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Lima, Luís Caetano de. Orthographia da Lingua Portugueza – T03

[Orthographia da lingua portugueza.]

Licenças
do santo officio.

Approvaçam do M.R.P.
M. Frey Manoel de Sequeira, Qualificador
do Santo Officio, &c.

Eminentissimo Senhor.

VI por ordem de V. Eminencia
este livro, cujo titulo he Orthographia
da Lingua Portugueza
,
composto pelo M.R.P. Dom
Luis Caetano de Lima, Clerigo Regular
da divina Providencia. Nelle mostra
o seu Author grandes noticias das
Linguas Lusitana, Franceza, Holandeza,
e Ingleza ; e o grande zelo, e trabalho,
com que pratica tudo o que
toca à Lusitana ; chegando a assinar
casos, em que nella se podem considerar
Tritongos ; e com muita clareza,
e erudiçaõ tudo o mais, que lhe pertence,
como materia propria de que
13trata. Naõ contém cousa alguma encontrada
a nossa Santa Fé ; e bons costumes ;
e assim me parece muito digno
da licença que se pede. V. Eminencia
mandará o que for servido. Lisboa
Oriental ; em Convento de N.
Senhora da Graça em 20. de Abril de
1736.

O M. Fr. Manoel de Sequeira.

Vista a informaçaõ, póde-se imprimir
o livro intitulado Orthographia
Portugueza
, Author o Padre
D. Luis Caetano de Lima ; e depois
de impresso tornará para se conferir,
e dar licença que corra, sem a qual
naõ correrá. Lisboa Occidental 20 de
Abril de 1736.

Fr. Rodrigo de Alanc. Teix. Sylva.
Cabed. Soares. Abreu.14

Do ordinario.

Póde-se imprimir o livro, de que se
trata, e depois de impresso tornará
para se conferir, e dar licença para que
corra. Lisboa Occidental 11. de Mayo
de 1736.

Gouvea.

Do paço.

Senhor.

Sendo os decretos de V. Magestade Oraculos
para o respeito, e obediencia :
este, pelo qual V. Magestade manda
censurar, e qualificar a Orthographia de Lingua
Portugueza, que compoz aquelle Heróe
mayor, que os maximos o Padre Dom Luis
Caetano de Lima, singular ornamento da sempre
illustre, e sapientissima Religiaõ dos
Clerigos Regulares da Divina Providencia ;
ainda que conserva inviolavel o sagrado do
respeito ; faz arduo, e difficultoso, o exercicio
da obediencia. Naõ he sacrificio a Veneraçaõ ;
15porque he suave o rendimento respeitoso
a hum Monarcha, que nem vio, nem
verà o Mundo igual, ou semelhante : mas
he penozo holocausto obedecer, cativando
o juizo, a razaõ, e o discurso, por violar
os preceitos da Magestade. O discurso, a razaõ,
e o juizo estaõ dictando, que a alta, e
inaccessivel comprehençaõ de V. Magestade
naõ podia eleger para Mestre de todos os
idiomas, quem se presumisse capaz de censura,
e qualificaçaõ ; e exercitando-se estas nas
obras, que pertende-dar à Luz publica o
Mestre, jà fica aquella nomeaçaõ escrupulosa
na capacidade, de quem a obteve : so a este
illustre Varaõ julgou V. Magestade digno de
ensinar a fallar bem em todas as linguas ; e
agora, quando ordena, se qualifiquem, e
censurem os perceitos, com que se ha de reduzir
a acto as suas doutrinas, na Portugueza;
parece duvidar do irrefragavel, e cientifico
dos seus egregios dictames : e esta ordenaçaõ
se refunde perplexidade do talento do
Mestre, tambem impoem injuria no sacro character
do soberano ; e para obviar hum, e
outro precipicio, bastava por aprovaçoõ do
livro o nome do seu Author, como quem
era creatura da elevada prespicacia de Vossa
Magestade neste emprego.

Tem empregado os seus grandes estudos
16este doutissimo Mestre em nos ensinar com
primor varias linguas estranhas, e agora pertende
aprefeiçoar a nacional com huma nova
Arte, na sua mais propria, e genuina Orthopraphia
e este he o mayor serviço, e
obsequio, que podia fazer à Coroa, e Vassallos
de V. Magestade ; porque sempre dà grandes
lustres ao diadema do Soberano a attençaõ
ao bem publico. O bem, que facilmente
ha de alcançar com esta Orthographia a naçaõ
Portugueza, he ser igual, e uniforme
na pureza de fallar, e no acerto de escrever ;
e estas prerogativas, que faltaõ ao idioma
neste seculo o mais estimado, ou seja vicio,
ou indigencia, tem só a lingua Latina, e a
que com pouca corrupçaõ devemos crer,
que tambem o he a Lusitana. Mas para se exercer
com perfeiçaõ, devem-se observar exactamente
no fallar, e escrever, os dictames,
os preceitos, e as regras desta Orthographia.
Sem ella será o Portuguez xarro, rustico, barbaro,
e grosseiro : com ella será polido, aceado,
e limado ; e sendo estes relevantes attributos
no Padre Dom Luis Caetano de Lima
taõ naturaes, que parece o constitutivo
formal do seu singular genio, e engenho ; saõ
tambem o esmalte das boas, e bellas letras
com que se exorna ; os quaes com facil negocio
acharáõ, e conseguiraõ todos os Vassallos
17de V. Magestade com esta purissima Orthographia.

Até que V. Magestade empunhou o Cetro,
cingio a Coroa, e occupou o Trono para
immortal gloria dos seus Vassallos, assombro
dos Principes estrangeiros, e pasmo de
todo o uniuerso, foraõ em Portugal todos os
seculos de ferro na locuçaõ, e escritura ;
porém tanto que principiou a moderar as
redeas do Imperio hum Rey taõ Augusto, e
taõ Aureo, como adoramos a V. Magestade,
logo floreceo felizmente nos seus dominios
do fallar, e escrever a idade de ouro, que
possuimos. Naõ saõ adulaçoens lizongeiras,
ou hyperboles chymericos as verdades infalliveis,
que profiro, pois as testemunhaõ, e
ratificaõ ver, e comparar os antigos, e
modernos escritos ; as velhas, e novas composiçoens
; porém para que se immortalise,
e perpetue esta gloria, e felicidade, me parece
deve V. Magestade mandar se estampe em
Laminas de diamantes esta Orthographia ;
pois quem a observar, e seguir, em qualquer
estylo, que se empenhe, ha de dizer, e escrever
com certeza, ornato, e gravidade.

Ficando assim eternamente utilisada a Republica,
e V. Magestade em tudo bem servido :
mas como sempre V. Magestade he o supremo
Senhor, mandará o que quizer, e lhe
18parecer, para ser mais que bem servido. Lisboa
Occidental Convento da Boahora dos
Agostinhos Descalços 4 de Mayo de 1736.

Fr. Antonio de Santa Maria,19

Que se possa imprimir vistas
as licenças do Santo Officio,
e Ordinario, e depois
de impresso tornará a esta Mesa
para se conferir, e taixar, e dar
licença para correr, sem a qual
naõ correrá. Lisboa Occidental.
4. de Mayo de 1736.

Pereira. Teixeira.20