada, quando
apparentemente não se guardam aquellas regras.

Anályse da oração

91. Oração ou proposição é um agregado de palavras, com
que enunciâmos qualquer acto de nossa alma ; ou com que affirmâmos
ou negâmos alguma cousa ; ou a expressão verbal de um
juizo. Ex. : « Deus é bom. — Deus creou o mundo. »61

92. A oração, considerada grammaticalmente, tem tantas partes,
quantas são as palavras de que consta ; considerada porém logicamente,
só consta de tres termos : — subjeito, verbo e attributo
ou predicado.

Subjeito é aquillo a que affirmêmos ou negâmos convir alguma
cousa (como — Deus, no exemplo anterior). O subjeito é ordinariamente
um nome, um pronome, e póde tambem ser um verbo
no infinito, ou qualquer outra parte da oração substantivada pelo
artigo (39, n.° 1.°) (1)45.

O attributo é o que affirmâmos ou negâmos convir ao subjeito
(como — bom, no mesmo exemplo). O attributo é ordinariamente
um adjectivo qualificativo ; e póde ser tambem um nome sem artigo,
um verbo no infinito e uma oração.

O verbo é a outra parte da oração que une o attributo com o
subjeito (como — é, tambem no dicto exemplo).

Nota. O attributo vem distincto do verbo, quando este é o
verbo ser ; e incluido nelle, quando é verbo adjectivo. Neste caso
o attributo é na activa o participio imperfeito, representado pela
radical (57) ; e na passiva, o participio perfeito passivo. No segundo
exemplo do número 91 — « Deus creou » (que val tanto
como — « Deus foi creando ou creador ») o attributo é creando
ou creador.

93. A oração que tem só um subjeito e um attributo, chama-se
simples ; e a que tem mais d’um subjeito ou d’um attributo,
chama-se composta. Ex. : « Deus é bom. » « O tino, a razão e a
madureza estão nos velhos. »

94. Quando o subjeito ou o attributo vem acompanhado d’algum
acessorio, a oração chama-se complexa ; quando não traz
accesorio, incomplexa. Podem ser acessorio : — alguns adjectivos,
um substantivo continuado, e uma oração do relativo que.
Ex. : « Deus, pae de todos, é bom. »62

95. Como o verbo (a palavra por excellencia) é a parte principal
da oração, e as orações do modo infinito são sempre complementos
mais ou menos proximos d’outras do modo finito ; a
regra mais simples para se saber de quantas orações consta um
poncto ou periodo, é esta : — Consta o periodo ou poncto, pelo
menos, de tantas orações, quantos forem os verbos que tiver nos
modos finitos
ou pessoaes.

Capitulo I
Da syntaxe regular das palavras

Syntaxe de concordancia

96. Regra I. O verbo concorda com o subjeito em número e
pessoa. Ex. : « O tempo foge. — Aristides morreu pobre. »

97. Regra II. Quando na oração houver muitos subjeitos, irá
o verbo para o plural a concordar com o mais nobre. É mais nobre
o subjeito da 1.ª pessoa, depois o da 2.ª, e depois o da 3.ª.

Ampliação d’esta regra. Por consequencia : 1) Quando houver um
subjeito da 1.ª pessoa com outro da 2.ª ou 3.ª, irá o verbo para a 1.ª do
plural. Ex. : « Eu e tu temos saude : » isto é, nós (eu e tu) temos, etc.
2) Quando houver um subjeito da 2.ª pessoa com outro da 3.ª, irá o
verbo para a 2.ª do plural. Ex. : « Tu e Tulia estais bons : » isto é, vós (tu
e Tulia) estais bons. 3) Quando houver muitos subjeitos, todos da 3.ª
pessoa do singular, irá o verbo ou para a 3.ª do plural a concordar com
todos junctos, ou para a 3.ª do singular a concordar com cada um de
per si. Ex. : « A comida, a bebida, a vigilia e o somno sem certa medida
não aproveitam : » isto é, estas cousas (a comida, e a bebida, etc.) não
aproveitam. Usando-se do verbo na 3.ª pessoa do singular, será melhor
inverter a ordem grammatical, d’este modo : « Sem certa medida, não
aproveita a comida, a bebida
, etc. »

98. Regra III. Quando o subeito fôr um collectivo partitivo
do singular, e tiver complemento restrictivo do plural, claro ou
63occulto, o verbo e o attributo podem ir para o plural a concordar
com o complemento restrictivo. Ex. : « Parte dos inimigos foram
mortos, parte postos
em fuga. » (1)46

Sendo porém o subjeito um collectivo geral do singular, embora
tenha complemento restrictivo do plural, o verbo e o attributo
concordão com elle no singular. Ex. : « O exército dos inimigos
foi derrotado. »

99. Regra IV. O adjectivo, artigo e participio concordam
com seus substantivos em genero e número. Ex. : « O amigo certo
conhece-se na occasião incerta. »

100. Regra V. Concorrendo dois ou mais substantivos do singular
e de genero differente, o adjectivo ou attributo concordará
com elles no plural, e na fórma masculina sendo biformes. Ex. :
« Um dia e uma noite eram passados. »

Sendo porém os substantivos de significação similhante, o adjectivo
concordará com o último. Ex. : « O amor e amizade verdadeira ;
ou a amizade e amor verdadeiro. »

101. Regra VI. Concorrendo muitos substantivos do plural,
o adjectivo concordará com o mais proximo. Ex. : « Seus temores
e esperanças eram vãs ; ou eram vãos seus temores e esperanças. »

102. Regras VII. Concorrendo um substantivo do plural com
outro do singular, o adjectivo, em regra, concordará com o do
plural. Ex. : « As fazendas e o dinheiro eram muitas. » (2)4764

Syntaxe de Regencia

103. Todas as palavras na oração reduzem-se geralmente a
duas classes : — regentes e regidas, segundo as relações ou de determinação
ou de dependencia, em que estão umas com outras.

Regentes (ou subordinantes) são todas as palavras, que pedem
outras para lhes completar o sentido ; taes como — o verbo transitivo,
o adjectivo e adverbio qualificativo de significação transitiva,
e a preposição. Regidas (ou subordinadas) são as palavras que
servem de complemento á significação das regentes : as quaes podem
ser — todas as que compõem o discurso.

Dos complementos e seus usos

104. O complemento (ou regime) diz-se directo, quando é palavra
ou oração ligada á subordinante só pela relação de dependencia
immediata, como o complemento do verbo activo, e o da
preposição ; e diz-se indirecto, quando é palavra ou oração ligada
á subordinante por alguma preposição, como os complementos de
causa efficiente, terminativos
e restrictivos.

Ha cinco especies de complementos : — restrictivo, terminativo,
objectivo
, de causa efficiente, e circumstancial.

105. Complemento restrictivo é toda a palavra ou oração,
regida da preposição de, posta immediatamente depois de
nome commum para lhe limitar ou restringir a significação, vaga
e geral, a um individuo ou classe particular. Ex. : « Livro de Pedro.

— Norma de bem viver. » Porém, se o antecedente da preposição
fôr nome de significação transitiva, diz-se complemento
terminativo. Ex. : « Creador do mundo. — Pae de Antonio. »

106. Complemento terminativo (ou indirecto) é toda a
palavra ou oração, regida de preposição, que serve de termo indispensável
á significação das regentes. Ex. : « Entregar-se ao estudo.
— Habilitar-se para o magisterio. — Trocar ouro por prata.
— Compadecer-se dos infelizes. — Concordar com seus collegas.
— Rebellar-se contra a patria. »65

Este mesmo nome tem o complemento das palavras de significação
relativa, como — accommodado a, apto para, empenhado
em, fiado ou confiado em ou de, compaixão de, filho de, etc.

107. Complemento objectivo (ou directo) diz-se toda a
palavra ou oração que é o primeiro termo ou objecto da significação
do verbo ou participio activos. Ex. : « Deus creou o mundo.
— Creio que Deus creou o mundo. »

Sendo o complemento objectivo nome de pessoa ou cousa personificada
(exceptuando os pronomes me, te, se, nos, vos, o, os)
leva ordinariamente a preposição a. Ex. : « Amai a Deus. — Pintaram
os antigos ao amor menino. »

Facilmente se conhece o complemento objectivo por ser a palavra
ou oração com que se responde á pergunta o que? a quem?
Deus creou o que?… o mundo. Creio o que?… que Deus creou
etc. Amai a quem?… a Deus. Pintaram a quem?… ao amor etc.
as palavras mundo, a Deus, ao amor, e a oração que Deus etc.,
são complementos objectivos dos verbos creou, amai, pintaram
e creio.

108. Complemento de causa efficiente é a palavra regida
da preposição por e algumas vezes de de, que se juncta ao
participio passivo, para mostrar a pessoa ou cousa por quem é
practicada a acção do mesmo participio. Ex. : « Abel foi assassinado
por Cain, seu irmão. » — O ferro é comido pela ferrugem. —
Ferido de raio. — Favorecido da fortuna.

Tambem se conhece facilmente o complemento de causa efficiente
por ser a palavra com que se responde á pergunta por
quem
ou por que? Assassinado por quem?… por Cain. — Comido
por que?… pela ferrugem. — Ferido de que?… de raio. Favorecido
de que?… da fortuna. As palavras por Cain, pela ferrugem,
de raio, da fortuna
são complementos de causa efficiente dos participios
passivos assassinado, comido, etc.

Mudança da oração da activa para a passiva.

109. A oração activa muda-se para a passiva d’este modo :

1.°. O complemento objectivo na activa sobe para subjeito na
passiva ; e o subjeito na activa desce para complemento de causa
66efficiente
na passiva ; 2.° o verbo na activa decompõe-se no verbo
ser (43), que ficará no mesmo tempo e modo a concordar com
o novo subjeito, e no participio perfeito passivo, que lhe servirá
de attributo. Ex. : « Deus creou o mundo (activa) : o mundo foi
creado
por Deus » (passiva).

Quando o verbo na activa tiver dous complementos, um objectivo
e outro terminativo, muda-se aquelle, e conserva-se este.
Ex. : « Deus dotou o homem de uma alma immortal ; — o homem
foi dotado por Deus de uma alma immortal. »

110. Complemento circumstancial (ou sómente Circumstancia)
diz-se toda a palavra ou oração regida de preposição,
que vem juncta a nome, adjectivo ou verbo, cujo sentido a não
pede
. Ex. : « Homem de letras. — Conversou com elle na praça.
— Chegou de Lisboa a Coimbra em dez horas. »

Nota. Se os complementos circumstanciaes forem pedidos por
verbos, adjectivos, ou qualquer outra palavra de significação transitiva,
não se chamam circumstanciaes, mas terminativos, como o
complemento — a Coimbra, no exemplo anterior.

Lista das preposições com a significação
das suas respectivas relações

111. Lista das preposições com a significação
das suas respectivas relações

Preposições | Relaç. que significam | exemplos

A (1)48 | 1.° Logar a ou para
onde alguem vai,
direcção a um poncto | « Ir á (2)49 praça. Atirar ao alvo. »

— | 2.° Logar onde (várias
situações locaes do) | « Estar á porta. Situado á beira-mar.
Á vista, á direita, á esquerda, ao lado. »67

— | 3.° Distancia, medida
de logar ou tempo | « A tiro de bala ; a tres leguas de
distancia. D’aqui a dez annos. »

— | 4.° Modo (segundo,
conforme) | « A pé, a cavallo, a nado ; a medo ;
a costume, ao parecer, á sua vontade. »

— | 5.° Meio e instrumento | « Matar á fome, ás punhaladas. Obter
a fôrça de empenhos, Cantar á
viola. Abrir ao buril. Levar a ferro
e fogo. »

— | 6.° Fim | « Sair a ver. »

— | 7.° Medida e preço | « Comparar ou medir a metros ; pesar
ás arrobas. Comprar ou vender
a vintem. Juro, cambio a cinco por
cem. »

— | 8.° Distribuição | « Dous a dous. Membro a membro. »

— | 9.° Tempo em que ou
quando | « Morreu aos vinte annos de edade.
Partiu ao meio-dia, ás duas horas,
etc. »

— | 10.° Tempo proximo
d’um acontecimento | « Está a chegar. »

— | 11.° Complemento terminativo
ou attribuição | « Util á patria. Fazer mercê a alguem. »

— | 12.° Complemento objectivo,
sendo nome
de pessoa ou cousa
personificada | « Determinou levar comsigo a seus
filhos. »

— | 13.° Acção (com verbos
no infinito) | « Ouvir passaros a cantar, fontes a
correr. »

Ante,
Perante
| 1.° Posição fronteira | « Compareceu ante ou perante o juiz.
Trazer ou levar ante si. »

— | 2.° Antecedencia | « Ante maduros annos. Ante manhã. »

Após | Logar posterior d’um
objecto que segue outro | « Um após outro. Saíu após elle. »
Muitos auctores usam d’esta preposição
como adverbio, pondo-lhe depois
68a preposição de. Ex. : « Após de
mim virá quem melhor me fará. »

Até | Termo de distancia ou
medida de logar,
tempo, quantidade ou acção | « Até meio caminho. Até noite. Até
600 homens. Darei até 200$000
réis. Estudar até saber. »

Com | 1.° Companhia ou concomitancia | « Ir ou estar com alguem. »

— | 2.° Comparação, conformidade | « Mas isto é comparar a sombra com
a luz, e a similhança com a verdade.
(Vieira) — Vivem conformes
uns com outros. »

— | 3.° Causa | « Gemer com dores. Alegrou-se com
a sua chegada. »

— | 4.° Meio e instrumento | « Alcançar com muito trabalho. Mais
com o saber se vence, que co’o braço.
Partir com faca. »

— | 5.° Modo | « Ir com pressa. Cavalgar com bizarria.
Estudar com afinco. »

— | 6.° Preço | « Paguei tudo com 20$000 réis.
Pagar com a vida o promettido. »
(Camões).

Contra | 1.° Posição fronteira
ou direcção para ella | « Na praia de Allemanha contra Italia.
Turma coIntra turma. Virado
coIntra o poente. »

— | 2.° Opposição | « Marchar cIontra o inimigo. »

— | 3.° Logar ou posto
immediato | « I, official immediato
ao almirante ; contra-mestre,
official immediato ao mestre. Contra-forte,
obra de alvenaria, que se
juncta á muralha oara a reforçar. »

De (1)50 | 1.° Logar d’onde | « Venho de casa, da quinta, etc. Bebem
de póços : » e virtualmente : « Recebei
de Deus a sabedoria. »69

— | 2.° Origem, princípio | « Os rios procedem das fontes ; as
plantas nascem das sementes. Da
boa educação vêm os bons costumes. »

— | 3.° Possessão, restricção | « Livro de José. Senhor da casa.
Cidade de Coimbra. »

— | 4.° Qualidade | « Deus de misericordia. Homem de
probidade. Motivo de satisfacção. »

— | 5.° Separação | « Trigo limpo de joio. Livre de culpa. »

— | 6.° Materia de que alguma
cousa é feita | « Vaso d’ouro, de prata, de vidro. »

— | 7.° Materia ou objecto
de que se tracta
ou fala (ácêrca de,
quanto a) | « Escreveu-lhe de sua chegada. Murmurar
de alguem. Pobre de dinheiro. »

— | 8.° Causa | « Gostei de te ver. De cançado não
pôde continuar. Arder de amores. »

— | 9.° Causa efficiente ou
agente | « Lavores gastados do tempo. Foi de
todos recebido alegremente. Movido
de piedade. »

— | 10.° Modo | « Ir de vagar. Estar de má catadura.
De proposito. »

— | 11.° Opportunidade | « Hora de jantar, de partir ; tempo
de dormir. »

— | 12.° Serviço, prestimo | « Moço de recados, de acompanhar.
Cavallo de aluguer. »

— | 13.° O todo de que alguma
cousa é parte | « O maior dos oradores. Um dos filhos.
Qualquer d’elles. »

— | 14.° A parte onde se
dá algum estado ou
qualidade | « Coxo d’um pé. Ruivo do cabello. »

— | 15.° Extensão ou medida,
de espaço,
logar ou tempo | « Fosso de quatro metros de largura.
Mulher de trinta annos de edade. »

— | 16.° Tempo em que,
quando, durante o qual | « Chegou de tarde, de madrugada.
De verão, de inverno. De caminho,
de passagem. »70

— | 17.° Tempo desde que… « Passados dous dias de sua chegada.
Trabalhar de pela manhã até
noite. »

Desde | Logar ou poncto d’onde
se parte, mede,
e a epocha d’onde
se conta | « Desde Coimbra até ao Porto. Desde
o Natal até ao S. João. Desde o primeiro
até ao último. »

Em (1)51 | 1.° Direcção a um poncto
interior, tendencia | « Metter-se em casa. Ir foz em fóra : »
e virtualmente : — « Entrar na questão.
Encarar em alguem. »

— | 2.° Mudança d’um para
outro estado | « Traduzir em vulgar. Fazer em pedaços.
Mesquitas e pagodes convertidos
em templos, idolos em imagens
sagradas, gentios em christãos,
barbaros em homens, feras em ovelhas,
etc. (Vieira.) »

— | 3.° Destino (para, a
fim de) | « Ir em busca ou em soccorro d’alguem.
Todo o seu intento era em
salvar suas vidas. Levantaram em
gloria e exalçamento de sua fé. »

— | 4.° Logar onde | « Estar em casa. Passeiar no jardim.
Trabalhar na obra. »71

— | 5.° Referencia (quanto a) | « Sobrio no comer ; affavel no tracto.
Mui pomposo no trajo, no assento
e nos actos de sua pessoa. Atrevidos
em commetter. Doutor em direito.
No tractamento de vossa real pessoa
vos lembro, que não percais um
poncto de magestade. »

— | 6.° Actualidade, estado
permanente | « Andar em guerra. Está em descanço.
Pão em grão, ferro em braza,
flôr em botão. »

— | 7.° Tempo, occasião
em que | « Em nascendo o sol. Na fôrça do
verão. Em seis horas. » Muitas vezes
supprime-se a preposição. — « Ha
dias, que o não vejo. »

— | 8.° Modo, como | « Offerecer a Deus em sacrificio. Gentios
repartidos em tribus. »

— | 9.° Valor, estimação | « Avaliado em dez mil réis. Estimar
as cousas em menos do que valem. »

— | 10.° Vantagem | « Excede-o em applicação. »

Entre | situação em meio de
varios objectos | « Entre arvores. Entre verde e azul. »
Em relação ao tempo. — « Entre dia
e noite ; entre as dez e as onze. » e
virtualmente : — « Entre o medo e a
esperança. »

Para (Pera, ant.) | 1.° Logar para onde
alguem vae (para
lá ficar) | « Foi para Lisboa. »

— | 2.° Direcção para onde
alguma cousa
tende, olha, etc … « Virado para o nascente. Lobrigámos
para a parte esquerda. »

— | 3.° Propensão, disposição | « Habil para as artes ; inhabil para
as letras. »

— | 4.° Proximidade de
acção futura | « Esperar para partir. »

— | 5.° Tempo futuro, opportunidade | « Deixar alguma cousa para outro
dia, para outra occasião. »

— | 6.° Fim | « Fazer uma obra para utilidade pública. »72

— | 7.° Complemento terminativo,
attribuição | « Habil para as artes. Buscar para
si. Zêlo para as cousas da religião. »
— Neste sentido usa-se elegantemente
a preposição para seguida
de com. Ex. : « Os deveres do homem
para com Deus. »

— | 8.° Proporção | « De 2 para 4 ha a mesma razão
que de 3 para 6. »

— | 9.° Termo médio | « Gastou duas para tres horas. »

— | 10.° Termo de tempo
relativamente remoto | « Lá para o anno ou para o mez
que vem ; lá para as 3 horas da
tarde. »

Por (1)52 | 1.° Logar por onde,
(real ou virtual) | « Vigiar por mar e por terra. Passar
por grandes desgostos. »

— | 2.° Espaço de tempo, duração | « Privilegio por trinta annos. Factos
succedidos pellos annos de 1580 até
1640. » — Nesta relação muitas vezes
omitte-se a preposição. Ex. : « Durou
a guerra dez annos. »

— | 3.° Causa, motivo | « Obra por medo, por interesse. »

— | 4.° Causa efficiente ou
agente | « Creado por Deus. Lido por mim. »

— | 5.° Fim | « Elles mesmos, por entreter os nossos,
pozeram fogo ás casas. »

— | 6.° Meio, instrumento | « Elevar-se pela intriga. Contender
por armas. »

— | 7.° Divisão e distribuição | « Coube a cada um por cabeça. Dividir
a herança pelos herdeiros.
Hora por hora ; um por um ; feição
por feição. »

— | 8.° Prèço, troca | « Comprar por um vintem. Trocar
ouro por prata. »

— | 9.° Estimação (como)
supposição | « Reputado por sabio, por homem
73de probidade. Foi por embaixador.
Teve a victoria por certa. »

— | 10.° Estado incompleto,
carencia (sem) | « Estavam por jantar. Ficaram por
ver. »

— | 11.° Estado completo | « Deixaram-no por morto. »

Sem | Privação, falta | « Fama sem proveito. Nesta vida não
ha rosa sem espinho, nem mel sem
abelha. »

Sob | 1.° Situação inferior,
subjeição | « Sob podêr ; sob obediencia. »

— | 2.° Occultação, disfarce | « Sob mascara de hypocrisia ; sob apparencia
de humildade. »

— | 3.° Condição | « Sob graves penas ; sob pena de morte. »

— | 4.° Espaço de tempo | « Sob os Consules ; sob Claudio imperador
(no govêrno dos consules,
do imperador Claudio). »

Sôbre | 1.° Sobreposição | « Deitado sôbre a cama, sôbre a terra : »
e virtualmente : — « Caíu sôbre
os judeus terrivel maldição. »

— | 2.° Logar proximo | « Vendo sôbre si tam grande podêr. »

— | 3.° Superioridade | « Reinou sôbre seu povo. »

— | 4.° Opposição | « Ir sôbre alguem (para o atacar ou
contra elle). »

— | 5.° Tempo proximo | « Sôbre manhã, sôbre tarde, sôbre
noite : » e virtualmente : — « Estar sôbre
aviso » isto é, estar avisado antes. »

— | 6.° Direcção | « Fechar a porta sôbre si. »

— | 7.° Addição (e, além de) | « Deixando sôbre quinhentos mortos,
sem conto os feridos. Empreza,
sôbre temeraria, impracticavel. »

— | 8.° Materia ou objecto
de que se tracta | « Dar o seu parecer sôbre alguma
cousa. Sôbre a queão da divindade…
perguntou o Senhor. » (Vieira).

Segundo | Conformidade | « Segundo a lei. Cada qual segundo
suas posses. »74

Capitulo II
Da syntaxe regular das orações

112. As orações consideradas, não já em si, mas em relação
umas com outras e compondo o discurso, são principaes e não-principaes.
Chamam-se principaes as que não dependem d’outras,
e não-principaes as que dependem. Ex. : « Ninguem póde dizer em
poucas palavras, o que apenas se explica em mitas (1)53. » D’estas
duas orações a primeira é principal, e a segunda é não-principal.

113. As orações principaes conhecem-se pelos seguintes signaes :
1.° têm o verbo no indicativo, no imperativo e no condicional ;
2.° não têm conjunção nem palavra, que mostre dependencia
d’outra oração ; 3.° fazem por si sentido perfeito.

114. As orações não-principaes subdividem-se em subordinadas,
incidentes
e integrantes. As subordinadas enunciam um facto,
que deve referir-se á principal, pela qual são determinadas.
As incidentes ampliam ou restringem a palavra ou oração a que
se referem. As integrantes completam o sentido d’outra oração,
servindo-lhe ou de termo ou de complemento.

115. As orações não-principaes conhecem-se pelos seguintes
signaes : 1.° têm o verbo no infinito sem conjuncção, ou no conjunctivo
e no indicativo com ella ou com outra palavra subordinante ;
2.° fazem sentido dependente e não bem intelligivel sem
outra oração que as determine.

Nota. As orações integrantes, e ainda as incidentes, chamam-se
parciaes por fazerem parte d’aquellas a que vêm junctas : estas, e
quaesquer outras orações completas em si mesmas, chamam-se
totaes.

116. As orações, tanto principaes como não-principaes, podem
ser coordenadas ou não-coordenadas.75

Coordenadas dizem-se as orações, que estão unidas a outras
(principaes ou não-principaes) por conjuncções, ou outras palavras
simplesmente coordenativas. Por exemplo, nesta phrase —
« Cheguei, vi e venci » as duas últimas orações são principaes coordenadas
a cheguei pela conjuncção e. Nest’outra — « Não sei que
diga, nem que hei de escrever » a última oração é coordenada á
antecedente, e ambas são integrantes da primeira.

Podêmos metter na classe das orações subordinadas as copulativas,
as disjunctivas, as explicativas, as adversativas, as conclusivas,
as comparativas e as correlativas.

Não-coordenadas são as orações, que não estão ligadas a outras
por alguma conjuncção coordenativa, como acima no exemplo
do n.° 112, esta — « Ninguem póde dizer em poucas palavras. »

117. Para melhor se intender quanto fica dicto sobre orações
coordenadas, subordinadas, incidentes e integrantes, daremos de
cada especie sua breve definição e exemplo.

118. Coordenadas. — Copulativa diz-se a oração, que, independente
d’outra quanto ao sentido, a ella está todavia unida por
alguma conjuncção copulativa, clara ou occulta. Ex. : « A verdade
reina no ceu, illumina a terra, inspira a justiça e rege as nações. »

119. Disjunctiva é a oração, em que se enuncia uma de duas
ou mais cousas oppostas, negando-se tacitamente que entre ellas
haja meio. Ex. : « Aqui, soldados, haveis de vencer ou morrer. »

120. Explicativa é a oração, que desinvolve e esclarece algum
dos termos d’outra a que está unida. Ex. : « Davam-se os
parabens de se verem salvos, como se naquelle dia nasceram outra vez (1)54. »

121. Adversativa é a oração, que exprime uma cousa contrária
ao que se disse noutra a que está unida. Ex. : « Não é pobre
o que tem pouco, mas o que deseja muito (2)55. »

122. Conclusiva é a oração, que exprime a consequencia ou
76illação de um principio estabelecido noutra oração antecedente.
Ex. : « Deus é justo : logo ha de premiar a virtude. — Acabemos
pois de despertar d’este mortal lethargo (1)56. »

123. Comparativa é a oração composta, onde se confronta
um objecto com outro. Ex. : « Mais valente é o que domina seu
ânimo, que o que vence cidades (2)57. »

124. Correlativa é a oração composta de duas, das quaes
uma não se intende sem a outra a que se refere. Ex. : « Quanto
quereis, tanto mereceis (3)58. »

125. Subordinadas. — Condicional é a oração, que exprime
a condição, de que depende alguma cousa enunciada noutra oração.
Ex. : « O nadador e o mentiroso, se abrirem muitas vezes a
bôcca, ir-se-ão a pique (4)59. »

126. Causal é a oração, que exprime a razão ou o fim de
alguma cousa enunciada noutra oração. Ex. : « Tenha-se muita
conta com a justiça, porque não falte o favor divino (5)60. »

127. Concessiva é a oração, que exprime uma cousa, de que
prescinde a asserção contida noutra. Ex. : « Em nascendo, posto
que
seja no rigor do inverno, levam as creanças aos rios (6)61. »

128. Circumstancial é a oração, que exprime uma circumstancia,
de tempo ou logar, d’um facto enunciado na principal.
Ex. : « Logo que se retirou o inimigo, mandou D. João Mascarenhas
enterrar os mortos (7)62. »

129. Incidente diz-se a oração, que ligada a outra pelo relativo
que, o qual, e pelos adverbios ou phrases adverbiaes onde,
d’onde, por onde, para onde
, explica ou restringe alguma palavra
ou o sentido d’essa outra ; por onde costuma chamar-se explicativa
ou restrictiva. Explica, quando tirada d’aquella a que vem juncta,
77a verdade d’esta não fica alterada : restringe, quando tirada,
a outra fica falsa, ou não se intende. Ex. : « As paixões, que são
doenças da alma, fazem-nos perder a razão (explicativa). — O menino,
que respeita seu pae e sua mãe, será sempre feliz. — Não ha
corpo fraco, onde o coração é forte. » (restrictivas).

130. Integrante diz-se a oração, que completa o sentido d’outra,
servindo-lhe já de termo, já de complemento. Ex. : « Desejo
que sejas feliz. — Não sei se és feliz. — Conheço quem é feliz. »

Dos exemplos do número antecedente vereis, que a oração integrante
ou complementar se une á integrada, e a completa de
tres modos :

1.° por meio d’alguma conjuncção integrante ou dubidativa, como
que, se, se por ventura ;

2.° por meio d’algum adjectivo ou adverbio interrogativo, como
quem, qual, que, etc. ;

3.° por meio de um infinito a servir-lhe de termo ou complemento.

Do periodo

131. Periodo (ou circuito) é uma oração ou agregado d’orações
totaes, subordinadas a uma culminante principal, com as
quaes exprimimos um só pensamento.

132. D’aqui se infere, que todo o periodo consta de duas partes
maiores, a saber : — a oração principal culminante, quer absoluta,
quer coordenada ; e a oração ou aggregado d’orações subordinadas.
Além d’estas tem o periodo outras partes menores,
que são — os membros e os incisos. Membro d’um periodo chama-se
cada oração total com suas annexas (se as tiver). Inciso é
essa oração annexa, como parte, ao membro do periodo.

133. O periodo tem dous, tres ou quatro membros ; e d’ahi o
chamam bimembre, trimembre e quadrimembre : tendo mais de
quatro, ou, quando muito, cinco membros (mormente sendo estes
extensos), chama-se antes oração periodica.78

Exemplos

Periodo de dous membros. — « Nada são os thronos e as riquezas
em comparação da sabedoria ; todo o ouro em respeito d’ella
é uma pouca d’arêa (1)63. »

Periodo de tres membros. — « As pequenas fôrças, que hoje
temos, são formidaveis a nossos inimigos, em quanto as não conhecem ;
porque toda a Asia avalia nosso podêr pelas victorias
mais, que pelos soldados ; de sorte que só a fama das cousas passadas
nos conserva a presente (2)64. »

Periodo de quatro membros. — « Se o bemfeitor perdeu os beneficios
pequenos, porque lh’os não agradeceram ; o ingrato, por
isso mesmo que não agradeceu os beneficios pequenos, perdeu os
grandes (3)65 . »

Capitulo III
Da construcção das palavras e orações

134. As palavras podem dispôr-se na oração pela ordem directa,
inversa
e transposta ou interrupta.

135. Ordem directa. — Segundo a ordem directa ou da syntaxe
tem o primeiro logar o subjeito com seus accessorios (excepto se
fôr vocativo, que, geralmente falando, melhor irá logo depois da
primeira ou primeiras palavras da oração). Segue-se depois o verbo,
quer substantivo com o attributo expresso, quer adjectivo com
os respectivos complementos.

136. Havendo muitos subjeitos ou muitos attributos, convem
guardar, naquelles a ordem de sua preeminencia e dignidade ; e
nestes a gradação, já ascendente quando se affirma, já descendente
quando se nega. Ex. dos subjeitos : — « Deus e os homens ;
79rei e povo ; eu e tu, etc. » Ex. dos attributos : — « Pedro é rico,
nobre, sabio e virtuoso (gradação ascendente). Nem é virtuoso,
nem sabio, nem nobre, nem rico » (gradação descendente).

137. O adjectivo, sendo determinativo, irá antes do substantivo ;
sendo qualificativo irá depois ; sendo explicativo poderá ir
antes ou depois.

138. Dos complementos, em regra, o objectivo occupa o primeiro
logar, o terminativo o segundo, excepto se fôr algum dos
pronomes pessoaes me, te, lhe, nos, vos, lhes, se, que quasi sempre
precedem o objectivo, junctos ao verbo antes ou depois ; seguem-se
os outros proximos, quanto ser possa, ás palavras que completam.
Havendo muitos complementos, convirá distribuil-os de maneira,
que os mais curtos fiquem chegados ao verbo, para que o último
diste d’elle o menos possivel.

139. As preposições, em regra, vão antes de seus complementos ;
porém se estes forem verbos no infinito, póde collocar-se
entre elles e a preposição algum dos pronomes me, te, lhe, nos,
vos, lhes, se
.

Os adverbios, sendo de quantidade, precedem ; e sendo de qualidade,
succedem ou precedem a palavra que modificam.

As conjuncções, o relativo-conjunctivo, e todas as phrases conjunctivas,
collocam-se entre as palavras que ligam ou subordinam,
e no rosto da oração que modificam.

140. Ordem inversa. — Na ordem inversa o processo é quasi o
contrário. Vai o subjeito depois do verbo, o adjectivo depois do
substantivo, e o verbo depois dos complementos.

As inversões fazem-se pelas razões seguintes : 1.ª aproximar
idêas correlativas, e ligar as orações entre si de maneira, que o
seu sentido total se perceba claramente ; 2.ª contrastar pensamentos
oppostos, e apresentar idêas importantes no logar onde
mais toquem o espirito ; 3.ª variar e amenizar a fórma do discurso,
dando-lhe graça e harmonia.

141. Ordem transposta ou interrupta. — Como as transposições
são contrárias á ligação e relação immediata das idêas, que as palavras
80representam, tanto na ordem directa como na inversa, são
por isso pouco frequentes em portuguez, onde as palavras, para
exprimir esta ligação e relação, têm preposições, artigos e posições
em logares determinados, fóra dos quaes nada significam : por c

onseguinte não podêmos (excepto no verso, onde muitas vezes as
transposições não só são toleraveis, mas ainda de bom effeito) transpor
e interromper arbitrariamente, sob pena de confundirmos tudo,
e não sermos intendidos.

142. Devemos portanto evitar : 1.° os hyperbatos ou transposições
que causem ambiguidade, ou a collocação de palavras tal, que
d’ahi resultem dous sentidos differentes ; 2.° entre duas idêas relativas
não metter terceira, que forme relação com outra differente ;
3.° que as modificações postas entre duas palavras, de que
aquellas fazem parte, não sejam tão extensas, que apartem uma
da outra ; isto para evitar a synchyse, ou a confusão de idêas incoherentes.

Exemplos.

Ordem directa. — « Aquelle que lavra a sua terra, será farto
de pão. » (Proverbio).

Ordem indirecta. — « Será farto de pão aquelle, que lavra a
sua terra. »

Ordem transposta ou interrupta. — « O cabo chamado das
tormentas
. — Para com a fôrça da corrente caminharmos mais
depressa. » Estas transposições são toleraveis ainda na prosa, assim
como no verso as seguintes :

« Em versos divulgado numerosos (1)66 »

« Já chegaram perto, e não com passos lentos,
Dos jardins odoriferos(2)67 »

Das transposições forçadas resultam as synchyses e as amphibologias,
como neste verso :

« A grita se alevanta ao ceu da gente (3)68. »81

143. A collocação das orações está subjeita ás mesmas regras
que a das palavras. As orações que servirem d’accessorio nas incidentes,
ou de complemento nas integrantes, devem collocar-se
de modo, que facilmente se perceba a que palavra ou oração pertencem,
e por que relação.

Capitulo IV
Da syntaxe figurada

144. Costumam chamar-se figuras certas locuções, que contrariam
apparentemente as regras geraes da syntaxe ; e figurada
a parte da syntaxe que d’ellas tracta.

145. No sentir geral dos grammaticos altera-se a regularidade
da syntaxe por tres modos : 1.° omittindo no discurso palavras
necessarias para o complemento da syntaxe (menos para a perfeita
expressão do pensamento, que ainda sem ellas bem se intende) ;
2.° acrescentando outras, que podiam omittir-se sem quebra
da grammatica ; 3.° alterando a disposição regular e a fórma
das palavras.

Faltam na oração palavras por ellipse, propriamente tal, zeugma
e syllepse ; sobejam por pleonasmo ; mudam-se por enallage ;
e transpõem-se por hyperbato.

146. Ha ellipse (ou falta), quando se omittem na oração palavras,
que devem subintender-se de fóra para ficar completa a
syntaxe.

Ex. : « Antes poucas letras com boa consciencia, que muitas
sem probidade. » Devendo supprir-se d’este modo : « Antes o homem
tenha
poucas letras, etc. »

São ellipticas estas expressões : — « Eis, ou eis aqui o homem : »
isto é, eis aqui está, etc. « A Deus : », isto é, peço a Deus te faça
feliz
, etc. « Ha homens, ha cousas : » isto é, o mundo ha ou tem
homens, esta materia ou assumpto ha ou tem cousas, etc. (1)6982

147. Ha zeugma (ou connexão), quando concorrendo muitos
substantivos, o adjectivo pertencente ao mais proximo, se subintende
para todos os mais ; e concorrendo muitos subjeitos, attributos
ou complementos, o verbo que concorda ou rege os mais
proximos d’elles, se subintende tambem para todos os outros. A
palavra que por esta figura se subintende está dentro do periodo
ou poncto.

Ex. : « Foi entrada a cidade e saqueada, e muitos inimigos mortos : »
isto é, e foram muitos inimigos mortos. — « Deus creou o
céu e a terra, os anjos e os homens. »

148. Ha syllepse (ou concepção), quando o verbo ou o adjectivo
não concorda com o substantivo que está claro, mas com
outro mais geral e nobre, que se tem occulto na mente.

Ex. : « Eu e Tullia estamos bons : » isto é, nós ambos (eu e Tullia)
etc.

« Mas já o planeta, que no céu primeiro
Habita, cinco vezes apressada : »

isto é, mas já… apressada a lua, planeta, que no céu, etc.

Quando usâmos de nós e vós em logar de eu e tu, os verbos
concordam com aquelles no plural, mas os adjectivos vão para o
singular. Ex. : « Antes sejamos breve que prolixo. — Quando d’isso
fomos sabedor. »

Nos tractamentos politicos concordam os adjectivos com o genero
da pessoa a quem os dirigimos, e não com o dos substantivos
que empregâmos em taes tractamentos, como são — majestade,
alteza, excellencia, senhoria
, etc.

Ex. : « Vossa majestade foi servido (sendo rei), foi servida (sendo
rainha) : » e assim nos mais.

149. Ha pleonasmo (ou redundancia), quando occorrem palavras,
83que, embora não sejam necessarias para a perfeita expressão
do pensamento, servem comtudo para lhe dar mais fôrça ou
graça.

Ex. : « Eu mesmo o vi com estes olhos. — Parece-me a mim.
— Este tributo era o que me sustentava a mim (1)70 — Vi claramente
visto o lume vivo (2)71. » Bastava dizer-se : eu o vi ; me sustentava ; vi
claramente o lume
.

150. Ha enallage (ou mudança), quando se usa d’uma parte
da oração por outra, ou se muda dos nomes o genero e o número.
Ha portanto enallage de palavras e de accidentes.

Ex. : « O teu saber não val nada : » por a tua sabedoria etc.
« O honesto, o justo : » por a honestidade, a justiça. « Doce tanges,
Pierio, doce cantas : » por docemente. « Os cabeças da conspiração
foram presos : » isto é, os homens que eram cabeças etc.
« Isto é mais verdade : » por mais verdadeiro.

151. Ha hyperbato (ou transposição), quando por alguma razão
plausivel não se guarda a collocação das palavras pedida pela
syntaxe.

Ex. : « Assim como a bonina …

Sendo das mãos lascivas maltractada
Da menina que a trouxe na capella (3)72. »

Isto é : — Sendo maltractada das mãos lascivas da menina, etc.

Faz-se a transposição pelos modos seguintes :

1.° por anastrophe, como — « eu porém, tu tambem, elle todavia, »
em logar de — porém eu, tambem tu, todavia elle ;

2.° por thmese, dividindo uma palavra para interpôr-lhe outra,
como — « dir-me-ás, far-te-ei, dever-se-ia, » por — dirás-me, farei-te,
deveria-se ;

3.° por parenthese. Os exemplos são frequentes.84

Figuras das palavras

152. Altera-se a fórma das palavras por acrescentamento, suppressão,
mudança, separação
ou contracção de letras, ou transposição
de vozes.

Por acrescentamento

153. Augmentam letras :

Prothese no princípio das palavras, como — « atambor, alevantar,
avexar, disseram-no (1)73, » por tambor, levantar, vexar, disseram-o.

Epenthese no meio, como — « Mavorte, Orpheiu, término, » por
Marte, Orpheu, termo.

Paragoge no fim, como — « architector, martyre, » por architecto,
martyr
.

Por suppressão

154. Diminuem letras :

Apherese no princípio, como — « maginação, té, » por imaginação,
até
.

Syncope no meio, como — « imigo, dino, herdeiro, mór, » por
inimigo, digno, heredeiro, maior.

Apocope no fim, como — « guar’-te, mui, San’João, vamo’nos,
i’vos, cascer, » por guarda-te, Sancto João, camos-nos, ide-vos,
carcere
.

Synalepha elide a última vogal d’uma palavra, quando a seguinte
começa tambem por vogal, como — « m’o, m’os, m’a, m’as,
t’o, t’a, t’os, t’as, lh’o, lh’a, lh’os, lh’as, do, da, d’este, d’esse, d’elle,
d’algum, d’Almeida, etc., » por me o, me a, me os, me as, te o,
te a, te os, te as, lhe o, lhe a, lhe os, lhe as, de o, de a, de este,
de esse
, etc. (2)7485

Ecthlipse supprime no verso o m final d’uma palavra, quando
a seguinte começa por vogal, como — « co’o somno, co’os filhos,
co’a luz, » por com o somno, com os filhos, com a luz.

Por mudança

155. Transpõem ou mudam letras :

Metáthese dentro da mesma palavra, como — « capitaina,
Rogeiro, » por capitânia (1)75, Rogerio.

Anthitese uma letra da palavra por outra de fóra, como — « fazel-o,
pelo, sento, appetitos, » por fazer-o, por ou per o, sinto,
appetites
.

Por separação ou contracção.

156. Dierese divide o diphtongo em duas syllabas, como —
« Orphë-u, Dë-us : » por Orpheu, Deus.

Synerese (ou crase) contrahe duas vogaes em uma só voz ou
syllaba, como — « á vista, á cidade, ás armas, pie-da-de, glo-ria : »
por a a vista, a a cidade, a as armas, pi-e-da-de, glo-ri-a.

Por transposição de vozes

157. Systole abrevia a syllaba longa, como — « Samária : » por
Samaría.

Diastole alonga a syllaba breve, como — « idolátra, impío : » por
idólatra, ímpio.

158. No uso d’estas figuras devemos imitar os exemplos dos
bons auctores, cuja licção e a mesma razão nos mostram, que
ellas empregadas convenientemente (bem como os enfeites do corpo
com gosto e propriedade) são o adôrno do discurso, pois lhe dão
graça, energia e gravidade : pelo contrário, se servem só para
deturpar a oração e embaraçar o sentido, são vicios que devem
evitar-se com todo o cuidado.86

159. Mas para a oração ficar, senão adornada, ao menos clara,
requer-se que seja correcta ou limpa d’erros : virtude, a que se
oppõe o barbarismo, o solecismo e a amphibologia.

Commette-se barbarismo : 1.° usando de palavras extranhas á
lingua, como — affazeres por occupações, remarcavel por notavel,
chefe d’obra por primor d’arte, a menos que por excepto se, mesmo,
por ainda ou até, partilhar por participar, etc., o que se chama
gallicismo ou francezismo ; ou inteiramente antiquadas, como —
quiçá por talvez, bofé por certamente, o que se chama archaísmo ;
2.° attribuindo ás palavras significações que ellas não têm, como
enxertar por inceptar ou começar ; 3.° escrevendo-as incorrectamente,
como — sastisfazer ou saptisfazer por satisfazer, vom
vinho
por bom vinho, etc.

Commette-se solecismo, offendendo as regras da syntaxe, quer
de concordancia, quer de regencia, como — « Sou mais velho que
ti » por sou mais velho do que tu. Deparar com alguem ou com
alguma cousa
por deparar alguem ou alguma cousa. A amphibologia
dá-se quando se exprime a oração de tal maneira que possa
ter dous sentidos differentes, como nestes exemplos : « Comprei-lhe
as casas. » Comprei as casas a elle ou para elle?… — « Ama o
povo o bom rei, e é d’elle amado. » Ama o povo ao rei, ou o rei
ao povo?…

« Heitor Achilles chama a desafio (1)76. »

160. A estes vicios da oração podêmos ajunctar a cacophonia,
o hiato e o echo.

A cacophonia (ou má sonancia) é o resultado da pronuncia ou
de consoantes asperas em seguida, ou de palavras collocadas de
modo que os sons se confundam, e formem sentido ridiculo ou
torpe.

Ex. : « Has no dizer tantas graças,
Que eu as não posso contar. »

« Mas morra emfim nas mãos das brutas gentes. »

Hiato (ou abertura de bôcca) é a dissonancia, que resulta da
87pronunciação successiva de vogaes longas, ou de diphtongo com
vogal.

Ex. : « Vou á aula. — Mandaram-o buscar. »

Echo é o resultado da pronunciação successiva ou proxima dos
mesmos sons.

Ex. : « Quando ando ; tenho empenho, etc. — Não são mais taes
meus desejos. »

Estes vicios porém deixam o ser, quando pela figura onomatopeia
usâmos de palavras, cujo som imita a cousa, que com ellas
pretendemos significar. Nas palavras d’este genero é riquissima
a nossa lingua, e as emprega com bom successo, mormente nas
composições poeticas (1)77.88

Parte terceira
Prosodia

161. Prosodia, ou orthoepia, é a parte da grammatica, que
tracta dos sons fundamentaes das palavras, determinando-lhes o
accento e quantidade. A prosodia comprehende — a pronúncia, a
accentuação e a quantidade.

Da pronúncia

162. A pronúncia extende-se ás vozes, articulações, diphthongos
e syllabas, cujos ultimos elementos representativos são as letras.
D’estas, consideradas como elementos das palavras, já tractámos
no principio ; resta agora dizermos alguma cousa sôbre os
seus valores.

163. As vogaes pronunciam-se ou abertas, ou fechadas, ou mudas.
O som aberto ou fechado das vogaes provem-lhes dos respectivos
accentos e quantidade.

O a artigo e o a final das palavras pronuncia-se muito brando,
como — a fama.

Dous aa brandos pronunciam-se como um á agudo, como —
porta aberta (portáberta).

O e, quando conjuncção, sôa quasi como i, e no fim das palavras
é mudo, como — e este.

O o artigo e o o final das palavras tem o som quasi de u,
como — o livro.

O i e u conservam sempre o som primitivo, excepto se, formando
syllaba predominante, forem alterados pelo accento agudo,
como — vivífico, vivifíco ; únto, untúra.

164. Das consoantes l, r e s brandas, chamam-se liquidas
89em razão da facilidade, com que corre a sua pronunciaão, como
claro, cravo, sciencia.

C seguido de e ou i tem o valor de ss, como — cedro, cidra ;
e de a, o, u, val por q ou k, como — capa, fraco, frescura. Para
antes de a, o, u ter valor de ss, deve cedilhar-se, como — taça,
braço, doçura
.

Ch (1)78 pronuncia-se quasi como x em todas as palavras
propriamente portuguezas, como — chamar, chave ; e nas d’origem grega
pronuncia-se como q ou k, como — Achilles, monarcha, máchina.

G (guttural) e q têm u antes de e e i, o qual se não pronuncia,
como — guerra, guita, quer, quisto : exceptuam-se porém algumas
palavras, que recebemos do latim, como — contigüidade,
eqüestre, eqüilibrio
, etc. O u depois de q, seguido de a ou o, sempre
se pronuncia, como — qüadro, qüota. G seguido de e ou i
tem o som de j, como — gente, ginja.

R singelo no princípio das palavras, e no meio depois de l,
m, n, s
e rr dobrado entre vogaes, tem som forte e aspero ; como
rasgo, reino, melro, Amrão, honra, Israel, arrhas, ferro. O r
singelo entre vogaes sôa brando, como — ara, fóra, para, etc. ;
conserva porém o som forte entre vogaes na segunda syllaba das
palavras compostas de ab, ob, sub, pro, pre e de ; como — derogar,
obrepção, prerogativa, proromper, subrepticio
.

S entre duas vogaes, ainda que uma pertença á palavra seguinte,
tem som de z, como — cousa, todos os homens (couza, todozozomens).
Exceptua-se o s das palavras compostas de pro e re, como
proseguir, resurgir ; e o s da terminação dos numeraes ordinaes
vigesimo, centesimo, millesimo, que se pronuncia como ss ou ç.

X, além do seu valor proprio, tem o de nas últimas syllabas
d’algumas palavras d’origem latina, como — reflexão, fixo,
90fluxo
, que se pronunciam — reflecção, ficço, flucço ; e o de s no
princípio das palavras da mesma origem, seguindo-se-lhes vogal,
como — exacerbar, exemplo, existir, exordio, que se pronunciam
esacerbar, esemplo, esistir, esordio.

Da accentuação

165. Accento, na accepção prosodica, é o maior ou menor grau
d’intensidade, com que se profere certa syllaba d’um vocabulo, a
qual se chama predominante em relação ás outras de que o mesmo
consta.

166. Os accentos representam-se por estes signaes : (´) agudo
para abrir ou levantar a voz, como — acolá ; e (^) circumflexo
para abatel-a ou fechal-a, como — avô, êrro ; o signal porém do
mudo é a falta de accento.

167. A syllaba predominante não póde ser senão a antepenultima,
a penultima ou a última.

168. É predominante a antepenultima

1.° na primeira pessoa do plural do preterito mais-que-perfeito
do indicativo, condicional, e preterito imperfeito do conjunctivo,
como — amáramos, amaríamos, amássemos ;

2.° nos superlativos terminados em imo, como — brevíssimo,
facíllimo, celebérrimo
 ;

3.° em certos adjectivos derivados do latim, como — esquálido,
pállido, tímido, férvido, magnífico, grandíloquo
 ; e nos compostos
de fero e gero, sono e volo, como — fructífero, armígero, altísono,
benévolo
 ;

4.° nas palavras da mesma origem terminadas em uplo, como
quádruplo, quíntuplo ;

5.° em alguns nomes derivados do grego, como — philósopho,
geógrapho, geómetra
 ; e nos compostos do termo metro, como —
barómetro, decâmetro, decímetro, etc. Exceptuam-se : — geometría,
geographía, philosophia
, etc. ;

6.° em grande número de palavras de tres ou mais syllabas,
que terminam em eo, io, oa, ua, uo, como — gêmeo, homicídio,
artifício, mágoa, amêndoa, água, assíduo
, etc.91

169. É predominante a última syllaba nas palavras terminadas em
1.° ar, er, ir ou yr, or e ur (exceptuando alcáçar, ámbar, aljôfar,
assúcar, mártyr
) ;

2.° i e u (exceptuando quási e tríbu) ;

3.° vogal nasal, ou diphthongo oral ou nasal (exceptuando órgão
e bénção) ;

4.° al, el, il, ol, ul (exceptuando os adjectivos terminados em
vel e il, como — amável, débil, etc., e alguns substantivos, como
Setúbal, Tentúgal, cónsul) ;

5.° z no singular, como — rapáz, cortêz, perdíz, feróz, condúz ;
e em outras muitas.

170. É predominante a penultima syllaba em todas as palavras
(quer sejam de duas, quer de tres ou mais syllabas) não comprehendidas
nas generalidades e excepções que ficam indicadas.

Da quantidade

171. Quantidade é a duração que se dá á pronunciação de
certa syllaba d’um vocabulo, maior ou menor em relação ás das
outras de que o mesmo consta.

172. As syllabas das palavras portuguezas são longas ou breves.
A syllaba longa gasta dous tempos em proporção da breve,
como — ta ; e a breve um tempo em proporção da longa, como
matando.

São longas

1.° as syllabas nasaes, as predominantes e os diphthongos, e
dous aa contrahidos em á por crase ;

2.° as syllabas seguidas de duas consoantes, ou de x com a
pronúncia de , das quaes a primeira se articula com a vogal
antecedente, como — pólvora, néxo ; ou de mn, como — ómnipotente,
solémne
, etc.

São breves

1.° os monosyllabosme, te, se, lhe, lhes, nos, vos, a, que, de,
por
 ;

2.° as syllabas subordinadas á predominante ;

3.° as finaes brandas ou mudas em a, e, o, como — terra,
orbe, muro
.92

Parte quarta
Orthographia

173. A orthographia é a parte da grammatica, que ensina a
escrever as palavras com as competentes letras e signaes literaes,
e a empregar convenientemente a ponctuação.

174. A orthographia diz-se phonetica ou pronunciativa, quando
as palavras se escrevem como se pronunciam, e com as letras do
nosso alphabeto, como — filozofia, têma : e diz-se etymologica
ou derivativa, quando nas palavras havidas de linguas extranhas
(mormente da grega ou latina) conservâmos as letras de suas respectivas
origens, como — philosophia, thema.

175. Está geralmente em uso a orthographia etymologica : neste
objecto porém cumpre evitar excessos, tomando em conta as regras
seguintes :

I. Conserve-se fielmente a etymologia, quando a pronúncia se
lhe não oppozer.

II. Combine-se a etymologia com a pronúncia, quando esta se
oppozer á inteira conservação d’aquella.

III. Nas palavras de raiz incognita siga-se o uso geral.

IV. Não se notem com accentos senão as palavras, que sem
elles se confundiriam com outras.93

Capitulo I
Da escriptura das palavras

Uso das vogaes e diphthongos

176. Ã, an, am. O a nasal deve escrever-se com til (ã)
estando no fim das palavras, como — maçã, hortelã ; e com an no
princípio ou meio das palavras, como — antes, práncto, amando ;
e com am antes de b e p, como — ambito, campo.

177. En ou in. O e nasal escreve-se geralmente em en, como
entre, sedento ; seguindo-se-lhe porém b, m, p, escreve-se em,
como — emblema, emmalar, empada.

No princípio das palavras confunde-se muitas vezes esta letra
com o i nasal (ĩ). Em regra, escrevem-se com en, as palavras
compostas com as preposições portuguezas en, em ou entre, como
embarcar, embargar, embicar, engarrafar, endividar-se, entrevista,
etc. ; e com in as compostas, derivadas do latim (adjectivos
e verbos), como — inscrever, inserir, insolencia, insoluvel (1)79

178. In, im. O i nasal escreve-se sempre in no princípio
ou meio das palavras, e im antes de b, m, p, ou no fim ; como
inclyto, incenso, ainda, imperio, flautim, etc.

179. O. O o oral confunde-se algumas vezes com o u. A dúvida
póde tirar-se, ou recorrendo á derivação da palavra, ou observando
a pronúncia d’alguma da mesma familia, como, por exemplo,
soar, fazer som, d’onde vem — sôo, sôas, sôa, soâmos, etc.,
soava, soavas, soava, seava, etc. ; e suar, exhalar suor, d’onde vem —
suo, suas, sua, etc., e suava, suavas, etc.94

180. On, om. Escreve-se on no princípio ou no meio das
palavras, como — onça, fonte ; e om nos monossylabos, no fim e
antes de b e p, como — som, tromba, prompto.

181. Un, um. Escreve-se un no princípio ou meio das palavras,
como — undecimo, redundar ; excepto nas palavras compostas
de circum, como — circumducto, circumstancia. No fim
das palavras, e antes de b e p escreve-se um, como — atum, umbella,
sumptuoso
.

182. Ae ai, oe oi, eu ui. Os diphthongos ae, oe, ue
devem empregar-se sómente no plural dos nomes terminados no
singular em al, ol, ul, como — pardaes, roes, paúes ; e ai, oi, ui
em todos os outros casos, como — mais, louvais, sois, fui.

183. Au, eu, iu. Devem escrever-se estes diphthongos
sempre com u, tanto no principio ou meio, como no fim das palavras,
como — pauta, centauro, calhau, eunucho, pharmaceutico,
colheu, vestiu
.

D’antes, sem razão plausível, usava-se este diphthongo com a
subjunctiva o no fim das palavras, como — nao, ceo, vio.

184. Ão. Deve usar-se do diphthongo nasal ão nas terminações
das terceiras pessoas do plural do futuro imperfeito do indicativo
dos verbos, e nas palavras que tiverem o accento predominante
na última syllaba, como — amarão, coração (exceptuando
orgão, benção, ouregão) ; e de am nas terminações dos presentes
e preteritos dos verbos, como — amam, amavam, amaram.

185. Ães, ãos e ões. Estes tres diphthongos devem escrever-se
com til sôbre o a e o o : sendo portanto êrro indesculpavel
escrever aens, aons e oens, porque assim a vogal nasalada
sería o e.

186. Y. Só devemos usar d’esta vogal nas palavras vindas do
grego, a cujo alphabeto ella pertence, como — abysmo, acolyto,
cylindro, lyra, mysterio, physica, satyra, typo, tyranno
 ; e outras
muitas, que se poderão ver nos diccionarios.

É barbarismo escrever eyra, ley, rey, etc.95

Uso das consoantes

187. B. É vício mui vulgar nas provincias do norte do Reino
confundir-se o b, letra labial pura, com o v, que é dento-labial,
e por isso de som diferente. Para corrigir este vício, bastará observar,
como as pessoas instruidas pronunciam esta letra, e em
caso de dúvida consultar os diccionarios. Todavia daremos algumas
regras geraes para as terminações das palavras, em que possa
haver dúvida sôbre o emprêgo do b ou v.

Têm v e não b na terminação

1.° os adjectivos terminados em ivo e vel, como — adoptivo,
amavel
 ;

2.° os preteritos em ava, como — amava.

Têm b no logar do v

1.° os nomes de qualidades, derivados dos adjectivos em vel,
como — amabilidade ;

2.° e quasi todos os superlativos dos adjectivos em vel, como
amabilissimo.

188. C. O c antes de e, i, e cedilhado antes de a, o, u, confunde-se
com o s ; porém, estando hoje admittido que nenhuma
palavra comece por ça, ço, çu, já a tal respeito não póde haver
dúvida. As que principiam por ce ou ci são muitas, as quaes podem
vêr-se nos diccionarios.

No meio e nas terminações das palavras emprega-se ordinariamente
ç e não s ; particularmente

1.° nos substantivos acabados em ça, ice, cia, cio, como
doença, meiguice, clemencia, negocio ;

2.° nos adjectivos terminados em iço, como — abafadiço, etc.,

3.° nos substantivos em ção, cção ou pção, como — oração,
acção, redempção
.

Exceptuam-se alguns nomes derivados do latim, como — ascensão,
apprehensão, discussão, extensão
, e poucos mais.

Têm s nas terminações

1.° os adjectivos em so, como — espesso, intenso ;96

2.° os adjectivos em ense, como — portuense, conimbricense,
etc. ;

3.° os preteritos imperfeitos do conjunctivo, como — louvasse,
viesse
 ;

4.° os superlativos em issimo, como — bellissimo ;

5.° os nomes em sor, como — defensor, professor.

189. Cc, cç. Não se póde estabelecer uma regra certa para
as palavras que têm cce, cci nas syllabas médias, e cção, cções nas
finaes, por serem, na maior parte, derivadas das latinas, que têm
cti, ctio, ctus : consultem-se portanto os diccionarios.

190. Ch. Tem dous valores : um quasi como x, e outro como
q ou k. No primeiro caso emprega-se no princípio das palavras
puramente portuguezas, como — chaga, chamar, chapéu, chave,
choca, choça, chuva
, etc. No meio ou fim das palavras deve usar-se
ora de x, como — deixar, ora de ch, como — achar. A dúvida só
poderá tirar-se recorrendo aos diccionarios (1)80.

No segundo emprega-se nas palavras derivadas do grego, que
nesta lingua têm a letra x (chi ou ki), como — archivo, chaos,
chimera, chorographia, chrisma, christão, chronica, chronologia,
máchina, parocho
, etc. ; e em todas as palavras compostas de
archi.

191. Ct. Usa-se principalmente em algumas palavras derivadas
do latim, como — acto, activo, addicto, afflicto, abstracto,
dicto, sancto
, etc.

192. G. O g seguido de e ou i sôa como j, e deve usar-se no
princípio das palavras, que começam por alguma d’estas letras,
excepto nas seguintes : — jejuar, jejum, jeropiga ; e em alguns
nomes proprios, como — Jehovah, Jeronymo, Jerusalem, Jesus
etc. Jeroglifico e jerarchia já se escrevem hieroglifico e hierarchia,
o que é mais conforme com a etymologia.

193. Gm, Gn. Deve usar-se de gm (ainda que não se perceba
97o g na pronúncia) em augmento, augmentar ; e de gn em
assignar, maligno, maligna (febre), signal, significar, e seus
compostos ; e assim noutras palavras em que a pronúncia indica
o g, as quaes vão notadas nos diccionarios.

194. H. Emprega-se o h ordinariamente como distinctivo
etymologico ; e nos diccionarios se acharão reunidas as palavras
que devem principiar por h. Aponctaremos aqui algumas em que
o h entra nas syllabas médias : — adherir, apprehender, bahia,
bachá, cohabitar, coherente, comprehender, deshonrar, deshumano,
exhalar, exhaurir, exhausto, exhibir, exhibição, exhortar, exhumação,
inherente, inhibição, mahometano, prohibir, rethorica,
trahir
(e seus compostos), vehemente.

O h posto logo adeante de c, l, n, torna líquido o som d’estas
letras, e fórma as tres prolações ou consoantes compostas, como
se vê em chave, milho, pinho ; e adeante de p dá o som de f ; e
serve só na escriptura de palavras derivadas do grego, como —
philosopho. Exceptua-se anhelar e seus derivados, e as palavras
compostas de in, como — inhibir, inhumano, phillarmonico, que
se pronunciam — in-hibir, in-humano, phil-harmonico.

195. K. Usa-se sómente em algumas palavras peregrinas,
como — almanak, kalendas, kebir, kilo, kiosco, kyrie, kalendario.

196. M e n. Do uso do m e do n, como signaes de nasalidade,
já acima falámos tractando das vogaes e diphthongos nasaes.

197. Mn. Usa-se de mn para conservar os distinctivos etymologicos
em algumas palavras que adoptámos do latim, como —
alumno, calúmnia, columna, damno (e seus compostos), condemnar,
indemnisar, hymno, solemne, somno
, etc.

198. . Para imitar a orthographia latina usâmos de nas
palavras correspondentes áquellas em que os romanos empregavam
ptio, como — accepção, assumpção, decepção, erupção, excepção,
exempção, inscripção
, etc. (de acceptio, assumptio, exceptio, exemptio,
inscriptio).98

199. Pt. Usâmos de pt, pela mesma razão do número antecedente,
nas palavras derivadas das latinas terminadas em ptus,
como — adoptar, apto, captivo, corrupto, excepto, exemplo e
exemplar, prompto, sceptro, septe
e septembro.

200. Ph. Para substituir o φ (phi) dos gregos reuniram os
romanos as letras p e h, dando-lhes o som de f ; e com este valor
está adoptado o ph nos abecedarios modernos, para servir na
escriptura dos termos technicos de artes e sciencias derivados
d’aquella lingua ; taes são, por exemplo, muitos compostos do suffico
grapho (γραφω) e do prefixo philo (φιλο), como — geographia.
philosophia. Além d’estas palavras outras ha que têm a letra ph
nas syllabas do princípio, do meio e do fim, as quaes os curiosos
poderão examinar nos diccionarios.

201. R, rr e rh. Do uso do r (singelo) com som forte ou
brando, e do rr (dobrado) já tractámos na prosodia o rh acha-se
em algumas palavras vindas do grego, como — rhomboide, rhythmo,
arrhas, catarrho
, etc.

202. S e z. Quanto á confusão do s com o z, vêde o que
dissemos na prosodia sôbre os diversos valores do s. Para saber
quando se deva escrever s ou z, observem-se as regras seguintes :

I. Deve usar-se de s e não de z, entre vogaes nos adjectivos
de origem latina terminados em oso (de osus), e nos nomes derivados
d’estes terminados em osura, como — formoso, formosura ;
e assim nos mais adjectivos propriamente portuguezes, que têm
a mesma terminação, como — manhoso, receoso etc.

II. Deve usar-se de z e não de s entre vogaes

1.° nas palavras derivadas do latim, onde tiverem c ou t a que
possa corresponder o nosso z, como — juizo (de judicium), vizinho
(de vicinus), razão (de ratio) etc. ;

2.° nos verbos acabados em zar, zer, zir, como — amenizar,
dizer, conduzir
 ;

3.° no plural dos nomes, cujo singular acaba em az, ez, iz,
oz
e uz, como — vozes, luzes ;

4.° nos nomes de qualidades acabados em eza, como — barateza,
belleza, frieza
, etc. :99

5.° nos numeros de dez até dezenove ; e bem assim — dezena,
duzentos, trezentos
 ;

6.° nos diminutivos, como — paezinho, mãezinha, florzinha.

III. Devem escrever-se geralmente com s as terminações as, es,
os, us
, sendo breves ou pluraes de monosyllabos, como — armas,
pontes, campos, tribus, pés, nós, pós
. Sendo porém estas syllabas
longas por accento agudo ou circumflexo, escrever-se-ão com z,
como — rapaz, cortez, feliz, veloz, arcabuz. As palavras derivadas
d’estas conservam o z, como — rapaziada, cortezia, arcabuzada
etc.

203. Th. Escrevam-se com th sómente as palavras derivadas
do grego escriptas com θ (théta), como — atheu, athleta, arithmetica,
cithara, epitheto, these
(e seus compostos), methodo, lethargo,
mathematico, thalamo, thema, theologia
, etc.

204. V. Vêde o que dissemos do b (187).

205. X. As palavras que começam por x com som sibilante
são as seguintes : — xacôco, xadrez, xairel, xantina, xaque, xaquêca
ou enxaquêca, xara, xarafim, xarife, xante, xarôco, xarope,
xarrôco, xeque
. Do x confundido com ch e do seu duplice
valor, como ou is, vêde o que a respeito d’estas letras dissemos
na prosodia.

Consoantes dobradas

206. Dobram-se as letras ou por effeito da derivação ou da
composição das palavras.

207. Devem escrever-se com letra dobrada as palavras derivadas
de linguas extranhas, onde tambem assim se escrevem, como
bôcca, sêcco, peccado (de bucca, siccus, peccatum) ; e as compostas
das preposições com, em ou en, in, cuja parte primitiva
começa por m ou n, como — commandar, commetter, communicar,
emmagrecer, emmalar, ammanquecer, emmudecer, ennegrecer,
ennobrecer, ennodar, innato, innavegavel
, etc.

208. As preposições ad, con, in, ob e sub, mudam na composição
100(ordinariamente de palavras tomadas do latim) o d, n e b
na letra por que principiam as palavras a que estão unidas.

Exemplos

Ad muda o d

em f | affavel, affecção, affectar, affecto,
affeição, afferir, affirmar ;

em g | aggregar, aggredir, aggressão ;

em l | alligar-se, alliviar, allivio, allocução,
alludir, allusão ;

em an | annotar, annotação, annuir, annunciar,
annúncio ;

em ap | appellar, appellido, appenso, applicar,
appor ;

em s | assentir, assessor, asseverar, assiduo,
assignar ;

em at | attender, attestar, attracção, attrahir,
attribuir ;

Com ou con muda o n

em l | collaborador, collateral, collação,
collecção, collecta, collegio, colligação,
colligar, colligir, collisão,
collocar, colloquio ;

em r | corrigir, corroborar, corroer, corromper,
corrupção, corruptivel,
corruptivo, corruptor.

In muda o n

em l | illação, illaquear, illegitimo, illeso,
illibado, illicito, illimitado, illudir,
illusão, illuminar, illustrar, illustre ;

em r | irracional, irradiação, irrefragavel,
etc.

Ob muda o b

em p | oppôr, opportuno, opposto, oppositor,
opprimir, opprobio, oppugnar.

Sub muda o b

em p | supplantar, supplemento, supplente,
supplicante, supplicar, supplicio,
suppôr, supprimir, suppressão,
supprir, suppurar.

209. As letras que se dobram são : b, c, d, f, g, l, m, n, p,
r, s, t
.101

210. Não podem estabelecer-se regras certas para todos os
casos em que hajam de se dobrar as letras, porque a cada passo
as veriamos desmentidas por muitas excepções ; todavia aponctaremos
aqui duas das mais geraes.

I. Dobra-se letra só entre vogaes ou entre vogal e l ou r, como
alli, agglomerar, aggravo.

II. Dobram-se as letras c, f, l, m, n, r, nas palavras que começam
por oc, of, dif, of, suf, il, im, in, ir ; como — occasião,
diffundir, offerecer, suffocar, illuminar, immortal, innato, irreligião
.
Exceptuam-se : ocio, ôco, oculo, ocre, imagem, imitar,
ira, iris
.

A práctica e a licção dos diccionarios ensinarão os outros casos,
em que as letras se dobram, principalmente nas syllabas médias.

Uso das letras maiusculas

211. Escrevem-se com letra maiuscula no princípio :

1.° A primeira palavra de qualquer periodo, poncto ou verso.

Ex. : « Virtude sem Deus, é palavra sem sentido. A honestidade natural,
de que tantos philosophos se têm vangloriado, é uma chimera. »

« Morre um affecto, outro nasce,
Passa um desejo, outro vem,
Depois d’um sonho, outro sonho,
De tantos que a vida tem (1)81. »

2.° A palavra que se segue a poncto de interrogação ou admiração,
tendo estas acabado.

Ex. : « Que nova prudencia nos ensina a aventurar em uma só batalha,
o que se tem ganhado em tantas? Temos podêr para nos conservar
inteiros, não temos fôrças para nos reparar perdidos (2)82. »

« Oh! Não me fujas? Assi nunca o breve
Tempo fuja de tua formosura (3)83. »102

Mas se a pergunta fôr dividida em partes, bastará escrever
com letra minuscula a palavra, que se seguir ao poncto de interrogação.

Ex. : « Por ventura a fome do pobre é o prato do rico? ou o padecer
aquelle é arrecadar este (1)84?… »

3.° A primeira palavra de uma citação de dicto ou sentença,
que se segue a dous ponctos.

Ex. : Disse Seneca : « Muito aproveita á quietação falar pouco com
os outros, e muito comsigo. »

4.° O nome de Deus e todos os proprios.

5.° Os nomes communs de titulos de honra e dignidades, quando
se applicam particularmente a uma pessoa, como — Rei de Portugal,
Duque de Saldanha, Marquez de Loulé, Patriarcha de
Lisboa, Bispo de Coimbra, Secretario d’Estado, Par do Reino

etc.

6.° Os nomes de tribunaes e corporações, os de sciencias, artes
e profissões, quando fazem o objecto principal do discurso :
como — Secretaría d’Estado, Supremo Tribunal de Justiça, Relação
do Porto, Introducção, Geometria, Instrucção Primaria,
Secundaria, Eschola Normal, Desenho, Pinctura
, etc.

7.° Qualquer palavra que exprima idêa importante, como —
D. Fernando o Formoso, D. Pedro o Justiceiro.

Capitulo II
Da ponctuação

212. Chama-se ponctuação a collecção dos signaes orthographicos,
com que na escriptura dividimos as differentes partes do
discurso, e indicâmos na leitura as devidas pausas e inflexões de
voz, para mais suavidade e intelligencia do que se lê.103

213. Os signaes orthographicos são : virgula (, ), poncto e virgula
( ;), dous ponctos ( :), poncto final (.), poncto de interrogação
(?), poncto de admiração (!), parenthese (), reticencia (…),
travessão (-), dierese (¨), apostropho (‘), virgula dobrada
(« … »), linha de união ou hyphen (-).

214. Virgula. A virgula indíca na leitura uma pequena
pausa, com inflexão de voz um pouco levantada no fim da palavra
que a precede. Seus usos são os seguintes :

1.° Divide os vocativos, substantivos, adjectivos e verbos continuados,
se não estiverem ligados por alguma das conjuncções e,
nem, ou
.

Ex. : « Não vos hão de faltar, gente famosa,
Honra, valor e fama gloriosa (1)85. »

« Arranca o estatuario uma pedra…tosca, bruta, dura, informe (2)86… »

« O touro busca, pondo-se deante,
Salta, corre, assovia, acena e brada (3)87. »

2.° Separa em geral orações, quer plenas quer ellipticas, e
phrases ou expressões oracionaes.

Ex. : « Estava já tão murcha, e a mesma Helena tão outra, que,
vendo-se ao espelho, pelos olhos que já não tinham a antiga viveza
lhe corriam as lagrimas (4)88. »

3.° Encerra orações ou phrases encravadas noutras.

Ex. : « O homem, disse Aristoteles, é mais propenso a seguir o bem
em particular, do que em geral e abstractamente (5)89. »

215. Poncto e virgula. O poncto e virgula indíca na
leitura uma pausa maior que a da virgula, sem todavia abaixar
nem levantar a voz. Emprega-se nos casos seguintes :

1.° Serve para extremar os membros do periodo, mormente
quando tiverem orações annexas já divididas por virgula, ou
104forem seguidos das conjuncções mas, porém, porque, todavia,
etc.

Ex. : « Ia o sol caindo, e não havia braço que caisse ou mostrasse
cançar ; cerrava-se o dia e a briga cada vez mais quente e mais accesa,
e parecia que por momentos refrescava (1)90. »

— « A verdade com sua fôrça não sómente vence as cousas, que o tempo
com seu discurso vai extinguindo e annullando ; mas ainda triumpha
do mesmo tempo (2)91. »

2.° Separa dous membros do periodo de sentido contrário.

Ex. :« Gloria foi do imperio romano vencer muitas batalhas Quinto
Fabio Maximo ; depois foi salvação escusar uma (3)92. »
3.° Divide uma serie d’orações principaes e não-principaes, ou
de complementos, que estão debaixo da mesma regencia, mormente
sendo extensos.

Ex. : « Miguel Vaz mandou derribar os pagodes das ilhas de Goa ;
fez desapparecer as públicas idolatrias, festas e superstições gentilicas ;
desterrou com auctoridade real os bramenes, que mais impediam a dilatação
da Fé. (4)93 »

— « Rumecão, mostrando-se mais ousado no perigo vizinho, disse aos
seus que, se o governador quizesse pelejar na campanha, entrariam os
mouros na fortaleza pelas portas, não pelas muralhas ; que com as bandeiras
portuguezas esperava varrer a casa do propheta ; que pelejavam
pela liberdade de tantos principes, que gemiam opprimidos do pêso da
servidão e tributos ; que poupassem o valor para vingar injúrias de
muitos annos em um só dia ; que com o pêso de tantas victorias já não
podia o estado ; que ordenava a fortuna trazel-os junctos para os acabar
de um só golpe (5)94. »

216. Dous ponctos. Os dous ponctos indicam na leitura
uma pausa maior que o poncto e virgula, com a mesma inflexão
de voz.105

Empregam-se os dous ponctos :

1.° Para dividir as partes mais nobres do periodo, já divididas
por virgula e poncto e virgula.

Ex. : « Quem soffre, sempre vence ; e quem offende, sempre é vencido ;
porque não ha cousa mais abatida que o vício, nem mais poderosa
e dominante que a virtude (1)95. »

2.° Antes de uma fala ou citação.

Ex. : Disse Sallustio : « Nem os exercitos nem os thesouros são os
presidios do reino, senão os amigos (2)96. »

3.° Depois de qualquer membro, que faz esperar ou annuncia
um consequente ; o que se conhece, se depois d’esse membro podermos
subintender alguma d’estas phrases — o seguinte, a saber,
taes são
, etc.

Ex. : Diz o dictado : « Usa, serás mestre. »

— « Tres cousas, dizia Socrates, que queria seus discipulos tivessem :
prudencia no ânimo, vergonha no rosto, silencio na lingua (3)97. »

217. Poncto final. O poncto final indíca na leitura a
pausa maior, ou suspensão inteira, abaixando a voz. Emprega-se
quando o pensamento está completo.

Ex. : « Esta é no homem uma perfeição, o conhecimento da sua imperfeição.
Não é pouco conhecer um homem, que não sabe (4)98. »

Tambem se usa para notar uma palavra abreviada, e neste caso
chama-se poncto de abreviatura ; seguindo-se todavia a ponctuação
que devesse ter a mesma palavra abreviada, se estivesse por extenso.

Ex. : « Pois, sr., de que servirá logo tanto trabalho sem fructo?… (5)99 »

218. Poncto de interrogação. O poncto de interrogação
106é o signal, que mostra acabar o discurso em tom interrogativo
ou consultivo.

Ex. : « Custa a largar aquillo que veio por vias illicitas : mas como
ha de conservar-se, a que titulo, com que fundamento, se é alheio?
Receia-se a pobreza : mas como se quer prevenil-a, ou evital-a, com
redditos da injustiça? (1)100 »

219. Poncto de admiração. O poncto de admiração
ou exclamação fecha o discurso, que exprime subito transporte,
surpreza, compaizxão, indignação, etc.

Ex. : « Oh gloria de mandar! Oh vã cubiça
D’esta vaidade, a que chamâmos fama!
Oh fraudulento gôsto, que se atiça
C’uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho, e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades nelles experimentas! (2)101 »

220. Parenthese. O parenthese encerra palavras ou orações,
que, não fazendo parte do discurso, todavia o explicam ou
illustram.

Ex. : « Eu com meus vassalos e com esta
(E dizendo isto, arranca meia espada)
Defenderei da fôrça dura e infesta
A terra nunca d’outrem sobjugada. (3)102 »

Mas se a explicação ou illustração fôr curta, bastará encerral-a
com virgulas.

Ex. : « A virtude, diz Seneca, tem fome de difficuldades, e d’ellas sustenta
a sua gloria (4)103. »

221. Reticencia. A reticencia serve para notar a suspensão
repentina do que se leva dicto, a correcção ou mudança
d’ordem de idêas, omittindo palavras que se deixam á intelligencia
do leitor.

Ex. : « Á beira do Tejo, sozinha, sentada,
Tam triste, tam triste!… De triste dormi (5)104. »107

222. Travessão. O travessão emprega-se geralmente
para indicar uma pausa mais extensa e significativa que a do poncto
e virgula, e para junctamente attrahir a attenção dos leitores
sôbre as palavras que se seguem.

Ex. : « …E lá dormes, cidade, inda quêda!
E a choça já vive, já disse — aqui estou (1)105. »

Serve tambem para indicar um novo interlocutor, e colloca-se
no principio da fala.

Ex. : « E quando (disse o doutor) faremos breves em uma carta? —
Quando (respondeu Leonardo) de tal maneira, e com tal artificio a escrevermos,
que se intendam d’ella mais coisas, do que tem de palavras. —
E como póde ser? (tornou o doutor). — Por meio dos relativos e subsequentes
(disse Leonardo), que, sem nomear as palavras as repetem,
etc. (2)106. »

223. Dierese. A dierese são dois ponctos postos sôbre
uma de duas vogaes reunidas, para indicar que ellas se devem
pronunciar separadamente, como se fôssem duas syllabas, e não
como diphthongo : como — adaïl, alaüde, ataüde, apaülado, saüde.
Costuma supprir-se este signal com o accento agudo, d’este modo
adaíl, alaúde, ataúde, etc.

224. Apostropho. O apostropho é uma virgula posta por
cima da palavra, onde se supprimiu letra ou letras por alguma das
figuras syncope, apocope, synalepha ou ecthlipse ; como — esp’rança,
San’Pedro, d’este, co’os filhos
, etc.

225. Virgula dobrada. A virgula dobrada serve para
indicar, que as palavras com ella marcadas são d’outrem, ou transcriptas
textualmente d’algum auctor. Os exemplos são aqui frequentissimos.

226. Risca de união ou hyphen. A risca de união
posta entre duas ou mais palavras, mostra que ellas se devem pronunciar,
108como se foram uma só ; como — metrico-decimal, agua-ardente,
Monte-mór-o-velho, cumpre-me
, etc. Serve tambem para
dividir uma palavra em syllabas, principalmente quando ella não
cabe no fim da linha, e o resto passa para a seguinte. A este respeito
observem-se as regras seguintes :

1.ª Nunca se partam diphthongos nem syllabas, mas divida-se
a palavra de maneira, que fiquem syllabas justas tanto no fim,
como no principio da linha seguinte.

2.ª Concorrendo duas consoantes similhantes, deve uma ficar
no fim, e outra passar para o princípio da linha seguinte ; como
bel-lo, guer-ra, as-sumir, at-tender.

3.ª Concorrendo duas consoantes diversas, como — bl, br, cl,
cr, dr, tl, tr, pl, pr, gn, mn
(muta com liquida), e todas as mais
que forem proprias para começar syllaba, pertencem ambas á vogal
seguinte ; como — a-brir, te-cla, sa-cro, a-dro, di-gno, da-mno,
ac-ção
, etc.

4.ª As palavras compostas de preposições dividem-se por estas ;
taes são as que principiam por ab, ad, an, com ou con, de, des,
em
ou en, im ou in, ob, per, pro, circum, sub, super e trans ;
como — ab-uso, ad-ornar, an-nuir, com-metter, con-nexo, con-spirar,
con-stipar, con-stricção, de-screver, de-scripto, de-scripção,
des-affecto, des-attender, des-agrado, des-engano, des-uso,
em-maçar, en-nevoar, im-mortal, in-epto, in-habil, in-screver,
in-scrutavel, in-spirar, in-star, in-struir, ob-edecer, ob-repticio,
ob-scuro, ob-star, per-enne, per-orar, per-scrutar, per-spicaz,
pro-scripto, pro-specto, circum-screver, circum-specto, circum-stancia,
sub-ordinar, sub-repticio, sub-screver, sub-stantivo, sub-urbio,
super-abundante, super-stição, trans-acção, tran-scender,
trans-ição, trans-ido
.

Serve tambem o hyphen para unir aos verbos os pronomes me,
te, lhe, lhes, nos, vos, se
, como — dize-me, deves-me, póde-se,
etc.

Finalmente, nunca passe para a linha seguinte uma vogal só
(ainda que forme syllaba inteira), nem signal orthographico, como
virgula, poncto, etc., pertencentes á última palavra da linha antecedente.109

1(1) O alphabeto da lingua portugueza consta de vinte e cinco letras,
que têm duas figuras : uma grande ou maiuscula, outra pequena ou minuscula.
São maiusculas — A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S
T U V X Y Z
 ; e minusculas — a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u
v x y z
.

Costuma-se dar o nome de alphabeto á serie de letras de qualquer
lingua, tirado de alpha e beta, os dois primeiros caracteres da lingua
grega. O k e y pertencem ao alphabeto grego, e usam-se em portuguez
na escriptura das palavras peregrinas, que na propria lingua tambem
os têm.

2(2) Dizem-se consoantes, porque só com vogal.

3(3) Assim chamadas das palavras latinas os, oris (bôcca), e nasus (nariz) :
porque o som das oraes vem da bôcca, e o das nasaes da bôcca e
do nariz.

4(4) As consoantes, conforme os orgãos vocaes d’onde provêm, chamam-se
gutturaes G (gu) Q ; linguaes Ç, S, Z, G (Ge), J, X ; linguo-palataes
R forte, R brando, L, LH, N, NH ; linguo-dentaes D, T ; dento-labiaes
F, V ; labiaes B, P, M
.

5(1) Tambem em algumas palavras tem o som de k, como se verá na
Prosodia.

6(2) D’antes usava-se dos diphthongos au e eu no principio ou meio das
palavras, e ao e eo no fim ; porém hoje escreve-se sempre au eu, tanto
no principio como no fim das das palavras, como — auto, philaucia, quinau,
euro, celeuma, chapeu
.

Os diphthongos oe e ue empregam-se no plural dos nomes, que no
singular acabam em ol e ul, como — rol, roes, azul, azues.

7(1) Abstracto quer dizer — separado, em contraposição a concreto, que
quer dizer — inherente, unído. Exprimimos qualidades em concreto,
isto é, com relação de inherencia a subjeito, quando dizemos — homem
honrado, mulher formosa, filho obediente ; e em abstracto ou sem aquella
relação de inherencia, quando dizemos — honra, formosura, obediencia.

8(1) Os classicos usaram os pluraes alferezes, ourivezes, simplices, e cáeses.
(Moraes).

9(1) Cujo, cuja, tanto no singular como no plural, val o mesmo que do
qual, da qual, dos quaes, das quaes
 ; e vai para o genero e numero da
cousa possuida : como — « Aquelle Deus, cuja causa defendiam, era o auctor
das victorias ; » isto é, a causa do qual Deus, etc. (J. Freire).

10(2) « Cuja será a victoria em tanta differença de uns e outros combatentes? »
Isto é : De quem será a victoria, etc. (Vieira).

11(1) Os numeraes e superlativos, quando exprimem parte d’alguma somma,
tambem se chamam partitivos : ex. : « Uma das maximas, que se deviam
evitar entre os politicos, » etc. (Vieira). « O maior dos oradores. »

12(2) O adjectivo tal, precedido de qual, é comparativo, como — « Qual
pae, tal filho. »

13(1) Isto, isso, aquillo, tudo, nada, querem mui auctorizados philologos,
tanto antigos como contemporaneos (entre estes o Sr. Cardoso), que sejam
formas substantivadas dos determinativos este, esse, aquelle, todo, nenhum.
Isto, por exemplo, equival a dizer — este objecto, esta ou estas coisas,
etc. « Tudo está bom » é o mesmo que — todas as pessoas ou coisas estão
boas.

14(1) A al e algo, formas de outro algum, se applica o mesmo
que ha pouco dissemos sobre isto, isso, etc. Al quer dizer outra cousa,
cousa diversa, mais. « Al não façais » outra cousa ou o contrario, fórmula
muito usada na nossa antiga legislação. — « Tudo o al é sonho de infermos ;
isto é, tudo o mais, etc. (Sousa). Algo é o mesmo que alguma coisa.

15(2) Junctando-se ao pronome eu algum adjectivo, póde deixar de ser
subjeito para exercer na oração as mesmas funcções, que os nomes. Ex. :
« Em mim ha dois eus, um segundo a carne, outro segundo o espirito.
(Heitor Pinto).

16(1) O pronome se chama-se reflexo por denotar, que a acção reverte
para o mesmo subjeito que a practicou ; como — « A gralha enfeitou-se
com as pennas do pavão. »

17(1) Moraes.

18(2) O mesmo.

19(3) Todavia encontràmos a cada passo com artigo nomes proprios de
regiões, rios, ilhas e montes : como — o Mondego, o Tejo, a India, o
Japão, etc. Nestes casos o artigo faz subintender o nome commum que
lhes compete, como — o rio Mondego, o rio Tejo, a região da India, o
imperio do Japão, etc. A palavra, que succede ao nome proprio para
exprimir alguma qualidade que lhe respeita, e por onde elle é vulgarmente
conhecido, sempre leva o artigo ; como — D. Afonso o conquistador :
D. Sancho o capello. « Em regra, diz Balmes, todas as vezes
que o nome proprio vier acompanhado de artigo, subintende-se sempre
algum nome commum. Isto é o mais logico, mas não quero dizer,
que esta regra careça de excepção : nada mais vulgar, do que encontrar
nas linguas anomalias, que não se accommodam exatamente com o
rigor philosophico. »

20(1) Não temos participios do futuro, porém dos participios do futuro latinos
em rus tomámos as palavras vindouro, futuro, duradouro, (de venturus,
futurus, duraturus
, o que ha de, ou está, para vir, ser, durar) ; e
dos passivos em dus, as palavras ordinando, examinando, (de ordinandus,
examinandus
, o quo ha de, ou está, para ser ordenado, examinado) ; e por
imitação amassadouro, logar para nelle se amassar ; bebedouro, vaso para
nelle beber o passaro, etc.

21(1) Vej. Arte da Gram. Port. de Figueiredo, 4.ª ediç., pag. 132,
nota 40. Genio da Ling. Port. do sr. Leoni, tom. 1.°, parte 2.ª, art. 8.°.

22(1) As 3.ª pessoas e a 1.ª do plural do imperativo são as mesmas do
presente do conjunctivo, com a única differença de que o subjeito ou
o pronome que o representa, nunca precede o imperativo, mas succede-lhe.

23(1) Além d’estes verbos auxiliares temos os seguintes :

1.° Andar, que declara ora frequencia, ora successiva continuação da
existencia do attributo, ou da acção do subjeito, como — Ando lendo
ou a ler.

2.° Ir, que exprime ora continuação d’alguma acção, ora proximidade
do que se vai fazer, como — « Vou aquecendo ou a aquecer.

3.° Estar, que á idêa primitiva e geral accrescenta a de estado, persistencia
e continuação de existencia ou acção já começada ou já acabada,
como — « Estou lendo ou a ler. Está escripto ».

24(1) Os nossos classicos usavam frequentemente da terminação condicional
ra por sse ou ria. Ex. : « Se o contentamento fiozera (fizesse) milagres,
tivera-me (teria-me ou ter-me-ia) V. S. nesta hora a seus pés,
etc. » (Vieira).

25(1) Os nossos classicos usavam frequentemente da terminação condicional
ra por sse ou ria. Ex. : « Se o contentamento fiozera (fizesse) milagres,
tivera-me (teria-me ou ter-me-ia) V. S. nesta hora a seus pés,
etc. » (Vieira).

26(1) O verbo ser é substantivo, quando exprime sómente a relação de
um attributo ou predicado a um subjeito, como — « Deus é bom » ; e auxiliar,
quando o predicado é participio perfeito passivo de verbo adjectivo,
e conjugado com elle fórma os tempos da voz passiva, como —
« Deus é louvado ».

27(1) Mais propriamente se diz presente começado.

28(1) Forma-se de louvaste, deveste, applaudiste (3.ª raiz) mudando a
terminação ste em ra, ras, ra, etc. Estas terminações são tambem condicionaes,
como já dissemos em a nota de pag. 25.

29(1) Forma-se este tempo de louva-ste (3.ª raiz), mudando ste em sse,
sses, sse
, etc. Veja-se a nota a pag. 25.

30(2) Forma-se este tempo de louvaste (3.ª raiz), mudando ste em r, res,
etc.

31(1) Nas linguagens do futuro imperfeito do indicativo e nas condicionaes,
é mais elegante metter o pronome no meio entre a fórma primitiva ar,
er, ir
e a terminação final ; como — amar-me-ei, amar-te-ás, amar-se-á :
amar-nos-emos, amar-vos-eis, amar-se-ão : amar-me-ia, amar-te-ias, amar-se-ia,
etc. : por amarei-me, amarás-te, amará-se, amaremos-nos, amareis-vos,
amarão-se ; amaria-me, amarias-te, amaria-se, etc.

32(1) Todavia Vieira disse : « Querei só o que podeis, e sereis omnipotentes…
Se quereis ser omnipotentes, podei somente o justo e licito… (Serm. t. 4.
pag. 279 da ediç. mod.)

33(1) V. Leoni, Genio da Ling. Port., tom. 2.°, pag. 299.

34(1) Moraes.

35(1) « Os participios que têm fórma regular, são geralmente os que se
conjugam com os verbos ter e haver, porque denotam uma acção feita
ou executada ; o que os outros não indicam, sendo apenas meros adjectivos
verbaes, que designam uma qualidade subsistente no subjeito,
sem relação alguma com o exercicio da mesma, como todos os adjectivos
que não são verbaes. — Assim não podemos dizer : temos afflicto
alguem
, em vez de temos affligido ; porque afflicto póde ser um estado
não promovido ou causado por outrem ; e affligido quer dizer feito afflicto :
pelo que, temos affligido significa — temos feito o acto de affligir,
ou temos feito com que alguem ficasse afflicto. » (O Sr. Leoni no seu
Genio da Ling. Port. tom. 1.° pag. 244).

36(1) Dizemos assim, porque mettem no catalogo das preposições
certas palavras que, em rigor, são meros nomes regidos de preposição,
ou adverbios. São nomes : — abaixo, debaixo, acima, arriba, de cima,
ácêrca, defronte, á roda, ao redor
. São adverbios ou locuções adverbiaes :
afóra, além, áquem, atraz, detraz, conforme, dentro, depois,
deante, excepto, juncto, longe, perto, segundo
.

37(1) Alguns querem que mente seja um substantivo proveniente do
latim mente (ablativo de mens mentis), significando tenção ou intenção ;
outros do celtico ment, que significa modo.

38(2) Muitas vezes, para dar mais força á asserção, usâmos do adverbio
ainda e da preposição até, tomada como adverbio. Ex. « Infatuar significa
fazer prudente, fazer ignorante, fazer nescio, e ainda significa
mais… — Até Socrates, até Catão, até Lelio, que entre os gregos
e romanos foram os atlantes da virtude, se não poderiam sustentar firmes
contra o pêso e bateria dos vicios… »

(Excerptos de Vieira no Fundamento de Analyse do Sr. Natividade,
pag. 220.)

39(1) Denominámos conjuncções propriamente dictas as que se
exprimem por uma só palavra, e locuções conjunctivas as que constam de
mais d’uma.

40(2) Pois e ora e as locuções que aqui lhes correspondem, são continuativas
só quando ligam periodos ; e o mesmo se poderá dizer das copulativas
e adversativas quando por ellas comece periodo.

41(1) Obstante é participio imperfeito antigo do verbo obstar. Os adjectivos
acabados em ante, ente, inte, como amante, temente, ouvinte, querem
alguns, que sejam participios correspondentes aos imperfeitos ando,
endo, indo
 ; outros, que sejam meros adjectivos verbaes com o mesmo regime
dos verbos d’onde se derivam, como — tocante a, descendente de, e
por isso, segundo Moraes, é mais correcto dizer — « mediantes as quaes
promessas ; não obstantes quaesquer leis » do que mediante as quaes, não
obstante quaesquer, etc. « As cousas tocante a » é gallicismo ; devendo ser
tocantes a.

42(2) Faz contraste ás pharses negativas, como neste exemplo : « Não posso
fazer estas regras senão por mão alhêa. » (Vieira).

43(3) Phrase negativa e circumstancial, que equival a esta — porém
quando menos
se esperava.

44(1) As palavras que ficam indicadas na lista das conjuncções, nem todas
o são, mas simplesmente adverbios, nomes, ou adjectivos, que, por terem
a virtude de ligar e subordinar as orações, valem por conjuncções.

45(1) O subjeito, da 2.ª pessoa, quando exprime a cousa ou pessoa a
quem chamâmos, exhortâmos, invocâmos, etc., com a interjeição, ou sem
ella, chama-se vocativo : como — ó tu, ó vós, ó céus ouvi-me ; meu Deus,
valei-me, etc.

46(1) Este complemento exprime a totalidade dos individuos, cuja parte
é o collectivo ; o de collectivo indica a especie ou qualidade dos individuos
incluidos no genero, que o mesmo collectivo significa.

47(2) Todavia encontram-se exemplos em contrário mormente nos poetas,
como nos seguintes versos :

« Porque de essas honras vãs, esse ouro puro
Melhor é merecel-os sem os ter,
Que possuil-os sem os merecer. » (Camões).

« Da branca seda leva o caro esposo
As calças e o jubão de ouro lavrados. » (Corte Real).

48(1) A preposição a juncta-se ao artigo o, e contrahe-se com elle na
fórma feminina, d’esta sorte : ao, aos, á, ás (por a a, a as).

49(2) Ha differença no uso de a e para na relação de logar a ou para
onde
 : a indica ir para voltar, e para, ir para ficar.

50(1) De com o artigo perde o e por synalepha, e fica do, da, dos, das.

51(1) Com o artigo muda-se em no, na, nos, nas.

Sôbre estas formas da preposição em com o artigo o ha entre os auctores
duas opiniões differentes : Uns querem que o n seja sómente euphonico
para evitar o hiato de em com o, suppondo-se neste caso a preposição
occulta por ellipse. A este respeito diz Moraes : « Em não se
muda em n, mas cala-se antes do artigo, e a este ajuncta-se n por euphonia.
Os antigos disseram : em no tempo, em no dia, em no termo, em
n
o eu vendo ; fazer volta em na hosté, etc. » ; e accrescenta : « e ainda dizemos
familiarmente, ou diz a gente que guarda os usos antigos : quem
no
víra ; ôlho á chóca, e ôlho a quem na joga, etc., por evitar o hiato da
final em com o. » Moraes, Diccion. ediç. de 1813.

Querem outros que as mesmas fórmas provenham das antiquadas eno,
ena, enos, enas
(a preposição en per em), elidido o e por apherese. Genio
da Ling. Port
. do Sr. Leoni, tom. 2.°, pag. 76.

52(1) Por (em vez de per) com o artigo muda-se por antithese em pelo,
pela, pelos, pelas
.

53(1) Bernardes.

54(1) Sousa. Vid. do Arc.

55(2) H. Pinto.

56(1) J. Freire.

57(2) H. Pinto.

58(3) O mesmo.

59(4) Bernardes.

60(5) J. Osorio.

61(6) Lucena.

62(7) J. Freire.

63(1) H. Pinto.

64(2) J. Freire.

65(3) Bernardes.

66(1) Lus., c. 1.°, est. 9.

67(2) Ibid., c. 7.°, est. 50.

68(3) Ibid., c. 2.°, est. 91.

69(1) Em « houve homens, havia iguarias, » homens e iguarias não são
subjeitos ; são complementos objectivos. Houve e havia e todas as fórmas
d’este verbo são sempre synonimas das do verbo ter. Houve homens
correspondente a teve (o mundo) homens ; havia iguarias corresponde a tinha
(a mesa) iguarias. E assim em outras phrases subintende-se sempre
um subjeito accommodado aos complementos objectivos e suas circumstancias. »
(Nota do Sr. Cardoso nos Log. Select., 5.ª edição).

70(1) Vieira.

71(2) Camões.

72(3) Lus., cant. 3.°, est. 134.

73(1) O n aqui, e em muitos casos identicos, é euphonico para tirar o
hiato de em com o. Vej. a nota á preposição em, pag. 71.

74(2) Muitas vezes, por dialepha, deixa de se fazer synalepha, como
neste verso — « Sôbre as asas inclytas da fama. »

75(1) É mais correcto capitânea, adjectivo derivado de capitão.

76(1) Lus., cant. 6.°., est. 72.

77(1) Vej. o citado Genio da Ling. Port. do Sr. Leoni, tom. 2.°, pag. 292.

78(1) Nas provincias do norte do reino faz-se distincção entre a pronúncia
do x e do ch : a d’aquelle é mais líquida e sibilante, como em xadrez,
deixar
 : a d’este é mais sêcca e forte, como em chamar, chapéu.
Esta pronunciação do ch (tch) tem duas vantagens : 1.ª de additar o
alphabeto do nosso idioma com mais uma articulação, e de ser por isso
uma dificuldade vencida para quem deseje apprender o hespanhol, o
italiano, o inglez, e até o allemão ; 2.ª de não se confundirem algumas
palavras de significação muito diversa, as quaes necessariamente soffrem
confusão pronunciando-se á lisboeta, como, por exemplo — bucho e
buxo, facha e faxa, tacha e taxa, etc.

79(1) V. pag. 54, prep. in.

80(1) Vej. a nota de pag. 90.

81(1) Sr. J. de Lemos.

82(2) J. Freire.

83(3) Lus., c. 9.°, est. 79.

84(1) Bernardes.

85(1) Lus.

86(2) Vieira.

87(3) Lus.

88(4) Vieira.

89(5) Bernardes.

90(1) Sousa.

91(2) Heit. Pinto.

92(3) J. Freire.

93(4) Lucena.

94(5) J. Freire.

95(1) Bernardes.

96(2) H. Pinto.

97(3) O mesmo.

98(4) O mesmo.

99(5) J. Osorio.

100(1) Bastos.

101(2) Lus., cant. 4.°, est. 95.

102(3) Ibid., est. 19.

103(4) Bernardes.

104(5) Sr. J. de Lemos.

105(1) Sr. J. de Lemos.

106(2) Lobo, Côrte na Aldêa, dial. 3.°.