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Villeroy, Frederico. Compendio da grammatica portugueza – T01

Compendio
da
grammatica portugueza.

Proemio.

Grammatica portugueza é a arte de fallar e escrever
correctamente a Lingua portugueza.

Divide-se em quatro partes, que são : Etymologia
Syntaxe, Prosodia e Orthographia.

Etymologia é. a parte da Grammatica que ensina as es pecies
de palavras que entrão na composição da oração, e
a analogia de suas variações e propriedades geraes.

Syntaxe é a parte da Grammatica que ensina a compôr
a oração, reunindo e ordenando as palavras segundo as
suas reciprocas relações.

Prosodia. é a parte da Grammatica que ensina a bem
pronunciar as palavras, dando ás syllabas seu verdadeiro
som, accento e quantidade.

Orthographia é a parte da Grammatica que ensina a escrever
as palavras com as devidas letras e a separal-as no
discurso segundo as idéas e sentidos que exprimem.5

Oração é a reunião de palavras convenientemente dispostas
com que exprimimos um pensamento ; como : Eu

amo a Deos com fervor
.

A oração tem tres termos essenciaes, que são : Sujeito,
Verbo e Attributo ; podendo alêm d’estes ter outros
accidentaes, que se chamão Complementos.

O Sujeito exprime o individuo ou individuos de
quem se diz e enuncia alguma cousa.

O Attributo exprime aquillo que se diz do Sujeito. (1)1

O Verbo liga o Attributo ao Sujeito e exprime a
substancia do pensamento.

Estes tres termos podem ser expressos ou por tres palavras,
como : Eu sou amante ; ou por duas equivalentes
ás tres, como : Sou amante ; ou por uma que concentra
em si as tres, como : Amo.

Complemento é tudo o que completa, explica,
amplia ou restringe a idéa enunciada por qualquer dos termos
da oração ou por todos reunidos.6

Primeira parte.
Da etymologia.

Capitulo I.
Das differentes especies de palavras.

Ha na Lingua portugueza dez especies de palavras, que
são :

Nome, artigo, adjectivo, pronome, verbo, participio,
preposição, adverbio, conjuncção
e interjeição.

As seis primeiras, podendo alterar a sua terminação e
consequentemente a sua significação, chamão-se variaveis ;
as outras quatro, não sendo susceptiveis de taes alterações,
chamão-se invariaveis.

Nome ou substantivo é a palavra com que significamos
ou um ente animado, como ; Homem, leão ; ou inanimado,
como : livro, flôr ; ou uma propriedade ou qualidade
como subsistindo por si ; como : virtude, acção.

Artigo é a palavra que se põe antes do nome para determinar
a sua significação, ampliando-a ou restringindo-a.

Ha dous artigos : O, que varia no feminino em : A, e
no plural em : Os e As ; Um, que varia no feminino em :
Uma, e no plural em : Uns e Umas.

Adjectivo é a palavra que se ajunta ao nome para qualifical-o
ou determinal-o, como : Homem virtuoso ; este
livro.

Pronome é a palavra que se põe em lugar do nome
para lembrar a idéa d’esse nome e evitar a sua repetição ;
taes são : Eu, aquelle, &.

Verbo é a palavra com que exprimimos a substancia
de qualquer dos nossos pensamentos ; como : Amar, viver,
applauair.

Participio é a palavra, que participa do verbo á significação
e o regime, e do adjectivo a propriedade de qualificar
7um nome, com elle concordando em genero e
numero ; como : Amando, amado.

Preposição é a palavra que, posta entre outras duas
palavras, indica a relação de complemento que a 2.ª tem
para a 1.ª ; como : De, com, & : Quando digo, por ex.,
Casa de Pedro, a preposição de exprime uma relação de
posse ou propriedade entre as palavras Casa e Pedro.

Adverbio é a palavra que serve para modificar ou um
adjectivo, como : Muito estudioso ; ou um verbo, como :
fallar correctamente, ou um outro adverbio, como :
bem claramente. (2)2

Conjuncção é a palavra que serve para unir as orações
e mostrar as relações que ha entre as mesmas ; como :
E, nem, mas, também, &.

Interjeição é a palavra que exprime os transportes
vivos e repentinos de nossa alma ; valendo por isso ella só
por uma oração ; como : Ah ! oh ! hui ! irra ! &.

Capitulo II.
Subdivisões das dez especies de palavras.

§ I
Do nome.

O Nome divide-se, em relação á sua significação, em :
Proprio ou individual e commum ou appellativo.

Proprio é o que distingue um individuo dos outros da
mesma especie, como : Pedro, Maria, Brazil, Amazonas.

Commum é o que se applica a todos os individuos da
mesma especie, como : Homem, mulher, paiz, rio.

O Nome proprio é concreto.

O commum pode ser : Concreto ou abstracto.8

Concreto é o que significa um ente qualquer, como :
Homem, flôr, leão, casa.

Abstracto é o que significa uma propriedade ou
qualidade, como : Acção, bondade.

Ha tambem entre os appellativos alguns que no numero
singular apresentão a idéa de muitos individuos, e
por isso se chamão Collectivos.

Os collectivos são : Geraes ou partitivos.

Collectivo geral é o que representa uma collecção
inteira, ou ella seja indeterminada, como : Povo, nação,
arvoredo ; ou determinada, como : Novena, duzia,
centena, &.

Partitivo é o que representa parte de uma collecção,
como : Terço, metade, quinto, &.

Em relação á sua forma divide-se o Nome em : Primitivo
e derivado, simples e composto.

Primitivo é o que não se deriva de outra palavra,
como : Bernardo, mar, livro.

Derivado é o que se deriva de alguma outra palavra,
como : Bernardes, maré, livreiro. (3)3

Simples é o que não se compõe com outras palavras,
como : Fructo, dia, idade, tempo, manhã, mal.

Composto é o que se compõe de duas ou mais palavras,
como : Usofructo, meiodia, menoridade, passatempo,
antemanhã, malmequer
.

Entre os derivados ha alguns que se chamão augmentativos
e outros diminutivos.

Augmentativos são os que augmentão, ou quanto
á quantidade, ou quanto á qualidade, a significação de
seus primitivos ; como : de homem — homemzarrão, de
mulher — mulherão ou mulherona ; de moço, a — mocetão,
mocetona.

Diminutivos são os que diminuem, ou quanto á
quantidade ou quanto á qualidade, a significação de seus
primitivos ; como : de filho, a — filhinho, filhinha ; de homem
homemzinho.9

Os primeiros acabão ordinariamente em ão, ona, e
aço, aça ; como : Rapagão ; mulherona, ricaço, ricaça.

Os diminutivos, em inho, inha, ete, eta, ote,
ota
 : como : Livrinho, casinha, villeta, camarote, velhaquete,
ilheta, ilhote, ilhota
.

Das variações do Nome.

O Nome varia em : Genero e numero.

Genero é a propriedade que o Nome tem de indicar a
differença do sexo real ou facticio dos seres. (4)4

Numero é a propriedade que o Nome tem de indicar a
unidade ou a pluralidade.

Do Genero.

Sendo dous os sexos, em dous se divide tambem o Genero,
a saber : Masculino e feminino.

Para conhecermos o genero dos nomes, regulamo-nos
ou pela significação ou pela terminação d’elles.

Dos que se regulão pela significação, são do genero
masculino :

Todos os nomes que significão macho, ou sejão de homens,
como : Pedro, imperador, ou de brutos, como : Bucéphalo,

cavallo
 ; os de profissões, officios e exercícios proprios
do homem, como : Magistrado, sacerdote, ourives ; os
de anjos, deoses da fabula, ventos, montes, mares, rios,
mezes, como : Raphael (nome de anjo e de homem), Jupiter,
Norte, Itacolomy, Oceano, Guahyba, Outubro
.

São do genero feminino :

Todos os que significão femea, ou sejão de mulheres, como :
Eliza, imperatriz, &.ou de brutos, como : Amalthéa, cabra ;
ou de officios e cousas que pertencem á mulher, como : Costureira,
mãi
 ; os de deosas, nymphas e furias da fabula,
como : Venus, Eucharis, Tisiphone ; os das cinco partes do
10mundo — Europa, Asia, África, America e Oceania, finalmente
os das sciencias e artes liberaes, como Phylosophia,
Historia, Poesia
, &.

Dos que se regulão pela terminação ;

São masculinos os que terminão em í e ú agudos, como :
Javali, bambú ; em o grave e ô fechado, como : Aço, avô ;
em im, om, um, como : Marfim, som, debrum ; em ai, ao,
eo, êo
ou eu, oe, oi, como : Pai pao (excepto nao que é
feminino), céo, brêo ou breu, heroe, comboi ; em al, el, il,
ol, ul
, como : Sal (excepto cal que, é feminino), annel, buril,
anzol, paúl ; em ar, er, ir, or, ur e oz, como : Ambar,
mar, prazer, elixir, catúr, derredor, arroz.

São femininos os que acabão em a grave e breve, como :
Tia, aba ; em ã, como : Irmã, maçã ; em ãi e ê, como :
Mãi, mercê.

As terminações que não vão notadas são communs aos
dous generos e portanto não se pode estabelecer regras a
respeito.

Ha finalmente nomes communs a ambos os sexos e por
isso chamados Communs de dous e epicenos ou promiscuos.

Commum de dous é o nome que com uma só terminação
se pode applicar já a macho, já a femea, como : Hypocrita,
interprete, martyr, virgem ; pois tanto se pode dizer :
O hypocrita, o martyr, &, como a hypocrita, a martyr,
&.

Epiceno ou promiscuo é o nome que com uma só
terminação e um só genero significa ambos os sexos, sendo
preciso juntar-lhe o adjectivo macho ou femea para especificar
o sexo do animal, como sabiá, lontra, tamanduá,
& ; dos quaes diremos, fallando do macho : o sabiá
macho, a lontra macha, o tamanduá macho
 ; fallando da femea :
o sabiá femea, a lontra femea, o tamanduá femea, &.

Do Numero.

O Numero divide-se em dous : Singular e plural.

O singular indica um só indivíduo, como : Homem, tigre.11

O plural indica mais de um indivíduo, como : Homens,
tigres. (5)5.

Ha alguns nomes que tem só singular ; são elles :

— Os nomes proprios e os patronymicos, mesmo quando
sua terminação pareça do plural, como em Alagoas
(provincia do Brazil) (6)6, Vasconcellos, Rodrigues, &.

— Os nomes das virtudes habituaes, das artes, sciencias
e outras idéas abstractas, como : Castidade, architectura,
metaphysica, fome, &. ; os nomes verbaes como : O amar,
o lêr, e também os nomes de todos os ventos, como : Norte

Nordeste, Sudoeste
, &.

— Os nomes das especies e substancias, como os metaes,
Ouro, ferro, & ; os dos quatro elementos — terra, agua,
fogo, ar ; os de cousas que tem pezo e medida, como : Mel,
cal, trigo, açafrão, &, e finalmente alguns nomes collectivos,
como : Christianismo, gentilidade, &.

Ha outros que tem só plural, e são :

— Os que significão ou um conjuncto de cousas da
mesma especie, como : Cominhos, & ; ou mistura de cousas
de differente especie, como : Papas, fezes, & ; ou aggregados
de cousas tendentes ao mesmo fim, como : Alviçaras,
cans, exequias, & ; ou finalmente os que signicão parelhas
de duas cousas juntas, como : Alforges, algemas, calções,
fauces e outros.

A maior parte tem ambos os numeros, e seo plural se
forma pelas regras seguintes :

Regras geraes para a formação do plural dos nomes.

1.ª — Formão o plural accrescentando um s ao singular
os que acabão em vogal pura ou nasal e nos diphtongos
oraes, como : Hora, arvore, tafetá, pé, bogarí, monstro,
pó, tribu, umbú, irmã, pao, lei
, que fazem horas, arvores,
tafetás, pés
, bogarís, monstros, pós, tribus, umbús,
irmãs, paos, leis
.12

2.ª — Dos que acabão no diphtongo nasal ão, uns seguem
a 1.ª regra, formando o plural pelo accrescentamento
do s, como ; Cidadão, orgão, que fazem — cidadãos, orgãos ;
outros mudão o ããa ão em ães como : Cão, pão, capitão, que
fazem — pães, cães, capitães ;a maior parte porêm muda o ão
em ões, como : Oração, coração, sermão, que — fazem
oraor ções, corações, sermões.

3.ª — Os que acabão em al, ol e ul mudão o l em es,
como : Animal, farol, paúl, que fazem — animaes, faroes,
paúes. Exceptuão-se mal, consul, e seus compostos, real
(moeda) que fazem males, consules, &, réis.

4.ª — Os que acabão em el : mudão o l em is, como :
Batel, arrátel, que fazem — batéis, arráteis.

5.ª — Os que acabão em íl mudão o l em s, como : Barríl,
projectíl
, que fazem — barrís, projectís.

6.ª — Os que acabão em m mudão esta letra em nns como :
Imagem, jasmim, som, jejum, que — fazem imagens,
jasmins, sons, jejuns.

7.ª — Os que acabão em r, s e z accrescentão es, como :
Prazer, deos, paz que fazem — prazeres, deoses (falsos),
pazes.

8.ª — Os que acabão em x mudão esta letra em e e accrescentão
es, como : Cálix, appendix, que fazem — cálices,
appendices.

9.ª — São inviareis os nomes : Alferes, arrhas, caes,
lapis, onus, phenix
.

As mesmas regras são applicaveis aos Adjectivos, excepto
aos acabados, em il breve, que mudão o il em eis
como : Facil, util que fazem — faceis, uteis ; e aos adjectivos
Simples e mais que são invariaveis.

§ II.
Do artigo.

O artigo divide-se em : Definito e indefinito.

O definito, que é O com suas variações A, Os e As, indica
que se applica o nome ou a toda a extensão dos individuos
que a sua significação abrange ; como : O homem é
13racional
 ; ou então a um individuo certo, determinado
tambem pelo discurso ou pelas circumstancias; como : O
homem esta ahi
.

No 1.° exemplo : o artigo O indica que o nome homem
está applicado a toda a especíe humana.

No 2.º  exemplo : o artigo O indica que o nome homem
está applicado ao indivíduo de quem estamos tratando, ou
que nos é já conhecido ou então designado por uma circumstancia
qualquer.

O indefinito, que é Um com suas variações, Uma
Uns
e Umas, indica que o nome se applica vaga e indistinctamente
a qualquer individuo da respectiva especie ou
classe, como : Um homem da côrte tem mais viveza que

um aldeão
. (7)7

N’esto exemplo o artigo Um nos indica claramente que
os nomes homem e aldeão estão indistinctamente applicados
a qualquer individuo de côrte e de aldea. (8)8.

§ III.
Do adjectivo. (9)9.

O adjectivo divide-se em duas especies : Qualificativo e
determinativo.14

Qualificativo é o que exprime qualquer qualidade do
nome a que está ligada, como : lição facil ; flôr aromatica,
&.

Determinativo é o que determina a significação do
nome por uma nova idéa que lhe accrescenta, como : Esta
casa ; teo livro, &.

Do Qualificativo.

O Qualificativo é : Explicativo ou restrictivo.

Explicativo é o que desenvolve uma qualidade já naturalmente
incluida na significação do nome.

Restrictivo é o que accrescenta ao nome uma idéa
não comprehendida na sua significação, que assim fica
restringida.

Exemplo.

Quando digo de Deos que é justo ; do homem, que é racional,
— os adjectivos justo e racional são explicativos,
porque a idéa de Deos já traz comsigo a de justiça, como
a de homem traz a de racionalidade ; quando digo porêm
homem prudente, lição facil, os adjectivos prudente e facil
são restrictivos, porque não é da condição essencial do homem
ser prudente, nem da lição ser facil. (10)10.

Dos gráos de significação.

A qualidade em geral pode ser appreciada de tres maneiras
differentes : Simplesmente, com comparação, no seo
mais alto ou mais baixo gráo.15

Em relação a estes tres gráos de significação divide-se
o adjectivo qualificativo em : Positivo, comparativo e superlativo.

Positivo é o que exprime, a qualidade simplesmente,
como : Bello, puro, &.

Comparativo é o que exprime a qualidade com comparação.

Da comparação de dous ou mais individuos podem resultar
tres conclusões differentes, pois que o individuo
que se compara pode ser superior, igual, ou inferior ao
outro ou outros na qualidade que faz o objecto da comparação ;
por isso :

Ha tres especies de comparativos, que são : Comparativo
de superioridade, de igualdade
e de inferioridade.

O comparativo de superioridade forma-se pondo
antes do positivo a palavra mais, como : Mais bello, mais
puro
, &.

O de igualdade pondo antes do positivo a palavra
tão, como : Tão bello, tão puro, &.

O de inferioridade pondo antes do positivo a palavra
menos, como : Menos bello, menos puro, &.

Exemplo geral.

O jasmim, que é menos lindo que a rosa, é tão cheiroso
como a violeta e mais delicado que a açucena
.

O comparativo de igualdade é sempre de forma composta,
assim como o de inferioridade ; do de superioridade ha
seis de forma simples, que são : Maior, menor, melhor,
peior, superior
e inferior.

Superlativo é o que exprime a qualidade no mais alto
ou mais baixo gráo, absolutamente ou com comparação.

Ha pois duas especies de superlativos : Absoluto e relativo.

O absoluto exprime a qualidade no mais alto ou
mais baixo gráo, absolutamente, isto é, sem comparação.

O relativo exprime a qualidade no mais alto ou mais
baixo gráo, relativamente, isto é, com comparação.

Exemplo de ambos.

Maria é lindissima (muito linda), porêm Julia é a mais
16linda de todas, as mulheres, como Antonio é o menos prudente
e o mais desengraçado de todos os homens
.

O absoluto compõe-se do positivo precedido do adverbio
muito, ou é de forma simples ainda que derivada, terminando
em rimo o que faz o positivo em re ; em simo
o que faz o positivo em o, e em limo o que faz o
positivo em il ; como : de celebre — celeberrimo, de acre
— acerrimo
, de duro — durissimo, de facil — facillimo, &.

Ha ainda d’esta especie sete que não seguem esta formação,
não se derivando do seo positivo ; são elles : Maximo,
minimo, optimo, pessimo, supremo, infimo e intimo
.

O relativo forma-se do comparativo de superioridade
ou de inferioridade precedido do artigo definito, ou de
alguma de suas variações, conforme o genero e numero do
nome a quem qualifica.

Do Determinativo.

O Determinativo divide-se em quatro especies
principaes : Possessivos, demonstrativos, numeraes e indefinitos.

Possessivos são os que determinão a significação do
nome accrescentando-lhe uma idéa de possessão. São os
seguintes : Meu, teu, seu, nosso, vosso, seu ; minha, tua,
sua, nossa, vossa, sua
, e seus pluraes.

Demonstrativos são os que determinão a significação
do nome accrescentando-lhe uma idéa de indicação ou demonstração.
São elles : Este, esse, aquelle ; esta, essa,
aquella
, e seus pluraes.

Numeraes são os que determinão a significação do
nome accrescentando-lhe uma idéa de numero ou de
ordem.

Dividem-se em : Cardeaes e ordinaes.

Cardeaes são os que dão idéa de numero, como :
Um, dous, dez, vinte, &. (11)1117

Ordinaes são os que dão idéa de ordem, como :
Primeiro ; segundo, decimo, vigesimo, &.

Indefinitos são os que determinão a significação do
nome accrescentando-lhe pela maior parte uma idéa vaga
ou de generalidade. São : Algum, nenhum, cada (invariavel),
qualquer, outro, todo, mais (12)12 tal, certo.

Genero e numero dos adjectivos.

Os adjectivos, concordando com os substantivos, acompanhão
estes em suas variações de genero e numero.

Pelo que diz respeito ao genero :

Uns adjectivos tem uma só terminação para ambos os
generos, como : Facil, amavel. São os que acabão em al,
el, il, ar, az, iz
e oz.

Os outros tem duas, como : Justo, justa ; creador, ôra ;
hespanhól, óla ; crú, úa ; loução, ã ; virtuôso, virtuósa
, notando-se
que estes que acabão em ôso abrem o ó no feminino.

Pelo que diz respeito ao numero :

O plural dos adjectivos fórma-se do mesmo modo que
o plural dos nomes, á excepção dos acabados em il breve
que mudão o il em eis, como facil, util, que fazem faceis,
uteis
 ; e bem assim simples e mais que são invariaveis.

§ IV.
Do pronome.

O pronome divide-se em cinco especies : Pessoaes,
possessivos, demonstrativos, relativos
e indefinitos.

Pessoaes são os que representão sempre uma das pessoas
grammaticaes (13)13.18

As pessoas grammaticaes são tres :

A l.ª é a que falla ;
A 2.ª é aquella a quem se falla ;
A 3.ª é aquella de quem se falla.

Tres são portanto os pronomes pessoaes, a saber :
Eu — Tu — Elle,
cujas variações são :

Pela 1.ª pessoa.
Singular. | Plural.
Me, mim, migo | Nós, nos, nosco.

Pela 2.ª
Te, ti, tigo ; | Vós, vos, vosco.

Pela 3.ª
Ella, o (14)14, a, lhe ; | Elles, ellas, os, as, lhes :

Sing. e Plur.
Se, Si, Sigo.

Possessivos são os que recordão o nome com uma
idéa de possessão

(São os mesmos adjectivos possessivos com a differença
de não se ajuntarem ao nome.)

Demonstrativos são os que recordão o nome com
uma idéa de indicação ou demonstração.

(São os mesmos adjectivos demonstrativos com a differença
de não estarem junto ao nome.)

Isto, isso, aquillo são tambem pronomes demonstrativos,
que só se empregão em um sentido neutro e por isso
são invariaveis.

Relativos são os que representão um nome que os
precede immediatamente, e que se chama antecedente.
São : Quem, que (invariaveis), qual, cujo.

Estes pronomes quando vem sem antecedente, como
nas phrases interrogativas, chamão-se absolutos.

Indefinitos são os que recordão o nome com uma
idéa vaga ou do generalidade. São : Alguem, ninguem,
outrem, quemquer, cada qual
(todos invariaveis), cada um
19(só variavel no genero), todo aquelle, um certo, qualquer,
um
, e os adjectivos de igual classe, excepto cada.

§ V.
Do verbo.

Quanto á significação.

O verbo divide-se em duas especies principaes : Transitivo
e intransitivo. (15)15

Intransitivo é aquelle cuja significação se completa
em si mesmo e no seu sujeito, sem pedir objecto algum
ou termo em que passe, como : Brincar, viver, dormir, velar,
andar, morrer
, &.

Transitivo é aquelle cuja significação pede um objecto
em que se exercite, ou um termo a que se dirija, como :
Amar, desistir, dar, &. (16)16

Subdivide-se em tres especies : Activo, relativo, activo
e relativo
ao mesmo tempo.

Activo é aquelle cuja significação pede um objecto
em que se exercite, como : Amar.

Relativo é aquelle cuja significação pede um termo
a que se dirija, como : Desistir.

Activo e relativo é aquelle cuja significação pede
ao mesmo tempo um objecto e um termo, como : Dar.

Exemplo geral.

Eu amo a Deos ; tu desistes de uma causa ; elle da um
livro a seu companheiro
.

O verbo activo pode exercitar a sua acção por tres
maneiras differentes e por isso tem tres vozes : Activa,
passiva
e reflexa ou media.20

Voz activa é a que exprime a acção produzida pelo sujeito
da oração e recebida immediatamente por outro, como :
Pedro ama Maria.

Voz passiva é a que exprime uma acção recebida pelo
sujeito da oração e produzida por outro, como : Maria é
amada por Pedro
.

Voz reflexa é a que exprime uma acção recebida pelo
mesmo sujeito que a pratica, como : Pedro ama-se. (17)17

Esta voz chama-se tambem reciproca, quando a acção
produzida por muitos sujeitos reflecte de uns para os
outros, como : Pedro e Maria detestão-se.

Quanto á conjugação.

O verbo, quanto á conjugação, é : Regular ou irregular.

Regular é o que segue o modelo commum da conjugação
a que pertence ; irregular é o que d’elle se afasta
em tudo ou em parte. (18)18

Conjugação é o desenvolvimento do verbo em todas
as suas modificações accidentaes.

Das modificações.

As modificações do verbo são quatro : Modo, tempo, numero
a pessoa
.21

O modo indica a maneira por que o verbo exprime a
sua significação.

O tempo designa a occasião em que o verbo exercita a
sua significação.

O numero indica que a significação do verbo é exercitada
por um ou mais individuos : portanto é singular e
plural.

A pessoa indica que o sujeito que exercita a significação
do verbo é da 1.ª, 2.ª ou 3.ª pessoa.

Do Modo.

Os modos são cinco : Indicativo, condicional, imperativo,
subjunctivo
e infinitivo.

No indicativo a significação, do verbo é expressa de
uma maneira directa, affirmativa e independente.

No condicional, de uma maneira affirmativa, mas dependente
de uma condição qualquer.

No imperativo, de uma maneira affirmativa e imperiosa,
por tanto independente (12)19.

No subjunctivo, de uma maneira affirmativa tambem
mas sempre precaria e dependente da affirmação de outro
verbo.

No infinitivo emfim é expressa pura e simplesmente
sem determinação de pessoa e numero (13)20.

Do Tempo.

Os tempos principaes são tres : Presente, preterito e fuuro.

Presente é o tempo em que se falla ; preterito, todo
aquelle que precedeo ao presente ; futuro, todo o que se
lhe ha de seguir.

Estes tempos porêm, podendo ter maior ou menor duração,
decompõem-se em 7, que significão ou uma épocha
momentanea e acabada, ou continuada e não acabada, e
por isso são : Perfeitos ou imperfeitos.

Os perfeitos exprimem durações completas ou acabadas ;
como : Amei, &.22

Os imperfeitos exprimem durações incompletas ou
não acabadas ; como : Amava, &.

Podem uns e outros ser : absolutos ou relativos.

Absolutos — quando notão só um tempo sem relação
a outro ; como : Amei, &.

Relativos — quando notão um tempo com relação a
outro, como ; Tinha amado, &.

Todos são derivados do Presente impessoal do Infinito,
que por isso se chama primitivo.

Em relação á forma são : Simples os que não são auxiliados
por algum tempo do mesmo ou de outro verbo, como :
Amo, amara : compostos os que se formão com algum
tempo dos verbos auxiliares, como : Tenho amado, hei de
amar
, &.

Das conjugações.

Todos os verbos da nossa Lingua reduzem-se a quatro
conjugações, que se distinguem pela terminação : a 1.ª
acaba em ar, como Amar ; a 2.ª em er, como Entender ; a
3.ª em ir, como Applaudir, e a 4.ª em ôr, como Pôr.

Ha certos verbos que, abandonando a sua primitiva significação
nos ajudão a conjugar os outros e por isso se
chamão auxiliares. Os principaes são tres, a saber : Ter,
haver
e ser (21)21.

Começaremos pois pela conjugação d’estes, passando
depois á d’aquelles.23

Conjugação dos verbos auxiliares.
Ter. Haver. Ser (22)22.

Modo indicativo.

Presente imperfeito. (Tempo presente.)

Numero singular.
Eu tenho | hei | sou
Tu tens | has | és
Elle tem | ha | é

Numero plural.
Nós temos | havemos | somos
Vós tendes | haveis | sois
Elles têm | hão | são.

Presente perfeito (Pret. perf. comp.)

Numero singular.
Eu tenho tido | tenho havido | tenho sido
Tu tens tido | ens havido | tens sido
Elle tem tido | tem havido | tem sido

Numero plural.
Nós temos tido | temos havido | temos sido
Vós tendes tido | tendes havido | tendes sido
Elles têm tido | têm havido | têm sido

Preterito imperfeito.

Numero singular.
Eu tinha | havia | era
Tu tinhas | havias | eras
Elle tinha | havia | era24

Numero plural.
Nós tinhamos | haviamos | eramos
Vós tinheis | havieis | ereis
Elles tinhão | havião | erão.

Pret. perfeito absoluto. (Pret. perf.) (23)23

Numero singular.

Eu tive | houve | fui
Tu tiveste | houveste | foste
Elle teve | houve | foi

Numero plural.
Nós tivemos | houvemos | fomos
Vós tivestes | houvestes | fostes
Elles tiverão | houverão | forão.

Pret. perfeito relativo, simples. (Pret. mais q’ perf.) (24)24

Numero singular.
Eu tivera | houvera | fôra
Tu tiveras | houveras | fôras
Elle tivera | houvera | fôra

Numero plural.
Nós tivéramos | houvéramos | fôramos
Vós tivéreis | houvéreis | fôreis
Elles tivérão | houvérão | fôrão.25

Pret. perfeito relativo, composto (Pret. mais q’ perf. comp.)

Numero singular.
Eu tinha ou tivera tido | tinha ou tivera havido | tinha ou tivera sido
Tu tinhas ou tiveras tido | tinhas ou tiveras havido | tinhas ou tiveras sido
Elle tinha ou tivera tido | tinha ou tivera havido | tinha ou tivera sido

Numero plural.
Nos tinhamos ou tivéramos tido | tinhamos ou tivéramos havido | tinhamos ou tivéramos sido
Vós tinheis ou tivéreis tido | tinheis ou tivéreis havido | tinheis ou tivéreis sido
Elles tinhão ou tivérão tido | tinhão ou tivérão havido | tinhão ou tivérão sido.

Futuro imperfeito simples. (25)25

Numero singular.
Eu terei | haverei | serei
Tu terás | haverás | serás
Elle terá | haverá | será

Numero plural.
Nós teremos | haveremos | seremos
Vós tereis | havereis | sereis
Elles terão | haverão | serão

Futuro imperfeito composto.

Numero singular.
Eu hei de ter | hei de haver | hei de ser
Tu has de ter | has de haver | has de ser
Elle ha de ter | ha de haver | ha de ser26

Numero plural.
Nós havemos do ter | havemos de haver | havemos de ser
Vós haveis de ter | haveis de haver | haveis de ser
Elles hão de ter | hão de haver | hão de ser.

Futuro perfeito.

Numero singular.
Eu terei tido | terei havido | terei sido
Tu terás tido | terás havido | terás sido
Elle terá tido | terá havido | terá sido.

Numero plural.
Nós teremos tido | teremos havido | teremos sido
Vós tereis tido | tereis havido | tereis sido
Elles terão tido | terão havido | terão sido.

Modo condicional.

Presente e futuro imperfeitos. (Condicional.) (26)26

Numero singular.
Eu teria | haveria | seria
Tu terias | haverias | serias
Elle teria | haveria | seria

Numero plural.
Nós teríamos | haveríamos | seriamos
Vós terieis | haverieis | serieis
Elles terião | haverião | serião.27

Preterito perfeito. (Condic. comp.)

Numero singular.
Eu teria tido | teria havido | teria sido
Tu terias tido | terias havido | terias sido
Elle teria tido | teria havido | teria sido

Numero plural.
Nos teriamos tido | teriamos havido | teriamos sido
Vós terieis tido | terieis havido | terieis sido
Elles terião tido | terião havido | terião sido.

Modo imperativo.

Presente imperfeito. (27)27 (Futuro.)

Numero singular.
Tem tu | — | Sê tu.

Numero plural.
Tende vós | havei vós | Sede vós.

Modo subjunctivo.

Presente imperfeito. (28)28 (Tempo pres.e.)

Numero singular.
Eu tenha | haja | seja
Tu tenhas | hajas | sejas
Elle tenha | haja | seja

Numero plural.
Nós tenhámos | hajámos | sejámos
Vós tenháis | hajáis | sejáis
Elles tenhão | hájão | sejão28

Presente perfeito. (Pret. perf. comp.) (29)29

Numero singular.
Eu tenha tido | tenha havido | tenha sido
Tu tenhas tido | tenhas havido | tenhas sido
Elle tenha tido | tenha havido | tenha sido.

Numero plural.
Nós tenhámos tido | tenhámos havido | tenhámos sido
Vós tenháis tido | tenháis havido | tenháis sido
Elles tenhão tido | tenhão havido | tenhão sido.

Preterito imperfeito.

Numero Singular.
Eu tivesse | houvesse | fôsse
Tu tivesses | houvesse | fôsses
Elle tivesse | houvesse | fôsse.

Numero plural.
Nós tivéssemos | houvéssemos | fôssemos
Vós tivésseis | houvésseis | fôsseis
Elles tivessem | houvessem | fôssem.

Preterito perfeito. (Pret. ms q’ perf. comp.) (30)30

Numero singular.
Eu tivesse tido | tivesse havido | tivesse sido
Tu tivesses tido | tivesses havido | tivesses sido
Elle tivesse tido | tivesse havido | tivesse sido.29

Numero plural.
Nós tivéssemos tido | tivéssemos havido | tivéssemos sido
Vós tivésseis tido | tivesseis havido | tivésseis sido
Elles tivessem tido | tivessem havido | tivessem sido.

Futuro imperfeito. (Futuro)

Numero singular.
Eu tiver | houver | fôr
Tu tivéres | houvéres | fôres
Elle tiver | houver | fôr

Numero plural.
Nõs tivermos | houvermos | fôrmos
Vós tiverdes | houverdes | fôrdes
Elles tivérera | houvérem | fôrem.

Futuro perfeito. (Futuro composto).

Numero singular.
Eu tiver tido | tiver havido | tiver sido
Tu tivéres tido | tivéres havido | tivéres sido
Elle tiver tido | tiver havido | tiver sido.

Numero plural.
Nós tivermos tido | tivermos havido | tivermos sido
Vós tiverdes tido | tiverdes havido | tiverdes sido
Elles tiverem tido | tivérem havido | tivérem sido.30

Modo infinitivo.

Presente impessoal.

Ter. | Haver. | Ser.

Presente pessoal.

Numero singular.
Ter eu | Haver eu | Ser eu
Teres tu | Haveres tu | Seres tu
Ter elle | Haver elle | Ser elle.

Numero plural.
Termos nós | Havermos nós | Sermos nós
Terdes vós | Haverdes vós | Serdes vós
Terem elles | Haverem elles | Serem elles.

Preterito impessoal.

Ter tido. | Ter havido. | Ter sido

Preterito pessoal.

Numero singular.
Ter eu tido | Ter eu havido | Ter eu sido
Teres tu sido | Teres tu havido | Teres tu tido
Ter elle tido | Ter elle havido | Ter elle sido.

Numero plural.
Termos nós tido | Termos nós havido | Termos nós sido
Terdes vós tido | Terdes vós havido | Terdes vós sido
Terem elles tido | Terem elles havido | Terem elles sido.

Futuro impessoal.

Haver de ter. | Ter de haver. | Haver de ser.31

Futuro pessoal.

Numero singular.
Haver eu de ter | Ter eu de haver | Haver eu de ser
Haveres tu de ter | Teres tu de haver | Haveres tu de ser
Haver elle de ter | Ter elle de haver | Haver elle de ser

Numero plural.
Havermos nós de ter | Termos nós de haver | Havermos nós de ser
Haverdes vós de ter | Terdes vós de haver | Haverdes vós de ser
Haverem elles de ter | Terem elles de haver | Haverem elles de ser.

Participio imperfeito. (Part. do presente.)

Tendo. | Havendo. | Sendo.
Havendo de ter. (*)31 | Tendo de haver. | Havendo de ser.

Participio perfeito. (Part. do preterito.)

Tido. | Havido. | Sido.
Tendo tido. | Tendo havido | Tendo sido.32

Conjugação dos verbos regulares.
Amar. Entender. Applaudir. Pôr. (31)32
(Voz activa.)

Modo indicativo.

Presente imperfeito.

Numero singular.
Eu am-o, | entend-o, | applaud-o, | p-onho,
Tu am-as, | entend-es, | applaud-es, | p-ões,
Elle am-a, | entend-e, | applaud-e, | p-õe;

Numero plural.
Nós am-amos, | entend-emos, | applaud-imos, | p-ômos,
Vós am-ais, | entend-eis, | applaud-is, | p-ondes,
Elles a-mão, | entend-em, | applaudem, | p-ôem.

Presente perfeito.

Numero singular.
Eu tenho amado, | tenho entendido, | tenho applaudido, | tenho posto;
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Numero plural
Nós temos amado, | temos entendido, | temos applaudido, | temos posto;
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.33

Preterito imperfeito.

Numero singular.
Eu am-ava, | entend-ia, | applaudi-a, | p-unha,
Tu am-avas, | entend-ias, | applaud-ias, | p-unhas,
Elle am-ava, | entend-ia, | applaud-ia, | p-unha ;

Numero plural.
Nós am-avamos, | entend-iamos, | applaud-iamos, | p-unhamos,
Vós am-aveis, | entend-ieis, | applaud-ieis, | p-unheis,
Elles ama-vão, | entend-ião, | applaud-ião, | p-unhão.

Preterito perfeito absoluto.

Numero singular.
Eu am-ei, | entend-i, | applaud-i, | p-uz,
Tu am-aste, | entend-este, | applaud-iste, | p-uzeste,
Elle am-ou, | entend-eo, | applaud-io, | p-ôz ;

Numero plural.
Nós am-ámos, | entend-emos, | applaud-imos, | p-uzemos
Vós am-astes, | entend-estes, | applaud-istes, | p-uzestes
Elles am-arão, | entend-erão, | applaud-irão, | p-uzerão.

Preterito perfeito relativo, simples.

Numero singular.

Eu am-ara, | entend-era, | applaud-ira, | p-uzera,
Tu am-aras, | entend-eras, | applaud-iras, | p-uzeras,
Elle am-ara, | entend-era, | applaud-ira, | p-uzera ;34

Numero plural.
Nós am-áramos, | entend-eramos, | applaud-iramos, | p-uzéramos
Vós am-áreis, | entend-êreis, | applaud-íreis, | p-uzéreis,
Elles am-arão, | entend-erão, | applaud-irão, | p-uzérão.

Preterito perfeito relativo, composto.

Numero singular.
Eu tinha ou tivera amado | tinha ou tivera entendido, | tinha ou tivera applaudido, | tinha ou tivera posto
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Numero plural.
Nós tinhamos ou tivéramos amado, | tinhamos ou tivéramos entendido, | tinhamos ou tivéramos applaudido, | tinhamos ou | tivéramos | posto ;
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Futuro imperfeito simples.

Numero Singular.
Eu am-arei, | entend-erei, | applaud-irei, | p-orei,
Tu am-arás, | entenderás, | applaud-irás, | p-orás,
Elle am-ará, | entend-erá, | applaud-irá, | p-orá ;

Numero plural.
Nós am-aremos, | entend-eremos, | applaud-iremos, | p-oremos
Vós am-areis, | entend--ereis, | applaud-ireis, | p-oreis
Elles am-aráõ, | entend-eráõ, | applaud-iráõ, | p-orão.35

Futuro imperfeito composto.

Numero singular.
Eu hei de amar, | hei de entender, | hei de applaudir, | hei de pôr ;
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Numero plural.
Nós havemos de amar, | havemos de entender, | havemos de applaudir, | havemos de pôr.
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Futuro perfeito.

Numero singular.
Eu terei amado, | terei entendido, | terei applaudido, | terei posto ;
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Numero plural.
Nós teremos amado, | teremos entendido, | teremos applaudido, | teremos | posto.
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Modo condicional.

Presente e futuro imperfeitos.

Numero singular.
Eu am-aria, | entend-eria, | applaud-iria, | p-oria,
Tu am-arias, | entend-erias, | applaud-irias, | p-orias,
Elle am-aria, | entend-eria, | applaud-iria, | p-oria ;36

Numero plural.
Nós am-ariamos, | entend-eriamos, | applaud-iriamos, | p-oriamos,
Vós am-arieis, | entend-erieis, | applaud-irieis, | p-orieis,
Elles am-arião, | entend-erião, | applaud-irião, | p-orião.

Preterito perfeito.

[Numero singular.]
Eu teria amado, | teria entendido, | teria applaudido, | teria posto ;
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Numero plural.
Nós teriamos amado, | teriamos entendido, | teriamos applaudido, | teriamos posto.
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Modo imperativo.

Presente imperfeito.

Numero singular.
Am-a tu, | entend-e tu, | applaud-e tu, | põ-e tu ;

Numero plural.
Am-ai vós, | entend-ei vós, | applaud-í vós, | ponde vós

Modo subjunctivo.

Presente imperfeito.

Numero singular.
Eu am-e, | entend-a, | applaud-a, | p-onha,
Tu am-es, | entend-as, | applaud-as, | p-onhas,
Elle am-e, | entend-a, | applaud-a, | p-onha ;37

Numero plural.
Nós am-emos, | entend-ámos, | applaud-ámos, | p-onhámos,
Vós am-eis, | entend-ais, | applaud-ais, | p-onhais,
Elles am-em, | entend-ão, | applaud-ão, | p-onhão.

Presente perfeito.

Numero singular.
Eu tenha amado, | tenha entendido, | tenha applaudido, | tenha posto ;
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Numero plural.
Nós tenhámos amado, | tenhámos applaudido, | tenhámos posto ;
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Preterito imperfeito.

Numero singular,
Eu amasse; | entend-esse, | applaud-isse, | p-uzesse,
Tu am-asses, | entend-esses, | applaud-isses, | p-uzesses
Emme amasse, | entend-esse, | applaud-isse, | p-uzesse ;

Numero plural,
Nós am-assemos, | entend-essemos, | applaud-issemos, | p-uzessemos,
Vós am-asseis, | entend-esseis, | applaud-isseis, | p-uzesseis,
Elles am-assem, | entend-essem, | applaud-issem, | p-uzessem.

Preterito perfeito.

Numero singular,
Eu tivesse amado, | tivesse entendido, | tivesse applaudido, | tivesse posto ;
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.38

Numero plural.
Nós tivessemos amado, | tivessemos entendido, | tivessemos applaudido, | tivessemos posto.
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Futuro imperfeito.

Numero singular.
Eu am-ar, | entend-er, | applaud-ir, | p-uzer,
Tu am-ares, | entend-eres, | applaud-ires, | p-uzéres,
Elle am-ar, | entend-er, | applaud-ir, | p-uzer ;

Numero plural.
Nós am-armos, | entend-ermos, | applaud-irmos, | p-uzermos,
Vós am-ardes, | entend-erdes, | applaud-irdes, | p-uzerdes,
Elles am-arem, | entend-erem, | applaud-irem, | p-uzérem.

Futuro perfeito.

Numero singular.
Eu tiver amado, | tiver entendido, | tiver applaudido, | tiver posto ;
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Numero plural.
Nós tivermos | tivermos entendido, | tivermos applaudido, | tivermos posto.
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Modo infinitivo.

Presente impessoal.

Am-ar. | Entend-er. | Applaud-ir. | P-ôr39

Presente pessoal.

Numero singular.
Am-ar eu, | entend-er eu, | applaud-ir eu, | p-ôr eu,
Am-ares tu, | entend-eres tu, | applaud-ires | tu, | p-ôres tu
Am-ar elle, | entend-er elle, | applaud-ir elle, | pôr elle ;

Numero plural.
Am-armos nós, entend-ermos nós, | applaud-irmos nós, | p-ôrmos nós,
Am-ardes vós, | entend-erdes vós, | applaud-irdes vós, | p-ôrdes vós,
Am-arem elles, | entend-erem elles, | applaud-irem elles, | p-ôrem elles.

Preterito impessoal.

Ter amado. | Ter entendido. | Ter applaudido. | Ter posto.

Preterito pessoal.

Numero singular.
Ter eu amado, | ter eu entendido, | ter eu applaudido, | ter eu posto ;
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Numero plural.
Termos nós amado, | termos nós entendido, | termos nós applaudido, | termos nós posto ;
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Futuro impessoal.

Haver de amar, | haver de entender, | haver de applaudir, | haver de pôr.40

Futuro pessoal.

Numero singular.
Haver eu de amar, | haver eu de entender, | haver eu de applaudir, | haver eu de pôr ;
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Numero plural.
Havermos nós de amar, | havermos nós de entender, | havermos nós de applaudir, | havermos nós de pôr.
&. &. &. | &. &. &. | &. &. &. | &. &. &.

Participio imperfeito.

Amando, | entendendo, | applaudindo. | pondo.
Havendo de amar, | havendo de entender, | havendo de applaudir, | havendo de pôr.

Participio perfeito.

Amado, | entendido, | applaudido, | posto.
Tendo amado, | tendo entendido, | tendo applaudido, | tendo posto.

Da voz reflexa.

A voz reflexa é a mesma voz activa com a differença
sómente de ser conjugada com dous pronomes, isto é, o
pronome sujeito e a variação correspondente para complemento
objectivo ; como : Eu me amo ; tu te entendes ; elle se
applaude
, &.

Asim são conjugados os verbos especialmente pronominaes.

A forma impessoal do Infinito é acompanhada do pronome
Se ; como : Amar-se ; queixar-se &.41

Da voz passiva.

A voz passiva dos verbos, transitivos activos é formada
pelo verbo Se acompanhado do participio passivo
d’estes ; como : Eu sou amado ; vós haveis de ser entendido ;
Elles terão sido applaudidos
. Esta voz é tambem
muitas vezes representada, no Infinito e nas terceiras pessoas
dos tempos dos outros Modos, pela voz activa acompanhada
do dito pronome Se.

Este pronome Se apparece pois junto aos verbos de tres
modos differentes ; a saber : formando a voz reflexa, a passiva,
ou mostrando simplesmente energia e espontaneidade
de parte do sujeito.

No 1.° caso, o sujeito deve ter energia para exercer a
acção do verbo ; como : Eu me amo ; Me queixo, &.

No 2.°, o sujeito não tem essa energia e por tanto soffre
a acção ; como : Se diz ; se soffre, &. (*)33

No 3.°, esse pronome, como os das outras pessoas está
junto a algum verbo relativo ou intransitivo, cujo sujeito
é, por força, animado ; como : Lá se forão os nossos
amigos ; Cá nos ficámos es mais constantes
, &.

Dos verbos irregulares.

1.ª Conjugação.

Os verbos acabados em ar seguem a conjugação regular,
observando-se sómente que os que terminão em car,
mudão o o em qu nas vozes em que ao e se deve seguir
e, como Ficar, fiquei, fique ; os que terminão em gar
accrescentão nas mesmas vozes um u depois do g, como :
Pagar, paguei, pague ; finalmente os que terminão em
car tomão um i depois do e quando a este se segue vogal
ou diphtongo grave, como : Cêar, ceio, ceia, ceião. Estas
alterações, que só tem lugar para conservar-se em todo o
verbo o mesmo som da terminação, pois, a não serem ellas,
42Ficar faria fice, Pagar — page e Cêar — cêo (diphtongo),
não constituem, em boa razão, irregularidade n’estes verbos.

Os verbos verdadeiramente irregulares d’esta conjugação
são : Dar e Estar, que se conjugão assim : (32)34

Indicativo.

Presente impessoal.

Dou, dás, dá, damos, dais, dão. | Estou, estás, está, estamos, estais, estão.

Preterito perfeito.

Dei, déste, deo, démos, déstes, derão. | Estive, estiveste, esteve, estivemos, estivestes, estiverão.

Preterito perfeito relativo.

Déra, déras, déra, déramos, déreis, dérão. | Estivéra, estiveras, estivéra, estivéramos, estivéreis, estivérão.

Subjunctivo.

Presente imperfeito.

Dê, dês, dê, dêmos, dêis, dêem. | Esteja, estejas, esteja, estejámos, estejais, estejão.

Preterito imperfeito.

Désse, désses, désse, déssemos, désseis, déssem. | Estivesse, estivesses, estivesse, estivessemos, estivesseis, estivessem.43

Futuro imperfeito.

Dér, déres, dér, dermos, derdes, dérem. | Estiver, estivéres, estiver, estivermos, estiverdes, estivérem.

Pelo verbo Estar conjuga-se o seu composto Sobre’star.

2.ª Conjugação.

Os verbos d’esta conjugação que terminão em ger mudão
o g em j antes do a e o, para conservar o som da
terminação, como : Proteger, proteja protejo, & ; o que
não constitue por certo uma irregularidade.

Os verdadeiramente irregulares são os seguintes : Fazer,
Querer, Saber, Trazer, Valer, Poder, Dizer, Ser,
Crer, Requerer, Caber, Ver
e os seus compostos. Conjugão-se
assim :

Indicativo.

Presente imperfeito.

Faço | Vejo | Quero | Sei | Trago
Fazes | Vês | Queres | Sabes | Trazes
Faz ; | Vê ; | Quer ; | Sabe ; | Traz ;
Fazemos | Vemos | Queremos | Sabemos | Trazemos
Fazeis | Vêdes | Quereis | Sabeis | Trazeis
Fazem. | Vêem. | Querem. | Sabem. | Trazem.

Preterito perfeito absoluto.

Fiz | Vi | Quiz | Soube | Trouxe (*)35
Fizeste. | Viste | Quizeste | Soubeste | Trouxeste
Fez ; | Vio ; | Quiz : | Soube | Trouxe ;44

Fizemos | Vimos | Quizemos | Soubemos | Trouxemos
Fizestes | Vistes | Quizestes | Soubestes | Trouxestes
Fizerão. | Virão. | Quizerao. | Souberao. | Trouxerão.

Preterito perfeito relativo.

Fizera &. | Vira &. | Quizera &. | Soubera &. | Trouxera &.

Futuro imperfeito.

Farei, &. | Verei, &. | Quererei, &. | Saberei, & | Trarei, &.

Condicional.

Presente e Futuro.

Faria, &. | Veria, &. | Quereria, &. | Saberia, &. | Traria, &.

Imperativo.

Presente imperfeito.

Faz ou Faze | Vê | — | Sabe | Traz ou Traze ;
Fazei | Vêde | — | Sabei | Trazei.

Subjunctivo.

Presente imperfeito.

Faça, &. | Veja, &. | Queira, &. | Saiba, &. | Traga, &.

Preterito imperfeito.

Fizesse, &. | Visse, &. | Quizesse, &. | Soubesse, &. | Trouxesse, &.45

Futuro imperfeito.

Fizer, &. | Vir, &. | Quizer, &. | Souber, &. | Trouxer, &.

Infinito.

Participio perfeito.

Feito | Visto | Querido | Sabido | Trazido.

[2.ª Conjugação – Valer. Poder. Dizer. Ler. Crer. ]

Indicativo.

Presente imperfeito.

Valho | Posso | Digo | Leio | Creio
Vales | Podes | Dizes | Lês | Crês
Vale ou Vai ; | Pode ; | Diz ; | Lê ; | Crê ;
Valemos | Podemos | Dizemos | Lêmos | Crêmos
Valeis | Podeis | Dizeis | Lêdes | Crêdes
Valem. | Podem. | Dizem. | Lêm. | Crêm.

Preterito perfeito absoluto.

Vali | Pude | Disse (*)36 | Li | Cri
Valeste | Pudeste | Disseste | Leste | Creste
Valeo ; | Poude ; | Disse ; | Lêo ; | Crêo ;
Valemos | Pudemos | Dissemos | Lemos | Cremos
Valestes | Pudestes | Dissestes | Lestes | Crestes
Valerão | Puderão | Disserão | Lerão | Crerão.46

Preterito perfeito relativo.

Valêra, &.&. | Pudera, &. | Dissera, &., | Lêra, &. | Crêra, &.

Futuro imperfeito.

Valerei, &. | Poderei, &. | Direi, &. | Lerei, &. | Crerei, &.

Condicional.

Presente e Futuro.

Valeria, &. | Poderia, &. | Diria, &. | Leria, &. | Creria, &.

Imperativo.

Presente impessoal.

— | — | Diz ou dize | Lê | Crê ;
— | — | Dizei | Lêde | Crêde.

Subjunctivo.

Presente imperfeito.

Valha, &. | Possa, &. | Diga, &. | Leia, &. | Creia.

Preterito imperfeito.

Valesse, &. | Pudesse, &. | Dissesse, &. | Lêsse, &. | Crêsse, &

Futuro imperfeito.

Valer, &. | Pudér, &. | Dissér, &. | Crer, &. | Ler, &.

Infinito.

Participio perfeito.

Valido | Podido | Dito | Crido | Lido.47

O verbo Caber faz no presenie imperfeito do Indicativo
Eu caibo, cabes, cabe, &. ; no Preterito perfeito Eu coube,
&. ; no Presente imperfeito do Subjunctivo Eu caiba ;
no Preterito imperfeito Eu coubesse ; no Futuro imperfeito
Eu couber, &.

O verbo Perder muda o d em c C antes de a e o ; como ;
perco, percas, &. No mais seguem um e outro a conjugação
regular. Por Ver se conjugão os seus compostos ; só
Prover differe na segunda pessoa do plural do Presente
do Indicativo e do Imperativo, dizendo-se : provêis, provêi
e não provêdes, provêde. (*)37

3.ª Conjugação.

Os verbos acabados em gir mudão, para conservar o
som proprio, o g em j antes de o ou a, como : Affligir,
afflijo, afflija, &. ; do mesmo modo que os acabados em
guir perdem o u, como : Distinguir, distingo, distinga :
ao contrario dos acabados em gúir, que o conservão, como :
Argúir, argúo, argúa, &.

Os acabados em zir perdem ou conservão o e final da
3.ª p. do s. do P. imperfeito do Indicativo e 2.ª do Imperativo,
dizendo-se : Induz ou induze, conduz ou conduze &,
sendo a 1.ª fórma a mais moderna e mais usada.

Sahir, Cahir, e seus compostos perdem o h nas mesmas
vozes em que os acabados em gir mudão o g em j,
para diphtongarem as vozes a e i, como : Saio, caio, &.

Indicativo.

Presente imperfeito.

Numero singular.
Vou | Venho | Peço | Sirvo
Vás | Vens | Pedes | Serves
Vai ; | Vem ; | Pede ; | Serve ;48

Numero plural.
Vamos ou imos | Vimos | Pedimos | Servimos
Ides | Vindes | Pedis | Servis
Vão | Vem | Pedem | Servem.

Preterito imperfeito.

Ia | Vinha | Pedia | Servia &.
Iamos | Vinhamos | Pediamos | Servíamos

Preterito perfeito absoluto.

Fui | Vim | Pedi | Servi
Foste | Vieste | Pediste | Serviste
Foi | Veio | Pedio | Servio.
Fômos | Viemos | Pedimos | Servimos
Fostes | Viestes | Pedistes | Servistes
Forão | Vierão | Pedirão | Servirão.

Preterito perfeito relativo.

Fôra | Viéra | Pedira | Servira &.
Fôramos | Viéramos | Pedíramos | Serviramos &.

Imperativo.

Presente e futuro.

Vai | Vem | Pede | Serve.
Ide | Vinde | Pedi | Servi.

Subjunctivo.

Presente imperfeito.

Vá | Venha | Peça | Sirva
Vá | Venhas | Peças | Sirvas
Vá | Venha | Peça | Sirva.49

Vámos | Venhámos | Peçámos | Sirvámos
Vades | Venhais | Peçais | Sirvais
Vão | Venhão | Peção | Sirvão.

Preterito imperfeito.

Fosse | Viesse | Pedisse | Servisse &.
Fossemos | Viessemos | Pedissemos | Servissemos.

Futuro.

Fôr | Vier | Pedir | Servir
Fôres | Viéres | Pedires | Servires
Fôr | Vier | Pedir | Servir.
Fôrmos | Viermos | Pedirmos | Servirmos
Fôrdes | Vierdes | Pedirdes | Servirdes
Fôrem | Viérem | Pedirem | Servirem.

Infinitivo.

Participo perfeito.

Ido | Vindo | Pedido | Servido.

Conjugão-se como Vir os seus compostos Avir, Convir,
Desconvir
, &.

Como Pedir os seus compostos Impedir e Despedir.

Como Servir os seguintes : Advertir, Despir, Ferir e
seus compostos, Mentir, Desmentir, Preterir, Compellir (33)38,
Repetir, Seguir e seus compostos, Sentir, Vestir
e os compostos de ambos.

Como Pedir conjugão-se tambem o verbo Medir, mudando
como elle o d em ç antes de o e a ; e o verbo Ouvir,
mudando o v em ç antes das mesmas lettras, como :
Ouço, ouça, meça &.

O verbo Rir só é irregular no Pres. do Ind., Imp. e
Subj., fazendo : Rio, ris, rimos, rides, riem ; ri, ride, ria,
& ; assim o seu composto Sorrir.50

O verbo Dormir muda o o em u na 1.ª p. do s. do Pres.
do Indicativo e em todo o P. do Subj., fazendo : Eu durmo,
dormes
& ; eu durma, durmas, &.

O verbo Subir faz no P. do Ind. Subo, sobes, sobe, subimos,
subis, sobem
e no Imp. sobe, sendo em tudo mais
regular. Conjugão-se como elle, isto é, fazendo a mesma
alteração, os seguintes : Acudir, Bulir, Construir, Consumir,
Cuspir, Destruir, Engulir, Fugir, Sacudir, Tussir
.

Frigir muda nas mesmas vozes o i em é ; como Frijo,
fréges, frége
, &.

Prevenir, muda em i o e da radical nas tres p. do s. e
3.ª do pl. do P. do Ind., no s, do e em todas as do
Pres. do Subj., fazendo : Previno, prevines, previne, previnem ;
prev
ine ; previna, previnas, &. O verbo Sortir
muda nas mesmas vozes o o em u ; assim o verbo Cortir.

Os verbos Abolir, Banir, Brandir, Carpir, Colorir, Demolir,
Discernir, Exinanir, Munir, Remir, Polir
e alguns
outros devem ser contados na classe dos defectivos,
pois, propriamente só são usados nas vozes, cujas terminações
começão por i.

Dos verbos defectivos.

Os mais notaveis são Prazer, e seus compostos Aprazer,
Comprazer
e Desaprazer.

Prazer tem só as seguintes vozes : Praz, prouve, prouvera,
prazeria, praza, prouver
.

Aprazer tem alêm d’essas : Aprazia, aprazerá, aprouvesse,
aprazendo, aprazido
. O mesmo acontece com Desaprazer.

Comprazer se conjuga mais regularmente, tendo quasi
todas as vozes e pessoas e é mais commummente empregado
em sua voz reflexa.

Precaver e Feder que não tem as pessoas em que ao v e
ao d se segue o ou a.

Alêm d’estes e dos que já deixámos notados nos irregulares
da 3.ª Conj., ha outros que só a pratica irá ensinando.51

Entre os defectivos ha alguns que só tem a 3.ª pessoa
de cada tempo e por isso se chamão unipessoaes. Taes
são : Acontecer, Importar (*)39, os que significão certos phenomenos
naturaes, como : Chover, Nevar, Gear, Gelar,
Granizar, Trovejar, Choviscar
, e outros.

Em conclusão notaremos que muitos verbos, sem serem
propriamente unipessoaes, são muitas vezes como taes empregados ;
como : Succeder, Convir, Haver significando
existencia, e muitos outros.

§ IV [VI].
Do participio

O Participio divide-se em : Imperfeito e perfeito, este em
activo e passivo.

O imperfeito exprime uma acção, ou um estado e é
invariavel ; como : Cantando, rindo, pondo ; tem o mesmo regimen
do verbo e acaba em ndo.

O perfeito activo exprime uma acção ou um estado,
tem o mesmo regimen do seu verbo, cujos tempos compostos
forma, e é invariavel.

O perfeito passivo tem a mesma significação do seu
verbo, mas já passiva, e qualifica qualquer substantivo,
com o qual concorda em genero e numero, sendo por tanto
variavel.

Os participios perfeitos acabão nas tres primeiras conjugações
em do, e na 4.ª em to ; como : Amado, pretendido,
admittido, posto
. Exceptuaõ-se alguns d’aquelles entre os
verbos irregulares, como : Visto, feito ; escripto, &. (34)4052

§ VII.
Da preposição.

A Preposição divide-se em tantas especies, quantas são
as relações que ella pode exprimir.

As principaes são :

De sitio ou lugar : A, ante, de, desde, em, entregara,
por, até, sobre, apoz
, &.

Ex. Vou a Belêm ; Vim de Pelotas ; desde casa até a Repartição.

De União ou concurso : Com. Ex. Passei hontem o
serão com minhas primas.

De opposição : Contra. Ex. Eu nado contra a corrente.

De ordem e de tempo : Desde, até, antes, de, durante.
Ex. Desde o capitulo 1.° até o 3.° ; Antes de um mez
estarei de volta.

De fim, objecto, termo : A, para, por. Ex. Para não
trabalhar me finjo doente.

De causa e modo : A, de, por. Ex. Por minha má conducta
sou odiado (35)41.

Chama-se locução prepositiva a uma reunião de palavras
desempenhando as funcções de uma preposição ;
como : Ao redor, de baixo, de cima, &.

Chamão-se termos da relação as duas palavras ligadas
pela preposição, dando-se tambem á posposta o nome
de complemento ou regimen da preposição.

§ VIII.
Do adverbio.

O Adverbio divide-se em varias especies segundo as
relações que exprimem, sendo as principaes as seguintes :53

De tempo : Hoje, hontem, antehontem, amanhã, agora,
sempre, nunca, jamais, antes, depois, logo, tarde, cedo,
quando, ainda, então, ora, outr’ora
, &.

Ex. Outr’ora eu era feliz ; Amanhã lá irei : E’ cedo ainda
para dormir.

De lugar : Aqui, ahi, ali, acolá, algures, onde, &. Ex.
Onde está teu livro ? Por ahi algures.

De quantidade e de comparar : Muito, pouco, mais,
menos, melhor, peor, tão, tanto, quão, quanto, assaz,
bastante, demasiado
, &. Ex. Luiz é tão intelligente quanto
modesto ; Tu cantas melhor do que eu ; Nós somos muito
estudiosos.

De ordem : Antes, depois, primeiro ou primeiramente,
alternativamente, alternadamente, ultimamente, finalmente
,
&. Ex. Primeiramente trabalhar, descançar depois.

De modo e qualidade : Bem, mal, facilmente, modestamente,
&. Ex. Eu vivo modestamente. (36)42

De affirmativa : Sim, assim, certamente. Ex. Estudas
muito ? certamente.

De negativa : Não, nunca, nada, &. Não sendo amavel,
nunca serei amado.

De interrogação : Como ? quando ? porque ? &. Ex.
Como dizes ? Quando vens ?

Chama-se locução adverbial a reunião de duas ou
mais palavras exercendo as funcções de um adverbio ; como :
Depois de amanhã, d’ora em diante, em seguida, a
pressa, a capricho, a esmo, a moda, a torto e a direito, na
verdade, sem duvida
&. (37)4354

§ IX.
Da conjuncção (*)44.

A Conjunccão, podendo exprimir diversas relações, divide-se
em varias especies, das quaes as principaes são :

Copulativas, que ligão orações susceptiveis da mesma
affirmação ou negação ; taes são : E, tambem, bem assim,
outro sim, como, tanto
, &. Ex. Todos os homens, tanto
ricos, como pobres, são filhos de Deus e por consequencia
irmãos.

Disjunctivas, que indicão alternativa ou distincção
no sentido das orações por ellas ligadas ; taes são : Ou, já,
nem, ora, quer
. Ex. Ora queres, ora não queres, quem te
poderá entender ?

Explicativas, que ligão orações que fazem em substancia
o mesmo sentido, indicando aquella que desenvolve
ou exemplifica a 1.ª ; taes são : A saber, de sorte que,
com tal que, certo que, em quanto
&. Ex. Far-te-hei todas
as vontades com tal que cumpras os teus deveres.

Comparativas, que ligão duas orações pela relação
de comparação que ha entre ellas ; taes são : Como, assim.,
bem como, assim como, assim tambem
, &. Ex. Assim como
os homens, tem os brutos suas affeições.

Continuativas, que indicão affinidade de sentido entre
duas orações por ellas ligadas, fazendo a passagem de
uma para outra ; taes são : Pois, alêm d’isso, mais, demais,
quanto ao mais, com effeito, assim mesmo
, &. Ex. E’s pouco
intelligente, alêm d’isso pouco estudioso, que podes
aprender ?

Adversativas, que ligão duas orações mostrando opposição
na 2.ª a respeito da 1.ª, taes são : Mas, porêm,
ainda que, posto que, se bem que, comtudo, ainda assim,
ainda quando, não obstante, sem embargo, senão, todavia,
pelo contrario, nem por isso
, &. Ex. Posto que conheçamos
quanto é bella a virtude, todavia poucos são os homens
que a exercitão.55

Causaes, que ligão duas orações pela relação de consequencia
em que uma está para a outra ; taes são : Pois,
pois que, porque, visto que, porquanto, como
. &. Ex. Visto
que
não queres estudar, não cances os livros e o professor,
busca outro officio.

Condicionaes, que indicão a relação de condição
entre as duas orações por ellas ligadas, taes são : Se, senão,
com tanto que, salvo se, quando não
, &. Ex. Se queres
que te respeitem, respeita os outros.

Conclusivas, que ligão as orações pela razão que umas
tem como conclusões para outras ; taes são : Pois (quando
posposta) logo, por tanto, pelo que, assim que, por conseguinte
ou consequencia, emfim., por fim, a final, finalmente
,
&. Ex. E’s moço inteligente, estudioso e rico, tens
por tanto em perspectiva um grande futuro.

Circumstanciaes ou complementares, que ligão
uma oração com outra em razão de uma conter uma circumstancia
da qual depende a verdade ou o complemento
da outra ; taes são : Com, que, tanto, emquanto, logo que,
como quer que, até que
, &. Ex. Trabalha em quanto pudéres.
Me avisa logo que chegares. (38)45

Chama-se locução conjunctiva a reunião de palavras
fazendo o officio de uma conjuncção ; como : Por consequencia,
com tanto que
, &. (39)46

§ X.
Da interjeição.

A Interjeição, podendo exprimir tantos e tão differentes
transportes, divide-se em varias especies ; as principaes
interjeições porêm são as seguintes :56

Para exprimir dor, afflição, pezar, tristeza : Ai !
Hui
 !

Repugnancia, desprezo, desagrado, aversão :
Apage ! Fóra ! Irra !

Desejo : Oxalá ! Quem dera !

Estimulo, valor : Eia ! Vamos ! Animo ! Sus ! Avante !

Alegria : Oh ! Bem ! Ainda bem ! Muito bem ! Felizmente !

Applauso ou approvação : Bravo ! Bravíssimo !
Viva ! Bem ! Muito bem ou optimamente
 !

Espanto, sobresalto, adimiração : Ah ! Oh ! Holá !
Que
 !

Riso : Ha ! ha ! ha !

Vigilancia : Alerta ! Sentido ! Cuidado !

Para mandar calar, pedir ordem : Tá ! Chiton ! Caluda !
Silencio ! Ordem
 !

Para pedir soccorro : Ai ! ai ! ai !

Para chamar : Holá ! O’ ! Siu ! (40)47

Chama-se locução interjectiva a reunião de palavras
fazendo o officio de uma interjeição ; como : Quem
dera ! Pois seja ! Ainda bem
 !

Fim da etymologia.57

Segunda parte
Da syntaxe.

A Syntaxe trata da concordancia, da regencia e da ordem
das palavras na oração e das orações no discurso.

Concordancia é a harmonia ou conformidade entre as
palavras como elementos da oração, ou entre as orações
como elementos do discurso.

Regencia é a relação de dependencia de uma palavra ou
de uma oração para outra.

Ordem é o arranjamento e collocação das palavras na
oração e das orações no discurso.

A Syntaxe divide-se em : Natural e figurada,

Syntaxe natural ou regular é aquella em que as
palavras, como as orações, guardão entre si as regras da
concordancia e da regencia, bem como a ordem natural das
idéas e pensamentos que exprimem.

Syntaxe figurada ou irregular é aquella em que,
para mais elegancia e energia do discurso, as palavras,
como as orações, não guardão entre si, ou as regras da
concordancia, ou as da regencia, ou a ordem natural das
idéas e pensamentos que exprimem.

Cap. I.
Da syntaxe natural (41)48.

§ I.
Divisão das orações.

As orações em relação aos termos, de que se compõem,
são : Perfeitas ou imperfeitas, simples ou compostas.58

Oração perfeita é a que tem claros e precisos todos es
seus termos.

Imperfeita é aquella em que precisa supprir-se alguma
palavra.

Simples é a que tem um só sujeito e um só predicado.

Composta é a que tem mais de um sujeito ou mais de
um predicado ou muitos de um o outro ao mesmo tempo.

Em relação umas ás outras, as orações se dividem em :
Principaes, subordinadas, incidentes, e integrantes (42)49.

Oração principal é aquella que determina todas as outras
orações e sem a qual não pode haver sentido perfeito.
Quando está só (o que nunca acontece ás outras), chama-se
absoluta. (43)50

Subordinada é a que faz sempre sentido suspenso e
dependente de outra oração, e á qual é ligada por alguma
conjuncção ou locução conjunctiva.

Incidente é a que explica ou restringe qualquer dos
termos da oração que a precede e á qual é ligada por algum
dos relativos : que, qual, cujo, onde. (44)51

A Incidente é explicativa ou restrictiva.

Explicativa é a que desenvolve uma idéa já incluida
no termo antecedente, ou uma idéa nova mas que nada influe
para completar o sentido d’esse termo. (45)52

Restrictiva é a que restringe o termo antecedente,
desenvolvendo uma nova idéa, precisa para completar ou
determinar, o sentido d’esse termo.59

Integrante é a que inteira o sentido de outra oração,
servindo-lhe de sujeito, predicado ou complemento (46)53.

Chama-se Periodo o ajuntamento de duas ou mais
orações ligadas entre si de modo que umas suppôem necessariamente
as outras para complemento do sentido total.

Um periodo tem tantas orações, quantos são os verbos
n’elle comprehendidos.

Exemplo geral

Se o homem que pensa antes de obrar, commette erros,
que muitas vezes lhe são fataes, quantos e quão graves não
commetterá aquelle que procede irreflectidamente
 ?…

Eis um periodo que contêm seis orações, a saber : Quantos
e quão graves
(erros) não commetterá aquelle, oração principal ;
que procede irreflectidamente, incidente restrictiva ; se
o homem commette erros
, subordinada ; que pensa antes de
obrar
, incidente restrictiva contendo uma integrante, que
lhe serve de complemento indicando uma relação de tempo ;
que muitas vezes lhe são fataes, incidente explicativa.60

§ II.
Da Concordancia.

Na Syntaxe regular ou natural as partes concordantes
correspondem exactamente áquellas com quem concordão,
guardando entre si as seguintes relações :

Todo adjectivo, pronome e participio concorda com
seu substantivo em genero e numero (47)54.

O verbo concorda com seu sujeito em numero e pessoa (48)55.

O attributo (predicado concordado) com o sujeito da
oração em numero, se é appellativo ; sendo adjectivo, em
genero e numero quando o sujeito é appellativo, e quando
é proprio concorda com o appellativo que se subentende.

Nas orações que tem muitos sujeitos, ou attributos continuados,
estes concordão com aquelles na mesma relação
de sujeitos e attributos parciaes da mesma proposição.

As orações subordinadas concordão com as suas principaes
por meio das conjuncções ou locuções conjunctivas
que as ligão (49)56.

As incidentes, ligadas a outras orações pelo relativo que,
concordão com o sujeito ou attributo, d’esta pela, posição do
mesmo relativo ; quando porêm são ligadas pelo relativo
qual ou cujo ou suas variações, concordão não por posição,
mas tambem por genero e numero (50)57.

As orações integrantes ligadas pela conjuncção que concordão
com a oração de que fazem parte pela posição immediata
da mesma conjuncção ; as do infinito impessoal, tendo
61o mesmo sujeito que a oração de que fazem parte, concordão
com esta pela identidade do sujeito. (51)58

A oração responsiva regular concorda com a interrogativa
na mesma linguagem e em sua regencia, podendo porêm
differir quanto á pessoa.

§ III.
Da Regencia.

Na Syntaxe regular ou natural as partes regentes tem
expressos os seus complementos e estes os seus antecedentes.

Chamão-se regentes as palavras que determinão as outras
por ellas exigidas para completar a sua significação ;
regidas as que servem para completar a significação d’aquellas
por quem são exigidas e determinadas.

Ha propriamente fallando só quatro palavras regentes,
que são : o adjectivo e adverbio de significação relativa, o
verbo e a preposição.

Regida pode ser toda e qualquer palavra e mesmo uma
oração.

As relações entre umas e outras podem reduzir-se a
quatro principaes e por isso :

Ha quatro complementos, que são : Objectivo, terminativo,
restrictivo
, e circumstancial.

Complemento objectivo (*)59 é toda palavra ou oração
que é o primeiro termo ou objecto sobre que se exercita
a acção do verbo activo. Quando, por ex., eu digo :
Nós estudamos a lição ; o complemento objectivo é a lição.

Quando este complemento é de pessoa ou cousa personificada
vem sempre precedido da preposição a, excepto
62se é expresso por alguma das variações me, te, se, nos,
vos, o, a, os
, dos pronomes pessoaes (52)60.

Complemento terminativo é toda palavra ou oração
que serve de termo á significação relativa das palavras
regentes. Quando digo, por ex. : Dependo de Pedro ; de Pedro
é o complemento terminativo de dependo.

Estes complementos são exigidos por todos os verbos
que tem significação relativa e podem ser acompanhados
por diversas preposições, das quaes as mais usuaes são
seis : A, para, por, de, com, contra (53)61.

Complemento restrictivo é qualquer palavra precedida
da preposição de e posta immediatamente depois de
um nome appellativo para lhe restringir e determinar a significação
vaga e geral que sempre tem. Quando digo,
por ex. : Homem de criterio ; Senhora de virtudes ; de criterio
e de virtudes são complementos de homem e senhora.

Quando este complemento é feito dos pronomes pessoaes,
nunca é por estes representado, mas sim pelos pronomes
ou adjectivos possessivos, o que faz grande differença.
Quando digo, por exemplo : Saudades de mim, refiro-me
ás saudades que outrem tem de minha pessoa ;
Quando digo : Minhas saudades, refiro-me ás que eu tenho
de outrem (54)62. De mim n’este caso é complemento terminativo
e não restrictivo.

Complemento circumstancial é toda palavra ou
oração precedida de preposição que se ajunta a qualquer
63verbo ou adjectivo sem ser pedida pela sua significação,
servindo entretanto para explical-a.

D’estes complementos pertencem ao verbo substantivo
(Ser) os que dizem respeito á existencia e ao modo de a
enunciar ; taes são : os relativos ao lugar, ao tempo, e aos
gráos de affirmação : todos os mais relativos, á quantidade,
qualidade, modo, fim, meios
ou instrumentos com que alguma
cousa se faz, pertencem, aos outros verbos. Alêm
d’estes complementos, apparece muitas vezes na oração
um termo a que se dá o nome de complemento vocativo ;
costuma vir entre virgulas e representa a pessoa ou
cousa personificada a quem nos dirigimos. Ex. Não sabes,
Pedro, o que é o mundo (55)63.

§ IV.
Da Ordem.

Na Sintaxe natural ou regular as palavras e as orações
são collocadas segundo a ordem natural ou directa das
idéas e pensamentos que exprimem, referindo-se cada uma
successivarmente áquella que lhe precede immediatamente,
de sorte que o sentido se vai percebendo a proporção que
se vai ouvindo ou lendo.

Pela ordem directa :

O artigo ou adjectivo determinativo irão antes do nome,
o restrictivo depois, o explicativo antes ou depois.

O sujeito antes do verbo, e o predicado depois, observando-se
que, quando concorrerem mais de um sujeito : ou
predicado na mesma oração, devem ser collocados pela ordem
da sua precedencia relativamente, á dignidade ou ao
tempo : dizendo-se, por ex. « Eu e tu ; vós e elles ; o pai e o
filho ; o céo e a terra ; o dia e a noute
, etc. », e não ao contrario.64

Todo complemento, seja simples palavra ou oração, deve
seguir immediatamente a palavra ou oração cuja significação
completa ou modifica. Assim : o complemento objectivo
deve ser collocado logo depois do verbo e apoz elle
o terminativo, se o houver ; se vierem acompanhados de
outros, estes precederáõ o verbo, depois do qual não se
deve pôr mais de dous a tres complementos.

As orações incidentes devem seguir immediatamente o
termo por ellas explicado ou restringido da oração a que
estão ligadas.

A oração principal deve ser a primeira no periodo.

Exemplo da ordem directa.

O Imperador do Brasil, preciosa dadiva que o céo nos fez,
merece o amôr e respeito de todos os povos cultos do mundo,
não só por sua illustração, como por fazer o felicidade do
seu povo
.

Capitulo II.
Da syntaxe figurada.

As figuras principaes são tres, a saber : Syllepse, Ellipse
e Hyperbato.

A 1.ª affecta a concordancia ; a 2.ª a regencia ; a 3.ª a ordem.

Syllepse é a figura pela qual as partes concordantes
não correspondem exactamente áquellas com quem devem
concordar e sim a outras que temos em mente, e que facilmente
se subentendem.

A Syllepse é de genero, de numero e de pessoa.

De genero : quando o adjectivo em um só genero corresponde
a dous ou mais substantivos de generos differentes.
Ex. Pedro e Maria são generosos.

De numero : quando a nomes do singular se juntão
adjectivos ou verbos no plural ou vice-versâ. Ex. Grande
numero de soldados brasileiros morrerão gloriosamente na
tomada de Villela. Havera cem amos que isto aconteceo
.65

De pessoa : quando concorrem muitos sujeitos de differentes
pessoas correspondendo o verbo a uma só que é
sempre a mais nobre, como a 1.ª sobre a 2.ª e esta sobre
a 3.ª Ex. Eu e tu vivemos felizes.Tu e elle estais contentes (56)64.

Ellipse é a figura pela qual se omittem palavras necessarias
á integridade grammatical da oração, as quaes
facilmente se supprem. Ex. No mundo ha flores e espinhos,
como prazeres e dôres. O Amazonas, principal rio do mundo,
atravessa de Oeste a Leste a America meridional
(57)65.

Hyperbato é a figura pela qual se altera a ordem natural
das palavras e das orações. Ex. Em versos divulgado
numerosos
.

N’esta figura estão comprehendidas a Anastrophe, a
Tmèse, o Parenthese e a Synchese.

Anastrophe é a figura pela qual se inverte a ordem
natural das palavras e das orações sem comtudo se separarem
as idéas correlativas. Ex. Cresce com a frouxidão
do mestre a preguiça do discipulo. O que ganhavão pelo trabalhos
perdido pela prodigalidade
(58)66.66

Tmèse é a figura pela qual se decompõe uma palavra
composta, separando os seus elementos e mettendo-lhe outra
ou outras de permeio. Ex. :

Rosa ! exclamou elle, e, ao dizer lina,
Expira em um soluço convulsivo !… (59)67

Parenthese é a figura pela qual se interrompe o sentido
de uma oração mettendo-lhe outra no meio. Ex. Humaytá
era (todos o sabem hoje) o phantasma collocado por
um tyranno á porta de seu antro ; para vedar-lhe a entrada
á civilisação e á liberdade
.

Synchese é a figura pela qual se transtorna toda a ordem
das palavras e das orações. Ex. :

Entre todos c’o dedo eras notado
Lindos moços d’Arzilla em galhardia
(60)68.

A estas figuras accrescentão alguns Grammaticos o
Pleonasmo (61)69.

Pleonasmo é a figura pela qual usamos, em uma oração
ou discurso, de palavras que não são necessarias, mas
que servem para dar mais energia ou graça ao que dizemos.
Ex. Eu te vi com os meus proprios olhos subir ladeira
acima
.

Appendice.
Dos vicios da oração.

Os vicios principaes da oração reduzem-se aos seguintes :
Barbarismo, Solecismo.Gallicismo, Perissologia, Battologia
e Cacophonia
.67

Barbarismo é a alteração viciosa de uma palavra, como :
Cathacismo por cathecismo, chicolate por chocolate, estauta
por estatua, progunta por pergunta, &.

Solecismo é um erro de concordancia ; como : Uma
phantasma, as mulher
, &.

Gallicismo é o erro que commettemos quando usamos
de um termo ou de uma phrase franceza com caracter portuguez ;
como quando dizemos : Remarcavel por notavel ;
debutar por estrear, &.

Perissologia é a redundancia inutil de palavras.

Battologia é a inutile fastidiosa repetição de palavras.

Cacophonia é a consonancia desagradavel, obscena,
ou só equivoca, produzida pela união inconveniente de
duas ou mais palavras, como : Que aqui gorgeião (a)70. De
amor morrer. Que a par dos homens (b)71. Se me amasses.
Alma minha, &. (c)72.

Fim da syntaxe68

Terceira parte.
Da prosodia.

Syllaba é um som distincto pronunciado em urna só
emissão de voz.

A syllaba formada por duas vogaes puras chama-se
diphtongo oral ; por uma nasal e — uma -pura,
diphtongo nasal. Ex. Do 1.° Ao, do 2.° Ão.

A syllaba resultante da contracção de duas vogaes
iguaes em uma só, como A’ (aa), chama-se Crase.

A syllaba formada por duas vogaes consecutivas com
uma ou mais consoantes produzindo um só som, ou por
serem aquellas muito breves, ou a 1.ª brevissima a respeito
da 2.ª, como : Guar em guarda, ria em gloria, chama-se
Synérese.

Quantidade é a maior ou menor extensão que damos
á voz ao pronunciar a syllaba.

Accento é a maior ou menor intensão que damos á
voz ao pronunciar a syllaba.

Em relação á quantidade, a syllaba é longa ou breve ;
em relação ao accento, é aguda ou grave.

Breve — é a que se pronuncia rapidamente.

Longa — é aquella em cuja pronuncia a voz se demora
mais.

Aguda — é a que se pronuncia com um tom de voz
elevado e forte.

Grave — é aquella pela qual a voz desce e se abate
depois da aguda.

Toda syllaba aguda é longa, mas nem toda syllaba
longa é aguda como se vê em : Orgão, cuja 1.ª é aguda
e longa, a 2.ª longa e grave.

Toda palavra (1)73 tem uma Syllaba aguda (2)74, que lhe dá
69o tom e sem a qual ella não poderia ser pronunciada ;
por isso chama-se predominante. Ella é sempre a ultima, a
penultima ou a antepenultima. As syllabas que a seguem
são graves todas, e indifferentes as que a precedem ; como
são communs as que não tem quantidade fixa, sendo ora
longas, ora breves.

A palavra de uma só syllaba chama-se monossylabo ;
a de duas, dissyllabo ; a de tres, trissyllabo ; de quatro
para cima polysyllabo.

Em relação á quantidade e ao accento.

São longas por natureza :

1.° Todas as syllabas agudas, como : Maná, flôr, compôr.

2.° Todas as syllabas que tem som nasal, claro ou surdo,
como a 1.ª de ancião, e a l.ª de amago.

3.° Todo diphtongo, crase e synérese ; com em : Calháo,
oração, ás, quanto
.

São breves :

Todas as syllabas puras em a, e, o, e as ambiguas e ou
i, o ou u, como se vê em : Atabále, povoádo, célebre, em que
só são longas as indicadas pelo accento agudo.

São communs :

As syllabas i e u, que o uso faz longas ou breve, segundo
as pronuncia com ou sem accento.

São agudas ;

1.° Todas as syllabas em á, ã, é, ê, ó e ô, como se vê
em : Pará, romã, café, mercê, cipó, avô ;

2.° Todas as terminações em i e u, como em : Javali, cajú ;
exceptuando-se quasi e tribu em que são graves.

3.° Nos diphtongos oraes ou nasaes, como se vê em :
Amai, calhao, gostei, ilhéo, entendeo, breo, ouvio, boi, hui,
mãi, irmão
 ; exceptuando-se d’estes ultimos : Accórdão, benção,
Christovão, Estevão, frangão, orphão, orgão, rabão,
sõtão
que são graves, bem como as formas dos verbos em
ão menos as do futuro imperfeito.

4.° Em l, r, s, z, do numero singular, como : Altar, coral,
Jesus, arroz
 ; exceptuando-se :

Quanto á 1.ª : Tentugal, Setubal, Annibal e todos os adjectivos
em el, il e ul ;70

Quanto á 2.ª : Aljofar, ambar, assucar, nacar, nectar e
martyr ;

Quanto á 3.ª : Alferes, herpes, calix, ourives, parenthesis
ou parenthese, simples ; os patronymicos em es como
Bernardes, Domingues, Sanches, & ; e as vozes dos verbos
em as e es, como : Amas, vestes, menos as do verbo estar e
as dos futuros imperfeitos.

5.° Em em, im, om e um como : Desdem, marfim, dom,
jejum
, exceptuando-se sómente quanto á 1.ª : Ordem, homem,
virgem
e todos os mais que, como este, tem g antes
de em e todas as vozes dos verbos, como : Louvem, amem, &.

6.° Todos os monosyllabos, que não são encliticos, como :
Pé, dôr, ar, &.

Todas as palavras esdruxulas que tem a ultima e penultima
breves, tem o accento na antepenultima, como em :
Candido, annuncio, mellifluo, &.

Todas as mais não comprehendidas nas condições indicadas,
tem o accento agudo na penultima, com em : Humanidade,
virtude
, &.

Em conclusão : o accento nunca muda da syllaba em que
está, com o incremento da palavra, excepto nos adverbios
formados dos adjectivos com a addição mente, em
que o accento passa sempre para a penultima (men).

Das figuras de dicção.

As figuras principaes de dicção são : Próthese, Epénthese,
Paragoge, Antithese, Tmése
(3)75, Aphérese,
Syncope, Apócope e Synalepha
.

Próthese é a figura pela qual se accrescentão lettras no
principio das palavras, como ; Afora por fora, disserão-no
por disserão-o.

Epénthese é a figura pela qual se accrescentão lettras
no meio das palavras, como : Mavorte por Marte, &.

Paragoge é a figura pela qual se accrescentão lettras
no fim das palavras, como : Calice por calis &.71

Antithese é a figura pela qual se troca uma lettra por
outra, como : Amal-o, fazel-o por amar-o, fazer-o, &.

Aphérese é a figura pela qual se diminuem lettras no
principio das palavras, como : Inda, té por ainda, até, &.

Syncope é a figura pela qual se diminue lettras no
meio, como : Mór, imigo por maior, inimigo, &.

Apócope é a figura pela qual se supprime a vogal final
da palavra, quando se lhe segue outra que principia por vogal,
como : d’o, d’a, d’elle, d’esta, d’aquillo, por de o, de a,
de elle, de esta, de aquillo
, &.

Alêm d’estas figuras há ainda a Ecthlipse, a Diérese, a
Systole e a Diástole, que só são usadas na poesia ; por isso
limitamo-nos a definil-as ligeiramente.

Ecthlipse é a figura pela qual se supprime o m final de
uma palavra juntamente com a sua vogal (4)76 : Diérese é a
figura pela qual se desfaz um diphtongo em duas syllabas
representadas pelas vogaes respectivas ; Systole é a figura
pela qual se faz breve uma syllaba longa ; Diástole é a figura
pela qual se faz longa uma syllaba breve.

Fim de prosodia.72

Quarta parte.
Da ortographia.

A Orthographia divide-se em : Orthographia de palavras
a Orthographia de discurso.

A Orthographia de palavras ensina a escrever as
palavras com as devidas letras o accentos ; a de discurso
ensina a separar, por meio dos signaes adoptados, as palavras
e as orações segundo as idéas e pensamentos que exprimem.

Capitulo I.
Da ortographia de palavras.

§ 1.° — Das lettras.

A Orthographia de palavras ou de dicção é natural ou
etymologica.

Pela natural escrevemos as palavras com as lettras apenas
precisas para exprimirem os seus differentes sons.

Pela etymologica escrevemos as palavras derivadas
conforme a sua etymologia ou origem de uma lingua estrangeira (1)77.

Nenhuma das duas é hoje exclusivamente usada, tendo-se
adoptado uma Orthographia mixta ; pelo que é
impossivel estabelecer regras fixas para todas as palavras
portuguezas.

As regras que se podem dar como invariaveis são as seguintes (2)78 :

1.ª[ Lettra maiuscula]

Começão por lettra maiuscula : a primeira palavra de cada
periodo, de cada linha do verso, de qualquer discurso
que se relate de outrem e a que vier depois de ponto final,
interrogação ou admiração, todos os nomes proprios ; —
73os titulos, as dignidades, os postos militares ; — os nomes de
sciencias, artes e officios.

2.ª[ Palavras escritas com am, aens, oens]

Não se deve confundir com am ou au, aen s e oens os
diphtongos ão, ães e ões (3)79 ; é erro grave pois escrever-se,
por exemplo : Oraçam, amaram, paens, coraçoens por oração,
amarão, pães, corações
, &., cuja pronuncia é por certo
muito differente.

3.ª[ Quando não se dobram consoantes]

Não se dobrão consoantes no principio nem no fim das
palavras ; não se escreve portanto sseta, fforte, mas sim seta,
forte
, &.

4.ª[ Uso de m antes de p e b]

Antes de b, p e m nunca se escreve u, como se vê em :
Ambição, imperio, commissão ; assim tambem o uso do m
antes das outras consoantes só é admittido nas palavras
compostas de bem e circum e algumas poucas mais, como :
Bemdizer, circumscrever, &.

5.ª[ Palavras com c, s e ss]

E’ admittido o’ uso do c (com som de s) nas ultimas syllabas
de muitos nomes e adjectivos como se vê em : Alface,
romance, doce
 ; e nos infinitos dos verbos, como : Conhecer,
torcer
 : escreve-se porêm com ss as palavras Esse, messe,
tosse
e outras, e os imperfeitos do conjunctivo, como : Andasse,
entendesse, admittisse
. Tambem é admittido nas
penultimas dos nomes que acabão em simples vogal, como :
Especie, malicia, &.

6.ª[ Palavras com ç e s]

Usa-se do ç nas ultimas syllabas dos nomes, ou estes
acabem em vogal ou em diphtongo nasal, como : Taça, palhaço,
canção, benção, coração
, &., e na maior parte dos
infinitos dos verbos em ar, como : Dançar, caçar ; os adjectivos
porêm que acabão em ense, como fluminense e outros
derivados, escrevem-se com s.

7.ª[ Uso de ch com som de K]

O uso do ch com som de k só é admissivel em alguns
nomes proprios determinados pelo uso, ou nos que já o
74tiverem de origem (ordinariamente grega), como : Achilles,
Christovão, monarchia
.

8.ª[ Uso de k, ph, y]

K, ph e y só se usão nas palavras de origem grega e
este ultimo tambem nos de origem guarany, como são
quasi todos os nomes de nossos rios (4)80.

9.ª[ Emprego de g e j]

As palavras que acabão em em não se escrevem com j
antes da terminação, mas sim com g, como : Imagem, vertigem,
excepto as vozes de infinito em jar como : Viajem
(5)81, festejem. São mui poucas as palavras que tem je e ji ;
a maior parte, especialmente nas finaes dos nomes e infinitos
dos verbos, fazem ge e gi, como adagio, apogêo, &.,
eleger, proteger, &.

10.ª[ Empresgo de s e z]

Admitte-se o uso do s tendo o som de z nas ultimas
syllabas dos nomes e adjectivos, nas penultimas dos que
acabão em simples vogal como : Casa, preciso ; nas palavras
compostas de des quando se lhe segue vogal ou h mudo ;
em alguns nomes compostos porêm, como resoar, proseguir,
&., o s conserva o som proprio mesmo entre duas
vogaes.

11.ª[Uso de z]

Escrevem-se com z : 1.° as syllabas finaes dos substantivos
derivados que acabão em eza, como : Belleza, lhaneza,
exceptuando-se mesa, defesa, presa e outros que tem
s de origem ; 2.° o final das ultimas syllabas agudas, como :
Matriz, retróz, e os monosyllabos, como : Noz, voz, pez,
luz
(6)82, e finalmente os tempos dos verbos querer, pôr e
seus compostos e os d’aquelles que fazem o infinito em
zer.

12.ª[ Consoantes dobradas]

As unicas consoantes que se encontrão dobradas em palavras
portuguezas são ; b, c, d, f, g, l, m, n, p, r,
s e t
.75

13.ª[ Palavras com prefixos]

Dobrão-se as consoantes nas palavras compostas das preposições
ad, con, dis, em, en, ex, in, inter e sub,
como : An-nexo, ac-clamar, co-locar, dif-ficil, cor-rupto,
dif-fusão, em-magrecer, ef-feito, im-mortal, intel-ligencia
op-primir, sup-posicão
.

14.ª[ Separação de sílabas]

Quando no fim de alguma linha não couber uma palavra
inteira, passar-se-ha o restante para a linha seguinte,
pondo-se no fim da linha antecedente o signal (-), observando-se
as regras seguintes : 1.° não se póde partir uma
syllaba, qualquer que ella seja, diphtongo ou synérese,
como se vê em : Ou-ro, li-vro, quan-to, glo-ria ; 2.° concorrendo
duas consoantes iguaes, ficará uma na mesma linha
e passará a outra para a seguinte, como : Admit-tir ;
3.° nas palavras que tiverem cç, cd, ct, gd, gm, gn, pç,
ps
, e pt. passaráõ ambas estas lettras pura a linha seguinte,
como em : Ane-cdota, corre-cção, corre-cto, amy-gdalas,
au-gmento, di-gno, exce-pção, exce-pto, dyspe-psia
 ;
4.° finalmente, nas palavras compostas de alguma preposição,
como em : Ab-dicar, in-speccionar, con-struir, circum-screver,
pre-star, trans-pôr, de-struir
, & (7)83.

§ II.
Dos accentos e signaes.

Os accentos são tres : Agudo (ˊ), grave (ˋ) e circumflexo (ˆ).

O agudo serve para indicar a vogal predominante em
uma palavra, como em : Valido ; collocado sobre as vogaes
a, e, o, faz que as pronunciemos com um som aberto, como
em : válido, pégada, escárva.

O grave já se não usa, porque é principio inconcusso
que a syllba grave vem impreterivelmente depois da
76aguda e por tanto desnecessario é indical-a por meio do
signal.

O circumflexo, composto de ambos, indica que a vogal
por elle acentuada, é a predominante, e tem um som
mais prolongado e ao mesmo tempo fechado, porque inclue
tambem em si o accento grave depois do agudo, como
em : ôco, lycêo.

Os signaes são :

Til (~) | Diérese (¨)
Apóstrophe (’) | Divisão (-)

O til dá um som nasal á vogal por elle accentuada,
como em : Acção, corações, &.

A diérese indica que a vogal por ella marcada não faz
diphtongo com a que lhe está immediata, como em : Doïdo,
caïo
, & (8)84.

O apostrophe toma o lugar da vogal que se supprime
no fim de uma palavra, indicando que esta deve ser pronunciada
com a que segue, como em d’este, d’aquelle, &.

A divisão colloca-se no fim da linha para indicar que
o resto da ultima palavra da mesma passa para a linha seguinte.

Capitulo II.
Da ortographia de discurso.

Só a intelligencia, o gosto, a illustração e finalmente a
intenção de quem escreve é que podem bem ensinar-lhe a
pontuação que deve usar, segundo o sentido, a energia,
a graça que quer dar a suas palavras e phrases ; por isso
limitar-nos-hemos a, apresentando os signaes usados,
dar algumas regras mais geraes sobre o emprego de cada
um d’elles (*)85.77

Os signaes que constituem o que propriamente se chama
pontuação são os seguintes :

Virgula , | Ponto do interrogação ?
Ponto e virgula ; | Ponto de admiração !
Dous pontos : | Reticencia …
Ponto final .

Alêm d’estes temos ainda outros signaes secundarios
que são :

Parenthese ( ) | Risca de união –
Virgula dobrada « » | Asterisco *

A Virgula é o signal mais fraco da pontuação, indicando
por tanto na leitura a pausa menor.

Todos os sujeitos, attributos e verbos da oração composta,
todas as partes da oração continuadas que não se
modificão, nem concordão, nem se regem, querem virgula
depois de si.

Toda oração mettida entre outras que não a modificão
nem são por ella modificadas, deve estar entre virgulas, e
bem assim toda a addição que não faz parte de sua constituição
grammatical, como os vocativos.

Põe-se a virgula tambem a todas as palavras e orações
transpostas de sua ordem natural e ás palavras ambiguas
de dous sentidos, referiveis a dous objectos differentes (9)86.

Antes das conjuncções e, nem, ou, como, que e outras
semelhantes só se põe virgula quando as palavras e phrases
que ellas atão, excedem a medida commum de uma
pausa ordinaria pelas orações incidentes e complementos
que as modificão.

O Ponto e virgula indica uma pausa maior que a da
virgula.

Em qualquer ponto ou periodo, onde houver duas orações
totaes, dependentes uma da outra e compostas de varias
orações parciaes, entre uma e outra se porá ponto e
virgula, se ambas não necessitarem de outra pontuação
78senão de virgulas, para subdividirem as suas orações parciaes.

Os Dous pontos indicão uma pausa maior que a do
ponto e virgula.

Assim como, quando em um ponto ou periodo ha uma
unica divisão de oração simples, esta se nota com virgula ;
mas, quando se passa a uma segunda divisão membros
compostos de varias orações, esta já se deve marcar com
ponto e virgula : assim tambem, quando succede haver
uma terceira divisão das duas partes principaes do periodo,
chamadas antecedente e consequente, que comprehendem
em si varios membros, esta não póde ser marcada senão
com dous pontos, para se ver que ella é a divisão principal
do sentido total, a que todas as mais ficão subordinadas (10)87.

O Ponto final põe-se no fim do periodo ou da oração
que forma um sentido completo e independente (11)88.

O Ponto de interrogação põe-se no fim da palavra
ou oração que exprime qualquer pergunta. Ex. Quando
chegaste ? Hontem ?

O Ponto de admiração ou exclamação põe-se no
fim da oração ou palavra que exprime qualquer affecto,
qualquer transporte da alma. Ex. Que prazeres ineffaveis
os que nos dá a virtude ! — Que bello tempo ! — Meu
Deus ! Que fizeste !

A Reticencia indica que o sentido não fica completo
onde o suspendemos, restando-nos ainda a dizer alguma
cousa que calamos por conveniencia ou por necessidade.
Ex. Se eu quizesse, poderia confundir-te, poderia
mesmo… provar que… mas… prefiro calar-me
.

O Parenthese encerra uma ou mais orações que interrompem
outra, servindo para intelligencia da mesma,
sem que entretanto lhe prejudiquem o sentido se fôrem
excluidas. Ex. A passagem da ponte de Itororó, no Paraguay,
pelo exercito brasileiro foi (segundo o affirmão testemunhas
79autorisadas) o feito d’armas mais importante,
mais brilhante que se tem realisado sob o céo americano
(12)89.

A Risca de união liga duas palavras que se devem
pronunciar juntas, ou os dous termos de uma palavra interrompida
por outra. Ex. Louvão-nos na esperança de que
tambem louval-os-hemos
(13)90.

A Virgula dobrada emprega-se antes da 1.ª e depois
da ultima palavra de uma oração ou discurso que se transcreve
litteralmente. Ex. O Evangelho nos traça em muito
poucas palavras todo o nosso procedimento para com os
nossos semelhantes, dizendo-nos : « Não faças aos outros o
que não queres que elles te fação »
.

O Asterisco indica as notas que em outro lugar existem
relativas, ao que está escripto ; o que se faz tambem
por meio dos algarismos e das lettras (14)91.

Fim da orthographia e do compendio.80

1(1) Ao Attributo dão muitos Grammaticos o nome de « Predicado
concordado », chamando « Predicado regido » ou « Paciente » ao complemento
objectivo, o qual é — o primeiro objecto sobre que se
exercita a acção do verbo activo.

Quando em uma oração o Attributo não apparece distinctamente
representado por algum adjectivo ou outra qualquer palavra ou
mesmo oração, está, como no exemplo acima, incluido no verbo,
por isso que qualquer que este seja não é mais do que a expressão
abreviada ou complexa do verbo « Ser » com um attributo, como
se vê em : « Amar, viver, existir, ouvir, etc. » que significão
« Ser amante, ser vivente, existente, ouvinte, etc. » e assim todos
os mais. Neste caso não appreciamos na prática o attributo separado
do verbo, tomando-os sempre em sua forma complexa ;
assim, tratando de analysar o exemplo citado, diremos simplesmente :
« Eu » é o sujeito ; « amo » é o verbo ; « a Deos » é o complemento
objectivo e « com fervor » complemento circumstancial exprimindo
uma relação de modo.

2(2) Póde-se também definir o Adverbio : « A expressão abreviada
de uma preposição com seu complemento. » « Bellamente, ternamente »
significão « com belleza, com ternura ; e assim todos os mais
adv.

3(3) O nome, como o adjectivo, que se deriva de verbo, chama-se
« verbal. »

4(4) Dizemos — « sexo real ou facticio », — porque os inanimados
não tem sexo ; apenas por uniformidade o uso das Linguas arbitrariamente
tem feito uns masculinos, outros femininos.

5(5) V. o « Collectivo ».

6(6) Quando os nomes proprios apparecem com signal de plural
ou é porque antes de proprios forão communs, ou porque estão empregados
como communs. Os outros que dissemos tambem terem
só singular, só são tomados no plural em sentido figurado e não
genuino.

7(7) Duvidão alguns d’este artigo (indefinito), confundindo-o com
o adjectivo numeral « Um » ou com o pronome indefinito « Um »,
mas não têm razão. Não pode este artigo ser confundido com o
adjectivo « Um », pois, alêm da incontestavel differença de suas significações,
este adjectivo não tem plural, e o artigo tem ; nem com
o pronome, pois o artigo está sempre junto ao nome, e o pronome,
nunca.

8(8) O artigo nunca determina o nome proprio, pois que este tem
por sua natureza determinada a extensão de sua significação ; quando
pois o artigo precede um nome proprio — ou este é tomado em
sentido commum para poder ser determinado pelo artigo, ou então
o artigo determina a um nome commum, que facilmente se
subentende.

O artigo substantiva qualquer palavra e mesmo uma oração para
servir de sujeito ou predicado de outra.

9(9) O adjectivo concorda sempre com um nome commum e nunca
com um proprio, por que este não pode soffrer modificação alguma ;
quando portanto o adjectivo apparece junto ao nome proprio,
subentende-se sempre um nome commum da especie ou genero d’este
para com elle concordar o adjectivo.

10(10) Um mesmo adjectivo pode ser « explicativo » ou « restrictivo » ;
« restrictivo » ou « determinativo » segundo o lugar que occupa na
oração e o individuo sobre quem recahe. Ex. « O justo Deos ama os
homens justos » ; neste caso « justo » é explicativo e « justos » é restrictivo.
« Todo homem é mortal, mas o homem todo não é mortal » ;
neste caso o adjectivo « todo », é determinativo no principio da phrase
e restrictivo depois : « todo homem » quer dizer todo individuo da especie
humana, e o « homem todo » quer dizer o « homem completo »
em todas as suas partes. — O « determinativo » vem sempre antes
do nome, o « restrictivo » depois, o « explicativo » antes ou depois.

11(11) Estes adjectivos todos são invariaveis, excepto « dous » e os
compostos de « centos », que fazem no feminino : o 1.° — « duas », mudando
os outros a terminação « tos » em « tas », como de « duzentos —
duzentas & ».

12(12) « Mais », como substantivo, só tem singular e masculino ; como
adj. tem ambos os generos e numeros ; como pron. tem só plural
em ambos os generos.

13(13) Os outros pronomes figurão sómente na 3.ª pessoa.

14(14) Esta variação é muitas vezes empregada em sentido neutro,
e então é invariavel.

15(15) Ao verbo « Ser » dá-se o nome de « Substantivo », não só por
significar a existencia simplesmente, como por ser a substancia de
todos os outros verbos, que se chamão « adjectivos », porque a par
da significação de existencia expressa por aquelle, seo, elemento essencial,
trazem já comsigo o attributo particular.

16(16) Usa-se muitas vezes do verbo transitivo como intransitivo
e vice-versâ. Ex. : « Eu estudo muito. — Tu vives uma vida muito
triste ».

17(17) Ha-muitos que só tem esta voz conjugando-se sempre com
dous pronomes da mesma pessoa, e por isso chamados « pronominaes »
ou « reflectivos », taes são : « Abster-se, arrepender-se, atrever-se,
compadecer-se, gloriar-se, jactar-se, queixar-se, & ».

18(18) A irregularidade pode dar-se ou só na radical, como em
« Faç-o », ou só na terminação, como em « D-ou », ou em ambas, como
em « Dic-e » ou « Diss-e ».

Chama-se « terminação » a ultima syllaba da fórma primitiva dos
verbos « ar, er, ir e ôr » e as que lhes correspondem em todas as modificações.

Chama-se « radical » toda a parte que precede á terminação seja
de uma, seja de mais lettras ; o que se vê claramente em : « Am-ar,
Entend-er, Applaud-ir, P-ôr » e exemplos acima.

Ha entre os verbos irreg. alguns que carecem de alguns tempos
ou pessoas, e por isso se chamão « defectivos » ; entre os quaes se
notão os « unipessoaes », isto é, que só tem as terceiras pessoas do
singular.

19(12) [(19)]Usa-se tambem d’este modo pelo subjunctivo para pedir,
exhortar, &., e vice-versâ.

20(13) [(20)]A designação de numero e pessoa neste modo é um idiotismo
da Lingua portugueza.

21(21) Ha outros verbos que tambem se empregão como auxiliares ;
taes são : « Estar, andar, ir, vir, ficar, acertar, dever. » Os 2 primeiros
só se juntão aos participios imperfeitos, como : « Estou cantando,
ando passeando, & ; Ir, vir e ficar » juntão-se tambem ao pres. imp. do
infinito, estes unidos pela preposição « de » e aquelle sem prep, como :
« Vou escrever, venho de receber, fiquei de esperar ; vou vivendo,
venho vindo, brincando, fiquei lendo, & ; » os 2 ultimos « acertar
e dever, » só se juntão ao Pres. imp. do Inf. com a preposição « de »,
como : « Acertei de vir, devo de ir », omittindo-se algumas vezes a
prep. com este. — « Haver, » quando não auxilia, ou é activo, ou
intransitivo ; no ultimo caso significa uma existencia absoluta e é
unipessoal, isto é, só se conjuga na 3.ª p. do Sing.

O sujeito d’este verbo então é quasi sempre um substantivo occulto ;
de ordinário : « numero, quantidade, especie, classe, espaço,
periodo, &.

22(22) Não concordamos com a classificação dos Tempos feita por
alguns autores, entre os quaes o Sr. Coruja ; para que porêm o leitor
possa comparar e escolher a seu gosto, damos ao lado da nossa
classificação a do Sr. Coruja, nos tempos em que differimos.

23(23) Pois « Eu fui » pode nunca significar o mesmo que « Tenho-sido » ?
Não por certo. « Fui » designa uma épocha completamente
passada, e « Tenho sido » uma épocha que esta passando ; dizemos :
« Fui o anno passado, o mez passado, a semana passada, hontem, &.
feliz ; Tenho sido este anno (corrente), mez ou semana, hoje, &.
feliz, &, & ».

24(24) Ha nada neste mundo mais do que perfeito ? » Pois alêm da
perfeição ha ainda alguma cousa ?

25(25) Este tempo e o do condicional, quando dubitativos, podem
referir-se ao passado e ao presente. Ex. : « Quem lhe diria que eu
aqui estive ou estou ? Quem será aqraelle sujeito que hontem encontrãmos
em Belêm ? »

26(26) E’ principio inconcusso e materialmente provado, que ha só
3 tempos que se subdividem em varios periodos ; são : « Presente,
Passado e Futuro ». Que é pois o tempo « condicional ? » Será algum
periodo d’aquelles, ou cum « 4.ª tempo ?! Desejavamos que alguem
nol-o explicasse.

27(27) Este tempo é « presente » na intenção e « futuro » na execução.

28(28) Emprega-se muitas vezes este tempo pelo do Imperativo e vice-versâ ;
usa-se muito particularmente da 1.ª p. do pl. d’este tempo
uo Imp. ; como : « Sejamos prudente ; Vamos nos embóra, &.»

29(29) V. as notas correlativas nos outros tempos do Indic.

30(30) Neste tempo incluem tambem muitos as vozes em « ra », como
« Tivera, fôra & ; tivera » sido, tido &, que pertencem propriamente
ao Indicat. e não a este Modo, visto que não podem ser determinadas
por verbos que exprimem « duvida, modo, receio, desejo »
ou « vontade », por quanto não se póde dizer : « Duvidei, receei, quiz,
&, que foreis ou tivereis sido » ; mas se diz : « que fosseis ou tivesseis
sido » &.

31(*) Estes participos compostos tem no Comp. do Sr. Coruja o nome
de « Circumloquios ».

32(31) O verbo Pôr, quando Poer, era irregular da 2.ª conj. ; hoje porêm
que Poer está completamente abolido e em seu lugar só ha Pôr,
que tem uma conjugação especial, toda sua, que não é a 1.ª, 2.ª
nem 3.ª, entendemos mais uniforme e razoavel classificar como 4.ª
a sua conjugação, que indubitavelmente existe só para elle e seus
compostos.

33(*) O emprego do pronome « Se » como sujeito é gallicismo, para o
qual não ha em portuguez legitima versão grammatical.

34(32) Na conjugação dos verbos irregulares damos sómente os
tempos e pessoas irregulares ; no que não vai notado entende-se que
seguem a conjugação regular.

35(*) Ou Trouce, e assim por diante.

36(*) Ou Dice, e assim por diante.

37(*) O verbo « Requerer » conjuga-se por « Querer », com a differença
de ter Imperativo « Requer, Requerei », e fazer na primeira pessoa
do singular do Presente imperfeito do Indicativo « Requeiro ». « Precaver
é defectivo.»

38(33) E os mais compostos do latino « Pellere », que são, « Impellir,
Expellir », e « Repellir ».

39(*) Quando significa «convir, ser util.»

40(34) Ha muitos verbos que tem dous participios perfeitos, um regular,
outro irregular, como: « aceitado » e « aceito », « captivado » e
« captivo », « annexado » etc., que a pratica fara conhecer.
Ha outros em que o mesmo participio perfeito é activo quando se
trata de entes animados e passivo quando so trata de inanimados,
como : « calado, agradecido », etc.

41(35) Algumas das ditas preposições se ajuntão a outras palavras
para formarem palavras compostas com significação differente das
primitivas, como : « antepôr », « contradizer », etc.

Conservamos tambem algumas preposições e particulas latinas.
que só servem para compôr outras palavras, taes são, quanto ás
primeiras : « Ab, abs, ad, extrà, in, infrà, inter, circum, ob, per,
pre (prœ), pro, sub, super, trans, etc. » ; quanto ás segundas ; « con,
des, dis, re, sus, etc. » ; como em « Admittir », « transpôr », etc.

42(36) Muitos adverbios de qualidade formão-se do adjectivo na terminação
feminina, accrescentando « mente » como : « Lindamente, fielmente,
etc. » Tambem em lugar d’estes adverbios se usa simplesmente
do adjectivo no mascul. sing. como : « Fallar alto, etc. ». Muitos
adverbios são tambem empregados como conjuncções. Acontece
com estes adverbios o mesmo que com seus adj. respect. quanto a
serem explicativos ou restrictivos.

43(37) Alguns autores reputão « Eis » como adv., corrupção do « Ecce »
latino ; outros querem que seja a 2.ª p. do p. do Pres. do Ind. do
verbo « Haver »’« Eis, » isto é, « Heis ou Haveis » pela fig. Aphérese :
qualquer d’estas opinões é aceitavel, achamos porêm de mais conveniencia
a 2.ª

44(*) Definições segundo Monteverde.

45(38) Uma mesma conjuncção pode indicar diversas relações, é então
só o sentido do discurso designará a especie a que pertença. Ha
tambem varias conjuncções que muitas vezes são adverbios e vice-versâ,
como já dissemos.

46(39) Entre as conjuncções que acabamos de expôr, consignámos
já as « locuções mais usuaes.»

47(40) Qualquer palavra, á excepção do art. e do pronome, pode ser
empregada como interjeição, conforme se acaba de ver.

48(41) Affectando a Syntaxe não só as palavras, como as orações,
começamos, para melhor comprehensão da concord., da reg. e da
ordem, pela divisão das orações.

49(42) As princip. e subord. chamão-se « totaes », ao contrario das
outras que se chamão « Parciaes » por fazerem sempre parte de outras.

50(43) O signal caracteristico da « Principal » é sempre determinar e
nunca ser determinada.

51(44) O adv. « Onde » indica sempre uma relação immediata de lugar
e significa « em que, no qual lugar, etc. »

52(45) Esta oração vem sempre entre virgulas e sua ausencia em nada
prejudica ao sentido da outra oração ; tudo ao contrario da « restrictiva. »

53(46) As orações dos modos indicativo, condicional e imperativo são
principaes, menos quando se fazem subordinadas por alguma conjuncção
que não seja « e », « ou » e « nem ».

As do subjunctivo são quasi sempre subordinadas, algumas vezes
integrantes e outras incidentes, nunca porêm principaes.

As do infinito são sempre integrantes e, quando não servem de
sujeito ou predicado (concordado ou regido), são regidas de preposição.

— Os participios, quando empregados separadamente, fazem orações
subordinadas á que os precede ou segue immediatamente ; e incidentes,
se elles tem o mesmo sujeito que a oração immediata e
exprimem o modo da acção do verbo principal. No 1.° caso resolvem-se
passando o participio para algum tempo de modo finito correspondente
ao da outra oração, precedido de alguma conjuncção
ou locução conjunctiva, como : « quando », « como », « logo que, etc. »
Ex. « Explicando o mestre a lição, etc. » se resolve em : « Quando o
mestre explicava », ou « como explicasse, etc. » « Concluida a oração,
começão os trabalhos », que se resolve em : « Logo que a oração
seja concluida, etc. »

— Todos os adjectivos appostos e todos os complementos com
ou sem preposição, que se ajuntão ao sujeito ou predicado de uma
oração para os modificar, equivalem a orações incidentes e podem
pois por ellas resolver-se.

54(47) Vide a nota 9.

55(48) O sujeito grammat. é representado por um nome, pronome,
e mesmo outra palavra ou oração substantivada ; o attributo grammat.
por um adjectivo, ou mesmo outra qualquer palavra ou oração
que valha por aquelle : o suj. e attrib. logicos são os grammaticaes
com seus complementos.

56(49) Entedemos que a Syntaxe affecta tambem as orações e por
isso parece-nos razoavel tratar aqui da concordancia d’estas.

57(50) « Cujo, cuja, cujos, cujas » significão sempre « do qual, da qual »
« dos quaes, das quaes ; » empregal-os em outra significação é erro
erasso.

58(51) As do modo pessoal tem sujeito differente e por isso é claro
que não é o mesmo empregar-se indistinctamente um ou outro modo.

59(*) Ou predicado regido.

60(52) A razão de uns complementos objectivos levarem preposição
e outros não, procede de que muitos verbos transitivos tem ao mesmo
tempo significação activa e relativa e pedem por tanto um complemento
objectivo e outro terminativo; e como aquelle é ordinariamente
de cousas e este de pessoa as mais das vezes, deixa a preposição
de acompanhar aquelle para acompanhar este.

61(53) As variações « me, te, nos, vos, se » dos pron. pess. juntas a
verbos meramente activos. são sempre complementos objectivos dos
mesmos; juntas a verbos sómente relativos, sao sempra compl. termin.
As variações « lhe e lhes » são sempre compl. term.

62(54) A preposição «de» é «restrictiva» quando se ajunta a nomes
de classes ou appellativos; é « terminativa » quando está depois de
nome, adjectivo, verbo ou adverbio de significação relativa ; é «circumstancial »
quando o seu antecedente tem significação absoluta.

63(55) Ao sujeito chamão alguns Grammaticos « complemento subjectivo »
para terem então seis complementos e guardarem assim a
correspondencia e analogia com os seis casos latinos ; « Nominativo,
Genitivo, Dativo, Accusativo, Vocativo e Ablativo. »

64(56) No 1.° ex. d’esta figura, « generosos » concorda com « individuos » ;
no 2.° ex. o verbo não concorda com « grande numero », mas com
uma expressão equivalente, como « muitos soldados brasileiros
etc. », ou « numerosos soldados », ou soldados em grande numero
etc. ; no 3.° o verbo concorda com « espaço » (um espaço de cem annos) ;
no 4.° com « nós » ; no 5.° com « vós ». Esta. fig. é elegante e
muito usual.

65(57) A Ellipse dá rapidez, elegancia e energia ao discurso, de
quem se pode chamar a alma, pois sem ella seria frouxo, monótono
e enfadonho. Ella é tão util, tão necessaria, que é commum a todas
as linguas.

Chamão a esta fig. — Zeugma — quando as palavras, que faltão
supprem-se com as da oração próxima, como acontece no 1.° ex. respectivo,
em que se entende o verbo « ha » para a 2.° oração. No 2.°
ex. suppre-se de fóra o sujeito e o verbo da oração incidente, dizendo-se
« que é » o principal rio etc.

66(58) A Anastrophe, a Syllepse e a Ellipse são as figuras mais
commummente usadas, mais necessarias, mais elegantes. A Anastrophe
é necessaria para approximar mais as idéas relativas ; para
evitar as amphibologias ; para dar força aos contrastes ; para ajuntar
em um pensamento total muitos parciaes, e finalmente para
certas fórmas de expressão que não admittem a ordem natural. E’
util especialmente para apresentar logo á vista uma idéa mais importante
o sobre que queremos particularmente attrahir a attenção
do leitor ou ouvinte.

67(59) Quando esta fig. não altera a ordem da oração, é simples fig.
de dicção, como em : Amar vos-hemos » por « Vos amaremos » &.

68(60) Esta fig., só toleravel no verso pela necessidade do metro ou
da rima, é inadmissivel na prosa. E’ o abuso do Hyperbato.

69(61) Não affectando o Pleonasmo a concordancia, a regencia, nem
a ordem, em nada por tanto alterando a syntaxe, não sei como e por
que possa elle ser classificado figura de syntaxe, não posso pois admittil-o
como tal : defino-o entretanto, como outros o definem, para
conhecimento dos alumnos.

70(a) Gonçalves Dias — « Minha terra tem palmeiras, etc. (Canção). »

71(b) Magalhães. — « Confederação dos Tamoyos. »

72(c) Camões, no soneto : — « Alma minha gentil que te partiste, etc.»

73(1) Exceptuão-se as « encliticas » isto é, as que não tem accento
proprio e são subordinadas ao accento da palavra a que se ligão ;
taes são as variações « me, nos, te, vos, se; o, a, os, as, lhe, lhes »,
dos pronomes pessoaes.

74(2) Esta syllaba, quando traz signal, ou é o agudo ou o circumflexo
que não é mais que o mesmo agudo combinado com o grave,
porque a voz sobe e desce ao mesmo tempo na syllaba por elle modificada.

75(3) A Tmése, quando altera a ordem da oração, é figura de Syntaxe.
Vide na parte 2.ª — Synt. Fig., a definição e nota.

76(4) Esta figura é a mais commummente usada, empregando-se
mesmo muitas vezes na prosa.

77(1) Pela maior parte a latina.

78(2) São com rarissimas alterações as do compendio do Sr. Coruja.

79(3) E’ erro por muita gente commetido.

80(4) Referimo-nos aos rios do Brasil.

81(5) O substantivo escreve-se com g : « viagem ».

82(6) Excepto os pronomes pessoaes.

83(7) Ha certas lettras dobradas, como outras que parecem mudas as
quaes não se podem supprimir por inuteis, como alguns pensão, pois
mudarião completamente o significado da palavra, como se vê em
« penna » (de escrever) e « pena » (castigo, magoa etc.) « pato » (ave) « pacto »
(ajuste) etc.

84(8) E’ hoje commummente substituido pelo acento agudo.

85(*) Estas regras são um extracto, quasi uma cópia, das de J. S.
Barbosa em sua G. Phyl.

86(9) Servem de exemplo as mesmas regras.

87(10) Esta regra é não só um bello exemplo da applicação dos Dous
pontos, como da Virgula, Ponto e virgula, e Ponto final.

88(11) Ha um preceito relativo aos quatro primeiros signaes e é : « Não
usar do mais forteantes do mais fraco.»

89(12) Este signal pode-se substituir pela virgula.

90(13) Este signal é a mesma Divisão da Orth. de palavras. Usa-se
d’este signal, porêm um pouco mais logo (–), antes da palavra ou
oração sobre q’ queremos chamar especialmente a attenção do leitor.

91(14) Como de tudo se vê exemplos neste Compendio.