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Dias, Augusto Epifânio da Silva. Grammatica portugueza elementar – T01

Grammatica prática da lingoa portugueza

Preliminares

1 Grammatica prática de uma lingoa é o tratado das
leis que se observão, quando se falla ou escreve essa
lingoa.

Grammatica prática portugueza é, pois, o tratado
das leis que se observão, quando se falla ou escreve a
lingoa portugueza.

Parte primeira
Phonologia
ou
tratado dos sons

2 Os sons elementares da lingoa portugueza são os
representados pelos caractéres italicos das seguintes palavras:

a) sons denominados vogaes:7

1. casa, mana
2. dama, concelho (*)1, empenho (**)2
3. banda, tampa, maçã

4. marmelo, maré
5. menos, mercê
6. fome, visita
7. vento, tempo

8. ninho, typo, eleição
9. lindo, fim

10. fome, avó
11. pomo, avô
12. fonte, som

13. fumo; -cravo
14. mundo, tumba;

b) sons denominados consoantes:

1. cama, queijo, quatro, kalendario, archipelago,
sexo (que se pronuncia secso)

2. gallo, guindaste

3. torre
4. dedo

5.
6. banho

7. nodoa
8. vinho
89. mano

10. luxo, chave, espelho, rapaz
11. jarro, gemido, resma

12. aço, massa, sapato, face, reflexão
13. mezes, casa, exemplo (pronuncia-se eizemplo)

14. faca, phosphoro
15. veia

16. ramo, carro
17. pera

18. luz
19. olho

Demais, toda a vogal do principio de uma palavra
(v. g. aba, ovo) é precedida de uma branda aspiração,
que podemos considerar a vigesima consoante. Esta
branda aspiração não tem signal que a represente.

3 As vogaes 3ª, 7ª, 9ª, 12ª, e 14ª, chamão-se —
nasaes; as restantesoraes.

4 O a, quando representa o primeiro som vogal, chama-se
a aberto; quando representa o segundo som
vogal, chama-se — a fechado.

O e, quando representa o quarto som vogal, chama-se
e aberto; quando representa o quinto ou o segundo,
chama-se — e fechado; quando representa o
sexto, chama-se — e surdo.

O o, quando representa o decimo som vogal, chama-se
o aberto; quando representa o undecimo,
chama-se — o fechado; quando representa o decimo
terceiro, chama-se — o surdo.9

5 A duas vogaes seguidas que se pronuncião com um
só esforço de voz, v. g. eu, dá-se o nome de — diphthongo.

Os diphthongos portuguezes são os representados
pelos caractéres italicos das seguintes palavras:

1. mais, pae
2. paiol, rei, exemplo
3. mãe, bem (que se lê como se estivesse bẽi), refens

4. pauta, máo
5. orgão, amaram

6. geleia

7. chapeo
8. meu, lyceo

9. boia, anzoes
10. boi
11. botões

12. couve

13. fui
14. muito (que se lê como se estivesse mũito).

Os quatro diphthongos em que entra vogal nasal (§ 3),
têm o nome de — diphthongos nasaes, os restantes
o de — diphthongos oraes.

6 As palavras constão de syllabas, as quaes são
constituidas por uma vogal ou diphthongo, ou sós ou
com as respectivas consoantes.

Uma palavra que tem uma só syllaba, v. g. pão, denomina-se
monosyllabo. As que têm mais de uma
10syllaba, v. g. prata, tinteiro, chamão-se polysyllabos.

7 a) Quando examinamos um polysyllabo, v. g. rama,
periquito
, vêmos que ha uma syllaba cuja vogal é pronunciada
com mais força do que as vogaes das outras
syllabas. A maior força com que é proferido o som de
uma vogal de um polysyllabo, tem o nome de — accento
tonico
.

As palavras portuguezas têm o accento tonico ou na
ultima syllaba, v. g. coração (palavras agudas), ou
na penultima, v. g. assucar (palavras graves), ou na
antepenultima, v. g. decametro (palavras esdruxulas
ou dactylicas).

b) Ha monosyllabos que, em certos casos, se pronuncião
subordinados ao accento tonico de uma palavra
precedente, v. g. entregavão-se-nos. As palavras que se
pronuncião d’este modo, chamão-se encliticas.

8 As regras que dizem respeito á orthoepia, isto
é, á recta pronuncia das palavras, e á orthographia,
isto é, ao recto emprego das letras e mais signaes de
que usamos quando escrevemos, encontrar-se-hão em
supplemento no fim da grammatica. Neste logar serão
indicadas unicamente as seguintes:

a) A primeira das consoantes (§ 2, b), antes de e e
i, é representada por qu, v. g. em leque, barquinho.
(Só em algumas palavras de origem estrangeira é representada
por k, v. g. em kiosque, e por ch, v. g.
em archipelago).

b) A segunda consoante, antes de a, o, u, é representada
por g, v. g. em gato, prego, gula; antes de e e
i, é representada por gu, v. g. em sangue, guitarra.

c) A undecima consoante, antes de a, o, u, é representada
por j, v. g. em janella, fojo, jumento.11

Parte segunda
Morphologia
ou
tratado das fórmas

Secção I — Das flexões

Preliminares

A. Partes da oração

9 As palavras, segundo a sua natureza e o modo como
exprimem as ideias, dividem-se em classes, chamadas
partes da oração ou partes do discurso.

1. Substantivos

10 Chamão-se nomes substantivos (ou simplesmente
substantivos):

1) as palavras com que se nomeião os seres: homem,
canario, arvore, Tejo
(substantivos concretos);

2) as palavras com que se nomeião as acções, qualidades
e estados, quando se considerão separados dos
objectos a que pertencem: viagem, ceifa, cultivação,
prudencia, alvura, doença, fome
(substantivos abstractos).

11 Os substantivos que dão a conhecer individualmente
as pessoas e as cousas, v. g. Adão, Lisboa,
Tejo
, chamão-se — substantivos proprios.

Os substantivos que designão os seres como pertencendo
a uma classe, v. g. homem, pereira, casa, chamão-se
— substantivos appellativos ou communs.12

Obs. Os substantivos que designão um aggregado de individuos
da mesma especie, v. g. gente, povo, exercito; chamão-se — substantivos
collectivos.

Exercicios. — Indique nas seguintes phrases os substantivos
concretos e os abstractos, os proprios e os appellativos: No reinado
de D. Fernando era Portugal um dos paizes que mais exportavão.
A superficie do pinhal de Leiria é quasi egual á metade da
superficie de todas as mattas nacionaes. Segue a formiga, se queres
viver sem fadiga. Setembro ou séca as fontes ou leva as pontes.
Entre as quarenta e tres universidades estabelecidas na Europa
durante o seculo decimo sexto, quatorze forão fundadas pelos
reis de Hespanha. A melhor epoca de semear a aveia é o mez de
Fevereiro. O Sado atravessa as provincias do Alemtejo e Estremadura.

2. Adjectivos

12 Chamão-se nomes adjectivos (ou simplesmente
adjectivos) as palavras com que se nomeião
as qualidades e estados como existindo nas pessoas e
nas cousas: arvore copada, paiz vinhateiro, provincia
populosa, dia frio, terreno alagadiço,
pessoa jovial, homem feliz
.

Exercicios. — Diga quaes são os adjectivos que ha nas seguintes
phrases: Os grandes rebanhos e manadas é que fazem as boas
colheitas, proporcionando as quantidades precisas de estrume para
o adubo das terras. As populações ruraes de Portugal são em geral
pouco robustas. Só o trabalho livre é fecundo. A India matou-nos
a indole rural e o genio industrial. Cuidámos ter alli um morgado,
e arruinamo-nos suppondo-o inesgotavel.

3. Nomes numeraes

13 Nomes numeraes são as palavras que determinão
as pessoas e as cousas em relação á ideia de numero:
dois tinteiros, segundo andar.

14 Nos nomes numeraes devemos distinguir:

1) os numeraes cardinaes, que exprimem simplesmente
o numero dos objectos: um, dois, tres, etc.13

2) os numeraes ordinaes, que exprimem o logar
numerico occupado por um objecto em uma serie:
primeiro andar, segundo andar.

3) os numeraes proporcionaes, que exprimem
a multiplicidade numerica dos objectos: duplo, triplo
(v. g. trinta é um numero triplo de dez).

14a a Os nomes numeraes figurão no discurso ou como
substantivos, v. g. comprei um cento de laranjas, ou
como adjectivos, v. g. cem laranjas.

Exercicios. — Indique os nomes numeraes que ha nas seguintes
phrases: No reinado de D. João primeiro, em 1422, sete annos
depois da conquista de Ceuta, o reino pouco mais contava de um
milhão de habitantes. Na Belgica setecentos e sessenta e oito mil
e cem hectares são occupados pelos cereaes. Em França occupão
as mattas a quinta parte da superficie.

4. Pronomes

15 Quando digo: comprei um relogio, dou a conhecer uma cousa
dando-lhe um nome. Se, porém, fallando do mesmo relogio, disser:
elle regula bem, com a palavra elle dou-o a conhecer, indicando-o
simplesmente. De egual modo dizendo: tu és sensato,
dou a conhecer uma pessoa, não por um nome, mas indicando-a.

Chamão-se pronomes as palavras que dão a conhecer
os objectos indicando-os; v. g. eu, tu; cão
que ladra, não morde
.

16 Os pronomes figurão no discurso ou como substantivos,
v. g. isto agrada, aquillo incommóda, ou como
adjectivos, v. g. estas creanças, aquelles vidros.

17 Exercicios. — Indique os pronomes que ha nas seguintes phrases:
Um dos vultos que mais se illustrárão na gloriosa epopeia dos
14descobrimentos do seculo XV, foi João Gonsalves Zarco, o feliz descobridor
da ilha da Madeira, essa formosa entre as mais formosas
ilhas que surgem do seio dos mares. O marquez de Pombal e Mousinho
da Silveira, conservando a instituição dos morgados, disserão
contra ella o que podia dizer-se. Nada são os thronos e as riquezas
em comparação da sabedoria.

Observação. — A palavra adjectivo, tomada em sentido
amplo, comprehende não só as palavras definidas no § 12, mas
tambem:

1) os nomes numeraes, quando entrão no discurso como adjectivos;

2) os pronomes, quando entrão no discurso como adjectivos.

Neste caso costumamos denominar os adjectivos propriamente
ditos — adjectivos qualificativos, os nomes numeraes e os
pronomes que entrão no discurso como adjectivos — adjectivos determinativos.

5. Verbos

18 Verbos são as palavras com que se enuncia e attribue
a uma pessoa ou cousa uma acção ou um estado
ou qualidade como dando-se em certa epoca: Sem trabalhos
o homem não alcançou nem alcança nem
alcançará illustre nome
.

19 Têm o nome de — verbos transitivos — os verbos
que representão uma acção que passa immediatamente
a um objecto no qual ella se exercita, v. g.
li um livro.

Têm o nome de verbos intransitivos — os verbos
que exprimem uma qualidade ou estado, ou que representão
uma acção que não passa immediatamente
a um objecto em que ella se exercite, v. g. os
animaes e as plantas crescem e vivem
.

Exercicios. — Diga quaes são os verbos transitivos e quaes os
intransitivos que ha nas seguintes phrases: As riquezas circulão na
fórma de productos e de moeda de um ao outro polo do mundo.
No seculo decimo quinto vinhão os navios venezianos a Lisboa e
aos portos do Algarve, trazendo as mercadorias do Oriente, e levando
15em troco cereaes, peixe salgado e fructas sêcas. No tempo de
D. João segundo chegára a população de Portugal a muito perto de
dois milhões de habitantes. Aveia de Fevereiro enche o celleiro.
Do luxo desenfreado ao vicio, á corrupção, só dista um passo. O
centeio gosta de terras soltas e fraqueiras, não padece com o frio, e
receia pouco a secura, agradece dois a tres ferros antes da semente,
e quasi sempre dispensa a monda.

20 Observação. — A um agregado de palavras reunidas
por um verbo e formando um sentido dá-se o nome
de — oração ou preposição.

Assim ha uma só oração na seguinte phrase: Cada
kilometro de linha ferrea com duas vias gasta duas mil
travessas fasquiadas
. No trecho seguinte ha seis orações:
Um producto encarece, quando se offerece pouco e
se procura muito, e embaratece, pelo contrario, quando
afflue ao mercado e não acha compradores em proporção
da quantidade
.

6. Adverbios

21 Adverbios são as palavras com que se exprimem
as circumstancias de uma acção ou qualidade ou
estado, v. g. Os grandes melhoramentos semore custão
sacrificios
, ou o modo de enunciar um pensamento
v. g. O que o presente admira, talvez aos olhos do futuro
pareça bem pouco
.

22 Segundo a sua significação os adverbios dividem-se
em:

1) adverbios de logar: aqui, alli, onde;

2) adverbios de tempo: sempre, hoje;

3) adverbios de modo (tomada esta palavra em sentido
amplo): assim, facilmente, assaz, não quero.

Obs. — Denominam-se locuções adverbiaes os circumloquios
equivalentes a um adverbio, v. g. em vão, em geral.16

Exercicios. — Diga quaes são os adverbios de logar, quaes os
de tempo e quaes os de modo, que ha nas seguintes phrases: Camões
é respeitado universalmente como um dos grandes genios creadores
da moderna Europa. A divisão da propriedade já é grande
em Portugal e ha de augmentar ainda, porque a acção das leis a favorece.
A paciencia é um firme arnez, onde seguramente se recebem
os duros golpes da adversidade. Quasi nunca aportava a Goa
metade da gente sahida de Lisboa nas armadas.

7. Preposições

23 Preposições são as palavras que exprimem relações
entre duas partes de uma oração que dependem
uma da outra: Camões nasceu em Lisboa. A industria
mais humilde não póde existir sem instrumentos. Entre
paes e irmãos não mettas as mãos
.

24 As preposições portuguezas são: a, afóra, ante,
após, até, com, conforme, contra, de, dêsde, em, entre,
para, per, perante, por, segundo, sem, sob, sobre, traz
,
a que podemos ajuntar consoante, durante, mediante.

Obs. — Denominão-se locuções prepositivas oc circumloquios
que têm o valor de preposições, v. g. além de, depois
de, dentro de
.

8. Conjuncções

25 Conjuncções são as palavras que exprimem relações
entre orações, v. g. Não conhecemos a lealdade
do amigo se não o experimentamos
, ou entre partes
coordenadas de uma oração, v. g. O milho e o trigo vivem
nos paizes temperados e quentes
.

Obs. — Denominão-se locuções conjunctivas os circumloquios
que têm o valor de conjuncções, v. g. logo que, á medida que.17

9. Interjeições

26 Interjeições são as palavras com que se exprimem
immediatamente sentimentos, v. g. ai, oh, ah.

B. Palavras variaveis e invariaveis

27 Examinemos, por exemplo, as palavras canto, cantei. Ambas
affirmão de mim a acção de cantar; mas a primeira designa a
acção como presente, a segunda designa-a como passada.
Semelhantemente, as palavras cantarei, cantará, exprimem ambas
a acção futura de cantar; mas a primeira designa a acção como
havendo de ser praticada por mim, a segunda designa-a como
havendo de ser praticada por outrem. Os vocabulos canto, cantei,
cantarei, cantará
, não são evidentemente senão fórmas differentes
de uma mesma palavra destinadas a designar differentes
relações de uma mesma ideia.

As classes de palavras que varião de fórma para
exprimirem relações differentes, chamão-se — variaveis
ou declinaveis; as que não varião, chamão-se
invariaveis ou indeclinaveis.

As fórmas differentes que têm as palavras declinaveis,
chamão-se — flexões.

28 a) Uma palavra declinavel posta ou considerada no
seu estado fundamental, chama-se — radical ou
thema; por exexmplo canta é o radical ou thema das
fórmas verbaes canta-va, canta-vas, canta-vamos, canta-ste,
cantá-mos, cantá-ra, canta-r, canta-rmos
.

b) As letras ou syllabas que se pospõem ao radical
de uma palavra declinavel para exprimir as differentes
relações da ideia, chamão-se — desinencias; em
canta-va, canta-ste, por exemplo, va, ste, são desinencias.18

Obs. 1. — Muitas vezes o proprio radical da palavra declinavel
é modificado, já variando o som de uma vogal, v. g. louvá-mos,
louvâ-mos
, já em consequencia de outras alterações.

Obs. 2. — Algumas palavras declinaveis apresentão o radical
só, sem desinencia; assim em canta ha apenas o radical (em cantamos
já ha radical com uma desinencia).

Obs. 3. — A’s vezes a desinencia confunde-se de tal modo com
o radical que não é possivel extremar os dois elementos. E’ o que
segundo veremos, acontece frequentemente nas fórmas dos verbos.

Obs. 4. — Terminação é uma expressão que designa de
um modo vago a parte final de uma palavra.

29 São declinaveis: os substantivos, adjectivos, nomes
numeraes, pronomes e verbos; são indeclinaveis: os adverbios,
preposições, conjuncções e interjeições.

Capitulo I — Do substantivo

A. Numeros

30 A fórma em que um substantivo (e tambem um adjectivo,
nome numeral ou pronome) designa uma só pessoa
ou cousa, v. g. caixa, diz-se — numero singular;
aquella em que designa mais de uma, v. g. caixas,
diz-se — numero plural.

Obs. — As palavras que têm numeros, nomeião-se no singular.

Formação do plural dos substantivos

31 a) Os substantivos terminados no singular em vogal
oral, diphthongo (que não seja em) ou n, põem-se
no plural acrescentando-se-lhes um s: caixa caixas, lei
leis, germen germens
.19

Todavia os substantivos terminados em ão formão o
plural, na maior parte, mudando o ão em ões, v. g. coração
corações
; muitos, porém, formão-no com o acrescentamento
de um s, v. g. grão grãos, e alguns com a
suppressão do o e acrescentamento de es, v. g. pão, pães.

Canon faz no plural canones, e ademan faz ademanes.

b) Os substantivos terminados no singular em em,
im, om, um
, põem-se no plural acrescentando-se-lhes
um s e escrevendo-se n em logar de m: bem bens, fim,
fins, som sons, atum atuns
.

32 a) Os substantivos terminados no singukar em al, ol,
ul
, formão o plural com a suppressão do l e acrescentamento
de es: rosal rosaes, lençol lençoes, paúl paúes.

Consul (vice consul, proconsul) e mal conservão o l no plural:
consules (vice-consules, proconsules), males; real (unidade de moeda
portugueza) faz réis.

b) Os substantivos terminados no singular em el formão
o plural com a suppressão do l e acrescentamento
de is: annel anneis.

33 a) Os substantivos terminados no singular em il accentuado
formão o plural supprimindo o l e acrescentando
um s; funil funis.

b) Os terminados em il átono (isto é, não accentuado)
formão o plural mudando o il em eis: projéctil
projecteis
.

34 a) Os substantivos terminados no singular em r ou
z formão o plural acrescentando es: flor flores, noz nozes.

Obs. — Caracter muda no plural o accento da segunda para a
terceira syllaba: carácter caractéres.20

b) Os poucos substantivos que no singular se escrevem
com s final, conservão no plural a mesma fórma:
um alferes, dois alferes.

Todavia deos faz deoses, simples faz simplices ou simples,
calis
(que tambem se escreve calix) faz calices.

Appendix (ou appendice) faz appendices, e index (ou indice)
faz indices.

Observações:

35 a) Alguns substantivos terminados em o, cuja vogal
accentuada é um o fechado, mudão no plural esse o fechado
para o aberto, v. g. ôvo, óvos.

Os substantivos em que se dá este facto, são: abrolho, almoço,
avô, cachopo, caroço, chôco, choro, composto, corcovo, corno, coro, corpo,
corvo, despojo, destroço, escolho, esforço, esposo, estorvo, fogo, forno,
foro, forro, fosso, imposto, jogo, miolo, olho, osso, ovo, pescoço,
poço, porco, porto, posto, preposto, reforço, renovo, rogo, soro, socorro,
supposto, tijolo, tojo, tordo, torno, tremoço, troco, troço
(*)3.

b) Alguns substantivos usão-se unicamente na fórma
do plural, ainda quando designão uma só cousa, v. g.
exequias.

c) Plural dos substantivos compostos:

1) Nos compostos de uma palavra invariavel seguida
de um substantivo, dá-se a fórma de plural só ao substantivo:
ante-data, ante-datas.

2) Nos compostos de um verbo seguido de um substantivo,
dá-se a fórma do plural só ao substantivo: passa-tempo,
passa-tempos, porta-bandeira, porta-bandeiras
.21

3) O plural dos outros substantivos compostos aprende-se com
o uso.

d) Sobre uma particularidade de alguns substantivos, v. § 94,
obs.

B. Generos

36 Muitos adjectivos têm uma fórma quando qualificão
nomes de seres do sexo masculino, outra quando qualificão
nomes de seres do sexo feminino, v. g. homem
alto, mulher alta
.

Os substantivos a que se ligão os adjectivos na fórma
masculina, dizem-se substantivos do genero masculino,
v. g. chapeo alto; aquelles a que se ligão os
adjectivos na fórma feminina, dizem-se substantivos do
genero feminino, v. g. casa alta.

37 Os substantivos que designão seres do sexo masculino,
v. g. homem, cavallo, são naturalmente do genero
masculino; os que designam seres do sexo feminino, v.
g. mulher, egoa, são do genero feminino.

38 Para significar o sexo masculino e o sexo feminino
ha algumas vezes (para as pessoas quasi sempre):

1) ou uma palavra diversa, v. g. homem, mulher,
frade, freira; cavallo, egoa
.

2) ou uma terminação differente, v. g. pombo pomba,
mestre mestra
. Neste caso a fórma feminina obtem-se
segundo estas regras:

Os substantivos terminados em o mudão o o em
a: filho filha, pombo pomba.

Exceptua-se diacono que faz diaconiza.22

Os terminados em ão mudão o ão em ôa: abegão
abegoa, leão leoa
.

As principaes excepções são: barão baroneza, cidadão
cidadã
(melhor que cidadoa), irmão irmã, ladrão
ladra, sultão sultana
.

Os terminados em or acrescentão um a: leitor
leitora, lavrador lavradora
.

As excepções principaes são: actor actriz, embaixador
embaixatriz, imperador imperatriz, prior prioreza
.

Os que têm outras terminações, não seguem regra
geral. Notem-se os seguintes:

abadde | abbadessa
alcaide | alcaidessa
archiduque | archiduqueza
avô | avó
czar | czarina
conde | condessa
deos | deosa
duque | duqueza
heroe | heroina
hospede | hospeda
infante | infanta

marquez | marqueza
mestre | mestra
monje | monja
peru | perua
poeta | poetiza
principe | princeza
propheta | prophetiza
rapaz | rapariga
sacerdote | sacerdotiza
visconde | viscondessa

39 a) Ha alguns substantivos que têm a mesma terminação
para ambos os sexos, mas são do genero masculino
se designão pessoas do sexo masculino, e do genero
feminino se designão pessoas do sexo feminino, v. g.
martyr; assim diz-se martyr glorioso, martyr gloriosa.
Taes substantivos denominão-se — communs de
dois
.

b) Ha tambem um pequeno numero de substantivos
que são sempre do mesmo genero, quer se refirão a
homens quer a mulheres, v. g. testemunha; assim diz-se
testemunha falsa ainda fallando de um homem.
Podem denominar-se — sobre-communs.23

40 A maior parte dos nomes appellativos de animaes
são sempre do mesmo genero independentemente do
sexo do animal; por exemplo, a palavra aguia é sempre
do genero feminino, quer se applique á aguia macha
quer á aguia femea; rouxinol é sempre do genero
masculino, quer se applique ao rouxinol macho quer ao
rouxinol femea. Taes substantivos denominão-se — epicenos.

41 O genero dos substantivos appellativos que significão
cousas inanimadas, e dos substantivos sobrecommuns
e epicenos conhece-se em uns casos pela terminação,
em outros pelo uso.

a) São do genero masculino os substantivos que no
singular terminão em:

1) i ou o surdo: aleli, muro.

2) en: germen.

3) im, om, um: setim, som, atum.

4) ao (au), éo (éu), êo (êo), oi: páo, véo, brêo, comboi.

Exceptua-se náo.

5) l: rosal, annel, funil, anzol, paúl.

Exceptua-se cal.

6) r: luar, talher, prazer, elixir, bolôr, catur.

Exceptuão-se colher, e côr, dor, flor.

7) az, oz, uz: cabaz, albornoz, arroz, capuz.

Exceptuão-se paz, tenaz; foz, noz; cruz, luz, e
(segundo as melhores auctoridades) avestruz.24

São tambem masculinos os substantivos terminados
em os, que só se usão no plural, v. g. bredos, brocolos.

b) São do genero feminino os substantivos que no
singular terminão em:

1) ã (an): lã

Obs. — Afan e ademan, que não se escrevem com ã, são do genero
masculino.

2) ê: mercê.

3) ei: lei.

São tambem do genero feminino os substantivos
terminados em as, que só se usão no plural, v. g. exequias.

c) O genero dos substantivos que têm outras terminações,
conhece-se pelo uso. Comtudo veja-se o § 93
e 94.

42 Os nomes proprios de rios, mezes, e ventos são do
genero masculino: Vouga, Lima, Liz; Abril, Maio; Norte,
Sul
.

O genero dos demais nomes proprios de cousas inanimadas
aprende-se pelo uso.

Capitulo III — Do adjectivo

A. Numeros

43 Os adjectivos seguem, na formação do plural, as
mesmas regras que os substantivos: alto altos, femea
25femeas, commum communs, hespanhol hespanhoes, amavel
amaveis, senhoril senhoris, facil faceis, incolor incolores,
feliz felizes.

Todavia os adjectivos terminados em ão formão o
plural, na maior parte, acrescentando um s: são, sãos;
alguns mudão o ão em ões: beirão, beirões (v. § 95).
Plural em ães, só o tem alguns adjectivos que significão
patria, v. g. allemães, catalães.

Observações:

44 a) Alguns adjecticos terminados em o, cuja vogal
accentuada é um o fechado, mudão no plural esse o fechado
para o aberto: grôsso, gróssos (cf. § 35 a).

Dá-se esta mudança:

1) em todos os adjectivos terminados em ôso: formôso, formósos;

2) nos adjectivos seguintes: choco, grosso, morno, novo, porco,
torto
.

(V. tambem o § 85 e 89a)

b) Plural dos adjecticvos compostos.

1) Nos compostos de uma palavra invariavel seguida
de um substantivo ou adjectivo, dá-se a fórma do
plural só ao substantivo ou adjectivo: semsabor semsabores.

2) O plural dos outros adjectivos compostos aprende-se com
o uso.

B. Generos

45 Segundo já foi dito (§ 36), muitos adjectivos têm
uma fórma quando qualificão nomes de seres do sexo
masculino, outra quando qualificão nomes de seres do
sexo feminino. Estes adjectivos chamão-se — adjectivos
biformes.26

Os adjectivos que têm uma só fórma para ambos os
sexos, v. g. feliz (homem feliz, mulher feliz), chamão-se
adjectivos uniformes.

46 a) São biformes os adjectivos terminados em o surdo
precedido de i, u, ou consoante, em u precedido de
consoante, em ão, eo (eu), or, ez.

A fórma feminina obtém-se segundo estas regras:

1) Aos adjectivos terminados em o surdo, muda-se
o o em a: branco branca.

2) Aos terminados em u precedido de consoante,
acrescenta-se um a: cru crua.

3) Aos terminados em ão, supprime-se o o: são, sã
(san)
.

Alguns adjectivos (v. § 95 c) mudão o ão em ona.

4) Aos terminados em eo (eu), muda-se eo em ea
(que se pronuncia eia): hebreo, hebrea.

Exceptuam-se judeo e sandeo, que fazem judia e sandia.

5) Aos terminados em or acrescenta-se a: abrasador
abrasadora
.

Exceptuão-se incolor, bicolor, tricolor, multicor, semsabor,
que são uniformes.

6) Aos terminados em ez acrescenta-se um a: francez
franceza
.

Exceptuão-se cortez, montez, pedrez, soez, que são
uniformes.

b) São uniformes os adjectivos que têm quaesquer
outras terminações, v. g. femea, só, prudente, ruim,
commum, leal, fiel, facil, subtil, reinol, capaz, feliz,
veloz
.27

Exceptuão-se: bom boa, máo má, hespanhol hespanhola,
andaluz andaluza
.

Observação:

47 Nos adjectivos em que o o fechado no singular passa
para o aberto no plural (§ 44 a), tambem esse o fechado
passa para o aberto na fórma feminina tanto no
singular como no plural, v. g. formôso formósos, formósa
formósas
.

Capitulo III — Do nome numeral

A. Numeraes cardinaes

48 Os numeraes cardinaes são: um, dois (*)4, tres, quatro,
cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze,
quatorze, quinze, desaseis
, (dezeseis) (**)5 dezasete (dezesete),
dezoito, dezanove (dezenove), vinte, vinte e um, etc
.,
trinta, quarenta, cincoenta, sessenta, setenta, oitenta,
noventa, cem (e cento), duzentos, trezentos, quatrocentos,
quinhentos, seiscentos, setecentos, oitocentos, novecentos,
mil, milhão
.

49 D’estes são variaveis: um, dois, duzentos, trezentos,
quatrocentos, quinhentos, seiscentos, setecentos, oitocentos,
novecentos
, e tambem cento e milhão que se empregão
como substantivos. Um tem, como os adjectivos propriamente
28ditos, masculino e feminino; um, uma; dois
tem a fórma feminina duas; duzentos, trezentos, etc.,
têm a fórma feminina duzentas, trezentas, etc.; cento e
milhão formão o plural segundo as regras dos substantivos.

B. Numeraes ordinaes

50 Os numeraes ordinaes são: primeiro, segundo, terceiro,
quarto, quinto, sexto, setimo, oitavo, nono, decimo,
undecimo ou decimo primeiro, duodecimo ou decimo
segundo, decimo terceiro, etc., vigesimo, trigesimo,
quadragesimo, quinquagesimo, sexagesimo, septuagesimo,
octogesimo, nonagesimo, centesimo, ducentesimo, trecentesimo,
quadrigentesimo, quingentesimo, sexcentesimo,
septingentesimo, octingentesimo, nongentesimo, millesimo,
millionesimo
(*)6.

Obs. — Os ordinaes tambem se empregão na designação das
fracções, v. g. uma quinta parte; duas decimas partes;
mas diz-se um meio, e em logar de terceiro diz-se terço: duas terças
partes
.

51 Estes numeraes têm genero masculino e feminino,
numero singular e plural, como os adjectivos propriamente
ditos: primeiro primeira, primeiros primeiras.

C. Numeraes proporcionaes

52 Os numeros proporcionaes são: duplo, triplo, quádruplo,
quintuplo, sextuplo, septuplo, octuplo, nonuplo,
decuplo, centuplo
.

Têm flexões por generos e numeros, como os adjectivos:
duplo dupla, duplos duplas.29

Capitulo IV — Do pronome

A. Pronomes pessoaes

53 Examinem-se estas duas phrases: 1ª D. João de Castro disse:
Filho, fazei por merecer o appellido que herdastes; 2ª D. João de
Castro disse ao filho, que fizesse por merecer o appellido que havia
herdado
. Na primeira phrase é apresentado a fallar o proprio D.
João; na segunda expõe-se o que D. João disse, sem comtudo, se
apresentar o proprio D. João a fallar. Chama-se discurso directo
o discurso em que a propria pessoa é apresentada a fallar,
e discurso indirecto o discurso em que se expõe o teor
das declarações de alguem, se, todavia, se apresentar a propria
pessoa a fallar.

A pessoa que falla no discurso directo, chama-se em grammatica
primeira pessoa; aquella a quem a primeira falla,
segunda pessoa; a pessoa ou cousa de que a primeira pessoa
falla, terceira pessoa.

Chamão-se pronomes pessoaes os pronomes que
designão as pessoas que representão no discurso.

54 Temos pronome pessoal da primeira pessoa: eu, da
segunda: tu, e da terceira: elle.

Os pronomes pessoaes entrão no discurso como substantivos
(v. § 16).

55 Os pronomes pessoaes têm fórmas diversas segundo
o seu differente emprego em uma oração, v. g. tu
louvas-me, eu louvo-te
. A taes fórmas dá-se o nome
de — casos.

56 Os casos dos pronomes pessoaes são:

1) da primeira pessoa:30

tableau no singular | no plural | eu, me, mim, migo | nós, nos, nosco

2) da segunda pessoa:

tableau no singular | no plural | tu, te, ti, tigo | vós, vos, vosco

Os pronomes da primeira e da segunda pessoa não têm distincção
de generos.

3) da terceira pessoa:

tableau no singular | no plural | elle ella o a, lhe | elles ellas, os as, lhes

Elle elles, o os, são do genero masculino; ella ellas,
a as
do genero feminino; lhe lhes é commum a ambos
os generos.

57 Ha ainda um pronome pessoal da perceira pessoa,
chamado pronome reflexo, que se emprega quando
se exprime que a acção se exercita na mesma pessoa
ou cousa que a pratica, ou se vae referir a ella, v.
g. Os patos mergulhão-se na agoa. O homem não nasce
só para si
.

Tem tres casos: se, si, sigo, sem distincção de numeros
nem de generos.

Observações:

58 a) Os casos migo, tigo, sigo, nosco, vosco, empregam-se
unicamente precedidos da preposição com, que
se escreve unida a elles, comigo, comtigo, comsigo, comnosco
31comvosco. (Em comigo, a vogal da preposição
com perde a nasalidade e passa a ser oral: co-migo).

b) O a os as pronuncia-se e escreve-se lo la los las.

1) quando se segue a uma fórma verbal terminada
em r (v. g. trazer) ou s (v. g. trazemos) ou z (v. g.
traz), letras que nestes casos se supprimem: trazê-lo,
trazemo-lo, põe-lo tu? trá-lo
.

2) quando se segue aos pronomes nos e vos ou ao
adverbio eis, supprimindo-se neste caso o s final dos
pronomes e do adverbio: apresenta-no-lo, ei-lo (*)7.

c) O mesmo pronome o a os as toma a fórma no na
nos nas
, quando se segue a uma flexão de verbo terminada
em diphthongo nasal: deixão-no, deixavão-no,
deixárão-no, põe-no, deixem-no
(**)8.

B. Pronomes possessivos

59 Chamão-se pronomes possessivos os pronomes
32que exprimem que um objecto pertence á primeira ou
á segunda ou á terceira pessoa.

60 São:

tableau 1) da primeira pessoa: | 2) da segunda pessoa: | masculinos | femininos | meu | nosso | minha | nossa | teu | vosso | tua | vossa

tableau 3) da terceira pessoa: | masculino | feminino | seu | sua

São pronomes adjectivos e formão o plural segundo
as regras dos adjectivos e substantivos.

C. Pronomes demonstrativos

61 Chamão-se pronomes demonstrativos os pronomes
que indicão os objectos ou assignalando o logar
que elles occupão (em relação á pessoa que falla ou
com quem ella falla) v. g. este livro, esse livro,
aquelle livro
, ou reportando-se aos caracteres que os
distinguem, v. g. o mesmo livro.

62 São:

tableau 1) pronomes adjectivos: | 2) pronomes substantivos: | masculinos | femininos | este | esse | esta | essa | isto | isso33

tableau aquelle | aquella | aquillo | outro | outra | outrem | mesmo | mesma | tanto | tanta

sem distincção de generos

tal

Os pronomes adjectivos têm plural, que se forma
segundo as regras da formação do plural dos substantivos.

Os pronomes substantivos são do genero masculino
e considerão-se do numero singular.

Obs. 1 — De cada um dos tres primeiros pronomes combinados
com o quarto resultão os pronomes compostos est’outro, ess’outro,
aquell’outro
.

Obs. 2 — A’cerca de uma particularidade de aquelle, aquella,
aquillo, v. § 71 a
.

D. Pronomes relativos

63 Chamão-se pronomes relativos os que se referem
a um objecto mencionado em outra oração, á qual
ligão uma nova oração que serve de caracterisar esse
objecto: A fórma dos peixes corresponde admiravelmente
ás condições em que a natureza os collocou. O continente
do reino, cuja superficie absoluta é, em numeros
redondos, de nove milhões de hectares, tem perto de
quatro milhões de habitantes
.

Obs. — A palavra ou palavras a que o pronome relativo se refere,
tem o nome de antecedente.

64 Os pronomes relativos são: que, qual, cujo, quanto.34

a) O primeiro pronome tem dois casos que e quem.
Não tem distincção de generos nem de numeros: Chegou
o homem
(ou a mulher) que tinha partido. Chegárão
os homens
(ou as mulheres) que tinhão partido.

Emprega-se unicamente como substantivo.

Obs. — Quem tambem equivale a aquelle que no sentido de a
pessoa que
, v. g. Quem tem telhado de vidro, não atire pedras ao
do vizinho
. Assim empregado, tem, por conseguinte, o valor de um
pronome relativo ligado a um pronome demonstrativo. Neste caso
é do genero masculino e considera-se do numero singular.

Quando é puramente pronome relativo só se póde empregar
precedido de preposição.

b) O segundo pronome é no singular qual e no plural
quaes sem distincção de generos.

Excepto quando corresponde ao demonstrativo tal,
(claro ou subentendido), é precedido de o, a, os, as,
segundo a palavra a que se refere é do singular masculino
ou do singular feminino, do plural masculino ou
do plural feminino.

Ordinariamente emprega-se como substantivo.

c) Os pronomes do singular cujo e quanto têm as
fórmas femininas cuja e quanta e fazem o plural segundo
as regras dos substantivos e adjectivos.

Empregão-se como adjectivos.

E. Pronomes interrogativos

65 Chamão-se pronomes interrogativos os pronomes
que servem de perguntar e exprimem o desejo
de que um objecto seja designado (pelo seu nome, caracteres,
etc.) v. g. Quem foi o primeiro rei de Portugal?
35O que é adverbio? Ignoramos qual fosse a população
de Portugal durante o dominio visigotico
.

66 Os pronomes interrogativos são:

tableau 1) pronomes adjectivos: | 2) pronomes substantivos: | que, qual, quanto | que (ou o que), quem

Que (ou o que) e quem são do genero masculino e
considerão-se do numero singular.

Que, como adjectivo, não tem distincção de generos
nem de numeros. Qual tem o plural quaes e não tem
distincção de generos. Quanto tem a fórma feminina
quanta e faz o plural segundo as regras dos substantivos
e adjectivos.

F. Pronomes indefinidos

67 Chamão-se pronomes indefinidos os pronomes
que indicão os objectos de um modo vago, v. g. Alguns
peixes têm fórmas singulares e extravagantes
.
Nem tudo o que luz é oiro.

68 Os pronomes indefinidos são:

tableau 1) pronomes adjectivos | 2) pronomes substantivos | masculinos | femininos | todo | toda | tudo | nenhum | nenhuma | ninguem | nada | algum | alguma | alguem | algo36

tableau certo | certa | ambos | ambas

sem distincção de generos

tableau câda | cada qual | qualquer | quemquer

Obs. — Os pronomes qual e quem tambem se empregão ás vezes
com o valor de pronomes indefinidos, v. g. Qual vermelhas
as armas faz de brabcas; Qual c’os penachos do elmo açoita as ancas

(Camões).

Os pronomes substantivos são do genero masculino
e considerão-se do numero singular.

Os pronomes adjectivos todo toda, nenhum nenhuma,
algum alguma, certo certa
, formão o plural segundo
as regras dos substantivos e adjectivos.

Ambos ambas, só tem plural.

Qualquer faz no plural quaesquer.

Cada não tem plural.

Obs. — Cada não póde ter occulta a palavra a que se refere.
Quando esta houver de omittir-se, deve empregar-se cada um, cada
uma; Encontrou cinco pobres e deu esmola a cada um
.

69 Ha ainda certas locuções que têm o sentido de pronomes
indefinidos, ás quaes póde dar-se o nome de —
locuções pronominaes indefinidas. São:
seja quem fôr, fosse quem fosse, quemquer que seja,
quemquer que fosse
.

Appendice aos pronomes

70 Examinemos estas phrases: — Um ecclesiastico perguntou a uma
37creança «onde estava Deos», promettendo-lhe uma laranja. «Dizei-me
respondeu a creança ao ecclesiastico, onde elle não está, e dar-vos-hei
duas»
. Na primeira phrase, a palavra um que precede ecclesiastico,
serve simplesmente de dar a conhecer que fallamos de um
ecclesiastico indeterminado, de um objecto que não consideramos
como estando já na mente da pessoa a quem fallamos. Tambem a
palavra uma anteposta a creança exprime que fallamos de uma
creança que não está ainda determinada. Na segunda phrase, a palavra
o antes de ecclesiastico exprime que se falla de um ecclesiastico
determinado, d’aquelle que dissemos haver feito a pergunta á
creança, portanto de um objecto que deve estar na mente da pessoa
a quem fallamos. Tambem a palavra a antes de creança exprime
que nos referimos a uma creança determinada.

A palavra que exprime simplesmente que fallamos
de uma pessoa ou cousa determinada entre varias da
mesma especie, chama-se — artigo definido. E’,
no singular masculino o, no singular feminino a, no plural
masculino os, no plural feminino as.

A palavra que dá a conhecer que fallamos de uma
pessoa ou cousa indeterminada entre varias da mesma
especie, chama-se — artigo indefinido. E’, no singular
masculino um, no singular feminino uma, no plural
masculino uns, no plural feminino umas.

Obs. — O artigo definido pertence rigorosamente á classe dos
pronomes demonstrativos, e o artigo indefinido á classe dos pronomes
indefinidos.

71 a) O artigo masculino o os, quando é precedido da
preposição a, une-se a ella encliticamente: ao aos.

Quando o artigo feminino a as é precedido da preposição
a, a vogal do artigo funde-se com a preposição,
formando um só som: á, ás. (De egual modo pronuncia-se
e escreve-se áquelle, áquella, áquillo em logar
de a aquelle, a aquella, a aquillo.)38

Obs. — A fusão de dois sons em um só denomina-se — crase.

b) O artigo definido toma a fórma lo la, los las,
quando se une á preposição per (com o sentido de por),
a qual perde o r: pelo (=por o), pela (= por a), pelos
(= por os), pelas (= por as). (Cf. § 58 b.)

c) Nas epocas mais antigas, quando o artigo era
precedido da preposição em, dava-se-lhe a fórma no na
nos nas
(que provém da fórma antiga lo la los las, cf.
§ 58 c) e dizia-se em no, em na, em nos, em nas. No
portuguez moderno, ou se diz em o, em a, em os, em
as
, ou (e é a prática ordinaria) se diz simplesmente no,
na, nos, nas
, supprimindo a preposição em, mas conservando
no artigo o n.

Obs. De modo semelhante diz-se tambem por imitação num
(numa, etc.), ou em um, nalgum, ou em algum, noutro ou em outro,
e costuma dizer-se neste, nesse, naquelle, nisto, nisso, naquillo, em
logar de em este, em esse, etc.

Capitulo V — Do verbo

A. Flexões dos verbos em geral

1. Vozes

72 a) Um verbo transitivo póde representar a acção de
dois modos: ou como praticada por uma pessoa ou
cousa, v. g. Pedro Alvares Cabral descobriu o Brazil,
39ou como padecida, v. g. O Brazil foi descoberto
por Pedro Alvares Cabral
.

A serie de fórmas que representão a acção como
praticada, chama-se — voz activa; a serie de fórmas
que representão a acção como padecida, chama-se —
voz passiva.

b) Os verbos intransitivos têm fórmas identicas ás
dos verbos transitivos na voz activa.

73 Observação.

Chama-se sujeito de um verbo (e da oração respectiva)
a expressão que designa o agente de um verbo
na voz activa, o paciente de um verbo na voz passiva,
a pessoa ou cousa a que é attribuida a acção ou
qualidade ou estado de um verbo intransitivo: Alexandre
Magno fundou Alexandria. Alexandria
foi fundada por Alexandre Magno. Os peixes nadão
.

Exercicios. — Indique nas seguintes phrases os sujeitos dos
verbos que vão escritos com letras espaçadas: As populações ruraes
de Portugal são em geral pouco robustas. Tem mostrado
sempre a experiencia, que, chegada a hora opportuna, as grandes
reformas triumphão. A oliveira gosta, pouco mais
ou menos, dos terrenos que agradão á videira. Era tão poderosa
no primeiro quartel do século XVI a esquadra portugueza,
que D. Manoel trazia de ordinario trezentas náos nas conquistas
da Asia, da Africa e da America.

2. Tempos

74 As fórmas dos verbos destinadas a exprimirem o
tempo em que se dá a acção (ou qualidade ou estado)
denominão-se — tempos.40

Os tempos são:

1) o que representa a acção como actual, v. g.
Eduardo estuda, e denomina-se — presente.

2) o que representa a acção como anterior á actualidade,
mas contemporanea de outra acção passada, v.
g. Eduardo estudava, quando eu entrei, e denomina-se
preterito imperfeito.

3) o que representa a acção como anterior á actualidade,
v. g. Eduardo estudou, Eduardo tem estudado,
e denomina-se — preterito perfeito.

4) o que representa a acção não só como anterior
á actualidade, mas tambem como anterior a outra acção
já passada, v. g. Eduardo tinha estudado, quando
eu entrei
, e denomina-se — preterito mais-que-perfeito.

5) o que representa a acção como havendo de dar-se
no tempo em que ainda não estamos, v. g. Eduardo
estudará
, e denomina-se — futuro imperfeito.

6) o que representa a acção como futura sim, mas
já concluida antes de outra acção futura, v. g. Eduardo
terá estudado, quando eu entrar
, e denomina-se
futuro perfeito.

Obs. — Os verbos portuguezes têm dois preteritos perfeitos cuja
differença será explicada na terceira parte da grammatica (§
207).

3. Modos

75 Os verbos portuguezes têm:

1) fórmas que enuncião a acção como uma realidade,
v. g. Eduardo estuda, e denominão-se — modo
indicativo.41

2) fórmas que enuncião a acção como acontecendo,
se se désse certa condição, v. g. Eduardo estudaria,
se tivesse tempo
, e denominão-se — modo condicional.

3) fórmas que enuncião a acção como simples concepção,
v. g. Desejo que Eduardo estude, e denominão-se
— modo conjunctivo ou subjunctivo.

4) fórmas que enuncião a acção como objecto de
uma ordem ou petição ou conselho, v. g. Estudae,
e denominão-se — modo imperativo.

5) fórmas que enuncião a acção como determinação
de outra acção, v. g. Eduardo quer estudar. Encontrei
Eduardo estudando
. Dividem-se em duas series,
uma denominada — modo infinitivo ou infinito,
outra denomindada — participio.

Obs. — Na sua origem, o infinitivo enuncia a acção de um modo
totalmente geral, á maneira dos substantivos, como se
vê em: O estudar é proveitoso; e o participio enuncia-a como
qualificação de uma pessoa ou cousa, á maneira dos adjectivos,
como se vê em: Eduardo está estudando.

Modos, portanto, são as flexões correspondentes
ás differentes maneiras de enunciar a acção de um
verbo.

4. Numeros

76 Os verbos têm numeros, isto é, flexões correspondentes
ao numero a que pertence o sujeito do verbo,
v. g. Tu louvaste; vós louvastes.

Os numeros são, conseguintemente, singular e
plural.42

5. Pessoas

77 Os verbos têm pessoas, isto é, flexões correspondentes
á pessoa a que pertence o sujeito do verbo,
v. g. Eu estudo, tu estudas, elle estuda.

As pessoas são, por consequencia, tres: primeira,
segunda, e terceira
.

6. Conjugações

78 a) O conjuncto das flexões de um verbo dispostas
ordenadamente denomina-se — conjugação, e declarar
ordenadamente, de viva voz ou por escrito, todas
as flexões de um verbo — conjugar.

b) As conjugações portuguezas offerecem tres typos,
que se denominão — primeira conjugação, segunda
conjugação, terceira conjugação.

Pertencem á primeira conjugação os verbos cujo radical
termina em a, v. g. ama-r, nomea-r, agaloa-r; á
segunda aquelles cujo radical termina em e, v. g. rende-r,
moe-r
; á terceira aquelles cujo radical termina em
i, v. g. uni-r, instrui-r.

Portanto a ultima letra do radical é a caracteristica
dos verbos.

B. Paradigmas das tres conjugações

1. Voz activa

79 Voz activa43

Presente (*)9

tableau numeros | pessoas | modos | indicativo | condicional | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | amo | rendo | uno | ama ria | rende ria | uni ria | 2 | ama s | rende s | une s | ama rias | rende rias | uni rias | 3 | ama | rende | une | ama ria | rende ria | uni ria | p. | 1 | ama mos | rende mos | uni mos | ama riamos | rende riamos | uni riamos | 2 | ama es | rende is | uni s | ama rieis | rende rieis | uni rieis | 3 | amão | rendem | unem | ama rião | rende rião | uni rião

Preterito imperfeito

tableau numeros | pessoas | modos | indicativo | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | ama va | rendi a | uni a | 2 | ama vas | rendi as | uni as | 3 | ama va | rendi a | uni a | p. | 1 | ama vamos | rendi amos | uni amos | 2 | ama veis | rendi eis | uni eis | 3 | ama vão | rendi ão | uni ão

Preterito perfeito definido

tableau numeros | pessoas | modos | indicativo | condicional | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | amei | rendi | uni | teria ou haveria | ama do | rendi do | uni do | 2 | ama ste | rende ste | uni ste | terias ou haverias | 3 | amou | rende u | uni u | teria ou haveria | p. | 1 | amá mos | rende mos | uni mos | teriamos ou haveriamos | 2 | ama stes | rende stes | uni stes | terieis ou haverieis | 3 | amá rão | rende rão | uni rão | terião ou haverião

Preterito perfeito indefinido

tableau numeros | pessoas | modos | indicativo | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | tenho ou hei | ama do | rendi do | uni do | 2 | tens ou has | 3 | tem ou há | p. | 1 | temos ou havemos | 2 | tendes ou haveis | 3 | têm ou hão44

Presente

tableau numeros | pessoas | modos | conjunctivo | imperat. | infinitivo | partic. | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | ame | renda | una | amae / ama | ama r | rende r | uni r | ama ndo | 2 | ames | rendas | unas | rendei / rende | ama res | rende res | uni res | rende ndo | 3 | ame | renda | una | uni / une | ama r | rende r | uni r | uni ndo | p. | 1 | amemos | rendamos | unamos | amar mos | rende rmos | uni rmos | 2 | ameis | rendaes | unaes | amar des | rende rdes | uni rdes | 3 | amem | rendão | unão | ama rem | rende rem | uni rem | 2ª pessoa e sem distincção de pessoas / ama r | rende r | uni r

Preterito imperfeito

tableau numeros | pessoas | modos | conjunctivo | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | ama sse | rende sse | uni sse | 2 | ama sses | rende sses | uni sses | 3 | ama sse | rende sse | uni sse | p. | 1 | ama ssemos | rende ssemos | uni ssemos | 2 | ama sseis | rende sseis | uni sseis | 3 | ama ssem | rende ssem | uni ssem

Preterito perfeito definido

tableau numeros | pessoas | modos | infinitivo | partic. | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | ter ou haver | ama do | tendo ou havendo / ama do / rendi do / uni do | 2 | teres ou haveres | rendi do | 3 | ter ou haver | uni do | p. | 1 | termos ou havermos | 2 | terdes ou haverdes | 3 | terem ou haverem | e sem distincção de pessoas | ter ou haver / amado / rendido / unido

Preterito perfeito indefinido

tableau numeros | pessoas | modos | conjunctivo | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | tenha ou haja | ama do / rendi do / uni do | 2 | tenhas ou hajas | 3 | tenha ou haja | p. | 1 | tenhamos ou hajamos | 2 | tenhaes ou hajaes | 3 | tenhão ou hajão45

Preterito mais-que-perfeito simples

tableau numeros | pessoas | modos | indicativo | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | amá ra | rendê ra | uni ra | 2 | amá ras | rendê ras | uni ras | 3 | amá ra | rendê ra | uni ra | p. | 1 | amá ramos | rendê ramos | uni ramos | 2 | amá reis | rendê reis | uni reis | 3 | amá rão | rendê raõ | uni rão

Preterito mais-que-perfeito composto

tableau numeros | pessoas | modos | indicativo | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | tinha ou havia / ama do / endi do / uni do | 2 | tinhas ou havias | 3 | tinha ou havia | p. | 1 | tinhamos ou haviamos | 2 | tinheis ou havieis | 3 | tinhão ou havião

Futuro imperfeito (*)10

tableau numeros | pessoas | modos | indicativo | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | ama rei | rende rei | uni rei | 2 | ama rás | rende rás | uni rás | 3 | ama rá | rende rá | uni rá | p. | 1 | ama remos | rende remos | uni remos | 2 | ama reis | rende reis | uni reis | 3 | ama rão | rende rão | uni rão

Futuro perfeito

tableau numeros | pessoas | modos | indicativo | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | terei ou haverei / ama do / rendi do / uni do | 2 | terás ou haverás | 3 | terá ou haverá | p. | 1 | teremos ou haveremos | 2 | tereis ou havereis | 3 | terão ou haverão46

Preterito mais-que-perfeito composto

tableau numeros | pessoas | modos | conjunctivo | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | tivesse ou houvesse / ama do / rendi do / uni do | 2 | tivesses ou houvesses | 3 | tivesse ou houvesse | p. | 1 | tivessemos ou houvessemos | 2 | tivesseis ou houvesseis | 3 | tivessem ou houvessem

Futuro imperfeito

tableau numeros | pessoas | modos | conjunctivo | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | ama r | rende r | uni r | 2 | ama res | rende res | uni res | 3 | ama r | rende r | uni r | p. | 1 | ama rmos | rende rmos | unir mos | 2 | ama rdes | rende rdes | uni rdes | 3 | ama rem | rende rem | uni rem

Futuro perfeito

tableau numeros | pessoas | modos | conjunctivo | 1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. | s. | 1 | tiver ou houver / ama do / rendi do / uni do | 2 | tiveres ou houveres | 3 | tiver ou houver | p. | 1 | tivermos ou houvermos | 2 | tiverdes ou houverdes | 3 | tiverem ou houverem47

Exercicios. — (Os verbos nomeião-se no presente impessoal do
infinitivo.) Conjugue, de viva voz e por escrito, os verbos seguintes:
louvar, dourar, chamar, enganar; vender, lamber, esconder;
instruir, applaudir.

80 Observações.

a) A terminação do presente impessoal do infinitivo é a-r na
primeira conjugação, e-r na segunda, i-r na terceira. Ha, porem,
um verbo irregular da segunda conjugação, cujo presente infinitivo
termina em ôr em virtude de uma crase (§ 71. a, obs.) E’ o verbo
pôr contrahido da fórma archaica poer (*)11.

b) Nas tres pessoas do singular e na terceira do
plural do presente do indicativo e do conjunctivo, assim
como na segunda pessoa do singular do imperativo,
quando são polyssylabas, o accento tonico sempre cáe
na penultima syllaba: vociféro, vociféras, vociféra, vociférão,
vocifére, vociféres, vociférem
.

Exceptua-se o verbo resfolegar, que tem, nestas pessoas,
o accento na ante-penultima syllaba: resfôlego,
resfólegue
(**)12.

c) A vogal ou diphthongo da penultima syllaba do
presente impessoal infinitivo dos verbos polyssyllabos,
quando recebe o accento tonico (a saber: nas tres pessoas
do singular e na terceira do plural do presente indicativo
e conjunctivo, e no singular do imperativo),
está sujeita ás seguintes modificações:

I. Na primeira conjugação:

1) a oral fechado, não seguido de m ou n ou nh,
passa para a aberto: lavar, lavo.48

Quando é seguido d’aquellas consonancias, conserva-se:
chamar châmo, sanar sâno, apanhar apânho.

2) e surdo, não seguido de m ou n ou nh, passa para
e aberto: encetar encéto, enxergar enxérgo.

Quando, porém, é seguido d’aquellas consoantes, e
tambem nos verbos terminados em ejar ou echar ou
olhar, bem como no verbo chegar e seus compostos, passa
para e fechado: algemar algêmo, ordenar ordéno, empenhar
empênho; desejar desêjo, fechar fêcho, ajoelhar
ajoêlho; chegar chêgo, conchegar, conchêgo
. (Exceptua-se
o verbo invejar, em que passa para e aberto: invéjo).

Nos verbos terminados em ear, passa para ei; nomear
nomeio
. Em crear, porém, passa para i: crio (mas
nos compostos passa para ei: procrear procreio; exceptuando
recrear na accepção de tornar a crear).

3) o surdo, não seguido de m ou n ou nh, passa
para o aberto: tocar tóco.

Quando, porém, é seguido d’aquellas consoantes, e
tambem nos verbos terminados em oar, passa para o
fechado: assomar assômo, abonar abôno, sonhar sônho;
perdoar perdôo. Exceptuão-se os verbos tomar e domar
e os seus compostos, nos quaes passa para o aberto:
tómo, dómo.

4) o oral fechado passa para o aberto: sôltar, sólto.

5) ai com a fechado para para ai com a aberto:
desmáiar desmáio.

6) Nos verbos em iar o i conserva-se tanto na pronuncia
como na escrita: copiar copio.

Todavia em certos verbos é permitido passar o i
para ei. Taes são os verbos diligenciar, negociar, odiar,
premiar
(*)13.49

II Na segunda conjugação:

1) a oral fechado passa para a aberto: abater abato.

2) e surdo passa para e fechado na primeira pessoa
do singular do presente indicativo e nas tres do singular
e terceira do plural do presente conjunctivo: gemer
gemo gema gemas gemão
; e para e aberto na segunda
pessoa e na terceira do singular e na terceira do plural
do presente indicativo e no singular do imperativo:
gemes geme gemem.

3) o surdo passa para o fechado nas mesmas pessoas
em que e surdo passa para e fechado: comer como
coma comas comão
; e para o aberto nas mesmas pessoas
em que e surdo passa para e aberto: comes come
comem
.

4) o oral fechado passa para o aberto nas mesmas
pessoas em que e surdo passa para e aberto: volvêr vólves
volve volvem
.

III Na terceira conjugação:

1) a oral fechado, não seguido de m ou n ou nh,
passa para a aberto: abrir abro.

Quando, porém, é seguido d’aquellas consoantes,
conserva-se fechado: ganir gano.

2) e surdo passa para i na primeira pessoa do singular
do presente indicativo e nas tres do singular e
terceira do plural do presente conjunctivo: despir dispo
dispa dispas dispão
; e para e aberto na segunda pessoa
e na terceira do singular e na terceira do plural do presente
indicativo e no singular do imperativo: despes despe
despem
.

Nos verbos aggredir, denegrir, prevenir, progredir, remir,
transgredir
, a vogal da penultima syllaba do presente do infinitivo
impessoal passa para i todas as vezes que é accentuada; aggrido
aggrides aggride aggridem
.

3) e fechado (oral ou nasal) passa para i nas mesmas
50pessoas em que e surdo passa para i: sentir sinto
sinta sintas sintão
. (Nas outras pessoas conserva-se:
sentes sente sentem.)

4) o surdo passa para u nas mesmas pessoas em
que e surdo passa para i: dormir durmo durma durmas
durmão
; e para o aberto nas mesmas pessoas em
que e surdo passa para e aberto: dormes dorme dormem.

Nos verbos sortir e cortir, o o passa para u em todas as pessoas
em que é accentuado.

5) u oral passa para o aberto na segunda pessoa e
na terceira do singular e na terceira do plural do presente
indicativo e no singular do imperativo dos seguintes
verbos: acudir, bulir, construir (e reconstruir), cubrir
(ou antes cobrir), cuspir, destruir, engulir, fugir,
(e refugir), sacudir, subir, sumir, tussir.

Em construir alguns fazem esta mudança e dizem constroe constroes
constroem
; é melhor, porém, conservar o n e dizer construes
construe construem
.

d) Na terceira conjugação, a vogal da penultima syllaba
do presente impessoal infinitivo, sendo e fechado,
e ou o surdos, experimenta tambem na primeira pessoa
e na segunda do plural do presente conjunctivo a mesma
modificação a que está sujeita nas tres pessoas do
singular e na terceira do plural d’esse tempo: ferir fira
firas fira firamos firaes firão
.

e) Na conjugação dos verbos em que a terminação ar ou er ou
ir do presente infinitivo é precedida de uma consoante representada
por c ou g ou gu (v. g. ficar, negar, reger, divergir, seguir),
cumpre não esquecer as regras orthographicas do § 8 (assim escrever-se-ha:
fique, negue, rejo, divirjo, siga).

Exercicios. — Conjugue, por escrito e de viva voz, estes verbos:
vituperar, peccar, cegar, arear, copiar; dever, reger, correr, auferir,
adherir, vestir, prevenir, mentir, dormir, fugir, convergir
.

f) Para exprimir que o objecto de uma acção é o
51mesmo que o agente, empregão-se os verbos na voz
activa acompanhados dos pronomes me, te, se, nas tres
pessoas do singular, e nos, vos, se, nas tres do plural.
E’ o que se denomina — conjugação reflexa.

Quando o pronome nos vem após o verbo, supprime-se
o s final da primeira pessoa do plural.

Paradigma de um verbo conjugado reflexamente
no indicativo e no condicional

Presente indicativo

lavo-me
lavas-te
lava-se
lavamo-nos
lavaes-vos
lavão-se

ou

eu me lavo
tu te lavas
elle se lava
nós nos lavamos
vós vos lavaes
elles se lavão

Preterito imperfeito

lavava-me
lavavas-te
lavava-se
lavavamo-nos
lavaveis-vos
lavavão-se

ou

eu me lavava
tu te lavavas
etc.

Preterito perfeito simples

lavei-me
lavaste-te
lavou-se
lavámo-nos
lavastes-vos
lavárão-se

ou

eu me lavei
tu te lavaste
etc.

Preterito perfeito indefinido

tenho-me lavado
tens-te lavado
tem-se lavado
temo-nos lavado
tendes-vos lavado
têm-se lavado

ou

eu me tenho lavado
tu te tens lavado
etc.

Preterito m.-q.-p. simples

lavára-me
laváras-te
lavára-se
lavaramo-nos
laváreis-vos
lavárão-se

ou

eu me lavára
tu te laváras
etc.

Preterito m.-q.-p. composto

tinha-me lavado
tinhas-te lavado
etc.

Futuro imperfeito

lavar-me-hei
lavar-te-has
lavar-se-ha
lavar-nos-hemos
lavar-vos-heis
lavar-se-hão

ou

eu me lavarei
tu te lavarás
etc.

Futuro perfeito

ter-me-hei lavado
ter-te-has lavado
ter-se-ha lavado
52ter-nos-hemos lavado
ter-vos-heis lavado
ter-se-hão lavado

ou

eu me terei lavado
tu te terás lavado
etc.

Presente condicional

lavar-me-hia
lavar-te-hias
lavar-se-hia
lavar-nos-hiamos
lavar-vos-hieis
lavar-se-hião

ou

eu me lavaria
tu te lavarias
etc.

Preterito

ter-me-hia lavado
ter-te-hias lavado
ter-se-hia lavado
ter-nos-hiamos lavado
ter-vos-hieis lavado
ter-se-hião lavado

ou

eu me teria lavado
tu te terias lavado
etc.

Nota 1ª — Em lavar-me-hei, lavar-me-hia, etc., os pronomes
me, te, se, nos, vos, intercalão-se entre os dois elementos do que se
compõem estas fórmas (v. as notas no fim da pag. 44 e 46). A intercalação
de uma palavra entre os dois elementos de um composto
denomina-se — tmese.)

O mesmo acontece com o pronome o a os as, v. g. lavá-lo-hei.

Nota 2ª — Ha alguns verbos que, ou sempre ou em certas significações,
só se conjugão na fórma de reflexos, v. g. abster-se,
lembrar-se
.

Exercicios. — Conjugue, por escrito e de viva voz, por inteiro,
estes verbos: arrepender-se, compadecer-se, lembrar-se, esquecer-se.

2. Voz passiva

81 a) Na voz passiva ha só uma fórma simples: é a do
participio do preterito perfeito. As terminações do participio
passivo são as que se vêem nestes paradigmas:

tableau 1ª conj. | 2ª conj. | 3ª conj. | sing. | masc. | ama-do | rendi-do | uni-do | fem. | ama-da | rendi-da | uni-da | plur. | masc. | ama-dos | rendi-dos | uni-dos | fem. | ama-das | rendi-das | uni-das

b) No mais as vozes passivas dos verbos são formadas
pelos tempos do verbo irregular ser acompanhados
do participio passivo do verbo de que se trata, por ex.:53

Indicativo | Condicional | Conjunctivo | Imperativo | Infinitivo | Participio

Presente

tableau sou | seria | seja | ser | és | serias | sejas | seres | é | seria | seja | ser | somos | seriamos | sejamos | sermos | sois | serieis | sejaes | serdes | são | serião | sejão | serem | amados | amadas | amado | amada | sê | sêde | sendo | e sem distincção de pessoas | ser | amado / amada / amados / amadas

Preterito imperfeito

tableau era | fosse | eras | fosses | era | fosse | eramos | fossemos | ereis | fosseis | erão | fossem | amado | amada | amados | amadas

Preterito perfeito definido

tableau fui | teria sido | ter sido | foste | terias sido | teres sido | foi | teria sido | ter sido | fomos | teriamos sido | termos sido | fostes | terieis sido | terdes sido | forão | terião sido | terem sido | amado | amada | amados | amadas | e sem distincção de pessoas | ter sido | amado / amada / amados / amadas | tendo sido

Preterito perfeito indefinido

tableau tenho sido | tenha sido | tens sido | tenhas sido | tem sido | tenha sido | temos sido | tenhamos sido | tendes sido | tenhaes sido | têm sido | tenhão sido | amado | amada | amados | amadas54

Indicativo | Condicional | Conjunctivo | Imperativo | Infinitivo | Participio

Preterito mais-que-perfeito

tableau fôra | fôras | fôra | foramos | foreis | forão | amado | amada | amados | amadas

Preterito mais-que-perfeito composto

tableau tinha sido | tivesse sido | tinhas sido | tivesses sido | tinha sido | tivesse sido | tinhamos | tivessemos sido | tinheis | tivesseis sido | tinhão | tivessem sido | amado | amada | amados | amadas

Futuro imperfeito

tableau serei | for | serás | fores | será | for | seremos | foramos | sereis | fordes | serão | forem | amado | amada | amados | amadas

Futuro perfeito

tableau terei sido | tiver sido | terás sido | tiveres sido | terá sido | tiver sido | teremos sido | tivermos sido | tereis sido | tiverdes sido | terão sido | tiverem sido | amado | amada | amados | amadas55

Obs. — Os tempos compostos da voz activa são constituidos
pelo verbo irregular ter (ou haver) com o participio passivo do
preterito (v. g. tenho amado, tenha amado). Os proprios verbos intransitivos
formão um participio passivo que serve de constituir
estes tempos, v. g. tenho sido, tenha nascido.

3. Conjugação periphrastica

82 Para exprimir certas ideias accessorias da acção de
um verbo, combinão-se certas fórmas d’esse verbo com
os tempos dos verbos auxiliares andar, ir, estar, ter,
haver
. Taes circumloquios têm o nome de — conjugação
periphrastica
, e são os seguintes:

a) O verbo andar acompanhado do participio do presente
de um verbo ou do presente infinitivo precedido
da preposição a, v. g. ando a estudar ou ando estudando,
exprimem que uma pessoa ou cousa se occupa prolongadamente
em uma acção.

b) O auxiliar ir (§ 86) e o auxiliar vir (§ 86) acompanhados
do participio do presente de um verbo, v. g.
A vermelhidão foi avultando; vinha amanhecendo,
exprimem a realisação gradual de uma acção.

O mesmo auxiliar ir seguido do presente infinitivo
exprime um futuro immediato, v. g. vou estudar.

c) O auxiliar estar (§ 84) acompanhado do participio
do presente de um verbo ou do presente infinitivo
precedido da preposição a, v. g. Estava estudando, ou
a estudar, exprime de um modo preciso que uma acção
está começada mas não acabada.

O mesmo auxiliar acompanhado de um infinitivo
precedido da preposição para, v. g. estou para partir,
exprime que uma acção está proxima de ser praticada.

d) Os auxiliares ter e haver (§ 85) acompanhados
de um infinitivo precedido da preposição de, v. g. Todos
56temos (havemos) de morrer, exprime a necessidade
de praticar uma acção.

Obs. 1. — O presente indicativo da conjunção periphrastica
do verbo haver (v. g. hei-de estudar) emprega-se muitas vezes em
logar do futuro imperfeito dos verbos, para exprimir a resolução
assente de praticar uma acção, ou a certeza de que uma cousa
acontecerá.

Obs. 2. — Nas tres pessoas do singular e na terceira do plural
do presente indicativo da conjugação periphrastica do verbo haver,
a preposição de liga-se encliticamente ao verbo haver: hei-de
ir, has-de ir, ha-de ir, havemos de ir, haveis de ir, hão-de
ir
.

e) A combinação do verbo vir com o infinitivo de certos verbos
precedido da preposição a tem quasi o mesmo valor que esses
verbos empregados sós, v. g. Isto vem a significar é quasi o mesmo
que: isto significa. (Vir a ser muitas vezes quer dizer tornar-se).

C. Verbos irregulares ou anomalos

1. Verbos irregulares propriamente ditos

Advertencias prévias:

83 a) Práticamente o preterito m. -q. -perfeito indicativo
e o preterito imperfeito e o futuro imperfeito conjunctivos
formão-se sempre da segunda pessoa do preterito
perfeito indicativo do modo que se vê no seguinte
paradigma:

Segunda pessoa do preterito perfeito indicativo do
verbo estar:

estive-ste

tableau pret. m. -q. -p. indic. | pret. imp. conj. | fut. imp. conj. | estive-ra | estive-sse | estive-r | -ras | -sses | -res | -ra | -sse | -r57

tableau estive-ramos | estive-ssemos | estive-rmos | -reis | -sseis | -rdes | -rão | -ssem | -rem

b) Praticamente o imperativo forma-se da segunda
pessoa do singular e do plural do presente indicativo
supprimindo o s final, v. g. de lês e lêdes, segunda pessoa
do singular e segunda do plural do presente indicativo
do verbo irregular ler, forma-se o imperativo lê,
lêde
. Exceptua-se unicamente o imperativo do verbo
ser, que é , sêde, ao passo que as segundas pessoas
do presente indicativo são és, sois.

c) Os verbos compostos de re — e des — conjugão-se
sempre como os simples.

I Verbos irregulares da primeira conjugação:

84 Verbos irregulares da primeira conjugação:

Dar

Presente

Ind. dou, dás, dá,
damos, daes, dão (*)14

Conj. dê, dês, dê,
dêmos, deis, dêem.

Preterito perfeito

Ind. dei, déste, deu,
démos, déstes, dérão.

(Imperativo dá, dae; m. q.-p.
ind. déra; p. imp. conj. désse;
f. imp. conj. der)

De egual modo: desdar.
(Circumdar é verbo regular.)

Estar

Presente

Ind. estou, estás, está,
estamos, estaes, estão.

Conj. esteja, estejas, esteja,
estejamos, estejaes, estejão.

Preterito perfeito

Ind. estive, estiveste, esteve,
estivemos, estivestes, estiverão.

(Imperativo está, estae; m.-q.-p.
ind. estivera; p. imp. conj).
estivesse; f. imp. conj. estiver.

De egual modo: sobre-estar.58

II Verbos irregulares da segunda conjugação:

85 Verbos irregulares da segunda conjugação:

Caber

Presente

Ind. caibo, cabes, cabe,
cabemos, cabeis,
cabem.

Conj. caiba, caibas, caiba,
caibamos, caibaes, caibão.

Preterito perfeito

Ind. coube, coubeste, coube,
coubemos, coubestes, couberão.

(M. q. p. ind. coubera; p. imp.
conj. coubesse; f. imp. conj. couber.)

Crer

Presente

Ind. creio, crês, crê,
cremos, credes, creem.

Conj. creia, creias, creia,
creiamos, creiaes, creião.

De egual modo: descrer.

Dizer

Presente

Ind. digo, dizes, diz,
dizemos, dizeis,
dizem.

Cond. diria, dirias, diria,
diriamos, dirieis, dirião.

Conj. diga, digas, diga,
digamos, digaes, digão.

Preterito perfeito

Ind. disse, disseste, disse,
dissemos, dissestes, disserão.

Futuro imperfeito

Ind. direi, dirás, dirá,
diremos, direis, dirão.

Participio passivo

dito

(M. q. p. ind. dissera; p. imp.
conj. dissesse; f. imp. conj. disser.)

Obs. — O imperativo é regular:
dize (e não diz), dizei.

Do mesmo modo: bemdizer,
condizer, contradizer, desdizer,
maldizer, predizer
.

Fazer

Presente

Ind. faço, fazes, faz,
fazemos, fazeis,
fazem.

Cond. faria, farias, faria,
fariamos, farieis, farião.

Conj. faça, faças, faça,
façamos, façaes, fação.

Preterito perfeito

Ind. fiz, fizeste, fez,
fizemos, fizestes, fizerão.59

Futuro

Imp. farei, farás, fará,
faremos, fareis, farão.

Participio passivo

feito

(M. q. p. ind. fizera; p. imp.
conj. fizesse; f. imp. conj. fizer.)

Do mesmo modo: contrafazer,
desfazer, perfazer, refazer, satisfazer
.

Haver

Presente

Ind. hei, has, ha,
havemos, haveis,
hão.

Conj. haja, hajas, haja,
hajamos, hajaes, hajão.

Preterito perfeito

Ind. houve, houveste, houve,
houvemos, houvestes, houverão.

(M. q. p. ind. houvera; p.imp.
conj. houvesse; f. imp. conj.
houver.)

Do mesmo modo rehaver (mas
só se usa nas fórmas em que ha
v.)

Jazer

Presente

Ind. jazo, jazes, jaz,
jazemos, jazeis,
jazem.

Ler

Presente

Ind. leio, lês, lê,
lemos, ledes, leem.

Conj. leia, leias, leia,
leiamos, leiaes, leião.

Do mesmo modo: reler, tresler.

Perder

Presente

Ind. perco, perdes, perde,
perdemos, perdeis,
perdem.

Conj. perca, percas, perca,
percamos, percaes, percão.

Poder

Presente

Ind. posso, podes, pode,
podemos, podeis,
podem.

Conj. possa, possas, possa,
possamos, possaes, possão.

Preterito perfeito

Ind. pude, pudeste, poude,
pudemos, pudestes, pudérão.60

(P. m. q. p. ind. pudera; p.
imp. conj. pudesse; f. imp. conj.
puder.)

Por (*)15

Presente

Ind. ponho, pões, põe,
pomos, pondes, põem.

Cond. poria, porias, poria,
poriamos, porieis, porião.

Conj. ponha, ponhas, ponha,
ponhamos, ponhaes, ponhão.

Part. pondo.

Preterito imperfeito

Ind. punha, punhas, punha,
punhamos, punheis, punhão.

Preterito perfeito

Ind. puz, puzeste, poz,
puzemos, puzestes, puzerão.

Futuro imperfeito

Ind. porei, porás, porá,
poremos, poreis, porão.

Participio passivo

pôsto, pósta, (no plural:
póstos, póstas.)

(P. m. q. p. ind. pusera; p.
imp. conj. puzesse; f. imp. conj.
puzer.)

De egual modo: antepor, appor,
compor, contrapor, decompor,
depor, descompor, dispor,
entrepor, expor, impor, interpor,
oppor, predispor, prepor, presuppor,
propor, recompor, repor, sotopor,
suppor, transpor
.

Prazer

Não estão em uso as primeiras
e segundas pessoas (v. todavia o
§ 90, c).

Presente

Ind. praz.

Preterito perfeito

Ind. prouve

(P. m. q. p. ind. prouvera;
p. imp. conj. prouvesse; f. imp.
conj. prouver).

Aprazer conjuga-se como prazer;
mas é verbo completo. Outro
tanto acontece a desprazer.

Comprazer é unicamente irregular
na terceira pessoa do singular
do presente indicativo:
compraz.

Querer

Presente

Ind. quero, queres, quer
61queremos, quereis,
querem.

Conj. queira, queiras, queira,
queiramos, queiraes, queirão.

Preterito perfeito

Ind. quiz, quizeste, quiz,
quizemos, quizestes, quizerão.

(P. m. q. p. ind. quizera; p.
imp. conj. quizesse; f. imp. conj.
quizer.)

Requerer (*)16

Presente

Ind. requeiro, requeres, requer,
requeremos, requereis, requerem.

Conj. requeira, requeiras, requeira,
requeiramos, requeiraes, requeirão.

(O imperativo é rggular).

Saber

Presente

Ind. sei, sabes, sabe,
sabemos, sabeis,
sabem.

Conj. saiba, saibas, saiba,
saibamos, saibaes, saibão.

Preterito perfeito

Ind. soube, soubeste, soube,
soubemos, soubestes, souberão.

(P. m. q. p. ind. soubera; p.
imp. conj. soubesse; f. imp. conj.
souber.)

Ser

Vae conjugado no § 81 (paginas
54 e 55).

Ter

Presente

Ind. tenho, tens, tem,
temos, tendes, têm.

Conj. tenha, tenhas, tenha,
tenhamos, tenhaes, tenhão.

Preterito imperfeito

Ind. tinha, tinhas, tinha,
tinhamos, tinheis, tinhão.

Preterito perfeito

Ind. tive, tiveste, teve,
tivemos, tivestes, tiverão.

(P. m. q. p. ind. tivera; p.
imp. conj. tivesse; f. imp. conj.
tiver.)

Obs. 1 — Muitos escrevem e
pronuncião teem em logar de têm.62

Obs. 2 — O imperativo é segundo
a regra: tem (com m final),
tende.

Do mesmo modo: ater, conter,
deter, entreter, manter, obter,
reter, soster
.

Trazer

Presente

Ind. trago, trazes, traz,
trazemos, trazeis,
trazem.

Cond. traria, trarias, traria,
trariamos, trarieis, trarião.

Conj. traga, tragas, traga,
tragamos, tragaes, tragão.

Preterito perfeito

Ind. trouxe, trouxeste, trouxe,
trouxemos, trouxestes,
trouxerão.

Futuro imperfeito

Ind. trarei, trarás, trará,
traremos, trareis, trarão.

(P. m. q. p. ind. trouxera; p.
imp. conj. trouxesse; f. imp.
conj. trouxer.)

Valer

Presente

Ind. valho, vales, vale ou val,
valemos, valeis, valem.

Conj. valha, valhas, valha,
valhamos, valhaes, valhão.

Ver

Presente

Ind. vejo, vês, vê,
vemos, vedes, veem.

Conj. veja, vejas, veja,
vejamos, vejaes, vejão.

Preterito perfeito

Ind. vi, viste, viu,
vimos, vistes, virão.

Participio passivo

visto

(P. m. q. p. ind. vira; p. imp.
conj. visse; f. imp. conj. vir.)

Do mesmo modo: antever, entrever,
prever, rever
.

Prover conjuga-se como ver,
senão que é regular no pret. perfeito
indicativo (provi, etc.) e nos
tempos que se formão d’este
(provéra, provesse, prover), e no
participio passivo (provido).

III Verbos irregulares da terceira conjugação:

86 Verbos irregulares da terceira conjugação:

Despedir

Presente

Ind. despeço, despedes, despede,
despedimos, despedis,
despedem.

Conj. despeça, despeças, despeça,
despeçamos, despeçaes,
despeção.63

Expedir

Presente

Ind. expeço, expedes, expede,
expedimos, expedis,
expedem.

Conj. expeça, expeças, expeça,
expeçamos, expeçaes, expeção.

Frigir

Presente

Ind. frijo, freges, frege,
frigimos, frigis,
fregem.

Impedir

Presente

Ind. impeço, impédes,
impede, impedimos, impedis,
impedem.

De egual modo: desimpedir.

Ir

Presente

Ind. vou, vaes, vae,
vamos ou imos, ides, vão.

Conj. vá, vás, vá,
vamos, vades, vão.

Preterito perfeito

Ind. fui, foste, foi,
fomos, fostes, forão (*)17.

(P. m. q. p. ind. fôra; p. imp.
conj. fosse; f. imp. conj. for.)

Obs — O participio passivo ido
tambem se emprega com significação
activa = que foi. Neste caso
tem fórma feminina ida.

Medir

Presente

Ind. meço, medes, mede,
medimos, medis,
medem.

Conj. meça, meças, meça,
meçamos, meçaes, meção.

Pedir

Presente

Ind. peço, pedes, pede,
pedimos, pedis,
pedem.

Conj. peça, peças, peça,
peçamos, peçaes, peção.

Ouvir

Presente

Ind. ouço (ou oiço), ouves,
ouve
64ouvimos, ouvis,
ouvem.

Conj. ouça, ouças, ouça,
ouçamos, ouçaes, oução,
ou oiça, oiças, etc.

Rir

Presente

Ind. rio, ris, ri,
rimos, rides, riem.

Conj. ria, rias, ria,
riâmos, riaes, rião.

De egual modo: sorrir.

Vir

Presente

Ind. venho, vens, vem,
vimos, vindes, vem.

Conj. venha, venhas, venha,
venhamos, venhaes, venhão.

Preterito imperfeito

Ind. vinha, vinhas, vinha,
vinhamos, vinheis, vinhão.

Preterito perfeito

Ind. vim, vieste, veiu,
viemos, viestes, vierão.

Participio passivo

vindo

(P. m. q. p. ind. viera; p. imp.
conj. viesse; f. imp. conj. vier.)

Obs. 1 — O singular do imperativo
escreve-se com m final:
vem.

Obs. 2 — O participio passivo
vindo tambem se emprega com
significação activa = que veiu.
Neste caso tem a fórma feminina
vinda.

Do mesmo modo: advir, avir-se,
contravir, convir, desavir, intervir,
provir, sobrevir
.

Verbos em ahir e air

87 Verbos em ahir e air

Estes verbos têm as irregularidades que se vêem
nos seguintes paradigmas:

Esvair | Sahir

tableau pres. ind. | esvaio | sáio | esvaes | sáes | esvae | sáe | esvaimos | sahimos | esvais | sahis | esváem | sahem65

tableau pres. conj. | esvaia | sáia | esvaias | sáias | esvaia | sáia | esvaiâmos | saiãmos | esvaiaes | saiaes | esvaião | saião

Obs. O h nos verbos em ahir não pertence ao radical do
verbo; serve apenas de indicar que o a e o i não fazem diphthongo.
Em logar do h póde escrever-se um accento agudo sobre o i v.
g. sair, saímos, saía, etc.

Verbos em uzir

88 Os verbos acabados em uzir (v. g. luzir) têm a terceira
pessoa do singular do presente indicativo em uz,
v. g. conduzo, conduzes, conduz, conduzimos, conduzis,
conduzem
. (O imperativo é segundo a regra: conduze.)

2. Verbos com suplo participio passivo simples

89 Alguns verbos têm dois participios passivos simples,
um formado segundo os paradigmas das conjugações, outro,
chamado irregular, que provém de diversas origens.

São os seguintes (*)18:

Primeira conjugação

Verbos | primeiro participio | segundo participio

acceitar | (a, p) acceitado | (p) acceito
assentar | (a, p) assentado | (p) assente
66dispersar | (a, p) dispersado | (p) disperso
entregar | (a, p) entregado | (p) entregue
enxugar | (a, p) enxugado | (p) enxuto
expressar | (a, p) expressado | (p) expresso
expulsar | (a) expulsado | (p) expulso
fartar | (a) fartado | (p) farto
findar | (a, p) findado | (p) findo
ganhar (*)19 | (a, p) ganhado | (a, p) ganho
gastar | (a) gastado | (a, p) gasto
isentar | (a) isentado | (p) isento
juntar | (a, p) juntado | (a, p) junto
limpar | (a) limpado | (a, p) limpo
matar | (a) matado | (a, p) morto
occultar | (a, p) occultado | (p) occulto
pagar (**)20 | (a) pagado | (a, p) pago
salvar | (a, p) salvado | (a, p) salvo
soltar | (a) soltado | (p) solto
sujeitar | (a, p) sujeitado | (p) sujeito

Obs. 1 — Em logar de acceito acceita, diz-se tambem acceite.

Obs. 2Morto morta pertence propriamente ao verbo morrer.

Segunda conjugação

accender | (a,p) accendido | (p) acceso
eleger | (a) elegido | (a, p) eleito
escrever | (a) escrevido | (a, p) escrito
envolver | (a, p) envolvido | (a, p) envolto
prender | (a) prendido | (p) prêso
suspender | (a, p) suspendido | (p) suspenso67

Terceira conjugação

abrir | (a) abrido | (a, p) coberto
cobrir | (a) cobrido | (a, p) coberto
erigir | (a, p) erigido | (p) erecto
extinguir | (a, p) extinguido | (p) extincto
frigir | (a) frigido | (a, p) frito
imprimir | (a, p) imprimido | (a, p) impresso
tingir | (a) tingido | (p) tinto

89a Observações:

a) Ha ainda outros segundos participios, mas empregão-se unicamente
como adjectivos e não na formação dos tempos compostos
activos nem na formação dos passivos, v. g. descalço correspondente
a descalçar), omisso (a omittir), opresso (a opprimir); alguns
até só entrão em certas combinações ou formão palavras compostas,
v. g. nado (correspondente a nascido) em sol nado; coito
(correspondente a cozido) em bis coito; cinto (correspondente a cingido)
em Freixo de Espada-Cinta (á Cinta é uma inexactidão).

b) Alguns verbos intransitivos possuem tambem um segundo
participio, passivo na fórma, mas empregado com significação intransitiva.
Nomeadamente o verbo morrer tem, além do participio
morrido, que serve de formar os tempos compostos, o participio
môrto (pl. mórtos) mórta equivalente a tendo morrido e que morrer.

3. Verbos defectivos

90 Chamão-se verbos defectivos os verbos a que o uso
nega certas fórmas.

a) Só se empregão nas fórmas em que á penultima
consoante do presente infinitivo se segue a vogal i, os
verbos seguintes: adir, colorir, descomedir-se, emollir,
empedernir, extorquir, fallir, florir, renhir, retorquir
.

b) Empregão-se unicamente nas fórmas em que a
68penultima consoante do presente infinitivo é seguida de
i ou e, os verbos precaver e fremir.

O verbo soer tambem se emprega sómente nas fórmas
em que ao o se segue i ou e.

c) Rehaver só tem as fórmas indicadas no § 85.

d) As nossas grammaticas dizem que o verbo prazer só se emprega
nas terceiras pessoas do singular, todavia é certo, que em
escritores de muito boa nota se encontra este verbo empregado nas
outras pessoas, e tanto no singular como no plural.

Appendice á primeira secção
Particularidades relativas a’ forma de algumas
palavras invariaveis

91 a) Quando a preposição de se liga a uma palavra
que principia por vogal, supprime-se frequentemente o
e e indica-se a suppressão com um apostropho (’), v. g.
d’outros = de outros.

Ligada ao artigo definido pronuncia-se e escreve-se
do, da, dos, das.

b) Ácerca da preposição per (na accepção de por),
v. § 71 b; ácerca da preposição a v. § 71; ácerca do
adverbio eis v. § 58 b.

c) No verso, a vogal da preposição com deixa ás vezes de ser
nasal, quando é seguida de o, a, os, as, v. g. co’os filhos por: com
os filhos
. (A respeito de comigo v. g. 58 a.)69

Secção III — Da etymologia ou formação
das palavras

Capitulo I — Da derivação

92 a) Uma palavra que não tira a sua origem de outra
da mesma lingoa, diz-se primitiva, nessa lingoa, v.
g., em portuguez, papel, mão. A palavra que tira a sua
origem de outra palavra, chama-se derivada, por
exemplo papelada é uma palavra derivada de papel.

Obs. 1 — Uma palavra pode derivar de outra já derivada, v. g.
de formoso vem aformosear, e de aformosear vem aformoseamento.
Neste caso a palavra que dá origem, tambem se chama primitiva
em relação á sua derivada.

Obs. 2 — A’s vezes uma palavra deriva de uma preposição junta
a um substantivo, assim apear deriva de a pé, acabar de a cabo.

A syllaba ou syllabas finaes que se acrescentão para
formar palavras derivadas, têm o nome de — suffixos
derivativos
; assim em papelada, ada é um
suffixo derivativo.

b) O som final do radical da palavra primitiva é muitas
vezes supprimido ou alterado, v. g. em velh-ice de
velho, prometti-mento de promette-r.

Obs. — A’s vezes é na fórma pertencente aos mais antigos tempos,
que as palavras primitivas dão nascimento ás derivadas; por
exemplo, da fórma antiga melon (conservada no plural melõ-es) da
palavra melão, e que vem a palavra meloal.

Principaes suffixos de substantivos derivados:

93 Principaes suffixos de substantivos derivados:

a) Derivados de verbos:70

(exprimindo acção e muitas vezes tambem o resultado
d’ella)

nça… (fem.): muda-nça, dete-nça.

ção… (fem.): abalroa-ção, perdi-ção, fundi-ção.

dura… (fem.): semea-dura, morde-dura, investi-dura.

mento… (masc.): bombardea-mento, rendi-mento,
feri-mento
.

da… (fem.): entra-da, arremetti-da, sahi-da.

(exprimindo meio, instrumento)

douro… (masc.): baba-douro, bebe-douro, cingi-douro.

doura… (fem.): doba-doura.

dura… (fem.): ata-dura.

(designando o que pratica, muitas vezes habitualmente,
uma acção)

dor…: falla-dor, protege-dor, distribui-dor.

nte… (c. de dois): depende-nte, pedi-nte.

(designando o que pratica amiude ou tem grande
tendencia a praticar uma acção)

ista… (c. de dois): chup-ista, demand-ista.

b) Derivados de adjectivos:

(exprimindo qualidades ou estados)

dade… (fem.): bravosi-dade, orphan-dade, ruin-dade.

dão… (fem.) preti-dão, forti-dão.

eza… (fem.): altiv-eza, firm-eza, cru-eza, gentil-eza.71

ez… (fem): rapid-ez, dobr-ez.

ice… (fem): velh-ice.

ia… (fem.) ufan-ia, valent-ia, louçan-ia.

ôr… (masc.) fresc-or.

ume… (masc.): azed-ume.

ura… (fem.): alv-ura, trist-ura.

c) Derivados de substantivos:

(exprimindo ajuntamento, aggregação, congerie,
grande quantidade)

ada… (Fem.): grumet-ada, boi-ada, papel-ada.

agem… (fem.): folh-agem, ladro-agem.

aria… (fem.): cas-aria, preg-aria.

edo… (masc.): mosqu-edo.

io… (masc.): mulher-io, rapaz-io.

ouço… (masc.): pedr-ouço.

(exprimindo logar coberto, cheio de uma cousa)

açal… (masc.): lod-açal.

al… (masc.): are-al.

(exprimindo pancada, golpe, e d’ahi o resultado da
acção)

ada… (fem.): baldal-ada, dent-ada, agulh-ada,
punhal-ada, narig-ada
.

(exprimindo medida)

ada… (fem.): carr-ada, red-ada, batel-ada, colher-ada.

(exprimindo logar plantado)

al… (masc.): pinheir-al, pinh-al, melo-al, arroz-al.72

(designando plantas)

eira… (fem.): per-eira, nogu-eira.

eiro… (masc.): damasqu-eiro, algodo-eiro.

(designando artifices ou negociantes)

eiro… (masc.): sapat-eiro, albard-eiro, colcho-eiro.

94 Á classe dos substantivos derivados de outros pertencem:

1) os substantivos augmentativos ou substantivos
derivados de outros, que designão grandeza: albard-ão,
narig-ão
(masc.); mulher-ona (fem.); bar-aça
(fem.); cop-azio (masc.); boqu-eirão, voz-eirão (masc.);
homem-zarrão (masc.).

2) os substantivos deminutivos, ou substantivos
derivados de outros, que designão pequenez: filh-inho,
alguidar-inho, coração-zinho, alforge-zinho, pe-zinho,
caix-inha, flor-inha, afronta-zinha, mãe-zinha, mulher-zinha
;
livr-ito, rei-zito, flor-ita, flor-zita; burr-ico,
burr-ica; tyrann-ete
(masc.); cart-ilha (fem.); ilh-ota
(fem.); ri-acho (masc.); logar-ejo (masc.); cruz-eta (fem.);
espad-im (masc.); sac-ola (fem.); ilh-ote (masc.); perdig-ôto
(masc.).

Obs. — Nos deminutivos dos substantivos acabados em ão, o
plural forma-se pondo tambem no plural os substantivos primitivos:
acção-zinha, acções-inhas.

Principaes suffixos de adjectivos derivados:

95 Principaes suffixos de adjectivos derivados:

a) Derivados de verbos73

(exprimindo a qualidade do que é muito inclinado á
prática de uma acção)

ão…: brig-ão fug-ão.

az…: ro-az.

(exprimindo simplesmente a qualidade ou estado)

nte…: brilha-nte, doente.

oso…: abund-oso.

vel…: agrada-vel, aprazi-vel.

(exprimindo a qualidade de poder ou dever ser objecto
de uma acção)

vel…: louva-vel, fazi-vel, inexprimi-vel.

(significando tendencia ou facilidade em passar ao
estado designado por um participio)

iço…: quebrad-iço, moved-iço, fugid-iço.

io…: lavrad-io.

(exprimindo facilidade em causar o estado significado
por um participio)

iço…: resvalad-iço.

io…: escorregad-iço.

b) Derivados de substantivos:

(designando proveniencia, natureza)

iço…: palh-iço.

il…: febr-il.

ejo…: sertan-ejo.

eiro…: passag-eiro.

isco…: mour-isco.

(exprimindo grande inclinação á pratica de um
acto)74

eiro…: justiç-eiro, traiço-eiro.

ento…: bulh-ento.

(exprimindo posse em grande quantidade ou intensidade)

ento…: po-ento, sed-ento.

oso…: orgulh-oso, melindr-oso.

udo…: cabell-udo, sis-udo.

(exprimindo posse de uma cousa de grandes dimensões)

udo…: barrig-udo, dent-udo, narig-udo.

(exprimindo a qualidade do que causa um sentimento
ou estado)

ento…: noj-ento.

onho…: med-onho.

(exprimindo naturalidade)

ano…: alemtej-ano.

eiro…: brazil-eiro.

ense…: setubal-ense.

ez…: bragu-ez, japon-ez.

io…: algarv-io.

ol…: hespanh-ol.

ôto…: minh-ôto.

c) Derivados de adjectivos. A esta classe pertencem:

1) os adjectivos augmentativos, ou adjectivos
derivados de outros, que designão grandeza: soberb-ão;
ric-aço; doid-arrão (os adjectivos augmentativos
em ão têm a fórma feminina em ona);

2) os adjectivos diminutivos, ou adjectivos,
derivados de outros, que designão pequenez: doc-inho,
doce-zinho; doc-ico; moren-ito; alegr-ete; amig-ote
;75

3) os adjectivos superlativos, ou adjectivos,
derivados de outros, que exprimem gráo muito elevado
da qualidade. O suffixo dos superlativos é issimo issima.

Na formação dos superlativos observão-se as regras
seguintes:

96 Na formação dos superlativos observão-se as regras seguintes:

a) Quando o adjectivo primitivo (que neste caso tem
o nome de — positivo) termina em o ou e, supprimem-se
essas vogaes: justo just-issimo, grave grav-issimo.

b) Quando o positivo termina em az, iz, oz, muda-se
o z em c: capaz capac-issimo, feliz felic-issimo, veloz
veloc-issimo
.

c) Quando o positivo termina em ão, muda-se ão em
a-n: são san-issimo.

De egual modo: bom faz bonissimo e commum faz communissimo.

d) Quando o positivo termina em vel, muda-se vel
em bil: amavel amabil-issimo.

Obs. 1 — Alguns adjectivos têm, além do superlativo formado
segundo as regras dadas, outro, que se chama irregular e se
avizinha mais do superlativo latino. Os principaes são:

tableau posit. | superl. | irreg. | amigo | amicissimo | humilde | humillimo | aspero | asperrimo | livre | liberrimo | celebre | celeberrimo | nobre | nobilissimo | frio | frigidissimo | salubre | saluberrimo

Obs. 2 — Alguns adjectivos só têm o superlativo irregular. Os
principaes são:76

tableau posit. | superl. | christão | christianissimo | difficil | difficillimo | facil | facillimo | fiel | fidelissimo | geral | generalissimo | infiel | infidelissimo | máo | malissimo | misero | miserrimo | sagrado | sacratissimo | simples | simplicissimo

Obs. 3 — Optimo serve tambem de superlativo a bom, e pessimo
de superlativo a máo.

Obs. 4 — Nem de todos os adjectivos se formão superlativos.

Exemplos de verbos derivados:

97 Exemplos de verbos derivados:

a) de substantivos e adjectivos: (exprimindo ideias
mui diversas) a-bairr-a-r, a-grilho-a-r, apunhal-a-r,
a-jardin-a-r, a-jaez-a-r, a-doç-a-r; sabor-ea-r, sapat-ea-r,
ond-ea-r, pavon-ea-r, branqu-ea-r
;

b) de verbos, adjectivos e substantivos: (exprimindo
começo de acção, ou passagem para um estado ou
qualidade) a-dorm-ece-r, em-magr-ece-r, alvor-ece-r (v.
inchoativos);

c) de adjectivos: (significando a acção de dar a uma
cousa um qualidade) a-formos-enta-r; facil-ita-r; amen-iza-r,
fertil-iza-r
(*)21 (v. factitivos);

d) de verbos: (exprimindo repetição amindada de
uma acção) es-pic-aça-r (v. frequentativos); (exprimindo
a ideia de fazer que uma acção seja praticada)
a-fug-enta-r (v. causativos); (designando pouca
77intensidade, pequenez) chov-isca-r (v. deminutivos).

Exemplos de adverbios derivados:

98 Exemplos de adverbios derivados:

os adverbios terminados em mente, que se formão
de adjectivos (e de participios passivos empregados como
adjectivos), tanto positivos como superlativos: justa-mente,
devida-mente, efficaz-mente, gravissima-mente
.
Para a formação d’estes adverbios, tomão-se os adjectivos
biformes na terminação feminina. Exceptuão-se apenas
alguns adjectivos em ez que formão os adverbios
da terminação masculina, v. g. portuguez-mente.

Exercicios. — Com respeito a cada uma das palavras seguintes,
diga qual é o primitivo, qual o suffixo: baldeação, aspereza, brandura,
alojamento, giestal, abolição, pequenez, livreiro, amendoeira,
faval, sorvedouro, provimento, alegria, passarinhada, escravidão,
cobardia, sabedor, mestria, vingança, mocidade, arranhadura, folhudo,
primoroso, semelhante, façudo, estimavel, desprezivel, valioso,
jornadear, enriquecer, foguear.

Capitulo II — Da composição

99 Chama-se prefixo o primeiro elemento das palavras
compostas, que se emprega unicamente na composição,
v. g. in na palavra in-domavel.

O nome de prefixo tambem se estende a certas
preposições que podem servir de primeiro elemento de
palavras compostas, v. g. entre em entre-abrir.

100 Os prefixos portuguezes são: a, ante, anti, circum,
com (con, co), contra, de, des, es, entre, em, (en, in), extra,
in (em), pre, re, sobre, soto, sub (sob, so), trans
(tras, tres), ultra
.

D’estes os principaes são: a, des, de, es, in, re.78

101 a) a designa:

1) aproximação: a-vizinhar;
2) addicionamento: a-juntar;
3) passagem para um estado: a-doçar.

Obs. — Em muitas palavras, a não é prefixo mas sim uma letra
adventicia, isto é, uma letra desprovida de significação grammatical,
v. g. em a-levantar.

b) de designa:

1) ablação: de-pennar;
2) o contrario do segundo elemento: de-compor;
3) intensidade: de-lamber-se.

c) des designa:

1) ablação: des-folhar;
2) separação: des-partir-se;
3) o contrario do segundo elemento: des-primor, des-unir.

d) es designa:

1) ablação, exhaurição: es-folhar, es-gotar;
2) actividade, esforço: es-coucear;

e) em (en, in) designa:

1) introducção: en-garrafar;
2) passagem para um estado: en-rijar, em-mudecer;
3) guarnecimento, provimento, revestimento: en-grinaldar;
4) collocação sobre: en-cavalgar.

f) in designa:

o contrario do segundo elemento: in-domavel, in-capacidade.79

Obs. — Este prefixo une-se unicamente a adjectivos e substantivos
abstractos.

g) re designa:

1) movimenro reflexo: re-enviar;
2) repetição: re-eleger;
3) correspondencia: re-saudar;
4) intensidade: re-queimar.

102 Além das palavras compostas com prefixos, ha tambem
palavras compostas com as differentes partes do
discurso.

a) Exemplos de substantivos compostos:

meio-dia, agoa-ardente, Mont-alegre, Bel-monte; passa-tempo,
busca-pé, chupa-mel, bota-fóra, vai-vem, mal-me-quer
;
couve-flor, beira-mar, Fozcoa (= Foz do Côa),
mil-furada, Alem-tejo.

b) Exemplos de adjectivos compostos:

verde-negro, agri-doce, boqui-aberto, recem-nascido,
sem-sabor
.

c) Exemplos de verbos compostos:

menos-prezar, mal-tratar.80

Parte terceira
Syntaxe

104 A syntaxe ensina a combinar as palavras que
hão-se exprimir as ideias que têm de entrar em uma
oração, e a combinar as orações entre si para formarem
o discurso.

Secção I — Da ligação das palavras
na oração

Capitulo I — DA composição da oração
concordancia do predicado com o sujeito

A. Composição da oração

105 Uma oração (v. § 20) consta de duas partes principaes:
sujeito ou aquillo a respeito de que se enuncia
alguma cousa (§ 73), e predicado ou aquillo que
se enuncia a respeito do sujeito: Pedro (suj.) estuda
(pred.).

106 O sujeito póde ser um substantivo ou equivalente do
substantivo (incluindo o sentido de uma oração e uma
palavra tomada materialmente): A necessidade não
tem lei. Convém que as cidades se não locupletem
á custa das povoações campesinas
.
Ou é uma conjuncção.81

Obs. — O sujeito é ou simples: O leão é carnivoro, ou composto:
O leão e o tigre são carnivoros.

107 a) O predicado é ou um verbo de sentido definido,
v. g. A rola geme; Pedro Alvares Cabral descobriu
o Brazil
, ou um verbo que por si só não tem significação
definida, e um nome predicativo, isto é, um
nome (ou pronome) que serve de qualificar ou caracterisar
o sujeito e de completar a significação do verbo:
A pelle dos peixes é viscosa.

Obs. — Sobre certos verbos que são, em virtude da sua significação,
determinados por um infinitivo, v. § 224.

b) Têm nome predicativo, além do verbo ser, 1) os
verbos intransitivos estar, parecer, ficar, sahir, continuar,
permanecer
, e os de significação semelhante; 2)
a passiva de alguns verbos transitivos que exprimem a
ideia de chamar, tornar tal ou tal, representar
tal ou tal, julgar tal ou tal
(v, § 121):
A empresa sahiu victoriosa. D. Diniz foi cognominado
o lavrador
.

Obs. — O nome predicativo póde ser substituido por expressões
qualificativas equivalentes: As alegrias dos perversos são de curta
duração
(= pouco duradouras). O crime ficou sem castigo
(= impune).

108 O predicado póde ser desenvolvido e determinado
por meio de adverbios e de substantivos (ou equivalentes
de substantivos): A vida rural entre nós nunca tentou
os grandes proprietarios
.

Obs. — O que se diz do predicado, applica-se tambem a qualquer
infinitivo (v. § 222 a, e b 1) ou participio (v. § 238, 1, e 239
e 241 a, 1), que entre na oração.

109 a) A todo o substantivo ou expressão equivalente
póde juntar-se outra designação substantiva da mesma
pessoa para determiná-la ou caracterisá-la com
maior individuação: Affonso 3º, principe dotado de
82solida capacidade, soube aproveitar os annos que viveu
fóra da patria, no estudo das instituições estranhas
.

Esta designação denomina-se — apposto (e tambem
continuado).

Obs. 1 — O apposto ou se junta immediatamente ao substantivo,
como no exemplo acima dado, e neste caso é uma simples
qualificação, ou está ligado a elle por meio de uma particula (adverbio
ou conjuncção empregada adverbialmente), e neste caso não
só qualifica, mas tambem exprime alguma relação mais (por exemplo,
causa, tempo, comparação), v. g. D. João de Castro, quando
vice-rei da India, empenhou os cabellos da barba
.

Obs. 2 — Um apposto póde até pertencer para o sentido de uma
oração, v. g. As redeas fluctuávão á solta, signal evidente da distracção
do cavalleiro
.

Qualquer substantivo póde ser determinado por outra
palavra substantiva, as mais das vezes precedida de
preposição: motivo de descontentamento, aversão
ao despotismo, herança de avós, ida para
Lisboa
.

Outrosim a todo o substantivo se podem juntar palavras
adjectivas (adjectivos propriamente ditos, nomes
numeraes, pronomes, participios) para o qualificarem e
determinarem: A memoria do passado e o sentimento da
nacionalidade offendida são indeleveis em um reino
brioso
.

Obs. — Um adjectivo que se liga immediatamente a um
substantivo, denomina-se — attributo (ou accessorio).

b) Os adjectivos (em geral, as palavras adjectivas)
podem ser determinados já por adverbios, já por palavras
substantivas, ordinariamente precedidas de preposição:
A aveia dá-se, mais ou menos, em quasi toda a
Europa. Os Romanos forão sempre avidos de gloria
.83

Obs. (commum a a e b) — A’s palavras pronominaes de significação
geral póde ligar-se uma excepção por meio de uma particula
exceptiva, v. g. Sabem-no todos menos eu.

c) Os adverbios (e expressões adverbiaes) são determinados
por outros adverbios, e algumas vezes, por
substantivos ordinariamente precedidos de preposição:
bem facilmente, conformemente ao tractado.

110 a) A palavra que serve de determinar uma expressão,
tem o nome de — complemento.

Os complementos ou derivão da significação particular
da expressão determinada, v. g. ensinar uma
cousa a alguem
(complementos especiaes), ou
não derivão da significação particular da expressão
determinada, v. g. ensinar alguma cousa a alguem
com diligencia
(complementos geraes).

Obs. 1 — Uma oração, assim como póde representar de sujeito
de outra oração (§ 106), póde tambem fazer as vezes de complemento:
O Brazil foi descoberto quando reinava D. Manoel
(= no reinado de D. Manoel).

Obs. 2 — Do mesmo modo que um sujeito (§ 106, obs.), um
complemento é ou simples v. g. importar cereaes, ou
composto, v. g. importar cereaes e legumes.

b) Alguns dos complementos têm nomes particulares,
convém a saber: 1) o nome predicativo (§ 107 e
121); 2) o complemento directo (§ 120), 3) o complemento
indirecto (§ 129 e 130), 4) o apposto (§ 109, a),
5) o complemento circumstancial, nome generico de toda
a determinação que exprime alguma circumstancia
de uma acção ou estado (v. g. o logar, tempo, modo,
etc.)

111 Além do sujeito e do predicado, e das determinações
84do sujeito e do predicado, uma oração póde conter:
1) uma conjuncção que ligue a oração a outra, e
conjuncções que liguem partes da mesma oração: 2) interjeições;
3) a expressão da pessoa (ou cousa personificada)
a que seja dirigido o discurso directo (é o que
se chama vocativo) v. g. Companheiros, despedir
esta noute da montanha e das tristezas e apparelhar
para amanhã me seguirdes
.

112 a) Ás vezes uma oração exprime uma acção considerada
em si sem estar referida a uma pessoa grammatical),
v. g. chove, combate-se. Taes orações chamão-se
impessoaes.

b) Os verbos na terceira pessoa do plural podem
empregar-se sem sujeito, v. g. batem á porta, exprimindo-se
d’este modo, que, comquanto a acção se conceba
referida a uma pessoa ou pessoas determinadas,
todavia não podemos ou não queremos nomeá-las.

113 Muitas vezes omitte-se em uma oração um elemento
que pelo contexto facilmente se subentende, v. g. Cuido
(que) me seguireis; eu parti de manhã, e elle
(partiu) de tarde
. Esta omissão tem o nome de —
ellipse.

Ás vezes, pelo contrario, acha-se repetido um elemento
da oração, v. g. Enriquecem-se a si e a nação.
Esta repetição tem o nome de — pleonasmo.

B. Concordancia do predicado com o sujeito

114 Denomina-se concordancia a correspondencia
de flexões, v. g. homem alto, homens altos; elle entrará,
elles entrarão
.85

115 Quando ha um só sujeito (§ 106, obs.) o verbo do
predicado vae para o numero e pessoa a que pertence
o sujeito: O nascimento em todos é egual, as obras fazem
os homens differentes. Construe-se um palacio; construem-se
palacios
.

116 a) Havendo dois ou mais sujeitos (§ 106, obs.), se
um d’elles é da primeira pessoa, o verbo vae para a
primeira pessoa do plural: Eu, tu e elle partiremos juntos.

b) Se um dos sujeitos é da segunda pessoa e não
ha nenhum da primeira, o verbo vae para a segunda
pessoa do plural: Tu e elle partireis juntos.

Obs. — Cumpre todavia notar que no sul do reino não costumamos
empregar na pratica familiar a segunda pessoa do plural, mas
sim a terceira.

c) Se os sujeitos são todos da terceira pessoa, o verbo
vae para a terceira pessoa. Com respeito ao numero
observão-se as regras seguintes:

1) Se os sujeitos são todos do plural, o verbo vae
para o plural: Andão sempre de companhia os erros e
as desculpas
.

2) Se os sujeitos são todos do singular, e estão antes
do verbo, o verbo vae, as mais das vezes, para o
plural: O milho e o trigo vivem nos paizes temperados e
quentes
; quando, porém, estão depois do verbo, emprega-se
tanto o singular como o plural: Fallecem-nos o pão
e a agoa
; ou: Fallece-nos o pão e a agoa.

3) Se os sujeitos são de numeros differentes, o verbo
vae para o plural: A cortiça e os couros forão declarados
de commercio livre nas côrtes de Lisboa em 1498
.
Quando, porém, os sujeitos estão depois do verbo, póde
86empregar-se o singular, caso o primeiro sujeito seja
do singular: Crescia o ruido e os balanços do coração.

117 Concordancia do adjectivo ou participio do predicado.

a) Quando o sujeito é simples, o adjectivo ou participio
do predicado vae para o genero e numero do sujeito:
O nascimento em todos é egual.

b) Quando o sujeito é composto, o adjectivo ou participio
do predicado vae para o mesmo numero em que
está o verbo. Com respeito ao genero, observão-se as
regras seguintes:

1) Se os sujeitos são do mesmo genero, o adjectivo
ou participio toma o genero dos sujeitos: São necessarias
a circumspecção e a prudencia
.

2) Se os sujeitos são de generos diversos, o adjectivo
ou participio:

a) no caso de se empregar o singular, vae para o
genero do sujeito mais proximo: É necessario o esforço
e a vigilancia. É necessaria a vigilancia e o esforço
.

b) no caso de se empregar o plural, vae, por via
de regra para o genero masculino: A cortiça e os couros
forão declarados de commercio livre nas côrtes
de Lisboa de 1498. Nem o sangue nem as lagrimas estavam
enxutos
.

118 Quando o nome predicativo é um substantivo que
tem fórmas differentes segundo os generos, escolhe-se
a fórma correspondente ao genero do sujeito, da mesma
maneira que nos adjectivos: A historia é a mestra
(e não o mestre) da vida.87

Particularidades da concordancia do predicado.

119 Particularidades da concordancia do predicado.

a) Como o substantivo que se junta ao verbo impessoal haver
não é sujeito mas complemento directo, o verbo haver neste caso
fica sempre no numero singular: ha leis, havia leis, houve leis, tinha
havido leis, havia leis e costumes
.

Esta regra applica-se não só aos verbos auxiliares que entrão
na conjugação periphrastica (§ 82), mas tambem a quaesquer verbos
que se combinem com o infinitivo do verbo haver: Ha-de (póde,
costuma, deve
) haver leis.

b) Quando o sujeito é o substantivo parte ou outro de significação
partitiva (porção, metade, etc.) o predicado póde concordar
com o complemento que designa o todo, como se este fosse o sujeito:
Parte d’elles lançárão-se a uma lagôa. Metade do districto está
dividido em pequenos lotes
.

Tambem, quando o sujeito é o substantivo numero ou outro
de significação semelhante, acompanhado de um complemento da
terceira pessoa do plural com a preposição de, que designe a classe
de objectos a que o sujeito se refere, o predicado póde concordar
com o complemento como se este fosse o sujeito: Grande numero
de cavalleiros corrião pelas praças
.

c) Quando o sujeito é algum dos pronomes interrogativos
quaes, quantos, ou dos indefinidos alguns, nenhuns, sem substantivos,
o predicado concorda com o complemento do plural que designa
o todo, como se este fosse o sujeito Quaes de vós sois, como
eu, desterrados
?

d) O pronome quem leva o verbo á terceira pessoa do singular:
Quem applaudiu? Eu fui quem te adestrou.

Com respeito ao numero, ha uma excepção, apontada adeante
(em o).

e) Os pronomes relativos são do genero, numero e pessoa a
que pertence o seu antecedente, e é por este que se regula a concordancia
do predicado: Eu, que fui premiado, estou contente,
tu que foste premiado, estás contente; elles que forão
premiados, estão contentes
.

Todavia, depois de o que, a que, os que, as que (=aquelle que,
aquella que
, etc.), sendo o a os as apposto ou nome predicativo, o
88predicado concorda com a palavra (ou palavras) de que o a os as
é apposto ou nome predicativo (isto é, a concordancia faz-se como
se não estivesse o a os as): De todos (nós) os que vinhamos em
sua guarda, só eu pude escapar. Fostes vós os que dissestes. Eu sou
a que fui premiada
.

f) Quando fizer parte de um sujeito composto alguma das palavras
tudo, todos, todas, ninguem, nada, que o resumão, o predicado
concordará com estes pronomes: Discursos, versos propheticos,
palavras de santos, juizos de astrologos, promessas mysteriosas, e
interpretações audaciosas dos textos sagrados, tudo se imprimia, reimprimia,
espalhava e commentava
.

g) Quando um sujeito composto é seguido de cada um ou cada
qual
, como appostos, o predicado, se se refere immediatamente
a estes pronomes, concorda com elles: Homens, mulheres, velhos,
creanças, cada um procurava salvar-se fugindo
.

h) Quando a mais de, menos de, cerca de, obra de, cousa de,
perto de
, se liga um predicado, a concordancia faz-se como se estas
palavras não entrassem na oração: Sobem serenamente pela deserta
veia do Tejo obra de cento e cincoenta navios christãos
.

De egual modo, quando a que de, equivalendo a quanto quanta
quantos quantas
, se liga um predicado, este concorda com o complemento
que é precedido da preposição de: Que de corações se não
finárão com saudade
!

i) Nas expressões abreviadas constituidas por um adverbio negativo
(não, nunca) e por senão ou mais que (ou mais do que), o
predicado concorda com a palavra ou palavras ligadas por senão ou
mais que: Não se descortinavão senão (ou mais que) tropeis de
barbaros
.

j) Quando o sujeito é uma expressão de tratamento como Sua
Santidade, Vossa Magestade
, o predicado concorda com o nome
proprio da pessoa que recebe o tratamento: Sua Santidade está bem
lembrado
.

k) Se dois ou mais sujeitos representão uma só pessoa ou
cousa, o predicado concorda com o mais proximo: Este soldado valente,
este poeta sublime, esta gloria nacional foi desamparada no
leito da dôr
.

l) Quando a um sujeito se liga uma palavra por meio da particula
89que (ou do que), para exprimir comparação, ou por meio das
particulas senão ou menos, para exprimir excepção, o predicado
concorda com o sujeito e não com a palavra que se liga ao sujeito:
Tudo, menos as molduras, ficou salvo.

m) Quando o predicado se intercala entre os sujeitos, como
acontece ás vezes no verso e no estilo oratorio, na concordancia do
predicado só se attende ao sujeito ou sujeitos que estão antes: E
um hymno pio a solidão lhe ensinará e a noute
(A. Herculano).

n) Quando o sujeito é composto e o verbo tem por nome predicativo
um substantivo ou pronome do plural, o verbo vae necessariamente
para o plural: João Pinto e Sanches de Baena erão as
duas pessoas que o duque de Bragança costumava consultar na capital
sobre todos os assumptos graves
.

o) Quando a alguns dos pronomes isto, isso, aquillo, tudo, o
(que) = aquillo (que), se junta como predicado o verbo ser ou parecer
e um substantivo do plural ou pronome do plural, o verbo concorda,
por via de regra, com o nome predicativo: Isto não são palavras
de animação. Erão tudo memorias de alegria
.

De egual modo, quando ao pronome quem se liga como predicado
o verbo ser e um substantivo do plural, o verbo concorda com
este substantivo: Quem forão os progenitores de D. Affonso I?

Outrosim o verbo ser, quando é empregado impessoalmente e
se lhe junta nome predicativo, concorsa com o nome predicativo.
São quatro horas. São dezoito do mez. Quem é? sou eu.

p) Quando o sujeito é o pronome vós (ou o pronome que a elle
referido) designando uma só pessoa, o nome predicativo (e o participio
do predicado, como tambem o apposto) vae para o singular:
Vós ereis feliz. Vós sois amado.

q) As orações e as palavras tomadas materialmente considerão-se
do numero singular e do genero masculino.90

Capitulo II — Dos complementos constituidos
por substantivos ou palavras substantivas

A. Complemento directo; outros complementos
que não têm preposição

120 Todo o verbo transitivo (§ 19) pede um complemento
que designe o objecto em que se exercita immediatamente
a acção do sujeito: D. Affonso Henriques
conquistou Santarem
. E’ o que chama —
complemento directo ou complemento objectivo
propriamente dito.

Geralmente fallando, o complemento directo não tem
preposição; todavia, com grande numero de verbos, póde
ser precedido da preposição a, mórmente quando
designa pessoa: A imagem do mundo dessocega ao eremita.

Obs. 1 — O complemento directo é o que na oração feita pela
voz passiva (§ 72) passa para sujeito: Santarém foi conquistada
por D. Affonso Henriques
. (Sobre a fórma que toma na oração
passiva o que era sujeito na oração activa, v. § 143.)

Obs. 2 — Alguns verbos tem duas construcções; assim diz-se:
ensinar alguma cousa a alguem (alguma cousa é o complemento directo),
e ensinar alguem a fazer uma cousa (alguem é o complemento
directo).

121 a) Certos verbos transitivos pedem, além do complemento
directo, uma segunda determinação constituida
por um adjectivo (ou palavra adjectiva) ou substantivo,
que se refira, como qualificação, ao complemento directo
e sirva de completar a significar do verbo, v. g.
nomear alguem ministro, fazer alguem feliz. A
côrte suppunha o duque de Bragança D. João incapaz

91de qualquer pensamento ousado. Esta determinação
denomina-se — nome predicativo do complemento
directo
. Na oração feita pela voz passiva,
o nome predicativo do complemento directo passa
a ser nome predicativo do sujeito (§ 107), v. g. O duque
de Bragança D. João era pela côrte supposto incapaz
de qualquer pensamento ousado
.

Os verbos principaes que se construem d’este modo são: fazer,
tornar, eleger, nomear, jurar, declarar, constituir, instituir,
sagrar, ungir, coroar, chamar, appellidar, cognominar, achar, considerar,
crêr, julgar, reputar, suppôr, descrever, pintar, representar
.

Obs. 1 — Com alguns verbos o nome predicativo póde ligar-se
ao verbo por meio da particula como, v. g. considerar uma cousa
como justa
.

Com alguns verbos a qualificação do complemento directo, em
logar de ser simples nome predicativo póde ser regida da preposição
por, e tambem para (exprimindo um fim), v. g. instituir alguem
por herdeiro
. O emprego de por (ou como) é obrigatorio
com os verbos ter e haver na accepção de julgar, suppôr,
e com os verbos dar e tomar e seus synonymos: ter alguem por feliz.

Obs. 2 — O nome predicativo é ás vezes substituido por expressões
equivalentes: Os historiadores reputão D. João III de intelligencia
apoucada
.

b) Concordancia do nome predicativo do complemento
directo, quando é adjectivo (ou palavra adjectiva):

1) Quando o complemento directo é simples (§ 110,
obs. 2) o adjectivo concorda com elle em genero e numero:
O tratado de 1641 entre Portugal e França declarava
franco e livre o commercio entre os vassallos
de França e de Portugal
.

2) Quando ha dois ou mais complementos directos,
o adjectivo vae, em regra, para o plural (e necessariamente,
92se todos ou o mais proximo forem do plural):
Tinha tornado inuteis a intelligencia e o braço do homem.

Com respeito ao genero observão-se as regras seguintes:

Se todos os elementos directos são do mesmo
genero, o adjectivo toma o genero dos complementos:
Julgou necessarias a circumspecção e a prudencia.

Quando são de generos diversos, o adjectivo vae,
por via de regra, para o genero masculino: Declara inventados
o logar da scena e a epoca
. No caso, porém,
de se empregar o singular, o adjectivo toma o genero
do complemento directo mais proximo: Declara inventada
a epoca e o logar da scena
.

Obs. — As particularidades de concordancia, que, segundo o §
109 (b, e, f, h, i, j, k, l, m, p), se dão com o adjectivo ou participio
do predicado em relação ao sujeito, dão-se semelhantemente
com o nome predicativo do complemento directo em relação ao
complemento directo: Julgo-vos feliz (fallando a uma só pessoa).

122 A muitos verbos, e tambem a adjectivos, juntão-se, sem preposição,
as palavras muito, nada, pouco, alguma cousa, tudo, que
(referido ás palavras precedentes), que ou o que (interrogativo), quanto,
para exprimir a amplitude e extensão da acção e a intensidade
da qualidade: Dóe-me a cabeça alguma cousa. Estão algum
tanto alegres. O que me importa o morrer? O imperador Decio,
pelo muito que amava ao principe Decio, seu filho, determinou
coroá-lo em sua vida
.

Obs. — Como adverbios (ou locuções adverbiaes), muito,
nada, pouco, alguma cousa, tanto, quanto
, podem juntar-se a qualquer
verbo ou adjectivo (ou adverbio).

123 Emprega-se sem preposição a expressão que designa
durante quanto tempo um facto se dá. Elle hesitou
alguns segundos
. (Todavia muitas vezes
93junta-se a preposição durante e ás vezes por, quando
se quer dar realce á expressão.)

124 Certas designações do tempo em que uma cousa acontece, não
são, ou podem não ser, precedidas de preposição, v. g. Elle chega
este anno, este mez, esta semana, esta manhã,
esta tarde; partirei domingo
(ou no domingo), quinta-feira
(ou na quinta-feira).

125 Com os comparativos (v. § 183); com as expressões
comparativas antes, depois, acima, abaixo, aquem (e
expressões equivalentes), além (e expressões equivalentes);
com os verbos que significão afastamento ou
differença, e com os que envolvem a ideia de augmento
ou diminuição, superioridade ou inferioridade, a designação
da medida não tem preposição: duas vezes
mais distante, quatro mezes mais velho, sete annos
depois da conquista de Ceuta, tres legoas além
do Tejo. Castello-Rodrigo está tres legoas afastada de
Almeida
.

Juntar a preposição de e dizer, v. g. augmentar de um centimetro,
é um erro grosseiro que se deve evitar com o maior cuidado.

126 a) Depois dos verbos custar, valer e pesar, a designação do
preço e do peso não tem preposição: A acclamação de D. João IV
não custou em todo o reino uma gota de sangue
. (Quando, porém,
se indica o preço correspondente a uma determinada unidade
põe-se a; v. § 137, b.)

b) Quando se diz que uma cousa se compra ou vende ou, em
geral, se obtém por tal ou tal preço correspondente a certa unidade,
a designação da unidade não tem preposição: Na primeira metade
do seculo XVI os vinhos finos de Lamego vendião-se para a côrte
e para embarque por 400 e 500 reaes o almude
.

127 Tambem não tem geralmente preposição as designações da circumstancia
de uma acção constituidas por participios absolutos de
que se tratará nos §§ 238, 2, 239, e 241 a, 2.

128 Observação.

Em outros casos mais occorrem complementos sem preposição,
mas esse facto é devido propriamente a ellipse.94

B. Complementos regidos de preposição

1. Emprego da preposição a

129 a) Muitos verbos transitivos exprimem uma acção
que não só passa a um objecto em que ella se exercita
immediatamente (complemento directo), mas ao mesmo
tempo vae referir-se a outra pessoa ou cousa, v. g.
dar, (entregar, prometter, etc.) uma cousa a alguem.
A determinação da pessoa ou cousa em que a acção se
exercita indirectamente (complemento indirecto,
objecto de referencia
) é designada pela
preposição a: Ensinae a temperança aos vossos filhos.

Os pronomes pessoaes têm fórmas proprias (casos)
para designar o complemento indirecto; v. § 55
e § 187.

Depois de muitos d’estes verbos o complemento indirecto representa
a pessoa ou cousa em proveito ou damno de quem
a acção é praticada.

Verbos transitivos que pedem complemento indirecto, são, por
exemplo: conceder, dar, emprestar, entregar, outorgar, vender; offerecer,
prometter; propor, annunciar, dizer, ensinar; mostrar,
ajuntar, ligar, unir; esconder, occultar, tirar, tomar; sacrificar
;
acostumar, afazer, habituar; condemnar, pedir, rogar, supplicar.

b) De egual modo de construem certas locuções formadas de
um verbo com um complemento directo, que no seu conjuncto exprimem
uma acção que vae semelhantemente referir-se a uma pessoa
ou cousa, v. g. erigir uma estatua a alguem, fazer guerra
a alguem
.

c) Tambem a certos verbos transitivos (e a alguns intransitivos
que acompanhados de um complemento equivalem no sentido a um
verbo transitivo com o seu complemento) se liga ou póde ligar um
complemento indirecto, particularmente na fórma de pronome pessoal,
quando o complemento directo designa uma cousa pertencente
ao complemento indirecto, v. g. apertar a mão a alguem,
pegar na mão a alguem; só lhe conheço um defeito
.95

130 Muitos verbos intransitivos exprimem uma acção ou
estado que vae referir-se a uma pessoa ou cousa, v. g.
resistir a alguem, agradar a alguem. A determinação
do objecto a que se refere a acção (complemento
indirecto
), é tambem designada com a preposição
a, da mesma maneira que com os verbos transitivos:
A fórma dos peixes corresponde admiravelmente
ás condições em que a natureza as collocou
.

Verbos intransitivos que pedem complemento indirecto são,
por exemplo: agradar, aspirar, convir, obedecer, pertencer, parecer,
recorrer, resistir, sobrevir
.

130a Observação aos §§ 129 e 130.

E’ vulgar empregar-se um complemento indirecto (sobretudo
pronomes pessoaes) ligado ao verbo em vez de se ligar um pronome
possesivo a um substantivo, v. g. Dóe-me a cabeça. Ficava-nos
tambem na amada terra o coração
(Camões). D’este modo dá-se
realce á ideia de que o facto acontece em proveito ou damno
do complemento indirecto.

131 No estilo familiar, a lingoa portugueza junta muitas vezes ao
verbo um pronome pessoal na fórma do complemento indirecto (§
187); nas expressões de admiração ou censura, nas recommendações
e instancias e nas interrogações ácerca de alguem, para significar
que a pessoa designada pelo pronome pessoal tem interesse na acção:
Porque não me estuda? Não me sáia d’aqui.

132 Construem-se com a preposição a os adjectivos que
exprimem qualidades que vão referir-se a um objecto:
surdo aos rogos, insensivel á dôr, agradavel ao tacto.

Os adjectivos principaes que se construem d’este modo, são:
attento, indifferente, docil, indocil, sensivel, insensivel, rebelde, surdo,
inexoravel, favoravel, hostil, agradavel, desagradavel, caro; conforme,
contrario, semelhante, egual, equivalente, identico, parallelo
;
anterior, posterior, superior, inferior.

Ha, porém, muitos adjectivos que têm outra costrucção
96particularmente os que exprimem sentimentos
benevolos ou hostis.

133 A preposição a designa o termo do movimento e de
uma extensão, sem mais ideia accessoria: ir a França,
dirigir-se ao logar aprazado, de Valença ao cabo de S
.
Maria.

Quando se quer exprimir demora no logar, ou destinação,
emprega-se para: ir para o Brazil, mandar
vinhos para Inglaterra
.

Obs. — A’cerca de uma particularidade de certos verbos, v. §
156, b.

134 Com certos verbos e expressões a preposição a designa
estada proxima, contiguidade, coincidencia: estar
á mesa, pôr-se ao lado de alguem, collocar-se á esquerda,
morar á entrada da rua
.

135 Em certos casos a preposição a serve de designar o
tempo em que uma cousa succede (a coincidencia
no tempo); assim diz-se Isto aconteceu a tantas horas,
ao alvorecer
(ao amanhecer, ao anoitecer,
etc.)

Obs. — Em alguns casos a preposição a exprime não só a coincidencia
no tempo, senão tambem o que dá occasião a um facto:
A’ vista d’aquelle accidente, cahiu em deliquio.

136 Em certas expressões a preposição a designa o meio
e instrumento: calcar aos pés, enxotar á pedrada, ir á
véla, pescar á linha, levar aos hombros (ás costas)
.

137 a) Em algumas locuções a preposição a designa o
modo: ir (partir, etc.) a galope, cavalgar á redea solta.

Em particular entra na composição de numerosas locuções adverbiaes
formadas com o plural feminino de muitos adjectivos (e
participios passivos), v. g. ás claras, ás cegas, ás escondidas.97

b) A preposição a tem o sentido de: na razão de, quando
se declara o preço correspondente a certa unidade, pelo qual
uma cousa se compra ou vende, ou, em geral, se obtém: O vinho
estava a duzentos reis o litro
.

2. Emprego da preposição de

138 a) A preposição de serve de indicar a origem de
um movimento ou extensão (no espaço ou no tempo):
vir de Lisboa, chegar de uma provincia. Da acclamação
de D. João I ao descobrimento do Brazil vão 115 annos
.

b) De serve de indicar o logar d’onde em sentido
translato, isto é, a pessoa ou cousa de que outra
provém, depende, é esperada, recebida, etc. A verdade
não depende do tempo nem da moda
.

139 a) Construem-se com a preposição de os verbos que
significão intransitivamente: abster-se, desistir, ser differente,
dissentir, carecer, — e os que significão transitivamente:
livrar, impedir, excluir, distinguir, separar,
e, tambem, privar: desistir de um proposito. De uma
traição ninguem se livra
.

b) Construem-se egualmente com de os adjectivos de
significação correspondente á dos verbos acima nomeados,
v. g. differente, isento, livre: livre de cuidados.

140 a) Construem-se com a preposição de os verbos
transitivos que exprimem a ideia de prover de uma
cousa: carregar um navio de trigo, encher de amendoas
uma caixa, rodear uma casa de tropa, guanecer uma
praça de defensores, juncar as ruas de flores, regar as
pedras de sangue, encarregar alguem de um negocio,
cobrir o seu nome de gloria
.98

Muitos d’estes verbos tambem podem construir-se com a preposição
com.

b) Da mesma fórma pedem a preposição de alguns
verbos intransitivos que exprimem a ideia de estar
provido
de uma cousa, v. g. trasbordar.

Obs. — Os mais verbos intransitivos pedem a preposição em, v.
g. abundar, escorrer, ferver.

c) Construem-se egualmente com de alguns adjectivos
que exprimem posse de uma cousa em abundancia,
v. g. cheio, repleto.

Obs. — Os mais adjectivos d’esta categoria construem-se ou podem
construir-se com a preposição em.

141 Em certos casos a preposição de serve de indicar a
razão, o motivo, a causa: morrer de fome.

Em particular acontece isto depois dos verbos intransitivos
e adjectivos, antepondo-se de ao nome do
sentimento de que é manifestação a acção ou estado significados
pelo verbo ou adjectivo: nitrir de terror, recuar
de espanto, chorar de saudade; louco de dôr, cego
de colera, immovel de terror
(cf. § 179, b, obs.)

142 As vezes a preposição de indica o instrumento e
meio com que se realisa uma acção: picar de esporas.

142a De serve de designar a materia de que uma cousa
é feita e de que ella consta, v. g. ser composto de resina
e enxofre
.

143 O agente da passiva, isto é, a pessoa ou cousa que
na oração feita pela voz activa é sujeito, designa-se com
a preposição por: O Brazil foi descoberto por Pedro Alvares
Cabral
. Todavia com grandissimo numero de verbos,
e em particular com todos os que exprimem sentimentos
99(e manifestações de sentimentos) póde tambem
empregar-se a preposição de: ser amado de todos:
ser reprehendido dos nescios.

144 A preposição de designa a maneira como se faz uma
cousa; mas, em geral, só em certas locuções adverbiaes,
v. g. ir (vir, voltar, etc.) de corrida.

145 De serve de exprimir que uma affirmação se limita
a uma parte de um ser ou a uma cousa que lhe diz
respeito, depois de adjectivos e participios, quando se
falla de qualidades do organismo ou da alma, e das circumstancias
e condições em que alguem está: cego de
ambos os olhos, surdo do ouvido direito, curto da vista,
grande de membros, alegre de semblante, portuguez de
nascimento e de coração, leve de dinheiro
.

Obs. 1De limitativo tambem occorre depois de verbos, mas
neste caso o seu emprego é muito restricto: mudar de opinião, de
fato; divergir de opinião
.

Obs. 2 — Na designação do respeito em que uma cousa é comparada
com outra, tanto depois de adjectivos como depois de verbos,
emprega-se outra preposição; v. § 157.

146 De ás vezes designa a materia ou objecto de que se
trata na prática de uma acção: dispor de seus bens, tratar
de uma sciencia, fallar de assumptos serios, decidir
da sorte de alguem
.

147 A preposição de serve de indicar o tempo em que
uma cousa succede, mas só em certas locuções adverbiaes:
de dia, de noite, de madrugada, de manhã, de
tarde
.

148 Depois das palavras mais e menos emprega-se a preposição de
em logar de que), quando se segue um nome numeral ou a palavra
metade, v. g. mais de sete seculos, menos de metade.100

149 a) A preposição de, ligando um substantivo (ou
equivalente do substantivo) a outro substantivo, serve
de designar a pessoa ou cousa a quem um objecto
pertence (por parentesco, posse, origem, etc., ou
como acção, propriedade, dependencia, etc.): filho de
Eduardo, quinta de Alfredo, entrada da sala, monumentos
de um paiz, poesias de Bocage, batakha de Aljubarrota
:
conquistas de Alexandre, virtudes de Socrates,
baixella do aparador
.

Obs. — Os pronomes possessivos e o pronome cujo exprimem
por si sós a relação que é designada por de quando empregado
d’este modo, v. g. o meu filho, a tua quinta, o seu poema, a nossa
humildade
.

b) O substantivo regido da preposição de tomada em
sentido possessivo póde depender de certos verbos: Este
livro é de Eduardo
.

150 A preposição de serve de designar uma pessoa ou
cousa como objecto da acção ou sentimento que um
substantivo ou adjectivo significa: temor do perigo, amor
da patria, execução de uma ordem, cubiçoso de honras
.

Todavia os substantivos e adjectivos que designão sentimentos,
têm syntaxe mui varia, sendo que em muitos casos póde ou deve
empregar-se outra preposição, v. g. amor ás riquezas, odio ao despotismo,
indulgencia para com alguem
.

Outrosim alguns substantivos correspondentes a verbos neutros
e reflexos que pedem complemento indirecto, construem-se ou
podem construir-se, com a preposição a, v. g. obediencia ás leis.

151 Depois das palavras partitivas a preposição de serve
de designar o todo: parte do paiz, o resto da provincia;
o mais precioso dos metaes; um d’estes livros,
quatro d’estes homens; qual de vós
?

A’s vezes a preposição de póde ser substituida por entre, quando
101se quer dar realce á ideia: a mais formosa entre as cidades do
mundo
.

152 A preposição de serve de indicar o genero, a cousa
medida ou contada:

1) depois dos substantivos que significão medida,
numero ou quantidade: uma porção de arvores, grande
numero de ovelhas, um pedaço de pão, um kilogramma
de assucar, uma resma de papel, uma colher de licor
.

2) depois de certos pronomes, adjectivos e adverbios
empregados como substantivos: nada de novo, um
tanto de orgulho, um pouco de sagacidade, que de lagrimas
!
assaz de trabalho.

153 a) A preposição de ligando um substantivo a outro
substantivo ou pronome, já immediatamente, já por intermedio
de certos verbos, serve de descrever e caracterisar
uma pessoa ou cousa, indicando as suas qualidades,
a classe a que pertence, a sua grandeza, o sentimento
de que um facto é manifestação ou effeito, a
materia de que uma cousa é feita, etc.: homem de talento,
pessoa de vida exemplar, ser de grande proveito
;
cidadão do nosso concelho, homem de raça goda, os sabios
de hoje
(= do tempo presente); — fosso de dois metros
de profundidade; — gritos de alegria, lagrimas de arrependimento
;
— relogio de prata, estatua de marmore.

O substantivo regido da preposição de em certos casos tem de
ser acompanhado de uma qualificação; noutros, porém, póde tambem
estar só.

b) De tambem se emprega em sentido qualificativo:

1) depois de certos verbos, taes como tratar, taxar,
qualificar, alcunhar, abonar
(v. g. abonar de verdadeira
uma assignatura
).102

2) depois do verbo servir, v. g. servir de exemplo.

154 Depois de certos substantivos de significação geral,
a preposição de indica o objecto particular a que se applica
a designação constituida por aquelles substantivos,
v. g. o nome de Augusto, o titulo de rei; o mez de Setembro;
o reino de Portugal, a provincia da Beira; a cidade
de Lisboa; o caes de Santarem, a praça de vinte e
quatro de Julho
(e não: a praça vinte e quatro de Julho),
Campo de Sá da Bandeira
(e não: Campo Sá da
Bandeira
), a egreja de São Vicente, a calçada do Salitre,
a rua do Arsenal; a virtude da temperança
.

Obs. 1 — A preposição de empregada assim, em sentido definitivo,
tem as vezes da apposição; e da arbitrariedade do uso é que
depende o empregar-se em uns casos de definitivo, em outros a apposição.
Diz-se, por exemplo: o nome de Augusto, mas: a palavra
Augusto; a cidade de Lisboa
, mas: o rio Tejo.

Obs. 2 — No estilo familiar tambem se diz, com uma construcção
analoga, por exemplo: o demonio do homem, o travesso do rapaz.

155 a) Construem-se finalmente com de certos verbos, locuções e
adjectivos, depois dos quaes esta preposição exprime uma relação
que sem duvida pertence a alguma das categorias enumeradas nos
paragraphos antecedentes, mas não póde talvez ser determinada
com toda a segurança. Assim diz-se por exemplo: accusar, arguir
de negligencia; apoderar-se, assenhorear-se de um paiz; arrepender-se
das culpas; convencer, persuadir-se de uma cousa; desconfiar,
desesperar, duvidar da victoria; escarnecer, rir
(ou rir-se), zombar
de alguem; gostar de doces; lembrar-se, esquecer-se dos favores
;
triumphar das tentações; digno, indigno de recompensas.

b) Deve tambem notar-se que á interjeição ai póde ligar-se por
meio da preposição de o nome do objecto do sentimento: ai de nós.
(Por analogia emprega-se tambem, em exclamações, a preposição
de depois de feliz, infeliz e seus synonymos: felizes de nós! infeliz
d’elle
!)103

3. Emprego da preposição em

156 a) A preposição em designa o logar onde uma cousa
está ou succede, tanto no sentido proprio como no
figurado: estar em casa, achar-se em perigo, estar em
erro, andar na rua, andar no commercio, bater na mesa,
escrever em pergaminho, esculpir em marmore, fundar-se
em razões sólidas
.

Obs. — Depois de certos verbos empregão-se com os pronomes
pessoaes não a preposição em mas as fórmas do complemento indirecto
(v. § 184 c); assim diz-se tocar, mexer, em alguma cousa,
mas: não lhe toquei, não lhe mexi
.

b) Depois de certos verbos (entrar; os que significão deixar
entrar
, v. g. admittir, receber; os que significão fazer entrar,
v. g. deitar, lançar, metter), a lingoa portugueza designa o
termo do movimento não como tal, mas como logar onde, v.
g. entrar em casa. E’ que o pensamento, por uma antecipação ou
prolepse, considera não o movimento a que se referem
aquelles verbos, mas o estado que se segue a esse movimento

Obs. — A respeito da preposição por na designação do logar
onde, v. § 162, b.

157 Em designa: a) quando uma cousa succede; b)
o tempo que uma acção leva a realisar-se (em quanto
tempo
uma acção se realisa): D. Duarte morreu
em 1438. A terra dá uma volta em torno do sol em 365
dias e quasi seis horas
.

Obs. — V. tambem § 124 e o § 126, c.

158 Em emprega-se depois de muitos verbos (e dos substantivos
e adjectivos correspondentes), exprimindo varias
relações, por exemplo:

1) depois dos verbos de dividir, designando as
partes da divisão: O anno divide-se em doze mezes; e
104depois dos verbos que de qualquer modo exprimem a
ideia de converter, disfarçar e desfazer,
designando a nova natureza ou fórma que uma cousa
toma: converter em pó.

Obs. — Ha todavia alguns verbos que pedem a preposição a, v.
g. reduzir a cinzas.

2) depois dos verbos abundar, ferver, etc., e depois
dos adjectivos fertil e fecundo, designando aquillo de
que ha abundancia: abundar em peixe. (v. § 140.)

3) depois dos verbos que exprimem avaliação, designando
o preço; taxar um livro em 400 reis.

159 Em muitos casos a preposição em tem sentido limitativo,
isto é, designa sob que respeito uma affirmação
se applica a uma pessoa ou cousa: enganar-se na data.

Em particular designa a qualidade em que uma pessoa
ou cousa é superior, inferior ou egual a outra: exceder
em valentia
.

160 Em varias combinações a preposição em designa:

1) o modo, v. g. em pessoa = pessoalmente, em silencio (v. g.
contemplar em silencio).

2) o meio: pagar em metal sonante, celebrar em verso.

3) o fim e a destinação: dar (entregar, etc.) ou tomar (receber,
etc.) em penhor, em refens; vir (correr, acudir) em auxilio (soccorro,
ajuda
); dar ou pedir em casamento.

161 Depois dos nomes de productos, e depois de mais alguns nomes,
emprega-se a preposição em qualificativamente, designando o
estado: ouro em pó, prata em barra, algodão em rama, ferro em
braza, laranjal em flor
.

4. Emprego da preposição por (*)22

162 a) A preposição por designa o logar por onde
105uma cousa entra, sáe, é levada, etc. (por outra, designa
o caminho que uma cousa toma para ir de um ponto
a outro): ir por terra, entrar pela porta, levar pelo
rio
.

b) Tambem designa o logar onde, quando se exprime derramamento
e extensão em um espaço: Ouvem-se gritos por toda a
cidade
.

c) Outrosim designa de um modo vago o tempo em que uma
cousa succede: Chegará por estes dias.

163 Por emprega-se:

a) designando o meio, mas só em certos casos,
v. g. vir pelo paquete, segurar pelos cabellos, levar pela
mão, contar pelos dedos, tirar ou puxar pelo vestido,
beber por um copo, participar pelo telegrapho
.

b) nos juramentos e petições, designando a pessoa ou cousa
invocada para firmar o juramento e para interceder: jurar pela sua
honra, pedir pela saude de alguem
.

c) designando o agente da passiva, v. § 143.

164 Por designa o preço mediante o qual se dà, recebe
ou faz uma cousa: ensinar por dinheiro.

165 Por serve de indicar o motivo e causa: fazer uma
cousa por amizade, por odio
.

Ha, porém, casos em que se emprega de (§ 141) e com
177, b, 3).

166 Depois das palavras que exprimem a ideia de dividir,
por designa as pessoas ou cousas que recebem
o quinhão: repartir pelos pobres.

167 Por serve de indicar:106

a) o modo, em certas locuções, v. g. contar por ordem.

b) a distribuição, em expressões como: duas vezes
por semana
.

168 Por emprega-se com varios sentidos em certas locuções e
combinações, por exemplo:

1) significando em defesa de, em prol de: combater
pela liberdade, morrer pela patria
.

2) significando em vez de: assentar praça por alguem.

3) em logar do simples nome predicativo já do sujeito, v. g.
ficar por fiador, já do complemento directo, v. § 121. obs. 1.

169 No portuguez actual vê-se a preposição por empregada depois
dos substantivos e adjectivos que exprimem disposições do animo
para com um objecto, v. g. respeito pela vida alheia (em portuguez
classico: respeito da vida alheia).

5. Emprego da preposição para

170 a) Para serve de designar, como complemento geral
(v. § 110), a pessoa ou cousa em proveito de quem
uma acção é praticada: Não nascemos só para nós.

Obs. — Em certos casos, podem empregar-se com o mesmo valor
os pronomes pessoaes nas fórmas do complemento indirecto (§
187): Compre-me um livro (= compre um livro para mim).

b) Em certas combinações a preposição para designa a destinação:
uma carta para alguem.

171 Para designa que uma affirmação se deve entender
restringindo-a ao sentir de alguem ou á condição de alguem:
Para os Estoicos todos os crimes erão eguaes. Para
um povo selvagem a caça é o único meio de prover
a subsistencia
.

Tambem serve de exprimir que um conceito relativo
a uma pessoa ou cousa se deve entender só na proporção
107de certa circumstancia d’essa pessoa ou cousa:
Era opulento para aquelles tempos. Para natural
da Beocia era bastante eloquente
.

172 Para emprega-se na designação do tempo a que
pertence e é destinado um objecto ou uma acção, e na
designação de para quando é guardada uma acção: convidar
para o dia seguinte, ter provisões para um mez
;
— adiar a partida para a semana que vem.

173 Para designa o termo do movimento com a ideia
accessoria de demora ou de destinação; v. § 133.

174 Para póde usar-se depois de varios substantivos e
adjectivos que exprimem disposições do animo em relação
a um objecto: indulgente para todos.

Tambem ás vezes póde dizer-se para com: benevolencia para
com alguem
. Isto ainda depois de certos verbos.

175 A preposição para serve de exprimir para que fim
se pratica uma acção: dar dinheiro para a reparação
de uma casa
.

176 Em algumas locuções e combinações, a preposição para tem
outros sentidos mais, que se aprendem com o uso.

6. Emprego da preposição com

177 a) A preposição com designa companhia, ajuntamento,
simultaneidade
, na accepção mais
ampla d’estas palavras: estar com um amigo, passear
com um primo, conversar com alguem, comparar um
livro com outro, levantar-se com o romper do dia
.

b) Em particular serve de exprimir:

1) a maneira como uma cousa se faz: haver-se com
lealdade, brigar com denodo, ir com pressa
.108

2) o meio e o instrumento: escrever com um lapis,
ferir-se com um canivete, pagar com a vida a sua imprudencia
.

3) a causa: não poder ter-se em pé com dores.

4) concessão (= não obstante, apesar de): Com aquella
edade ainda lê sem oculos
.

Obs. 1 — Em certos casos estas circumstancias devem ser designadas
com outras preposições.

Obs. 2 — A’cerca de para com, v. § 174.

178 Das restantes preposições não é necessario tratar em uma grammatica
elementar.

Capitulo III — Das particularidades de syntaxe
relativas a diversas partes do discurso

A. Adjectivo

179 Os adjectivos, como taes (v. § 185 e 186), empregão-se
na syntaxe de dois modos geraes:

1) servindo simplesmente de qualificar o seu substantivo,
v. g. homens valentes, cidade populosa. Alguns
peixes têm fórmas singulares e extravagantes
.
Neste caso denominão-se — attributos (ou accessorios;
v. § 109, a, abs.);

2) determinando simultaneamente um verbo, v. g.
A empresa sahiu feliz. A aurora rompeu meiga e serena.
E então:

a) ou são nomes predicativos (§ 107 e § 121);109

b) ou exprimem uma circumstancia da acção do verbo.
Neste caso denominão-se — appostos (ou tambem
circumstanciaes). As ondas vinhão espraiar-se
preguiçosas no areal da bahia. Encontrei-o pensativo
.
Tinha as mãos frias. O soldado, temeroso ou irresoluto
(= por temor ou irresolução), deu parte do negocio.

Obs. — Exprimindo-se causa, póde antepôr-se ao adjectivo a
preposição de, para dar realce ao estado ou qualidade: Cahiu; de
cansado
.

180 a) As regras de concordancia do adjectivo, quando
é nome predicativo, estão dadas nos §§ 117 e 121, b.

b) As regras de concordancia do adjectivo, quando
é apposto, são as mesmas que se observão, quando é
nome predicativo.

c) A concordancia do adjectivo empregado como attributo
é feita segundo as regras expostas nos dois paragraphos
seguintes.

181 Quando qualifica um só substantivo, o adjectivo toma
o genero e numero do substantivo: rosto pallido,
rostos pallidos, faces lividas
.

Obs. 1 — O que se diz no § 119 j, tambem se applica aos adjectivos
empregados attributivamente.

Obs. 2 — E’ permittido dizer, v. g. Os dois poderes temporal e
espiritual
.

182 Quando qualifica varios substantivos, o adjectivo:

a) se todos os substantivos são do mesmo genero,
concorda com elles em genero, e:

1) sendo todos do plural ou sendo de numeros diversos,
vae para o plural: espadas e lanças portuguezas;
gesto e meneios tôrvos.110

2) sendo todos do singular, modernamente vae as
mais das vezes para o plural: a justiça e a piedade divinas,
o seio e o rosto suavemente pallidos
.

b) se os substantivos são de generos diversos, e:

1) todos do plural, o adjectivo vae para o plural e
para o genero do substantivo mais proximo: estupendas
arcadas e zimborios, arcadas e zimborios estupendos
.

2) sendo todos do singular, o adjectivo vae ordinariamente
para o singular e para o genero do substantivo
mais proximo, quando está immediatamente antes
d’elle, e para o plural masculino nos outros casos: pallidez
de ineffavel repouso e brandura; — a existencia e o
esplendor antigos, um homem e uma mulher solteiros,
o ouro e a prata em barra e amoedados
.

3) sendo de numeros diversos, o adjectivo vae ordinariamente
para o plural masculino: os canones e a
disciplina promulgados em Trento
.

183 Um adjectivo póde:

1) exprimir a qualidade sem mais ideia accessoria,
v. g. torre alta, soldado valente, tarde amena, e diz-se
estar no gráo positivo.

2) exprimir (com o auxilio de um adverbio) a qualidade
em simples comparação, v. g. torre mais alta
do que uma casa, torre menos alta que uma casa,
torre tão alta como uma casa
, e diz-se estar no
gráo comparativo.

O comparativo póde ser de superioridade, de inferioridade ou
egualdade.111

3) exprimir (por si só ou com o auxilio de um adverbio)
qualidade no gráo mais elevado ou simplesmente
em gráo elevado, v. g. a torre mais alta,
torre muito alta, torre altissima
, e diz-se estar
no gráo superlativo.

184 a) O adjectivo acompanha-se do adverbio mais para
constituir o comparativo de superioridade, do adverbio
menos, para constituir o comparativo de inferioridade,
do adverbio tão (tanto, quando o adverbio fôr separado
do adjectivo) para constituir o comparativo de egualdade:
torre mais alta que uma casa, torre menos alta do
que uma casa, torre tão alta como uma casa
.

Em logar, porém, de mais grande, mais bom, diz-se maior,
melhor
, e diz-se mais máo ou peior, mais pequeno ou menor. Como
comparativo de superioridade de muito diz-se mais; e de pouco
diz-se menos; como comparativo de egualdade de muito diz-se tanto.

Com os comparativos de superioridade ou inferioridade,
o segundo termo da comparação liga-se ao primeiro
por do que ou que; com os comparativos de
egualdade, por como.

Obs. — O comparativo de egualdade tambem serve de exprimir
que uma qualidade se dá em tal gráo, que resulta d’ahi certa consequencia:
Era tão amante da verdade que nem zombando
mentia
.

b) Para exprimir simplesmente gráo elevado, ou se
acompanha o adjectivo do adverbio muito (ou mui), ou
se emprega, havendo-o, o adjectivo derivado formado
com o suffixo issimo (v. § 95, c, 3), v. g. torre muito
(ou mui) alta; torre altissima.

Como superlativo de muito só se emprega muitissimo.

O superlativo que exprime simplesmente gráo muito
112elevado, chama-se — superlativo absoluto,
ou antes — simples superlativo.

c) Para exprimir a qualidade no maior ou no menor
gráo, empregão-se os comparativos de superioridade e
de inferioridade: as torres mais altas, as mais altas torres,
as torres maiores que tenho visto, as maiores torres
que tenho visto
. (O substantivo, claro ou subentendido,
a que se liga o comparativo, deve ser acompanhado do
artigo definido.)

O superlativo que exprime a qualidade no mais alto
ou no mais baixo gráo, chama-se — superlativo
relativo
, ou antes — superlativo exclusivo.

Maximo e minimo só se empregão como superlativos exclusivos.

Observação.

As regras dadas neste parágrapho applicão-se não só aos adjectivos,
senão tambem a quaesquer expressões qualificativas equivalentes
a adjectivos, e aos adverbios e verbos (mas com verbos diz-se
tanto e não tão): acção muito de louvar (= muito louvavel); escreve
mais facilmente do que falla; vales tanto como nós
.

185 A’s vezes os adjectivos (e participios passivos) empregão-se
como substantivos. Exemplos de adjectivos substantivados:

1) com o valor de substantivos concretos: Esconde as esmolas
no seio do pobre, favorecendo-o com piedosas entranhas
.

2) com o valor de substantivos abstractos: A’ altura da queda
e ao impeto das agoas ajuntava-se o agudo dos rochedos. Pesavão
mudos o temerario e o impossivel
(= a temeridade e a impossibilidade)
da empresa. Muro de dois metros de alto (= de altura).

186 Um pequeno numero de adjectivos podem ser empregados adverbialmente
no singular masculino, v. g. luctas não raro estereis,
lições demasiaso faceis
.113

B. Pronomes

187 Emprego dos casos dos pronomes pessoaes:

a) Como sujeitos (ou appostos ao sujeito) ou nomes
predicativos empregão-se:

tableau 1ª pessoa | 2ª pessoa | 3ª pessoa | eu | tu | elle | ella | nós | vós | elles | ellas

Tu e vós tambem servem de vocativos (§ 111).

b) Como complementos directos (sem a preposição
a, v. § 120) empregão-se:

tableau me | te | o | a | nos | vos | os | as | se

c) Como complementos indirectos empregão-se:

tableau me | te | lhe | nos | vos | lhes | se

d) Precedidos de preposição empregão-se:

tableau mim | ti | elle | ella | nós | vós | elles | ellas | si

A respeito de comigo, comtigo, comnosco, comvosco, comsigo, v.
§ 58, a.114

Em logar de o a os as póde empregar-se lhe lhes como complemento
directo do verbo chamar (dar um nome), v. g. Chama-lhe
severo
.

Se, si (e comsigo) empregão-se tambem sem valor reflexo representando
a pessoa com quem fallamos e a quem tratamos na 3ª
pessoa. (De egual modo o pronome possessivo seu sua serve tambem
de representar a pessoa com quem fallamos e a quem tratamos
na 3ª pessoa: Espero que V. Ex.ª me tenha sempre na sua graça
(Vieira).

Emprega-se lhe por lhes quando houver do seguir-se encliticamente
o pronome o a os as, v. g. dou-lh’os = dou-os a elles. Ainda
fóra d’este caso era vulgar nos escritores antigos o emprego de lhe
por lhes.

No sul do reino não costumamos empregar na conversação o
plural do pronome da 2ª pessoa: substituimos a fórma vos do complemento
directo por os as, a fórma vos do complemento indirecto
por lhes, e a fórma vós por vossês. Cf. § 116. obs.

188 Observações.

a) Me, te, o, a, nos, vos, os, as, se, como complementos
directos, empregão-se:

1) postos (encliticamente) logo depois de um verbo,
ou intercalados nos futuros en nos condicionaes: louva-me,
louvar-te-ha, louvar-se-hia
.

Entre o, a, os, as, e o verbo póde interpôr-se me, te, lhe, nos,
vos, se
: apresentou-m’o, apresentá-no’lo.

2) precedendo o verbo, ou immediatamente ou separados
d’elle pelo adverbio não: elle me louvou, elle
não te louvou, elle te não louvou
.

b) me, te, lhe, nos, vos, se, como complementos
indirectos, empregão-se:115

1) postos (encliticamente) logo depois de um verbo,
ou intercalados nos futuros e condicionaes: responda-me,
responder-te-hei, responder-lhe-hia
.

2) precedendo o verbo, ou immediatamente ou separados
d’elle pelo adverbio não ou pelo pronome o, a,
os, as: elle me respondeu, elle te não respondeu, elle
no’lo apresentou
.

189 O a os as emprega-se como pronome demonstrativo
propriamente dito (v. § 70, obs.) dos modos seguintes:

1) equivalendo a aquelle aquella aquelles aquellas,
servindo de designar pessoas (sempre seguido de uma
determinação), v. g. Saiba morrer o que viver não soube.

2) no singular masculino, equivalendo a aquillo
(sempre determinado por uma oração introduzida pelo
pronome relativo que): Seria imprudencia aventurar em
uma só batalha o que se tem ganhado em tantas victorias
.

3) no singular masculino, servindo, como nome predicativo
do sujeito, de evitar a repetição de um adjectivo
ou qualquer outra expressão qualificativa: Que se ergão
para pelejarem batalhas tremendas, porque o
serão por certo as que nos aguardão
.

4) no singular masculino, servindo, referido a um
sentido, de complemento directo: Disse-o por inadvertencia.
Soube-o tarde.

190 a) O pronome relativo cujo equivale a do qual, tomada
a preposição de em sentido possessivo (§ 149). É
sempre seguido immediatamente do substantivo (ou palavra
substantiva) com que concorda: Este é o homem
cujo talento admiramos
.116

O pronome que (servindo de nome predicativo ou
apposto) póde estar referido a um adjectivo, v. g. os
ribeiros quasi não murmurão, de debeis e exhaustos que
vão
.

b) Quanto, como pronome relativo, emprega-se em correlação:
1) com o pronome tanto; 2) com o pronome todo ou com o pronome
tudo, os quaes se podem occultar, v. g. Foi sonho (tudo) quanto
vi
.

191 Os pronomes (incluindo os artigos) quando empregados
adjectivamente como attributos de varios substantivos,
concordão com o mais proximo: estes homens
e mulheres, estas mulheres e homens, o meu poder e gloria,
a minha gloria e poder
.

C. Verbos

192 a) A conjugação reflexa (§ 80, f) serve tambem de
exprimir reciprocidade, v. g. Elle e ella amão-se um ao
outro
(ou simplesmente: amão-se). Os dois cavalleiros
godos accommettêrão-se
.

b) A conjugação reflexa (na terceira pessoa) serve
outrosim de voz passiva, quando não se nomeia o agente,
v. g. desarmão-se as tendas = são desarmadas as tendas.

As passivas assim formadas podem empregar-se quando o sujeito
é ser inanimado, e ainda quando é ser animado, se não resultar
ambiguidade, v. g. Derrotárão-se os inimigos.

c) Aos verbos intransitivos, e tambem aos transitivos
tomados intransitivamente (isto é, sem referencia a
complemento objectivo algum determinado), póde-se
dar, no singular, a fórma reflexa empregada como voz
passiva (segundo acabou de se dizer em b), para d’este
modo deixar totalmente indeterminada a pessoa que pratica
117a acção ou que tem a qualidade ou estado significados
pelo verbo, v. g. Combate-se. É-se douto á força
de estudo. O que se faz? Estuda-se
. Conseguintemente
os verbos assim empregados não têm sujeito e
a oração a que pertencem, é impessoal (§ 112).

D. Adverbios

193 Quando vão coordenados dois ou mais adverbios em
mente (§ 98), costuma pôr-se este suffixo unicamente no
ultimo adverbio, supprimindo-se no anterior ou anteriores:
Direi franca, sincera e lealmente o meu voto.

194 a) Dos gráos de significação dos adverbios fallou-se no § 184.

Obs. — O comparativo de bem é mais bem ou melhor, e o de
mal é mais mal ou peior.

b) Ao adverbio antes, designando preferencia, o segundo termo
da comparação é ligado por que ou do que.

195 Certos adverbios correspondem a pronomes, quanto á sua origem
e significação, v. g. aqui corresponde ao pronome este, ahi ao
pronome esse, alli ao pronome aquelle. Chamão-se por isso adverbios
pronominaes.

Estes adverbios dividem-se em: 1) demonstrativos: aqui, ahi,
alli, acolá, então, tão
; 2) relativos: onde (= em que); 3) interrogativos:
onde? quando? como? quão?; 4) indefinidos: algures.

Os adverbios relativos, da mesma maneira que os pronomes
relativos (§ 63), ligão a oração a que elles pertencem, a outra oração,
v. g. A paciencia é um firme arnez, onde (= no qual) seguramente
se recebem os golpes da adversidade
.

Obs. — Além dos adverbios relativos, outros ha que servem
tambem de exprimir relações entre orações, v. g. conseguintemente,
portanto
. Têm, por isso, o valor de conjuncções.

195a Observação á primeira secção — Uma palavra substantiva ligada
a outra por uma particula exceptiva deve estar na fórma correspondente
á funcção que exerce a palavra a que se liga, v. g.
118Sahirão todos menos (excepto) eu. Fallou a todos menos (excepto)
a mim
.

Secção II — Do uso dos modos e tempos
e da ligação das orações

Preliminares — Das orações em geral

196 Uma oração, grammaticamente considerada,
ou é apresentada de um modo independente, e chama-se
— oração principal; ou é apresentada como
dependente de outra, e chama-se — oração subordinada.
Por exemplo, nesta phrase: O nadador e o mentiroso,
se abrirem muitas vezes a bôca, ir-se-hão a pique
,
a oração — o mentiroso e o nadador ir-se-hão a pique, é
principal; a oração — se abrirem muitas vezes a bôca, é
subordinada.

As seguintes phrases tornarão bem claro em que consiste a subordinação
grammatical das orações. Diz-se: conheço homens que sabem
nadar
; mas se a primeira oração se tornar negativa (não conheço
homens
), a segunda terá de ter o verbo no conjunctivo: não conheço
homens que saibão nadar
. Nesta phrase: eu disse-lhe que
vinha vestido á moda
, se o verbo da primeira oração passar a equivaler
a: mandar, recommendar, o verbo da segunda oração terá de
ir para o conjunctivo: eu disse-lhe que viesse vestido á moda.
Consequentemente o ser subordinada uma oração está em a sua ordenação
grammatical interior depender de factos que se dão em
outra oração (na subordinante).

Uma oração subordinada póde, por sua vez, ter dependente
de si uma oração, v. g. O envenenamento é
reputado crime mais atroz e punivel do que o assassinato
feito por outro qualquer modo, porque ao crime se

119addiciona o disfarce e a traição, que já por si sós são
coisas puniveis
. Aqui a ultima oração — que já por si sós
são coisas puniveis
, é subordinada á oração antecedente
porque ao crime se addiciona o disfarce e a traição,
a qual é subordinada á primeira oração.

197 A subordinação das orações é indicada:

1) por uma conjuncção: O nadador e o mentiroso,
se abrirem muitas vezes a bôca, ir-se-hão a pique
.

2) por um pronome relativo ou adverbio relativo:
Um dos vultos que mais se illustrárão na gloriosa epopeia
dos descobrimentos do seculo XV, foi João Gonsalves
Zarco. A paciencia é um firme arnez, onde seguramente
se recebem os golpes da adversidade
.

3) por uma palavra interrogativa: A prática ensina
sem difficuldade a conhecer, quaes sejão as especies
cerealiferas mais adequadas aos climas. Importa conhecer
se isto é verdade
. (Neste caso se vale de adverbio
interrogativo).

4) pelo modo infinitivo do verbo: D. Pedro I confessou
publicamente ser D. Ignez sua legitima mulher
.

Portanto, segundo a fórma da subordinação, as
orações subordinadas são: ou conjunccionaes ou
relativas ou interrogativas ou infinitivas.

198 As orações subordinadas, segundo a sua significação,
isto é, segundo a relação em que estão com
a oração subordinante, dividem-se em: circumstanciaes
(§ 199), qualificativas (§ 200), e integrantes
(ou antes substantivas) (§ 201).

199 As orações circumstanciaes, segundo a circumstancia
que exprimem, subdividem-se em:120

1) condicionaes, que exprimem condição ou
hypothese: Não conhecemos a lealdade do amigo, se
não o experimentamos
.

2) causaes, que exprimem causa, motivo, ou o
que dá logar a um facto: O envenenamento é reputado
crime mais atros e punivel do que o assassinato feito
por outro qualquer modo, porque ao crime se
addiciona o disfarce e a traição, que por si
sós são coisas puniveis
.

3) finaes, que exprimem o fim ou intenção de
uma acção: Obedecei ás leis, para que vos obedeção
a vós
.

4) concessivas, que exprimem que um facto
não impede a existencia do outro facto: Ainda que o
amava por valoroso, lhe era pouco affeiçoado
por altivo
.

5) consecutivas, que exprimem que um facto
é consequencia de certa acção ou qualidade: É tão evidente
a necessidade do ensino agricola, que dispensa
demonstração
.

6) temporaes, que exprimem o tempo em que
uma cousa acontece: O numero dos moradores de Lisboa,
quando D. Affonso a conquistou, não
passava de quatorze a quinze mil
.

7) comparativas, que exprimem comparação:
Portugal, como todos dizem, é um paiz essencialmente
agricola
.

Obs. — As orações circumstanciaes ou têm o verbo no indicativo
ou conjunctivo ou condicional, e neste caso são introduzidas por
conjuncções (as quaes tambem, segundo a relação que indicão, se
denominão: condicionaes, causaes, finaes, concessivas,
121consecutivas, temporaes, comparativas);
ou são orações infinitivas, e neste caso são introduzidas
por preposições, v. g. Não pude sahir por não estar concluido o
trabalho
.

200 As orações qualificativas servem de caracterisar um
nome ou pronome da oração subordinante (ou ainda o
sentido total da’oração subordinante), v. g. A oliveira
gosta, pouco mais ou menos, dos terrenos que agradão
á videira
. O (= aquillo) que o presente
admira, talvez aos olhos do futuro pareça bem pouco
.
Equivalem, portanto, a um adjectivo.

As orações qualificativas são introduzidas pelos pronomes e
adverbios relativos. Conseguintemente, quanto á fórma (§ 197),
são orações relativas.

201 Orações integrantes são as que (não exprimindo
uma circumstancia de certa acção) equivalem a uma expressão
substantiva, v. g. Nas côrtes de 1641 o estado
da nobreza pediu que fossem reparados os
castellos, as fortalezas e os muros das
cidades e villas
(= pediu esta cousa). Insistiu
em que o papa não ouvisse
(= insistiu
nisto, insistiu nesta cousa). Não podia obstar a
que o prêso escrevesse
(= obstar a esta cousa).
Ignoramos qual fosse a população do reino
durante a occupação mussulmana. Convém
não se locupletarem as cidades á
custa da povoação campesina
.

As orações integrantes fazem, portanto as vezes de
sujeito, nome predicativo, apposto, complemento directo
ou indirecto, ou de qualquer outro complemento que
não seja circumstancial.

As orações integrantes ou são conjunccionaes introduzidas por
122que, conjuncção que neste caso se denomina integrante, ou
interrogativas ou infinitivas.

Obs. — As orações interrogativas subordinadas (v. g. Não sei
quem seja este homem
) tambem se chamão — orações interrogativas
indirectas, e as orações interrogativas principaes
(v. g. Quem é este homem?) — interrogativas directas.

202 a) Duas ou mais orações principaes podem estar
coordenadas entre si: A virtude sempre teve congtradicções,
e o illustre nome nunca se alcançou sem trabalhos
.

De egual modo, duas ou mais orações subordinadas
podem estar coordenadas entre si: Portugal, como
todos dizem, e os factos attestão, é um paiz
essencialmente agricola
.

b) A coordenação das orações póde ser ou syndetica,
isto é, indicada por conjuncções: Viver é um beneficio
da natureza, commum a todos; mas acceitar a
morte pela virtude é proprio de grandes ânimos
, ou
asyndetica, isto é, não indicada por conjuncções:
Cheguei, vi, venci.

A coordenação syndetica é feita pelas conjuncções:

1) copulativas, que exprimem simplesmente
enumeração (com ou sem gradação); e, nem.

2) disjunctivas, que exprimindo enumeração,
apresentão as cousas como separadas e excluindo-se em
algum sentido: ou (v. g. Todo o numero é ou par ou
impar
).

3) adversativas, que exprimem contraposição
ou opposição: mas.123

Conseguintemente as orações coordenadas são: ou
copulativas, ou disjunctivas, ou adversativas.

Obs. — Uma oração principal póde tambem ter um adverbio
com valor de conjuncção (v. § 195), que sirva de mostrar que essa
oração está em certa relação (v. g. de inferencia ou onclusão) com
o que foi precedentemente, v. g. Acabemos, pois, de despertar
d’este mortal lethargo
.

203 A uma oração principal que forme um sentido completo,
ou a um aggregado de orações que reunidas formem
um sentido completo, costumamos dar o nome de
periodo grammatical.

Capitulo II — Do emprego dos modos
e tempos

A. Indicativo

204 O indicativo emprega-se em todas as orações para
as quaes não haja regra que exija outro modo.

205 a) Enuncia-se no presente o que é actual (a que
pertence tambem o que se dá ou existe em todo o tempo),
e aquillo que é concebido como actual, v. g. as
opiniões e declarações que se achão nos escritos que o
passado nos legou: Porque estás tão alegre? Os grandes
espiritos são acompanhados de grandes esperanças
.

b) O presente póde empregar-se em vez do preterito em narrações
animadas e seguidas (presente historico): Martim
Moniz lhes têm rosto, os aperta, os rechaça, os persegue; pela mesma
porta que as despejou, os recalca para a praça e embravecido na
matança se interna após elles
.124

c) Tambem se empréga ás vezes, principalmente no estilo da
conversação, como futuro emphatico: Volto já.

206 a) o preterito imperfeito emprega.se quando nos
transportamos com o pensamento a uma epoca passada
e descrevemos o que então era presente: Era tão
poderosa no primeiro quartel do seculo XVI a esquadra
portugueza, que D. Manoel trazia de ordinario trezentas
náos nas conquistas da Asia, da Africa e da America
.
Correu voz pela fortaleza, que os turcos estavão já
senhores do baluarte
.

b) Tambem se emprega, sobretudo no estilo da conversação, em
logar do condicional presente, para exprimir certeza da realisação
da acção: Se a apanhasse, esbofeteava-a.

207 a) O preterito perfeito definido emprega-se:

1) quando transportando-nos mentalmente ao passado,
noticiamos os acontecimentos que então se derão,
considerados em globo: Nos ultimos doze annos da retenção
castelhana forão os claustros seguramente as officinas
activas aonde se elaborou a revolução
.

2) quando, collocando-nos no presente, noticiamos o
que, no momento em que fallamos, é facto consummado,
sem todavia darmos a entender que se tem repetido
ou prolongado desde certa epoca até ao momento
em que fallamos: Dê-me V. Alteza licença para que diga
tudo, pois comecei. Os vicios te corrompêrão a seve
da vida, e a gangrena e os herpes te corroem os membros,
que ainda vestes de trajos louçãos, mas onde a
morte se encarnou ha muito
.

b) O preterito indefinido exprime a repetição ou
prolongação de um facto desde certa epoca até ao momento
125em que fallamos: Todas ou quasi todas as constituições,
antigas e modernas, têm facultado, já ás assembleias
populares, já a outra auctoridade o direito de
perdoar
.

Em certos casos, porém, o preterito indefinido serve só de exprimir
emphaticamente que no momento em que fallamos, uma
cousa é, para o sujeito, facto consummado: Tenho dado fim ao meu
discurso
.

208 a) O preterito mais-que-perfeito exprime uma acção
anterior a outra acção já passada: Eu tinha jantado,
quando meu irmão chegou
.

Todavia em certas orações temporaes emprega-se o preterito
perfeito, quando era de esperar o mais-que-perfeito: Logo que se
retirou o inimigo, mandou D. João Mascarenhas enterrar os
mortos
.

b) O mais-que-perfeito simples tambem póde empregar-se em
logar do preterito imperfeito conjunctivo em orações condicionaes,
e em logar do presente condicional em orações condicionaes: Se o
contentamento fizera
(= fizesse) milagres, tivera-me (= ter-me-hia)
V. S. nesta hora a seus pés.

209 a) O futuro imperfeito representa uma acção como
realisando-se no tempo que ha-de vir: Digo-o, sustento-o
e sustenta-lo-hei
. (V. tambem o § 82, d, obs. 1.)

Obs. — Nas orações condicionaes de se, nas temporaes de quando
e emquanto, nas relativas que exprimem uma simples concepção,
e nas comparativas de segundo, conforme, etc., o futuro indicativo
é substituido pelo futuro conjunctivo — o qual só nestas orações se
usa — (ou tambem em certos casos pelo presente conjunctivo); assim
diz-se: se vejo, se vi, mas: se vir; quando vejo, quando vi, mas:
quando vir; aquelle que vê, aquelle que viu, mas: aquelle que
vir
.

b) O futuro imperfeito emprega-se ás vezes em logar do imperativo:
Honrarás pae e mãe.126

c) Tambem se usa frequentemente em logar do presente para
exprimir incerteza, simples possibilidade, ou como asseveração modesta:
Haverá paz no tumulo? Tive aviso, haverá quinze dias, que
me estava decretado novo desterro. Uma cousa vos confessarei eu
.

210 O futuro perfeito exprime que uma cousa futura estará
consummada antes de outra tambem futura: Quando
elle chegar, já terei jantado
.

Obs. — Nas mesmas orações em que o futuro imperfeito do indicativo
é substituido pelo do conjunctivo (§ 209, a, obs.), o futuro
perfeito do indicativo é substituido pelo do conjunctivo (ou tambem
em certos casos pelo preterito perfeito do conjunctivo): Avisem-me,
quando os cavallos tiverem chegado
.

211 Ha um caso em que os tempos do condicional são empregados
simplesmente com o valor de tempos do indicativo. V. § 212, c.

B. Condicional

212 a) O presente condicional exprime que uma cousa
aconteceria, agora ou de futuro, dada certa condição:
Se não fossemos orgulhosos, não nos queixariamos do
orgulho dos mais
.

O preterito condicional exprime que uma cousa teria
acontecido (no passado) dada certa condição: Elle
teria sido feliz, se tivesse sabido moderar os seus desejos
.

Todavia o presente condicional emprega-se frequentemente
com o valor de preterito condicional.

b) Em certos casos serve tambem o condicional (ordinariamente
no presente) de exprimir admiração de que uma cousa acontecesse
ou tivesse acontecido, e de affirmar modestamente: Seria verdade?
Desejaria saber.

c) nas orações integrantes em que a futuridade relativa
ao presente é designada pelo futuro imperfeito, a
nossa lingoa, querendo exprimir a futuridade relativa
ao passado, emprega o presente condicional na qualidade
127de futuro imperfeito, e o preterito condicional na de
futuro perfeito: Disse que não viria (diz que não virá).
Declarou que voltaria hoje (declara que voltará hoje).
(A isto se refere o que vae dito no § 211.)

C. Conjunctivo

1. Conjunctivo em orações principaes

213 Em orações principaes, o conjunctivo emprega-se
nos seguintes casos:

1) supprindo a falta de primeira e terceira pessoa
do imperativo e nas prohibições: estude, estudemos, estudem;
não peças a quem pediu, nem sirvas a quem
serviu
.

2) nas orações de talvez, v. g. Talvez elle diga (conjunctivo
potencial); mas póde tambem empregar-se o indicativo.

3) exprimindo desejo, v. g. Praza a Deos que assim seja
(conjunctivo optativo).

4) em sentido concessivo, já equivalendo a uma oração condicional
ou concessiva, já exprimindo uma concessão propriamente
dita: Falle elle (= se elle fallar), tudo se calará. Quer sahir, pois
saia
.

2. Conjunctivo em orações subordinadas

214 A conjuncção integrante que leva o verbo ao conjunctivo:

1) depois de todos os verbos, locuções, substantivos
e adjectivos, que de qualquer modo exprimem a
ideia de: fazer ou impedir que uma cousa aconteça, esperar,
approvar ou reprovar que uma cousa se faça (v.
g. desejar, querer, pedir, aconselhar, consentir, admittir,
impedir, ordenar, approvar
): Nas côrtes de 1641 a
128nobreza pediu que fossem reparados os castellos, as fortalezas
e os muros das cidades e villas
.

2) depois das expressões (verbos, substantivos, adjectivos)
que significão temor de que um facto se dê:
receio que o meu amigo esteja doente.

3) depois das expressões que significão admiração
de que uma cousa aconteça, e depois da maior parte
das que significão contentamento ou descontentamento
de que uma cousa aconteça: Admiro-me de que elle venha.
Folguei de que elle viesse.

4) depois dos verbos e locuções impessoaes (constituidas
por um verbo acompanhado de um substantivo
ou adjectivo ou de alguma expressão equivalente)
que significão: ser de sentir ou de desejar; ser raro ou
vulgar; ser possivel; ser provavel; ser admiravel; importar,
ser justo, necessario, util, ou outro conceito semelhante
ou contrario a estes, v. g.: E’ possivel que elle
venha. E’ pena que não o saibamos. E’ de justiça que o
digamos
.

5) depois do verbo duvidar e das locuções formadas
com o substantivo duvida ou com o adjectivo duvidoso,
quando se empregão affirmativamente: Duvido
que elle saiba
.

215 Depois dos verbos sensitivos e declarativos (e locuções equivalentes) (*)23
a conjuncção integrante que pôde ter o verbo, no
conjunctivo, quando a oração subordinante é negativa ou interrogativa
de sentido negativo e queremos realçar a negação: Não digo
que elle não saiba
.129

Obs. — Depois de ignorar (= não saber), tambem a conjuncção
que póde ter o verbo no conjunctivo.

216 As orações integrantes interrogativas tambem pode ter o
verbo no conjunctivo: A prática ensina sem difficuldade a conhecer
quaes sejão
(ou são) as especies cerealiferas mais adequadas aos climas.

217 Emprego do conjunctivo em orações circumstanciaes:

a) Levão o verbo ao conjunctivo as seguintes conjuncções
(e locuções conjunctivas):

1) as concessivas, quando a oração concessiva exprime
simplesmente uma concepção e não uma
realidade: Não me queixaria d’elle, ainda que me
maltratasse
.

Obs. — A’s vezes, até quando exprimem uma realidade, as orações
concessivas podem ter o verbo no conjunctivo.

Embora leva sempre o verbo no conjunctivo, e comquanto, por
via de regra, tambem.

2) as finaes: Obedecei ás leis, para que vos obedeção.

3) as consecutivas, quando a oração consecutiva exprime
simplesmente uma concepção, um fim a que se
pretende ou pretenderia chegar, e não uma realidade:
Os passatempos hão-se ser raros, honestos e tão comedidos
que a temperada musica da honesta vida se não
destempere
.

Sem que e que não levão sempre o verbo ao conjunctivo.

4) não porque, não que, quando se exprime que a
razão mencionada não é a verdadeira: Procedeu assim,
não porque gostasse, mas por entender ser esse o seu dever
.130

5) comtanto que (e expressões equivalentes), a não
ser que, supposto que, dado que, dado caso que, caso
que, caso
, v. g. Póde ir, comtanto que não se demore.

6) se, quando se diz que uma cousa aconteceria ou
teria acontecido, se outra acontecesse ou tivesse acontecido,
e quer — quer, v. g. Se Angola ou Moçambique,
se a India ou o Brazil ficassem unidos a Hespanha, a
corôa de Portugal havia de padecer grande quebra. Sahirei,
quer chova, quer não chova
.

Obs. — Ou — ou, e ou fosse que — ou que tambem só podem ter
o verbo no indicativo, quando ambas as alternativas exprimem uma
realidade.

7) até que e depois que, quando se quer exprimir
um proposito, e antes que, v. g. Esteja em casa, até
que seu irmão volte. Sáia antes que seu irmão chegue
.

8) como, quando se exprime, com o imperfeito, e
mais-que-perfeito, a successão dos acontecimentos, e ás
vezes tambem quando se exprime razão: Nuno Gonsalves,
como tivesse sido vencido e aprisionado pelos Catelhanos,
foi por elles levado em ferros ao pé do castello
de Faria
.

b) Na designação da futuridade emprega-se o conjunctivo em
logar do indicativo nos casos mencionados no § 209, a, obs.

218 a) As orações relativas de sentido consecutivo têm
o verbo no conjunctivo:

1) quando exprimem a qualidade que se pretende
que haja em um objecto com respeito á acção do verbo
subordinante: Pompeo aspirava a honras que o distinguissem
de todos os capitães do seu tempo
.

2) quando exprimem uma qualidade que restringe a
generalidade indeterminada de uma ideia pertencente a
131um predicado negativo ou a uma interrogação de sentido
negativo: Ainda não encontrei homem algum que
não tivesse sido logrado nos seus sonhos de felicidade
.

Obs. — A palavra pouco considera-se dando valor negativo á
oração a que pertence: Ha poucos homens que saibão aproveitar bem
o tempo
.

3) quando, ligadas a uma oração condicional ou concessiva,
exprimem a qualidade presupposta de um
objecto: Se encontrar livro que lhe agrade, compre-o.

b) As orações relativas têm o verbo no conjunctivo,
quando exprimem um fim: Enviei-lhe uma pessoa que o
avisasse do que havia acontecido
.

c) Quem no sentido de: pessoa ou pessoas
que
, tem o verbo no conjunctivo, quando a oração
relativa se liga a ha, apparece, ou a qualquer enunciado
geral semelhante: Ha quem assim pense (mas: ha
algumas pessoas que assim pensão
), havia quem assim
pensasse
.

d) As orações de seja quem fôr que, e expressões
semelhantes, têm o verbo no conjunctivo.

219 O conjunctivo emprega-se, ou póde empregar-se, porventura
em outros casos mais que se aprenderão com o uso.

3. Tempos do conjunctivo

220 No conjunctivo o tempo designa-se, em geral, da
mesma maneira que no indicativo, por isso neste logar
só notaremos o que é particular do conjunctivo.

a) No conjunctivo não ha preterito perfeito definido (v. pag.
44 e 45), mas só preterito perfeito indefinido, o qual corresponde
ao pret. perfeito indefinido do indicativo (v. g. tem estado
doente; não creio que tenha estado doente
). Esta falta é supprida
132pelo pret. imperfeito conjunctivo, o qual vem, portanto, a
corresponder não só ao pret. imperfeito do indicativo, senão tambem
ao pret. perfeito definido do indicativo (esteve hontem doente;
não creio que estivesse hontem doente).

b) Os futuros do conjunctivo só têm logar nas orações mencionadas
no § 209, a obs. Fóra d’ahi o futuro imperfeito é substituido
pelo presente, e, se a futuridade é relativa a preterito, pelo imperfeito,
v. g. ordeno que elle vá amanhã, ordenei que elle fosse amanhã;
o futuro perfeito é substituido ora pelo preterito perfeito, ora
tambem pelo presente, e, se a futuridade é relativa a preterito, ora
pelo mais-que-perfeito, ora tambem pelo preterito imperfeito, v. g.
ordeno que não sáia, sem que tenha estudado a lição, ordenei
que não sahisse sem que tivesse estudado a lição
. Demais
o futuro do conjunctivo não designa a futuridade relativa ao
passado. Neste caso é tambem substituido da maneira acima indicada:
assim diz-se ordeno que não sáia emquanto não tiver estudado
a lição
, mas: ordenei que não sahisse emquanto não tivesse
estudado a lição
.

D. Imperativo

221 O imperativo exprime uma petição, ordem, permissão
ou exhortação.

Não póde empregar-se em orações negativas. Neste
caso é substituido pelo presente do conjunctivo (§ 213):
Não bebas cousa que não vejas, nem assignes carta que
não leias. Nunca promettas o que não possas fazer
.

E. Infinitivo

1. Usos do infinitivo em geral

222 a) Primeiramente o infinitivo póde significar a acção
de um modo inteiramente geral, sem referencia a nenhum
determinado sujeito: Viver é um beneficio da natureza
133commum a todos. Neste caso não forma oração
á parte (é um simples infinitivo).

b) Em segundo logar o infinitivo póde:

1) não ter sujeito proprio, mas comtudo significar
uma acção que se refere a uma pessoa ou cousa expressamente
determinada: Todos devemos obedecer á lei. Viu-me
entrar. Erão capazes de despertar a indignação mais
vehemente
. Neste caso tambem não forma oração á parte
(é um simples infinitivo), e serve de determinar
um verbo ou substantivo ou adjectivo.

2) ter sujeito proprio, claro ou subentendido: Não
ha maior erro que não conhecer um homem seu erro
;
ou ainda exprimir (na terceira pessoa do plural) uma
acção que se concebe referida a uma pessoa ou pessoas
determinadas, as quaes todavia não podemos ou não
queremos nomear, mas que, sendo nomeadas, serião o
sujeito do infinitivo: Retirei-me da cidade para não me
importunarem
(cf. § 112, b).

c) Por ultimo, o infinitivo póde ser empregado inteiramente
como substantivo (cf. § 75, 5, obs.): Soava um correr de cavallo á
redea solta. Encantava-me o formoso e energico viver d’outrora
.

2. Infinitivo subordinado

223 Em primeiro logar o infinitivo sem preposição póde
exercer as funcções de sujeito, nome predicado e apposto:
Grande virtude é não empeceres a quem te empeceu.
Para o sabio, viver é pensar. Isto vos asseguro
eu, ser elle homem de bem
.

224 Os verbos que, em virtude da sua significação, suppõem
outra acção do mesmo sujeito, têm depois
134de si um simples infinitivo: Ninguem póde fugir á morte.
Assim construem-se com um simples infinitivo:

1) sem preposição: poder; parecer; costumar, soer; saber (= ter
sciencia para, poder); ousar; não duvidar, recear; propor-se, tencionar,
emprehender, intentar, ineditar, projectar
(e os de significação
semelhante), tentar; recusar; merecer.

2) sem preposição ou com de: dever, dignar-se.

3) com de: acabar, cessar, deixar, parar, e todos aquelles que
se podem construir com um substantivo abstracto regido da preposição
de.

4) com a: antecipar-se, apressar-se, tardar, continuar, principiar,
entrar, pôr-se; chegar; tornar
(a fazer uma cousa = fazê-la
outra vez); atrever-se, abalançar-se, lançar-se, metter-se, resolver-se,
decidir-se, determinar-se
, e todos aquelles que podem construir-se
com um substantivo abstracto regido da preposição a.

Obs. 1 — Aqui devem tambem ser lembrados os verbos haver e
ter, ir e vir, auxiliares da conjugação periphrastica (§ 82): (O infinitivo
com a depois dos verbos estar e andar, auxiliares tambem
da conjugação periphrastica, designa propriamente o modo, e póde
ser substituido pelo participio do presente: Ando estudando ou:
ando a estudar).

Obs. 2 — Depois dos verbos perseverar, persistir, teimar, e dos
de significação semelhante, o infinitivo que se lhes liga, é regido
da preposição em: Persistir em tomar a cidade.

225 a) A maior parte dos verbos sensitivos e declarativos,
em logar de se construirem com uma oração integrante
de que, exercendo as funcções de complemento
directo, podem tambem ter depois de si um infinitivo,
v. g. Julgas saber (= julgas que sabes). Affirmou não
haver perigo
(= affirmou que não havia perigo). O infinitivo
é, por via de regra, simples infinitivo, quando a
acção que elle exprime se refere ao sujeito do verbo
subordinante.135

Obs. — Depois de um ou outro verbo, o infinitivo póde ser precedido
da preposição de: diz-se, v. g. Jurou exterminar (e é o mais
vulgar) ou de exterminar os inimigos.

b) Aos verbos transitivos querer, preferir, desejar,
aborrecer
, e aos mais de significação semelhante, liga-se
um simples infinitivo, referindo-se as duas acções ao
mesmo sujeito: Desejo entrar. (Sendo os sujeitos differentes,
emprega-se uma oração integrante de que: Desejo
que elle entre
.)

Obs. — Diz-se: desejar ir (que é o mais vulgar), e desejar de ir.

c) Aos verbos transitivos diligenciar, procurar; evitar;
conseguir, obter, decidir, resolver, e aos mais de
significação semelhante, liga-se um infinitivo, referindo-se
as duas acções ao mesmo sujeito ou a sujeitos differentes:
Consegui ser premiado; consegui ser elle premiado.
(Sendo os sujeitos differentes, tambem se emorega
uma oração integrante de que: Consegui que elle fosse
premiado
).

d) Liga-se uma oração infinitiva, exercendo as funcções
de complemento directo, ás expressões ter por origem,
dar em resultado, ter por consequencia, haver por
galardão
, e ás mais que são semelhantemente formadas,
e ao verbo fazer (na accepção de; diligenciar e
conseguir que uma cousa aconteça, e na de: dar em
resultado acontecer uma cousa): Isto deu em resultado
serem todos castigados
. (Fazer tambem se construe com
uma oração de que).

e) Liga-se um simples infinitivo a não fazer senão, quando se
declara a única acção que alguem pratica, v. g. Não faz senão brincar.

226 a) Em vez de terem uma oração integrante de que
podem tambem construir-se com uma oração infinitiva
136os verbos transitivos que significão conceder, permittir,
ou prohibir alguma cousa a alguem, e os
que significão: soffrer e tolerar, e as ideias contrarias:
Prohibi-lhe que entrasse.

b) Na qualidade de complemento directo liga-se uma
oração infinitiva (e não uma oração de que) aos verbos
perdoar e agradecer: Perdoou-lhes o haverem-no offendido.

227 Os verbos forçar e obrigar construem-se com um
simples infinitivo precedido da preposição a, que exprime
a acção do complemento directo dos mesmos verbos:
Obriguei-o a retirar-se. (O emprego de uma oração
de que é menos vulgar.) (Na passiva: Foi obrigado por
mim a retirar-se
.)

228 Aos verbos ver, ouvir, sentir, deixar, mandar, fazer,
liga-se um simples infinitivo sem preposições, referido
ao complemento directo dos mesmos verbos: Ouvirão-no
fallar: mandárão-me entrar
(na passiva: elle foi
ouvido fallar; fui mandado entrar
).

Outrosim ao verbo ensinar liga-se um simples infinitivo
regido da preposição a attribuido ao complemento
objectivo d’aquelle verbo (v. § 120, obs. 2): Ensinei-o
a dançar
.

Obs. 1 — Depois de deixar, mandar, fazer, o infinitivo activo
póde ser tomado em sentido passivo, e neste caso o agente da acção
do infinitivo é designado pela preposição por ou de, como se o
verbo fosse realmente passivo (§ 148): Deixei-me tyrannisar por
ella. O principe fazia-se respeitar dos vassallos
.

Obs. 2 — Aqui notaremos que, se o infinitivo dependente de
ver, ouvir, deixar, mandar, fazer, trouxer comsigo complemento
directo, póde ligar-se a estes verbos lhe, lhes, em vez de o, a, os,
as
(§ 187): Eu lhes vejo lançar lagrimas tristes (= eu os vejo lançar
lagrimas tristes
).137

Obs. 3 — Não se referindo a acção do infinitivo a um pronome
pessoal, póde em vez de simples infinitivo (virão relampaguear as
armas
, na passiva: virão se relampaguear as armas) empregar-se
uma oração infinitiva (virão relampaguearem as armas, na passiva:
viu-se relampaguearem as armas).

229 a) O simples infinitivo sem preposição liga-se, exprimindo
fim, aos verbos ir e vir, referindo-se as duas
acções ao mesmo sujeito: Fui procurá-lo.

b) Com egual sentido se liga o simples infinitivo, precedido de
a, ao verbo dar exprimindo a acção que ha-de praticar o complemento
indirecto, v. g. dar a alguem uma cousa a provar, e ao verbo
pôr, exprimindo a acção que ha-de praticar o complemento directo,
v. g. pôr os filhos a estudar.

Obs. — Aos demais verbos de movimento liga-se o infinitivo
pela preposição a: Corri a salvá-lo.

230 Em certos casos uma oração infinitiva precedida da preposição
a serve de exprimir hypothese: A ser isso verdade (= se isso fosse
porventura verdade), não tornariamos a fallar-lhe.

231 a) O simples infinitivo precedido de a exprime a maneira
como se pratica uma acção: Iamos a correr.

b) Tambem se emprega em certos casos qualificativamente
designando em que circumstancia se verifica
uma acção: deter-se a examinar um quadro; ver alguem
a chorar, encontrar alguem a sorrir
.

232 A certos adjectivos (v. g. facil, difficil, raro) liga-se um simples
infinitivo precedido da preposição de em sentido limitativo,
exprimindo-se d’este modo que a qualidade deve ser entendida em
relação a uma acção de que a pessoa ou cousa tenha de ser objecto:
enigmas difficeis de decifrar (= de serem decifrados).

233 Em alguns casos o infinitivo precedido da preposição de é empregado
em sentido consecutivo (§ 199), exprimindo o effeito que
uma qualidade é capaz de produzir; São frutos de enlevar olhos.
Erão lindas de fazer inveja.138

234 Certos infinitivos, regidos da preposição de, podem empregar-se
em alguns casos equivalendo a adjectivos em vel: Parecião menos
de temer. E’ de presumir. Foi acção muito de louvar
.

235 Finalmente o infinitivo póde ser regido não só de a
e de, mas ainda de outras preposições mais (por, para,
antes de, depois de, se
m, etc.) exprimindo qualquer das
relações que puderem ser significadas com essas preposições
seguidas de um substantivo abstracto: Não devemos
envergonhar-nos de confessar as nossas culpas
.
Aconselhei-o a mudar de vida. Entrou sem ninguem o
ver
.

3. Infinitivo independente

236 O infinitivo emprega-se independentemente, formando oração
principal, de dois modos:

1) em logar do imperativo, exprimindo uma ordem instante:
Companheiros, despedir esta noute da montanha e das tristezas, e
apparelhar para amanhã me seguirdes
. Neste caso nunca o sujeito
(tu, vós) se põe claro.

2) em exclamações, exprimindo admiração de que um facto se
dê: Não haver quem me salve.

4. Emprego das fórmas pessoaes e impessoaes
do infinitivo

237 a) Quando o simples infinitivo é empregado de modo
inteiramente geral, sem referencia a nenhum determinado
sujeito, empregão-se as fórmas impessoaes: Os
preceitos do direito são: viver honestamente, não empecer
a outrem, e dar o seu a cada um
.

b) Quando o infinitivo tem sujeito proprio e este se
acha expresso na oração infinitiva empregão-se as fórmas
139pessoaes: Ao chegarem os fugitivos á planicie, um
dos tres desconhecidos estava diante d’elles
.

Tambem se hão-de empregar necessariamente as
fórmas pessoaes (da 3ª pessoa do plural), quando se
exprime uma acção que se concebe referida a pessoa ou
pessoas determinadas, as quaes todavia não podemos
ou não queremos nomear (§ 222, b, 2).

c) Empregão-se as fórmas impessoaes, quando o infinitivo
tem sentido de imperativo (§ 236).

d) O simples infinitivo que segundo o § 228 se liga
aos verbos mandar e fazer, e tambem a deixar-se emprega-se
nas fórmas impessoaes: Mandei-os entrar. Fa-lo-hei
entrar
.

Obs. — Todavia, quando o infinitivo está longe do verbo subordinante,
podem ás vezes empregar-se as fórmas pessoaes.

e) Emprega-se nas fórmas impessoaes o infinitivo
que se liga aos seguintes verbos, attribuido ao sujeito
dos mesmos verbos: acabar de, andar a, cessar de, começar
a
(ou de), continuar a, costumar, chegar a
224), desejar e os de significação semelhante, deixar de,
entrar a
((§ 224) estar a, ser feito, haver de ir (§ 82,
b), lançar-se a (§ 224), metter-se a, ser mandado, ousar,
poder, pôr-se a, querer, recusar, saber
(§ 224),
soer, ter de, tratar de, tornar a (§ 224), vir a (§ 82, e).

Obs. — Todavia, quando o infinitivo está longe do verbo subordinante,
podem ás vezes empregar-se as fórmas pessoaes.

f) Usão-se as fórmas impessoaes nos casos de que
fallão os paragraphos 229 (a e b), 232, 234.

g) Nos demais casos empregão-se tanto as fórmas
pessoaes como as impessoaes, tendo, comtudo, a escolha
de ser ás vezes determinada pela clareza, pela emphase
140ou pela harmonia: Ensinou a ser reis os reis do
mundo. Por esta pergunta nos ensina a sermos curiosos
.
Obriga os cercados a lidar. Obrigára os Mosselemanos a
concederem-lhe. As aves aquaticas parecião nos seus
vôos incertos, ora vagarosos, ora rapidos, folgarem com
os primeiros dias da estação dos amores. Vião-se lampejar
as armas e ajuntarem-se ondas de vultos humanos
.

F. Particio

1. Participios em ndo (ou gerundios)

238 Além de entrar na conjugação periphrastica (§ 82),
o participio do presente emprega-se de dois modos:

1) referido ao sujeito de um verbo, e em certos casos
tambem a um complemento, e designando uma circumstancia
da acção do verbo (v. g. causa, modo, etc.),
ou, o que poucas vezes acontece, exprimindo uma simples
qualificação (em logar de uma oração relativa): D.
João Mascarenhas, vendo que o baluarte S. Thomé tinha
maior perigo, mandou trazer muitas panellas de
polvora. Encontrei-o dormindo. Olha os céos, olha a terra,
a luz do dia expirando
(= que expira) nas vagas.

2) como participio absoluto, isto é, sem estar
ligado a uma palavra da oração de que depende,
tendo por conseguinte sujeito proprio (claro ou occulto).
Neste caso exprime uma circumstancia da acção do verbo
subordinante (v. g. tempo, modo, condição): D. Jorge,
parecendo-lhe opportuna a occasião, determinou tentar
a fortuna. Isto aconteceu estando tu na India
.

239 O participio do preterito ou se liga ao sujeito, e ás
vezes tambem a um complemento, do verbo subordinante
141ou se emprega como participio absoluto, e serve
de exprimir uma circumstancia da acção do verbo
subordinante: Augusto Cesar, tendo captivado em guerra
Adiatorix, principe da Cappadocia, trouxe-o a Roma
.
Depois, havendo elle fallado, todos resolvêrão partir.

240 Observações.

a) Um participio absoluto póde não ter sujeito, ou por ser
empregado impessoalmente (§ 112, a), v. g. Chovendo, não sahirei;
ou, em certos casos, porque, embora a acção se conceba referida a
pessoa ou pessoa determinadas, todavia não podemos ou não queremos
nomeá-las, v. g. Esta falta se reparou ajuntando duas telhas
com os varios para dentro
(cf. § 112, 6).

b) Quando os participios exprimem tempo, hypothese ou condição,
podem ser regidos da preposição em, se o verbo subordinante
exprimir uma cousa que costuma acontecer, ou uma acção futura:
Não ha amigos nem inimigos politicos em se largando o mando e
as pretensões a elle. Em elle entrando, fallar-lhe-hei
.

c) O participio do presente exprime o que é comtemporaneo
do verbo subordinante; o participio do preterito exprime o que é
anterior ao verbo subordinante. Todavia, não havendo ambiguidade,
é vulgar empregar-se o participio do presente em vez do do
preterito: Musa, o amir d’Africa, desembarcando nas costas de Hespanha
com um novo exercito, rendia Hispolis
.

2. Participio passivo simples

241 a) Os participios passivos simples, além de entrarem
nas vozes passivas (§ 81) e nos tempos compostos
(§ 81, obs.), empregão-se:

1) ligados a uma palavra substantiva de uma oração,
servindo de exprimir alguma circumstancia da acção
do verbo subordinante, ou significando uma simples
qualificação: Entramos em uma batalha, onde vencidos
142(= se formos vencidos) honraremos nosso Deos com o
sangue. O suor frio manava-lhe da fonte aquecida por
febre ardente
.

2) como participios absolutos: Acabada a refeição
todos se retirarão
.

b) Muitos participios passivos podem ser empregados como puros
adjectivos, e alguns, comquanto passivos na fórma, têm ou podem
ter significação activa, v. g. ido (= que foi), vindo (= que
veio), homem lido (= que tem lido muito, de grande leitura).

Capitulo II — Da ligação das orações

242 Das relações das orações tratou-se em geral nos paragraphos
196 — 202. O uso das orações conjunctivas e infinitivas foi ensinado
no capitulo precedente. O mais que poderia dizer-se ácerca da ligação
das orações, não tem, na maior parte, cabimento em um livro
elementar. Conseguintemente não faremos aqui senão uma ou outra
observação.

243 Depois de alguns verbos é permittido supprimir a
conjugação que de uma oração integrante que exerça
as funcções de sujeito ou complemento directo: Cuido
[que] me seguireis
.

244 a) Em orações relativas encontra-se frequentemente
o verbo no infinitivo, por se subentender o presente
ou preterito imperfeito do conjunctivo do verbo poder
(com o seu respectivo sujeito), v. g. Não ha um
momento que [possamos] perder. Acharás facilmente
soldados com que [possas] guarnecer teus muros
.143

b) Em algumas orações circumstanciaes infinitivas do verbo ser
com um adjectivo por nome predicativo póde occultar-se o presente
infinitivo do verbo ser, v. g. Ainda que o amava por (ser) valoroso,
lhe era pouco affeiçoado por (ser) altivo
.

c) Em certos casos mais póde occorrer uma preposição com
um adjectivo que é nome predicativo do verbo ser ou estar subentendido,
v. g. dar mostras de (ser) insoffrida.

245 Os pronomes (e adverbios pronominaes) relativos e
interrogativos podem introduzir ao mesmo tempo duas
orações, uma subordinada á outra, dando o caracter de
relativa ou interrogativa á subordinante, mas pertencendo
como sujeito ou complemento á subordinada: Aqui
estão os livros que elle pensava que se tinhão perdido

(o pronome relativo que torna relativa a oração elle
pensava
, mas pertence á oração integrante que se tinhão
perdido
, da qual é sujeito). Não sei quantos livros
disse elle que traria hoje
(quantos torna interrogativa a
oração disse elle; mas ligado a livros, pertence como
complemento directo á oração integrante que traria
hoje
).

246 A uma palavra substantiva póde ligar-se um adjectivo, ou
qualquer outra expressão qualificativa, por meio de uma conjuncção
(empregada adverbialmente) sem formar oração á parte: Quando
acabado de ler, traga-me o livro
.

De egual modo se póde ligar a qualquer verbo uma circumstancia
por meio de uma conjuncção concessiva ou comparativa,
sem formar oração á parte: Consegui fazê-lo, ainda que com
grande difficuldade
.

247 As orações interrogativas subordinadas de como e
quão, e em alguns casos as orações infinitivas, podem
ser precedidas do artigo o, exactamente como se fossem
substantivos (cf. § 201): Reparae no como crescem os
lirios
.

248 a) Para dar grande realce a um sujeito ou complemento
144directo, póde desdobrar-se a oração em duas por
meio do verbo ser com o pronome o seguido de uma
oração relativa (ser o que, ser a que, ser os que, ser as
que, ser quem
= ser o que ou ser a que), v. g. A necessidade
é a que leva o soldado á guerra
(em vez de se
dizer simplesmente: a necessidade leva o soldado á guerra).
Tu foste o que me salvaste (em vez de se dizer
simplesmente: tu me salvaste).

A phrase, porém, póde abreviar-se supprimindo o
pronome o, v. g. Tu foste que me salvaste.

b) Semelhantemente, para realçar muito um complemento
de uma oração, e tambem o sujeito, póde desenvolver-se
a oração por meio da locução é (era, foi,
etc.) que, v. g. Os grandes rebanhos é que fazem as
boas colheitas, proporcionando as quantidades precisas
de estrume para o adubo do solo. É então que elle dá
movimento e vida aos penhascos
.

Quando a expressão a que se quer dar realce é um
complemento de logar, póde que ser substituido por onde:
Era nas fileiras onde as puas fazião maior estrago.

Obs. — Neste caso a phrase inteira deve ser contada por uma
só oração, considerando-se a expressão é que ou é onde apenas como
um signal de realce.

Secção III — Da collocação

249 A collocação mais simples das palavras de uma oração consiste
em pôr primeiro o sujeito com as suas dependencias, depois o
predicado com as suas determinações, a palavra determinada antes
145da determinante (v. g. desejoso de gloria), o complemento directo
antes do indirecto. As orações interrogativas principião pela palavra
interrogativa e suas pertenças, as orações subordinadas, conjunccionaes
ou relativas, pela conjuncção ou pelo relativo.

Razões de harmonia, ou de emphase, e em certos casos, regras
particulares de grammatica, levão innumeras vezes a deixar a collocação
simples, dando logar a inversões e transposições.

Obs. — Em particular deve notar-se cuidadosamente que nos
participios absolutos o sujeito do participio não se colloca antes
d’elle, v. g. Aggravadas as queixas antigas com esta
nova, entrou el-rei na cidade do Porto com fel nos labios e no coração
.
Todavia póde antepôr-se quando o participio leva a preposição
em, v. g. em a mina rebentando, ou: em rebentando a mina.
Tambem isto, isso, aquillo, o que, podem antepôr-se aos participios
passivos simples de que forem sujeitos: isto posto, ou: posto isto.

Os casos em que é licito usar de inversões e transposições, e
as mais particularidades de collocação das palavras na oração, bem
como as leis da collocação das orações, aprender-se-hão com a leitura
attenta.

Appendice á Syntaxe

250 A palavra que é ás vezes uma simples particula de
realce
, quer dizer, é uma voz que, desprovida de significação
grammatical, serve unicamente de fazer sobresahir a expresão de
certa ideia. E’ o que succede, por exemplo, nas phrases seguintes:
Certamente que não conheço outra. Quasi me enlouqueci. Desde o
alvor da manhã que vos procuro. Oh! que é muito. Quantos montes
então que derribárão — as ondas que batião denodadas
!

A’s vezes na construcção syntactica, tem-se em vista mais o
sentido que o rigor da fórma. Assim nesta phrase: Opulenta outr’ora,
os seus estaleiros
(da cidade de Carteia) tinhão sido famosos
antes da conquista romana
, está posto o adjectivo opulenta como se
em logar do pronome possessivo seus estivesse a expressão equivalente
d’ella. Neste caso diz-se haver synese.

Algumas vezes as phrases achão-se construidas de modo que
uma ou mais palavras do principio de uma oração não se ligão ás
que vem depois, seguindo as regras da syntaxe. E’ o que acontece
146nestes versos de Camões: Vereis este que agora pressuroso = por
tantos medos o Indo vae buscando = tremer d’elle Neptuno
. Esta
incoherencia syntactica tem o nome de anacoluthia, e a
phrase em que se dá esta irregularidade, denomina-se — anacolutho.

251 Denominão-se em geral barbarismos os erros que consistem:
1) em empregar como nacionaes palavras estranhas á lingoa,
ou empregar palavras nacionaes com significações que lhes
não pertencem; 2) em formar palavras novas contra as leis da composição
e da derivação; 3) em pronunciar ou escrever incorrectamente
os vocabulos (v. g. promenores em logar de pormenores); 4)
em não observar as leis da flexão; 5) em dar quebra ás leis da syntaxe
(v. g. dizendo emquanto que por emquanto; mas diz-se correctamente
emtanto que, ou entretanto que; de maneira a produzir
por de maneira que produza ou produzisse).

Em particular denominão-se barbarismos os erros das quatro
primeiras especies.

Os erros de syntaxe têm o nome particular de — solecismos.

Supplemento á phonologia

251a aCom respeito aos modos (figuras) pelos quaes os sons
das palavras se modificão, já fallámos da assimilação (§ 58
nota), da crase (§ 71 obs.) da tmese (§ 80 fim). Neste logar notaremos
tambem a prothese ou acrescentamento de sons no
principio de uma palavra, v. g. a-rrã fórma popular de ; a
epenthese ou inserção de som no meio de uma palavra, v. g.
t-r-oar ao par de toar; a paragoge ou acrescentamento final
de sons, v. g. tã-o ao par de tam-bem; a syncope, v. g. rosto
ao par da forma antiga rost-r-o; a dissolução de consoante
em vogal, v. g. bautismo fórma popular de baptismo.

252 As regras mais geraes da orthoepia e da orthographia são as
que se referem ás flexões e á derivação. Aprendem-se, portanto,
quando se estuda o tratado das flexões e a etymologia. Por exemplo,
sabendo-se que nça é um suffixo que de verbos forma substantivos
abstractos, conclue-se que se ha-de escrever doença e não
doensa. Aqui vão ser expostas algumas particularidades que não
puderão ser ensinadas na segunda parte da grammatica.147

A. Orthoepia

253 ex quando entra no principio de uma palavra, v. g.
exame, ou do segundo elemento de um composto, v. g.
inexperiencia, pronuncia-se eis e não is.

254 s entre vogaes pronuncia-se brando (como z). As principaes
excepções são: 1) o s de proseguir e prosecução e seus derivados;
2) o s da terminação esimo dos numeraes, v. g. centesimo; 3) o s de
monosyllabo, disyllabo, etc., e de unisono; 4) o s em palavras compostas
depois do prefixo re, v. g. resurgir, resalvar (em geral o s
inicial de uma palavra conserva-se forte quando entra em composição).

255 ss tem sempre o som de ç; essencia, por exemplo, pronuncia-se
ecencia, e não escencia.

256 t ou th sempre sôa, v. g. em arithmetica (e não arimetica),
logarithmo, rhythmo.

257 nh tem simplesmente o som de n em algumas palavras. As
principaes são: anhelo e seus derivados, inhibir e seus derivados,
inhalar e seus derivados, anhydrico, cyanhydrico.

258 a) vogal nasal nunca é surda nem aberta, mas tem sempre o
som fechado; por exemplo em pênsamênto, vênder, vêndo, têndes, o
en tem o mesmo som.

b) nos compostos de verbo (na terceira pessoa do singular do
presente) e substantivo, o verbo conserva a pronuncia que tem
quando é proferido sobre si, v. g. guarda-chuva.

c) vogal em que recáia o accento tonico, de palavra de duas
ou mais syllabas, nunca póde ter o som surdo; assim como, adverbio
ou conjuncção, deve pronunciar-se do mesmo modo que a
primeira pessoa do presente do indicativo do verbo comer, e não
cumo, o que seria barbarismo.

259 O a da terminação amos do presente indicativo da 1ª conjugação
e do presente conjunctivo da 2ª e 3ª tem o som fechado:
amâmos (como no artigo na, e não amámos, que é preterito perfeito),
vendamos, unamos.

260 Em al seguido de consoante differente, o a é sempre aberto:
máldade, báldeação, álfenim.148

261 Na terminação vel de adjectivos, v. g. affavel o e é sempre
aberto.

Egualmente em ect, ecç, epc, o e é sempre aberto: diréctor,
diréctorio, afféctação, corréctivo, deféctivo, objéctivo, adjéctivo,
secção, dirécção, corrécção, objécção, prelecção, excépção
.

262 Em ol seguido de consoante differente, o o nunca é surdo: sóldar,
móldar, vóltar, mólde, vólto
.

263 Nos verbos distinguir e extinguir e nas palavras
d’elles derivadas, gui pronuncia-se como em guitarra,
sem soar o u.

264 São agudas (§ 7), entre outras, as palavras acabadas em: 1)
ar, ir ou yr, ur; são, porém, graves alcaçar, aljofar, ambar, assucar,
(lacar), martyr, Oscar
; 2) i, u, exceptuando quasi o tribu; 3)
al, ol, ul; são, porém, graves Setubal, Tentugal, e alguns nomes
proprios de origem estrangeira (v. g. Hannibal), consul e seus compostos;
4) vogal nasal ou diphthongo; são, porém, graves certas
fórmas verbaes que vem no quadro das conjugações, e accordão,
benção, Christovão, Estevão, frangão, orgão, ouregão, rabão, sotão,
zangão
, e porventura ainda mais algumas palavras.

B. Orthographia

265 Para representar os sons vogaes e consoantes, temos duas ordens
de caracteres: os principaes, ou letras do alphabeto, e os secundarios,
convém a saber: o til, a cedilha e os accentos. Nos dois
paragraphos seguintes são dadas algumas regras do uso d’estes caracteres.

266 a) Antes de b, p, m, escreve-se m e não n (v. g.
tampa).

b) As vogaes cuja nasalação póde ser indicada com til, são a e
o. A nasalação das outras vogaes é indicada com m ou n.

c) No principio e no interior das palavras, o a nasal é representado
com an (e, antes de b, p, m, com am); com ã só se representa
nos deminutivos, (v. g. manhãzinha) e no plural dos nomes
em ã (v. g. maçãs). No fim das dicções representa-se com ã ou an
(v. g. ou ran; no plural rãs ou rans).

d) O diphthongo ão deve escrever-se com ão e não com am
149(v. g. tão, quão, são, Christovão. Escrever tam, quam, etc., é sêr
menos correcto, por isso que é deixar sem representação a segunda
vogal do diphthongo).

e) io no fim das palavras representa-se com io (v. g. sitio, e
não sitiu, que é barbarismo). Comtudo na terceira pessoa do singular
do preterito escreve-se io ou iu (v. g. unio ou uniu, assim como
tambem se escreve rendeo ou rendeu).

f) No principio das palavras escreve-se sa, so, su, e
não ça, ço, çu.

g) As consoantes que podem dobrar-se, são b, c, d,
f, g, l, m, n, p, r, s, t
. Uma palavra nunca principia
por letra dobrada. As consoantes só se dobrão entre vogaes,
ou entre vogal e l ou r.

267 Com respeito aos accentos, o uso moderno, geralmente fallando,
é não os escrever nas vogaes das syllabas iniciaes e medias dos
polysyllabos senão com o fim de distinguir palavras que se escrevem
com as mesmas letras, v. g. sitio (subst.), sitio (verb.).

268 Além das letras e do til, cedilha e accentos, ha ainda
varios signaes que têm diversos usos. Os mais importantes
são: virgula (,), ponto e virgula(;), dois pontos
(:), ponto final (.), ponto de interrogação (?), ponto
de admiração ou exclamação (!), pontos de reticencia
(…), parentheses [()], travessão (-), apostropho (’),
virgula dobrada (,,), risca de união (-), ponto de abreviatura
(.), e as fórmas maiusculas das letras.

269 De indicar simplesmente pausa servem a virgula,
ponto e virgula, dois pontos, e ponto final.

Com respeito ao uuso d’estes signaes não é facil dar
regras precisas. Entretanto notem-se as seguintes:

1) Separão-se por virgulas: os vocativos, os substantivos
appostos, os elementos coordenados de uma
150oração, que não estiverem ligados por e, nem, ou (ás
vezes, porém, até se torna necessario separá-los por
ponto e virgula), as orações intercaladas em um periodo
(quando não vão entre parentheses), os participios
absolutos, as orações relativas que não vão precedidas
immediatamente do antecedente da palavra relativa, e
as orações relativas que exprimem simplesmente uma
observação accessoria.

2) Separão-se com ponto e virgula: os membros
coordenados de um periodo ou oração, para os quaes a
virgula fôr pausa demasiado pequena; as orações causaes
que se ligão a uma oração extensa ou a uma combinação
de orações; as orações ligadas por palavras que
exprimem illação ou consequencia.

3) São precedidas de dois pontos: as fallas ou sentenças
postas em discurso directo (v. g. Disse Seneca:
Muito aproveita à quietação fallar pouco com os outros,
e muito comsigo
), a enumeração de objectos precedentemente
annunciada (v. g. As virtudes cardeaes são
quatro: prudencia, justiça, fortaleza e temperança
).
Tambem se separão por dois pontos os membros principaes
de um periodo, que não estão ligados por conjuncções
(v. g. O novo opusculo é um grito retumbante
de guerra: novos pelejadores não tardão
).

4) O ponto final põe-se no fim de cada periodo
grammatical.

270 O ponto de interrogação e o de exclamação pelo seu nome indicão
o fim para que servem. São simultaneamente signaes de pausa.

271 Os pontos de reticencia indicão suspensão repentina do fio do
discurso.

272 Os parentheses servem, entre outros fins, de encerrar orações
ou expressões que estão intercaladas no discurso ou que exprimem
uma simples observação accessoria. (Quando a intercalação é curta
é todavia bastante separá-la por virgulas.)151

273 O travessão serve principalmente de separar as expressões para
que se chama em especial a attenção do leitor, e de separar nos
dialogos as fallas dos diversos interlocutores.

274 O apostropho indica a suppressão de letra ou letras de uma
palavra.

275 A virgula dobrada serve principalmente de encerrar as transcripções
textuaes.

276 A risca de união põe-se entre os elementos de certas palavras
compostas; precede os monosyllabos encliticos; precede e segue os
pronomes que se intercalão nos futuros e condicionaes.

Tambem se põe nos fins das linhas quando a palavra termina
na linha seguinte. A este respeito cumpre observar o seguinte:

1) Não passão de uma linha para outra consoantes soltas, uma
das vogaes de um diohthongo, uma vogal só.

2) As consoantes dobradas dividem-se, pondo-se uma no fim
da linha, a outra na linha seguinte.

3) Nas palavras compostas de prefixos monosyllabos, os prefixos
não se podem collocar parte numa linha, parte na outra.

277 Com letra inicial maiuscula escrevem-se, entre outras palavras,
os substantivos proprios (na maioria dos casos), a primeira palavra
de um periodo grammatical, a primeira palavra de um dito ou sentença
ou falla que se apresentem em discurso directo.

Modelos de analyse syntactica

I Os grandes rebanhos e manadas é que fazem as boas colheitas,
proporcionando as quantidades precisas de estrume para o adubo
do solo
.

Este periodo grammatical tem uma só oração. E’ que deve ser
considerado simplesmente como um signal que serve de dar realce
a os grandes rebanhos e manadas, sem fazer oração á parte (§ 248,
b, obs.)

a) O sujeito é os rebanhos e manadas sujeito composto de dois
substantivos ligados pela conjuncção copulativa e (§ 106, obs.).152

Qualifica-o o adjectivo grandes (§ 109) empregado attributivamente
(§ 179, 1.)

b) O predicado é fazem, que está no plural e na terceira pessoa,
por serem os sujeitos do plural e da terceira pessoa (§ 116,
c, 1).

Fazem, como verbo transitivo, tem complemento directo (§
120). E’ as colheitas, complemento ao qual se liga attributivamente
o adjectivo boas.

Proporcionando é um participio, que, referido ao sujeito da
oração, determina o verbo fazem, exprimindo o meio (§ 238, 1).

Este participio, que pertence a um verbo transitivo, tem por
complemento objectivo as quantidades qualificado pelo attributivo
precisas. Demais o substantivo quantidades traz um complemento
(§ 109, meio) que designa o genero da quantidade (§ 152, 1), e é
de estrume. Este ultimo substantivo tambem traz um complemento
que designa a destinação (§ 170, b), e é para o adubo. Por sua vez
o substantivo abstracto adubo é determinado pelo complemento do
solo que designa o objecto da acção significada pelo substantivo adubo
(§ 150).

II A reputação é uma joia, que, perdida uma vez, raro se
recupera
.

Ha aqui duas orações: a reputação é uma joia, e: que perdida
uma vez, raro se recupera
.

1) A primeira oração é principal.

a) O sujeito é a reputação.

b) O predicado é é uma joia, constituido pelo verbo é e o nome
predicativo uma joia (§ 107, a, b).

2) A segunda oração, ligada á primeira pelo pronome relativo
que, é uma oração relativa (§ 200) que serve de caracterisar o nome
predicativo da oração principal.

a) O sujeito é que = a qual.

b) O predicado é se recupera. E’ o verbo transitivo recuperar
na conjugação reflexa empregada como voz passiva (§ 192, b), de
modo que se recupera é reflexo na fórma (figurando se de complemento
directo), mas tem sentido passivo e equivale a é recuperada.

Raro é um adjectivo empregado adverbialmente (§ 186) que
determina o predicado (§ 108).153

Perdida é um participio passivo ligado, como apposto, ao pronome
relativo com o qual concorda (§ 180, b; 119, e). Serve de exprimir
uma circumstancia de tempo com respeito ao predicado (§
241, a, 1), equivalendo perdida a depois que se perdeu, depois de
se perder
. Este participio é determinado pela expressão adverbial
uma vez.

III Depois de haverem transposto as montanhas, os invasores
assenhoreando-se da cidade de Asido
.

Ha aqui duas orações: depois de haverem transposto as montanhas
e: os invasores assenhoreárão-se da cidade de Asido.

1) A primeira oração é temporal (§ 199, 6). A relação de tempo,
em que está com a oração seguinte, é indicada pela locução
prepositiva depois de (§ 199, obs.)

a) O sujeito ubentende-se, por ellipse (§ 113), da oração seguinte
(invasores).

b) O predicado é haverem transposto. Póde estar na forma pessoal
em virtude da regra g do § 237. E’ verbo transitivo, cujo
complemento directo é as montanhas.

2) a segunda oração é principal.

a) O sujeito é os invasores.

b) O predicado é assenhoreárão-se, verbo que só se usa na fórma
reflexa (§ 80, f, nota 2).

Assenhorear-se pede um complemento que exprima o objecto
de que alguem se torna senhor, complemento que se lhe liga pela
preposição de (§ 155, a). Aqui é da cidade. Juntando-se a cidade
o substantivo Asido por meio da preposição de, tomada em sentido
definitivo (§ 154, e obs. f), fica designado por um nome proprio o
objecto que com a palavra cidade era apenas designado de um modo
geral.

IV Proposta a questão, foi unanimemente resolvido que o prelado
empregasse as censuras da egreja contra quem pretendia esbulhá-la
das suas regalias
.

Contém este periodo tres orações. A primeira é: Proposta a
questão, foi unanimemente resolvido
. A segunda não póde separar-se
completamente da terceira, porque ha uma palavra commum a ambas
e é quem, que tanto vale como aquelle que (§ 64, a, obs.) Conseguintemente
não ha exactidão completa, quando se diz que a segunda
154oração é que o prelado empregasse as censuras da egreja contra.
A terceira é quem pretendia esbulhá-la das suas regalias.

1) A primeira oração é principal.

a) O sujeito é constituido pela oração seguinte, a qual, por
consequencia, é integrante (§ 201).

b) O predicado é o verbo passivo foi resolvido. Unanimemente
é um adverbio de modo, que determina o predicado.

Em proposta a questão ha um participio absoluto (§ 241), que
determina o predicado, exprimindo tempo (equivale a como a questão
houvesse sido proposta
). A questão é o sujeito do participio proposta.
(Os participios absolutos não costumão ser considerados orações
á parte).

2) A segunda oração é, como foi dito, integrante, e, por estar
ligada pela conjuncção que, é, quanto á fórma da subordinação, conjunccional
(§ 197).

a) O sujeito é o prelado.

b) O predicado é empregasse.

Como verbo transitivo, tem complemento directo, que é as
censuras
. O substantivo censuras é determinado por um complemento
possessivo, a saber: da Egreja (§ 149).

A preposição contra, que entra na oração como se em logar
de quem estivesse de facto aquelle que, forma, com o pronome demonstrativo
virtualmente contido em quem, um complemento do
predicado que designa o objecto a que havião de ser dirigidas as
censuras.

3) A terceira oração é relativa.

a) O sujeito é quem.

b) O predicado é pretendia, determinado pelo simples infinitivo
esbulhar (§ 224) que faz as vezes de complemento directo.

O verbo esbulhar pede dois complementos: um directo, outro
que designe o objecto de que se é esbulhado, regido da preposição
de (§ 189). O primeiro é o pronome pessoal a (com a fórma la, pela
regra do § 88, b), que representa egreja. O segundo é das regalias,
determinado attributivamente pelo pronome possessivo suas.155

1(*) Segundo a pronuncia da capital.

2(**) Segundo a pronuncia da capital.

3(*) Em particular deve notar-se cuidadosamente que não se
dá esta mudança em adorno, bolso, estojo, folho, globo, gosto, mólho,
que fazem no plural adôrnos, bôlsos, estôjos, fôlhos, glôbos, gôstos,
môlhos.

4(*) Tambem se escreve dous; mas pronuncia-se sempre dois.

5(**) Mas pronuncia-se dezaseis, como tambem dezasete, dezanove.

6(*) O s da terminação simo pronuncia-se como ç.

7(*) Lo la los las é a fórma antiga do pronome o a os as. O l
do pronome transformou em l o r, o s, e o z finaes das palavras a
que o pronome se liga. Assim, por exemplo, de trazer-lo, eis-lo,
traz-lo
, resultou trazêl-lo, eil-lo, tral-lo, como ainda se escrevia no
seculo passado. (A esta transformação de sons dá-se o nome de
assimilação.) Depois a consoante dobrada foi reduzida a
singela, sendo supprimido o primeiro l e não o segundo, como se
vê attentando na pronuncia, que é, por exemplo, tra-zê-lo e não
trazêl-o. (Compare-se tambem lavamo-nos em logar de lavamos-nos).
E’-se, pois, menos exacto, quando se escreve trazêl-o, eil-o, tral-o,
etc.

8(**) A fórma no na nos nas provém semelhantemente da fórma
antiga lo la los las, sendo que debaixo da influencia do som nasal
da terminação do verbo o l do pronome se mudou em n por
assimilação. Assim, por exemplo, deixão-no provém de deixão-lo.

9(*) Este tempo é composto do presente infinitivo e de ia ias ia iamos ieis ião, abreviação de havia havias havia haviamos havieis havião (amar havia = havia de amar) (cf. § 80, f, nota 1ª.)

10(*) Este tempo é composto do presente infinito e de ei ás á emos eis ão, abreviação de hei has ha havemos haveis hão (amar hei = hei de amar) (cf. § 80, f, nota 1ª.)

11(*) O periodo archaico da lingoa portugueza vae até cerca dos
fins da primeira metade do seculo XVI.

12(**) Para evitar esta excepção, seria bom escrever resfolgar.

13(*) Em particular não se faz esta mudança em adiar, afiar,
alumiar, confiar, copiar, miar, saciar, tosquiar, variar.

14(*) As fórmas escritas com letras espaçadas não são irregulares.

15(*) V. § 80, a.

16(*) Requerer é rigorosamente um composto de querer.

17(*) E’ o preterito do verbo ser.

18(*) A letra a quer dizer que o participio se emprega nos
tempos compostos da activa (v. g. tenho isentado); a letra p quer
dizer que o participio se emprega nas vozes passivas (v. g. foi
isento
).

19(*) O a da primeira syllaba de ganhar é sempre aberto.

20(**) O a da primeira syllaba de pagar é fechado, quando nelle
não cae o accento.

21(*) Tambem se escreve amenisar, fertilisar, com s.

22(*) V. § 71, b.

23(*) Verbos sensitivos são os que exprimem conhecimento ou
opinião de que uma cousa é ou acontece v. g. ver, saber, julgar);
verbos declarativos são os que significão manifestação de que uma
cousa é ou acontece v. g. dizer, declarar, annunciar).