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Coelho, Francisco Adolfo. Noções elementares de grammatica portugueza – T01

Noções elementares
de
grammatica portugueza

Preliminares

Da proposição

1. Por meio da falla ou linguagem communicamos
aos nossos similhantes :

1. o que observamos e pensamos,
2. o que pretendemos saber,
3. o que ordenamos se faça,
4. o que desejamos ou rogamos se faça ou succeda.

Exemplos

1. Carlos lê, Carlos é bom. Chove.
2. Carlos lê ? Carlos é bom ? Chove ?
3. Carlos, lê ! Está quieto ! Vem !
4. Deos nos acusa ! A sorte te favoreça ! Chova !

Temos aqui doze ligações de palavras ou palavras
isoladas, cada uma das quaes fórma sentido e, como
todas as analogas, se chama proposição ou oração.1

1) As tres primeiras proposições enunciam observações,
pensamentos : chamam-se enunciativas.

Nota. — As observações e os pensamentos podem referir-se
a casos exteriores, como nas proposições referidas, ou a casos interiores,
como nas seguintes : Sinto uma dôr. Errei a conta.

2) As tres proposições seguintes exprimem coisas
que desejamos saber, servem para interrogar : chamam-se
interrogativas.

3) As tres proposições immediatas exprimem ordens :
chamam-se imperativas.

4) As tres ultimas proposições exprimem desejos
(ou rogos) : chamam-se optativas.

2. As proposições imperativas e optativas não se
distinguem sempre perfeitamente ; por exemplo, a seguinte :
Carlos, sê bom ! pode ser considerada como imperativa
ou como optativa.

E’ pelo tom que na linguagem fallada se distinguem essas
especies de proposições (tom affirmativo ou enunciativo, interrogativo,
imperativo, optativo, rogativo). Na escripta o signal ( ?)
põe-se no fim das proposições interrogativas : as proposições imperativas
e optativas (ou rogativas) tẽem muitas vezes o signal ( !).

Exercicios.

Distinguir d’entre as seguintes proposições as enunciativas
das interrogativas, imperativas, optativas, e formar muitas semelhantes :
Paulo canta. João estuda ? Foje ! A ave voa. O rio corre.
O creado trabalha ? O menino fugiu. O velho morre. O galo está
morto. O papel é azul ? Estou contente. Vamos passear. Estudaste a
lição ? A fonte seccou. Alberto, corre ! Sê corajoso ! O sol é brilhante.
Troveja. A paz seja contigo ! Relampeja. Dorme
.

3. As proposições ou são formadas por uma só palavra
ou, o que é mais frequente, pela ligação de duas
ou mais palavras.

Do sujeito e do predicado

4. Na maior parte das proposições formadas de
mais d’uma palavra, distinguimos sem difficuldade duas
2partes ou termos principaes, expresso cada um por uma
palavra.

Carlos — lê.
Carlos — lê ?
O cão — fugiu.
O velho — morre.
O gato — (está) morto.
O sol — (é) brilhante.
Deus — (nos) acuda.
O homem — (é) animal.
(Aquelle) rapaz — (é o) José
.

Um desses termos significa uma pessoa ou coisa
(Carlos, cão, gato, sol, Deus) à qual referiamos a acção
(lê, fugiu, acuda), estado ou mudança de estado (morre,
morto
), qualidade (brilhante) ou nome de classe ou
individuo (animal, José), expresso pelo outro termo.

5. Chama-se sujeito o termo d’uma proposição ao
qual se refere um outro chamado predicado, que significa
uma acção, estado ou mudança de estado ou
qualidade, ou classe, — em, geral, condição.

6. Muitas vezes um dos termos da proposição deixa
de se exprimir por se subentender facilmente. Suppunhamos
que nos perguntam Carlos lê ? e que respondemos :
 ; ou que nos perguntam Quem lê ? e que respondemos
Carlos : na primeira resposta falta o predicado , que
facilmente se subentende : na segunda o sujeito Carlos,
que se subentende tambem facilmente.

7. Ha proposições cujo sujeito nunca se exprime e
são principalmente :

a) proposições imperativas, como : Vem ! Foje !
Vinde ! Fugi !
cujo sujeito é a pessoa ou coisa ou grupo
de pessoas ou coisas a que nos dirigimos, e que não se
exprime como sujeito ;

b) proposições que exprimem certos acontecimentos
da natureza, como : troveja, chove.3

Do vocativo

8. Nas proposições : Carlos, lê ! Salta, tu ! Carlos,
tu
não são sujeitos, mas sim expressões com que chamamos
a attenção daquelle a quem ordenamos, com que
indicamos que é a elle que se dirige a ordem, que é elle
o sujeito da oração. Essas expressões chamam-se vocativos
ou palavras empregadas vocativamente, o que
quer dizer — palavras para chamar, e que podem ser
precedidas da palavra ó : Ó Carlos ! Ó tu !

9. Os vocativos empregam-se tambem quando não
ha proposição imperativa, ex. : Carlos, teu irmão dorme.

Do verbo

10. Comparemos as proposições seguintes :

Eu — leio.
Tu — lês.
Elle, Carlos — lê
.

A primeira refere a acção expressa pelo predicado
leio à pessoa que falla (eu) ; a segunda refere a mesma
acção á pessoa a quem se falla (tu) ; a terceira refere a
mesma acção a uma pessoa distincta da pessoa que falla
e da pessoa a quem se falla (elle, Carlos). D’ahi vem
distinguirem-se tres pessoas do discurso ou falla : a primeira,
que falla de si e das outras duas, a segunda, a
quem se falla e de quem tambem se falla e a terceira
distincta das duas primeiras e da qual fallamos sem nos
dirigirmos a ella.

11. Podemos supprimir as palavras que designam
as pessoas : eu, tu, elle, e são sujeitos das proposições
acima, sem que deixe de ser facil subentender esses sujeitos,
por isso que o predicado, nesses casos, indica só
por si, por sua fórma differente, de que pessoa se falla :
4leio, lês, lê, isto é, contém referencia á pessoa do discurso.

12. Comparemos agora as proposições seguintes :

tableau leio. | li. | lerei. | lês. | leste. | lerás. | lê. | leu. | lerá.

Leio, lês, lê, não só contẽem a expressão d’uma
acção, e a indicação da pessoa a que se refere, mas ainda
a indicação do tempo em que se dá a acção, do presente ;
li, leste, leu, contẽem tambem a expressão da
acção, a indicação da pessoa a que se refere e a indicação
do tempo em que a acção se deu, do passado ; lerei,
lerás, lerá
, contẽem tambem a indicação da pessoa
a que se refere e a indicação do tempo em que a acção
se ha de dar, do futuro.

13. Chama-se verbo a palavra que significa uma
acção, estado ou mudança de estado e contém a indicação
da pessoa do discurso a que se refere e do tempo.

Exercicio.

Distinguir nas proposições seguintes, os verbos e as pessoas
e os tempos (presente, passado, futuro) d’esses verbos, dizendo
se elles significam uma acção, um estado ou mudança de estado :

Tu brincas. Eu choro. O cão ladra. O gato miou. Cairás.
Dormiste ? O sol desapparece. A terra reverdece. O vento sopra.
Choverá. Tu empallideces. O menino corou. Gritas. A fonte murmura.
Morrerei
.

Construir proposições similhantes.

14. Na maior parte das proposições o predicado é
um verbo.

Do substantivo

15. Nas proposições Carlos lê, Paulo canta, João
ri, Elvira estuda, Albertina borda
, os sujeitos Carlos,
João, Elvira, Albertina
, são nomes proprios de individuos
a que referimos os respectivos predicados : esses
individuos são homens, mulheres, ou creanças.5

Nas proposições Lisboa é bella, Coimbra é linda, O
Tejo é largo, Portugal é fertil, Lisboa, Coimbra
são nomes
proprios
de cidades, Tejo nome proprio d’um rio,
Portugal nome proprio d’um paiz.

Ha tambem nomes proprios de montes, lagos, fontes,
mares, etc., assim como de animaes, de navios, de
machinas de vapor, etc.

16. Carlos, João, Pedro, são ainda creanças e tẽem
por isso o nome commum de creança, menino, rapazinho ;
estudam e por isso tẽem o nome commum de estudante.
Lisboa, Coimbra, Porto
, tẽem o nome commum de cidade.
Carlos, João, Pedro, pela sua edade pertencem á
classe das creanças, dos meninos ; porque estudam, pertencem
á classe dos estudantes ; Lisboa, Porto, Coimbra,
pertencem á classe das cidades ; creança, menino, estudante,
cidade são pois nomes de classe.

17. Significamos todas as pessoas ou coisas por
nomes que são proprios, quando as designamos como
individuos, communs, quando as designamos como pertencendo
a uma classe.

O mesmo nome proprio pode servir para designar
individuos de classes muito diversas : assim Nilo, Tejo,
Mondego
, são nomes proprios de rios, que muitas vezes
se usam como nomes proprios de cães.

18. Ha nomes de pessoas (homens, mulheres,
creanças), d’animas, de plantas, de coisas sem vida, seres
reaes ou imaginarios.

Exercicios.

Distinguir os nomes d’essas diversas especies, na lista seguinte
que deve augmentar-se. Homem, rio, rato, lavadeira, sereia,
sol, couce, pedra, medico, casa, bosque, fada, dragão, mesa,
vento, rã, terra, monte, rei, espada, cavallo, egua, cavalleiro, discupulo,
mestre
.

19. Chama-se substantivo ou nome substantivo
toda a palavra que empregamos como nome (proprio ou
commum) de pessoa ou coisa.6

Do adjectivo

20. Na proposição Carlos é bom, bom é o predicado ;
é uma palavra que exprime qualidade referida a
Carlos. Na proposição O bom Carlos estuda, temos a
mesma palavra, mas ligada ao sujeito, não referida a
elle como predicado. Comparemos ainda as seguintes
proposições :

O sol é brilhante. — O brilhante sol nasce.
A vibora é venenosa. — A vibora venenosa morde.
A raposa é manhosa. — A manhosa raposa fugiu.
A raposa é animal manhoso
.

Ha pois palavras que significam qualidade e que ora
figuram como predicado, ora se juntam ao sujeito, a que
então se refere outra palavra como predicado, ou se ligam
ao predicado.

21. Chama-se adjectivo ou nome adjectivo toda
a palavra que significa qualidade e pode ligar-se immediatamente
a um substantivo ou ser referida a elle como
predicado. Bom, brilhante, venenosa, manhosa, são adjectivos.

22. Nas proposições seguintes : A brancura alegra,
a negridão entristece, a felicidade rejuvenesce, a virtude
é bella
, as palavras brancura, negridão, felicidade e virtude
significam tambem qualidades, a qualidade do que
é branco, a do que é negro, a do que é feliz, a do que
é virtuoso ; mas nessas proposições fallamos de taes
qualidades como se fossem coisas existindo por si, a que
referimos acções, estados e qualidades na fórma de predicado :
por isso brancura, negridão, felicidade, virtude,
são classificadas como substantivos.

23. Comparando substantivos que significam qualidade
com adjectivos correspondentes apprendemos a
distinguir essas duas classes de palavras :7

alegria — alegre
altura — alto
força — forte
grossura — grosso
magreza — magro
viveza — vivo

Mas entre as duas classes de palavras a differença é
sobretudo traçada pelo emprego na oração, podendo um
substantivo ser usado como adjectivo e um adjectivo
como substantivo, sem differença de fórma que se nota
nos exemplos acima. Ex. :

O rei é forte. — O rei forte vence. — O forte vence.

24. As coisas apresentam-se-nos com conjunctos
de qualidades : assim o sal é branco, é amargo, é soluvel
na agua, é mais pesado que a agua etc. ; os proprios
substantivos que significam qualidades consideradas
como coisas suggerem a ideia de conjunctos de qualidades :
assim a virtude é bella, é nobre, é salvadora ; os
adjectivos exprimem a qualidade d’uma pessoa ou coisa
sobre a qual dirigimos a attenção em especial.

Do verbo de ligação

25. Comparemos as tres proposições : Carlos lê ;
Carlos é bom ; Carlos é creança.

Na primeira o predicado é um verbo, na segunda
um adjectivo, na terceira um substantivo empregado
como adjectivo, mas na segunda e na terceira ha ainda
uma outra palavra entre o sujeito e o predicado : é.

Comparemos as proposições seguintes : Eu sou bom.
Tu és bom. Elle é bom
.

Vemos que cada uma das palavras sou, és, é é verbo,
pois contém a indicação de tempo e de pessoa ; mas não
significa só por si estado, ou mudança de estado e ainda
menos acção. Se dizemos só : elle é, o sentido fica incompleto,
falta realmente o predicado, o que se enuncia da
terceira pessoa elle, salvo se é significa existe. Eu sou
e serei
significa só por si existo e existirei. Mas quando,
8como nas preposições acima, a essas fórmas e a outras
d’emprego semelhante segue um adjectivo ou substantivo,
o verbo perde o seu sentido proprio e serve só
para ligar ou referir o predicado ao sujeito, dando a
indicação de tempo e de pessoa : é um verbo de ligação.

26. Examinemos as proposições seguintes : Eu bom
(respondendo á pergunta : Como vae ?) Amigo anojado —
inimigo dobrado
(Adagio). Obra começada — meia acabada
(Adagio). Falta nellas o verbo de ligação, o que mostra
que o predicado póde referir-se ao sujeito sem intervir
esse verbo, que não é portanto elemento essencial da
proposição.

Do pronome

27. Vimos já que o verbo contém indicação de
pessoa ; mas muitas vezes quando o sujeito é da primeira
pessoa ou da segunda ou sendo da terceira não é
designado por um substantivo, a pessoa a que o verbo
se refere é indicada por outra palavra.

Exemplos : Eu corro. Tu corres. Elle corre.

Essas palavras indicam portanto as pessoas do discurso
e são chamadas pronomes pessoaes.

28. Examinemos as proposições seguintes : O meu
livro é azul. O teu livro é verde. O seu livro está rasgado.
O livro azul é meu. O livro verde é teu. Aqui estão
dois livros : o meu é zaul ; o teu é verde
.

As palavras meu, teu, seu são empregadas ora como
os adjectivos, ora como os substantivos ; mas não significam
nem pessoas, nem coisas, nem qualidades : indicam
a pessoa a que pertence o objecto a que se referem
e chamam-se pronomes possessivos.

29. Examinemos as seguintes proposições : Este
homem é diligente. Esse homem é valente. Aquelle homem
é preguiçoso. — Isto é amargo. Isso é doce. Aquillo
é acido. — Eis dois livros : este é interessante, aquelle é
enfadonho. D. Affonso Henriques e D. Sancho I foram os

9primeiros reis de Portugal : aquelle conquistou Lisboa ;
este conquistou Silves.

As palavras este, esse, aquelle, empregam-se como
os adjectivos e tambem como os substantivos ; isto, isso,
aquillo
, como substantivos, mas não significam nem qualidades,
nem pessoas, nem coisas : indicam o logar em
que se acham as pessoas ou coisas a que se referem com
relação a quem falla ou com relação umas ás outras ou
á sua successão no discurso, e chamam-se pronomes
demonstrativos
.

30. Examinemos as proposições seguintes : Tal homem
é insupportavel. Este livro é meu ; o outro era teu.
O mesmo papel serve. Este homem não parece o mesmo.
Tanta dôr mata
.

As palavras tal, outro, mesmo, tanta, são chamadas
pronomes determinativos, porque determinam de modo
especial os substantivos a que se referem. Tal, equivale
a d’esta, d’egual natureza ou qualidade ; outro significa
a diversidade, a não identidade ; mesmo, significa a
identidade, que uma pessoa ou coisa é o que é ; tanto,
significa egualdade na intensidade ou quantidade. Tanta
dôr
equivale a dor egual na intensidade a esta.

31. Na seguinte ligação de palavras : É benevolo o
mestre que nos ensina
, que tambem póde dizer-se : O
mestre que nos ensina é benevolo
(o mestre — que nos
ensina — é benevolo) ha duas proposições : é benevolo o
mestre
ou o mestre é benevolo e que nos ensina. A palavra
que liga essas duas proposições e refere-se a mestre,
servindo de sujeito ao predicado ensina. Se dissessemos :
O mestre é benevolo — o mestre nos ensina, teriamos tambem
duas proposições, mas não ligadas e não ficaria tão
claro que o mestre benevolo é o mesmo que nos ensina.

A proposição que começa por que qualifica, ou distingue
entre outras, a pessoa ou coisa significada pelo
substantivo a que se refere, e que se acha noutra proposição.
Que e algumas outras palavras que tẽem egual
emprego chamam-se pronomes relativos.10

32. Nas proposições interrogativas : Quem estuda ?
Que caiu ? quem
, que são os sujeitos, mas não são nomes
de pessoa ou de coisa, referem-se todavia a pessoa
(Quem) ou coisa (que) cujos nomes devem ser dados
nas respostas, p. ex. : Carlos (estuda) ; o livro (caiu).
Essas palavras e outras que servem para perguntar qual
o nome de uma pessoa ou coisa chamam-se prenomes
interrogativos
.

33. Nas proposições : Alguem gritou : Ninguem
fallou ; Nada se vê
 ; as palavras alguem, ninguem, nada,
que são os sujeitos, não são nomes nem de pessoa nem
de coisa ; mas referem-se as duas primeiras a pessoa
indeterminada, a terceira a coisa indeterminada. Essas
palavras e algumas outras d’emprego semelhante chamam-se
prenomes indefenidos.

34. Os pronomes são pois palavras que indicam ou
determinam pessoas ou coisas, sem as nomear. Empregam-se
ou ligados a substantivos (pronomes ligados)
ou separados (pronomes absolutos). Os pronomes absolutos
empregam-se na proposição como se fossem substantivos ;
os pronomes ligados como se fossem adjectivos.

Do numero

35. Comparemos as proposições seguintes : Eu
leio. Tu lês. Elle lê. o menino lê. Nós lemos. Vós ledes.
Elles leem. Os meninos leem
.

a) Nas quatro primeiras proposições tracta-se de
uma só pessoa ; nas quatro ultimas de mais de uma pessoa.
As fórmas verbaes leio, lês, lê indicam só por si
que se tracta de uma pessoa ; as fórmas lemos, ledes,
leem
que se tracta de mais de uma pessoa.

b) As fórmas pronominaes eu, tu, elle indicam
tambem só por si que se tracta d’uma só pessoa ; nós,
vós, elles
que se tracta de mais d’uma pessoa.

c) A fórma substantiva menino indica tambem só
11por si que se tracta d’uma só pessoa, meninos que se
tracta de mais d’uma.

Nota. — As palavras tomam o nome de fórmas quando as
consideramos relativamente aos elementos communs e diversos
que offerecem, já de som, já de significação ; assim em vez de dizermos
os verbos ou palavras verbaes, leio, lês, lê, lemos, ledes,
leem
, dizemos as fórmas verbaes leio, etc., attendendo ao elemento
commum lê e aos outros elementos diversos que apresentam.

36. Comparemos ainda as proposições seguintes :
O lobo feroz uiva. A pedra dura quebrou-se. Os lobos ferozes
uivam. As pedras duras quebraram-se
.

As fórmas adjectivas feroz, dura indicam só por si
que se referem a um substantivo que designa uma só
coisa (ou pessoa) ; ferozes, duras que se referem a um
substantivo que designa mais de uma coisa (ou pessoa).

37. Chama-se numero a propriedade que teem os
verbos, substantivos, adjectivos e pronomes d’exprimirem
por fórmas diversas que designam ou se referem a
mais de uma pessoa ou coisa.

38. Os numeros são dois : singular, que comprehende
as fórmas que designam ou se referem a uma só
pessoa ou coisa, e plural, que comprehende as fórmas
que se referem a mais de uma pessoa ou coisa.

Exercicio

Distinguir os numeros dos verbos, substantivos, adjectivos
e pronomes das seguintes proposições e outras analogas : O mundo
é grande. Os livros são mestres mudos. Portugal é a nossa patria.
Amemos os nossos paes. O Tejo e o Douro são grandes rios
.

Do numeral

39. Comparemos as expressões : um livro, dois livros,
tres livros, quatro livros
, etc.

As palavras um, dois, tres, quatro, etc., indicam
exactamente o numero de livros a que se referem, emquanto
12a palavra livros só por só indica mais de um livro,
mas sem exprimir o numero exacto.

As palavras que indicam numeros definidos chamam
numeraes cardinaes.

40. Comparemos as expressões : o primeiro rei, o
segundo rei, o terceiro rei
, etc.

As palavras primeiro, segundo, terceiro, indicam o
logar occupado na serie por cada um dos reis segundo
a ordem de successão ou ordem de importancia.

As palavras que indicam o logar occupado numa
serie ou ordem chamam-se numeraes ordinaes.

Do artigo

41. Comparemos as proposições : Carlos lê. O Carlos
lê. — Ladram cães. Os cães ladram
.

Na primeira proposição o nome proprio basta para
indicar a que individuo nos referimos ; mas na segunda
a pequena palavra o serve para indicar mais claramente
esse individuo. Entre a terceira e a quarta a differença
é maior. Na terceira, a segunda palavra designa cães indeterminados ;
na quarta, ao contrario, a pequena palavra
os basta para determinar que se tracta de uns certos
cães, já conhecidos da pessoa a quem nos dirigimos. Do
mesmo modo quando eu digo : O livro é bom, fallo d’um
livro determinado conhecido da pessoa a quem me dirijo.

Comparem-se ainda as proposições : Elvira borda. —
A Elvira borda. — A menina canta. — Morreram tres mulheres
.
As tres mulheres morreram.

As palavras o, a, os, as, que servem para determinar
os substantivos chamam-se artigos definidos.

42. Comparemos as proposições : João é menino
estudioso. João é um menino estudioso. — Julia é creança
intelligente. Julia é uma creança intelligente. João e Julia
são meninos intelligentes. João e Julia são uns meninos

13intelligentes. José e Augusto são creanças obedientes. José
e Augusto são umas creanças obedientes.

As palavras um, uma, nesse caso e noutros semelhantes
não são numeraes, como se vê do facto de que
podem supprimir-se sem obscurecimento do sentido, e
pela comparação com os pluraes um, uns, que não indicam
numero defenido.

As palavras, um, uma, uns, umas, chamam-se artigos
indefenidos
.

Do genero

43. Examinemos as proposições seguintes : O menino
Pedro é cuidadoso. A menina Laura é applicada. O
nosso mestre é bondoso. A nossa mestra é caridosa. O homem
cuidadoso prospéra. A mulher trabalhadeira vive satisfeita.
O meu gato é pardo. A tua gata é branca. O
gallo canta empoleirado. A gallinha cacareja. O cavallo
relincha. A egua trota. O veado corre. A corça é ligeira.
O rio Tejo é largo. A rua é comprida. A nossa casa é
alta. O meu papel é verde
.

a) As palavras menino, mestre, homem, significam
pessoas do sexo masculino ; as palavras menina, mestra,
mulher
, pessoas do sexo feminino. Do mesmo modo gato,
gallo, cavallo
, significam animaes do sexo masculino ;
gata, gallinha, egua, animaes do sexo feminino.

b) Os substantivos menino, mestre, gato, gallo, divergem
dos que significam os individuos correspondentes
do sexo feminino só na terminação (o, a, o, inha, )
os substantivos homem, mulher, cavallo, veado, divergem
pela sua primeira parte (o primeiro tambem pela
terminação) dos que significam os individuos correspondentes
do sexo feminino.

c) Os substantivos que significam pessoa ou animal
do sexo masculino são precedidos (ou podem ser
precedidos) sempre do artigo o, plural os ; os substantivos
que significam pessoa ou animal do sexo feminino
14são precedidos (ou podem ser precedidos) sempre do
artigo a, plural as.

d) Os substantivos rio, rua, papel, casa, que significam
coisas sem vida e que portanto não tem sexo,
pois só os seres vivos o tẽem, são empregados no discurso
como se o tivessem e por isso precedidos do artigo
o ou a.

e) Os adjectivos como cuidadoso, applicada, etc.
tẽem a terminação o, quando são predicados de substantivos
ou se ligam a substantivos que designam pessoas
ou animaes do sexo masculino ou coisas que figuram no
discurso como se tivessem esse sexo ; a terminação a,
quando são predicados de substantivos ou se ligam a
substantivos que designam pessoas ou animaes do sexo
feminino ou coisas que figuram no discurso como se tivessem
esse sexo.

44. Chama-se genero a distincção que se faz por
meio das palavras, das pessoas e dos animaes, segundo
os sexos, ou das coisas, como se tivessem sexo.

Os generos são dois : masculino e feminino.

45. Examinemos as seguintes proposições : Este é
o meu chapeu. Aquella porta é larga. Elle caminha.
Ella sobe
.

Os pronomes tẽem tambem formas diversas masculinas
e femininas.

46. Examinemos as seguintes proposições : A femea
do salmão é chamada salmão femea. S. Sebastião foi
um martyr. S. Iria foi uma martyr. O rapaz está contente.
A rapariga está contente. Eu estou calado
(diz de
si alguem do sexo masculino). Eu estou calada (diz de
si alguem do sexo feminino).

Ha substantivos, adjectivos e pronomes que não
tẽem fórmas diversas para o masculino e para o feminino,
mas sim uma só fórma para ambos os generos.15

Da preposição

47. Examinemos as seguintes proposições : Carlos
estuda em casa. Venho de Lisboa. Vou para Coimbra. O
livro ficou sobre a meza. Jantei com meu irmão
.

As palavras em, de, para, sobre, com, exprimem relações
diversas entre as palavras que ligam. Se dissessemos
só : Carlos estuda — casa. Venho — Lisboa. Vou —
Coimbra. O livro ficou — meza. Jantei — meu irmão, o
sentido seria confuso, obscuro ou até inintelligivel ; mas
aquellas pequenas palavras indicam com toda a clareza
que relações queremos significar : em a relação de estabilidade,
de situação num logar, de a relação de proveniencia,
de movimento d’um logar, etc.

Observe-se ainda que essas palavras ligam outras
que exercem funcções differentes ; p. ex. : estuda é predicado,
casa exprime circumstancia de logar. Na proposição
seguinte : O livro de Pedro tem capa azul, o livro
é o sujeito e Pedro designa o possuidor d’esse livro que
é o sujeito.

Emfim essas palavras não tẽem genero nem numero,
como os substantivos, nem tempo nem pessoa como os
verbos, e chamam-se preposições.

48. Preposições são as palavras que exprimem
relações entre outras palavras d’uma proposição, as quaes
exercem funcções differentes.

Dos complementos

49. Examinemos as seguintes proposições : Carlos
lê a carta. O caçador matou a ave. Vi Paulo
.

Além dos sujeitos Carlos, caçador, eu, dos predicados
lê, matou, vi, e do artigo que precede o segundo sujeito,
ha em cada uma d’essas proposições um outro termo :
a carta, a ave, Paulo, que indica o objecto da
16acção, a pessoa ou coisa sobre a qual ella recahe directamente.

50. Chama-se complemento directo ou objectivo
a palavra que exprime o objecto directo da acção significada
pelo verbo.

51. Muitos verbos não tẽem complemento directo ;
taes são saltar, correr, arder, morrer ; outros ora são
empregados com esse complemento, ora sem elle, ex.
Carlos lê ; Carlos lê um livro.

52. O complemento directo não é geralmente precedido
de proposição ; algumas vezes precede-o todavia
a preposição a ; diz-se, por ex : amae a Deus sobre todas
as coisas e ao proximo como a nós mesmos ; a Deus, ao
proximo, a nós
, são complementos directos ; mas a proposição
poderia ser supprimida.

53. Examinemos agora de novo as proposições do
§ 49. Nellas os termos casa, Lisboa, Coimbra, a mesa,
meu irmão
, que se acham precedidos respectivamente
das proposições em, de, para, com, e que como vimos
são distinctos dos termos principaes da proposição (o sujeito
e o predicado) chamam-se tambem complementos.

54. Em regra chamam-se complementos todos os
substantivos ou outras palavras que exerçam funcção semelhante
á dos substantivos (numeraes, pronomes, etc.),
precedidos d’uma preposição.

Como vimos o complemento directo não é geralmente
precedido de preposição.

Ha ainda outros complementos que não são precedidos
de preposição e são de duas especies :

1) formas prenominaes particulares que equivalem
a outras precedidas de preposição, ex. Dá-me o teu livro,
em que me equivale a a mim
 ;

2) substantivos e palavras que exercem a mesma
funcção que os substantivos, antes dos quaes pode facilmente
subentender-se preposição ; ex. Os corvos vivem
muitos annos (os corvos vivem durante ou por annos
muitos)
.17

55. Considera-se geralmente a preposição como
parte do complemento ; assim na proposição Vou para
casa, para casa
e não casa, é que se chama complemento.

Do adverbio

56. Comparemos as proposições seguintes : Carlos
falla com voz clara. Carlos falla de modo claro. Carlos
falla claro
.

A classificação das palavras das duas primeiras proposições
já não offerece difficuldade, pelo que dissemos :
apenas poderia fazer hesitar o alumno a palavra de, pelo
emprego ainda não notado. Nessas duas proposições
claro, clara, estão empregados como adjectivos ; mas na
terceira claro não pode ser adjectivo ; porque, comquanto
seja identico no som ao adjectivo masculino claro, não
lhe podemos attribuir genero, nem numero, como é facil
de verificar comparando a proposição : Luiza falla claro,
em que, apesar do sujeito ser feminino, não se diz Luiza
falla clara
.

Examinemos as proposições seguintes : Não saio
hoje. Estudei hontem a minha lição. O vento sopra bradamente.
O limão é um fructo muito acido
.

As palavras não, hoje, hontem, brandamente, muito,
não tẽem tambem genero, nem numero, portanto não
são nem substantivos, nem adjectivos, nem pronomes ;
não tẽem referencia a pessoa, por isso não são verbos ;
nem exprimem relações entre duas palavras, como as
preposições : essas palavras assim como claro, na proposição
Carlos falla claro, são chamadas adverbios.

57. Os adverbios são palavras que exprimem circumstancias,
determinações dos adjectivos ou verbos das
proposições em que se acham.

Os adverbios equivalem a substantivos (sós ou com
adjectivos ou pronomes) precedidos de uma preposição :
não, hoje, hontem, brandamente, muito equivalem a de
nenhum modo, neste dia, no dia anterior (na vespera),
de modo brando (com brandura), em grao elevado (com

18grande intensidade). Os adverbios equivalem portanto a
complementos.

O adverbio precede sempre o adjectivo a que junta
determinação (Este papel é pouco forte), mas pode seguir
ou preceder immediatamente o verbo ou estar separado
d’elle por algumas palavras : Muito estimo ver-te.
Hontem eu e meu irmão fomos passear
.

Da conjuncção

58. Examinemos as proposições seguintes : Carlos
e Pedro estudam. Pedro é intelligente e estudioso. Hontem
e hoje choveu. Queres este ou aquelle livro ? Frederico é
habil, mas preguiçoso. Não tenho papel nem penna
.

As palavras e, ou, mas, nem, chamam-se conjuncções,
e collocam-se entre outras palavras que exercem
numa proposição egual funcção : Carlos e Pedro são sujeitos ;
intelligente e estudioso, habil e preguiçoso predicados ;
este (livro) e aquelle livro, papel e penna complementos
directos ; hontem e hoje são adverbios.

As conjuncções não contẽem, do mesmo modo que
as preposições e os adverbios, indicação de genero, numero,
ou pessoa e exprimem diversas relações das partes
da proposição entre as quaes se collocam. Na primeira
proposição acima, e exprime a relação de coexistencia ou
simultaneidade dos dois sujeitos de que se enuncia o
predicado estudam ; na segunda a coexistencia dos dois
predicados intelligente e estudioso, referidos ao mesmo sujeito ;
na terceira a ligação dos dois adverbios hontem e
hoje que determinam o tempo em que chorou ; na quarta
a exclusão d’um dos dois objectos (complementos directos) ;
na quinta a extensão da negação ao objecto
penna.

Examinemos as seguintes proposições ligadas duas
a duas : Se hoje não chover, iremos ao campo (ou iremos
ao campo, se hoje não chover). A borboleta é um insecto e
o caracol um mollusco. O mestre está satisfeito, quando o
discipulo sabe a lição
.19

A palavra e liga aqui duas proposições e não duas
palavras da mesma proposição, como nos exemplos já
examinados, e essas duas proposições tẽem assumpto
analogo. As palavras se, quando correlacionam as proposições
entre as quaes se collocam ou podem collocar :
a primeira indica que a proposição a que pertence contem
uma condição de que depende o que a outra enuncia ;
quando, indica que a proposição a que pertence
contem uma circumstancia de tempo com relação ao
que enuncia a outra proposição.

Ainda naquelle caso e se chama conjuncção e dá-se
o mesmo nome a se, quando, e outras palavras de funcção
analoga.

59. As conjuncções exprimem relações entre palavras
de egual funcção numa proposição ou entre
proposições differentes.

Da interjeição

60. As palavras Ah ! Oh ! Ai ! não entram em nenhuma
das classes que temos já estudado : não significam
nem indicam coisas nem pessoas, qualidades, acções
ou estados com referencia a pessoa ou determinações ou
relações d’outras palavras : exprimem directamente o
sentimento e chamam-se interjeições.

61. Diversas palavras ou grupos de palavras que
não são interjeições podem ser empregadas interjectivamente,
exemplos : Jesus ! Meu Deus !

62. Na expressão Ai do que confia demasiado na
felicidade !
a conjuncção ai perde bastante o seu caracter
interjeccional e toma quasi a significação de desgraçado,
infeliz
 ; d’esse modo a interjeição pode tornar-se
tambem elemento da proposição.

63. A palavra ó que precede os vocativos, como já
vimos, é tambem uma interjeição e pode dizer-se que os
vocativos são nomes empregados interjectivamente.20

Quadro dos elementos principaes
da proposição

sujeito | substantivo / pronome / outra palavra substantivada

predicado | verbo / adjectivo / substantivo / pronome / numeral | com ou sem verbo de ligação.

Com muitos verbos acresce :

objecto — complemento directo / substantivo / pronome / ou outra palavra substantivada

Quadro das classes ou especies
de palavras

A) palavras que contẽem indicação de genero e numero :
substantivo
adjectivo
pronome
artigo
numeral

B) palavras que cintẽem indicação de tempo e pessoa :
verbo

C) palavras que não contẽem indicação de genero, numero
ou pessoa :

a) exprimindo circumstancia, determinação :
Adverbio21

b) exprimindo relação :

aa) entre poalavras que não exercem a mesma funcção :
preposição

bb) entre palavras que exercem a mesma funcção
ou entre proposições :
conjuncção

c) exprimindo directamente o sentimento :
interjeição

Exercicios

Todos os elementos apprendidos até aqui devem ser fixados
por exercicios repetidos, já a proposito das leituras, já de dialogos
com os alumnos. Só quando estes estejam bem firmes no conhecimento
e applicação dos preliminares é que deve passar-se
ao estudo das particularidades contidas nas secções seguintes.22

Primeira parte
Dos sons e das lettras (1)1

64. As palavras dividem-se em syllabas : as syllabas
são compostas de um ou mais sons.

A palavra amaremos tem quatro syllabas ; a primeira
é composta d’um só som, a ; a segunda e a terceira de
dois sons, ma e re ; a quarta de tres sons cada uma, mos.

65. Os sons representam-se pelas lettras e outros
signaes auxiliares, como o til, a cedilha e os accentos.

Os sons pertencem á lingua fallada : são produzidos
pelos movimentos dos nossos orgãos da voz ; as lettras
e os signaes auxiliares pertencem á lingua escripta.

Não devemos confundir os sons com as lettras.

66. Os sons e as lettras que os representam dividem-se
em vogaes e consoantes.23

Dos sons vogaes

67. Os sons vogaes são puros (oraes) ou nasaes.

1) Os sons vogaes puros são :

a aberto : ha
a fechado : para
a guttural : sal
e aberto :
e fechado :
e surdo : dedal
i : li
o aberto :
o fechado : aro
u : tu

2) Os sons vogaes nasaes :

ã :
 : vento
ĩ : fim
õ : som
ũ : um

68. Chama-se diphthongo a ligação de duas vogaes
que por si só ou com consoantes formam uma só
syllaba. Ha diphthongos puros (oraes) e diphthongos
nasaes.

1) Os diphthongos puros são :

ai (a aberto) : cairo
ai (a fechado) : paiol
ei (e aberto) : anneis
oi (o aberto) : moe (moi)
oi (o fechado) : boi
ui : fui
au (a aberto) : pau
au (a fechado) : ao (au)
eu (e aberto) : céo (ceu)
24eu (e fechado) : eu
iu : viu
ou (o fechado) : ouro (só no norte de Portugal.)

2) Os diphthongos nasaes são :

ãi : mãe (mãi)
õi : põe (põi)
ãu : mão (mãu)
ũi : muito (mũito)

Dos sons consoantes

69. Os sons consoantes são os seguintes :

k : kilo
t : tu
p :
g : gato
d :
b : boi
m : mau
n :
r : para
rr : rato
l :
ñ (nh) : unha
lh : velho
s (ch) : chá
s atenuado : este
j : joio
j atenuado : desde
s :
z : zás
f :
v : vou25

Das lettras

70. As lettras do alphabeto que servem para representar
esses sons são :

A B C D E F G H I J K L M N O
P Q R S T U V W X Y Z

a b c d e f g h i j k l m n o p q
r s t u v w x y z

71. Alguns sons simples são representados por lettras
dobradas ou compostas : cc, ll, pp, gg, dd, bb, mm,
nn, mn, ll, ss, ff, nh, lh, ch, ph
.

Algumas lettras simples representam ás vezes mais
de um som : exemplo, sexto em que x representa is.

Dos signaes auxiliares

72. Vejamos qual é o uso dos signaes auxiliares.

1) O til (~) indica que é nasal a vogal sobre que
se acha.

2) A cedilha (, ) indica que o c sob que se acha
se pronuncia s (peço).

3) Os accentos são tres : grave (`), agudo (´) e
circumflexo (^).

Esses accentos tem dois empregos diversos : a) indicam
a qualidade da vogal — o grave, hoje desusado, e o
circumflexo que ella é fechada ; o agudo que ella é aberta ;
b) o agudo e o circumflexo indicam que a vogal sobre
que está cada um d’elles tem o accento tonico, isto é,
que a voz se eleva mais nessa vogal que nas outras ;
ex. júbilo jubílo ; c) o agudo e o circumflexo podem indicar
ao mesmo tempo a qualidade da vogal e o logar do
accento tonico.26

Da representação varia dos sons

73. Alguns sons são representandos numas palavras
por uma lettra ou grupo de lettras e noutras palavras
por outras lettras ou grupos de lettras.

A) Vejamos como são representadas as vogaes.

1) O som a aberto ou a guttural é representado
por a, com ou sem accento agudo, p. ex. cabo, tafetá,
palma
.

2) O som a fechado é representado a) por a, p. ex.
ama, peza ; b) por e no diphthongo ei ou quando é accentuado
e seguido de nh, lh, ch ou j ; p. ex. primeiro,
telheiro, senha, lenha, conselho, espelho, fecho, seja !

3) O som e aberto é representado por e, com ou
sem accento agudo, p. ex. serra, espera, fé.

4) O som e fechado é representado por e, com ou
sem accento circumflexo, p. ex. pera, empeno, mercê.

5) O som e surdo é representado a) por e, p. ex.
dedal, verão ; b) por i em syllaba que não tem accento
tonico, seguida de outro i na syllaba que tem esse accento,
p. ex. ministro, visita, exquisito.

6) O som i é representado a) por i, p. ex. isto, mirante ;
b) por e, principalmente inicial, que não tem o
accento tonico, p. ex. emigrar, eleição ; c) por y em muitas
palavras, principalmente d’origem grega, p. ex. myrto,
syllaba, Estoy
.

7) O som o aberto é representado por o, com ou
sem accento agudo, p. ex. escora, copa, fóra, pó.

8) O som o fechado é representado : a) por o, com
ou sem accento circumflexo, p.ex. roto, abono, fôra ;
b) por ou : p. ex. couve, roubo.

9) O som u é representado : a) por u, p. ex. puro,
duro, chuva, brutinho
 ; b) por o em syllabas que não tẽem
accento tonico, p. ex. colorido, fortuna ; c) por w nalgumas
raras palavras d’origem extrangeira, p. ex. whist,
wisky
.

10) As vogaes nasaes ã, ẽ, ĩ, õ, ũ são representadas,
27quando se acham no começo ou no meio das palavras
a) respectivamente por am, em, im, om, um, se
são seguidas de p ou b, p. ex. campa, cambada ; tempo,
lembro ; limpo, limbo ; campo, limbo ; cumpro, chumbo
 ;
b) respectivamente por an, en, in, on, un, se são seguidas
d’alguma das outras consoantes, p. ex. anca, janto,
ancho, tento, tenro, tinta, pincho, conto, concha, junto,
funcho
.

11) As vogaes nasaes ĩ, õ, ũ são representadas
por im, om, um no fim das palavras, p. ex. fim, tom,
atum
.

12) A vogal nasal ã é representada por an ou ã no
fim das palavras, p. ex. irmam, san ou irmã, sã.

13) A vogal nasal ĩ é tambem representada por
yn ou ym nalgumas palavras d’origem grega, como lynce,
lympha
.

14) O diphthongo puro ai, com a fechado é representado
por ai só nalgumas palavras em que se lhe segue
outra vogal, p. ex. paiol, caiar, ensaiar ; b) por ei
nas outras palavras : p. ex. rei, reis, amarei.

15) O diphthongo puro oi com o aberto é representado
geralmente por oe, p. ex. moe, soes, caracoes.

16) O diphthongo puro au com a aberto é representado
a) por ao, p. ex. mao, pao ; b) por au, p. ex.
paulada. Escreve-se tambem pau, mau.

17) O diphthongo nasal ãi é representado por ãi
ou ãe, p. ex. mãi, ou mãe ; b) por em final, p. ex. bem
(bãi), sem (sãi), amem (amãi).

18) O diphthongo nasal õi é geralmente representado
por õe, p. ex. põe, nações.

19) O diphthongo nasal ãu é representado a) por
ão nas syllabas que tem o accento tonico, p. ex. mão,
irmão, irão
 ; b) por ão ou am nas syllabas finaes, que
não tem accento tonico, das formas verbaes, p. ex. amam
ou amão, amarão ou amaram ; erão ou eram, forão ou
foram.

B) Vejamos como são representadas as consoantes.28

1) O som k é representado a) por k nalgumas palavras
pouco numerosas, como kilo, kepi ; b) por c ou cc
antes de a, o, u, l e r, p. ex. cara, colla, cume, accomodar,
claro, crivo
 ; c) por qu em geral antes de e ou i,
p. ex. queijo, aqui ; d) por q antes de e ou i, nas palavras
em que o u que se segue ao q se pronuncia, como
eloquencia, delinquente, delinquir ; e) por q antes de a
ou o, p. ex. qualidade, qualquer, quadro, quanto, quota ;
f) por ch antes de vogaes ou r ; p. ex. chamerops
(planta), architecto, christão.

2) O som t é representado a) geralmente por t ou
tt, p. ex. tolo, prato, attingir, attenção ; b) em varias
palavras por th, p. ex. theatro, atheu, arithmetica.

3) O som p é representado por p ou pp, p. ex.
papel, copo, applaudir.

4) O som gh é representado por g ou gg, antes de
a, o, u, m, n, r, l, p. ex. gado, gota, gume, enigma,
gnomo, digno, grito, gloria, aggrava
 ; b) por gu antes de
e ou i, p. ex. guerra, guia.

5) O som d é representado por d ou dd, p. ex.
dado, medo, addição.

6) O som b é representado por b ou bb, p. ex.
bodo, rabano, abbade.

7) O som m é representado por m inicial ou medial
ou mm medial, p. ex. maca, fama, ammoniaco,
commum
.

8) O som n é representado a) por n inicial ou medial,
p. ex. nada, lona ; b) por n final nalgumas palavras
como iman, abdomen, alumen, germen, canon, em
que essa lettra não exprime a nasalidade da vogal precedente :
c) por nn, p. ex. anno ; d) por mn, p. ex. columna.

9) O som ñ (nh) é representado por nh, p. ex.
cunha, junho.

Nota. — Nalgumas palavras nh pronuncia-se como
n ; taes são : anhelo, anhydro, cyanhydrico (acido), inhabil,
inhalar, inherente, inhibir, inhospito, inhumano
.29

10) O som r é representado pela lettra r entre vogaes
oraes ou no fim de palavra, p. ex. amora, flor.

11) O som rr é representado a) por rr no meio
de palavra entre vogaes oraes, p. ex. carro, morro ; b)
por r no começo de palavra, e depois de vogal nasal, l ou
s, p. ex. ramo, rato, tenro, genro, guelra, israelita ; c)
por r simples entre vogaes oraes nalgumas palavras
como prorogar ; d) por rh ou rrh em diversas palavras
d’origem grega, como rheumatismo, catarrho.

12) O som l é representado por l ou ll, p. ex. lampada,
cal, illudir
.

13) O som s é representado : a) por ch, p. ex.
chapa, mocho, bicho ; b) por x, p. ex. xarope, buxo, lixo.

14) O som s atenuado, que só se ouve antes das
consoantes c (k), t, p, ch, (x), s, f, quer estas sigam immediatamente
na mesma palavra, quer na palavra seguinte,
como quando é final e se acha em pausa, é representado :
a) por s medial ou final, p. ex. escada, as
casas, pasta, os tampos, caspa, as portas, os xaropes, as
chaves, dessoldar, os soldados, fosforo, as festas
 ; b) por x
medial ou final nalgumas palavras, p. ex. excellente, excluir,
exprimir, calix, Felix
, quando segue logo pausa
ou palavra começando por alguma das consoantes acima
mencionadas ; c) por z final, quando segue pausa ou alguma
das consoantes acima mencionadas, p. ex. a vez ;
O Vez percorre parte da provincia do Minho.

15) O som j é representado : a) por j, p. ex. fojo,
já, julho
 ; b) por g ou gg antes de e ou i, p. ex. genio, sege,
suggerir
.

16) O som j atenuado, que só se ouve antes das
consoantes g, d, b, m, n, r, l, j, z, n, na mesma palavra
ou no começo da palavra seguinte, é representado :
a) por s medial ou final, p. ex. nesga, os gatos, desdem,
os dedos, Lisboa, as balas, resma, os manos, asno, os nós,
desrespeito, os ralos, traslado, as laranjas, as janellas, os
zumbidos, as varandas
 ; b) por z final quando a palavra
seguinte começa por alguma das referidas consoantes, p.
30ex. O rio Vez desagua no Lima ; c) por x final, seguindo
palavra que comece por alguma das consoantes referidas,
p. ex. calix dourado, Felix Martins, ex-voto.

17) O som s é representado : a) por s quando inicial,
p. ex. sapo, sabão ; b) por s medial depois de vogal
nasal, p. ex. penso, manso ; c) por ss medial, p. ex.
posso, fosso, russo ; d) por c ou cc antes de e ou i, p. ex.
prece, rocio, accidente ; e) ç ou antes de a, o ou u, p.
ex. caça, acção, preço, forçura ; f) por x em proximo ;
g) por s simples medial, entre vogaes, nalgumas palavras
que serão mencionadas mais tarde, como proseguir.

18) O som z é representado : a) por z inicial ou
medial, p. ex. zanga, zebra, razão ; b) por s entre vogaes,
quer na mesma palavra, quer sendo final, quando
a palavra seguinte começa por vogal, p. ex. casa, preso,
as armas, os ovos
 ; c) por x final seguido de vogal na
mesma palavra ou na seguinte, p. ex. exemplo, O calix é
um vaso
 ; d) por s excepcionalmente depois de vogal nasal
ou consoante em transito, obsequio.

19) O som f é representado : a) pela lettra f ou ff,
p. ex. fato, café, affins ; b) pelo grupo ph, p. ex. phrase.

20) O som v é representado : a) pela lettra v, p.
ex. vapor, cova ; b) pela lettra w nalguns substantivos
proprios ou communs d’origem extrangeira, p. ex. Hedwiges,
Wenceslau, wagon
(escreve-se tambem vagon).

21) O grupo is (s atenuado) ou ij (j atenuado) é
representado pela lettra simples x em varias palavras em
que aquelle i faz parte do diphthongo ai, taes são :
sexto (pron. seisto), exministro (pron. eijministro).

22) O grupo iz é representado pela lettra simples
x nalgumas palavras em que o i pertence tambem ao
diphthongo ai e o z é seguido de vogal, p. ex. exame
(pron. eizame).

23) O grupo de sons ks é representado por x em
varias palavras, como fixo, fluxo, nexo.31

Da divisão das palavras emquanto ao numero
de syllabas

74. As palavras dividem-se emquanto ao numero
de syllabas que tẽem em 1) monossylabos, em que ha
uma só syllaba, p. ex. pó, sae, mãe ; 2) dissylabos,
em que ha duas syllabas, p. ex. remo, branco, leitor ; 3)
trisyllabos, em que ha tres syllabas, p. ex. regato,
pereira
 ; 4) polysyllabos, em que ha mais de uma syllaba,
e que comprehendem os dissyllabos, trisyllabos e
as palavras de mais de tres syllabas, como navegação,
prejudicial
.

Da divisão das palavras emquanto
ao logar do accento tonico

75. As palavras dividem-se emquanto ao logar do
accento tonico em 1) agudas, que são as que tẽem o
accento tonico na ultima syllaba, p. ex. doutor, rapé,
quintal, particular, colher, apparecer
 ; 2) graves, que
são as que tẽem o accento tonico na penultima syllaba,
como pato, rede, parede, morada, carinho ; 3) esdruxulas
ou dactylicas, que são as que tẽem o accento tonico
na antepenultima syllaba, p. ex. humido, tepido,
pratico, angelico
.

Em portuguez não ha palavras que tenham o accento
tonico atraz da antepenultima.

76. Chamam-se encliticas certas palavras monosyllabas
(pronomes) que se ligam a outras precedentes,
subordinando-se á sua accentuação, p. ex. digo-lhe,
venderam-no, amariamo-lo
.

Nessas ligações o accento pode estar na vogal da
syllaba que precede a antepenultima.

Das alterações dos sons

77. Se ouvirmos fallar individuos das diversas provincias
de Portugal, notaremos que elles pronunciam as
palavras de modos muitas vezes differentes ; assim no Minho
32diz-se binho, sordado por vinho, soldado ; em Tras-os-Montes
diz-se tchapa por chapa ; na Extremadura e
Alemtejo diz-se em geral primero, andê por primeiro,
andei
.

Se attendermos mais de perto a essas differenças de
pronuncia, veremos que ellas consistem em modificações
regulares de certos sons, p. ex : substituição de r por b,
de ei por ê. Resulta isso de que com o tempo a pronuncia
da lingua se modificou, mas não sempre do mesmo
modo em toda a parte, comquanto em toda a parte o
maior numero das modificações dadas fossem as mesmas.

78. Essas modificações reduzem-se a tres classes
principaes :

1) Substituição de sons, como nos exemplos acima.

2) Supressão de sons, como quando o povo diz
telepho por telegrapho, nhor, por senhor, loendro, por
aloendro.

3) Introducção de sons, como quando o povo diz
thriatro por theatro, melanciga por melancia.

79. A comparação de muitos grupos de palavras da
lingua usual mostra-nos já por si que essas modificações
foram muito frequentes. Assim os pluraes como saes,
taes, eguaes
, em frente dos singulares sal, tal, egual e
ainda das palavras salino, saleiro, salgar, egualdade indicam
que nelles o l deixou de se pronunciar, ao contrario
do que se dá em males, a que corresponde o singular
mal.

80. As modificações por que passam os sons das
palavras explicam-nos as differenças, por vezes tão grandes,
que ha nos modos de representar as palavras pela
escripta ; p. ex. se hoje escrevemos cella com dois ll, é
porque houve tempo em que esses dois ll se pronunciavam ;
se escrevemos cera com uma lettra inicial que vale
k antes de a, o, u, é porque cera se pronunciou outrora
com uma consoante inicial semelhante a k em kepi.33

Segunda parte
Da formação das palavras

1. Da formação das palavras em geral

Da derivação

81. Comparemos as palavras seguintes :

luz (substantivo) | luze-s (plural)
luzo (verbo) | luzes (verbo)
luz-i-mos (presente) | luz-a-mos
luz-i-a
| luz-i-a-mos
luz-i
| luz-i-mos (passado)
luz-i-u | luz-i-ra-mos
luz-i-do
| luz-i-dio
luz-e-nte
| luz-e-iro

Observamos o seguinte :

1) Quinze d’essas palavras parecem ter sido formadas
da primeira luz, porque os sons da primeira lhe servem
de base, com significação analoga ;

2) Á base constituida pela palavra mais simples —
luz — seguem-se nas outras diversos elementos, em parte
communs, em parte differentes ; assim luz apparece-nos
34seguido simplesmente de o em luz-o ; luz-i-dio parece
provir immediatamente de luzido, e esta de luz-i.

Ha na lingua numerosos grupos de palavras que
como esse foram formados da mais simples d’ellas ou
duma base que não tem uso independente pela adjuncção
de diversos elementos que se lhe seguem ; p. ex. :
guerra, guerreio, guerreiro, guerrilha, guerrilheiro ;
campo, campina, campino, camponio, camponez, campeio,
campear ; amar, amante, amar, amavel
. A primeira
serie deriva em de guerra ou antes da base guerr,
a segunda de campo ou antes da base camp e a terceira
da base am.

82. Primitivo ou palavra primitiva é o mais
curto d’uma serie de derivados da mesma base. Luz,
guerra, campo
, são primitivos.

Derivado ou palavra derivada é a que se fórma
d’outra ou d’uma base. Luzeiro, guerrilheiro, campear,
são derivadas.

Derivação é o processo pelo qual d’uma palavra ou
d’uma base se fórma outra palavra.

Suffixos são os elementos que se pospõem ás palavras
primitivas ou ás bases d’ellas para d’ellas formar
derivadas ; p. ex. em luz-eiro, eiro é um suffixo.

Suffixos compostos são os formados por mais de
um ; p. ex. alhão em trapalhão e um suffixo composto ;
compare-se atrapalhar ; o primitivo é trapo.

Uma palavra derivada pode provir d’outra tambem
derivada ; p. ex. : guerrilheiro, derivada de guerrilha,
que provem de guerra.

Da composição

83. Examinemos as palavras : guarda-sol, couve-flor,
aguardente, antepassado, antever, anteceder
. A primeira
é formada d’um verbo guarda e d’um substantivo
sol ; a segunda de dois substantivos couve e flor ; a terceira
d’um substantivo e d’um adjectivo agua e ardente
35e as tres ultimas contẽem um elemento ante que se encontra
como preposição, p. ex. em pé ante pé.

Examinemos as palavras prever, repassar : distinguimos
nellas os elementos ver e passar, que se empregam
independentemente e os elementos que precedem esses
pre e re, que não se empregam independentemente,
mas são analogos a ante e o primeiro dos quaes significa
tambem antes e o segundo de novo, outra vez, isto é,
tem o caracter d’adverbio.

Numa palavra como contraveneno, o elemento contra
é uma preposição (contraveneno significa — o que se
dá contra o veneno).

Numa palavra como pre-sup-por distinguimos tres
elementos diversos : por, que se emprega independentemente,
pre, que já foi explicado, e sup, que temos p. ex.
em sub-metter e, modificado d’outro modo, em sub. Assim
a palavra presuppor é formada de tres.

84. Chamam-se compostos ou palavras compostas
as que são formadas de duas ou mais.

O adverbio ou preposição que num composto constitue
o primeiro elemento chama-se prefixo, quer se
empregue só em composição, quer tambem independentemente.

85. Na orthographia, ou maneira correcta de escrever,
é de grande importancia attender á derivação e composição
das palavras.

1) Os derivados conservam em geral nas syllabas
não accentuadas a lettra vogal que corresponde ao som
vogal tonico do primitivo ; ex.

foro, foreiro, não fureiro.
mola, amolar
, não amular.
porco, porcaria
, não purcaria.

2) Inversamente em muitos casos os derivados em
que corresponde vogal atona (não accentuada) á vogal
tonica do primitivo ou d’outro derivado podem servir
para regular a orthographia das ultimas ; ex. :36

conselheiro, conselho, não consalho
espelhar, espelho
, não espâlho
regente, rejo
, não râjo.

3) Nos compostos com os prefixos des, trans, tres
e com palavras começando pelo som s (c ou s), o s desses
prefixos representa o som s atenuado ; ex. descender,
desservir
.

4) Em geral nos compostos cujo segundo elemento
começa por s, este som é representado por s simples,
ainda quando a primeira palavra que entra em composição
termina em vogal ; ex. monosyllabo, trisyllabo, unisono,
proseguir, resalvar, presuppor
.

5) Semelhantemente nos compostos cujo segundo
elemento começa por rr, este som é representado por
um só r ainda quando a primeira palavra que entra em
composição termina em vogal ; ex. prorogar, proromper.

2. Do verbo

86. Sabemos já que no verbo se distinguem pessoa,
numero e tempo. Comparemos agora as fórmas verbaes
seguintes :

eu amo | eu ame | eu amaria
tu amas
| tu ames | tu amarias | ama tu
vós amaes
| vós ameis | vós amarieis | amae vós

e notaremos nellas differenças que correspondem não só
a pessoa, numero, tempo, mas ainda ao modo mesmo de
conceber a acção, por isso essas differenças constituem
o que se chama modos do verbo ; assim eu amo exprime
a acção como dando-se realmente, eu ame exprime a
acção como possivel, desejada, etc. eu amaria exprime
a acção como dependendo d’uma condição ; ama exprime
a acção como ordenada. Podemos pois agora definir
o verbo como uma palavra que exprime a acção com
referencia a modo, tempo, numero e pessoa.37

Do numero e da pessoa

87. Comparemos as fórmas verbaes :

amo | amava | amei
ame-s
| amava-s | ama-ste
ama
| amava | amou
ama-mos
| amava-mos | amá-mos
ama-es
| amava-es | ama-stes
amam
| amavam | ama-ram

As fórmas da primeira columna são do presente, as
das outras duas são de tempos passados ; observamos
que os suffixos -s, -mos, -es exprimem a pessoa e o numero
da pessoa ao mesmo tempo, emquanto a fórma
ama é commum a todas as do presente, excepto á primeira
e exprime em todas ellas o presenre, e na terceira
do singular conjunctamente a pessoa e o numero da pessoa ;
amava é base commum ás fórmas da segunda columna ;
nas fórmas da terceira columna quatro tem a
base commum ama-, a que se juntam suffixos para indicar
a pessoa e o numero da pessoa ; mas a primeira
e a terceira do singular, amei e amou, exprimem o
tempo e a differença da pessoa ao mesmo tempo pelos
elementos ei, ou. Note-se alem disso que, como já vimos,
o a de ama-s, ama, etc. exprime o modo, como
tambem o e de ame, e ao mesmo passo que o tempo.
Assim — a pessoa e o numero são expressos por um só
elemento, que nem sempre se apresenta distincto ; o
modo e o tempo são expressos por um só elemento e
nalgumas fórmas, modo, tempo e pessoa são
expressos conjunctamente por um só elemento.38

Dos modos

88. Os modos são quatro :

1) O indicativo ; 2) o condicional ; 3) o conjunctivo ;
4) o imperativo. Ao seu conjuncto dá-se o nome de
modo finito.

1) O modo indicativo é a fórma do verbo que
enuncia o que elle significa como facto real ou que serve
para interrogar ; ex. Carlos lê. Carlos lê ?

2) O modo condicional é a forma do verbo que
exprime o que elle significa como dependendo d’uma
condição : ex. Carlos leria, se tivesse livros.

3) O modo conjunctivo é a fórma do verbo que
exprime o que elle significa como apenas concebido
(como supposição, possibilidade, desejo, etc.) ex. Pede
a Carlos que leia uma historia bonita
.

4) O modo imperativo é a fórma do verbo que exprime
o que elle significa como ordenado : ex. Carlos, lê.
Lede, meninos
.

Do infinito e dos participios

89. Comparemos as seguintes proposições : Carlos
deseja saber. O saber não occupa logar. Estou triste por
saber que estás doente. Desejo saber noticias tuas
.

A palavra saber exprime nellas uma acção, como
sei, saberei, mas não tem referencia nem a tempo nem
a pessoa ; na segunda proposição está precedida do artigo,
como se fosse um substantivo, na terceira d’uma
preposição egualmente como os substantivos ou outras
palavras que exercem na proposição funcção semelhante
á dos substantivos ; na ultima proposição, emfim saber
tem um complemento directo como os verbos. Pelo sentido
e derivação saber liga-se estreitamente ás fórmas
verbaes sabemos, sabia, etc.

Outras palavras de formação semelhante á de saber,
tẽem plural á maneira dos substantivos ; ex. dizer, os dizeres ;
fallar, os fallares ; poder, os poderes.39

Essas palavras tẽem, pois, funcção mixta, de verbo
e de substantivo ; dá-se-lhe o nome de infinitos, o que
quer dizer indefinidos, por não terem referencia a tempo,
nem na maior parte dos casos a pessoa. Noutros
casos ha, porém, a ultima referencia, expressa por um
suffixo : ex. O nosso mestre está contente, por sabermos a
lição
.

90. Examinemos as proposições seguintes : Carlos
está lendo. Aprende-se muito viajando
.

As palavras lendo, viajando, exprimem tambem
acção sem referencia ao tempo nem pessoa e equivalem
a — no acto, na acção de ler, de viajar ; teem, pois um
valor mixto de substantivo e verbo : chamam-se participios
do presente
ou melhor gerundios.

91. Examinemos as proposições : Sou obrigado ao
meu mestre. Somos escutados. A menina diligente é louvada.
As casas caiadas teem aspecto alegre
.

As palavras obrigado, escutadas, louvada, caiadas,
são empregadas exactamente como adjectivos ; mas ligam-se
ás fórmas verbaes obrigo, obrigaras, obriguei ;
escuto, escutava, escutei ; louvo, louvava, louvei ; caio,
caiava, caiei
, etc. ; chamam-se participios do preterito
ou passivos.

92. Daremos ao infinito e aos participios o nome
de fórmas verbaes nominaes ; o seu conjuncto é considerado
como constituindo um modo improprio chamado
modo infinito.

Dos tempos

93. Como já vimos, ha fórmas verbaes correspondentes
aos tres tempos, presente, passado ou preterito,
e futuro ; mas o preterito e o futuro são susceptíveis de
gradação.

Ha tres preteritos : 1) preterito imperfeito, que
exprime a acção ou estado como continuado num tempo
passado, mais ou menos prolongado, não excluindo por
40si só a ideia de continuação até ao presente ; ex.
Os lusitanos habitaram a Hispania occidental ; 2) o
preterito perfeito, que exprime a acção ou estado
como passado ; 3) o preterito mais-que-perfeito, que
exprime a acção como tendo-se dado num tempo anterior
a outro.

O preterito perfeito comprehende duas formações :
a) preterito perfeito definido, que exprime a acção
ou o estado como inteiramente passado ; ex. Os lusitanos
combateram os romanos
 ; b) o preterito perfeito
indefinido
, que exprime a acção ou o estado como
passado num periodo que se extende até ao presente :
p. ex. Os portuguezes tẽem mantido a sua nacionalidade
até hoje
.

O preterito mais-que-perfeito tem tambem duas formações :
a) o preterito mais-que-perfeito simples : ex.
D. Affonso Henriques conquistara já Santarem, quando
tomou Lisboa
 ; b) o preterito mais-que-perfeito composto ;
ex. Vasco da Gama tinha já descoberto o caminho
maritimo da India, quando Alvares Cabral descobriu o
Brazil
.

O preterito mais-que-perfeito simples emprega-se
tambem para significar condição : Se eu tivera asas,
voaria
.

Ha dois futuros : 1) o futuro imperfeito, que exprime
simplesmente que a acção ou estado ha-de dar-se ;
2) o futuro perfeito, que exprime a acção ou o estado
como tendo-se já dado quando se dér outra acção ou estado,
ex. Terás acabado os teus estudos primarios, quando
tiveres doze anos
.

94. Como vimos, ha tempos formados por uma só
palavra : outros por duas palavras (preterito perfeito indefinido,
mais que-perfeito-composto, futuro perfeito,
etc.) ou formas verbaes distinctas, uma das quaes, a que
exprime a ideia principal, é o participio do passado (tem
mantido, tinha descoberto, terá acabado
).

Os tempos que são expressos por uma só palavra
41chamam-se tempos simples ; os tempos que são expressos
por mais de uma palavra chamam-se tempos compostos.

As formas verbaes que nos tempos compostos exprimem
não a ideia principal, mas sim as de modo,
tempo, numero e pessoa chamam-se formas verbaes
auxiliares
ou verbos auxiliares. Nas formações tenho
mantido, tinha mantido, terá mantido, — tenho, tinha,
terá
são formas verbaes auxiliares.

Da conjugação

95. Chama-se conjugação a serie em ordem determinada
de formas verbaes de modo, tempo, numero e
pessoas que tẽem base commum, identica no som e na
significação, como amo, amava, amei, amarei, amasse.

Ha tres typos de conjugação ou conjugações, que se
determinam facilmente pela forma do infinito.

São da primeira conjugação as formas verbaes a que
corresponde um infinito em que o suffixo — r é precedido
de a, p. ex. respira-r, salta-r, ama-r.

São da segunda conjugação as formas verbaes a que
corresponde um infinito cujo suffixo — r é precedido de e,
p. ex. vende-r, deve-r, recebe-r.

São da terceira conjugação as formas verbaes a que
corresponde, um infinito cujo suffixo — r é precedido de i,
p. ex. : uni-r, abri-r, parti-r.

Nota 1. — Segundo o uso escolar emprega-se a palavra verbo
no mesmo sentido que o acima defenido de conjugação e por commodidade
denomina-se a conjugação pelo infinito ; assim a expressão
— o verbo amar — significa — a serie de formas verbaes
em que se acha o infinito amar e que tem a mesma base que
este.

Nota 2. — Chama-se thema do verbo a parte que no infinito
se encontra antes do suffixo r, ex. respira, rende, uni e caracteristica
a ultima lettra do thema que é a na primeira conjugação,
e na segunda e i na terceira.

Damos em seguimento modelos das tres conjugações
em todos os tempos simples e compostos.42

Respirar Vender Unir

Indicativo

presente

tableau eu respiro | eu vendo | eu uno | tu respira s | tu vende s | tu une s | elle respira | elle vende | elle une | nós respira mos | nós vende mos | nós uni mos | vós respira es | vós vende is | vós uni s | elles respiram | elles vendem | elles unem

preterito imperfeito

tableau eu respira va | eu vendi a | eu uni a | tu respira va s | tu vendi a s | tu uni a s | elle respira va | elle vendi a | elle uni a | nós respira va mos | nós vendi a mos | nós uni a mos | vós respira ve is | vós vendi e is | vós uni e is | elles respira vam | elles vendi am | elles uni am

preterito perfeito definido

tableau eu respirei | eu vendi | eu uni | tu respira ste | tu vende ste | tu uni ste | elle respirou | elle vende u | elle uni u | nós respirá mos | nós vende mos | nós uni mos | vós respira stes | vós vende stes | vós uni stes | elles respirá ram | elles vende ram | elles uni ram

preterito perfeito indefinido

tableau eu tenho | ou hei | tu tens | ou has | elle tem | ou ha | nós temos | ou havemos | vós tendes | ou haveis | elles teem | ou hão / respirado vendido unido

preterito mais-que-perfeito simples

tableau eu respirá ra | eu vendê ra | eu uni ra | tu respirá ra s | tu vendê ra s | tu uni ra s | elle respirá ra | elle vendê ra | elle uni ra | nós respirá ra mos | nós vendê ra mos | vós uni re is | elles respirá ram | elles vendê ram | elles uni ram43

preterito mais-que-perfeito composto

tableau eu tinha | ou havia | tu tinhas | ou havias | elle tinha | ou havia | nós tinhamos | ou haviamos | vós tinheis | ou havieis | elles tinham | ou haviam / respirado vendido unido

futuro imperfeito

tableau eu respira r ei | eu vende r ei | eu uni r ei | tu respira r ás | tu vende r ás | tu uni r ás | elle respira r á | elle vende r á | elle uni r á | nós respira r emos | nós vende r emos | nós uni r emos | vós respira r eis | vós vende r eis | vós uni r eis | elles respira r ão | elles vende r ão | elles uni r ão

futuro perfeito

tableau eu terei | ou haverei | tu terás | ou haverás | elle terá | ou haverá | nós teremos | ou haveremos | vós tereis | ou havereis | elles terão | ou haverão / respirado vendido unido

Condicional

presente

tableau eu respira r ia | eu vende r ia | eu uni r ia | tu respira r ias | tu vende r ias | tu uni r ias | elle respira r ia | elle vende r ia | elle uni r ia | nós respira r iamos | nós vende r iamos | nós uni r iamos | vós respira r ieis | vós vende r ieis | vós uni r ieis | elles respira r iam | elles vende r iam | elles uni r iam

preterito perfeito

tableau eu teria | ou haveria | tu terias | ou haverias | elle teria | ou haveria | nós teriamos | ou haveriamos | vós terieis | ou haverieis | elles teriam | ou haveriam / respirado vendido unido44

ou

tableau eu tivera | ou houvera | tu tiveras | ou houveras | elle tivera | ou houvera | nós tiveramos | ou houveramos | vós tivereis | ou houvereis | elles tiveram | ou houveram / respirado vendido unido

Conjunctivo

presente

tableau eu respire | eu venda | eu una | tu respire s | tu venda s | tu una s | elle respire | elle venda | elle una | nós respire mos | nós venda mos | nós una mos | vós respire is | vós venda es | vós una es | elles respirem | elles vendam | elles unam

preterito imperfeito

tableau eu respira sse | eu vende sse | eu uni sse | tu respira sse s | tu vende sse s | tu uni sse s | elle respira sse | elle vende sse | elle uni sse | nós respira sse mos | nós vende sse mos | nós uni sse mos | vós respira sse s | vós vende sse is | vós uni sse is | elles respira ssem | elles vende ssem | elles uni ssem

preterito perfeito indefinido

tableau eu tenha | ou haja | tu tenhas | ou hajas | elle tenha | ou haja | nós tenhamos | ou hajamos | vós tenhaes | ou hajaes | elles tenham | ou hajam / respirado vendido unido

preterito mais-que-perfeito composto

tableau eu tivesse | ou houvesse | tu tivesses | ou houvesses | elle tivesse | ou houvesse | nós tivessemos | ou houvessemos | vós tivesseis | ou houvesseis | elles tivessem | ou houvessem / respirado vendido unido45

futuro imperfeito

tableau eu respira r | eu vende r | eu uni r | tu respira r es | tu vende r es | tu uni r es | elle respira r | elle vende r | elle uni r | nós respira r mos | nós vende r mos | nós uni r mos | vós respira r des | vós vende r des | vós uni r des | elles respira r em | elles vende r em | elles uni r em

futuro perfeito

tableau eu tiver | ou houver | tu tiveres | ou houveres | elle tiver | ou houver | nós tivermos | ou houvermos | vós tiverdes | ou houverdes | elles tiverem | ou houverem / respirado vendido unido

Imperativo

presente

tableau respira tu | vende tu | une tu | respira e | vós vende i | vós uni vós

Infinito

presente

tableau respira r eu | vende r eu | uni r eu | respira r es tu | vende r es tu | uni r es tu | respira r elle | vende r elle | uni r elle | respira r mos | nós vende r mos | nós uni r mos nós | respira r des vós | vende r des vós | uni r des vós | respira r em elles | vende r em elles | uni r em elles

impessoal

tableau respira r | vende r | uni r

preterito perfeito

tableau ter | ou haver eu | teres | ou haveres tu | ter | ou haver elle | termos | ou havermos nós | terdes | ou haverdes vós | terem | ou haverem elles respirado vendido unido46

impessoal

tableau ter | ou haver | respirado / vendido / unido

Participio

presente

tableau respirando | vendendo | unindo

preterito perfeito

tableau tendo | ou havendo | respirado / vendido / unido

De algumas modificações vocalicas
nos verbos

96. Como se vè nos modelos das tres conjugações
apresentadas, a vogal da base que no infinito presente
impessoal está na penultima syllaba (i em respirar, en
em vender, u em unir) não experimenta nenhuma modificação
nas differentes fórmas, salvo a da accentuação
nalgumas. O mesmo se dá em todos os verbos da primeira
e da segunda conjugação em que a vogal da penultima
syllaba do infinito presente impessoal éuma das
puras i, u ou ô fechado (representado na escripta por ou)
ou uma das vogaes nasaes ou uma vogal pura composta
(diphthongo), ai (seguido de consoante), ei (ai), oi, ui.
Exemplos : a) brigar, citar, girar, mirar, viver ; b) buscar,
durar, mudar
 ; c) andar, entrar, findar, zombar,
lamber, encher, fender, responder
 ; d) raivar, taipar,
baixar, ceifar, deixar, poupar, outar, apoiar
.

97. Os factos mais importantes relativos ás outras
vogaes na primeira e na segunda conjugação e á terceira
conjugação são os seguintes :

1) Ao a fechado, que no infinito presente impessoal
está na penultima syllaba, corresponde a fechado
em syllabas não accentuadas das tres conjugações e a
47aberto em syllabas accentuadas, quando não é seguido
de m, n, ou nh, caso em que é sempre fechado. Exemplos :

a) fallar | fallamos | fallo | falle
bater
| batemos | bato | bata
invadir
| invadimos | invado | invada

b) acamar | acamamos | acamo | acame
abanar
| abanamos | abano | abane
banhar
| banhamos | banho | banhe
banir
| banimos | bano | bana

2) Ao e surdo que no infinito presente impessoal está
na penultima syllaba corresponde : a) e surdo em syllabas
não accentuadas das tres conjugações ; por ex. : levar
levamos, dever devemos, diferir digerimos
 ; b) e
aberto em syllabas accentuadas da primeira conjugação,
não se seguindo j, ch, lh ou nh, casos em que o e se
pronuncia como a fechado, m ou n, casos em que se
pronuncia como e fechado ; p. ex. levar, levo ; alvejar,
alveja ; fechar, fecho ; engelhar, engelho ; ordenhar, ordenho
 ;
algemar, algemo ; empenar, empeno ; c) e fechado
na primeira pessoa do singular do presente do indicativo
e nas tres do singular e terceira do plural do presente
do conjunctivo da segunda conjugação ; exemplos : dever,
devo, deva, devas, deva, devam
 ; d) e aberto na segunda
e terceira pessoa do singular e terceira do plural do
presente do indicativo e no singular do imperativo da
mesma conjugação ; exemplos : deves, deve, devem ; e) i
na primeira pessoa do singular do presente do indicativo
e em todas as fórmas do presente do conjunctivo na
terceira conjugação ; exemplo : vestir, visto, vista, vistas,
vistamos, vistam
 ; f) e aberto na segunda e terceira pessoa
do singular e terceira do plural do presente do indicativo
e no singular do imperativo da mesma conjugação ;
exemplos : vestes, veste, vestem, veste.

3) Ao o (pronunciado u) não accentuado da penultima
syllaba do infinito presente impessoal corresponde :48

a) o aberto, em syllabas accentuadas da primeira conjugação
quando não se segue m, n ou nh, casos em que o accentuado
é surdo ; exemplos : topar, topo ; somar, somo ;
abonar, abono ; sonhar, sonho ; mas domar, dómo ; tomar,
tómo
 ; b) o fechado na primeira pessoa do singular do
presente do indicativo e nas tres do singular e terceira
do plural do presente do conjunctivo da segunda conjugação ;
exemplo : comer, como, coma, comas, coma, comam ;
mas na segunda e terceira do singular e na terceira do
plural do presente do indicativo e no singular do imperativo
o o é aberto na segunda e na terceira conjugação ;
exemplos : comes, come, comem, come ; dormir, dormes,
dorme, dormem, dorme
 ; c) u na primeira pessoa do singular
do presente do indicativo e em todas as fórmas do
presente do conjunctivo da terceira conjugação ; exemplos :
durmo, durma, durmamos, durmam.

4) Ao (en) não accentuado da penultima syllaba
do infinito presente pessoal corresponde i (in) na primeira
pessoa do singular do presente do indicativo e em todas
as fórmas do presente do conjunctivo da terceira conjugação ;
exemplos : mentir, minto, minta, mintas, mintamos,
mintam
.

Em todas as outras fórmas dos verbos que teem en
na penultima syllaba do infinito presente impessoal, essa
vogal nasal conserva-se sem modificação.

5) Ao u não accentuado da penultima syllaba do
infinito presente impessoal corresponde o aberto accentuado
na segunda e na terceira pessoa do singular e na
terceira do plural do presente do indicativo e no singular
do imperativo da terceira conjugação nos verbos acudir,
bulir, consumir, cuspir, destruir, engulir, fugir,
sacudir, subir, sumir, tussir
.

Nota 1. — Algumas outras particularidades e excepções relativas
ás modificações vocalicas na conjugação serão aprendidas
pela pratica ou entram no estudo mais desenvolvido das fórmas.

Nota 2. — A grande maioria dos verbos portuguezes ou se conformam
inteiramente na sua conjugação aos modelos apresentados
ou têem apenas as modificações vocalicas, alludidas neste §.49

Nota 3. — O verbo ganhar tem o a da base ganh aberto em
todas as fórmas. O verbo aquecer tem o e da base aqueç aberto
em todas as fórmas.

Os verbos soltar, voltar teem o o fechado em todas as formas
em que não é accentuado ; todavia ha quem pronuncie voltar
com u por o nas syllabas não accentuadas.

Das vozes

98. Comparemos as seguintes proposições :

Eu amo. | Eu sou amado.
Elle vende
. | Elle é vendido.
Eu accusava
. | Eu era accusado.

Nas proposições da columna da esquerda o sujeito
é apresentado como agente da acção — é activo ; nas
proposições da columna da direira o sujeito é representado
como padecendo a acção — é passivo.

Nos modelos de conjugação que apresentámos todas
as fórmas e ligações verbaes se referem ao sujeito como
activo ; deu-se por isso ao conjuncto d’essas fórmas e
ligações o nome de voz activa ; e ao conjuncto das ligações
em que o sujeito é representado como passivo o
nome de voz passiva.

Nota. — Uma proposição passiva como eu sou amado é em
verdade analoga a uma proposição como eu sou feliz, em que feliz
é o predicado, constituido por um adjectivo, e é um verbo de ligação ;
mas como o participio do preterito amado, tem o caracter
especial de fórma verbal-nominal e pode ser seguido d’um complemento
indicando o agente (ex. : Paulo é louvado por ti), todas
as ligações como essa receberam a designação de passivas.

O agente da voz passiva é expresso, como vimos pelo exemplo
dado, por um complemento precedido da preposição por (ou
per como veremos), e pode converter-se em sujeito d’uma proposição
activa : ex. : Tu louvas Paulo.

99. Os verbos na voz activa podem ter complemento
directo e chamam-se verbos transitivos ou não
podem ter esse complemento e chamam-se verbos intransitivos
(vid. §§ 49-50.)50

Só ha voz passiva correspondente aos verbos transitivos ;
porque é ao objecto do verbo transitivo que
corresponde o sujeito da passiva, ex. : D. João I venceu
os castelhanos. — Os castelhanos foram vencidos por D.
João I
.

Dos verbos que apresentamos para modelo de conjugação,
respirar é intransitivo e vender e unir transitivos.

Modelo da voz passiva

Indicativo

presente

tableau eu sou | tu és | elle, ella é | louvado, louvada | nós somos | vós sois | elles, ellas são | louvados, louvadas

preterito imperfeito

tableau eu era | tu eras | elle, ella era | louvado, louvada | nós eramos | vós ereis | elles, ellas eram | louvados, louvadas

preterito perfeito definido

tableau eu fui | tu foste | elle, ella foi | louvado, louvada | nós fomos | vós fostes | elles, ellas foram | louvados, louvadas

preterito perfeito indefinido

tableau eu tenho sido | tu tens sido | elle, ella tem sido | louvado, louvada | nós temos sido | vós tendes sido | elles, ellas têem sido | louvados, louvadas

preterito mais-que-perfeito 1°

tableau eu fôra | tu fôras | elle, ella fôra | louvado, louvada | nós foramos | vós foreis | elles, ellas fôram | louvados, louvadas

preterito mais-que-perfeito 2°

tableau eu tinha sido | tu tinhas sido | elle, ella tinha sido | louvado, louvada | nós tinhamos sido | vós tenheis sido | elles, ellas tinham sido | louvados, louvadas

futuro imperfeito

tableau eu serei | tu serás | elle, ella será | louvado, louvada | nós seremos | vós sereis | elles serão | louvados, louvadas

futuro perfeito

tableau eu terei sido | tu terás sido | elle, ella terá sido | louvado, louvada | nós teremos sido | vós tereis | elles, ellas terão sido | louvados, louvadas51

Condicional

presente

tableau eu seria | tu serias | elle, ella seria | louvado, louvada | nós seriamos | vós serieis | elles, ellas serião | louvados, louvadas

preterito perfeito

tableau eu teria sido | tu terias sido | elle, ella teria sido | louvado, louvada | nós teriamos sido | vós terieis | elles, ellas teriam sido | louvados, louvadas

ou

tableau eu tivera sido | tu tiveras sido | elle, ella tivera sido | louvado, louvada | nós tiveramos sido | vós tivereis | elles, ellas tiveram sido | louvados, louvadas

Conjunctivo

presente

tableau eu seja | tu sejas | elle, ellea seja | louvado, louvada | nós sejamos | vós sejaes | elles, ellas sejão | louvados, louvadas

preterito imperfeito

tableau eu fosse | tu fosses | elle, ella fosse | louvado, louvada | nós fossemos | vós fosseis | elles fossem | louvados, louvadas

preterito perfeito indefinido

tableau eu tenha sido | tu tenhas sido | elle, ella tenha sido | louvado, louvada | nós tenhamos sido | vós tenhaes sido | elles, ellas tenham sido | louvados, louvadas

preterito mais-que-perfeito

tableau eu tivesse sido | tu tivesses sido | elle, ella tivesse sido | louvado, louvada | nós tivessemos sido | vós tivesseis | elles, ellas tivessem sido | louvados, louvadas

futuro imperfeito

tableau eu for | tu fores | elle, ella for | louvado, louvada | nós formos | vós fordes | elles forem | louvados, louvadas

futuro perfeito

tableau eu tiver sido | tu tiveres sido | elle, ella tiver sido | louvado, louvada | nós tivermos sido | vós tiverdes sido | elles, ellas tiverem sido | louvados, louvadas

Imperativo

presente

tableau sê tu | louvado, louvada | sêde vós | louvados, louvadas52

Infinito

presente

tableau ser eu | seres tu | ser elle, ella | louvado, louvada | sermos nós | serdes vós | serem elles, ellas | louvados, louvadas

impessoal

tableau ser | louvado / louvada / louvados / louvadas

preterito perfeito

tableau ter eu sido | teres tu sido | ter elle, ella sido | louvado, louvada | termos nós sido | terdes vós sido | terem elles, ellas sido | louvados, louvadas

impessoal

tableau ter | sido | louvado / louvada / louvados / louvadas

Participio

presente

tableau sendo | louvado / louvada / louvados / louvadas

preterito perfeito

tableau tendo sido | louvado / louvada / louvados / louvadas

Dos verbos auxiliares

100. Como os verbos que servem para formar com
o participio do preterito simples os tempos compostos da
voz activa (ter, haver), o verbo que serve para formar
com o mesmo participio todos os tempos da voz passiva
(ser) chama-se auxiliar. Nesse emprego taes verbos perdem
a significação que tẽem empregados independentemente,
como por ex. nas phrases : tenho livros, tinha
um pao na mão. O que é, é
.

Haver é menos usado que ter.

Os modelos da voz activa apresentados mostram
qual é o emprego de ter e haver como auxiliares.

Os tempos da voz pzassiva são formados dos tempos
do verbo ser e do participio do preterito, chamado tambem
participio passivo, do verbo principal.

A única fórma simples da voz passiva é o participio
53passivo, que, como vimos, entra tambem na formação
da voz activa.

Tẽem pois participio passivo tanto os verbos transitivos
como os intransitivos.

Esse participio tem, como os adjectivos, fórmas
masculinas e femininas, do singular e do plural. Exemplos :

tableau Sing. | Plur. | 1ª conjug. | louva do | louva da | louva dos | louva das | 2ª conjug. | vendi do | vendi da | vendi dos | vendi das | 3ª conjug. | uni do | uni da | uni dos | uni das

101. Os verbos ter e haver empregam-se tambem
como auxiliares seguidos da preposição de e d’um infinito
presente impessoal, ex. : Tenho de escrever. Hei-de
escrever
.

Nessas ligações o verbo ter indica que se fará uma
coisa por obrigação ; o verbo haver que se fará com
certeza ou por necessidade ou que ha resolução de a
fazer.

As ligações com ter tambem ás vezes exprimem, a
necessidade ; ex. : Temos de morrer.

Essas ligações substituem muitas vezes o futuro imperfeito
dos verbos.

Nota. — Nas ligações com as fórmas monosyllabicas de haver
e a preposição de, esta junta-se encliticamente áquellas ; ex. :
hei-de escrever, has-de ler, hão-de dizer.

102. Ha ainda outros verbos que, além de serem
empregados independentemente, se usam em certos casos
como auxiliares, perdendo-se ou modificando-se a
sua significação propria ; taes são andar, ir, estar e rir.

1) O verbo andar seguido do participio do presente
ou do infinito presente impessoal, precedido da preposição
a, de outro verbo, exprime que o sujeito pratica
continuadamente a acção significada pelo segundo verbo :
ex. : Pedro anda aprendendo francez. Pedro anda a aprender
francez
.

2) Os verbos ir e rir, seguidos do participio do
54presente d’outro verbo, exprimem a realisação gradual
da acção significada pelo segundo verbo ; ex. : Vou percebendo.

3) O verbo ir seguido do infinito presente, sem
preposição, exprime futuro immediato ; ex. : Vou passear.

4) O verbo estar, seguido do participio do presente
ou do infinito presente d’outro verbo, refere uma acção
significada pelo segundo verbo a um momento dado ;
ex. : Pedro estava desenhando quando fui a casa d’elle,
etc. Pedro está escrevendo
(neste momento em que se
falla.)

5) O mesmo verbo estar seguido da proposição para
com o infinito prsente impessoal d’outro verbo, exprime
que a acção significada pelo segundo verbo vae ser
praticada em breve ; ex. : Pedro está para fazer exame.

6) O verbo vir seguido da preposição a com o infinito
presente impessoal d’outro verbo, serve em certos
casos para exprimir o mesmo que exprimiria o segundo
verbo na fórma em que o primeiro se acha, acompanhado
talvez da expressão por fim ; ex. : Estas palavras vẽem
a significar
(Estas palavras por fim significam).

103. Dá-se o nome de conjugação periphrastica
á serie de ligações das fórmas de cada um dos referidos
verbos auxiliares com o infinito presente impessoal ou
o participio do presente d’outro verbo, por qualquer dos
modos indicados.55

Conjugação dos verbos auxiliares
Ser Ter Haver

Indicativo

presente

tableau eu sou | eu tenho | eu hei | tu és | tu tens | tu has | elle é | elle tem | elle ha | nós somos | nós temos | nós havemos | vós sois | vós tendes | vós haveis | elles são | elles tẽem | elles hão

preterito imperfeito

tableau eu era | eu tinha | eu havia | tu eras | tu tinhas | tu havias | elle era | elle tinha | elle havia | nós eramos | nós tinhamos | nós haviamos | vós ereis | vós tinheis | vós havieis | elles eram | elles tinham | elles haviam

preterito perfeito definido

tableau eu fui | eu tive | eu houve | tu foste | tu tiveste | tu houveste | elle foi | elle teve | elle houve | nós fomos | nós tivemos | nós houvemos | vós fostes | vós tivestes | vós houvestes | elles foram | elles tiveram | elles houveram

preterito perfeito indefenido

tableau eu tenho | ou hei | tu tens | ou has | elle tem | ou ha | nós temos | ou havemos | vós tendes | ou haveis | elles tẽem | ou hão sido, tido, havido

preterito mais-que-perfeito simples

tableau eu fôra | eu tivera | eu houvera | tu fôras | tu tiveras | tu houveras | elle fôra | elle tivera | elle houvera | nós foramos | nós tiveramos | nós houveramos | vós foreis | vós tivereis | vós houvereis | elles foram | elles tiveram | elles houveram |56

preterito mais-que-perfeito composto

tableau eu tinha | ou havia | tu tinhas | ou havias | elle tinha | ou havia | nós tinhamos | ou haviamos | vós tinheis | ou havieis | elles tinham | ou haviam | sido, tido, havido

futuro imperfeito

tableau eu serei | eu terei | eu haverei | tu serás | tu terás | tu haverás | elle será | elle terá | elle haverá | nós seremos | nós teremos | nós haveremos | vós sereis | vós tereis | vós havereis | elles serão | elles terão | elles haverão

futuro perfeito

tableau eu terei | ou haverei | tu terás | ou haverás | elle terá | ou haverá | nós teremos | ou haveremos | vós tereis | ou havereis | elles terão | ou haverão | sido, tido, havido

Condicional

presente

tableau eu seria | eu teria | eu haveria | tu serias | tu terias | tu haverias | elle seria | elle teria | elle haveria | nós seriamos | nós teriamos | nós haveriamos | vós serieis | vós terieis | vós haverieis | elles seriam | elles teriam | elles haveriam

preterito perfeito

tableau eu teria | ou haveria | tu terias | ou haverias | elle teria | ou haveria | nós teriamos | ou haveriamos | vós terieis | ou haverieis | elles teriam | ou haveriam | sido, tido, havido57

ou

tableau eu tivera | ou houvera | tu tiveras | ou houveras | elle tivera | ou houvera | nós tiveramos | ou houveramos | vós tivereis | ou houvereis | elles tiveram | ou houveram | sido, tido, havido

Conjunctivo

presente

tableau eu seja | eu tenha | eu haja | tu sejas | tu tenhas | tu hajas | elle seja | elle tenha | elle haja | nós sejamos | nós tenhamos | nós hajamos | vós sejaes | vós tenhaes | vós hajaes | elles sejam | elles tenham | elles hajam

preterito imperfeito

tableau eu fosse | eu tivesse | eu houvesse | tu fosses | tu tivesses | tu houvesses | elle fosse | elle tivesse | elle houvesse | nós fossemos | nós tivessemos | nós houvessemos | vós fosseis | vós tivesseis | vós houvesseis | elles fossem | elles tivessem | elles houvessem

preterito perfeito indefinido

tableau eu tenha | ou haja | tu tenhas | ou hajas | elle tenha | ou haja | nós tenhamos | ou hajamos | vós tenhaes | ou hajaes | elles tenham | ou hajam | sido, tido, havido

preterito mais-que-perfeito composto

tableau eu tivesse | ou houvesse | tu tivesses | ou houvesses | elle tivesse | ou houvesse | nós tivessemos | ou houvessemos | vós tivesseis | ou houvesseis | elles tivessem | ou houvessem | sido, tido, havido58

futuro imperfeito

tableau eu for | eu tiver | eu houver | tu fores | tu tiveres | tu houveres | elle for | elle tiver | elle houver | nós formos | nós tivermos | nós houvermos | vós fordes | vós tiverdes | vós houverdes | elles forem | elles tiverem | elles houverem

futuro perfeito

tableau eu tiver | ou houver | tu tiveres | ou houveres | elle tiver | ou houver | nós tivermos | ou houvermos | vós tiverdes | ou houverdes | elles tiverem | ou houverem | sido, tido, havido

Imperativo

presente

tableau sê tu | tem tu | ha tu | sêde vós | tende vós | havei vós

Infinito

presente

tableau ser eu | ter eu | haver eu | seres tu | teres tu | haveres tu | ser elle | ter elle | haver elle | sermos nós | termos nós | havermos nós | serdes vós | terdes vós | haverdes vós | serem elles | terem elles | haverem elles

impessoal

tableau ser | ter | haver

preterito perfeito

tableau ter | ou haver eu | teres | ou haveres tu | ter | ou haver elle | termos | ou havermos nós | terdes | ou haverdes vós | terem | ou haverem elles | sido, tido, havido59

impessoal

tableau ter | ou haver | sido / tido / havido

participio

tableau sendo | tendo | havendo

preterito perfeito

tableau tendo | ou havendo | sido / tido / havido

Dos verbos irregulares

104. Os verbos auxiliares, independentemente da
diversidade de bases (s-, f-, er-) do verbo ser, não se conformam
em todas as suas fórmas aos modelos que apresentamos
a pag. 43. e notam-se nelles, com relação a esses
modelos, differenças que não entram no quadro das
modificações vocalicas no § 97. Ha outros verbos
em que se dão differenças de formação analogas.

Chamam-se verbos irregulares os que não seguem
os modelos dados a pag. 43. com ou sem as simples modificações
vocalicas referidas no § 97.

1. Dos verbos em ahir e air (no infinito)

105. Estes verbos no presente do indicativo e do
conjunctivo seguem os seguintes modelos, sendo regulares
nas outras fórmas :

Sahir

saio
saes
sae
sahimos
sahis
sáem
saia
sáias
saia
saiàmos
saiaes
sàiam

Esvair

esvaio
esvaes
esvae
esvaímos
esvaís
esvàem
esvaia
esvaias
esvaia
esvaiàmos
esvaiaes
esváiam60

Nota. — Os verbos sahir, cahir e seus compostos só se escrevem
geralmente com h nas fórmas em que a sa(h), ca(h) se
segue i accentuado em ir-, servindo o h para para indicar que a e i
não formam diphthongo : escrevem-se tambem sem h nessas fórmas,
pondo então accento agudo no i accentuado : saímos, saíram.
No verbo trahir observa-se geralmente o mesmo preceito orthographico.
Ha quem escreva trahem, sahem, etc. O melhor será
não escrever esses verbos com h em nenhum caso.

Nos verbos compostos abstrahir, attrahir, contrahir, detrahir,
distrahir, extrahir, protrahir, retrahir, subtrahir
, o segundo
elemento trahir é um verbo distincto de trahir atraiçoar, o qual
significa puxar, arrastar, e não se emprega independentemente ;
nesses verbos o h escreve-se em todas as fórmas, excepto nas
do singular do presente do indicativo e em todo o presente do
conjunctivo : ex. : attraio, attraia, attraias, attraia, attraiamos,
attraias, attraiam
.

2. Dos verbos em uzir (no infinito)

106. Estes verbos terminam na terceira pessoa do
singular do presente do indicativo em uz (não em uze) ;
ex. : reluz, produz.

1) O h em attrahir etc. justifica-se pela origem d’essas palavras,
que são compostas com o latim trahere, cujo h em tempo
foi pronunciado como aspiração.

3. Dos verbos particularmente chamados
irregulares

107. A lista que damos abaixo comprehende os
verbos irregulares propriamente dictos. No uso d’essa
lista tenha-se em vista o seguinte :

a) Damos, alem das fórmas irregulares, algumas
regulares, ou para facilitar a reproducção ou porque ás
vezes se erra nellas ;

b) Todas as fórmas que fallam e se empregam são
regulares ;

c) Na lista notam-se algumas fórmas de que não se
faz uso ; veja-se em geral sobre os verbos de que não se
empregam todas as fórmas o que dizemos mais abaixo.61

Primeira conjugação

Dar

tableau Ind. Pres. | dou, dás, dá, damos, dáes, dão. | Pr. pf. | dei, déste, deu, démos, déstes, déram. | M. q. p. | déra, déras, déra, etc. | Conj. Pres. | dê, dês, dê, dêmos, deis, dêem. | Ipf. | désse, désses, etc. | F. ipf. | dér, déres, etc. | Imper. | dá, dáe.

Como este, o comp. desdar, mas circumdar é regular.

Estar.

tableau Ind. Pres. | estou, estás, está, estamos, estaes, estão. | Pr. pf. | estive, estiveste, esteve, estiveram, estivestes, estiveram. | M. q. p. | estivera, etc. | Conj. Pres. | esteja, estejas, esteja, estejamos, estejaes, estejam. | Ipf. | estivesse, etc. | F. ipf. | estiver, estiveres, etc. | Imper. | está, estae.

Como este, o comp. sobreestar.

Segunda conjugação

Caber

tableau Ind. Pres. | caibo, cabes, cabe, cabemos, cabeis, cabem. | Pr. pf. | coube, coubeste, coube, coubemos, coubestes, couberam. | M. q. p. | coubera, etc. | Conj. Pres. | caiba, caibas, caiba, caibamos, caibais, caibam. | Ipf. | coubesse, etc. | F. ipf. | couber, etc.

Crer

tableau Ind. Pres. | creio, crês, crê, cremos, credes, creem. | Conj. Pres. | creia, creias, creia, creiamos, creiaes, creiam. | Imper. | crê, crede.

Como este, o comp. descrer.

Dizer

tableau Ind. Pres. | digo, dizes, diz, dizemos, dizeis, dizem. | Pr. pf. | disse, disseste, disse, dissemos, dissestes, disseram. | M. q. p. | dissera, etc. | F. ipf. | direi, dirás, dirá, diremos, etc. | Cond. Pres. | diria, dirias, diria, diriamos, etc. | Conj. Pres. | diga, digas, diga, digamos, digaes, digam. | Ipf. | dissesse, etc. | F. ipf. | disser, etc. | Imper. | dize, dizei. | Part. pass. | dito.

Como este, os comp. bemdizer,
condizer, contradizer, desdizer,
maldizer, predizer
.62

Fazer

tableau Ind. Pres. | faço, fazes, faz, fazemos, fazeis, fazem. | Pr. pf. | fiz, fizeste, fez, fizemos, fizestes, fizeram. | M. q. p. | fizera, fizeras, etc. | F. ipf. | farei, farás, etc. | Cond. Pres. | faria, farias, faria, etc. | Conj. Pres. | faça, faças, faça, façamos, façais, façam. | Ipf. | fizesse, fizesses, etc. | F. ipf. | fizer, fizeres, etc. | Part. pass. | feito.

Como este, os comp. afazer,
contrafazer, desfazer, perfazer,
refazer, satisfazer
.

Haver

Vid. p. 58.

Como este, os comp. rehaver,
que só se usa nas fórmas que
tẽem v.

Jazer.

tableau Ind. Pres. | jazo, jazes, jaz, jazemos, jazeis, jazem.

Como este, o comp. adjazer.

Ler

tableau Ind. Pres. | leio, lês, lê, lemos, ledes, leem. | Conj. Pres. | leia, leias, leia, leiamos, leiaes, leiam.

Como este, os comp. reler,
tresler
.

Perder

tableau Ind. Pres. | perco, perdes, perde, perdemos, perdeis, perdem. | Conj. Pres. | perca, percas, perca, percamos, percaes, percam.

Poder

tableau Ind. Pres. | posso, podes, pode, podemos, podeis, podem. | Pr. pf. | pude, pudeste, poude, pudemos, pudestes, puderam. | M. q. p. | pudera, etc. | Conj. Pres. | possa, possas, possa, possamos, possaes, possam. | Ipf. | pudesse, pudesses, etc. | F. ipf. | puder, puderes, etc.

Por

tableau Ind. Pres. | ponho, pões, põe, pomos, pondes, põem. | Pr. ipf. | punha, punhas, punha, punhamos, punheis, punham. | Pr. pf. | puz, puzeste, poz, puzemos, puzestes, puzeram. | M. q. p. | puzera, etc. | F. ipf. | porei, porás, porá, poremos, poreis, porão. | Cond. Pres. | poria, porias, etc. | Conj. Pres. | ponha, ponhas, ponha, ponhamos, ponhaes, ponham. | Ipf. | puzesse, puzesses, etc.63

tableau F. ipf. | puzer, puzeres, etc. | Imp. | põe, ponde. | Part. pass. | pôsto, pósta, pl. póstos, póstas.

Como este, os comp. : antepor,
appor, compor, contrapor,
decompor, dispor, entrepor, expor,
impor, indispor, interpor,
oppor, predispor, prepor, presuppor,
propor, recompor, repor,
sotopor, suppor, transpor
.

Prazer

Usa-se só nas terçeiras pessoas.

tableau Ind. Pres. | praz, prazem. | Pr. pf. | prouve, prouveram. | M. q. p. | prouvera, prouveram. | Conj. Ipf. | prouvesse, prouvessem. | F. ipf. | prouver, prouverem.

Como este, os comp. aprazer
e desprazer, que todavia tẽem
todas as fórmas.

Comprazer

tableau Ind. Pres. | sing. 3ª pes. compraz.

Todas as outras formas são
regulares.

Querer

tableau Ind. Pres. | quero, queres, quer, queremos, quereis, querem. | Pr. pf. | quiz, quizeste, quiz, quizemos, quizestes, quizeram. | M. q. p. | quizera, etc. | Conj. Pres. | queira, querias, queira, queiramos, queiraes, queiram. | Pr. ipf. | quizesse, etc. | F. ipf. | quizer, etc.

Requerer

tableau Ind. Pres. | requeiro, requeres, requer, requeremos, requereis, requerem. | Conj. Pres. | requeira, requeiras, requeira, requeiramos, requeiraes, requeiram. | Imp. | requere, requerei.

Saber

tableau Ind. Pres. | sei, sabes, sabe, sabemos, sabeis, sabem. | Pr. pf. | soube, soubeste, soube, soubemos, soubestes, souberam. | M. q. p. | soubera, etc. | Conj. Pres. | saiba, saibas, saiba, saibamos, saibaes, saibam. | Ipf. | soubesse, etc. | F. ipf. | souber, etc.

Ser

Vid. p. 58.

Ter

Vid. p. 58.

Como este, os comp. abster,
ater, conter, deter, entreter, manter,
obter, reter, soster
.

Trazer.

tableau Ind. Pres. | trago, trazes, traz, trazemos, trazeis, trazem. | Pr. pf. | trouxe, trouxeste, trouxe, trouxemos, trouxestes, trouxeram.64

tableau F. ipf. | trarei, trarás, trará, traremos, trareis, trarão. | M. q. p. | trouxera, etc. | Cond. Pres. | traria, trarias, traria, trariamos, trarieis, trariam. | Conj. Pres. | traga, tragas, traga, tragamos, tragaes, tragam. | Ipf. | trouxesse, etc. | F. ipf. | trouxer, etc.

Valer

tableau Ind. Pres. | valho, vales, vale, valemos, valeis, valem. | Conj. Pres. | valha, valhas, valha, valhamos, valhaes, valham.

Como este, os comp. desvaler,
equivaler
.

Ver

tableau Ind. Pres. | vejo, vês, vê, vemos, | vedes, veem. | Pr. pf. | vi, viste, viu, vimos, vistes, viram. | M. q. p. | vira, viras, etc. | Conj. Pres. | veja, vejas, veja, vejamos, vejaes, vejam. | Ipf. | visse, visses, etc. | F. ipf. | vir, vires, etc. | Part. pass. | visto.

Como este, os comp. antever,
entrever, prever, rever
.

Prover

tableau Ind. Pres. | provejo, provês, provê, provemos, provedes, proveem. | Pr. pf. | provi, proviste, proveu, provemos, provestes, proveram, etc. | Conj. Pres. | proveja, provejas, proveja, provejamos, provejaes, provejam. | Inf. | provesse, etc. | F. ipf. | prover, proveres, etc. | Part. pass. | provido.

Como este, o comp. desprover.

Terceira conjugação

Despedir

tableau Ind. Pres. | despeço, despedes, despede, despedimos, despedis, despedem. | Conj. Pres. | despeça, despeças, despeça, despeçamos, despeçaes, despeçam.

Expedir

tableau Ind. Pres. | expeço, expedes, expede, expedimos, expedis, expedem. | Conj. Pres. | expeça, expeças, expeça, expeçamos, expeçaes, expeçam.

Frigir

tableau Ind. Pres. | frijo, freges, frege, frigimos, frigis, fregem.

Impedir

tableau Ind. Pres. | impeço, impedes, impede, impedimos, impedis, impedem.

Como este, o comp. desimpedir.

Ir

tableau Ind. Pres. | vou, vaes, vae, vamos (ou imos), ides, vão.65

tableau Pr. pf. | fui, foste, foi, fomos, fostes, foram. | M. q. p. | fora, etc. | Conj. Pres. | vá, vás, vá, vamos, vades, vão. | Ipf. | fosse, fosses, etc. | F. ipf. | for, fores, etc. | Part. pass. | ido, ida.

Medir

tableau Ind. Pres. | meço, medes, mede, medimos, medis, medem. | Conj. Pres. | meça, meças, meça, meçamos, meçaes, meçam.

Pedir

tableau Ind. Pres. | peço, pedes, pede, pedimos, pedis, pedem. | Conj. Pres. | peça, peças, peça, peçamos, peçaes, peçam.

Ouvir

tableau Ind. Pres. | ouço (ou oiço), ouves, ouve, ouvimos, ouvis, ouvem. | Conj. Pres. | ouça, ouças, ouça, ouçamos, ouçaes, ouçam (ou oiça, oiçaes, etc.)

Rir

tableau Ind. Pres. | rio, ris, ri, rimos, rides, riem. | Conj. Pres. | ria, rias, ria, riamos, riaes, riam.

Como este, o comp. sorrir.

Vir

tableau Ind. Pres. | venho, vens, vem, vimos, vindes, vẽem. | Ipf. | vinha, vinhas, vinha, vinhamos, vinheis, vinham. | Pr. pf. | vim, vieste, veio, viemos, viestes, vieram. | M. q. p. | viera, etc. | Conj. Pres. | venha, venhas, venha, venhamos, venhaes, venham. | Ipf. | viesse, etc. | F. ipf. | vier, etc. | Part. pass. | vindo, vinda.

Como este, os comp. advir,
avir, contravir, convir, desavir,
intervir, provir, sobrevir
.

Nota 1. — O verbo ir apresenta, como o verbo ser, partes de
tres verbos differentes :

ir
imos
ides
ia
, etc.
irei
iria
ide
indo
ido

vou
vaes
vae
vamos
vão

vás
, etc.
vae

fui, etc.
fora, etc.
fosse, etc.
for66

Os verbos ir e ser chamam-se mixtos.

Nota 2. — Para facilitar o trabalho de reproducção das fórmas
dos verbos irregulares, observe-se que estas podem geralmente
reunir-se em grupos segundo relações particulares que
apresentam. Esses grupos são os seguintes :

I. Indicativo : presente e imperativo : ex.

dou
dás

damos
daes
dão


dae

As formas do imperativo divergem só das correspondentes
do presente do indicativo em não terem o som representado por
s final. Essa correspondencia não se dá no verbo mixto ser : és,
sois — sê, sede
.

II. Indicativo : preterito perfeito definido e preterito mais-que-perfeito ;
conjunctivo : preterito imperfeito e futuro imperfeito ; ex. :

tableau pude | pudera | pudesse | puder | pudeste | puderas | pudesses | puderes | poude | pudera | pudesse | puder | pudemos | puderamos | pudessemos | pudermos | pudeste | podereis | pudesseis | puderdes | puderam | puderam | pudessem | puderem

Vê-se que as fórmas das columnas 2, 3 e 4 tẽem uma base
commum pude, que se encontra tambem em quasi todas as formas
do preterito perfeito definido do indicativo.

Não deve suppôr-se todavia que essas formas se tiram
d’uma determinada, com certas mudanças, mas notar sómente
essas relações.

Nota 3. — O verbo por e seus compostos, além d’outras divergencias
com relação aos modelos apresentados a p. 43, offerecem
a particularidade d’um infinito presente em — or, o qual todavia
resultou da modificação da forma antiga poer e seus compostos.

Nota 4. — E’ impropriamente que se chamam irregulares os
verbos que acabamos de apresentar ou quaesquer outros : são
apenas verbos que differem na sua conjugação dos typos seguidos
pela maioria, mas essas differenças explicam-se por meio de
regras, cujo estudo todavia não pode entrar no ensino elementar.67

4. Dos verbos com duplo participio passivo

108. Diz-se : Naquelle tempo, já meu irmão era
morto
e Naquelle tempo já meu irmão tinha morrido ;
Muitos povos eram sujeitos a Roma e Roma tinha sujeitado
muitos povos
.

Assim a um mesmo verbo ligam-se duas fórmas de
participio passivo differentes (a morrermorto e morrido,
a sujeitar — sujeito e sujeitado), as quaes todavia
não tẽem sempre o mesmo emprego.

Em geral, quando um verbo tem duas fórmas de
participio passivo, uma é especialmente empregada na
formação da voz passiva, outra na formação da activa
ou indifferentemente da activa e da passiva.

Nota. — Na lista seguinte a. indica que a fórma que segue
se emprega nos tempos compostos da voz activa, p. que se
emprega nos tempos da voz passiva. Uma das formas é regular.

Primeira conjugação

acceitar | acceitado | (a., p.) | acceito | (p.)
assentar | assentado | (a., p.) | assento | (p.)
dispersar | dispersado | (a., p.) | disperso | (p.)
entregar | entregado | (a., p.) | entregue | (p.)
enxugar | enxugado | (a., p.) | enxuto | (p.)
expressar | expressado | (a., p.) | expresso | (p.)
expulsar | expulsado | (a.) | expulso | (p.)
fartar | fartado | (a.) | farto | (p.)
findar | findado | (a., p.) | findo | (p.)
ganhar | ganhado | (a., p.) | ganho | (a., p.)
gastar | gastado | (a.) | gasto | (a., p.)
isentar | isentado | (a.) | isento | (p.)
juntar | juntado | (a., p.) | junto | (a., p.)
limpar | limpado | (a.) | limpo | (a., p.)
matar | matado | (a.) | morto | (a., p.)
occultar | occultado | (a., p.) | occulto | (p.)
pagar | pagado | (a.) | pago | (a., p.)
salvar | salvado | (a., p.) | salvo | (a., p.)
soltar | soltado | (a.) | solto | (p.)
sujeitar | sujeitado | (a., p.) | sujeito | (p.)

Nota 1. — Emprega-se tambem a fórma acceite por acceito,
acceita
.

Nota 2. — A fórma morto é usurpada do verbo morrer.68

Segunda conjugação

accender | accendido | (a., p.) | acceso | (p.)
eleger | elegido | (a.) | eleito | (a., p.)
escrever | escrevido | (a.) | escripto | (a., p.)
envolver | envolvido | (a., p.) | envolto | (a., p.)
prender | prendido | (a.) | preso | (p.)
suspender | suspendido | (a., p.) | suspenso | (p.)

Terceira conjugação

abrir | abrido | (a.) | aberto | (a., p.)
cobrir | cobrido | (a.) | coberto | (a., p.)
erigir | erigido | (a., p.) | erecto | (p.)
extinguir | extinguido | (a., p.) | extincto | (p.)
frigir | frigido | (a.) | frito | (a., p.)
imprimir | imprimido | (a., p.) | impresso | (a., p.)
tingir | tingido | (a.) | tinto | (p.)

Nota 1. — Encontramos diversos outros verbos que tẽem ao
lado derivados da mesma base, os quaes apresentam em parte
caracter participal, todavia não entram na formação dos tempos
compostos da voz activa ou da passiva ; taes são os seguintes,
ao lado dos quaes pomos na segunda columna as formas usadas
na formação dos tempos compostos :

affeiçoar | affeiçoado | affecto
annexar | annexado | annexo
ignorar | ignorado | ignoto
manifestar | manifestado | manifesto
sepultar | sepultado | sepulto
suspeitar | suspeitado | suspeito
absolver | absolvido | absolto
absorver | absorvido | absorto
extender | extendido | extenso
nascer | nascido | nado (1)2
torcer | torcido | torto
contrahir | contrahido | contracto
opprimir | opprimido | oppresso
reprimir | reprimido | represso
submergir | submergido | submerso69

Nota 2. — O verbo intransitivo morrer tem dois participios
passivos morrido e morto. o segundo dos quaes não entra na formação
dos tempos compostos, mas tem os outros empregos dos
participios passivos : ex. Morto o bicho, está morta a peçonha.

5. Dos verbos defectivos

109. Como foi indicado na lista dos verbos irregulares
§ 107, alguns não são usados em todas as fórmas
dos modelos de p. 43, p. ex. : prazer, rehaver. Os verbos
que como esses não tẽem todas as fórmas chamam-se
defectivos.

Além dos já mencionados são defectivos os seguintes :

1) advir, colorir, descomedir-se, emollir, empedernir,
extorquir, fallir, florir, renhir, retorquir
, que só se
usam nas fórmas em que há i (correspondente ao i que
no infinito presente precede r) ; ex. : florimos, floris, floria,
florira, florirei, florisse, florir, florido
.

2) precaver e fremir, que só se empregam nas fórmas
em que os sons precav, frem, são seguidos de e ou
i ; ex. : precaves, precavemos, precavia.

3) soer, que só se emprega nas fórmas em que os
sons so são seguidos de e ou i ; ex. : soes, soemos,
soia
(1)3 ;

4) poder, que não se emprega no imperativo, porque
não se ordena a ninguem que possa.

D’algumas particularidades orthographicas
relativas aos verbos

110. Nos verbos irregulares da lista dada no § 107
não só ha modificações nas vogaes que não se observam
nos verbos regulares, mas ainda modificações nas consoantes,
p. ex. : dizer, dizes, dizemos, dizia, etc., ao lado
de diga, dizemos.

Nos verbos regulares as consoantes da base que no
infinito precede as terminações ar, er, ir não experimentam
70nenhuma modificação nas differentes fórmas, todavia
na orthographia observam-se as regras do § 73. Notaremos
só o seguinte :

1) Nos verbos em que ha os sons k, gh, escrevem-se
elles respectivamente c, g, quando occorrem antes
de a, o ou u e qu, gu, quando occorrem antes de e
ou i, ex. :

ficar | fiquei
ficas | fique
ficava | fiquemos
ligar | liguei
ligas | ligue
ligava | liguemos

2) Nos verbos em que ha o som j, escripto g, antes
de e ou i, escreve-se j quando occorre antes de a ou o :
ex. :

dirigir | dirijo
diriges | dirija
dirigi | dirijamos

3. Do substantivo

111. Os substantivos são :

1) Nomes proprios ou communs de pessoas ou coisas.

2) Nomes d’acções, estados, qualidade das pessoas
ou das coisas consideradas como se subsistissem por si,
(como se fossem coisas), e que podem ser precedidos de
artigos e exercer na proposição as mesmas funcções que
os substantivos d’aquelle primeiro grupo. Ex. : O estudo
(a acção de estudar) é proveitoso. A paz (o estado de
tranquillidade opposto à guerra) é um bem para os povos.
A inveja
(qualidade do que é invejoso) é um grande
defeito
.

112. Podem ser empregados como substantivos
todas as outras classes de palavras.

Exemplos :

1) Adjectivos : Devemos querer só o bem e o justo.

2) Numeral : Tres é um numeral. Dois e tres são
cinco. O tres é um numero fatidico
.71

3) Verbos : Amava é uma forma do verbo amar.
Os accordãos são resoluções de certas corporações judiciaes
ou administrativas que começam geralmente pela palavra
accordam
(isto é, resolvem).

4) Adverbios : Hontem é um adverbio. Não me cances
com os teus porquês
.

5) Preposição : Por é uma preposição. Os prós e os
contras
(o que é a favor e o que é contra uma coisa).

6) Conjuncção : Ou é uma conjuncção.

7) Interjeição : Oh é uma interjeição. De que te
servem os teus ais e os teus uis ?

Do numero

113. Os numeros, como vimos (§ 35-38) são
dois : singular e plural.

1) Comparemos as formas seguintes do singular
com os pluraes correspondentes :

casa / casas | avelã (avelan) / avelãs
cara / caras | hortelã / hortelãs
folha / folhas | sertã / sertãs
vela / velas | sachristã / sachristãs
grade / grades | botim / botins
golpe / golpes | clarim / clarins
pote / potes | festim / festins
torre / torres | jasmim / jasmins
bolo / bolos | dom / dons
dedo / dedos | som / sons
figo / figos | atum / atuns
salto / saltos | debrum / debruns
pá / pás | jejum / jejuns
maná / manás | pae / paes
tafetá / tafetás | lei / leis
colibri / colibris | rei / reis
javali / javalis | heroe / heroes
pó / pós | boi / bois
cipó / cipós | mãe / mães
filhó / filhós | armazem / armazens
ilhó / ilhós | vintem / vintens
bahú / bahús | pagem / pagens
perú / perús | jovem / jovens72

Regra phonetica. — A’s fórmas substantivas do singular
terminadas em vogal oral ou nasal, atona ou accentuada,
ou em diphthongo oral ou no diphthongo nasal ãe
(em) correspondem fórmas do plural que só divergem
d’aquellas em terem o som final s ou j atenuado ou z,
segundo as circunstancias (vid. § 73. B, 14-16.)

Regra orthographica. — As fórmas do plural correspondentes
ás referidas fórmas do singular escrevem-se
como as do singular juntando-lhe um s, e substituindo
n ao m nas que se escrevem no singular com esta letra
no fim.

Casos particulares. — A canon, cujo n final se pronuncia
como com soante (§ 73, B, 8) corresponde o plural
canones ; a ademan o plural ademanes ou ademães (raro).

2) Comparemos as fórmas seguintes do singular
em ão graves com os pluraes correspondentes :

accordão / accordãosouregão / ouregãos
benção / bençãosrabão / rabãos
frangão / frangãossotão / sotãos
morangão / morangãoszangão / zangãos
orphão / orphãosrabão / rabãos

Regra. — A’s fórmas substantivas do singular terminadas
em ão, não accentuado, correspondem fórmas do
plural que só divergem d’aquellas em terem a mais um
dos sons finaes que se representam por s.

3) Comparemos as fórmas do singular em ão agudas
seguintes com os pluraes correspondentes :

a) balão / balões | adoração / adorações
furão / furões | gratidão / gratidões
leão / leões | oração / orações
coração / corações | solidão / solidões
salmão / salmões | afflicção / afflicções

b) mão / mãos | grão / grãos
cortamão / cortamãos | chão / chãos
corrimão / corrimãos | fuão / fuãos
desvão / desvãos | turgimão / turgimãos
irmão / irmãos | pagão / pagãos

c) capitão / capitães | escrivão / escrivães
73allemão / allemães | pão / pães
catalão / catalães | massapão / massapães
capellão / capellães | tabellião / tabelliães
cão / cães | truão / truães
deão / deães | sachristão / sachristães
ermitão / ermitães | charlatão / charlatães

Regra. — A’ maior parte das fórmas substantivas do
singular em ão accentuado correspondem fórmas do plural
em ões ; a umas dez correspondem fórmas do plural
em ãos e a umas quatorze correspondem fórmas do plural
em ães.

Nota. — O uso relativamente ás fórmas das series b e c e
algumas outras raras não é inteiramente fixo.

4) Comparemos as fórmas do singular terminadas
em l dos substantivos seguintes com os pluraes correspondentes :

a) casal / casaes | jornal / jornaes
dedal / dedaes | quintal / quintaes

b) anzol / anzoes | paiol / paioes
caracol / caracoes | rouxinol / rouxinoes

c) paul / paues | taful / tafues

d) annel / anneis | coronel / coroneis
batel / bateis | pincel / pinceis

e) ardil / ardis | funil / funis
buril / buris | peitoril / peitoris

Regras. — a, b, c) A’s fórmas do singular dos substantivos
terminadas em al, ol, ul correspondem respectivamente
fórmas do plural em ais, ois, uis, (aes, oes,
ues
).

Nota. — Ás formas do singular consul, mal, cal, real (unidade
monetaria) correspondem respectivamente os pluraes consules,
males, cales, reis
.

d) A’s fórmas do singular dos substantivos terminadas
em el correspondem fórmas do plural em eis
(com e aberto).

e) A’s fórmas do singular dos substantivos terminadas
em il accentuado correspondem fórmas do plural
74em is e ás terminadas em il, não accentuado, correspondem
fórmas do plural em eis ; mas a reptil corresponde
o plural réptis.

5) Comparemos as fórmas do singular dos substantivos
seguintes terminadas em r em syllaba atona ou accentuada
ou num dos sons finaes que se representam por
s ou z, em syllaba accentuada :

a) flor / flores | colher / colheres
dor / dores | aljofar / aljofares

b) cós / coses | portuguez / portuguezes
nóz / nózes | francez / francezes
voz / vozes | inglez / inglezes

Regra. — A’s fórmas referidas do singular correspondem
respectivamente fórmas do plural em res ou zes (escripto
tambem ses).

Nota 1. — A carácter com o accento no segundo a corresponde
o plural caractéres com o accento no primeiro e.

Nota 2. Os nomes de povos como portuguez, francez escrevem-se
tambem em — ês : português, francês, a que correspondem
os pluraes escriptos portuguêses, francêses, etc.

6) Comparem-se as fórmas do singular dos substantivos
seguintes com os pluraes correspondentes :

a) alferes / alferes | ourives / ourives
caes / caes | pires / pires

b) simples | simples ou simplices
deus | deuses

c) appendix | (pron. appendiks) | appendices
index | (pron. indeks) | indices

d) calis ou calix | (pron. calis) | calis ou calices

Regra. — Os substantivos em que o som representado
por s final é precedido no singular de e atono,
tẽem em geral plural que não diverge do singular. Ficam
apontadas as excepções.

Nota. — Tambem se pronunciam appendis ou appendes, indes,
com um dos sons finaes que são representados por s.

7) Comparemos as fórmas do singular dos substantivos
seguintes, que terminam em o (u) e tem um o accentuado
75fechado na penultima syllaba, com os pluraes
correspondentes, taes como :

a) ôvo / óvos | ôsso / óssos
lôjo / lójos | ôlho / ólhos
carôço / caróços | trôco / trócos
jôgo / jógos | fôrro / fórros
pôço / póços | glôbo / glóbos
pôvo / póvos | fôlho / fólhos
fôrro / fórros | tôrdo / tórdos
miôlo / miólos | côrvo / córvos
côrpo / córpos | espôso / espósos
pescôço / pescóços | adôrno / adórnos

b) arrôcho / arrôchos | lôto / lôtos
cebôlo / cebôlos | môfo / môfos
chôco (mollusco) / chôcos | môno / mônos
gafanhôto / gafanhôtos | dôno / dônos
garôto / garôtos | mordômo / mordômos
garrôcho / garrôchos | môrro / môrros
môcho / môchos | nôjo / nôjos
gôrro / gôrros | pilôto / pilôtos
gôzo / gôzos | tômo / tômos
lôdo / lôdos | tôpo / tôpos

Uma parte d’esses pluraes tẽem o aberto, outra o
fechado correspondente ao o fechado da penultima syllaba
do singular.

114. Exequias e outros substantivos, entre os
quaes alguns designam objectos compostos de duas partes
eguaes, como calças, ceroulas, empregam-se só no
plural.

Por abuso é que se diz uma calça.

Trevas emprega-se quasi sempre no plural.

115. Ha substantivos que na fórma do singular significam
uma colleccção, um numero mais ou menos consideravel
de individuos d’uma classe, p. ex. : arvoredo,
batalhão, cardume, rebanho
 ; esses substantivos chamam-se
collectivos e empregam-se pela maior parte no
singular e no plural.

Os collectivos que designam um conjuncto unico na
sua especie só tẽem em rigor singular ; ex. : humanidade.76

116. No plural dos substantivos compostos d’uma
palavra que separada não exprime a relação de numero
(adverbio ou preposição) e d’um substantivo ou d’uma
fórma verbal e d’um substantivo só tem fórma do plural
o substantivo ; ex. : contra-veneno, contra-venenos, guarda-sol,
guarda-soes
.

O mesmo se dá no plural de diversos substantivos
compostos de adjectivo e substantivo que se acham muito
estreitamente unidos, ex. : preiamar, preiamares, em que
preia é um adjectivo, não usado independentemente, que
significa cheia.

Dos generos

117. Como vimos, § 43, distinguem-se nos substantivos,
como noutras classes de palavras, dois generos :
masculino e femenino.

Examinemos as fórmas masculinas e femeninas correspondentes
que divergem só pela terminação.

1) Em geral aos substantivos masculinos em o,
não accentuado, correspondem substantivos femeninos que só
differem d’aquelles por terminarem em a ; ex. :

adelo / adela coelho / coelha
cozinheiro / cozinheira | burro / burra
primo / prima | lobo / loba
menino / menina | pato / pata
lavadeiro / lavadeira | rato / rata

2) Aos substantivos masculinos em ão correspondem
femeninos em ona, ao, ana, ã, a ou eza ; da segunda
e quarta fórmas é que ha mais exemplos :

a) mocetão / mocetona
sabichão / sabichona
valentão / valentona (1)477

b) abegão / abegôa | furão / furôa
tabellião / tabelliôa | pavão / pavôa
leão / leôa

c) sultão / sultana

d) anão / anã | irmão / irmã
escrivão / escrivã
cidadão / cidadã | sachristão / sachristã
allemão / allemã | catalão / catalã

e) ladrão / ladra

f) barão / baroneza

3) Aos substantivos masculinos terminados em or,
correspondem femeninos em ora, ex. :

pastor / pastora | peccador / peccadora
professor / professora | escriptor / escriptora
leitor / leitora | esculptor / esculptora

Ha excepções como actor, actriz ; embaixador, embaixatriz ;
imperador, imperatriz ; prior, prioreza.

A alguns substantivos masculinos em or correspondem
duas fórmas femeninas, uma das quaes é em geral
mais usada que a outra ; lavrador, lavradora e lavradeira,
cantor, cantora e cantatriz
.

4) Aos substantivos masculinos em es (ez) correspondem
fórmas femeninas em esa (eza) ; exemplos :

camponez / camponeza | portuguez / portugueza
irlandez / irlandeza | arragonez / arragoneza
marquez / marqueza | francez / franceza

5) A diversos substantivos masculinos em e correspondem
fórmas femeninas em a ; exemplos :

elephante / elephanta | hospede / hospeda
estudante / estudanta (popular) | infante / infanta
filhote / filhota | mestre / mestra
governante / governanta | parente / parenta
monje / monja

5) Aos substantivos masculinos seguintes correspondem
fórmas femininas que se afastam das que temos
examinado :78

a) conde / condessa | abbade / abbadessa
visconde / viscondessa | alcaide / alcaidessa

b) principe / princeza | archiduque / archiduqueza
duque / duqueza

c) papa / papiza | propheta / prophetiza
poeta / poetiza | sacerdote / sacerdotiza

d) gallo / gallinha | rei / rainha

e) heroe / heroina | czar / czarina

f) frade / freira | pardal / pardoca
reo / ré | rapaz / rapariga
dom / dona | deus / deusa
judeu / judia | peru / perua
avô / avó

118. Aos substantivos masculinos seguintes e a
outros mais correspondem femininos que são primitivos
ou derivados de primitivos differentes dos dos masculinos :

bode / cabra | pae / mãe
carneiro / ovelha | compadre / comadre
veado / corça | padrinho / madrinha
macho (mulo) / mula | genro / nora
cavallo / egua | padrasto / madrasta
cão / cadella | frei / soror

119. Chamam-se communs de dois os substantivos
que não differem de forma entre o masculino e o feminino,
e cujo genero pode ser determinado por um artigo
ou outra palavra, ex. : o martyr, a martyr ; o jovem, a
jovem
.

120. Chamam-se sobrecommuns os substantivos
que tem um só genero, quer se refiram a individuos do
sexo masculino, quer do sexo feminino : ex. : Este homem
é uma testemunha do processo. Esta mulher é uma
testemunha do processo
.

121. Ha nomes d’animaes que tem sempre o mesmo
genero quer designem o macho, quer a femea ; taes são
tigre, rouxinol, anta. Esses nomes chamam-se epicenos.

Se quizermos indicar que se tracta do macho ou da
femea d’um animal que tem nome epiceno juntamos a
79palavra macho ou femea, ex. : o salmão macho, o salmão
femea
.

Dos augmentativos e deminutivos

122. Comparemos os substantivos seguintes :

rapaz | rapagão | rapazinho | rapazito
mulher | mulherona | mulherzinha | mulherzita
casa | casarão, casão | casinha | casita
rato | ratão | ratinho | ratito
abano | abanico
burro | burrico

Os nomes da segunda, da terceira e da quarta columna
são derivados dos da primeira.

Os nomes da segunda columna exprimem, em geral,
que a pessoa ou coisa que designam é de grandes dimensões,
de dimensões maiores que as ordinarias : chamam-se
substantivos augmentativos.

Os nomes da terceira columna exprimem que a pessoa
ou coisa a que se refere é de pequenas dimensões,
de dimensões menores que as ordinarias : chamam-se
substantivos deminutivos.

123. Os augmentativos e deminutivos são derivados
por meio de diversos suffixos, predominando nos
primeiros o suffixo masculino — ão, femenino — ona, e
nos segundos os suffixos masculinos — inho ou zinho, ito,
femeninos inha ou zinha e ita.

4. Do adjectivo

124. Vimos (§36) que os adjectivos indicam o
genero e o numero dos substantivos a que se ligam ou
a que referem como predicados.80

Do numero

125. A formação do plural dos adjectivos conforma-se
aos mesmos typos que achámos nos substantivos,
havendo a notar o seguinte :

1) A maior parte dos adjectivos terminados em ão
tẽem plural correspondente em ãos : ex. : são sãos, vão
vãos, loução louçãos
 ; exceptuam-se os nomes de povos,
que se empregam substantiva ou adjectivamente, catalães,
allemães
 : e alguns outros nomes semelhantes aque tẽem
plural em ões, como beirão beirões.

2) No plural de alguns adjectivos masculinos que
no singular terminam em o (u) e tẽem o fechado e accentuado
na penultima syllaba é aberto o o correspondente a
esse fechado.

Observa-se isso :

a) nos adjectivos terminados em oso, osos ; ex. :
famoso famósos ; ditôso ditósos ; pasmoso pasmósos.

b) nos adjectivos chôco chócos, grôsso gróssos, gôro
góros
, (tambem gôros), nôvo nóvos, pôrco pórcos, e nos
participios môrto mórtos, pôsto póstos
.

3) Nos compostos com adverbio ou preposição e
um substantivo ou adjectivo, só tem fórmas do plural o
substantivo ou o adjectivo ; ex. : incolor incolores, inapto
inaptos, semsabor semsabores
.

Do genero

126. Os adjectivos masculinos terminados em o
atono (u na pronuncia) precedido de consoante ou d’uma
das vogaes i ou u, em u precedido de consoante, em ão,
eo
(eu), ês (ez), or tẽem ao lado fórmas femininas correspondentes
diversas ; os adjectivos que tẽem outras terminações
são empregados ora como masculinos ora como
femininos, sem differença de fórmas.

Nota. — O genero dos adjectivos é determinado pelo dos
substantivos ou palavras equivalentes a substantivos a que se ligam
ou referem.81

127. As differenças entre as formas masculinas e
femininas dos adjectivos, quando as ha, conformam-se
em geral aos mesmos typos que as dos substantivos, havendo
a notar o seguinte :

1) Aos adjectivos masculinos terminados em o atono
(u), nas condições acima indicadas, correspondem fórmas
femeninas em a ; ex. : bello bella, alto alta, esguio
esguia, exiguo exigua
.

2) Aos adjectivos masculinos terminados em u precedido
de consoante correspondem femeninos em ua ;
ex. : cru crua, nu nua.

3) Aos adjectivos masculinos terminados em eu
correspondem femeninos em ea (pron. eia) ; ex. : hebreu
hebrea
 ; mas a judeu, sandeu correspondem judia, sandia.

4) Aos adjectivos masculinos em or correspondem
fórmas femeninas em ora ; ex. : encantador encantadora,
commendador commendadora
 ; mas as seguintes fórmas
empregam-se para os dois generos : incolor e outros compostos
de color (bicolor, tricolor, multicolor), semsabor,
junior, senior, posterior, anterior, inferior, superior, interior,
peor, melhor, deterior, ulterior, citerior, maior,
menor
.

5) Aos adjectivos masculinos em és (ez) correspondem
fórmas femeninas em esa (eza) ; vid. os exemplos
dados como substantivos p. 78 ; mas as formas cortez e
o seu composto descortez, montez, pedrez, soez, tremez,
terrantez
empregam-se para os dois generos.

6) Aos adjectivos masculinos terminados em o (u),
com o fechado e accentuado no singular na penultima syllaba,
a que correspondem pluraes com o accentuado
aberto, correspondem tambem fórmas femeninas do singular
e do plural com esse o aberto ; p. ex. : famôso famósos,
famósa, famósas
.

128. As fórmas adjectivas que tẽem terminações diversas
das indicadas no § 126 são empregadas, como
dissemos, para os dois generos ; ex. : homem só, intelligente,
82ruim, amavel ; mulher só, intelligente, ruim, amavel.
Exceptuam-se as seguintes masculinas : bom, mao,
hespanhol, andaluz
, a que correspondem as formas femeninas
boa, má, hespanhola, andaluza.

Dos adjectivos augmentativos e deminutivos

129. Ha tambem fórmas augmentativas e deminutivas
dos adjectivos, que apresentam os mesmos typos
que as fórmas substantivas da mesma natureza (§ 122), a
proposito das quaes já apontamos alguns exemplos. Eis
alguns novos : 1) augmentativos : soberbão, soberbaço de
soberbo, ricaço de rico, grandão de grande, fracalhão de
fraco
 ; 2) deminutivos : pequenino de pequeno, novinho de
novo, bonitinho, de bonito
.

Os deminutivos são empregados muitas vezes como
termos de carinho.

Dos graos de comparação

130. Examinemos as proposições seguintes : Lisboa
é grande. Lisboa é maior que o Porto. Paris é grandissima.
Londres é a mais povoada cidade da Europa
.

Na primeira proposição o adjectivo grande exprime
a qualidade referida a Lisboa, sem indicar o grao relativamente
a outro objecto. Na segunda proposição o
adjectivo maior refere a qualidade de grande a Lisboa
num grao mais elevado do em que ella é referida ao Porto ;
na terceira proposição o adjectivo grandissima refere a
Paris a qualidade grande considerada num alto grao ;
a expressão a mais povoada refere a Londres a qualidade
povoada no mais alto grao.

131. As fórmas adjectivas que exprimem simplesmente
a qualidade sem referencia a grao, sem comparação,
chamam-se positivas.

As fórmas adjectivas que exprimem a qualidade com
referencia a grao, com comparação, chamam-se graos
de comparação
.83

132. Os graos de comparação são : o comparativo
e o superlativo.

Em portuguez não ha senão um pequeno numero
de fórmas adjectivas comparativas simples, que não derivam
de positivos existentes na lingua, mas se consideram
como correspondentes a certos positivos, são :

melhor correspondente ao positivo bom
peor
[correspondente ao positivo] mao
maior
[correspondente ao positivo] grande
menor
[correspondente ao positivo] pequeno

Algumas fórmas como junior, que significa mais novo,
senior
, que significa mais velho, não são empregadas
como comparativos d’uso geral : essas duas servem só
para se juntarem a nomes proprios communs a filho e
pae, afim de os distinguir.

O comparativo exprime-se em geral fazendo preceder
o positivo do adverbio mais ; ex. : O Minho é mais bello
que o Alemtejo. A Serra da Estrella é mais alta do que a
de Cintra
.

133. Consideram-se tambem como comparativos
as ligações dos adjectivos positivos com os adverbios tão
e menos ; ex. : Portugal tem algumas partes tão bellas como
outras da Suissa. O Alemtejo é menos bello que o Minho
.

Dá-se o nome de comparativo de superioridade ao
que é expresso pelas fórmas particulares melhor, peor,
maior, menor
ou pelo adverbio mais com o positivo ; o
nome de comparativo d’egualdade ao que é expresso
pelo adverbio tão com o positivo ; o nome de comparativo
de inferioridade
ao que é expresso pelo adverbio
menos com o positivo.

Comparativo propriamente dicto é o primeiro.

Nota. — O comparativo que se chama de superioridade,
pode, emquanto ao sentido, ser realmente d’inferioridade, como
peor, menor.

134. O superlativo propriamente dito ou superlativo
absoluto
exprime a qualidade em alto grao.84

O superlativo absoluto pode ser derivado ou constituido
pelo adverbio muito (ou mui) e o positivo ; ex. :
grandissimo de grande, muito grande.

O suffixo caracteristico do superlativo absoluto é
issimo.

Na formação do superlativo absoluto ha que observar
o seguinte :

1) Aos adjectivos positivos terminados em al, il, u,
junta-se simplesmente o suffixo, ex. : natural naturalissimo,
habil habilissimo, cru, cruissimo
.

2) Aos adjectivos positivos terminados em vel correspondem
superlativos em bilissimo, ex. : notavel notabilissimo,
horrivel, horribilissimo
.

3) Aos adjectivos positivos terminados na vogal
nasal õ (escripta om) ou ũ (escripta um) correspondem
superlativos em que essa vogal tem por correspondentes
o ou u mais n consoante, seguido de issimo : ex. : bom
bonissimo, commum communissimo
.

4) Aos adjectivos positivos terminados em ão correspondem
superlativos em que esse diphthongo nasal
tem por correspondentes a mais n consoante, seguido
de issimo, ex. : são sanissimo, vão vanissimo.

5) Aos adjectivos positivos terminados em az, iz,
oz
, correspondem superlativos respectivamente em acissimo,
icissimo, ocissimo
 ; ex. : audaz audacissimo, feliz
felicissimo, veloz velocissimo
.

6) Aos adjectivos positivos terminados em e ou o
correspondem superlativos em que esse e ou o está representado
pelo i do suffixo issimo, ex. : excellente, excellentissimo,
alto altissimo
.

a) Ha superlativos que differem dos typos que acabamos
d’examinar ; taes são :

acerrimo [que corresponde ao positivo] acre
celeberrimo
[que corresponde ao positivo] celebre
asperrimo
[que corresponde ao positivo] aspero
liberrimo
[que corresponde ao positivo] livre
pauperrimo
[que corresponde ao positivo] pobre
85miserrimo [que corresponde ao positivo] misero
saluberrimo
[que corresponde ao positivo] salubre
amicissimo
[que corresponde ao positivo] amigo
christianissimo
[que corresponde ao positivo] christão
crudelissimo
[que corresponde ao positivo] cruel
dulcissimo
[que corresponde ao positivo] doce
fidelissimo
[que corresponde ao positivo] fiel
frigidissimo
[que corresponde ao positivo] frio
nobilissimo
[que corresponde ao positivo] nobre
sacratissimo
[que corresponde ao positivo] sagrado
facillimo
[que corresponde ao positivo] facil
simillimo
[que corresponde ao positivo] similhante

b) Ha alguns superlativos que correspondem pelo sentido
a positivos derivados d’outra base ; são :

maximo [que corresponde ao positivo] grande
minimo
[que corresponde ao positivo] pequeno
optimo
[que corresponde ao positivo] bom
pessimo
[que corresponde ao positivo] mao

c) Alguns dos referidos superlativos que se desviam dos
typos acima expostos tẽem ao lado outras fórmas conformes a esses
typos : assim ao lado de frigidissimo, amicissimo temos friissimo,
amiguissimo
.

d) Não se formam superlativos de todos os adjectivos.

O superlativo chamado relativo exprime-se em geral
por meio da ligação do artigo definido e do comparativo
de superioridade ou de inferioridade ; ex. : Camões é o
mais celebre dos poetas portuguezes. Portugal é a menor
nação da peninsula iberica
.

Nota. — Os superlativos maximo e minimo são quasi exclusivamente
empregados como superlativos relativos.

5. Dos numeraes

135. Os numeros cardinaes são os seguintes, cuja
formação é em parte facil d’analysar : um, dois, tres,
quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze,
quatorze, quinze, dezaseis, dezasete, dezoito, dezanove
,
86vinte, vinte e um, vinte e dois, etc. trinta, quarenta, cincoenta,
sessenta, setenta, oitenta, noventa, cem (e cento),
cento e um, etc, . até cento e noventa e nove, duzentos,
trezentos, quatrocentos, quinhentos, seiscentos, setecentos,
oitocentos, novecentos, mil, milhão, billião, trillião, quatrillião,
etc
.

A alguns d’esses ordinaes correspondem fórmas femininas ;
são : um uma, dois duas, duzentos duzentas, trezentos
trezentas, quatrocentos quatrocentas, quinhentos
quinhentas, seiscentos seiscentas, setecentos setecentas, oitocentos
oitocentas, novecentos novecentas
.

Outros empregam-se como verdadeiros substantivos
e tẽem fórma do plural ; são cento, milhão e os formados
por analogia de milhão ; ex. : dois centos d’oros, tres
milhões de cruzados
.

Nota 1. — Devem juntar-se aos numeraes as palavras ambos,
ambas
, que significam um e outro, uma e outra, etc., os dois, as
duas
.

Nota 2. — São considerados como puros substantivos e não
incluidos na classe dos numeraes diversas palavras que indicam
tambem numeros determinados, como duzia, grosa, cento, milheiro,
unidade, dezena, centena, milhar
. Os objectos de que essas
palavras exprimem o numero são precedidas da preposição
de ; ex. : uma duzia de lapis, um milheiro de pregos.

136. Os numeraes ordinaes tẽem fórmas masculinas
e femeninas do singular e do plural e são os seguintes,
cuja formação é em geral facil d’analysar e que damos
só nas fórmas masculinas : primeiro, segundo, terceiro,
quarto, quinto, sexto, septimo, oitavo, nono, decimo,
undecimo ou decimo primeiro, duodecimo ou decimo segundo,
decimo terceiro, decimo quarto
, etc., vigesimo,
vigesimo primeiro, vigesimo segundo
, etc., trigesimo,
quadragesimo, quinquagesimo, sexagesimo, septuagesimo,
octogesimo, nonagesimo, centesimo, ducentesimo, tricentesimo,
quadringentesimo, quingentesimo, sexcentesimo,
septingentesimo, octingentesimo, nongentesimo, millesimo,
millionesimo
, etc.87

Nota 1. — O elemento de derivação simo de vigesimo em
deante pronuncia-se com o som s e não z.

Nota 2. — Os ordinaes empregam-se tambem na designação
das partes da unidade, p. ex. : um sexto ou uma sexta parte, um
decimo
ou uma decima parte ; não de siz porem um segundo nem
uma segunda parte, um terceiro ou uma terceira parte, mas sim
um meio, um terço ou uma terça parte.

137. Ligam-se ainda aos numeraes as palavras que
exprimem multiplo e são formadas com o elemento plo :
duplo, triplo, quadruplo, quintuplo, sextuplo, octuplo,
nonuplo, decuplo, centuplo
.

Essas palavras chamam-se numeraes multiplicativos
e são empregadas como substantivos ou como adjectivos.

Como substantivos, tẽem só a fórma masculina dada
acima e o plural correspondente ; p. ex. : Qual é o duplo
d’este numero ? Quaes são os duplos d’estes numeros ?

Como adjectivos, tẽem fórmas masculinas e femeninas
do singular e do plural, p. ex. : numero duplo, quantidade
tripla, pesos quintuplos, partes quadruplas
.

6. Do pronome

138. Como vimos (§§27-33) ha pronomes pessoaes,
possessivos, demonstrativos, relativos, interrogativos e
indefinidos.

Dos pronomes pessoaes

139. Os pronomes pessoaes, alem das fórmas diversas
do singular e do plural e femeninas da terceira
pessoa dos dois numeros, tẽem outras que se chamam
casos e em que se apresentam segundo as funcções que
exercem na proposição.

Eis o quadro d’essas fórmas de caso, genero e numero :88

singular

tableau 1ª pessoa | eu | me | mim | migo | 2ª pessoa | tu | te | ti | tigo | 3ª pessoa | elle ella | o, a | lhe | 3ª pessoa | se | si | sigo

plural

tableau 1ª pessoa | nós | nos | nosco | 2ª pessoa | vós | vos | vosco | 3ª pessoa | elles ellas | os, as | lhes | 3ª pessoa | se | si | sigo

Nos pronomes da primeira e da segunda pessoa do
singular e do plural não ha distincção de generos.

Na terceira pessoa dos dois numeros ha as fórmas
masculinas elle, elles, o, os, e as femeninas ella, ellas,
a, as ; lhe
e lhes referem-se ou ao masculino ou ao femenino ;
as fórmas se, si, sigo não apresentam distincção
nem de genero nem de numero.

140. As fórmas se, si, sigo são chamadas pronomes
reflexos
, porque exprimem que a acção recahe
sobre o sujeito da proposição ou se refere a elle : ex. :
O sol escondeu-se por detraz do outeiro proximo. O avaro
quer tudo para si
.

141. Em quanto ao emprego das fórmas dos pronomes
pessoaes observaremos o seguinte :

1) Empregam-se como sujeitos as da primeira columna :
eu, tu, elle (ella), nós, vós, elles (ellas), do que
já démos exemplos.

2) Tu e vós empregam-se tambem como vocativos ;
ex. : Escutae, vós !

3) Todas as fórmas, excepto eu e tu, são empregadas
como complementos precedidos ou não de preposição.

a) Empregam-se como complementos directos sem
89preposição as fórmas da segunda columna ; me, te, o (a),
se, nos, vos, os (as), se. Ex. : Estimae-me. Vejo-te. Temo-o.
Quem nos procura ? Já vos ouvi. Ensina-os
.

b) Empregam-se como complementos sem preposição,
indicando objecto indirecto da acção, (complementos
indirectos), me, te, lhe, se, nos, vos, lhes, se, equivalendo
a a mim, a ti, a elle (a ella), a si, a nós, a vós, a elles
(a ellas), a si. Ex. : Dá-me o teu livro. Peço-te a tua attenção.
Quem nos acode ?

c) Empregam-se como complementos precedidos de
preposição as fórmas : mim, ti, elle (ella), si, nós, vós,
elles
(ellas), si, ex. : Fallam de mim. Eis o livro
d’elle
.

As fórmas migo, tigo, nosco, vosco são sempre precedidas
da preposição com (na fórma co para a primeira
pessoa) : comigo (co-migo), comtigo, comsigo, comnosco,
comvosco
.

142. Chama-se conjugação reflexa a serie das
fórmas d’um verbo transitivo ligadas ás fórmas dos pronomes
pessoaes que servem de complemento objectivo,
correspondentes ás que servem de sujeito, e as quaes
exprimem que a acção recahe sobre este.

As ligações do plural nessa conjugação exprimem
tambem a reciprocidade, isto é, que a acção se
exerce mutuamente entre os sujeitos ; p. ex. : Carlos e
Pedro estimam-se
(isto é, estimam um ao outro).

Modelo d’uma conjugação reflexa

Indicativo

presente

eu retiro-me
tu retiras-te
elle retira-se
nós retiramo-nos
vós retiraes-vos
elles retiram-se

preterito imperfeito

eu retirava-me
tu retiravas-te
elle retirava-se
nós retiravamo-nos
vós retiraveis-vos
elles retiravam-se90

preterito perfeito definido

eu retirei-me
tu retiraste-te
elle retirou-se
nós retiramo-nos
vós retirastes-vos
elles retiraram-se

preterito imperfeito indefinido

eu tenho-me retirado
tu tens-te retirado
elle tem-se retirado
nós temo-nos retirado
vós tendes-vos retirado
elles tẽem-se retirado

preterito mais-que-perfeito

eu retirára-me
tu retiráras-te
elle retirára-se
nós retiráramo-nos
vós retiráreis-vos
elles retiráram-se

preterito mais-que-perfeito composto

eu tinho-me retirado
tu tinhas-te retirado
elle tinha-se retirado
nós tinhamo-nos retirado
vós tinheis-vos retirado
elles tinham-se retirado

futuro imperfeito

eu retirar-me-hei
tu retirar-te-has
elle retirar-se-ha
nós retirar-nos-hemos
vós retirar-vos-heis
elles retirar-se-hão

futuro perfeito

eu ter-me-hei retirado
tu ter-te-has retirado
elle ter-se-ha retirado
nós ter-nos-hemos retirado
vós ter-vos-heis retirado
elles ter-se-hão retirado

Condicional

presente

eu retirar-me-hia
tu retirar-te-hias
elle retirar-se-hia
nós retirar-nos-hiamos
vós retirar-vos-híeis
elles retirar-se-hiam

preterito perfeito

eu ter-me-hia retirado
tu ter-te-hias retirado
elle ter-se-hia retirado
nós ter-nos-hiamos retirado
vós ter-vos-hieis retirado
elles ter-se-hiam retirado

ou

eu tivera-me retirado
tu tiveras-te retirado
elle tivera-se retirado
nós tiveramo-nos retirado
vós tivereis-vos retirado
elles tiveram-se retirado

Conjunctivo

presente

eu me retire
tu te retires
elle se retire
nós nos retiremos
vós vos retireis
elles se retirem91

preterito imperfeito

eu me retirasse
tu te retirasses
elle se retirasse
nós nos retirassemos
vós vos retirasseis
elles se retirassem

preterito perfeito indefinido

eu me tenha retirado
tu te tenhas retirado
elle se tenha retirado
nós nos tenhamos retirado
vós vos tenhais retirado
elles se tenham retirado

preterito mais-que-perfeito

eu me tivesse retirado
tu te tivesses retirado
elle se tivesse retirado
nós nos tivessemos retirado
vós vos tivesseis retirado
elles se tivessem retirado

futuro imperfeito

eu me retirar
tu te retirares
elle se retirar
nós nos retirarmos
vós vos retirardes
elles se retirarem

futuro perfeito

eu me tiver retirado
tu te tiveres retirado
elle se tiver retirado
nós nos tivermos retirado
vós vos tiverdes retirado
elles se tiverem retirado

Imperativo

presente

retira-te tu
retirae-vos vós

Infinito

presente

retirar-me eu
retirares-te tu
retirar-se elle
retirarmo-nos nós
retirardes-vos vós
retirarem-se elles

impessoal

retirar-se

preterito perfeito

ter-me retirado eu
teres-te retirado tu
ter-se retirado elle
termo-nos retirado nós
terdes-vos retirado vós
terem-se retirado elles

impessoal

ter-se retirado

Participio

presente

retirando-se

preterito perfeito

tendo-se retirado

Nota 1. — Como se vê do modelo precedente, no futuro imperfeito
do indicativo e no condicional presente os pronomes
complementos me, te, se, nos, vos, intercalam-se entre o elemento
d’essas formas do verbo identico ao infinito presente impessoal
92(retirar, no exemplo dado) e os elementos ei, ás, á, etc. ia, ias,
etc. que nesse caso se escrevem com h. Essa collocação do prenome
e esse modo d’escrever explicam-se pelo facto 1) do futuro
imperfeito ser formado pela ligação do infinito presente impessoal
com as fórmas do presente indicativo do verbo haver, com
modificação de som (suppressão de v e contracção (1)5 de ae em e
nas duas primeiras formas do plural, hemos por havemos e heis
por haveis. 2) do presente condicional ser formado pelo mesmo
infinito presente impessoal e as fórmas contractas do imperfeito
do indicativo do verbo haver : hia por havia, hias por havias, etc.

Em todos os casos em que os pronomes complementos seguem
as fórmas verbaes a que se ligam, são elles intercalados
entre os elementos do futuro imperfeito do indicativo e do presente
do condicional, ex. : Ver-te-hei amanhã. Procura-lo-hia hoje.

Nota 2. — Alguns verbos conjugam-se sempre exclusivamente
na conjugação reflexa e são chamados por isso verbos reflexos,
p. ex. arrepender-se, abster-se ; outros são exclusivamente
reflexos só em certas accepções, p. ex. lembrar-se.

143. Ao lado das formas o, a, os, as dos pronomes
complementos da terceira pessoa ha as fórmas lo,
la, los, las
, e no, na, nos, nas, que se empregam nos seguintes
casos :

1) Lo, la, los, las, a) quando precede uma forma
verbal terminada em r ou em j atenuado (excripto s ou
z), não se pronunciando então nem se escrevendo esses
sons sinaes, ex. vê-lo por ver-lo, ama-lo por amar-lo,
tem-lo
por tens-lo ; b) quando se segue aos pronomes
nos e vos e ao adverbio eis, cujo s final (s) não se pronuncia
então nem se escreve ; ex. : enviaram-no-lo, ei-los.

2) No, na, nos, nas quando precede forma verbal
terminada em diphthongo nasal, ex. : tem-no, vendem-nos,
viram-na
.

144. Não se pronuncia nem se escreve o e dos
pronomes me, te, lhe, se quando elles precedem os pronomes
o, a, os, as, indicando-se o logar do som supprimido
pelo signal chamado apostropho ; ex. : da-m’o,
ensina-lh’o
.93

Dos pronomes possessivos (1)6

145. Eis o quadro d’esses pronomes, que se empregam
ou ligados (como adjectivos) ou absolutos (como
substantivos), sendo nos dois casos muitas vezes precedidos
de artigos ; ex. : Este é o meu chapeu. Este chapeu
é meu. Este chapeu é o meu
.

Da 1ª pessoa sing. meu, meus, minha, minhas
plur. nosso, nossos, nossa, nossas

Da pessoa sing. teu, teus, tua, tuas
plur. vosso, vossos, vossa, vossos

Da pessoa sing. e plur. seu, seus, sua, suas

Dos pronomes demonstrativos (2)7

146. Eis o quadro d’esses pronomes :

1) Empregam-se ligados ou absolutos :

tableau masc. / este esta | esse essa | aquelle aquella | fem. / estes estas | esses essas | aquelles aquellas

2) Empregam-se absolutos sempre :

tableau masc. / isto | isso | aquillo / não tẽem fórmas femeninas nem pluraes correspondentes | o | a | os | as94

Nota 1. — Os pronomes isto, isso, aquillo equivalem respectivamente
a esta coisa, essa coisa, aquella coisa.

Nota 2. — Os pronomes o, a, os, as empregados demonstrativamente
equivalem a) a aquelle, aquella, aquelles, aquellas, sendo
seguidos d’uma expressão determinante ; ex. A provincia do Minho
é a que tem mais regelação entre as de Portugal
 ; b) a aquillo
na fórma masculina do singular, seguindo-se uma oração determinante
começando pelo pronome relativo que ; ex. O que aqui
está escripto não foi o que elle me disse
 ; c) a isso, tal, em certos
casos ; por ex. A creada parece diligente, mas não o é (não é tal,
não é diligente
). O meu amigo é incapaz de faltar no cumprimento
dos seus deveres ; creio-o firmemente
.

Nota 3. — Ao lado das formas o, os, a, as dos pronomes demonstrativos
ha as fórmas lo, los, la, las e no, nos, na, nas, que
occorrem exactamente nas mesmas condições que os pronomes
complementos da terceira pessoa d’identica fórma (vid. § 143).

Dos pronomes determinativos (1)8

147. Eis o quadro d’esses pronomes :

1) Empregam-se ligados ou absolutos :

tableau masc. / outro outros | mesmo mesmos | tanto tantos | fem. / outra outras | mesma mesmas | tanta tantas

Para ambos os generos

tal | taes

2) Emprega-se só absoluto o pronome masculino
que não tem femenino nem plural correspondente e significa
outra pessoa :

outrem

Nota. — Os pronomes demonstrativos este, esse, aquelle formam
com outro os pronomes compostos est’outro, ess’outro,
aquell’outro
, com formas correspondentes femeninas e do plural.95

Dos pronomes relativos (3)9

148. Os pronomes relativos são os seguintes :

1) Empregam-se absolutos sem distincção nem de
genero nem de numero :

que / refere-se a pessoas ou coisas | quem / refere-se a pessoas

2) Empregam-se absolutos ou ligados :

qual quaes — para ambos os generos.
quanto quanta quantos quantas — ligados.
quanto, masc. sing. — absoluto.

3) Empregam-se hoje só ligados (antigamente cujo
tambem absoluto) :

cujo cujos | cuja cujas

Nota 1. — Chama-se antecedente a palavra da oração precedente
a que se refere um relativo. Na ligação de proposições :
Merece louvor o menino que é diligente, o menino é na primeira o
antecedente do que da segunda.

Nota 2. — Podem ligar-se duas proposições numa das quaes
ha o relativo quem sem antecedente, equivalendo nesse caso a
aquelle que, aquella que, aquelles que, aquellas que ; ex. : Quem o
feio ama, bonito lhe parece (Adagio). Venero quem me ensina.

Nota 3. — Fóra d’esse caso, o pronome quem só se emprega
precedido de preposição ; ex. : O primeiro poeta portuguez foi Camões,
a quem as grandes nações tẽem prestado homenagem
.

Nota 4. — O pronome qual, quaes é ordinariamente precedido
do artigo definido ; ex. : Desejo muito ver Sevilha, a velha capital
da Andaluzia, da qual tenho tenho lido descripções
. Geralmente emprega-se
qual quando o antecedente não precede immediatamente,
para evitar confusões, e ainda noutros casos para evitar
repetições : p. ex. : Devemos amar a patria que encerra no seu solo
os ossos dos nossos paes e á qual estamos ligados por mil estreitos
laços
.96

Note-se o emprego de qual no seguinte exemplo e outros
semelhantes : Um pae repartiu os poucos bens que tinha pelos seus
tres filhos, a qual dá a ferramenta da lavoura, a qual a casa, a
qual uma pequena vinha
.

Nota 5. — O pronome cujo equivale a do qual, exprimindo
a preposição de a relação de posse ou outra semelhante, e é seguido
immediatamente do substantivo que designa o objecto possuido
ou em relação semelhante : ex. : Foi Affonso d’Albuquerque
o heroe cujos feitos lhe grangearam o epitheto de grande
.

Nota 6. — O pronome relativo quanto empregam-se em correlação
a) com o pronome determinativo tanto : ex. : Tanto possuem
mas quanto falta a outros
. b) com os pronomes todo ou tudo, expressos
ou subentendidos : ex. : Não devemos nunca esquecer quanto
devemos a nossos paes
.

Dos pronomes interrogativos

149. São os seguintes os pronomes interrogativos :

1) Empregam-se absolutos ou ligados :

que — para os dois generos e os dois numeros ;
qual, quaes — para os dois generos ;
quanto, quantos, quanta, quantas.

2) Emprega-se sempre absoluto :

quem — masculino singular.

Exemplos

Que livro tens ? Que versos leste ? Que cantiga ouviste ?
Que flores colheste ? Que dizes ? Quantas horas são ?
Quem falla ?

Dos pronomes indefinidos (1)10

150. São os seguintes os pronomes indefinidos :

1) Empregam-se ligados :97

todo, todos | toda, todas
algum, alguns
| alguma, algumas
nenhum, nenhuns
| nenhuma, nenhumas
certo, certos
| certa, certas

cada — para ambos os generos, singular
qualquer, quaesquer — para ambos os generos

2) Empregam-se absolutos :

image tudo | alguem | algo | ninguem | nada / masculino singular | cada um | cada uma | cada qual | quemquer / masculino e feminino / só singular

Nota. — Ha um certo numero de ligações de palavras que
tẽem sentido analogo ao dos pronomes indefinidos e se chamam
locuções pronominaes indefinidas ; taes são : seja quem fôr, seja
qual fôr, fosse quem fosse, quem quer que seja, quem quer que fosse,
o quer que é
.

7. Do artigo

151. Como vimos (§§41 e 42) distinguem-se duas
especies d’artigos : definido e indefinido.

Eis o quadro d’esses artigos :

definido | indefinido
o, a, os, as | um, uma, uns, umas

Nota 1. — O artigo definido, o pronome pessoal o, a, os, as e
os pronomes demonstrativos d’identicas fórmas não são só palavras
d’origem diversa, comquanto eguaes no som, mas são fundamentalmente
as mesmas palavras empregadas com funcções diversas ;
do mesmo modo um, uma são fundamentalmente o mesmo
que os numeraes d’identica fórma.98

Nota 2. — O artigo masculino o, os, une-se encliticamente
com a preposição precedente a : ao, aos. E’ incorrecto pronunciar
ó por ao, ós por aos.

O artigo femenino a, as, contrahe-se com a preposição precedente
a em á, ás.

Nota 3. — A ligação do artigo definido com a preposição
precedente per (com o mesmo sentido que por) apresenta-se na
fórma pelo, pelos, pela, pelas, (por per-lo, per-los, per-la, per-las),
sendo lo, los, la, las, a mesma fórma que já encontrámos ao tractar
dos pronomes pessoaes e demonstrativos.

Nota 4. — A ligação do artigo definido com a preposição
precedente em apresenta-se nas fórmas no, nos, na, nas (por em-no,
em-nos, em-na, em-nas
, sendo no, nos, na, nas as mesmas
fórmas que já encontrámos ao tractar dos pronomes pessoaes e
demonstrativos depois da fórma verbal terminada em vogal nasal).

8. Do adverbio (1)11

152. Os adverbios consideram-se emquanto á sua
significação e emquanto á sua formação.

1) Emquanto á significação ha adverbios :

a) De tempo : hontem, hoje, amanhã, cedo, tarde,
já, logo, ainda, antes, depois, sempre, nunca, jamais,
ora, então, quando
.

b) De logar : aqui, ahi, alli, acolá, cá, lá, aquem,
além, acima, arriba, abaixo, onde, avante, deante, atrás,
trás, algures, alhures
, (hoje fóra d’uso), nenhures, perto,
longe
.

c) De affirmação : sim, e varios outros que podem
entrar tambem na classe g.

d) De negação : não.

e) De quantidade : muito, pouco, assaz, bastante,
mais, menos, tanto, quanto, tão, quão, quasi, apenas
, e
alguns outros que como esses podem entrar tambem na
classe g.

f) De duvida : talvez, acaso, quiçá.99

g) De modo : assim, como, só, bem, mal, tambem,
fortemente
, e todos os formados com o elemento — mente.

h) De demonstração : eis, ex. : Eis o homem. Eis
Lisboa
.

2) Emquanto á formação os adverbios são simples
ou compostos, primitivos ou derivados. Exemplo :

a) adverbios simples e primitivos : já, antes, bem,
mal
 ;

b) compostos : depois (de e pois), quiçá (quem
sabe
), tambem (tão bem).

c) derivados : pertinho, diminutivo de perto, longinho,
diminutivo de longe.

Nota 1. — Os adverbios formados com o elemento mente, posposto
a uma fórma adjectiva feminina do singular, são compostos
em que a palavra mente perdeu o seu sentido de intenção para
vir a significar modo.

Esse processo de formação explica-nos como quando occorrem
ligados pela conjuncção e dois adverbios em mente, o primeiro
se reduz ao elemento adjectivo ; ex. : Fallou clara e elegentemente
(fallou claramente e elegantemente)
.

Nota 2. — Muitos adverbios, como bastante, na lista acima,
tem sua origem em fórmas adjectivas masculinas do singular,
que nesse caso perdem toda a referencia a genero e numero :
taes são : alto, barato, certo, conforme, rijo, claro.

Nota 3. — Melhor, peor, são empregados tambem como comparativos
adverbiaes. Podem exprimir-se em geral os graos de
comparação nos adverbios por meios similhantes aos que encontrámos
nos adjectivos. Exemplos :

a) comparativo : menos fortemente, tão fortemente, mais fortemente ;

b) superlativo : fortissimamente.

Nota 4. — Ha um certo numero de ligações de palavras que
tẽem o valor d’adverbios e as quaes se chamam locuções adverbiaes :
taes são : ás cegas, ás escuras, ás claras, á vista, a torto
e a direito, por cima, por baixo, até aqui, ante-hontem, transante-hontem,
emfim, debalde, em vão
.

Nota 5. — Alguns adverbios correspondem pela significação
a pronomes, p. ex. : aqui (neste logar) a este, ahi (nesse logar) a
esse, alli (naquelle logar) a aquelle. Dá-se-lhes o nome d’adverbios
pronominaes e dividem-se em : a) demonstrativos : aqui, ahi,
alli, acolá
 ; b) determinativos : então, tão : c) relativos : onde ; d)
interrogativos : onde ? quando ? como ? quão ?100

9. Da preposição (1)12

153. As preposições propriamente ditas são as seguintes :
a, ante, após, (pós), até, com, contra, de, desde,
em, entre, para, perante, per, por, sem, sob, sobre, trás
.

Nota 1. — No verso e na linguagem familiar a vogal nasal
da preposição com reduz-se por vezes á pura o, sendo seguida do
artigo definido, e havendo algumas vezes contracção com as fórmas
masculinas : ex. : co’os teus ou c’os teus por com os teus ; co’a mãe.

Nota 2. — A preposição de perde o e frequentes vezes quando
se liga a uma palavra que começa por vogal e indica-se então
a suppressão da vogal por meio d’um apostropho ; ex. : d’este,
d’aquelle, d’Almada
. A ligação d’essa preposição com o artigo definido
escreve-se sempre do, dos, da, das, não se pronunciando o e.

Nota 3. — A fórma antiga de em foi in, que como adverbio
nos apparece nos compostos incorrer, infundir, etc. tendo o n
sido pronunciado como consoante ; isso explica-nos as ligações
como neste, nesse, naquelle, num, etc., por em este, em esse, em um,
que tambem se dizem. Vid. § 151. nota 4.

Nota 4. — Sobre a ligação da preposição por com o artigo
definido, vid. § 151, nota 3.

154. Empregam-se com o valor de preposições algumas
fórmas adjectivas masculinas do singular, que
nesse caso perdem toda a referencia a genero e numero :
taes são : conforme, consoante, excepto, salvo. As fórmas
durante e mediante, que se usam como preposições,
não se empregam já como adjectivos, sobretudo a primeira.

155. Empregam-se com o valor de preposições um
certo numero de ligações de palavras, que se chamam
locuções prepositivas ; taes são : abaixo de, cerca de,
acima de, por cima de, afim de, além de, áquem de, á
roda de, ao redor de, defronte de, dentro de, depois de,
detrás de, deante de, junto de, longe de, perto de, de entre,
de sob, de sobre
.101

10. Da conjuncção (1)13

156. As conjuncções dividem-se em duas classes :
coordenativas e subordinativas.

As conjuncções coordenativas ligam palavras que
exercem egual funcção numa mesma proposição ou proposições
de assumpto analogo, isto é, da mesma natureza.

As conjuncções subordinativas ligam proposições
de natureza diversa, das quaes a que começa pela conjuncção
completa ou junta uma determinação á outra.

As conjuncções subordinativas não ligam em geral
palavras que não formam proposições.

157. As conjuncções coordenativas dividem-se em :

1) Copulativas, que ligam simplesmente : e, nem,
não, só, mas tambem, outrosim
.

2) Adversativas, que indicam opposição ou restricção :
mas, porém, todavia, comtudo.

3) Disjunctivas, que indicam exclusão ou alternativa :
ou, quer — quer, seja — seja, já — já, ora — ora,
quando — quando
.

4) Conclusivas, que indicam uma conclusão que
se tira da proposição precedente : logo, portanto, pois.

158. As conjuncções subordinativas dividem-se
em :

1) Condicionaes, que indicam condição : se, contanto
que, a não ser que, no caso que
.

2) Causaes, que indicam causa, razão, motivo :
que, porque, como, porquanto, visto que, pois que.

3) Finaes, que indicam o fim : que, para que, afim
que, porque
.

4) Concessivas, que indicam que as proposições
que abrem exprimem circumstancias que contrariam ou
102se oppõem ao que exprimem as proposições a que se
ligam, sem todavia impedirem que se dê : ainda que, se
bem que, apesar de que
.

5) Consecutivas, que indicam a consequencia do
que exprime a proposição precedente : que, de maneira,
de tal sorte que, de tal modo que
.

6) Temporaes, que indicam circumstancia de tempo :
quando, logo que, desde que, emquanto, entretanto
que, até que, depois que, antes que
.

7) Comparativas, que servem para exprimir a
comparação.

8) Integrantes, que indicam que as proposições
que abrem completam outras, sevindo de sujeito, de
predicado ou de complemento : que, se.

Nota 1. — As conjuncções subordinativas das classes 1 a 7
chamam-se circumstanciaes.

Nota 2. — Algumas conjuncções ora pertencem a uma classe
ora a outra, segundo o seu emprego ; taes são : que, pois, se ; p.
ex. : que é casual na primeira, final na segunda e integrante na
terceira das seguintes ligações de proposições : Calar-me-hei sómente
que o meu mal nem ouvir me consente
. (Camões). Tu que as
gentes da terra toda enfreias que não passem o termo limitado
,
(Idem). O mestre deseja que seus alumnos sejam applicados.

Pois é conclusiva na primeira e causal na segunda das seguintes
ligações de proposições : Os insectos tẽem seis pernas : a
mosca é pois um insecto. — Não temos que temer, pois estamos em
logar seguro
.

Se é condicional no exemplo já apresentado : Se hoje não
chover, iremos ao campo
, e integrante no seguinte : Diga-me se a
rã é amphibia
.

Como integrante se indica duvida, alternativa ou interrogação.

Nota 3. — Algumas conjuncções são simples, como mas ou
que : outras compostas, como porém, todavia, comtudo.

Algumas conjuncções sairam evidentemente d’outras classes
de palavras, como quer, seja, que são propriamente fórmas
verbaes : mas é sobretudo nos adverbios que se acha a origem
das conjuncções, como quando, logo, mas (antigamente mais), .

Nota 4. — Chamam-se locuções conjunccionaes as ligações
de palavras que tẽem o valor de conjuncções, como algumas acima ;
p. ex. : ainda que, apesar de.103

11. Da interjeição

159. As interjeições exprimem :

1) a dôr : ai ! ui !

2) o prazer : ah ! oh !

3) a admiração : ah ! oh !

4) o terror : ui ! uh !

5) o allivio : ah ! eh !

6) o desejo : oh ! oxalá !

7) a animação : eia ! sus !

8) o applauso : bem ! bravo !

9) a acclamação : viva !

10) a imposição de silencio : chiton ! psio ! caluda !

11) a instigação ou ordem de paragem, etc. aos
animaes : arre ! chô ! etc.

12) a aversão ou repugnancia : ih ! chi ! ff…

13) o apello : ó ! olá ! psit ! psiu !

14) a impaciencia : irra ! apre !

15) a interrogação : hein ?

16) a duvida, a suspeição : hum !

As creanças tẽem varias interjeições que lhes são
particulares.

Ha tambem interjeições imitativas de ruido, pancada,
como zás ! truz ! bumba !104

Terceira parte
Da formação das proposições

160. Do mesmo modo que as palavras, as proposições
dividem-se em simples e compostas.

Proposição simples é a que é constituida por uma
unica proposição : ex. : Carlos lê. Chove.

Proposição composta é a que é constituida pela ligação
de duas ou mais proposições simples ; ex. : Carlos
é o menino que lê. Carlos lê um livro que lhe deram,
porque deseja saber o que contém
.

A primeira d’essas proposições compostas é formada
de duas, a segunda de quatro proposições simples.

Chama-se independente a proposição simples que
não faz parte d’uma composta.

Uma proposição simples ou uma proposição composta
constituem em geral o que se chama periodo.

1. Da proposição simples

161. Na proposição simples temos de considerar :

A) Os elementos que a formam,105

B) O modo de ligação d’esses elementos.

C) A collocação ou modo de successão d’esses elementos.

A) Dos elementos da proposição simples

162. Sabemos já que os elementos fundamentaes
da proposição (simples) são duas palavras uma das quaes
se chama sujeito e outra predicado (§§ 4-7). Vimos tambem
já que a proposição póde ser reduzida a um só d’esses
termos ou elementos, mas que o predicado, quando
falta, se subentende facilmente, havendo porem proposições
cujo sujeito nunca é expresso, nem é facil muitas
vezes de se subentender. Aos casos de proposições sem
sujeito (§7) juntaremos ainda os seguintes :

c) as proposições constituidas pelo verbo haver na
terceira pessoa do singular seguido d’um complemento
directo, como : Ha vida nas grandes profundidades do
oceano. Entre os portuguezes houve traidores algumas vezes
 ;

d) as proposições com um verbo transitivo na
terceira pessoa do singular, seguido do se reflexo, sem
referencia a sujeito determinado ; ex. : Gosta-se de ser
louvado
 ;

e) as proposições com um verbo na terceira pessoa
do plural, sem referencia a sujeito determinado como :
Fazem barulho na rua. Estão rindo lá de cima.

As proposições das classes b (§7) c, d e e chamam-se
impessoaes.

163. Ha proposições de sujeito e predicado simples,
p. ex. : Carlos lê. o leão ruge e proposições de
sujeito duplo, triplo, etc. ou multiplo. Carlos e Pedro
leem
 ; proposições de predicado duplo, triplo, etc.
ou multiplo, como Carlos lê e escreve ; e proposições de
sujeito e predicado duplo, triplo etc. ou multiplo,
como Carlos e Pedro leem e escrevem.106

Nota. — Não ha nenhuma utilidade em decompôr as proposições
de sujeito ou de predicado ou de sujeito e predicado multiplos
em proposições coordenadas, cujo numero seja egual ao dos
sujeitos simples multiplicado pelo dos predicados simples.

164. A maior parte das proposições contẽem um
verbo ou mais d’um verbo no modo finito ; mas o verbo
em geral e o verbo no modo finito em especial não é
elemento imprescindivel da proposição, pois o predicado
pode ser expresso por outros meios (vid. §§ 4 e 26).

165. Indicaremos algumas classes de proposições
sem verbo ou pelo menos sem verbo no modo finito.

a) Proposições de caracter proverbial, como : Obra
começada, meia acabada
.

b) Proposições de caracter exclamativo ou interjectivo,
como : Bello homem ! ou Bello homem aquelle !
(Sujeito aquelle — predicado bello homem).

c) Proposições em que o predicado é um infinito
presente e que se subdividem ainda em diversas classes,
como :

aa) Proposições infinitivas imperativas ; p.
ex. : Andar ! Soffrer para formosa ser.

bb) Proposições infinitivas interrogativas ; p.
ex. : Para que perdermos o nosso tempo em leituras
banaes ?

Nota 1. — Sobre outras proposições em que o verbo está
numa fórma do modo infinito, vid. § 199.

Nota 2. — Não ha utilidade nenhuma em suppôr que as proposições
de que se occupa este § devem ser completadas com verbos
do modo finito, transformando assim modos de dizer expressivos
e completos por si.

166. Em diversas proposições que temos examinado
neste livro, vimos que além dos dois termos ou
elementos primarios (fundamentaes) expressos cada um
por uma palavra, o sujeito e o predicado, apparecem
outras palavras ou elementos secundarios, que juntam
determinações áquelles elementos primarios.

Os elementos secundarios podem ser tambem determinados
107por outros elementos e estes ainda por outros ;
p. ex. : D. Affonso Henriques, filho do conde D. Henrique
de Borgonha, foi o primeiro rei de Portugal
.

Dos determinantes do substantivo

167. O substantivo (ou expressão equivalente), quer
exerça a funcção de sujeito, quer a de predicado, quer
a de elemento secundario, pode ser determinado por

a) um outro substantivo ligado a elle sem intermediar
preposição ;

b) um adjectivo ou outra palavra empregada adjectivamente
e ligada immediatamente ao substantivo ;

c) um complemento com preposição (vid. §§ 49- 54).
Exemplos : Viriato, o valeroso capitão dos antigos lusitanos,
foi victima d’uma traição
.

Capitão, substantivo, determina Viriato e é determinado
pelo artigo o, pelo adjectivo valeroso e pelo
complemento dos lusitanos, sendo o substantivo lusitanos
determinado pelo artigo os e o adjectivo antigos ; o substantivo
predicado victima é determinado pelo complemento
d’uma traição, em que ainda separamos o substantivo
victima do artigo indefinido uma.

168. Chama-se apposto ao substantivo (ou expressão
equivalente) que determina outro substantivo (ou
expressão equivalente), sem se ligar a elle por meio de
preposição. No exemplo acima capitão é um apposto.

169. Chama-se attributo o adjectivo ou palavra
empregada adjectivamente (numeral, pronome, artigo)
que se liga immediatamente ao substantivo para o determinar.
No exemplo acima, os artigos e os adjectivos
valeroso e antigos são attributos.

Nota. — O apposto pode ser precedido d’uma conjuncção
ou d’um adverbio que lhe juntam determinação ; ex. : Camões
quando soldado, perdeu um olho. Portugal, como nação collocada á
beira-mar, no occidente da Europa, estara destinado a iniciar os
grandes descobrimentos geographicos modernos. Lisboa, fundação
talvez dos phenicios…
108

Dos determinantes do adjectivo

170. O adjectivo, quer como predicado, quer noutra
funcção, pode ser determinado por um adverbio ou
por um complemento com preposição ; ex. : O theatro
estara completamente cheio de espectadores
.

171. O adjecivo e o substantivo (ou expressão
equivalente), como predicado, são geralmente determinados
pelo verbo de ligação (vid. § 25), o qual não tem
nenhuma significação predicativa, servindo apenas, como
já dissemos, para indicar o tempo e a pessoa ; não pode
pois considerar-se o adjectivo ou o substantivo como
determinando esse verbo, mas sim ao contrario devemos
considerar esse verbo como juntando uma determinação
ao adjectivo ou substantivo a que se liga, o que
se dá p. ex. na proposição : Carlos era estudioso.

Dos determinantes do verbo

172. A diversos verbos intransitivos juntam-se como
determinantes adjectivos, substantivos ou expressões
equivalentes, referindo-se ao sujeito, do qual tem o genero
e numero ; taes são estar, ficar, permanecer, sair,
continuar
 ; ex. : Está alegre. Ficou contente. Parece triste.
O vinho d’esta vez saiu mao. Continua doente
.

Nota. — Todos esses verbos podem ser empregados sem determinantes
ou com determinantes d’outra natureza : a alguns o
determinante é mais necessario que a outros. Os adjectivos qeu
os determinam tẽem significado um tanto adverbial ; comparem-se,
por exemplo, as proposições : Este negocio parece-me bom e
Este negocio parece-me bem
. O sentido predicativo não se perde
nunca nesses verbos, que não pode dizer-se sequer que tenham
sentido indefinido, como succede no verbo ser em ligação com
um predicado expresso por adjectivo ou substantivo. Por exemplo,
parecer significa ter a apparencia de, apresentar-se como.

173. Diversos verbos transitivos na voz activa
tẽem em certos casos como determinantes, além do complemento
109objectivo, um adjectivo ou substantivo ou expressão
equivalente, que se refere ao mesmo tempo ao
complemento objectivo ; taes são fazer, tornar, julgar,
chamar, nomear, crer, suppor, considerar, achar
 ; ex. :
O sol faz a tez morena. As chuvas tornam os campos ferteis.
Achei-o triste
.

Nota. — A alguns d’estes verbos pode ligar-se o adjectivo ou
substantivo determinante por meio da conjuncção como, a outros
pela proposição por.

174. Os verbos mencionados no § precedente tẽem
tambem como determinantes adjectivos, substantivos ou
expressões equivalentes, referidos ao sujeito, quando estão
na voz passiva ou na conjugação reflexa ; ex. : A tez
faz-se morena com o sol. Ninguem pode ser considerado
verdadeiramente feliz
.

175. O adjectivo e o substantivo (ou expressão
equivalente) juntam-se ainda como determinantes a diversos
verbos, referindo-se ou ao sujeito ou ao complemento
directo, como qualificativo ; ex. : Vejo-te contente.
O dia amanheceu tempestuoso. A vida do homem
virtuoso deslisa serena
.

176. Aos verbos juntam-se varios complementos,
com ou sem preposição, dos quaes os principaes são :
1) O complemento directo, que se junta aos verbos
transitivos (§§ 49, 50 e 99) e que pode ser simples
ou multiplo ; ex. : O caçador matou uma perdiz. O caçador
matou uma perdiz e um coelho
.

2) O complemento indirecto, que é precedido da
preposição a (excepto quando é expresso por algumas
fórmas pronominaes, como notamos no § 141) e indica
o objecto indirecto da acção e pode tambem ser simples
ou multiplo.

Nota. — O complemento indirecto junta-se a verbos transitivos,
que tẽem portanto tambem complemento directo, e a verbos
intransitivos. Dos primeiros são : comprar, dar, entregar, ensinar,
mostrar, pedir
 ; dos segundos : acontecer, convir, obedecer,
pertencer, resistir, sobrevir
.110

177. Os verbos na voz passiva tẽem complemento
que exprime o agente e é precedido da preposição por
(vid. § 98. nota) ou, nalguns casos, da preposição de ;
p. ex. : O menino estudioso é amado por (ou de) seus
paes
.

178. Chamam-se em geral complementos circumstanciaes
todos os complementos alem dos referidos,
os quaes exprimem alguma circumstancia, tal como,
logar, tempo, instrumento, materia, companhia, fim,
causa, etc.

179. Aos verbos juntam-se tambem adverbios como
determinantes : ex. : Passeei hontem muito. Passo mal.
Estou bem. não sei
.

D’outros elementos secundarios da proposição

180. Alem dos determinantes dos substantivos,
adjectivos e expressões equivalentes e dos verbos, mencionaremos
os seguintes elementos secundarios da proposição :

a) O vocativo (vid. §§ 8 e 9).

b) A conjuncção, já ligando termos da mesma proposição,
já a proposição em que se acha a outra.

B. Da ligação dos elementos da proposição.

181. A ligação dos elementos da proposição faz-se
por :

a) Coordenação

b) Dependencia

c) Concordancia

a) Da coordenação

182. A coordenação dá-se sempre que ha elementos
seguidos que exercem a mesma funcção, quer estejam
expressas conjuncções coordenativas, quer não ; ex. :
111Carlos e Pedro estudam. Paris, Londres, Vienna, Berlim
são as principaes capitaes da Europa
.

A coordenação pode dar-se entre quaesquer elementos
da proposição que sejam da mesma natureza, quer
primarios, quer secundarios.

b) Da dependencia

183. Chama-se dependencia a relação entre um
complemento e a palavra a que se liga.

Exteriormente a dependencia exprime-se, como já
vimos, na maior parte dos casos pela preposição. O complemento
directo em geral e em certos casos alguns
complementos circumstanciaes não tẽem preposição (vid.
§ 54). Diversas fórmas pronominaes são sempre complementos
sem preposição (vid. § § 54, 141).

184. A dependencia entre um elemento da proposição
e um seu complemento é tanto mais intima quanto
o complemento fôr mais necessario para determinar esse
elemento a que se junta. Na proposição Carlos applica-se
ao estudo com perseverança
, a dependencia é mais intima
entre o verbo reflexo applica-se e o complemento
indirecto ao estudo que entre aquelle verbo e o complemento
circumstancial com perseverança.

185. Tẽem complementos : a) substantivos, p. ex. :
Filho de paes abastados ; uma jarra com flores ; b) adjectivos ;
p. ex. : cheio d’agua ; nocivo á saude ; c) pronomes ;
p. ex. : qual dos dois ; nenhum d’estes homens ; d)
verbos e fórmas nominaes-verbaes ; p. ex. : morto de fadiga ;
morto a tiro.

186. Nas locuções adverbiaes, preposicionaes e
conjunccionaes entram tambem complementos.

c) Da concordancia

187. Chama-se concordancia a correspondencia
de genero e numero ou de numero e pessoa entre diversos
112elementos da proposição : p. ex. : O bom Carlos
é estudioso. Estes dois meninos são estudiosos
.

188. Examinemos os casos mais importantes de
concordancia.

1) Concordancia do verbo (predicado ou verbo de
ligação) com o sujeito.

a) Quando o sujeito é simples, o verbo tem o mesmo
numero e pessoa que o sujeito ; ex. : Tu brincas.
Carlos estuda. Vós brincaes. Os meninos estudam
.

b) Quando o sujeito é multiplo, e todos os sujeitos
simples que o compõem são da terceira pessoa, o
verbo está na terceira pessoa, mas o seu numero depende
de alguma das seguintes circumstancias :

aa) Quando os sujeitos são todos do plural, o
verbo está no plural ; ex. : Os portuguezes e os
castelhanos colonisaram a America meridional
.

bb) Quando os sujeitos são todos do singular,
o verbo está em geral no plural, quando os segue,
e no singular ou no plural, quando os
precede ; ex. : Lisboa e Santarem erguem-se á
beira do Tejo. Costuma
(ou costumam) sair do
seu leito, no inverno, o Mondego e o Douro
.

cc) Quando os sujeitos são de numeros differentes,
o verbo está no plural, se os segue, mas
se os precede pode estar no singular no caso
de o sujeito que lhe fica mais proximo ser do
singular ; ex. : O sol e as estrellas fixas tẽem
luz propria. Abunda
(ou abundam) em Portugal
a laranja e outras fructas excellentes
.

c) Quando o sujeito multiplo é formado de sujeitos
simples de differentes pessoas, observa-se o seguinte :

aa) Se um sujeito é da primeira pessoa, o verbo
está na primeira pessoa do plural ; ex. : Eu e tu
somos portuguezes. Eu e elle estudamos inglez
.113

bb) Se, não havendo sujeito da primeira pessoa,
ha um da segunda, o verbo vae para a segunda
pessoa do plural ou para a terceira, como
é d’uso no sul do paiz ; ex. : Tu e elle mereceis
louvor ou Tu e elle merecem louvor
.

2) Concordancia do adjectivo (ou expressão equivalente),
como predicado ou determinante do verbo referido
ao sujeito, com o sujeito.

a) Quando o sujeito é simples, o adjectivo tem o
mesmo genero e numero que elle ; ex. : A rosa é bella.
As rosas são bellas. Esta libra parece falsa
.

b) Quando o sujeito é multiplo, o adjectivo está
no mesmo numero que o verbo e emquanto ao genero
observa-se o seguinte :

aa) Quando os sujeitos são do mesmo genero, o
adjectivo tem esse genero ; ex. : A modestia e a
prudencia são louvaveis
.

bb) Quando os sujeitos são de generos differentes,
o adjectivo tem o genero do sujeito mais
proximo, se está no singular, ou, geralmente,
o genero masculino, se está no plural ; ex. :
E’ nocivo o ocio e a inveja. E’ nociva a inveja e
o ocio. São nocivos o ocio e a inveja
.

3) Concordancia do adjectivo (ou expressão equivalente),
determinante do verbo transitivo e referido ao
complemento directo, com este complemento.

a) Quando o complemento directo é simples, o adjectivo
tem o genero e o numero do complemento ; ex. :
A filtragem por pó de carvão torna o vinho claro.

b) Quando o complemento directo é multiplo, o
adjectivo está geralmente no plural, se cada um dos
complementos que o formam é do singular, e sempre
no plural, se todos ou o mais proximo são do plural ;
ex. : A morte torna eguaes o pobre e o rico.

Emquanto ao genero observa-se o seguinte :114

aa) Se todos os complementos directos são do
mesmo genero, o adjectivo tem egualmente o
mesmo genero ; ex. : Creio proveitosas a gymnastica
e a musica
.

bb) Se são de generos differentes, o adjectivo
tem geralmente o genero masculino, se está no
plural, o genero do complemento mais proximo,
se está no singular ; ex. : Creio proveitosos a
musica e o desenho. Creio proveitosa a musica e
o desenho
.

Nota. — A concordancia dos adjectivos determinantes do
verbo e ao mesmo tempo qualificativos do sujeito ou do complemento
directo segue as mesmas regras que acabamos d’expôr relativas
ao adjectivo predicado ou determinante do verbo referido
ao sujeito ou ao complemento directo.

4) Concordancia do adjectivo, ligado como attributo
a um ou mais substantivos, com estes substantivos :

a) Se ha só um substantivo, o adjectivo que o qualifica
tem o mesmo genero e numero que elle ; ex. : Como
são agradaveis as tepidas manhãs da primavera !

b) Se ha mais d’um substantivo do mesmo genero,
o adjectivo que os qualifica tem esse genero e, emquanto
ao numero, é em geral do plural, se elles são do singular,
e sempre do plural, se elles são plural ou de numeros
differentes ; ex. : Eis trigo e centeio maduros (ou maduro).
A casa tem corredor e quartos largos. Lisboa tem
ruas e praças espaçosas
.

c) Se ha substantivos de generos differentes, o adjectivo
que os qualifica conforma-se ás seguintes regras :

aa) Se todos os substantivos são do plural, está
no plural e no genero do mais proximo ; ex. :
Vi homens e mulheres amarellas de tez. Vi mulheres
e homens amarellos de tez
.

bb) Se todos os substantivos são do singular,
está ordinariamente no singular e no genero do
mais proximo, quando o precede immediatamente
115no plural masculino nos outros casos :
ex. : Fugiram do combate com grande perda e
vergonha. Uma menina e um menino estudiosos.
Um cavallo e uma egua baios
.

cc) Se os substantivos são de numeros differentes,
está em geral no plural ; ex. : Os soldados
e o seu chefe, cheios de coragem
.

5) Concordancia do substantivo referido como predicado
ou ligado immediatamente como apposto a outro
ou outros substantivos.

a) Quando esse substantivo tem fórmas d’um só
genero, a concordancia dá-se só em o numero.

aa) Referido como predicado ou ligando-se immediatamente
como apposto a um só substantivo
tem o numero d’este ; ex. : O salmão é um
peixe. O falcão é uma ave. O falcão, ave de presa,
é educado para a caça chamada d’alteneria. Os
falcões são aves de presa
.

bb) Referido ou ligando-se immediatamente a
dois ou mais substantivos, quer estas sejam do
singular, quer do plural, está no plural ; ex. :
A aguia e o abutre são aves de presa. A ostra e
o polvo, molluscos d’agua salgada, servem de
alimento ao homem
.

Nota. — Muitos substantivos que tẽem fórmas só d’um genero
não seguem essas regras de concordancia : são substantivos
que não se empregam para classificar, como os dos exemplos acima,
os outros substantivos a que se referem, mas simplesmente
para lhes dar um qualificativo e significam principalmente qualidades,
estados, acções, collectividade ; ex. : D. Affonso Henriques
e D. Sancho I foram o terror dos mouros. Grecia e Roma foram
a vanguarda da civilização. Os portuguezes são um povo nobilitado
por feitos heroicos
.

b) Quando o substantivo referido como predicado
ou ligado immediatamente como apposto a outro ou outros
substantivos tem fórmas dos dois generos, a concordancia
dá-se no genero e no numero.116

aa) Referido como predicado ou ligado immediatamente
a um só substantivo, tem o genero e
numero d’este ; ex. : A experiencia é a grande
mestra da humanidade. Os livros são mestres
mudos
.

bb) Referido como predicado ou ligado immediatamente
a dois ou mais substantivos do mesmo
genero, tem a fórma do plural d’esse genero ;
ex. : D. Maria I e D. Maria Il foram rainhas
de Portugal. O conde D. Henrique e D. Affonso
Henriques foram os fundadores da independencia
de Portugal
.

cc) Referido como predicado ou ligado immediatamente
a dois ou mais substantivos de genero
differente, tem a forma masculina do plural,
ex. : D. Pedro IV e D. Maria Il foram os primeiros
reis constitucionaes de Portugal
.

C. Da collocação

189. A collocação ou successão dos elementos da
proposição chama-se tambem ordem.
A ordem pode ser directa ou inversa.

Ha ordem directa quando a successão dos elementos
é a seguinte :

1. Sujeito (com seus determinantes, havendo-os) ;

2. Predicado (com seus determinantes, havendo-os,
estando o verbo no primeiro logar).

Se o predicado é expresso por um nome adjectivo
ou substantivo (ou expressão equivalente), precede-o o
verbo de ligação na ordem directa.

Ha ordem inversa quando não se observa essa disposição.

Exemplo d’ordem directa : D. Manoel, o Venturoso,
reinava em Portugal ao tempo do descobrimento do caminho
maritimo da India
.117

Exemplo d’ordem inversa : Ao tempo do descobrimento
do caminho maritimo da India, governava em Portugal
D. Manoel, o Venturoso
.

190. A collocação deve ser dominada pela necessidade
de ser claro na expressão. Na nossa lingua ha
bastante liberdade compativel com essa necessidade. Assim
considera-se elegante a collocação do verbo antes do
sujeito, quando o sentido não fique obscuro.

191. Muitos elementos secundarios da proposição
tẽem logar sempre marcado nella. p. ex. : o artigo, que
precede sempre o substantivo que determina, os pronomes
relativos e a maior parte das conjuncções que abrem
as proposições em que se acham.

A collocação d’outros elementos secundarios pode
variar, mas em parte segundo regras determinadas ; é o
que se dá com os pronomes complementos, que ora precedem
ora seguem o verbo, segundo este é ou não precedido
de certas palavras, taes como pronomes relativos,
interrogativos e indefinidos, p. ex. : Quem te viu ? (e
não Quem viu-te ?) Ninguem m’o disse.

2. Da proposição composta

192. A proposição composta pode sê-lo :

A) por coordenação

B) por subordinação

C) por coordenação e subordinação ao mesmo
tempo.

A. Proposição composta por coordenação

193. A coordenação pode fazer-se sem conjuncção
ou conjuncções expressas ou com conjuncção ou conjuncções
expressas ; ex. : O sul e o occidente de Portugal
tẽem por limite o oceano Atlantico ; o leste e o norte entestam
com a Hespanha. A Serra da Estrella é a mais

118alta de Portugal e a Serra de Cintra é a mais pittoresca.

Vid. no § 157 as conjuncções coordenativas.

Nota. — A coordenação pode ser estabelecida por pronomes
correlativos ; ex. : Tal é o pae, tal é o filho. Qual o suppuz, tal o
achei
.

B. Proposição composta por subordinação

194. Na proposição composta por subordinação
chama-se proposição principal a simples que não é
subordinada ; as proposições subordinadas podem ser
chamadas secundarias.

São signal de subordinação ; 1) uma conjuncção
subordinativa expressa ou subentendida (vid. § 158) ;
2) um pronome relativo ; 3) um pronome interrogativo.

195. Além das proposições que apresentam qualquer
d’esses signaes, consideram-se como subordinadas :
1) as proposições constituidas por fórmas do infinito
e chamadas por isso proposições infinitivas ; 2)
certos participios com seus determinantes, que constituem
como proposições.

196. As proposições subordinadas estão para com
a proposição principal na relação de termos ou elementos
primarios ou secundarios, exercendo as mesmas
funcções que os elementos simples (palavras), excepto
as do verbo no modo finito.

Examinemos as seguintes proposições compostas :
1. Conheço que és bom. 2. E’ possivel que tenhamos bom
exito nesta empresa
. 3. O livro que lêmos é interessante.
4. Quando voltares, acharás grandes melhoramentos
nesta terra
.

Na primeira proposição, que és bom é o complemento
directo e equivale aproximadamente a a tua bondade ; na
segunda, que tenhamos bom exito é o sujeito e equivale
aproximadamente a o nosso bom exito ; na terceira proposição,
que lêmos é proposição subordinada de caracter
119qualificativo e equivale a uma expressão attributiva como
lido por nós ; na quarta proposição, quando voltares exprime
uma circumstancia e equivale a um complemento
circumstancial como á tua volta.

D’accordo com essas funcções diversas das proposições
subordinadas, dividem-se estas em : proposições
substantivas
, attributivas e adverbiaes.

197. As proposições substantivas, empregam-se
como sujeito, complemento directo ou indirecto, e outros
complementos, excepto os circumstanciaes ; tẽem
verbo no modo finito e abrem 1) por uma conjuncção
integrante, 2) por um pronome interrogativo, ou adverbio
pronominal interrogativo ; ou tẽem por verbo uma
fórma do modo infinito. Démos já acima exemplos de proposições
substantivas abrindo pela conjuncção que ; eis
outros exemplos d’essas proposições : Opponho-me a que
te canses inultimente. Não sei quem é o auctor d’este livro.
Dize-me qual d’estas estampas preferes. Desejo saber
o teu nome. E’ preciso estudar muito. Duvido de que venha
a dar-se direcção aos balões
.

198. As proposições attributivas equivalem a um
adjectivo empregado como attributo ou ainda a um apposto
e abrem por um pronome relativo ou adverbio
pronominal relativo e por isso se chamam tambem relativas ;
ex. : O Mondego, que nasce na Serra da Estrella,
desagua no oceano Atlantico
(= O Mondego, nascido na
Serra da Estrella
, etc.) O polvo, que é um mollusco
aquatico, serve d’alimento ao homem
(= O polvo, mollusco
aquatico
, etc.) A Suissa é o paiz da Europa onde
ha mais pittorescos lagos
.

199. As proposições adverbiaes exprimem circumstancias
diversas, equivalendo a complementos circumstanciaes
e abrem :

1) por um adverbio pronominal ; ex. : Lisboa está
situada onde o Tejo se alarga em golfo
 ;

2) por uma conjuncção circumstancial (vid. § 158)
e tẽem os mesmos nomes que essas conjuncções ;120

3) por uma preposição seguida do verbo no infinito ;
ex. : A cortiça boia á superficie da agua por ser
mais leve que esta. Guardam-se os ovos em salmoura para
não se corromperem
 ;

4) geralmente pelo participio na proposição chamada
participial ; ex. : Fallecido D. Sebastião, succedeu-lhe
no throno o cardeal D. Henrique. Tendo o imperador
de Marrocos Annasir ameaçado a Hespanha com um formidavel
exercito, ligaram-se contra elle os monarchas dos
diversos estados que então havia na peninsula. Em sendo
noite, voltaremos para casa
.

Nota 1. — As proposições infinitivas e as participiaes equivalem
a proposições conjunccionaes, isto é, abertas por uma conjuncção ;
assim as proposições apresentadas acima podem ser
substituidas pelas seguintes : A cortiça etc. porque é mais leve que
a agua. Guardam-se os ovos etc., para que não se corrompam. Como
tivesse fallecido
, etc. Como o imperador de Marrocos Annasir tivesse
ameaçado, etc. Logo que seja noite
, etc. (1)14

Nota 2. — Os participios passivos só constituem proposição
quando não estão ligados a um substantivo (ou expressão equivalente)
d’uma proposição que tem verbo proprio, e tẽem portanto
sujeito proprio : no caso contrario são simples attributos, como
nos exemplos seguintes : As obras escriptas por Camões são o maior
thesouro dos portuguezes. D. Affonso Henriques, ajudado por uma
armada de cruzados, conquistou Lisboa
.

Nota 3. — O participio do presente ou gerundio referido a
um substantivo (ou expressão equivalente) de proposição que tem
verbo proprio, deve ser considerado como complemento circumstancial,
ex. : O Nilo fertilisa os campos do Egypto, inundando-os.

200. Do mesmo modo que ha palavras que determinam
outras que são determinantes, ha proposições subordinadas
a subordinadas ; ex. : A raposa não quiz entrar
na cova do leão, porque observou que as pégádas dos

121outros animaes todas iam para dentro e não tornaram
para fóra
(A. Vieira).

C. Proposições compostas por coordenação
e subordinação

201. A coordenação pode complicar-se com a subordinação,
como no exemplo seguinte : Só é verdadeiro
senhor da fazenda quem sabe dar e repartir ; escravos são
d’ella os que a fecham e enthesouram
(Fr. L. de Sousa).

No § 200 ha um exemplo de subordinadas coordenadas
entre si.122

Appendice
De varios signaes empregados na escripta

202. Quando fallamos seguidamente, as palavras
não se succedem umas ás outras de modo uniforme,
mas ao contrario reunimo-las em grupos que se distinguem
e separam pelas differenças de tom e pelas pausas
de varia duração. O grupo principal de palavras no discurso
ou falla seguida é o periodo, que é em geral ou
uma proposição simples ou uma proposição composta e
termina na pausa principal indicada por um dos signaes
(.) ponto final, ( ?) ponto d’interrogação, ( !) ponto d’admiração,
a cada um dos quaes corresponde um tom diverso ;
ao primeiro o tom affirmativo ou enunciativo, ao segundo
o tom interrogativo, ao terceiro o tom admirativo,
imperativo, optativo, vocativo, etc., (vid. § 2).

O ponto d’admiração emprega-se tambem depois da
maior parte das interjeições.123

O ponto d’interrogação não indica uma pausa tão
grande como o ponto final, quando se acha no fim d’uma
proposição interrogativa a que se segue outra ou outras
proposições, na composta de que faz parte ; p. ex. : « Que
desejas ? » perguntou o rei a uma viuva que se lhe lançou
aos pés
.

203. As pausas menores do discurso são divididas
pelos signaes (, ) virgula, ( ;) ponto e virgula, e ( :) dois
pontos, que servem para separar as proposições parciaes
(simples) que formam o periodo ou alguns dos
elementos d’essas proposições.

1) Separam-se geralmente por virgulas : a) as proposições
subordinadas, excepto as substantivas e as relativas
que exprimem uma determinação essencial ; b)
as proposições coordenadas pelas conjuncções adversativas ;
c) os substantivos appostos, sobretudo se tẽem atributos
ou complementos ; d) os vocativos ; e) as proposições
participiaes ; f) as proposições intercaladas num
periodo, se não vão entre parentheses ; g) os elementos
coordenados d’uma proposição, se não estão ligados pelas
conjuncções e, nem, ou.

2) Separam-se por ponto e virgula : a) as proposições
causaes subordinadas a uma proposição extensa
ou a um complexo de proposições ; b) as conclusivas ; c)
os elementos coordenados d’uma proposição ou as proposições
coordenadas para as quaes não parece sufficiente
separação a pausa indicada pela virgula.

3) Separam-se por dois pontos : a) uma falla ou
sentença que se apresenta como dita ou escripta por alguem
e não é precedida da conjuncção que ou se ; ex. :
Camões escreveu : O sabio não vae todo á sepultura ; b)
uma enumeração d’objectos que formam um conjuncto
já designado por outra ou outras palavras ; ex. : As
principaes nações da Europa são as seguintes : França,
Allemanha, Inglaterra, Austria, etc
.

204. Os parentheses () servem para separar, encerrando-as,
palavras, phrases, proposições que se intercalam
124no discurso, e dão explicações, observações secundarias.

205. Os pontos de reticencia (…) exprimem que
se quer calar uma expressão, um nome, uma circumstancia,
etc., deixando á intelligencia do interlocutor ou
do leitor subentendê-la, ou que o discurso se interrompe
subitamente.

206. O apostropho (’) indica suppressão de lettra
ou lettras numa palavra.

207. O travessão (-) serve principalmente para
chamar a attenção do leitor para a palavra ou conjuncto
de palavras que precede ou para separar as fallas dos
diversos interlocutores no dialogo.

208. O hyphen ou risca de união serve : a) para
separar os elementos d’algumas palavras compostas ; p.
ex. : leite-creme (1)15 ; b) para intercalar entre os
monosyllabos encliticos e as palavras a que se ligam ; c) para separar
os pronomes complementos que se intercalam entre
os elementos das fórmas do futuro e do condicional ;
ex. : amal-o-hei ; dir-me-has ; d) para indicar no fim
d’uma linha que uma palavra nella começada termina
na linha seguinte.

209. As aspas (« ») ou virgulas dobradas (“ ”) servem
para separar trechos que se citam.125

Conclusão

Grammatica d’uma lingua é o conjuncto de sons,
d’elementos de formação de palavras e processos de sua
combinação, e processos de formação de proposições
d’essa lingua.

Chama-se tambem grammatica d’uma lingua a exposição
ou estudo do conjuncto d’esses factos que se
observam numa lingua.

Este livro é pois uma grammatica da lingua portugueza.

A grammatica comprehende tres partes :

Uma que trata dos sons e sua representação pela escripta
ou phonologia ;

Outra que trata da formação das palavras ou morphologia ;

Outra que trata da formação das proposições ou
syntaxe.

A grammatica (estudo) pode ter diversos fins.126

Na escola primaria estuda-se ella principalmente :
1° para levar os alumnos á primeira reflexão sobre a
linguagem, indispensavel para o conhecimento do que
somos ; 2° para facilitar a intelligencia do que outrem
diz ou escreve ; 3° para fallarmos e escrevermos em
conformidade com o uso correcto da lingua.

No ponto de vista pratico, o conhecimento da grammatica
da lingua, só ou combinado com o do vocabulario,
permitte que se evitem os dois principaes vicios de
linguagem : o barbarismo e o solecismo.

O barbarismo consiste no emprego de palavras estrangeiras
desusadas e desnecessarias na alteração, insolita
na linguagem das pessoas cultas, do sentido das
palavras nacionaes ou de sons de palavras nacionaes ou
no emprego de palavras mal formadas. O barbarismo
pode dar-se na lingua fallada ou na escripta.

O solecismo consiste na formação das proposições
simples ou compostos por processos que não são os proprios
da lingua.

Exemplos de barbarismo : a) vis-a-vis por fronteiro,
defronte
ou face a face ; b) influencia no sentido de afflluencia
ou ainda de enthusiasmo, gosto, como na phrase a
festa está causando muita influencia
 ; c) bober por beber ;
alcools por alcooes.

Exemplos de solecismo : o emprego no singular de
verbos na forma reflexa exprimindo a passiva, com sujeitos
no plural, como vende-se casas por vendem-se casas.127