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Condurú, Filippe Benicio de Oliveira. Grammatica elementar – T01

Grammatica elementar
da
lingua portugueza.

Grammatica Portugueza é a arte que ensina a fallar,
escrever e ler com acerto a lingua portugueza.

Divide-se em quatro partes que são — Etymologia, Prosodia,
Orthographia, e Syntaxe.

A Etymologia distribue todas as palavras em certas
classes, segundo suas differentes propriedades.

A Prosodia ensina a pronunciar as palavras com o seu
devido som e accento.

A Orthographia ensina a escrever correctamente as
palavras.

A Syntaxe ensina a ordem e regras pelas quaes as palavras
devem ser empregadas na oração.5

Capitulo I.
Da etymologia.

As palavras, segundo suas differentes propriedades,
dividem-se em sete classes, denominadas partes da oração,
a saber : Substantivo, Adjectivo, Verbo, Preposição,
Adverbio, Conjuncção
, e Interjeição. (1)1

I. Do substantivo

Substantivo é a palavra pela qual conhecemos as pessoas
ou cousas, quer estas sejam corporeas, como — Terra,
Mar
 ; quer incorporeas, como — Virtude, Amizade.
Divide-se o substantivo em proprio e appeltativo.

Substantivo proprio é o que convem a uma só pessoa
ou cousa, como — Virgilio, Brazil.

Substantivo appellativo é o que convem a muitas pessoas,
ou cousas da mesma especie, como — Homem, Planta,
Belleza
.

Chama-se collectivo o appellativo que no singular representa
muitos objectos, como — Familia, Rebanho.
Divide-se o collectivo em geral e partitivo.6

Collectivo geral é o que exprime collecção inteira, como
Exercito, Quarteto, Dezena.

Collectivo partitivo é o que exprime parte de multidão,
como — Porção, Terço, Quarto.

O substantivo toma o nome de augmentativo, quando
exprime com augmento o objecto que elle representa, como
Homemzarrão, Trompão, Violão ; e o de diminutivo,
quando exprime o mesmo objecto com diminuição, como — Homemzinho,
Trompinha, Violinha
.

II. Do genero do substantivo

Genero é a propriedade que tem o substantivo de representar
a differença do sexo. Ha por consequencia dois
generos — o masculino e o feminino.

Ao genero masculino pertencem : — 1.° Os substantivos
que significam macho, quer sejam proprios de homem,
como — Pedro, João ; quer sejam appellativos de bruto,
como — Boi, Carneiro, Leão ;

2.° Os nomes proprios de mares, rios, montes, ventos
e mezes, como — Atlantico, Amazonas, Itacolumin,
Norte, Janeiro
 ;

3.° Os appellativos que significam titulos de dignidades,
empregos e oflficios proprios de homem, como —
Imperador, Marquez, Desembargador, Carpina.

Ao genero feminino pertencem : 1.° Os substantivos
significam femea, quer sejam proprios de mulher, como
Carolina, Rosa ; quer sejam appellativos de bruto, como
Leôa, Ovelha ;

2.° Os nomes proprios das cinco partes do mundo, e os
7de grupos de ilhas, como — Europa, Asia, Africa, America,
Oceania, Açores, Lucaias
 ;

3.° Os appellativos que significam titulos de dignidades,
empregos e officios proprios de mulher, como — Imperatriz,
Marqueza, Camareira, Costureira
 ;

4.° Os nomes de sciencias e artes, como — Theologia,
Medicina, Pintura
.

Chamam-se communs de dois os substantivos que, com
uma só terminação, significam ambos os generos, como — Infante,
Martyr, Virgem
.

Chamam-se epicenos os nomes de animaes que, com
a mesma terminação e um só artigo, significam macho e
femea, como — Aguia, Cotia, Sabiá, Tatú.

* (1)2 Os substantivos que significam cousas inanimadas
não deveriam ter genero, porque só os entes animados
podem ter sexo ; com tudo são classificados arbitrariamente,
uns no genero masculino, outros no feminino pelo
uso da lingua, que facilmente os fará distinguir.

III. Do adjectivo

Adjectivo é a palavra que exprime as qualidades do
substantivo, ou o representa de um modo determinado,
como — O menino docil é estimado de seus mestres. Divide-se
o adjectivo em determinativo e qualificativo. (2)38

Dos adjectivos determinativos.

Adjectivos determinativos são os que determinam os
appellativos, fazendo consideral-os de um modo particular.
Dividem-se os determinativos em artigos, pronomes (3)4
pessoaes, demonstrativos, e qualificativos.

1.° Artigos são os determinativos que se antepõem aos
appellativos para indicar que a sua significação geral é
tomada em sentido individual. A lingua portugueza tem
9dois artigos, que são — o indefinido um, uma, e o definido
o, a.

O artigo indefinido se applica aos appellativos que exprimem
individuos indeterminados, como Um filho deve
ser obediente a seu pai.

O artigo definido é sempre applicado aos appellativos
que denotam individuos conhecidos ou determinados,
como : O filho do professor é meu amigo.

* Tambem serve este artigo para substantivar quaesquer
partes da oração, e mesmo orações inteiras, como :
O justo, o porque, o amar a Deus sobre todas as cousas
é o primeiro de nossos deveres.

2.° Pronomes Pessoaes são os determinativos que na
oração representam as pessoas que fallam, a quem se
falla, e de quem se falla, ou cousas tomadas no sentido
de pessoa, e são trez :

Eu no singular, nós no plural ; que designa as pessoas
que fallam.

no siugular, vós no plural, que designa as pessoas
a quem se falla.

Elle, ellas no singular, elles, ellas no plural, quo designa
as pessoas de quem se falla.

Estes determinativos variam de terminações dentro do
mesmo numero, quando são regidos do preposição ou
verbo, e por isso se chamam tambem declináveis ou variaveis.
São variações :

No singular. | No plural.
De Eu : mim, me, migo, | Nós, nos, nosco,
10De Tu, ti, te, tigo, | Vós, vos, vosco,
De Elle, ella : lhe, o, a, | Elles, ellas, lhes, os, as,
e as reflexivas de ambos os numeros — si, se, sigo. (4)5

3.° Determinativos demonstrativos são os que mostram
as pessoas ou cousas de que fallamos, como : Esta
casa é d’aquelle homem que encontramos, e á cuja bondade
tanto devemos. Dividem-se em demonstrativos puros,
possessivos
, e relativos.

Demonstrativos puros são os que se applicam a objectos
presentes á vista ou á imaginação, como : Esse livro, esta
meza, aquelle quadro. São demonstrativos puros — este,
esta, isto ; esse, essa, isso ; aquelle, aquella, aquillo, o
mesmo, a mesma
 ; e os compostos — est'outro, est´outra :
ess'outro ess’outra ; aquell´outro, aquell´outra, este mesmo

&.

Demonstrativos possessivos são os que designam objectos
pertencentes ás pessoas que, a quem ou de quem se
falla, como ; Meu genio é differente do teu. Seu direito
(fallando-se de Pedro) é tão duvidoso como vossas razões.
O saber é o unico thesouro cujo (5)6 valor o uso augmenta.

Os demonstrativos possessivos são : meu, minha ; derivado
11de me, mim ; teu, tua, derivado de te, tu ; seu, sua,
derivado do se ; nosso, nossa, derivado de nós ; vosso,
vossa
, derivado de vós ; cujo. cuja, derivado de que. Os
primeiros podem chamar-se possessivos pessoaes, o o ultimo
possessivo relativo.

Demonstrativos relativos são os que se referem a
pessoas, a cousas, ou a juizos enunciados em frase antecedente,
como : Foi Colombo quem descobriu a America.
— O tempo, que tão breve passa, é precioso ; aproveita o :
a vida é curta, bem o sabes. São demonstrativos relativos — o,
a, que, quem, o que, a que, o qual, a qual.

* Os demonstrativos puros, e os possessivos pessoaes
tornara-se tambem relativos quando, em vez de precederem,
referem-se a substantivos expressos antecedentemente,
como : Pedro e Paulo estudaram commigo, este
em Portugal, aquelle em França. — Vossa obra está concluida :
a minha logo acabarei.

* Os demonstrativos relativos são chamados interrogativos,
quando por meio delles fazemos alguma pergunta,
como : Quem poderá enumerar as perfeições de Deus ?
Qual será o nosso fim ? Que me dizes ?12

4.° Determinativos quantitativos são os que ajuntam
á significarão do appellativo uma idéa de quantidade,
como : Todo o homem é mortal. Ninguem (ou nenhum
homem) é perfeitamente sabio. Dividem-se em universaes,
partitivos
e numeraes.

Quantitativos universaes são os que fazem comprehender
na significação do substantivo todos os individuos
de sua classe, como : A alma é racional. Nenhum cidadão
deve eximir-se de servir a patria. São quantitativos (universais
o, a (6)7 : todo, toda, tudo, nenhum, nenhuma,
ninguem, nada ; quemquer, qualquer, cada
, e seus compostos — cadaum,
cadauma
, cadaqual.

Quantitativos partitivos são os que fazem comprehender
na significação do substantivo somente uma parte
dos individuos da sua classe, como : Alguns amigos me
visitaram. Certas pessoas desejam ver-te. São quantitativos
partitivos — só, tal, um , uma, certo, certa, muito,
muita
 ; infindo, infinda : pouco, pouca : tanto, tanta :
quanto, quanta ; ambos, ambas ; os mais, as mais. algum,
alguma
 ; alguem, algo ; outro, outra ; outrem, al.

Quantitativos numeraes são os que exprimem numeros.
Dividem-se em cardinaes e ordinaes.

Numeraes cardinaes são os que exprimem numeros
simplesmente, como — um, dous, trez, &.13

Numeraes ordinaes são os que exprimem numero por
ordem, como — primeiro, segundo, &.

Dos adjectivos qualificativos

Adjectivos qualificativos ou attributivos são os que exprimem
qualidades ou attributos do substantivo, como :
Sol brilhante. Torra fertil. Entre os qualificativos distinguem-se
os gentilicos, os patrios, e os participios,
Adjectivos gentilicos
são os que mostram a gente de
que alguem procede, ou a nação a que alguma pessoa ou
cousa pertence, como : Estirpe bragantina, Cidadão brasileiro.

Adjectivos patrios são os que mostram a patria donde
alguem é natural, como — paraense, maranhense.

Participios são os adjectivos que se derivam dos verbos,
e dos quaes conservam alguma propriedade, como :
Tendo concluido teu trabalho, serás recompensado.

O adjectivo attributivo, segundo o gráo em que exprime
a sua significação, é ou positivo, ou superlativo;
e ambos podem ser absolutos, ou comparativos.

O positivo absoluto é o que exprime o attributo do
substantivo simplesmente, como : Homem justo. Mulher
amavel.

O positivo-comparativo é o que exprime a qualidade
de um substantivo em igual, maior, ou menor gráo que
a de outro, como : A vingança ó ignobil (ou tão ignobil)
como
a lisonja. A sabedoria é mais estimavel que a riqueza, ou
riqueza é menos estimavel que a sabedoria. (7)814

O superlativo absoluto é o que exprime em gráo muito
elevado a qualidade de um substantivo ; mas sem comparação
alguma, como : João é honradissimo ou muito honrado. (8)915

O superlativo comparativo ou relativo é o que exprime
no mais alto gráo a qualidade de um substantivo,
comparando-a com a de outros, como : O mais puro affecto
do homem é a amizade. — : O menos desejado dos bens
é ás vezos o mais util. — A caridade á a mais bella das
ou entre as virtudes christãs. (9)10

* Observe-se quo adjectivos ha, como — eterno, universal
e outros — , cuja significação é inalteravel, e por
isso não se prestam á formação de superlativos : e no
gráo de positivo-comparativo só se podem usar no de
igualdade. Ha porem na lingua portugueza alguns adjectivos
que por si sós são positivos-comparativos, ou superlativos
de outros, taes são os seguintes : (10)11

tableau Posit. absol. | Posit. comp. | Superlativos.
De Alto, | Superior, | Summo, | Supremo.
De Baixo, | Inferior, | Infimo.
De Bom, | Melhor, | Optimo.
De Máo, | Peior, | Pessimo.
De Grande, | Maior, | Maximo.
De Pequeno, | Menor, | Minimo.
16

IV. Das variações dos nomes. (11)12

Os nomes da lingua portugueza teem só duas formas
de variações, uma para designar o genero, e outra o numero.

Da variação dos generos

Os substantivos variam para designar o genero por
quatro differentes modos.

1.° Mudando de nome, como — homem, carneiro, boi,
que fazem no feminino — mulher, ovelha, vacca.

2.° ajuntando-se ao substantivo outro que lhe distinga
o sexo, taes são os epicenos, como — jacaré, aguia, que
para designarmos o sexo diremos : O jacaré femea, aguia
macho
.

3.° Variando a terminação do artigo, que se lhe antepõe,
taes são os communs de dois, que para distinguirmos
o genero diremos — O martyr, a martyr ; o espia, a
espia
.

4.° Variando a terminação do mesmo nome, como —
O gato, a gata ; O porco, a porca. Para estes daremos as
seguintes regras :

Os substantivos acabados em a, ou são femininos, ou
sendo masculinos, não variam para o feminino, exceptuando-se
poeta, que faz poetiza, e propheta, prophetiza.17

Poucos são os substantivos acabados em e ou i que pela
terminação variam para o feminino, e taes são —abbade,
que faz — abbadessa ; conde, condessa. duque, duqueza :
frade, freira
 ; mestre, mestra : principe, princeza ; rei,
rainha
 ; sacerdote. sacerdotiza.

Os substantivos acabados em o no masculino, mudam
o o em a no feminino, como — o pato. a pata ; o pombo,
a pomba
. Exceptua-se gallo, que faz gallinha.

Dos acabados em ão, uns perdem o o no feminino,
como — aldeão, aldeã ; irmão, irmã ; outros mudam o ão
em ona, como — mocetão, mocetona ; pedinchão, pedinchona;
e alguns mudam a terminação em ôa, como —
leão, leôa ; patrão, patroa. Barão faz baroneza, sultão,
sultana
 ; cão, cadella ; ladrão, ladra.

Aos que acabam em r ou z accrescenta-se a no feminino,
como — senhor, senhora ; fregues, fregueza. Exceptuam-se
rapaz, que faz rapariga : imperador, imperatriz,
actor, actriz
, ou actora ; embaixador, embaixatriz
(mulher do embaixador) ou embaixadora (mulher
encarregada de alguma embaixada.)

Os nomes que significam cousas inanimadas, não tendo
sexo, não podem variar de genero.

Os adjectivos não teem genero, mas podem variar de
terminação para concordarem com o genero dos substantivos
a que se ajuntam. Uns teem uma só terminação
que serve para ambos os generos, como — gentil, pobre,
que dizemos : Homem gentil, mulher gentil ; homem pobre,
mulher pobre
. Outros teem duas terminações, uma
para o genero masculino, outra para o feminino, como —
justo, justa ; sabio, sabia ; que dizemos : Homem justo,
18mulher justa. homem sabio, mulher sabia. Alguns determinativos
tem trez como — este, esta, isto, esse
essa, isso
 ; das quaes a terceira nunca concorda com
substantivo algum, nem em genero nem em número, e
por isso é chamada neutra.

Os adjectivos acabados no masculino em o,
mudam o o em a no feminino, como — alvo, alva, rocho, rocha.
Exceptua-se máo, que faz mã.

Os adjectivos acabados em ão, seguem a regra dos
substantivos desta mesma terminação.

Os que terminam em um. tomam um a depois do m.
como — um, uma. algum, alguma. Exceptua-se commum,
que é invariavel para o feminino.

Os acabados em u tomam um a no feminino, como —
cru, crua ; nu, nua.

Os acabados em e, l, r, s. z, são invariáveis, exceptuando-se
os terminados em or, e os gentilicos em z que
tomam um a no feminino, como — atterrador aterradora;
balador, baladora : inglez, ingleza
 : com tudo teem
uma só terminação os comparativos em or, como inferior,
superior
, etc.

Da variação do numero.

Numero é a quantidade de individuos que os nomes
significam. Em Grammatica não ha mais que dous numeros,
singular, quando o nome exprime uma só pessoa
ou cousa ; e plural quando exprime muitas. Há porem
alguns nomes que só se usam no singular, e outros
só no plural.19

Só se usam no singular : 1.° Os nomes proprios como
Roma. Catão, 2.° Os de artes, sciencias, idades, virtudes,
e vícios, como — Escultura, Philosophia, infancia,
prudencia, soberba
 ; 3.° Os de metaes, como — ouro,
prata, chumbo
 ; Os que teem peso e medida, como —
assucar, leite, farinha, etc.

Só se empregam no plural os nomes que significam
pares ou reuniões de cousas da mesma especie, como —
ondas, algemas, cans.

Os nomes que teem ambos os numeros variam ordinariamente
de terminação, quando passam de um para
outro .

Todos os nomes da lingua portugueza terminam ou em
letra vogal, ou em alguma das consoantes l, m, n, r, s, z.

Os que no singular acabam em vogal tomam um s no
plural, como — dia, dias ; pé, pés ; japi. japis ; livro, livros ;
tribu, tribus ;-maçã. maçãs ; etc. Exceptuam-se os
que acabam em ão, que quasi todos fazem o plural em
ões, como — lição, lições ; melão, melões. Alguns porem
seguem a regra geral, como — mão, mãos ; grão, grãos, e
outros mudam o ão em ães, como — capellão, capellães,
escrivão, escrivães
. (12)13

Os que no singular terminam em al, ol, ul, formam o
20plural mudando o l em es, como — pardal, pardaes ; anzol,
anzoes
 ; paul, paúes. Exceptuam-se real (moeda)
que faz réis; e mal, consul e seus compostos, que fazem
males, consules, vice-consules, proconsules.

Os terminados em el no singular mudam o l em is no
plural, como — cruel, cruéis ; affavel, affaveis.

Os que acabam em il agudo mudam o il em is como
buril, buris ; funil, funis.

Os que terminam em il breve mudam o il em eis, como — agil,
ageis
 ; facil, faceis.

Os terminados em m mudam o m em ns, como — virgem,
virgens
 ; som, sons.

Os acabados em n, uns não teem plural, como — afan,
semen
 ; outros tomam um s, como — jovem, jovens ; regimen,
regimens
 ; e canon faz canones.

Aos que terminam no singular em r ou z accrescenta-se
es no plural, como — cor, cores ; mez, mezes ; cruz,
cruzes
.

Os que acabam no singular em s como — alferes, caes,
ourives
, conservam no plural a mesma terminação. Exceptuam-se
deus e calis que fazem deuses, calices.

V. Do verbo.

Verbo é a palavra que exprime a existencia, estado ou
acto de algum sujeito, por differentes modos, tempos, numeros
e pessoas (13)14. O verbo ou é de existencia, ou de
acção.21

Verbo de existencia ou verbo substantivo é o que affirma
a existencia de um sujeito modificada por algum attributo,
como : Deus é omnipotente. O Brazil está situado
na America (14)15.

Verbo de acção é o que exprime o estado de um sujeito
praticando alguma acção, como : Eu escrevo. Tu lês,
22Elle brinca. Divide-se em absoluto ou intransitivo, transitivo,
e relativo.

Verbo absoluto ou intransitivo chamado tambem verbo
neutro
, é o que exprime uma acção que não passa do
sujeito que a pratica, como : Vós velais, elles dormem.

Verbo transitivo é o que exprime uma acção que póde
ser empregada directamente em algum objecto, como :
Deus creou todas as cousas.

Verbo relativo é o que pede depois de si um termo
precedido de alguma preposição para completar-lhe o sentido,
como : A virtude não precisa de adorno (15)16.

Alguns verbos são ao mesmo tempo transitivos e relativos,
por pedirem não só o objecto sobre que recáe a
23acção, mas tambem o termo a que ella se refere, como
Deus ordenou a caridade a todos os homens.

Chamam-se pronominaes certos verbos que são sempre
acompanhados de algumas das variações dos determinativos
pessoaes — me, te, se, nos, vos, como — apoderar-se,
obstinar-se, condoer-se, etc
.

Chamam-se auxiliares os verbos que auxiliam os outros
em alguns de seus tempos, como os ter e haver nos
tempos compostos de todos os verbos, e o ser na voz passiva
dos verbos transitivos (16)17.

Voz de am verbo é a maneira de indicar se o sujeito é
quem obra, ou quem recebe a acção- Ella é nulla ou
simplesmente enunciativa nos verbos de existencia, como :
Eu sou… Tu estás… ; e activa, passiva ou reflexa
nos verbos de acção.

A voz é activa nos verbos activos em geral, quando a
sua maneira de enunciar indica que o sujeito da proposição
é o agente da acção, como : Pedro matou a Paulo.

A voz é passiva, somente nos verbos transitivos, quando
o sujeito da proposição é o paciente da acção, como
Paulo foi morto por Pedro.

A voz é reflexa, quando o sujeito da proposição é ao
24mesmo tempo agente e paciente da acção, como : Tu te
occultas. Elles se
mostram (17)18.

Modos nos verbos são a maneira de indicar a natureza
das proposições, e são quatro : Infinitivo, Indicativo, Imperativo
e Conjunctivo
.

O Infinitivo enuncia proposições indeterminadas, sem
declarar o caracter do sujeito dellas, como : Louvar a
Deus, Respeitar as leis (18)1925

O Indicativo exprime proposições positivas e absolutas,
como: O homem nasceu para a sociedade.

O Imperativo denota proposições enunciadas com violencia,
mando ou exortações. Exemplos :

«Arroja-te às ondas, ó duro gigante,
Inunda estes montes, desloca este mar !»

O Conjunctivo exprime proposições dependentes de
outras, como : Não serás feliz, se não fores virtuoso.

Tempo do verbo é a época á que elle refere a sua significação.
Os tempos principaes são — o presente, momento
em que se falla ; o preterito, o anterior ao presente ;
e o futuro, o que se segue ao presente. Alem d´estes,
chamados primitivos ou absolutos, ha mais o preterito
imperfeito
, o perfeito composto, o mais que perfeito, o
futuro perfeito, e o condicional, que se chamam tempos
derivados
ou relativos.

Tempo presente exprime a significação do verbo no
instante em que se falla, como : Eu escrevo.

Preterito imperfeito denota um tempo presente em relação
a outro já passado, como : Cabral se dirigia á India
quando descobriu o Brazil.26

Preterito perfeito exprime urn tempo completamente
decorrido, como : Eu nasci em 1818.

Preterito perfeito composto refere-se a tempo começado
no preterito e continuado no presente, como: As
artes e sciencias teem florescido neste seculo.

Preterito mais que perfeito refere-se a um tempo anterior
a outro já passado, como : Jamais pensára na desgraça
que me sobreveiu.

Futuro imperfeito ou absoluto exprime um tempo que
se tem de seguir ao presente, mas indeterminadamente,
como : Os feitos contemporaneos serão mais bem julgados
pela posteridade.

Futuro perfeito ou relativo refere-se a um tempo tambem
futuro, mas anterior a outro, como : Já terei concluido
este trabalho, quando voltares.

Condicional exprime um tempo sujeito a alguma condição
que o torne succeptivel de referir-se ao presente,
ao passado ou ao futuro, como : Nunca morreriamos se
Adão e Eva não tivessem peccado.

Condicional composto denota tambem um tempo sujeito
á condição, mas que se refere mais particularmente
ao passado, como : A civilisação não teria chegado ao
estado actual, sem o auxilio do christianismo.

Numeros dos verbos são as diversas formas de terminações
com que elles indicam os sujeitos do singular e
os do plural.

Pessoas do verbo são as variações que elle soffre dentro
do mesmo numero, para indicar se o sujeito é 1.ª.
2.ª, ou 3.ª pessoa. Chama-se 1.ª pessoa a que falla. 2.ª a
quem se falla, e 3.ª a de quem se falla.

Conjugação é a mudança de terminações que soffre o
27verbo nas diversas maneiras de exprimir a sua significação.
A conjugação é regular, ou irregular.

Conjugação regular é a que segue certas regras comuns
à maior parte dos verbos que teem a mesma terminação.
Ha nos verbos portuguezes trez conjugações
regulares; a 1.ª é a dos verbos que teem o infinito em
ar, como amar ; a 2.ª dos que o teem em er, como ceder ;
e a 3.ª dos que o teem em ir, como unir.

O verbo pôr, antigamente poer, hoje com o infinito
em or, fórma uma conjugação distincta, considerada irregular,
para si e seus compostos.

Conjugação irregular é a dos verbos que em suas variações
não seguem regularmente as regras da conjugação
á que pertencem.

Chamam-se defectivos os verbos, que não se prestam
a todas as variações de uma conjugação, como feder e
munir, que só teem as terminações em que o d e n não
são seguidos de a ou o.

Chamam-se impessoaes os verbos defectivos que só se
empregam na terceira pessoa do singular, como — chover,
nevar, trovejar
, &.

VI. Da conjugação dos verbos auxiliares.
Ter e haver.

Modo infinitivo impessoal.

Tempo presente.

tableau Ter. | Haver.28

Preterito.

tableau Ter tido. | Ter havido.

Futuro.

tableau Haver de ter. | Ter de haver.

Participio do presente.

tableau Tendo. | Havendo

Participio do preterito.

tableau Tendo tido. | Tendo havido

Participio do futuro.

tableau Havendo de ter. | Tendo de haver.

Supino ou participio perfeito.

tableau Tido. | Havido

Participio passivo.

tableau Tido, tida. | Havido, havida,

Infinitivo pessoal.

Tempo presente.

tableau S. | Ter eu. | Haver eu.
Teres tu. | Haveres tu.
29

tableau Ter elle. | Haver elle.

tableau P. | Termos nós. | Havermos nós.
Terdes vós. | Haverdes vós.
Terem elles. | Haverem elles.

Preterito.

tableau S. | Ter eu tido. | Ter eu havido.
Teres tu tido. | Teres tu havido
Ter elle tido. | Ter elle havido

tableau P. | Termos nós tido. | Termos nós havido.
Terdes vós tido. | Terdes vós havido.
Terem elles tido. | Terem elles havido.

Futuro.

tableau S. | Haver eu de ter. | Ter eu de haver.
Haveres tu de ter. | Teres tu de haver.
Haver elle de ter. | Ter elle de haver.

tableau P. | Havermos nós de ter. | Termos nós de haver.
Haverdes vós de ter. | Terdes vós de haver.
Haverem elles de ter. | Terem elles de haver.

Modo indicativo.

Tempo presente.

tableau S. | Eu tenho. | Eu hei.
Tu tens. | Tu has.
Elle tem. | Elle ha.

tableau P. | Nós temos. | Nós havemos.
Vós tendes. | Vós haveis.
Elles teem. | Elles hão.

Preterito imperfeito.

tableau S. | Eu tinha. | Eu havia.
Tu tinhas. | Tu havias.
30

tableau Elle tinha. | Elle havia.

tableau P. | Nós tinhamos. | Nós haviamos.
Vós tinheis. | Vós havieis.
Elles tinham. | Elles haviam.

Preterito perfeito.

tableau S. | Eu tive. | Eu houve
Tu tiveste. | Tu houveste.
Elle teve. | Elle houve.

tableau P. | Nós tivemos. | Nós houvemos.
Vós tivestes. | Vós houvestes.
Elles tiveram. | Elles houveram.

Preterito perfeito composto.

tableau S. | Eu tenho tido. | Eu tenho havido.
Tu tens tido. | Tu tens havido.
Elle tem tido. | Elle tem havido.

tableau P. | Nós temos tido. | Nós temos havido
Vós tendes tido. | Vós tendes havido.
Elles teem tido. | Elles teem havido.

Preterito mais que perfeito.

tableau S. | Eu tivéra. | Eu houvéra.
Tu tivéras. | Tu houveras.
Elle tivéra. | Elle houvéra.

tableau P. | Nós tivéramos. | Nós houvéramos.
Vós tivéreis. | Vós houvéreis.
Elles tivéram. | Elles houvéram.

Preterito mais que perfeito composto.

tableau S. | Eu tinha tido. | Eu tinha havido.
Tu tinhas tido. | Tu tinhas havido
Elle tinha tido. | Elle tinha havido.

tableau P. | Nós tinhamos tido. | Nós tinhamos havido.31

tableau Vós tinheis tido. | Vós tinheis havido.
Elles tinham tido. | Elles tinham havido.

Futuro imperfeito.

tableau S. | Eu terei. | Eu haverei.
Tu terás. | Tu haverás.
Elle terá. | Elle haverá.

tableau P. | Nós teremos. | Nós haveremos.
Vós tereis. | Vós havereis.
Elles terão. | Elles haverão.

Futuro imperfeito composto.

tableau S. | Eu hei de ter. | Eu tenho de haver.
Tu has de ter. | Tu tens de haver.
Elle ha de ter. | Elle tem de haver.

tableau P. | Nós havemos de ter. | Nós temos de haver.
Vós haveis de ter. | Vós tendes de haver.
Elles hão de ter. | Elles teem de haver.

Futuro perfeito.

tableau S. | Eu terei tido. | Eu terei havido.
Ta terás tido. | Tu terás havido.
Elle terá tido. | Elle terá havido.

tableau P. | Nós teremos tido. | Nós teremos havido.
Vós tereis tido. | Vós tereis havido.
Elles terão tido. | Elles terão havido.

Condicional.

tableau S. | Eu teria. | Eu haveria.
Tu terias. | Tu haverias.
Elle teria. | Elle haveria.

tableau P. | Nós teriamos. | Nós haveriamos.
Vós terieis. | Vós haverieis.
Elles teriam. | Elles haveriam.
32

Condicional composto.

tableau S. | Eu teria tido. | Eu teria havido.
Tu terias tido. | Tu terias havido.
Elle teria tido. | Elle teria havido.

tableau P. | Nós teriamos tido. | Nós teriamos havido.
Vós terieis tido. | Vós terieis havido.
Elles teriam tido. | Elles teriam havido.

Modo imperativo.

Presente ou futuro.

tableau S. | Tem tu.► | Ha tu.
P. | Tende vós. | Havei vós.

(19)20

Modo conjunctivo.

Tempo presente.

tableau S. | Eu tenha. | Eu haja.
Tu tenhas. | Tu hajas.
Elle tenha. | Elle haja.

tableau P. | Nós tenhamos. | Nós hajamos.
Vós tenhais. | Vós hajeis.
Elles tenham. | Elles hajam.
33

Preterito imperfeito.

tableau S. | Eu tivesse. | Eu houvesse.
Tu tivesses. | Tu houvesses.
Elle tivesse. | Elle houvesse.

tableau P. | Nós tivessemos. | Nós houvessemos.
Vós tivesseis. | Vós houvesseis.
Elles tivessem. | Elles houvessem.

Preterito perfeito composto.

tableau S. | Eu tenha tido. | Eu tenha havido.
Tu tenhas tido. | Tu tenhas havido.
Elle tenha tido. | Elle tenha havido.

tableau P. | Nós tenhamos tido. | Nós tenhamos havido.
Vós tenhais tido. | Vós tenhais havido.
Elles tenham tido. | Elles tenham havido.

Preterito mais que perfeito composto.

tableau S. | Eu tivesse tido. | Eu tivesse havido.
Tu tivesses tido. | Tu tivesses havido.
Elle tivesse tido. | Elle tivesse havido.

tableau P. | Nós tivessemos tido. | Nós tivessemos havido.
Vós tivesseis tido. | Vós tivesseis havido.
Elles tivessem tido. | Elles tivessem havido.

Futuro imperfeito.

tableau S. | Eu tiver. | Eu houver.
Tu tiveres. | Tu houveres.
Elle tiver. | Elle houver.

tableau P. | Nós tivermos. | Nós houvermos.
Vós tiverdes. | Vós houverdes.
Elles tiverem. Elles houverem.
34

Futuro imperfeito composto.

tableau S. | Eu houver de ter. | Eu tiver de haver.
Tu houveres de ter. | Tu tiveres de haver.
Elle houver de ter. | Elle tiver de haver.

tableau P. | Nós houvermos de ter. | Nós tivermos de haver.
Vós houverdes de ter. | Vós tiverdes de haver.
Elles houverem de ter. | Elles tiverem de haver.

Futuro perfeito composto.

tableau S. | Eu tiver tido. | Eu tiver havido.
Tu tiveres tido. | Tu tiveres havido.
Elle tiver tido. | Elle tiver havido.

tableau P. | Nós tivermos tido. | Nós tivermos havido.
Vós tiverdes tido. | Vós tiverdes havido.
Elles tiverem tido. | Elles tiverem havido.

VII. Da conjugação dos verbos
ser e estar.

Modo infinitivo impessoal.

Tempo presente.

tableau Ser. | Estar.

Preterito.

tableau Ter sido. | Ter estado.

Futuro.

tableau Haver de ser. | Haver de estar.

Participio do presente.

tableau Sendo. | Estando.35

Participio do preterito.

tableau Tendo sido. | Tendo estado.

Participio do futuro.

tableau Havendo de ser. | Havendo de estar.

Supino ou participio perfeito.

tableau Sido | Estado.

Modo infinitivo pessoal.

Tempo presente.

tableau S. | Ser eu. | Estar eu.
Seres tu. | Estares tu.
Ser elle. | Estar elle.

tableau P. | Sermos nós. | Estarmos nós.
Serdes vós. | Estardes vós.
Serem elles. | Estarem elles.

Preterito.

tableau S. | Ter eu sido. | Ter eu estado.
Teres tu sido. | Teres tu estado.
Ter elle sido. | Ter elle estado.

tableau P. | Termos nós sido. | Termos nós estado.
Terdes vós sido. | Terdes vós estado.
Terem elles sido. | Terem elles estado.

Futuro.

tableau S. | Haver eu de ser. | Haver eu de estar.
Haveres tu de ser. | Haveres tu de estar.
Haver elle de ser. | Haver elle de estar.

tableau P. | Havermos nós de ser. | Havermos nós de estar.
Haverdes vós de ser. | Haverdes vós de estar.
Haverem elles de ser. | Haverem elles de estar. ;
36

Modo indicativo

Tempo presente.

tableau S. | Eu sou. | Eu estou.
Tu és. | Tu estás.
Elle é. | Elle está.

tableau P. | Nós somos. | Nós estamos.
Vós sois. | Vós estais.
Elles são. | Elles estão.

Preterito imperfeito.

tableau S. | Eu era. | Eu estava.
Tu eras. | Tu estavas.
Ella era. | Elle estava.

tableau P. | Nós eramos. | Nós estavamos.
Vós ereis | Vós estáveis.
Elles eram. | Elles estavam.

Preterito perfeito.

tableau S. | Eu fui. | Eu estive.
Tu foste. | Tu estiveste.
Elle foi. | Elle esteve.

tableau P. | Nós fomos. | Nós estivemos.
Vós fostes. | Vós estivestes.
Elles foram. | Elles estiveram.

Preterito perfeito composto.

tableau S. | Eu tenho sido. | Eu tenho estado.
Tu tens sido. | Tu tens estado.
Elle tem sido. | Elle tem estado.

tableau P. Nós temos sido. | Nós temos estado.
Vós tendes sido. | Vós tendes estado.
Elles teem sido. | Elles teem estado.
37

Preterito mais que perfeito.

tableau S. | Eu fôra. | Eu estivéra.
Tu fôras. | Tu estivéras.
Elle fôra. | Elle estivéra.

tableau P. | Nós fôramos. | Nós estivéramos.
Vós fôreis. | Vós estivéreis.
Elles fôram. | Elles estivéram.

Preterito mais que perfeito composto.

tableau S. | Eu tinha sido. | Eu tinha estado.
Tu tinhas sido. | Tu tinhas estado.
Elle tinha sido. | Elle tinha estado.

tableau P. | Nós tínhamos sido. | Nós tinhamos estado.
Vós tinheis sido. | Vós tinheis estado.
Elles tinham sido. | Elles tinham estado.

Futuro imperfeito.

tableau S. | Eu serei. | Eu estarei.
Tu serás. | Tu estarás.
Elle será. | Elle estará.

tableau P. | Nós seremos. | Nós estaremos.
Vós sereis. | Vós estareis.
Elles serão. | Elles estarão.

Futuro imperfeito composto.

tableau S. | Eu hei de ser. | Eu hei de estar.
Tu has de ser. | Tu has de estar.
Elle há de ser. | Elle ha de estar.

tableau P. | Nós havemos de ser. | Nós havemos de estar.
Vós haveis de ser. | Vós haveis de estar.
Elles hão de ser. | Elles hão de estar.
38

Futuro perfeito composto.

tableau S. | Eu terei sido. | Eu terei estado.
Tu terás sido. | Tu terás estado.
Elle terá sido. Elle terá estado.

tableau P. | Nós teremos sido. | Nós teremos estado.
Vós tereis sido. | Vós tereis estado.
Elles terão sido. | Elles terão estado.

Condicional.

tableau S. | Eu seria. | Eu estaria.
Tu serias. | Tu estarias.
Elle seria. | Elle estaria.

tableau P. | Nós seriamos. | Nós estariamos.
Vós serieis. | Vós estarieis.
Elles seriam. | Elles estariam.

Condicional composto.

tableau S. | Eu teria sido. | Eu teria estado.
Tu terias sido. | Tu terias estado.
Elle teria sido. | Elle teria estado.

tableau P. | Nós teriamos sido. | Nós teriamos estado.
Vós tereis sido. | Vós terieis estado.
Elles teriam sido. | Elles teriam estado/

Modo imperativo.

Presente ou futuro.

tableau S. | Sê tu. | Está tu.

tableau P. | Sêde vós. | Estai vós.

Modo conjunctivo.

Tempo presente.

tableau S. | Eu seja. | esteja.39

tableau Tu sejas. | Tu estejas.
Elle seja. | Elle esteja

tableau P. | Nós sejamos. | Nós estejamos.
Vós sejais. | Vós estejais.
Elles sejam. | Elles estejam.

Preterito imperfeito.

tableau S. | Eu fosse. | Eu estivesse.
Tu fosses. | Tu estivesses.
Elle fosse. | Elle estivesse.

tableau P. | Nós fossemos. | Nós estivessemos.
Vós fosseis. | Vós estivesseis.
Elles fossem. | Elles estivessem.

Preterito perfeito composto.

tableau S. | Eu tenha sido. | Eu tenha estado.
Tu tenhas sido. | Tu tenhas estado.
Elle tenha sido. | Elle tenha estado.

tableau P. | Nós tenhamos sido. | Nós tenhamos estado
Vós tenhais sido. | Vós tenhais estado.
Elles tenham sido. | Elles tenham estado.

Preterito mais que perfeito composto.

tableau S. | Eu tivesse sido. | Eu tivesse estado.
Tu tivesses sido. | Tu tivesses estado.
Elle tivesse sido. | Elle tivesse estado.

tableau P. | Nós tivessemos sido. | Nós tivessemos estado.
Vós tivesseis sido. | Vós tivesseis estado.
Elles tivessem sido. | Elles tivessem estado.

Futuro imperfeito.

tableau S. | Eu for. | Eu estiver.
Tu fores. | Tu estiveres.
Elle for. | Elle estiver.
40

tableau P. | Nós formos. | Nós estivermos.
Vós fordes. | Vós estiverdes.
Elles forem. | Elles estiverem.

Futuro imperfeito composto.

tableau S. | Eu houver de ser. | Eu houver de estar.
Tu houveres de ser. | Tu houveres de estar.
Elle houver de ser. | Elle houver de estar.

tableau P. | Nós houvermos de ser. | Nós houvermos de estar.
Vós houverdes de ser. | Vós houverdes de estar.
Elles houverem de ser. | Elles houverem de estar.

Futuro perfeito composto.

tableau S. | Eu tiver sido. | Eu tiver estado.
Tu tiveres sido. | Tu tiveres estado.
Elle tiver sido. | Elle tiver estado.

tableau P. | Nós tivermos sido. | Nós tivermos estado.
Vós tiverdes sido. | Vós tiverdes estado.
Elles tiverem sido. | Elles tiverem estado.

VIII. Da conjugação activa dos verbos regulares.
Amar e Ceder.
Para modelo da primeira e segunda conjugação.

Modo infinitivo impessoal.

Tempo presente.

tableau Amar. | Ceder.

Preterito.

tableau Ter amado. | Ter cedido.

Futuro.

tableau Haver de amar. | Haver de ceder.41

Participio do presente.

tableau Amando. | Cedendo.

Participio do preterito.

tableau Tendo amado. | Tendo cedido.

Participio do futuro.

tableau Havendo de amar. | Havendo de ceder.

Supino ou participio perfeito.

tableau Amado. | Cedido.

Participio passivo.

tableau Amado, amada. | Cedido, cedida.

Modo infinitivo pessoal.

Tempo presente.

tableau S. | Amar eu. | Ceder eu.
Amares tu. | Cederes tu.
Amar elle. | Ceder elle.

tableau P. | Amarmos nós. | Cedermos nós.
Amardes vós. | Cederdes vós.
Amarem elles. | Cederem elles.

Preterito.

tableau S. | Ter eu amado, &. | Ter eu cedido, &.

tableau P. | Termos nós amado, &. | Termos nós cedido, &.

Futuro.

tableau S. | Haver eu de amar, &. | Haver eu de ceder, &.

tableau P. | Havermos nós de amar, &. | Havermos nós de ceder, &.42

Modo indicativo.

Tempo presente.

tableau S. | Eu amo. | Eu cedo.
Tu amas. | Tu cedes.
Elle ama. | Elle cede.

tableau P. | Nós amamos. | Nós cedemos.
Vós amais. | Vós cedeis.
Elles amam. | Elles cedem.

Preterito imperfeito.

tableau S. | Eu amava. | Eu cedia.
Tu amavas. | Tu cedias.
Elle amava. | Elle cedia.

tableau P. | Nós amavamos. | Nós cediamos.
Vós amaveis. | Vós cedieis.
Elles amaram. | Elles cediam.

Preterito perfeito.

tableau S. | Eu amei. | Eu cedi.
Tu amaste. | Tu cedeste.
Elle amou. | Elle cedeu.

tableau P. | Nós amamos. | Nós cedemos.
Vós amastes. | Vós cedestes.
Elles amaram. | Elles cederam.

Preterito perfeito composto.

tableau S. | Eu tenho amado, &. | Eu tenho cedido, &.

tableau P. | Nós temos amado, &. | Nós temos cedido, &.

Preterito mais que perfeito.

tableau S. | Eu amára. Eu cedêra.
Tu amáras. | Tu cedêras.
Elle amára. | Elle cedêra.
43

tableau P. | Nós amáramos. | Nós cedêremos.
Vós amáreis. | Vós cedêreis.
Elles amáram. | Elles cedêram.

Preterito mais que perfeito composto.

tableau S. | Eu tinha amado, &. | Eu tinha cedido, &.

tableau P. | Nós tínhamos amado, &. | Nós tínhamos cedido, &.

Futuro imperfeito.

tableau S. | Eu amarei. | Eu cederei.
Tu amarás. | Tu cederás.
Elle amará. | Elle cederá.

tableau P. | Nós amaremos. | Nós cederemos.
Vós amareis. | Vós cedereis.
Elles amarão. | Elles cederão.

Futuro imperfeito composto.

tableau S. | Eu hei de amar, &. | Eu hei de ceder, &.

tableau P. | Nós havemos de amar, &. | Nós havemos de ceder, &.

Futuro perfeito composto.

tableau S. | Eu terei amado, &. | Eu terei cedido, &.

tableau P. | Nós teremos amado, &. | Nós teremos cedido, &.

Condicional.

tableau S. | Eu amaria. | Eu cederia.
Tu amarias. | Tu cederias.
Elle amaria. | Elle cederia.

tableau P. | Nós amariamos. | Nós cederiamos.
Vós amarieis. | Vós cederieis.
Elles amariam. | Elles cederiam.
44

Condicional composto.

tableau S. | Eu teria amado, &. | Eu teria cedido, &.

tableau P. | Nós teriamos amado, &. | Nós teriamos cedido, &.

Modo imperativo.

Presente ou futuro.

tableau S. | Ama tu. | Cede tu.

tableau P. | Amai vós. | Cedei vós.

Modo conjunctivo.

Tempo presente.

tableau S. | Eu ame. | Eu ceda.
Tu ames. | Tu cedas.
Elle ame. | Elle ceda.

tableau P. | Nós amemos. | Nós cedamos.
Vós ameis. | Vós cedais.
Elles amem. | Elles cedam.

Preterito imperfeito.

tableau S. | Eu amasse. | Eu cedesse.
Tu amasses. | Tu cedesses.
Elle amasse. | Elle cedesse.

tableau P. | Nós amassemos. | Nós cedessemos.
Vós amasseis. | Vós cedesseis.
Elles amassem. | Elles cedessem.

Preterito perfeito composto.

tableau S. | Eu tenha amado, &. | Eu tenha cedido. &.

tableau P. | Nós tenhamos amado, &. | Nós tenhamos cedido, &.45

Preterito mais que perfeito composto.

tableau S. | Eu tivesse amado, &. | Eu tivesse cedido, &.

tableau P. | Nós tivessemos amado, &. | Nós tivessemos cedido, &.

Futuro imperfeito.

tableau S. | Eu amar. | Eu ceder.
Tu amares. | Tu cederes.
Elle amar. | Elle ceder.

tableau P. | Nós amarmos. | Nós cedermos.
Vós amardes. | Vós cederdes.
Elles amarem. | Elles cederem.

Futuro imperfeito composto.

tableau S. | Eu houver de amar, &. | Eu houver de ceder, &.

tableau P. | Nós houvermos de amar, &. | Nós houvermos de ceder. &.

Futuro perfeito composto.

tableau S. | Eu tiver amado, &. | Eu tiver cedido, &.

tableau P. | Nós tivermos amado, &. | Nós tivermos cedido, &.

IX. Conjugação activa do verbo unir para modelo dos da terceira
conjugação, e do verbo por para modelo de seus compostos.

Modo infinitivo impessoal.

Tempo presente.

tableau Unir. | Pôr.

Preterito.

tableau Ter unido. | Ter posto.

Futuro.

tableau Haver de unir. | Haver de pôr.46

Participio do presente.

tableau Unindo. | Pondo.

Participio do preterito.

tableau Tendo unido. | Tendo posto.

Participio do futuro.

tableau Havendo de unir. | Havendo de pôr.

Supino ou participio perfeito.

tableau Unido. | Posto.

Participio passivo.

tableau Unido, unida. | Posto, posta.

Modo infinito pessoal.

Tempo presente.

tableau S. | Unir eu. | Pôr eu.
Unires tu. | Pôres tu.
Unir elle. | Pôr elle.

tableau P. | Unirmos nós. | Pôrmos nós.
Unirdes vós. | Pôrdes vós.
Unirem elles. | Pôrem elles.

Preterito.

tableau S. | Ter eu unido, &. | Ter eu posto, &.

tableau P. | Termos nós unido, &. | Termos nós posto, &.

Futuro.

tableau S. | Haver eu de unir, &. | Haver eu de pôr, &.

tableau P. | Havermos nós de unir, &. | Havermos nós de pôr, &.47

Modo indicativo.

Tempo presente.

tableau S. | Eu uno. | Eu ponho.
Tu unes. | Tu pões.
Elle une. | Elle põe.

tableau P. | Nós unimos. | Nós pomos.
Vós unis. | Vós pondes.
Elles unem. | Elles põem.

Preterito imperfeito.

tableau S. | Eu unia. | Eu punha.
Tu unias. | Tu punhas.
Elle unia. | Elle punha.

tableau P. | Nós uniamos. | Nós punhamos.
Vós unieis. | Vós punheis.
Elles uniam. | Elles punham.

Preterito perfeito.

tableau S. | Eu uni. | Eu puz.
Tu uniste. | Tu pozeste.
Elle uniu. | Elle poz.

tableau P. | Nós unimos. | Nós pozemos.
Vós unistes. | Vós pozestes.
Elles uniram. | Elles pozeram.

Preterito perfeito composto.

tableau S. | Eu tenho unido, &. | Eu tenho posto, &.

tableau P. | Nós temos unido, &. | Nós temos posto. &.

Preterito mais que perfeito.

tableau S. | Eu uníra. | Eu pozéra.
Tu uniras. | Tu pozéras.
Elle unira. | Elle pozéra.
48

tableau P. | Nós uníramos. | Nós pozéramos.
Vós uníreis. | Vós pozéreis.
Elles uniram. | Elles pozéram.

Preterito mais que perfeito composto.

tableau S. | Eu tinha unido, &. | Eu tinha posto, &.

tableau P. | Nós tinhamos unido, &. | Nós tinhamos posto, &.

Futuro imperfeito.

tableau S. | Eu unirei. | Eu porei.
Tu unirás. | Tu porás.
Elle unirá. | Elle porá.

tableau P. | Nós uniremos. | Nós poremos.
Vós unireis. | Vós poreis.
Elles unirão. | Elles porão.

Futuro imperfeito composto.

tableau S. | Eu hei de unir, &. | Eu hei de pôr, &.

tableau P. | Nós havemos de unir, &. | Nós havemos de pôr, &.

Futuro perfeito composto.

tableau S. | Eu terei, unido, &. | Eu terei posto, &.

tableau P. | Nós teremos unido, &. | Nós teremos posto, &.

Condicional.

tableau S. | Eu uniria. | Eu poria.
Tu unirias. | Tu porias.
Elle uniria. | Elle poria.

tableau P. | Nós uniriamos. | Nós poriamos.
Vós unirieis. | Vós porieis.
Elles uniriam. | Elles poriam.
49

Condicional composto.

tableau S. | Eu teria unido. &. | Eu teria posto. &.

tableau P. | Nós teriamos unido. &. | Nós teriamos posto. &.

Modo imperativo.

Presente ou futuro.

tableau S. | Une tu. | Põe tu.

tableau P. | Uni vós. | Ponde vós.

Modo conjunctivo.

Tempo presente.

tableau S. | Eu una. | Eu ponha.
Tu unas. | Tu ponhas.
Elle una. | Elle ponha.

tableau P. | Nós unamos. | Nós ponhamos.
Vós unais. | Vós ponhais.
Elles unam. | Elles ponham.

Preterito imperfeito.

tableau S. | Eu unisse. | Eu pozesse.
Tu unisses. | Tu pozesses.
Elle unisse. | Elle pozesse.

tableau P. | Nós unissemos. | Nós pozessemos.
Vós unisseis. | Vós pozesseis.
Elles unissem. | Elles pozessem.

Preterito perfeito composto.

tableau S. | Eu tenha unido, &. | Eu tenha posto, &.

tableau P. | Nós tenhamos unido, &. | Nós tenhamos posto, &.50

Preterito mais que perfeito composto.

tableau S. | Eu unir. | Eu Pozer.
Tu unires. | Tu pozeres.
Elle unir. | Elle pozer.

tableau P. | Nós unirmos. | Nós pozermos.
Vós unirdes. | Vós pozerdes.
Elles unirem. | Elles pozerem.

Futuro imperfeito composto.

tableau S. | Eu houver de unir, &. | Eu houver de pôr, &.

tableau P. | Nós houvermos de unir, &. | Nós houvermos de pôr, &.

X. Da conjugação da voz reflexa e da passiva dos verbos.

Para conjugar um verbo na voz reflexa ajunctam-se a
todas ás linguagens do mesmo verbo as variações — me,
te, se, nos, vos, se
— correspondendo aos determinativos
pessoaes.

Para conjugar um verbo na voz passiva, basta pospor
a todas as linguagens do verbo ser o participio passivo do
verbo que se quer conjugar passivamente, o qual deve
concordar sempre em genero e numero com o sujeito
do mesmo verbo. Tambem forma-se a voz passiva á maneira
da voz reflexa, quando o sujeito da oração é cousa
e não pessoa, como : Antes do fim do mundo se prégará
o Evangelho por toda a terra. Isto é : Antes do fim do
mundo o Evangelho será prégado por toda a terra.

Conjugação do verbo pronominal Queixar-se e do verbo Amar
na voz passiva, para modelo destas formas de conjugação.

Modo infinitivo impessoal.

Tempo presente.

tableau Queixar-se. | Ser amado.51

Preterito.

tableau Ter-se queixado. | Ter sido amado.

Futuro.

tableau Haver de queixar-se. | Haver de ser amado.

Participio do presente.

tableau Queixando-se. | Sendo amado.►

Participio do preterito.

tableau Tendo-se queixado. | Tendo sido amado.

Participio do futuro.

tableau Havendo de queixar-se. | Havendo de ser amado.

Supino ou participio perfeito.

tableau Queixado. | Sido amado.

Modo infinitivo pessoal.

Tempo presente.

tableau S. | Queixar-me eu. | Ser eu amado.
Queixares-te tu. | Seres tu amado.
Queixar-se elle. | Ser elle amado.

tableau P. | Queixarmo nos nós. | Sermos nós amados.
Queixardes-vos vós. | Serdes vós amados.
Queixarem-se elles. | Serem elles amados.

Preterito.

tableau S. Ter eu me queixado, &. | Ter eu sido amado, &.

tableau P. Termos nós nos queixado, &. | Termos nós sido amados, &.52

Futuro.

tableau S. | Haver eu de rne queixar, &. | Haver eu de ser amado, &.

tableau P. | Havermos nós de nos queixar, &. | Havermos nós de ser amados, &.

Modo indicativo.

Tempo presente.

tableau S. | Eu me queixo. | Eu sou amado.
Tu te queixas. | Tu és amado.
Elle se queixa. | Elle é amado.

tableau P. | Nós nos queixamos. | Nós somos amados.
Vós vos queixaes. | Vós sois amados.
Elles se queixam. | Elles são amados.

Preterito imperfeito.

tableau S. | Eu me queixava. | Eu era amado.
Tu te queixava. | Tu eras amado.
Elle se queixava. | Elle era amado.

tableau P. | Nós nos queixavamos. | Nós eramos amados.
Vós vos queixaveis. | Vós ereis amados.
Elles se queixavam. | Elles eram amados.

Preterito perfeito.

tableau S. | Eu me queixei. | Eu fui amado.
Tu te queixaste. | Tu foste amado.
Elle se queixou. | Elle foi amado.

tableau P. | Nós nos queixamos. | Nós fomos amados.
Vós vos queixastes. | Vós fostes amados.
Elles se queixaram. | Elles foram amados.

Preterito perfeito composto.

tableau S. | Eu me tenho queixado, &. | Eu tenho sido amado, &.

tableau P. | Nós nos temos queixado, &. | Nós temos sido amados, &.53

Preterito mais que perfeito.

tableau S. | Eu me queixára. | Eu fôra amado.
Tu te queixáras. | Tu fôras amado.
Elle se queixára. | Elle fôra amado.

tableau P. | Nós nos queixáramos. | Nós fôramos amados.
Vós vos queixáeis. | Vós fôreis amados.
Elles se queixáram. | Elles fôram amados.

Preterito mais que perfeito composto.

tableau S. | Eu me tinha queixado, &. | En tinha sido amado, &.

tableau P. | Nós nos tinhamos queixado, &. | Nós tinhamos sido amado, &.

Futuro imperfeito.

tableau S. | Eu me queixarei. | Eu serei amado.
Tu te queixarás. | Tu serás amado.
Elle se queixará. | Elle será amado.

tableau P. | Nós nos queixaremos. | Nós seremos amados.
Vós vos queixareis. | Vós sereis amados.
Elles se queixarão. | Elles serão amados.

Futuro imperfeito composto.

tableau S. | Eu hei de me queixar, &. | Eu hei de ser amado, &.

tableau P. | Nós havemos de nos queixar, &. | Nós havemos de ser amados, &.

Futuro perfeito composto.

tableau S. Eu me terei queixado, &. | Eu terei sido amado, &.

tableau P. | Nós nos teremos queixado, &. | Nós teremos sido amados, &.

Condicional.

tableau S. | Eu me queixaria. | Eu seria amado.54

tableau Tu te queixarias. | Tu serias amado.
Elle se queixaria. | Elle seria amado.

tableau P. Nós nos queixariamos. | Nós seriamos amados.
Vós vos queixaries. | Vós serieis amados.
Elles se queixariam. | Elles seriam amados.

Condicional composto.

tableau S. | Eu me teria queixado, &. | Eu teria sido amado, &.

tableau P. | Nós nos teriamos queixado, &. | Nós teriamos sido amados, &.

Modo imperativo

Presente ou futuro.

tableau S. | Queixa-te tu. | Sê tu amado.

tableau P. | Queixai-vos vós. | Sêde vós amados.

Modo conjunctivo.

Tempo presente.

tableau S. | Eu me queixe. | Eu seja amado.
Tu te queixes. | Tu sejas amado.
Elle se queixe. | Elle seja amado.

tableau P. | Nós nos queixemos. | Nós sejamos amados.
Vós vos queixeis. | Vós sejais amados.
Elles se queixem. | Elles sejam amados.

Preterito imperfeito.

tableau S. | Eu me queixasse. | Eu fosse amado.
Tu te queixasses. | Tu fosses amado.
Elle se queixasse. | Elle fosse amado.

tableau P. | Nós nos queixassemos. | Nós fossemos amados.
Vós vos queixasseis. | Vós fosseis amados.
Elles se queixassem. | Elles fossem amados.
55

Preterito perfeito composto.

tableau S. | Eu me tenha queixado, &. | Eu tenha sido amado, &.

tableau P. | Nós nos tenhamos queixado, &. | Nós tenhamos sido amados, &.

Preterito mais que perfeito composto.

tableau S. | Eu me tivesse queixado, &. | Eu tivesse sido amado, &.

tableau P. | Nós nos tivessemos queixado, &. | Nós tivessemos sido amados, &.

Futuro imperfeito.

tableau S. | Eu me queixar. | Eu fôr amado.
Tu te queixares. | Tu fôres amado.
Elle se queixar. Elle fôr amado.

tableau P. | Nós nos queixarmos. | Nós fôrmos amados.
Vós vos queixardes. | Vós fôrdes amados.
Elles se queixarem. | Elles fôrem amados.

Futuro imperfeito composto.

tableau S. | Eu me houver de queixar, &. | Eu houver de ser amado, &.

tableau P. | Nós nos houvermos de queixar, &. | Nós houvermos de ser amados, &.

Futuro perfeito composto.

tableau S. | Eu me tiver queixado, &. | Eu tiver sido amado, &.

tableau P. | Nós nos tivermos queixado, &. | Nós tivermos sido amados, &.

XI. Da formação dos tempos e dos verbos irregulares.

O presente do infinitivo impessoal, considerado nas
56suas letras radicaes e na desinencia ou terminação, é a
raíz de formação de toda a conjugação de qualquer verbo.

Chamam-se letras radicais nos verbos as que precedem
as terminações ar, er, ir, or, corno no verbo amar
as letras am, no verbo ceder as letras ced, no verbo unir
as letras un, no verbo pôr a letra p. A ultima das radicaes
tem o nome de figurativa, como as letras — m, d,
n, p
, dos ditos verbos.

Chamam-se terminações ou desinencias todas as letras
que se seguem depois da figurativa, as quaes devem
sempre ser as mesmas em todos os tempos, numeros e
pessoas correspondentes nos verbos regulares da mesma
conjugação.

São por tanto irregulares todos os verbos que, em
qualquer de seus tempos ou pessoas, mudarem as letras
radicaes, ou tomarem em suas terminações outras que
não sejam as do modelo da sua conjugação.

A formação dos tempos simples (20)21 de qualquer verbo
se effectua, ou por substituição, ou por posposiçâo ás
terminações do infinitivo. Estas variações podem ser de
mediata, ou de immediata derivação.

Infinitivo.

O infinitivo pessoal, na 1.ª e 3.ª pessoa do singular,
forma-se do infinitivo impessoal sem alteração alguma, e
na 2.ª pessoa com o accrescentamento de es ao r final : e
no plural accrescentando-se mos na 1.ª pessoa, des na 2.ª
e em na 3.ª ; e pospondo-se a todas os sujeitos ou pronomes
57pessoaes. Exemplo : Dar ; dar eu, dares tu, dar elle;
darmos nós, dardes vós, darem elles.

O participio do presente, imperfeito ou activo, chamado
tambem gerundio, quando precedido da preposição
em, forma-se pela mudança do r final do infinitivo em
ndo. Exemplos : Dar, dando ; ver, vendo ; rir, rindo ; pôr,
pondo.

O participio perfeito ou supino forma-se pela mudança
das terminações, ar, er, ir, or, em ado na 1.ª conjugação,
em ido na 2.ª e 3.ª, em osto no verbo pôr. Exemplos :
Amar, amado ; ceder, cedido ; unir, unido ; pôr,
posto.

Exceptuam-se da 1.ª conjugação — ganhar, gastar, pagar,
cujos participios perfeitos mais usados são — ganho,
gasto, pago
 ; da 2.ª, dizer, que faz o participio, dito ; escrever,
escripto ; fazer, feito ; e ver, visto ; da 3.ª, abrir,
que faz aberto ; cobrir, coberto ; e vir, vindo.

O participio passado forma-se do mesmo modo que o
participio perfeito, e o que o distingue é ser variavel para
o genero e numero do sujeito. Com tudo os verbos seguintes
teem participios passivos differentes dos perfeitos.

tableau Aceitar — aceito. | Eleger — eleito.
Annexar — annexo | Encher — cheio.
Captivar — captivo. | Prender — preso.
Entregar — entregue. | Romper — roto.
Enxugar — enxuto. | Suspender — suspenso.
Escusar — escuso. | Affligir — afflicto.
Expressar — expresso. | Exhaurir — exhausto.
Fartar — farto. | Expellir — expulso.
Isentar — isento. | Extinguir — extincto.
58

tableau Junctar — juncto. | Frigir — frito.
Limpar — limpo. | Imprimir — impresso.
Matar — morto. | Inserir — inserto.
Salvar — salvo. | Tingir — tinto.
Soltar — solto.

Indicativo.

O presente do indicativo forma-se das radicaes do infinitivo,
ajunctando-se o, as, a, amos, ais, am nos verbos,
da 1.ª conjugação ; o, es, e, emos, eis, em, nos da
2.ª ; o, es, e, imos, is, em, nos da 3.ª ; e onho, ões, õe,
omos, ondes, õem
no verbo pôr. Exemplos :

tableau Andar. | Ceder. | Unir. | Pôr.
Ando. | cedo. | uno. | ponho.
andas. | cedes. | unes. | pões.
anda. | cede. | une. | põe.
andamos. | cedemos. | unimos. | pomos.
andais. | cedeis. | unis. | pondes.
andam. | cedem. | unem. | põem.

Exceptuam-se da 1.ª conjugação — dar e estar que
fazem — dou, dás, dá, damos, dais, dão : estou, estás, está,
estamos, estais, estão
.

Da 2.ª conjugação — caber, perder, poder, saber, valer
— teem a 1.ª pessoa do singular — caibo, perco, pósso, sei,
valho
, sendo regulares nas mais. Dizer, fazer, trazer,
requerer
, teem a 1.ª pessoa do singular — digo, faço,
trago, requeiro
, e a 3.ª — diz, faz, traz, requer.59

Crer, haver, ser e ter, conjugam-se desta fôrma :

tableau creio. | hei. | sou. | tenho.
crês. | has. | és. | tens.
crê. | ha. | ú. | tem.
crêmos. | havemos. | somos. | temos.
crêdes. | haveis. | sois. | tendes.
crêem. | hão. | são. | teem.

Por crer-se conjugam ler e ver, com a differença de
ter este ultimo a 1.ª pessoa do singular — vejo.

Da 3.ª conjugação — cobrir, medir, pedir, ouvir
teem a 1.ª pessoa cubro, meço, peço, ouço, as mais são
regulares. Os verbos — acudir, bulir, cuspir, construir,
destruir, engulir, fugir, sacudir, subir, tussir
— mudam
o u em o na 2.ª pessoa do singular, e nas 3.ªs de ambos
os numeros, como — acodes, acode, acodem, &.

Os verbos acabados em ir, tendo e na penultima syllaba,
mudam-no em i na 1.ª pessoa do singular, como —
ferir, firo, sentir, sinto, &.

Os verbos ir, vir, rir conjugam-se desta sorte :

tableau vou. | venho. | rio.
vás ou vais. | vens. | ris.
vai. | vem. | ri.
vamos ou imos. | vimos. | rimos.
ides. | vindes. | rides.
vão. | veem. | riem.

Observações.

Os verbos acabados em ear tomam no presente do indicativo
e no do conjunctivo um i depois do e, como —
60atear, ateio, ateie ; rodear, rodeio, rodeie ; &. Os acabados
em ger ou gir, mudam o g em j na 1.ª pessoa do
singular do presente do indicativo, e por tanto no presente
do conjunctivo, como — reger, rejo, reja ; fugir, fujo,
fuja
 ; &. Os acabados em guer ou guir com u surdo,
perdem-no antes de o ou a, como — erguer, ergo, erga ;
seguir, sigo, siga ; &. O verbo querer, e os acabados em
zer e zir depois de vogal perdem o e final que deveriam
ter na 3.ª pessoa do singular do presente do indicativo,
como — quer, diz, produz, &.

O imperfeito do indicativo forma-se das radicaes do
infinitivo, ajunctando-se ava, avas, ava, avamos, aveis,
avam
nos verbos da 1.° conjugação ; ia, ias, ia, iamos,
ieis, iam
nos da 2.ª e 3.ª ; e unha, unhas, unha, unhamos,
unheis, unham
no verbo pôr. Exemplos :

tableau Dar. | Ver. | Rir. | Pôr.
dava. | via. | ria. | punha.
davas. | vias. | rias. | punhas.
dava. | via. | ria. | punha.
davamos. | viamos. | riamos. | punhamos.
daveis. | vieis. | rieis. | punheis.
davam. | viam. | riam. | punham.

Exceptuam-se ser que faz — era, eras, era, éramos,
ereis, eram
; ter que faz — tinha, tinhas,, tinha, tinhamos,
tinheis, tinham
 ; e vir que se conjuga da mesma
forma.

O preterito perfeito fórma-se das radicaes do infinitivo
ajunctando-se as terminações ei, aste, ou, amos, astes,
aram
nos verbos da 1.ª conjugação ; i, este, eu,
61emos. estes, eram, nos da 2.ª ; e i, iste, iu, imos, istes,
iram
nos da 3.ª Exemplos :

tableau Amar. | Ceder. | Unir.
amei. | cedi. | uni.
amaste. | cedeste. | uniste.
amou. | cedeu. | uniu.
amamos. | cedemos. | unimos.
amastes. | cedestes. | unistes.
amaram. | cederam. | uniram.

Exceptuam-se os verbos da 1.° conjugação terminados
em car, que mudam o e em qu, e os acabados em gar
que tomam u depois do g todas as vezes que a estas figurativas
se seguir a letra e : como — pequei, neguei, &.
Estar e dar fazem — estive, estiveste, esteve, estivemos,
estivestes, estiveram : dei, déste, deu, demos, déstes, deram

Da 2.ª conjugação — Caber faz cube ou coube, coubeste,
coube, coubemos, coubestes, couberam
, e por este se
conjugam Haver e Saber. Dizer faz — disse, disseste,
disse, dissemos, dissestes, disseram
 : Fazer — fiz, fizeste,
fez, fizemos, fizestes, fizeram
 : Querer — quiz, quizeste,
quiz, quizemos, quizestes, quizeram
 : Trazer — trouxe,
trouxeste, trouxe, trouxemos, trouxestes, trouxeram
 :
Ver — vi, viste, viu, vimos, vistes, viram : Poder — pude,
podéste, pôde, podemos, podéstes, poderam
 : Ser — fui,
foste, foi, fomos, fostes, foram

Da 3.ª conjugação — Ir tem o mesmo preterito que o
verbo ser ; e vir faz —vim, viéste, veiu, viemos, viestes,
62vieram. O verbo pôr faz — puz ou poz, pozéste, poz,
pozemos, pozestes, pozeram
.

O preterito mais que perfeito forma-se da 2.ª pessoa
do preterito perfeito, mudando a terminação ste em
ra, ras, ra
. ramos, rais, ram para todos os verbos sem
excepção. Exemplos :

ste — déra, déras, déra, déramos, déreis, déram.

Viste — vira, viras, vira, viramos, vireis, viram.

Pediste — pedira, pediras, pedira, pediramos, pedireis,
pediram.

Pozéste — pozéra, pozéras, pozéra, pozéramos, &.

O futuro imperfeito e o condicional fomam-se do
infinitivo impessoal accrescentando-se ao r final as
minações ei, ás, á, emos, eis, ão para o futuro : e ia, ias,
ia, iamos, ieis, iam
para o condicional de todas as conjugações.
Exemplos :

Dar — darei, darás, dará, daremos, dareis, darão.
daria, darias, daria, dariamos, darieis, dariam.

Ser — serei, serás. será, seremos, sereis, serão,
seria, serias, seria, seriamos, serieis, seriam.

Vir — virei, virás, virá, viremos, vireis, virão
viria, virias, viria, viriamos, virieis, viriam.

Pôr — porei, porás, porá, poremos, poreis, porão,
poria, porias, poria, poriamos, porieis, poriam.

Exceptuam-se dizer, fazer e trazer que perdem no futuro
e no condicional as letras ze, formando-os — direi,
diria
 ; farei, faria : trarei, traria ; &.

O imperativo

Forma-se do presente do indicativo somente pela suppressão
63do s final nas pessoas correspondentes, e pela
posposiçâo dos sujeitos ou pronomes.

tableau Indicativos. | Imperativos.
Tu amas. | ama tu.
Vós amais. | amai vós.
Tu cedes. | cede tu.
Vós cedeis. | cedei vós.
Tu unes. | une tu.
Vós unis. | uni vós.
Tu pões. | põe tu.
Vós pondes. | ponde vós

Exceptua-se ser, que tendo no indicativo, es, sois, faz
o imperativo — tu, sêde vós. Ter e vir mudam em m
o ns da 2.ª pessoa do singular, fazendo tem tu, vem tu.
Querer não tem imperativo.

Conjunctivo.

O presente do conjunctivo forma-se da 1.ª pessoa do
presente do indicativo, pela mudança do o em e, es, e,
emos, eis, em
para os verbos da 1.ª conjugação; e em
as, a, amos, ais, am para os de todas as outras. Exemplos :

tableau amo. | cedo. | uno. | ponho.
ame. | ceda. | una. | ponha.
ames. | edas. | unas. | ponhas.
ame. | ceda. | una. | ponha.
amemos. | cedamos. | unamos. | ponhamos.
ameis. | cedais. | unais. | ponhais
amem. | cedam. | unam. | ponham.
64

Exceptuam-se da 1.ª conjugação dar e estar, da 2.ª
haver, querer, saber e ser : e da 3.ª ir, que se conjugam
desta forma :

Dê, dês, dê, demos, dêis, dêem.
Esteja, estejas, esteja, estejamos, estejais, estejam.
Haja, hajas, haja, hajamos, hajais, hajam.
Queira, queiras, queira, queiramos, queirais, queiram.
Saiba, saibas, saiba, saibamos, saibais, saibam.
Seja, sejas, seja, sejamos, sejaes, sejam.
Va, vás, vá, vamos, vádes, vão.

O imperfeito do conjunctivo forma-se da 2.ª pessoa
do perfeito do indicativo pela mudança da terminação
ste, em sse, sses, sse, ssemos, sseis, ssem para todos os verbos.
Exemplos :

tableau amaste. | cedeste. | uniste. | pozeste.
amasse. | cedesse. | unisse. | pozesse.
amasses. | cedesses. | unisses. | pozesses.
amasse. | cedesse. | unisse. | pozesse.
amassemos. | cedessemos. | unissemos. | pozessemos.
amasseis. | cedesseis. | unisseis. | pozesseis.
amassem. | cedessem. | unissem. | pozessem.

O futuro imperfeito do conjunctivo forma-se tambem
da 2.ª pessoa do preterito perfeito do indicativo mudando
a mesma terminação ste em r, res, r, rmos, rdes,
rem
em todos os verbos. Exemplos :

tableau déste. | soubéste. | viéste. | pozéste.
der. souber. | vier. pozer.
65

tableau deres. | souberes. | vieres. | pozeres.
der. souber. vier. pozer.
dermos. | soubermos. | viermos. | pozermos.
derdes. | souberdes. | vierdes. | pozerdes.
derem. | souberem. | vierem. | pozerem.

XII. Da preposição.

Preposição é a parte da oração que, posta entre duas
palavras, faz que a segunda restrinja, complete ou modifique
a significação da primeira, como : — O templo do
Senhor. Util á salvação. Adorar a Deus. Orar com
fervor.

As preposições da nossa lingua são as seguintes : A,
até, ante, após, com, contra, de, desde, durante, em,
entre, para, per, perante, por, sem, sob, sobre
.

De depois de um substantivo appellativo restringe-lhe
a significação, como : O amor da sabedoria. O termo de
meus desejos.

De, a, para depois de palavras de significação relativa
exprimem relação terminativa, como : Gosto do estudo.
Pobre de espirito. Conduzir á gloria. Dado á meditação.
Concorrer para o bem publico. A tendencia para
o mal.

Per ou por, quando rege o agente na oração passiva
exprime relação terminativa, como : O Brazil
foi descoberto por Cabral.

A preposição a anteposta ao regimen dos verbos transitivos,
emprega-se ou por euphonia, ou para indicar o
objecto da acção do verbo e evitar equivoco, como :
66Enéas matou a Turno. A seu pai salvou elle de incendío.

Todas as preposições exprimem relação circumstancial,
quando denotam lugar, tempo, modo, causa, concurso,
&. Exemplos: Longe da patria. Pelo verão.
Morreu em paz. Tremeu de horror. Concorreu com
Pedro, &.

Alem das preposições propriamente ditas, empregam-se
tambem como taes certas palavras e expressões
compostas, chamadas locuções prepositivas, para exprimir
relações circumstanciaes, e mesmo terminativas.
Exemplos : Proceder segundo a razão. Descansar depois
de velho. Meditar a respeito da morte, acerca da vida;
isto é, em a morte, sobre a vida.

XIII. Do adverbio.

Adverbio é uma palavra invariavel que modifica o adjectivo
ou verbo a que se ajuncta, com relação ao logar,
ao tempo, á quantidade, ao modo ou qualidade. Exemplos:
Aqui me encontrarás quando voltares. Desejo muito
que te saias bem. Os adverbios mais usuaes são os
seguintes :

De logar : Aqui, ahi, ali, cá, lá, acolá, onde, algures,
alhures, nenhures, aquem, alem, arriba, acima, abaixo,
dentro, fóra, diante, detraz, defronte, longe, perto
, &.

De tempo : Hoje, hontem. amanhã, antes, depois,
sempre, jamais, nunca, já, agora, ora, quando, avante,
então, logo, ainda, cedo, asinha, tarde
, &.

De quantidade : Tão, quão, muito, mais, menos, assás,
quasi, cerca, pouco, apenas, sequer
, &.67

De modo e qualidade : Assim, como. sim, não, talvez,
quiçá, eis, só, sómento
, &.

A maior parte dos adverbios de qualidade se fórma
ajunctando a palavra mente á terminação feminina dos
adjectivos qualificativos, como Justamente, sabiamente,
&. Seguindo-se dous ou mais destes adverbios costuma-se
supprimir a terminação dos primeiros, como : Pedro
viveu pobre, pia e christãmente.

Todo adverbio exprime uma circumstancia da proposição,
e por isso alguns Grammaticos o definem : Adverbio
é a concentração de uma preposição com o seu regimen
,
em o que sempre póde ser desenvolvido. Exemplos :

tableau Aqui significa | neste logar.
Hoje | neste dia.
Tão | em tanta quantidade.
Assim | desta maneira.
Docemente | com doçura.

D’aqui nasce o serem chamadas locuções adverbiaes
as expressões — a proposito, com effeito, por ventura
e outras similhantes que teem força de adverbios.

XIV. Da conjuncção.

Conjuncção é uma palavra invariavel, que une as partes
homogeneas da oração ou do discurso, indicando conveniencia,
opposição, dependencia ou condição entre ellas.
Exemplos : Diz a Escriptura que a sabedoria e a virtude
nos veem de Deus ; mas que só as alcançaremos se
nos esforçarmos para merecel-as.68

Ha varias especies de conjuncções, de que as principaes
são as seguintes :

Copulativas : E, que, tambem, bem, assim, outro, sim,
item
, &

Disjunctivas : Ou, nem, já, quer, ora, quando, &.

Adversativas : Mas, porém, ainda que, com tudo, &.

Condicionaes : Se, senão, com tanto que, salvo se, &.

Causaes : Como, que, porque, por quanto, visto
que
, &.

Conclusivas : Logo. pois, pelo que, donde, por conseguinte,
&.

Explicativas : Como, por exemplo, a saber, isto é, &.

* Note-se que as conjuncções, formadas de duas ou
mais palavras, chamam-se tambem frases ou locuções
conjunctivas
.

XV. Da interjeição.

Interjeição é uma expressão abreviada de nossas diversas
affecções, como : Eia ! Oxalá !
As interjeições mais usuaes são as seguintes :

De admiração | Ah ! oh ! ui !

De excitar attenção | Ó ! psio !

De dôr | Ai ! guai ! hui !

De espanto | Ápage ! apre !

De desejo | Oh ! oxalá !

De excitamento | Olá ! eia ! sus !

De aversão | Arre ! irra !

De derisão | Ah ! ah !

De indicar | Eis !

De excitar | Alerta !69

A interjeição equivale sempre a uma oração. Exemplos :

Ó ! significa | Attende-me ! Ouve-me !
Ai ! | Eu soffro ! Acudi-me !
Sus ! | Não afrouxeis ! Sigamos !

Capitulo II.
Da prosodia.

Prosodia é a parte da Grammatica que ensina a
pronunciar as palavras com o seu devido som e accento.

I. Do som.

Som é a emissão da voz com que pronunciamos as palavras,
e é representado por alguma ou algumas das letras
do alfabeto — a, b. c, d, e,. f, g, h, i, j, l, m, n,
o, p, q, r, s, t, u, v, x, y, z
, que se dividem em vogaes
e consoantes.

As vogaes sao — a, e, i, o, u, y, que por si sós formam
syllabas ou representam um som perfeito.

A reunião de duas vogaes, pronunciadas com um só
impulso da voz, chama-se diphthongo, como ai, ei, oi,
õe
, &.

Todas as outras letras são consoantes, porque sem
ajunctamento de vogal não formam syllaba, e se devem
pronunciar como se fossem seguidas de um e. Exemplos:
be, ce, (que), de, fe, ge (que), je, le, me, ne, pe,
qe (que), re, se, te, ve, xe, ze
.

Além d’estas consoantes, representadas por um só caracter,
70temos mais as seguintes — ch, lh, nh, representadas
por dois, e que se pronunciam — che, lhe, nhe.

Algumas das consoantes mudam do som em certas occasiões,
o que se verá nas seguintes regras.

C antes de e, i ou y, e cedilhado (ç) antes de a, o, u.
tem o som de s, como em cento, cinco, cysne, lançar,
paço, açucar
, &.

G antes de e, i ou y tem o som de j, como em geito,
ginja, gyrofe
, &.

H é quasi sempre mudo, e só nas interjeições e entre
vogaes no meio das palavras denota aspiração, como em
ah ! attrahir, apprehensão, &. Tambem serve para formar
as consoantes — ch, Ih, nh ; e ainda assim nas palavras
compostas da preposição latina in, como inhabil,
inhospito
. não tem valor algum, porque pronunciamos
i-nabil, inóspito.

K é uma letra occiosa no nosso alfabeto, porque o seu
som ó identico no do c e q.

L. M. N. R. S, perdem o som e, quo teem depois de si,
quando formam syllaba com vogal antecedente, como em
alto, tempo, cinto, dôr, busto. &.

L e R chamam-se liquidos quando precedidos d’outra
consoante pronunciam-se junctos com a vogal seguinte,
como em clave, flecha, primo, tronco, &.

R entre vogaes ou no fim das palavras toma um som
mais brando, como em cêra, féra, altar, &.

S entre vogaes toma o som do z, como em vaso, riso, &.
Porém nas palavras compostas, pertencendo o s ao
principio da segunda, embora entre vogaes, conserva
proprio som, como em desolar, presuppor, resentir, &.71

X nas palavras que principiam por ex antes de vogal
ou h, tem o som de z, como em exaltar, exemplo, exigir,
exhortar, exhumação
, &. e todas as vezes que formar
syllaba com vogal antecedente, seguindo-se consoante,
toma o som do s, como em excelso, bissexto, & ; e
e no meio das palavras entre vogaes, não sendo a primeira
diphthongo, tem o som de , como em reflexo, fixo,
refluxo
, &.

Ck em palavras derivadas do Grego ou do Latim tem
o som de c, k ou q, como em Achaia, Achilles, Architecto,
&.

Ph se pronuncia com o som de f nas palavras que o
conservam do Grego, como em Philosopho, Geographia,
&.

Z no fim das palavras toma o som de s, como em paz,
dez, giz, voz, cruz
, &.

A vogal u precedida de g ou q, e seguida de e ou i perde
inteiramente o som, como em guerra, guizo, etc : porem
em algumas palavras se faz sentir levemente, como
em languido, equestre, &.

II. Do accento.

Accento é a maior ou menor elevação da voz com que
pronunciamos as vogaes. Quatro são os accentos da lingua
portugueza, que se denotam sobre as vogaes pelos
seguintes signaes : () breve ou mudo, (') agudo, (') circumflexo,
(~) nasal, que tambem se nota com m ou n
depois da vogal. Não se deve porem empregar accentos,
senão em palavras pouco usadas, ou quando possa haver
equivoco na sua significação.72

O accento breve não é notado por sinal algum sobre
a vogal, que deve ser pronunciada com a voz mais baixa
possivel, como o a da palavra dia.

O accento agudo denota que a vogal deve ser pronunciada
com voz forte e distincta, e com os labios bem
abertos, como o é da palavra céo.

O accento circumflexo denota que a vogal deve ser pronunciada
com voz forte, mas com os labios meio-abertos,
como o o da palavra pôdre.

O accento nasal denota que parte» do som da vogal
deve sahir pelo nariz, como o u da palavra cumpro.

Exemplos das vogaes com os seus differentes accentos.

tableau Breve. | Agudo. | Circumflexo. | Nasal.
A. | Vida. | Está. | Mâs. | Irmã.
E. | Saude. | Café. | Cêra. | Vintem.
I. | Pallido. | Japi. | — | Setim.
O. | Avo. | Avó. | Avô. | Melões.
U. | Tribu. | Jacú. | — | Jejum.

III. Da quantidade das syllabas.

Quantidade de uma syllaba ó o tempo que gastamos
em sua pronunciação. A syllaba. quanto á sua quantidade,
é breve, longa ou grave.

Syllaba breve é a que pronunciamos com rapidez,
como as ultimas de casa, dente, quasi. santo, tribu.

Syllaba longa é aquella em cuja pronunciação gastamos
mais tempo do que na breve. São naturalmente longas
as syllabas em que ha diphthongo, as de accento nasal
73ou circumflexo. as que ficam antes de letras dobradas
ou de duas consoantes. não sendo alguma liquida,
como as primeiras de causa, tempo. doce, passo, triste.

Syllaba grave é a que, sendo de natureza longa, perde
parte de sua força por estar subordinada á predominante
da mesma palavra, como as primeiras de frouxamente,
temporal
, e as ultimas de órgão, dormem.

Chama-se predominante a syllaba em cuja pronunciação
elevamos mais a voz do que nas outras da mesma palavra,
como as primeiras de pála, rede, as segundas de
infindo, assombro, e as ultimas de rapé. paúl.

IV. Das figuras de dicção.

Figura de Dicção é uma modificação feita no som da
palavra para tornal-a mais suave na pronunciação. As
palavras podem ser modificadas na pronunciação por accrescentamento,
diminuição, contracção, ou substituição
de letras. As figuras de dicção mais usadas são as seguintes :

Próthese, quando no principio da palavra se accrescenta
alguma letra, como — alembrar, alevantar, por
lembrar, levantar.

Epenthese, quando se accrescenta no meio, como —
Mavorte, Atalante, por Marte, Atlante.

Paragóge, quando se accrescenta no fim, como flébile,
martyre, por flébil, martyr.

Aphérese, quando no principio da palavra se diminue
alguma letra, como — liança, maginação, no, na, por
alliança, imaginação, em o, em a.74

Syncope, quando se diminue no meio, como – hemos,
mór, são, por havemos, maior, santo.,

Apócope, quando se diminue no fim, como – carcer,
marmor, por carcere, marmore.

Ecthlipse, quando para haver contracção se supprime
o m final de uma palavra, principiando a seguinte por
vogal, como — co'o ferro, co´as mãos, por
com o ferro, com as mãos.

Synérese, quando duas vogais de palavras distinctas
se contráem n´uma só syllaba, como — ao, aos, co'o, co´a,
por a o, a os, com, com a.

Synallepha, quando se supprime a vogal final de uma
palavra; formando syllaba a sua ultima consoante com a
vogal inicial da palavra seguinte, como — do, da, delle,
disto
, por de o de a, de elle, de isto.

Antithese, quando se substitue uma consoante por outra
mais suave, como — amal-o. fel-o, pol-o, em vez de
amar-o, fez-o, por-o.

As figuras que teem por fim a inversão das syllabas ou
letras de uma palavra, ou que lhe contrafazem o som
natural, como — auga, dromir, impio, por agua, dormir,
impio
— , não sendo por necessidade de metrificação devem
ser evitadas como barbarismos.

Capitulo III.
Da orthographia.

Ortographia é a parte da Grammatica que ensina a
escrever correctamente as palavras, e a empregar convenientemente
os signaes da pontuação.75

O systema de Orthographia mais geralmente seguido
é o que tem por base a derivação das palavras ou etymologico;
mas como este só se póde aprender cabalmente
com muito estudo, ou com a pratica de escrever, consultando
bons diccionarios, aqui daremos somente algumas
regras para evitar os erros mais grosseiros, que se encontram
nos que não teem conhecimento algum da Orthographia.

I. Das vogaes

1.ª Na lingua portugueza as vogaes nunca mudam de
som, senão pelos accentos, por isso devem ser escriptas
como sôam, depois de bem pronunciadas as palavras.

2.ª Os sons nasaes escrevem-se, ou com til por cima,
como — ã, ẽ, ĩ, õ, ũ, quando formam diphthongo ; ou com
m adiante sendo fínaes ou ficando antes de b, m, p, como
em bom, cambio, gomma, limpo : ou com n em todos os
mais casos, como em franja, honra, santo, &. Exceptuam-se :
1.° Afã, avelã, lã. maçã, manhã, ortelã, romã,
que se podem escrever com n ou til : e a terminação
feminina dos nomes acabados em ão, como — aldeã, cidadã,
irmã
, &, que sempre se escreve com til. 2° As
palavras compostas da preposição circum e do adverbio
bem
, como — circumdar, bemfeitor, em que se conserva
o m antes de qualquer consoante, assim como o da preposição
com, quando se liga ás variações dos determinativos
pessoaes, como — commigo, comtigo, &. 3.° A final
dos nomes hymen, joven, lumen, regimen, semen, canon,
que se escrevem com n.

3.ª Quando houver o som de au ou ao, deve escrever-se
76au se fôr no meio ou no principio da palavra, e ao,
se fôr no fim, como em aurea, causa, mao, &.

4.ª Havendo o som de eo ou eu, deve escrever-se sempre
eu, quer no meio, quer no fim, como em Ceuta, leu,
meu, &. Exceptuam-se porém as palavras em que o e fôr
agudo, como — céo, mantéo.

5.ª Os sons io, e iu finaes devem escrever-se, o primeiro
nos nomes, como em rio, sadio ; e o segundo nos
preteritos dos verbos, como em riu, fugiu, &.

6.ª Os sons io, ia, breves, devem escrever-se sempre
assim no fim das palavras, como em conscio, gloria,
mysterio
. Com tudo alguns nomes escrevem-se com eo,
ea
, como — craneo, páteo, férreo, férrea, láteo, látea,
&.

7.ª Os sons ai, oi, ui. devem escrever-se sempre deste
modo, como em amai, noite, fui. Exceptuam-se os
plurais dos nomes que fazem o singular em al, ol, ul,
como — annaes, caracoes, tafues, &.

8.ª Os diphthongos nasaes ãe, ão, õe devem escrever-se
sempre desta sorte, advertindo-se que o til fique sobre
a primeira vogal, que é a nasal, como em mãe, não,
põe
, &.

9.ª Para distinguirmos os preteritos dos futuros nos
verbos que os teem similhantes, accentuaremos a penultima
syllaba dos preteritos, escrevendo os futuros sem
outro accento mais que o til, como — amárão, amarão,
cedêrão, cederão
 ; e melhor ainda será escrevermos os
presentes e preteritos, com am, como amam, amavam,
amaram
, &, por ser menos susceptível de engano, mais
conforme á pronuncia, talvez mais etymologico, e se ir
tornando cada vez mais autorisado.77

II. Das consoantes

1.ª Nunca se cedilha c, antes de e ou i, e sim antes
de a, o, u. quando tem som de s, como em alça, centro,
cifra, poço, açude
, &

2.ª Não se deve empregar ç no principio da palavra ;
e sim no meio de algumas, e no fim de quasi todos os
nomes acabados em ça, ço, çu, ção, e nas vozes dos verbos
que fazem o infinito em çar, como em braça, moço,
uruçú, acção, dançar, lançar
, &.

3.ª Antes de e ou i escreve-se qu em logar de c, quando
este conserva o seu proprio som, como em fique, conquista.
O mesmo se faz quando na palavra veem as vozes,
cua, cue, cui, como em equador, equestre, quinquagesimo,
&.

4.ª Ch com o som de c ou k deve ser despresado na
Orthographia portugueza, escrevendo-se simplesmente c
antes de n, o, u, e qu, antes de e ou i, como em escola,
monarca, monarquia
, &.. Com tudo o uso conserva o
ch nos nomes proprios, e nos que principiam por arch,
— como Achilles, Acheronte, archiduque, archipelago,
&.

5.ª As palavras portuguezas que principiam por x
são — xaca, xacara, xacoco, xadrez, xalmas, xaque,
xara, xarel, xaréo, xaretas, xarife, xarope, xarouco,
xeque, xergão, xira, xiró
e alguns derivados. No
meio e fim das palavras escreve-se x em bexiga, bruxa,
buxo, cartaxo, cartuxo, coxo, coxia, coxim, faxa,
graxa, laxar. lixa, lixo, luxo, mexer, mexerico, Mexico,
mexilhão, puxar, rexa, rixa, roxo, taxa, vexar
,
com seus compostos e derivados; e todas as vezes que
78seu som vier depois do diphthongo, ou de en inicial, como
em baixa, queixa, enxame, enxerto, &. Exceptuando-se
encher e encharcar com seus dirivados e compostos.
As mais vezes em que viér o som de x ou ch deve escrever-se
ch, como em concha, gancho, &.

6.ª Antes de e, ou i, escreve-se sempre u depois de g,
quando este conserva o seu proprio som, como em guerra,
guiso
, &.

7.ª Antes de e ou i escreve-se g em logar de j, como
em gente, giga, &.; mas antes de e ha as seguintes excepções :
1.ª No principio das palavras Jeronimo, Jesus,
Jericó, Jerusalem, jejum, jellala, jenolin, jerarchia,
jeroglyphico, jeropiga
e seus derivados ; bem como nos
dos nomes de animaes e plantas brasilicas, como
jerepemonga, jenipapo, &. 2.ª No meio das palavras
adjectivo, conjectura, objecto, projectar, rejeitar, sujeitar,
e no de seus compostos e derivados. 3.ª No fim das
palavras hereje, hoje, e das vozes dos verbos que teem o
infinito em jar como em desejei, invejei, troveje, &.

8.ª Ph conserva-se nos nomes proprios, e nos de artes
e sciencias ; como em Phedro, Phrygia, Philosophia,
&.

9.ª Escreve-se s em lugar de z quando no meio da palavra
e entre vogaes vier o som desta ultima, como em
Brasil, casa, rosa, &. Exceptuam-se : 1.° Os nomes
que principiam por az, e os que terminam em êza, como
azeite, azul, belleza, fereza &. 2.° As vozes dos verbos
que teem o infinito em zar, zer, ou zir, como — prezar,
dizer, conduzir
, &.; e algumas dos verbos pôr e querer,
como — pozér, pozéra, quizer, quisera, &.79

10.ª Escreve-se x em logar de z, quando no principio
da palavra e entre vogaes vier o som desta ultima
como em exame, exercito, &. Tambem se escreve x em
logar de todas as vezes que vier este som, como em
sexo, fluxo, refluxo, &. Em algumas palavras se escreve
x em logar de s, como — enxarcia, extrahir. & ; mas
a este respeito nenhuma regra se póde dar.

11.ª Escreve-se z em logar de s final nas palavras
que acabam em az, ez, iz, oz, uz, com esta syllaba predominante,
como em rapaz, prenhez, matriz, retroz,
abestruz
, & ; e nas vozes verbaes — faz, praz, traz, fez,
diz, quiz, poz, puz
, e outras similhantes.

III. Das letras dobradas.

1.ª Nenhuma consoante se deve dobrar no principio,
ou no fim das palavras portuguezas. As consoantes h, j,
k, q, v. x, z
, nunca se dobram.

2.ª B. dobra-se somente em abbade, rubbi, sabbado e
em seus derivados, que tambem se pódem escrever com
um só b.

3.ª C, L. M, N, são as letras que mais se dobram,
para o que porém nenhuma regra segura se póde dar.

4.ª D se dobra somente em addensar, addicionar,
addir, adduzir
e derivados.

5.ª F se dobra sempre precedido de di, e, o, su iniciaes
como em differença, effluvio, offensa, suffocar,
&. e em affavel, affecto, affeiçoar, affiliar, affinco. affinidade,
affirmar, affixar, affligir, affluir, affrontar

com séus compostos e derivados.80

6.ª G dobra-se somente em agglomerar, agglutinar
aggravar, aggredir, aggregar, aggressor, suggerir, suggestão

e derivados.

7.ª P dobra-se antes de l precedido de a e su iniciaes,
como em applauso, supplicio, & ; e em algumas outras
palavras, como em apparato, appendice, mappa, opportuno,
opprobrio
, (21)22 &.

8.ª R dobra-se entre vogaes todas as vezes que sôa
forte, como em carro, ferro, &. Exceptuam-se as palavras
compostas de de ou pro, como — derogar, prorogar,
que se escrevem com um só r.

9.ª S dobra-se tambem entre vogaes, quando conserva
o seu proprio som, como em assar, apressar, &. Exceptuam-se
as palavras compostas de de, pre, pro, re e
sobre, como deseccar, preservar, proseguir, resoar, sobresalto,
em que se escreve com um só s.

10.ª T dobra-se somente em attemperar, attenção,
attender, attentar, attenuar, attestar, attico, attingir,
attitude, attonito, attracção, attrahir, attribuir, attributo,
attricção, guttural
, e no verbo metter com seus
compostos e derivados, como — remetter, permittir, &.

IV. Do emprego das letras maisculas, do uso do hyphen
e do apostropho.

Só devemos usar de letra grande : 1.° No principio dos
81periodos, e depois de frases admirativas ou interrogativas.

2.° No principio de cada verso de qualquer poema, e
no de algum dito ou sentença que referimos, como : Solon
dizia : Ninguem deve ser considerado feliz em quanto
viver
.

3.° No principio dos nomes proprios, gentilicos (22)23, de
sciencias e artes, como Cicero, um dos maiores Romanos,
amou constantemente a Philosophia e a Oratoria.

4.° No principio dos nomes de dignidades, profissões
e parentesco, quando são tomados em sentido determinado.
como : Meu Pai deu-me sempre provas do meu
melhor amigo.

Hyphen ou linha conjunctiva (-) usa-se : 1.° Para reunir
duas palavras numa só, como : Alti-sonante, rôxo-terreo,
&. 2.° Para ligar aos verbos as palavras incliticas,
como : Lembra-me, fez-se-lhe, &.; 3.° Para dividir a palavra
que não coube toda na linha em que começou, indicando
que continúa na seguinte,como : Vale mais o contentamento
que a riqueza.

Quando houvermos de dividir alguma palavra no fim
da linha, devemos decompol-a para vermos as letras que
82pertencem a cada syllaba, afim de que esta não fique
partida. Se na palavra houver letra dobrada, uma deve
ficar no fim da linha, e a outra passar para o principio
da linha seguinte, como ap-pel-lar, admit-tir, &.
Seguindo-se as consoantes cc, ct, gm. gn, mn, ps, pt, devem
passar ambas para a linha seguinte, como : a-cção,
fa-cto, au-gmento, di-gno, da-mno, la-pso, escri-pto
&.
As palavras compostas porém devem ser divididas nas
simples de que se compõem, como — circum-dar, des-ordem,
sub-ordinar
, &.

Apostropho (’) é uma virgula posta no alto da consoante
para indicar que se supprimiu a vogal della, como —
Sant´Anna, off´recer, sec´lo, &. O uso tem substituido
o apostropho pelo til em algumas palavras escriptas em
breve
, pára indicar suppressão não só de vogal, mas tambem
de alguma ou algumas consoantes. como : Senr..
Miz, por Senhor, Misericordia.

V. Da pontuação.

Pontuação é a arte de indicar por meio de certos signaes
as pausas que na leitura se devem fazer para boa
intelligencia do discurso. Estes signaes são os seguintes :
Virgula — , —, ponto e virgula — ; —, dois pontos — : —,
ponto final — . —, ponto de interrogação — ? —, ponto de
admiração
— ! —, reticencia — … —, parentheses
( ) —.

A virgula denota uma pequena pausa, e serve para
separar os sujeitos e attributos das proposições compostas,
os complementos, as palavras e orações continuadas.
83e as explicativas : escreve-se tambem entre virgulas a
pessoa ou cousa personalisada com quem fallamos, as
palavras e orações encravadas e as transpostas. Exemplos :

« As molestias, desgraças e miserias, que tanto envenenam
a nossa existencia, nascem quasi sempre da
gula, da ignorancia e da ociosidade, mães fecundas de
todos os males. — Sêde sobrios, prudentes e activos,
meus amigos, dizia elle, gozareis saude, evitareis tormentos
e vivereis fartos. »

* Observe-se que as conjuncções e e ou supprem a
virgula entre os últimos membros da frase, quando estes
não exprimem dissimilhança, ou não estão modificados
por alguma circumstancia.

O ponto e virgula, denota pausa maior que a da virgula,
e serve para separar os membros da mesma frase
já divididos, por virgulas ; os que, embora não divididos,
exprimirem idéas oppostas ; e quasi sempre
as orações precedidas das conjuncções mas, porem, porque,
e de outras similhantes. Exemplos :

« A inveja torna suas victimas pallidas, magras e
amarellas ; tira-lhes o somno e o appetite ; e o unico bem
que faz, segundo dizem, é arrebentar o invejoso. — O
prudente procura evitar os perigos ; o insensato intenta
arrostal-os. — Ninguem ha que não procure a felicidade ;
mas nem todos seguem as vias que conduzem para
ella. »

Os dois pontos denotam uma pausa suspensiva, e
maior que a do ponto e virgula ; e são empregados para
separar, em um periodo, as partes que estão quasi independentes,
84mas que ainda conservam alguma relação entre
si: empregam-se tambem no fim das orações que vão
referir ditos, palavras, sentenças ou discursos de outrem.
Exemplos :

« Escuta os sabios conselhos que te derem, e submette-te
desde menino ás leis que te forem impostas : envelhecendo,
não larga o homem o caminho que trilhou na
mocidade. Jesus Christo disse : A quem em meu nome
soccorrer o necessitado, não faltará soccorro em suas
precisões. »

Ponto final emprega-se no fim do periodo ou frase a
que nada ha que ajunctar. como : Deus creou o céo e a terra.

O ponto de interrogação emprega-se no fim da frase
que exprime pergunta, e com cujo accento de voz deve
ser lida, como : Quem poderá honrar ao que se deshonra
a si mesmo ?

O ponto de admiração emprega-se no fim da frase que
exprime transporte, surpreza ou compaixão, como :
Quanto é grande o poder do Creador !

A reticencia emprega-se no fim da frase não concluida
ou que foi interrompida por alguma idéa que de subito
sobreveio. Exemplo :

« Quem, ó ventos, vos deu tamanha audacia
De escarcéos levantar em meu imperio,
Que só eu ?… Mas convem pôr termo as ondas. »

Parenthesis serve para encerrar alguma frase que interrompe
o sentido do discurso, mas que o esclarece ou
85modifica, e que deve ser lida em tom mais baixo. Exemplo :

« Eu só com meus vassallos, e com esta
(E dizendo isto arranca meia espada)
Defenderei da força dura e infesta
A terra nunca de outrem subjugada. »

Capitulo IV.
Da syntaxe.

Syntaxe é a parte da Grammatica que regula o emprego
das palavras na composição da oração e do periodo.
Divide-se em Syntaxe de concordancia, e de regencia-, e
póde ser regular, ou figurada.

Syntaxe regular é a que ensina a compor a oração
segundo os preceitos da Grammatica.

Syntaxe figurada é a que ensina a composição da oração
conforme o uso e estylo da lingua.

I. Da oração e suas partes essenciaes.

Oração ou proposição grammatical é a enunciação de
um sujeito, de quem se affirma ou nega alguma cousa.
Ella deve constar necessariamente de duas partes pelos
menos, que são sujeito e verbo, sendo este de significação
absoluta, como — A terra gira ; e de mais um attributo,
se o verbo fôr de existencia, como — O sol é brilhante ; ou
de um termo chamado paciente ou complemento objectivo,
86se o verbo fôr de acção transitiva, (23)24 como — A lua
tem dois movimentos
.

O sujeito é a pessoa ou objecto de quem se affirma ou
nega alguma cousa, e cujo caracter e numero são indicados
pelo verbo, como — terra, sol, lua — nos exemplos
acima.

O sujeito da oração póde ser qualquer substantivo,
alguns dos pronomes pessoaes ou dos demonstrativos relativos,
algum verbo no infinito, ou outra oração. Exemplos :
Pedro brinca. — Tu corres. — Quem morreu ? O estudar
é util. — O não nos contentarmos com a nossa sorte
é a causa da maior parte de nossas desgraças.

O verbo é sempre a palavra que exprime a existencia,
estado ou acto do sujeito.

Attributo é o que se affirma ou nega do sujeito por
meio dos verbos de existencia, como : O sol é brilhante.

O attributo póde ser algum adjectivo qualificativo,
algum substantivo, ou qualquer frase que modifique o
87sujeito. Exemplos : Tu és feliz. — João foi advogado
A minha occupação é instruir a mocidade.

Paciente é o objecto sobre que recahe a acção do sujeito
por meio do verbo transitivo, como : A lua faz seu
movimento.

* Tudo quanto póde ser sujeito, póde tambem ser
paciente. Exemplos : Eu escrevo Grammatica. — Esta
occupação instrue-me. — Que fazes ahi ? — Vós aprendeis
a ler. — Vejamos se elles estudam.

A oração, considerada em seus termos, póde ser simples,
composta
ou complexa.

Oração simples é a que consta de um só sujeito, e de
um só attributo ou paciente, como : O vicio é feio. — Eu
amo a virtude
.

Oração composta é a que tem mais de um sujeito, ou
mais de um attributo ou paciente, como : Pedro e Paulo
são probos
. — Francisco é grato e generoso. — João e Antonio
estudam Grammatica e Geographia
.

* A oração composta póde ser dividida em tantas simples,
quantos forem seus sujeitos, attributos ou pacientes.
Assim se dividirá a primeira das orações citadas :
Pedro é probo, e Paulo é probo ; a 2.ª Francisco é grato,
e Francisco é generoso ; a 3.ª João estuda Grammatica,
e João estuda Geographia ; Antonio estuda Grammatica
e Antonio estuda Geographia.

Oração complexa é aquella cujo sujeito, attributo ou
paciente é modificado por outra proposição, ou por idéas
equivalentes, como : Deus justo (ou que é justo) não deixará
sem premio o virtuoso (ou o homem que é virtuoso.88

II. Do periodo e orações que o compõem

Periodo é a reunião de varias orações subordinadas a
uma d'ellas, que é a principal, e da qual dependem todas
as outras.

* A oração, considerada como parte do periodo, é ou
principal ou subordinada, ou parcial.

Oração principal é a que por si só faz sentido completo
no periodo, e é sempre enunciada por verbo do indicativo
ou do imperativo, sem conjuncção que a torne
dependente de outra.

Oração subordinada é a que depende de outra por
meio de alguma conjuncção, e por isso não faz por si só
sentido completo : ella póde ser enunciada por verbo de
qualquer modo.

Oração parcial é a que faz parte de outra, ou modifica
algum de seus membros. Exemplo : A dor que nos
causa o arrependimento de nossos erros traz comsigo um
germe de consolação, porque já a consciencia, que é inspiração
divina, começa a dirigir a nossa reflexão.

Neste periodo a oração principal é — A dor traz comsigo
um germe de consolação
, por fazer sentido completo.
Porque já a consciencia começa a dirigir a nossa reflexão — é
uma oração subordinada, por depender da principal
por meio da conjuncção porque. Que nos causa o
arrependimento de nossos erros, — que é inspiração divina
,
e — a dirigir a nossa reflexão — são orações parciaes :
as duas primeiras, por modificarem os sujeitos dor
e consciencia ; a terceira, por servir de complemento a
subordinada.89

As orações parciaes dividem-se em integrantes e incidentes.

Oração integrante é a que faz parte de outra como
sujeito, attributo, ou complemento necessario. Exemplos :
Convem que nos entendamos. — Teu prazer é andares vagando.
— Sabei que sou vosso amigo. A oração integrante
sendo supprimida deixa suspenso o sentido da frase.

Oração incidente é a que se refere a algum membro
de outra por meio dos relativos que, qual, quem, ou do
possessivo cujo : e póde ser explicativa, ou restrictiva.

Oração explicativa é a que desenvolve alguma qualidade
comprehendida na significação do membro que ella
modifica, como : Deus, que é justo, não deixará a virtude
sem premio. Que é justo — é uma oração explicativa por
exprimir uma qualidade já incluida na significação de
Deus. A oração explicativa póde ser supprimida sem alterar
o sentido da frase.

Oração restrictiva é a que ajuncta alguma idéa não
incluida na significação do membro por ella modificado,
como : O homem que é modesto não louva suas próprias
acções. Que é modesto — é uma oração restrictiva, por modificar
a palavra homem com a idéa de modestia, não
comprehendida na sua significação. A oração restrictiva
não póde ser tirada da frase sem alteração do sentido.

Observações. — As orações do infinitivo são integrantes
sempre que servem de sujeito, attributo ou complemento
necessario. Exemplos : Estudares sem methodo é
quereres affogar, e não desenvolver a intelligencia
.

São porém subordinadas quando exprimem alguma
circumstancia que ajuncta novo juizo ao já enunciado na
90oração á que ellas se ligam. Exemplo : Por pensardes
(porque pensais) diversamente, não deixeis de respeitar
as opiniões alheias.

São tambem subordinadas as orações de quaesquer participios,
excepto as do participio do presente e as ellipticas
do participio passivo, que são incidentes quando veem
pospostas ao membro que ellas modificam.

Exemplo da subordinada do participio do presente :
Acabando (logo que acabe) de ler o livro, elle m’o emprestará.

Exemplo da do participio do preterito : Tendo Deus
creado
(depois que creou) o mundo em seis dias, descançou
no septimo.

Exemplo da do participio do futuro : Havendo-nos encontrar
(porque nos encontraremos) em melhor mundo,
não tenhamos pezar de deixar este.

Exemplo da do participio passivo (elliptica) : Comparados
(sendo, se forem comparados) os bens com os males
da vida
, não é a morte uma desgraça.

Exemplos de incidentes do participio do presente e do
participio passivo. Entrando a Senhora no templo, encontrou
o menino Jesus assentado (que estava assentado)
entre os doutores explicando-lhes (e lhes explicava) o sentido
das escripturas
.

III. Da syntaxe de concordancia.

Syntaxe de concordancia é a que regula a harmonia
que entre si devem ter as palavras quando exprimem
reunião de quaesquer idéas, como : Pedro é sabio. Onde
o verbo é se acha na terceira inflexão do singular, por
91concordar com o nome Pedro, que é terceira pessoa do
singular, e do qual elle enuncia a existencia ; o adjectivo
sabio está na terminação masculina do singular, por concordar
tambem com Pedro, que é do mesmo numero e
do genero masculino, e de quem elle exprime uma qualidade.

Todo o adjectivo deve concordar em genero e numero
com o substantivo que elle determina ou modifica. Exemplos :
O rei sabio faz seus subditos venturosos. A mãe
virtuosa
é o melhor exemplo na educação de suas filhas.

Quando o adjectivo exprimir alguma qualidade commum
a dois ou mais substantivos do singular, e ainda de
diversos numeros, deve ir ao plural, concordando em terminação
com o genero desses substantivos, se todos forem
do mesmo; sendo porém de generos differentes, deve
ir elle ao plural na terminação masculina. Exemplos :
O leão e o tigre são carnivoros. — A rosa e a angelica
são odoriferas. — O sol e a chuva são necessarios aos
animaes e plantas espalhados sobre a terra.

Mas este ultimo exemplo, pede o ouvido que seja
construido desta sorte : A chuva e o sol são necessarios
ás plantas e animaes espalhados sobre a terra.

Se o adjectivo se ajunctar a substantivos de numero e
genero differentes que signifiquem cousas inanimadas,
póde sujeitar-se somente ao genero e numero do que
lhe ficar mais proximo. Exemplos : O prazer e as delicias
mais duradouras são as que produz a virtude : ou — As
delicias e o prazer mais duradouro é o que produz a virtude.

Nos tratamentos, senhoria, excellencia e outros similhantes
92o qualificativo deve concordar em terminação
com o genero da pessoa com quem ou de quem fallamos,
posto que o determinativo fica sempre na terminação
feminina. Exemplos : Sua Magestade fica inteirado
de estar Vossa Excellencia empossado dessa presidencia.

Nós, vós, usados em vez de eu, tu, levam o verbo ao
plural, mas o adjectivo correspondente fica no singular.
Exemplos : Antes (nós) sejamos breve que prolixo. — Sêde
affavel
, meu filho, mas não familiar com todos.

O verbo deve concordar com o sujeito em numero e
inflexão convenientes ao numero e pessoa de que fôr o
sujeito. Exemplos : Eu velo. — Tu dormesElle brinca.

Havendo dois ou mais sujeitos do singular, ou de diversos
numeros, deve o verbo ir ao plural na primeira inflexão,
se entre elles algum fôr de primeira pessoa ; ou na
segunda inflexão, se elles forem de segunda e terceira pessoa ;
ou finalmente na terceira inflexão, se todos forem
de terceira pessoa : Exemplos : Eu, tu e nossos vindouros
viveremos
em paz. — Tu e João deveis estudar. — O boi e
o cavallo são mui uteis ao homem
Sendo porém os sujeitos de terceira pessoa, e significando
cousas inanimadas, póde o verbo ir a um ou outro
numero, concordando com o do sujeito mais proximo.
Exemplo : A escuridão da noite e os gritos dos assaltantes
faziam mais horrivel o combate ; ou — Os gritos dos
assaltantes e a escuridão da noite fazia ou faziam mais
horrivel o combate.

IV. Da syntaxe de regencia.

Syntaxe de regencia é a que regula a dependencia que
93as palavras teem uma das outras para completarem o
sentido da frase. Exemplo : Deus creou todas as cousas.
Onde o verbo creou pede depois de si alguma palavra,
em que empregue a acção transitiva que elle significa,
sem o que ficaria suspenso o sentido da frase Deus
creou
.

Chama-se membro regente a palavra que pede outra
que lhe complete o sentido ; e regimen ou complemento a
que completa a significação de outra.

Os verbos transitivos, as preposições e todas as palavras
de significação relativa exigem sempre algum complemento.

Chamam-se palavras de significado relativa as que
demandam necessariamente alguma preposição que com
o seu regimen lhes complete o sentido, como : Superior
aos mais. — Abundante de fructos. — Propensão (24)25 para
o estudo, &.

Os Grammaticos contam quatro especies de complementos,
que são — objectivo, terminativo. restrictivo e
circumstancial. Destes são necessarios os dois primeiros,
porque sem elles ficaria suspenso o sentido das palavras
que os pedem : e são accidentaes os dois ultimos, porque
não fazem mais que restringir ou modificar a significação
das palavras a que elles se ligam.94

Complemento objectivo é a palavra ou frase sobre que
recae directamente a acção do verbo transitivo, como :
Cultivar as letras. — Dizem que és estudioso.

Quando o complemento objectivo fôr nome de homem,
de animaes, de cousas personificadas, ou do mesmo numero
e pessoa que o sujeito, deve ser precedido da preposição
a, como : Pedro feriu a Paulo. — A resignação
supera ao infortúnio.

Complemento terminativo é a palavra ou frase precedida
de alguma preposição, pedida por força da significação
de outra palavra, como : Applica-te ao trabalho. —
Foge da ociosidade.

Complemento restrictivo é a palavra ou frase que,
precedida da preposição de, serve de restringir a significação
geral do appellativo antecedente, tornando-a particular.
como: O amor da gloria. — O desejo de tornar-se
util á sociedade
.

Complemento circumstancial é qualquer palavra ou
frase que, á maneira dos adverbios, modifica o nome ou
verbo com que se relaciona por meio de alguma preposição,
clara ou occulta, como : Applicado com affinco a
seu trabalho, não attendia (em) muitas vezes ao que se
passava em sua visinhança.

As variações, me, te, nos, vos, nunca precedidas de
preposição, são complementos objectivos, quando accompanham
a verbos transitivos que não teem outra palavra
sobre que empreguem a sua significação. Exemplos:
Tu serviste-me. — Eu te recompensarei.

São porem complementos circumstanciaes quando
acompanham a verbos pronominaes de significação absoluta
ou relativa com outra palavra por complemento
95terminativo. Exemplo : Elle se obstina. Vós vos compadeceis
da desgraça. Isto é : Elle tem ou sente em si obstinação.
Vós tendes ou sentis em vós ou comvosco compaixão
da desgraça.

Serão complementos terminativos, assim como lhe,
lhes
, se o verbo a que se ajunctarem for simplesmente de
significação relativa, ou transitiva que tenha por complemento
objectivo outra palavra, que signifique cousa
não pertencente á pessoa de quem se deriva a variação.
Exemplos : Ensinei-lhes o que convinha — Procurei-vos as
melhores amizades.

Serão porem complementos restrictivos, se a palavra
que servir de complemento necessario ao verbo significar
cousa pertencente á pessoa de quem se deriva a variação.
Exemplos : Tu me consomes a paciencia. — Elles
te abaterão o orgulho : Isto é : Tu consomes a minha paciencia.
— Elles abaterão o teu orgulho.

Chamam-se subattributos ou palavras continuadas as
que se pospõem a outras para accrescentar-lhes alguma
idéa, ou explicar-lhes alguma qualidade. Exemplos :
Gama, o descobridor da navegação da India, foi feito
conde da Vidigueira por D. Manoel, rei de Portugal. —
O brilho da virtude torna-se mais vivo, quando, lucta
com a adversidade.

Chama-se apostrophe ou vocativo a pessoa ou cousa
personificada por quem chamamos, ou a quem exhortamos
por meio da interjeição ó, expressa ou subentendida.
Exemplos :

Lembra-te, ó homem, que és de pó formado.

Correi, lagrimas, que o pranto a dôr embota.96

A apostrophe é sempre sujeito de um verbo na segunda
pessoa do imperativo ; e quando não vem expresso,
póde ser entendida alguma das vozes — ouve, ouvi ; attende,
attendei
 ; dize, dizei ; ou outra similhanle. Exemplo :
Até quando, ó Catelina, abusarás da nossa paciencia? — Isto
é : Dize, ó Catelina. até quando abusarás, & ?

V. Da construcção.

Construcção é a disposição das palavras na composição
da oração. Ella póde ser directa, ou inversa.

Construcção directa é a que exige que se colloque o
sujeito antes do verbo, em seguida a este o attributo ou
o complemento objectivo ; e finalmente que as palavras
modificativas, os complementos restrictivos e os circunstanciaes
vão logo depois das palavras por elles modificadas.
Exemplo : O estudo da natureza conduz-nos
com admiração ao conhecimento do Creador
.

Construcção inversa é a que permitte que se colloquem
antes os termos que na construcção directa deviam
estar depois, como pôr-se o complemento objectivo antes,
e o sujeito depois do verbo : o complemento restrictivo
antes da palavra que elle restringe ; e outras mudanças
similhantes, com tanto que se guarde a regencia
das palavras. Exemplo :

«Não mais do sol a luz verão meus olhos,
Que da morte ao poder já vão cedendo.»

A construcção inversa é a mais seguida, e algumas
97vezes indispensavel : todavia deve notar-se que os determinativos,
exceptuando-se os possessivos pessoaes e os
numeraes ordinaes, nunca devem ir depois de seus substantivos.
Tambem não devemos tirar do seu logar os
adjectivos que mudam de significação, mudando de posição,
como o adjectivo algum, que posto antes do substantivo
exprime a sua signiticação natural ; como — alguma
cousa
 ; e posto depois denota idéa totalmente opposta.
como — cousa alguma. (25)26

A mudança das orações activas a passivas é tambem
objecto da construcção, e se effectua da maneira seguinte :
O paciente (complemento objectivo) passa a ser sujeito
da oração passiva ; o verbo passa da voz activa á voz
passiva, ficando no mesmo tempo, e concordando em numero
e pessoa com o novo sujeito ; o sujeito da oração
activa passa a ser complemento terminativo do verbo
passivo, regido da preposição por ou de. Exemplo : Vós
amais as letras. Na voz passiva diremos : As letras são
amadas por vós
ou de vós.

Quando o sujeito ou paciente da oração activa for algum
relativo, não deve mudar de posição na oração passiva,
como : O amigo, que nos protegia, já não existe.
98Na passiva : O amigo, por quem nós éramos protegidos,
já não existe.

VI. Das figuras de syntaxe.

Figura de syntaxe é certa maneira de compor a oração,
não conforme ás regras da Grammatica, mas segundo
o uso da lingua. As principaes figuras de Syntaxe
que o uso da lingua portugueza auctorisa são — Hyperbato,
Pleonasmo, Ellipse
e Sillepse.

Hyperbato é a transposição das partes da oração, ou a
disposição dellas, de sorte que ficam separadas por outras
as que na ordem natural deviam estar seguidas.
Exemplo :

«Assim como a bonina, que cortada
«Antes do tempo foi, candida e bella.

Onde os adjectivos candida e bella se acham separados
do seu substantivo bonina, e o participio cortada,
transposto e separado do seu auxiliar foi, por palavras
de permeio se lhes metteram ; pois que a ordem natural
é : Assim como a bonina candida e bella que foi
cortada antes do tempo.

A Hyperbato torna-se Synchysis (que é a mistura de
palavras ou confusão de idéas), quando as partes da
oração estão dispostas de tal modo que causa obscuridade.
Exemplo :

« Os louros e heras, de que coroados
Serão os bons poetas, já crescendo
Soberbamente vão, por ti honrados. »99

Cujo sentido póde ser um destes : Já vão crescendo
soberbamente os louros e heras, de que serão coroados
os bons poetas honrados por ti : ou — Honrados por ti, já
vào crescendo soberbamente os louros e heras de que os
bons poetas serão coroados.

Pleonasmo é o emprego de palavras que para a perfeita
composição da oração são desnecessarias, porem
precisas para dar mais energia ao discurso. Exemplos :
Eu mesmo com os meus proprios olhos o vi. Onde as palavras
— mesmo com os meus proprios olhos — são superfluas
para a perfeição da oração, e só empregadas para
dar mais força ao que se affirma.

O Pleonasmo torna-se vicioso, e toma o nome de Perissologia,
quando não é exigido por alguma circumstancia
que o faça necessario, como : Pedro viu-me com os
olhos
, e ouviu-me com os ouvidos. Mas não haveria mesmo
Pleonasmo : se se dissesse : Pedro viu-me com os
olhos em lagrimas, e ouviu-me com os ouvidos attentos
 :
porque as palavras — em lagrimas e attentos — exprimem
o estado em que Pedro tinha os olhos e os ouvidos, quando
me viu e ouviu.

Ellipse é a falta de palavras necessarias para a perfeita
composição da oração ; mas não para a sua intelligencia.
Exemplos : Estive doente o anno passado. Onde ao
verbo estive falta o sujeito eu, e ao complemento circumstancial
o anno passado, a preposição em, por ser esta
a composição grammatical : Eu estive doente em o
anno passado.

Esta figura tem frequente uso na lingua portugueza,
por que por meio d’ella não só se occultam alguns termos
100faceis de entender, mas tambem se evita a repetição de
palavras, expressas antes ou posteriormente. Exemplo :
Dois capitães foram mortos, um no principio outro no
fim do combate
. Isto é : Dois capitães foram mortos ; um
capitão foi morto
no principio do combate, outro capitão
foi morto
no fim do combate.

Todavia deve evitar-se o Solecismo, que é a falta de
palavras não auctorisada pelo uso da lingua, como a suppressão
de determinativos e de preposições que precedem
a substantivos de significações oppostas ou a de conjuncções
que servem de nexo a differentes membros do discurso.
Exemplos : Este homem e mulher são instruidos.
— O rei e vassallo são iguaes perante Deus. — No céo e
terra te cantam louvores. — Sabemos está Deus em toda
a parte
. Porém diremos : Este homem e esta mulher são
instruidos
. — O rei e o vassallo são iguaes perante Deus.
No céo e na terra te cantam louvores — Sabemos que
Deus está em toda a parte
.

Chama-se tambem Solecismo o augmento de palavras
regeitado pelas regras da Grammatica e pelo uso da lingua,
como : Devemos de ser justos. — Procuremos a saber
alguma cousa. Em logar de — Devemos ser justos — Procuremos
saber alguma cousa
.

Outra especie de Solecismo é a falta de concordancia
dos membros da oração, ou a substituição de uns por outros,
quando não é permittido por Syllepse. Exemplos :
Os menino brinco. — Esforço-me de te agradar. Em
logar do — Os meninos brincamEsforço-me por te agradar.

Syllepse é a expressão de alguma idéa, não pelo termo
101que lhe é proprio, mas por outra que com ella tem
alguma relação, d´onde provém, ou não concordar o adjectivo
com o substantivo expresso, ou o verbo com o
sujeito apparente, mas com outro que se subentende.
Exemplo 1.°

« Mas já o planeta que no céo primeiro
Habita, cinco vezes apressada,
Agora meio rosto, agora inteiro,
Mostrara em quanto o mar cortava a armada. »

Onde o adjectivo apressada não concorda com o
substantivo generico planeta, mas com lua. especie de
planeta, por ser este o pensamento do poeta : Mas já a lua,
planeta que habita no primeiro céo, cinco vezes apressada
,
&. (Neste caso é tomado o genero pela especie).

Exemplo 2.° Sua Santidade ficou maravilhado. Onde
o adjectivo maravilhado não concorda em terminação
com o genero de Santidade, mas com o da pessoa a quem
se dá este tratamento. (Aqui é tomada a qualidade pela
substancia).

Exemplo 3.° Parte dos socios divergiam de parecer.
Onde o verbo divergiam não concorda com parte. mas
com os indivíduos que a compõem, por ser este o verdadeiro
sentido : alguns individuos que eram parte dos socios,
divergiam de parecer. (Aqui se toma a classe pelos
seus individuos).

Exemplo 4.° Ha pessoas que de tudo criticam. Onde
o verbo ha (significando existir) não concorda com os individuos
pessoas, mas com alguma idéa collectiva que
102os comprehenda, por ser este o pensamento de quem falla :
Ha numero ou quantidade de pessoas que de tudo criticam.
(Aqui se tomam os individuos por sua classe).

É tambem por Syllepse que o monarca, prelado ou escriptor,
apezar de ser um só que falla, usa do verbo ao
plural, figurando que sente ou obra collectivamente com
os da sua ordem : porém o adjectivo que a elle se refere
fica sempre no singular, por exprimir a qualidade attribuida
individualmente a elle só. (Neste caso se toma a
idéa geral pela individual).

Exemplo : Agradecido ficaremos ao benigno leitor que
nos advertir dos erros que encontrar no presente compendio.103

1(1) Incluimos nesta enumeração o adverbio e a interjeição,
não como partes elementares — representativas de
idéas simples, mas como partes constitutivas da proposição,
que bem podem ser de natureza simples, composta
ou complexa. Classificar as palavras que existem no uso
vivo da lingua, e omittir as que teem propriedades especiaes
só porque representam idéas compostas ou complexas, não
nos parece razoavel.

2(1) Os artigos precedidos de asterisco, damos aqui mais
como ampliações, do que como regras que devam necessariamente
ser decoradas, bastando que os discipulos os leiam
com as explicações dos mestres.

3(2) A divisão dos adjectivos em tres especies — explicativos,
restrictivos, e determinativos — , que querem alguns
Grammaticos, não nos parece razoavel : porque a propriedade
de explicar, e de restringir os substantivos é geral á
classe dos qualificativos, e não póde por conseguinte caracterisar
uma parte delles somente para constituir divisão
de especie, e tanto isto é assim que um mesmo qualificativo,
sem mudar de natureza, ora é explicativo, ora restrictivo,
como neste exemplo — alma racional, animal racional ;
branca neve, mulher branca. Os que adoptam esta divisão
confundem com caracteres distinctivos (que sós n'uma
ordem de cousas constituem divisão de especie) as relações
de conveniencia — inherente ou accidental — que podem ter
os adjectivos com os substantivos que elles qualificam.

4(3) Chama-se pronome a palavra que na oração se põe em
lugar do nome de pessoa ou de cousa. Os verdadeiros pronomes
da lingua portugueza são, além dos pessoaes, os seguintes —
alguem,ninguem, outrem, quem, quemquer, cada
qual
, que se referem ás pessoas : e algo, al, isto, aquillo.
tudo, nada, o mesmo, que se referem ás cousas ; e que, que
se refere igualmente ás pessoas e ás cousas. O relativo o,
quando representa uma idéa já expressa por palavras com
que não póde concordar, deve ser considerado pronome,
como : Ha verdades que o não parecem. As feias nem por o
serem deixam de agradar. Todos estes pronomes são fórmas
indefinidas de diversos determinativos, quando exprimem
idéas concretas, e por isso não lhes demos um lugar
distincto na classificação das partes da oração ; entretanto
os mestres minuciosos o poderão fazer.

5(4) Note-se que as variações dos pronomes eu e tu podem
ser termo ou objecto de acção de qualquer sujeito — diverso
ou identico — ; porém as do pronome nelle, lhe e o, só devem
ser de sujeito diverso, e si, se, sigo, de sujeito identico. Outra
differença entre estes pronomes é que eu, tu na sua
forma primitiva do singular não supportam como o pronome
elle, regencia alguma, quer de verbos quer de preposições,
porquanto não ousamos dizer : de eu, a eu, para tu &,
como dizemos delle, a elle, para elle &.

6(5) Costumam os Grammaticos comprehender este demonstrativo,
não entre os possessivos, mas entre os relativos,
por se derivar elle directamente de cujus, genitivo de
qui, quœ, quod latino, e que em portuguez equivale a de
que, de quem, do qual, da qual. Incluimol-o, não obstante,
entre os possessivos, por isso mesmo que o genitivo latino
exprime possessão ou restricção, e o officio que este demonstrativo
exerce na lingua portugueza. bem como o dos
possessivos pessoaes, é sempre o de restringir o appellativo
que elle determina, e com o qual não deixa de concordar
em genero e numero, sem attenção aos do seu antecedente,
o que não se dá com os relativos propriamente ditos. De
mais nunca se deve empregar cujo sem substantivo expressso,
nem tão pouco precedido de artigo como fazem alguns
impropriamente.

7(6) O artigo definido converte-se em quantitativo universal
quando, individualisando uma idéa geral, faz compreender
na significação de um appellativo todos os da mesma
especie. como : O tigre é feroz. — O pensamento é os olhos
da alma.

8(7) Forma-se este comparativo como se vê nos exemplos
do texto, ou do positivo seguido do conjunctivo como e
precedido do adverbio tão subentendido ou expresso, ou
do positivo precedido dos adverbios mais ou menos e seguido
da conjuncção que.

Chama-se comparativo de igualdade o formado do adverbio
tão ; de superioridade, o formado do adverbio mais ;
e de inferioridade, o formado do adverbio menos.

Os adjectivos tal, qual (sem artigo) tamanho, tanto seguidos
de como são tambem comparativos de igualdade : mais
e menos, sendo adjectivos, são ao mesmo tempo positivos-comparativos,
o primeiro, de superioridade, e o segundo,
de inferioridade.

9(8) Forma-se este superlativo de dous modos : 1.° Antepondo-se
ao qualificativo algum dos adverbios, tão, quão,
muito
, ou outros semelhantes, como :

És mui doce, esperança, e tão fagueira.
Mas quão enganadora quasi sempre.

2.° Ajuntando-se a ultima consoante do qualificativo a
terminação, issimo, issima, como de alvo, alvissimo, alvissima.

Neste segundo modo offerecem alguns adjectivos as excepções
seguintes :

Dos acabados em e, acre, faz acerrimo ; celebre, celeberrimo ;
salubre, saluberrimo ; nobre, nobilíssimo ; doce, docissimo
ou dulcissimo ; pobre, pauperrimo
ou pobrissimo.

Os acabados em vel mudam a terminação em belissimo,
como — affavel, affabilissimo ; amavel, amabilissimo, Fiel faz
fidellissimo.

Dos acabados em il, facil faz facillimo ; difficil, difficillimo ;
docil, docillimo ou docilissimo ; fragil. fragillimo
ou fragilissimo.

O acabado em m commum faz communissimo.

Dos acabados em o ou do, amigo faz amicissimo ; frio,
friissimo
 ; pio, piissimo ; sagrado, sacratissimo : sabio. sapientissimo ;
integro, integerrimo
 ; vão. vanissimo ; christão, christianissimo.

Os acabados em z, mudam-no em cissimo, como — tenaz,
tenacissimo
 ; veloz, velocissimo.

10(9) Este superlativo forma-se do positivo-comparativo de
superioridade ou de inferioridade, precedido simplesmente
do artigo definido, ou seguido ao mesmo tempo (das preposições
de ou entre.

11(10) Os positivos-comparativos que vão em italico não
teem outros equivalentes formados de diverso modo : e os
superlativos, só se empregam como superlativos-relativos.

12(11) Comprehendemos nestas regras somente os substantivos
e qualificativos, porque só a elles convém o termo
nome, e não aos determinativos, com os quaes não se nomeam
nem cousas, nem qualidades, e só se determinam individuos.

13(12) Os nomes que, segundo a opinião commum, tem o
plural em ãos são os seguintes — acordão, alão, aldeão, anão,
ancião, benção, castellão, chão, christão, cidadão, coimbrão,
comarcão, cortezão, frangão, grão, irmão, mão, orfão, orgão,
pagão, rabão, são, soldão, sotão, temporão, vão, villão,
zangão
 ; e os que fazem plural em ães, são — allemão, cão,
capellão, capitão, catalão, deão, ermitão, escrivão, guardião,
pão, sacristão, tabellião
.

14(13) Preferimos esta definição, por nos parecer mais conforme
a natureza dos verbos portuguezes, e por isso mais
adaptada á comprehensão dos meninos, do que a definição
logica, que entretanto daremos nesta nota, para que siga cada
um a que achar melhor — O verbo logico é a palavra que
exprime a relação de conveniencia entre os termos da proposição
,
ou se ache na sua forma simples, ou incorporado com
o attributo. — Na primeira fórma tem o nome de verbo substantivo.
por subsistir sem idéas accessorias : e segundo a opinião
geral é o unico necessario, por meio do qual se podem
enunciar todas as proposiões : este é o verbo ser : substituido
ás vezes em nossa lingua pelo estar. Na segunda forma toma
o nome de verbo adjectivo, porque o attributo nelle incluido
se exprime geralmente por meio de adjectivos ; assim
todos os verbos, exceptuando-se o ser e estar, são verbos
adjectivos, que como se collige, podem ser substituidos por
aquelles com o attributo expresso : por quanto amar é ser
amante
, ou estar amando : folgar, estar folgando etc. Esta
doutrina, verdadeira para as linguas formadas segundo os
princípios da Ideologia, apresenta suas difficuldades á analyse
grammatical nas que, como a portugueza. tiverem verbos
que se não possam substituir por outros termos sem alteração
no sentido, ou pelo menos sem o soccorro de palavras
extranhas ao uso vivo da lingua. Eis aqui um exemplo entre
muitos semelhantes que se poderiam dar : Vós ides e nós
ficámos.

15(14) Alem dos verbos ser e estar, lidos por unicos verbos
de existencia, tem a lingua portugueza varios outros que as
vezes tambem pedem attributo, como — ficar (contente), parecer
(alegre), permanecer (triste) &. O verbo existir e o
haver com a mesma significação, são incontestavelmente verbos
de existencia; e se não pedem attributo expresso, é porque
na sua significação, que é ser existente, já o comprehendem.

16(15) Convindo muito que os principiantes destingam desde
logo estas especies de verbos, damos nesta nota a maneira
pratica de os conhecer.

O verbo é absoluto todas as vezes que depois delle não
se poder dizer alguem ou alguma cousa — Assim — suspirar
e gemer são verbos absolutos, porque não se pode dizer : Eu
suspiro alguem. Eu gemo alguma cousa
.

O verbo é transitivo quando se lhe pode fazer alguma
destas perguntas — o que? ou a quem? Assim amar e saber
são verbos transitivos por se poder perguntar. Tu amas a
quem ? Elle sabe o que?

É relativo todo o verbo que é sempre seguido de certa
preposição, sem a qual deixa elle de fazer sentido. Assim
rivalisar e recorrer são verbos relativos, porque não fazem
sentido, o primeiro sem a preposição com ; e o segundo, sem
a preposição a.

Comtudo ás vezes tomam os verbos significação diversa
da que lhes é própria, como : Estuda se queres saber. Este
homem reflecte bem. Viver vida alegre. Nestes exemplos os
verbos transitivos estudar e saber, e o relativo reflectir teem
a significação de absolutos, e o absoluto viver a de transitivo.

17(16) Na classe dos verbos auxiliares se devem comprehender
os que, conjugados em todos ou em alguns tempos
somente com os participios ou infinito de outros, servem de
dar-lhes uma significação particular, como : ando trabalhando,
vamos vivendo. O verbo poder, seguido quasi sempre d´outro
no infinito, parece-nos auxiliar deste, porque na mudança
das proposições activas e passivas, elle, assim como
o ter e haver, conserva a forma primitiva. Exemplo : Podes-te
alcançar
um emprego : um emprego póde ser alcançado
por ti.

18(17) Não se deve confundir com a voz reflexa os verbos
pronominaes, posto que seja a mesma a forma da conjugação;
porquanto na voz reflexa as variações que acompanham
os verbos transitivos são sempre seus complementos objectivos,
o que faz ser o sujeito ao mesmo tempo agente e paciente ;
sendo que nos pronominaes essas variações podem
ser complementos terminativos ou circumstanciaes, segundo
a significação do verbo fôr relativa ou absoluta.

19(18) Permitte porém a lingua portugueza, para maior clareza
e concisão, o uso do infinito pessoal em certos casos,
nos quaes nem todos concordam, e que a nosso vêr se poderiam
reduzir aos dois seguintes :

1.° Quando a frase infinitiva, como regimen directo do
verbo finito, tiver sujeito diverso. Ex : Elle via os homens
e as arvores moverem-se como sombras. — O evangelho manda
sermos caridosos para com todos. — Ficará porem invariavel
o infinito se o seu sujeito, ainda que diverso, fôr algum
dos casos dos pronomes pessoaes, expresso na frase como
complemento necessario do verbo finito. Ex : O evangelho
manda-nos ser caridosos. — O preconceito te faz desconhecer
as cousas mais evidentes.

2.° Quando a frase do infinito regida de preposição, exprimir
uma circumstancia casual, tenha ou não sujeito identico,
uma vez que á elle se attribua exclusivamente o acto
ou estado que o verbo o exprime. Exemplos : Com seres rei,
não deixas de se amarem. — Amemos para sermos amados.
— Por não aprofundardes bem as cousas, commetteis erros a
cada passo. — Deve o infinito, embora regido de preposição,
ficar sempre invariavel, quando na forma da conjugação se
achar incorporado com o verbo finito, ou quando fôr complemento
necessario deste, tendo ambos o mesmo sujeito.
Exemplo : Jamais has de chegar a ser sabio, sem te esforçares
para adquerir instrucção.

Isto supposto, parece-nos que não $$$$$$$$ em dizer:
E folgares de veres a policia & : $$$$$$. to sendo o verbo
folgar de significação absoluta, é a frase infinita de veres
uma circunstancia casual, isto é, uma proposição subordinada
equivalente a qualquer destas formas — por veres, ao
veres, ou quando vires, &.

20(19) Os verbos portuguezes não teem linguagem própria
para primeiras e terceiras pessoas no imperativo ; mas supprem-se
com as correspondentes do presente do conjunctivo.
Exemplos : Façamos o nosso dever, e não nos embaracemos
com o resultado. Saiba cada um viver no logar em que
Deos o pôz., e ninguém se achará mal. Tambem não se usa
em portuguez do imperativo com negação ; e quando ha mister,
empregamos igualmente as linguagens do conjunctivo.
Exemplo: Não faças a outrem o que não queres que te
façam.

21(20) Não tratamos dos tempos compostos porque já os suppomos
sabidos depois das conjugações antecedentes.

22(21) Esta. regra offerece as excepções seguintes : aplacar,
aplainar
e seus derivados que se escrevem com um só p- As
raizes das outras palavras em que se dobra o p, alem das
citadas, são — apparecer, apparelhar, appellar, appellidar,
appensar, appetecer, appor, appreciar, apprehender, appropinquar,
approvar, approximar, oppor, oppressor, opprimir,
oppugnar, suppor, supportar, supposittar, supprimir,
supprir, suppurar e supputar
.

23(22) Muitos escrevem hoje indistinctamente os gentilicos
com letra minuscula ; mas entendemos que quando designam
os homens de uma nação, e que então são substantivos,
devem ser escriptos com letra maiuscula, como os
Gregos, os Troianos
, & ; e sendo puramente adjectivos, como
lingua grega, capitão troiano, cabe então o escreverem-se
com letra minuscula.

24(23) A proposição, analysada logicamente, por maior ou
menos que seja o numero de palavras com que se enuncie,
consta sempre e unicamente de tres partes — sujeito, verbo,
attributo — ; porque estas partes ou devem estar expressas,
como em — Deus é espirito — , ou implicitamente incluidas na
forma e significação do verbo, como em — Creio — que quer
dizer eu sou crente. Constando a proposição de muitas palavras
além das logicamente essenciaes, devem ser ellas incorporadas,
sob a denominação de palavras modificativas,
quer ao sujeito quer ao attributo, afim de explical-os, restringil-os,
determinal-os, completal-os, desenvolvel-os ; e
destas funcções tomam ellas na analyse grammatical os nomes
de attributos continuados ; complementos restrictivos,
terminativos, objectivos, e circumstanciaes
, como adiante se
verá.

25(24) Não nos extranhem o darmos complemento terminativo
a alguns appellativos ; porquanto entendemos que são
de significação relativa não só os verbos e adjectivos, como
tambem os substantivos que dependem de alguma preposição
que com o seu regimen lhes complete o sentido; e sem
duvida neste caso se acham os substantivos propensão, tendencia
e vários outros.

26(25) Esta differença de significação em alguns adjectivos
provém de serem tomados ou na sua accepção natural, ou
na figurada. Exemplos : Homem certo, (homem que diz a
verdade) ; certo homem (homem que não queremos declarar).
Povo pobre (povo falto de recurso) ; pobre povo (povo
que não goza de seus direitos). Donde se vê que estes
adjectivos — certo e pobre — , como todos os qualificativos
susceptiveis de diversas significações, são tomados na sua
accepção natural, quando se pospõem, e na figurada, quando
se antepõem aos substantivos.