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Reis, Francisco Sotero dos. Grammatica portugueza – T01

[Grammatica portugueza]

Etymologia.

Nome substantivo

I. [Nome substantivo : definição]

Nome substantivo é o que designa a substancia
que se nomeia, pessoa ou cousa, como Deus, natureza :
é o sujeito por excellencia. Diz-se que subsiste
por si só, porque não suppõe a existencia de outra
palavra para figurar no discurso.

Divide-se o nome substantivo em proprio ou
particular, e appellativo ou commum.

Nome proprio ou particular é o que designa a
pessôa, ou a cousa individualmente, como Colombo,
America
. Diz-se que pertence a uma só pessoa ou
cousa, porque exprime uma ideia individual : assim
Colombo é um homem certo e determinado ; America,
uma grande divisão da terra, ou um continente
certo e determinado.

Nome appellativo ou commum é o que designa a
pessôa, ou a cousa genericamente, como homem, arvore
1Diz-se que compete a muitas pessôas ou cousas,
porque exprime uma idea geral, ou de classe :
assim homem é qualquer homem ; arvore, qualquer
arvore.

II. [Nome substantivo : classificação]

O nome substantivo divide-se tambem em masculino
e feminino.

Nome masculino é o que designa individuo do
reino animal de sexo masculino, racional ou irracional,
como Antonio, leão ; nome feminino, o que
designa individuo de sexo feminino, como Amelia,
pomba
.

O substantivo varia na terminação, segundo significa
macho ou femea, como se vê nestes exemplos :
Antonio m., Antonia f. ; leão m., leôa f.

Esta propriedade, que tem o substantivo de designar
o individuo com a sua differença especifica,
chama-se genero do nome.

Quando o substantivo significa cousa inanimada
acommoda-se pela terminação ao genero masculino
ou feminino : assim ceo, livro, são do genero
masculino, porque teem terminação semelhante aos
nomes de animaes machos ; terra, agua do genero
feminino, porque a teem semelhante aos nomes de
animaes femeas.2

N. B. Ha com tudo alguns nomes de animaes,
como, aguia, cobra, que não teem terminação generica
em caso tal diz-se, para exprimir o genero,
a aguia macho, a aguia femea, ou o macho da cobra,
a femea da cobra.

III. [Nome appellativo]

O nome appellativo ou commum tem singular e
plural, ou subdivide-se em nome do singular e nome
do plural.

É nome do singular quando significa uma só
pessôa ou cousa, como mãe, livro ; nome do plural,
quando significa muitas pessôas ou cousas, como
mães, livros.

O appellativo varia no plural que se fórma do
singular, acrescentando-se-lhe um — s, quando o
singular termina por vogal, como de livro, livros ;
ou um — es, quando termina por consoante, como
de amor, amores ; ou um — eis, convertendo-se a
consoante em vogal, quando é — l, como de capitel,
capiteis
 ; ou com leve alteração um — ns, quando a
consoante por que termina é, m, como de ordem,
ordens
 ; ou um simples — s, quando a consoante é,
n, como de regimen, regimens, ou mudando o n
em, s, regimes.3

Esta propriedade, que tem o appellativo de designar
um só individuo ou cousa, e muitos individuos
ou cousas, chama-se numero do nome.

O appellativo tambem involve no singular a idea
de plural, quando significa reunião de individuos, e
collecção de cousas, como povo, livraria, e chama-se
então appellativo collectivo. Mas ao mesmo nome
collectivo se dá igualmente plural numerico, como á
povo, póvos : á livraria, livrarias ; isto, porque a
collecção pode ser uma, como povo romano, ou
muitas, como diversos póvos.

O appellativo collectivo divide-se em geral e partitivo.

Collectivo geral é o que exprime a idea geral
de um todo completo, como exercito, assembléa.

Collectivo partitivo é o que exprime a idea de
parte de um todo completo, como trosso de exercito,
maioria ou minoria de assembléa.

N. B. O nome proprio só tem singular, porque
exprime uma idea individual : assim quando se diz
os Camões, os Vieiras, estes nomes ficão como appellativados
pelo artigo, pois dizer, os Camões, é o
mesmo que dizer os poetas como Camões ; os Vieiras,
os oradores como Vieira.4

IV. [Gráos do nome]

O nome substantivo admitte dois gráos de significação,
que modificão a sua significação positiva,
um augmentativo, outro diminutivo.

Gráo augmentativo é o que exagera a significação
positiva do nome, formando por exemplo de
homem, homenzarrão ; de sala, salão.

Gráo diminutivo é o que attenúa a significação
positiva do nome, formando por exemplo de homem,
homenzinho, homúnculo, homemzito
 ; de sala, salinha,
saleta, salita
.

O nome proprio admitte os mesmos gráos de
significação, que o appellativo, pois de Gonçalo se
fórma Gonçalão, de Anna, Anninha ou Anninhas,
Anicota, Anniquinha, Anniquita
. Ha porem ésta
differença, que nelle é frequentissimo o gráo diminutivo,
que se emprega a cada passo, com especialidade
nos nomes de individuos da especie humana,
e rarissimo o augmentativo, que poucas vezes se usa.

N. B. O professor augmentará o numero de
exemplos aqui produzidos, quando fôr conveniente
para bem gravar na mente do escolar as diversas
propriedades do nome substantivo, porque só me
limito a noções grammaticaes deduzidas dos principios
geraes de grammatica.5

Pronome pessoal.

I. [Pronome pessoal : definição e variação]

Pronome pessoal é, como o está dizendo a fôrça
dos termos, o que se põe em logar do nome,
ou do sujeito, indicando ao mesmo tempo a pessôa
grammatical deste, ou o papel que elle representa
no discurso.

As pessôas grammaticaes comprehendem não
só os individuos de nossa especie, que são as pessôas
por excellencia, mas ainda, por extensão, os irracionaes,
e as mesmas cousas inanimadas

São taes pessôas unicamente tres : a primeira, ou
aquella que falla ; a segunda, ou aquella a quem se
falla ; a terceira, ou aquella de quem se falla.

Tres são tambem os pronomes que as indicão, eu,
tu, elle
, ou ella, os quaes estão, alem disso, representando
sempre alguem ou alguma cousa.

Ha ainda um quarto pronome, se, que é como reflexo
dos tres primeiros, porque, quando entra no
discurso, refere-se sempre a esse alguem, ou a essa
alguma cousa
, que elles representão. D’ahi lhe vem
o nome de reflexivo, por que é mais geralmente conhecido.

Exemplo da primeira pessôa grammatical : « Eu
6escrevo fabulas » ; isto é, « eu, João La Fontaine, escrevo
fabulas. »

Exemplo da segunda : « Tu me turvas a agua » ; isto
é, « tu, ó cordeiro, me turvas a agua. »

Exemplo da terceira : « A virtude é adoravel : ella
brilha em qualquer estado da vida » ; isto é, « ella a
virtude, brilha em qualquer estado da vida. »

II.[ Pronome pessoal : genero e declinação]

O pronome pessoal é sempre do genero do sujeito
que representa : por isso ora toma o masculino, ora
o feminino, sem variar de terminação na primeira e
na segunda pessôa : varia, porem, na terceira.

Exemplos do primeiro e segundo caso : eu Antonio,
eu Joanna ; Tu Francisco, tu Josefa.

Exemplo do terceiro caso : Elle José ; Ella Maria.

Tem este pronome numero singular e plural como
o nome e alem disso casos com que exprime as suas
relações de dependencia com as outras palavras, e
declina-se pela seguinte maneira.

Primeira pessôa.

N. S. Eu, me, mim, migo.
N. P. Nós, nos, nôsco.7

Segunda pessôa.

N. S. Tu, te, ti, tigo.
N. P. Vos, vos, vôsco.

Terceira pessôa.

N. S. Elle, ella, lhe.
N. P. Elles, ellas, lhes.

O reflexivo, se, serve para ambos os numeros :

N. S. e P. Se, si, sigo.

Esta differente terminação do pronome pessoal
em cada numero é o que se chama, caso. Divide-se
este em recto e obliquo. Nos pronomes da 1a, 2a e
3a pessôa o caso recto é o primeiro de cada numero,
e representa o sujeito : todos os mais são obliquos, e
servem de complementos.

O reflexivo se, não tem caso recto, por isso não
representa o sujeito, e só a elle se refere.

Nome adjectivo.

I. [nome adjectivo]

Nome adjectivo é, como sôa a palavra, um nome
8que se ajunta ao substantivo, ou para qualificar, ou
para determinar a pessoa ou cousa por elle designada :
é uma especie de accessorio do substantivo,
com o qual concorda em genero e numero, e sem o
qual não figura no discurso, porque não tem objecto.

A concordancia do adjectivo com o substantivo
verifica-se, variando o adjectivo ordinariamente na
terminação accommodada ao genero e numero do
substantivo, como se vê nestes exemplos : homem robusto,
mulher robusta ; homens robustos, mulheres
robustas ; este homem, esta mulher, estes homens,
estas mulheres
. Quando porem o adjectivo tem uma
só terminação para o masculino e feminino, varia
unicamente no numero, como se vê n’est’outro
exemplo : homem célebre, mulher célebre, homens
célebres, mulheres célebres

O plural do adjectivo forma-se da mesma maneira,
que o do substantivo, acrescentando-se um
s, quando o singular termina por vogal, e um —
es, quando o singular termina por consoante. Quando,
porem, o adjectivo termina em — el, no singular,
muda o — l em — is ; quando termina em — il,
breve, muda essa terminação em — eis ; quando termina
em — il longo, muda apenas o —l em — s ; e
quando termina em — um, o que é rarissimo no substantivo,
só admitte um — s no plural, como se vê
9em commum, communs, convertendo o m em n.

O adjectivo qualifica quando exprime alguma
qualidade da pessoa ou cousa designada pelo substantivo,
como se vê nestes exemplos : homem prudente,
rocha dura
 : aqui o adjectivo, prudente, exprime
uma qualidade accidental ao homem, que pode
ser ou deixar de ser prudente : o adjectivo, dura, exprime
uma qualidade inherente á rocha, que por sua
natureza é dura.

O adjectivo determina quando indica de uma maneira
positiva a pessôa ou cousa designada pelo substantivo,
como se observa nos seguintes exemplos.
este homem, aquella casa : aqui o adjectivo, este, determina
a posição de um certo homem em relação a
quem falla, ou a outros homens : o adjectivo, aquella,
determina igualmente a de uma certa casa em
relação a quem aponta, ou a outras casas.

D’ahi a divisão do adjectivo em qualificativo e determinativo.
Assim :

II. [Adjectivo qualificativo : classificação e flexão]

Adjectivo qualificativo é o que exprime a qualidade
do objecto significado pelo substantivo a que
se junta : é o attributo por excellencia. D’ahi lhe vem
tambem o nome de attributivo.10

Divide-se o adjectivo qualificativo em explicativo
e restrictivo : é explicativo, quando a qualidade que
exprime, é inherente ao objecto, como , homem mortal ;
restrictivo,
quando a qualidade que exprime, é
somente accidental ao objecto, como homem prudente.

Conhece-se si a qualidade expressa pelo adjectivo
é inherente, ou meramente accidental ao objecto,
supprimindo-se o adjectivo ; porque no primeiro caso
não ha offensa de sentido, no segundo ha.

Exemplo do primeiro caso :

« O homem mortal vive sobre a terra vida transitoria. »
Supprima-se aqui o adjectivo mortal, e não
ha a menor offensa de sentido, porque a proposição
fica sempre verdadeira, sendo que todo o homem
vive neste mundo vida transitoria ou passageira, e só
no outro gozará da perduravel ou eterna.

Exemplo do segundo caso :

« O homem prudente sabe regular bem a sua vida. »
Supprima-se aqui o adjectivo prudente, e fica
viciado o sentido, porque a proposição torna-se falsa,
sendo que nem todo homem sabe regular bem a
sua vida, mas só o que é prudente.

Tem o qualificativo ou duas terminações genericas
no singular e no plural, como bello m, bella f,
11bellos m, bellas f, ou uma só em cada numero,
como sagaz m e f, sagazes m e f.

Facil é conhecer quando este adjectivo tem duas
terminações genericas, ou uma só, juntando-o em
qualquer dos numeros á um substantivo masculino,
e a outro feminino, e com especialidade a estes dois,
homem, mulher, como aqui : Livro novo, casa nova ;
trages usuaes, conversações usuaes ; homens bons,
mulheres bôas ;homem perspicaz, mulher perspicaz.

Admitte o qualificativo dois gráos de significação
encarecida, que lhe alterão a significação positiva
para mais, ou para menos : d’ahi a sua divisão em
positivo, comparativo, superlativo.

Exemplo do qualificativo com os gráos da significação
encarecida para mais :

Sabio pos., mais sabio comp., muito sabio, ou o
mais sabio
, ou sapientissimo superl.

Exemplo do qualificativo com os gráos da significação
encarecida para menos :

Forte pos., menos forte comp., pouco forte ou o
menos forte
superl.

O positivo exprime a qualidade simplesmente : o
comparativo, comparando-a vantajosa ou desvantajosamente
com outra : o superlativo, levando-a ao
último gráo de encarecimento para mais ou para
menos.12O comparativo é sempre o primeiro termo de
uma comparação, cujo segundo termo pode estar
claro ou occulto no discurso, porque o primeiro
suppõe em todo caso o segundo.

Exemplo do comparativo com o segundo termo
da comparação claro :

« Será mais afamada, que ditosa. »

Exemplo do comparativo com o segundo termo
da comparação occulto :

« Foi menos feliz da segunda vez. »

No segundo exemplo deve subtender-se : « Que
foi feliz da primeira vez », ou simplesmente, « que
o foi da primeira, ou que da primeira. »

N. B. A ligação do segundo com o primeiro
termo faz-se pela conjuncção que, ou a locução do
que
.

O superlativo pode ser absoluto ou relativo : é
absoluto, quando exprime encarecimento absoluto,
como muito bravo, bravissimo : relativo, quando exprime
encarecimento relativo, como o mais bravo
de todos
, ou só, o mais bravo.

Melhor se conhecerá isto nos seguintes exemplos :

« Este soldado é mui bravo, ou bravissimo. »

« Este capitão é o mais bravo de todos os do exercito. »13No primeiro exemplo, que é o mesmo que, este
soldado é soldado mui bravo
, ou bravissimo, a bravura
do soldado é levada ao superlativo, mas considerada
só nelle isoladamente, e sem relação á bravura
de outros soldados, ou individuos da mesma
classe.

No segundo, que é o mesmo que, este capitão
é o capitão mais bravo de todos os capitães do exercito
,
a bravura do capitão é levada ao superlativo,
como no primeiro caso, mas considerada nelle com
relação á bravura dos outros capitães do exercito,
ou como uma bravura superior á dos outros capitães
do exercito, ou individuos da mesma classe.

Distingue-se pois o superlativo relativo do absoluto,
porque pede um termo de relação, o qual tambem
pode estar occulto, porque o artigo que se
junta ao comparativo para formar este superlativo,
desperta em nós a idéa de individuo, e ésta a da classe,
em que o grupamos.

Exemplos :

« Este estudante é o menos applicado. »

« Esta flôr é a mais bella. »

No primeiro exemplo deve subentender-se : « Entre
os outros estudantes, ou simplesmente, entre
outros da classe » ; no segundo : « De todas as flores,
ou simplesmente ; de todas. »14O mesmo superlativo absoluto torna-se relativo,
juntando-lhe o artigo, como se observa me, o miserrimo
dos homens, a formosissima entre as mulheres
.

N. B. A preposição que liga o termo de relação
ao superlativo relativo é sempre, de, ou entre.

Forma-se o comparativo juntando-se ao positivo
os adverbios, mais, e menos, como nos dois primeiros
exemplos produzidos, excepto quando o adjectivo
tem comparativo proprio, o que é rarissimo
na nossa lingua.

Eis os poucos adjectivos que teem comparativos
proprios : grande pos, maior ou mór comp. ; pequeno
pos., menor comp. ; bom pos., melhor comp. ;
máo pos., peior comp. ; muito pos., mais comp. ;
pouco pos., menos comp.

Quando porem o comparativo é o primeiro termo
de uma comparação, não de superioridade ou inferioridade,
mas de igualdade, forma-se juntando-se
ao positivo o adverbio, tão, como se vê no seguinte
exemplo :

« Era tão formosa como discreta. »

N. B. Neste caso a ligação do segundo com o
primeiro termo faz-se pela conjucção, como, ou
quanto.

O superlativo forma-se juntando-se ao positivo
15os adverbios, muito, e pouco, ou o artigo ao comparativo,
como nos dois primeiros exemplos produzidos ;
isto não obstante ter o positivo superlativo
proprio, pois todo o qualificativo o tem, ou pode ter.

N. B. Os adverbios, muito, e pouco, tambem podem
ser superlativos, quando se juntão ao positivo,
como se vê em, muitissimo feio, pouquissimo liberal ;
mas isto só é frequente em linguagem familiar.

O superlativo proprio forma-se, juntando-se, issimo,
ao positivo, a que se faz alguma leve alteração
na terminação, ou não. Assim se fórma por exemplo :
de alto, altissimo ; de suave, suavissimo ; de
branco, branquissimo ; de gago, gaguissimo ; de tenaz,
tenacissimo
 ; de admiravel, admirabillissimo
(a antiga terminação d’este adjectivo, assim como
a de todos em vel, era em bil, e d’ahi o superlativo) ;
de commum, communissimo ; de habil, habillissimo ;
de singular, singularissimo ; de crú, cruissimo.

Ha duas excepções a esta regra :

1.ª Quando o adjectivo portuguez vem de adjectivo
latino, cuja terminação masculina do singular
é em, er, como, misero, (de miser), integro (de integer),
salubre (de saluber), ou de adjectivo latino,
cuja terminação masculina e feminina do singular é
em, bris, como, célebre (de celebris), aportugueza-se
16unicamente o superlativo em, rimus, do adjectivo
latino.

Assim se fórma por exemplo : de misero, miserrimo ;
de integro, integerrimo ; de salubre, saluberrimo ;
de célebre, celeberrimo.

2.ª Quando o adjectivo portuguez vem de adjectivo
latino, cuja terminação masculina e feminina
do singular é em, ilis, como, facil (de facilis), humilde
(de humilis), semelhante (de similis), aportugueza-se
igualmente o superlativo em, imus, do adjectivo
latino.

Assim se fórma por exemplo : de facil, facilimo ;
de humilde, humilimo ; de semelhante, similimo.

N. B. Isto quanto á formação apparente e material ;
porque em ultima anályse o que se junta ao
positivo com o acrescimo do s, ou r dobrado, é o
superlativo contracto, imo, ima, derivado do superlativo
latino tambem contracto, imus, ima, imum,
como se vê mui claramente em, facilimo, a que nada
se acrescenta.

Ha porem adjectivos que teem dois superlativos,
um portuguez, outro latino aportuguezado, e taes
são entre outros :

Grande, que faz, grandissimo, ou maximo.
Pequeno, … pequenissimo, ou minimo,
Bom, … bonissimo, ou optimo.
17Máo, … malissimo, ou pessimo.
Aspero, … asperissimo, ou asperrimo.
Pobre, … pobrissimo ou pauperrimo.
Humilde, … humilissimo, om humilimo.
Semelhante, … semelhantissimo, ou similimo
.

N. B. O professor terá cuidado de dar ao alumno
um quadro completo destes diversos superlativos.

O qualificativo divide-se ainda em verbal, participio,
e patrio ou gentilico.

Adjectivo verbal é o que vem de verbo, como
amante, temente, vindouro, perecedouro.

N. B. O adjectivo verbal da primeira fórma
apontada é, como mostraremos em logar competente,
o attributo grammatical, que com o verbo,
ser, fórma o verbo attributivo, e tão encravado se
acha muitas vezes no verbo, que na terceira conjugação
quasi nunca se destaca delle.

Adjectivo participio é o que participa dos tempos
do verbo e faz as funcções de nome adjectivo,
como, amado, cedido, unido.

Adjectivo patrio ou gentilico é o que exprime
nacionalidade, como brazileiro, portuguez, francez.

III. [adjetivo : artigo ; adjetivo demonstrativo,
conjuntivo, partitivo, numeral, quantitativo,
possessivo, pronominal]

Adjectivo determinativo é o que indica de um
18modo positivo o objecto significado pelo substantivo
a que se junta : é um simples mostrador do attributo
occulto, quando está por elle, visto que não exprime
qualidade.

Divide-se este adjectivo em articular, conjunctivo,
interrogativo, numeral, quantitativo, possessivo,
e pronominal.

Adjectivo articular é o que determina indicando
o genero, a especie, o logar, a identidade, a distribuição.
Comprehende ésta divisão o artigo propriamente
dito e o adjectivo demonstrativo que ou
mais ou menos faz as suas vezes.

O artigo divide-se em definido e indefinido.

Artigo definido é o que, posto antes do nome,
indica o objecto por este significado, individualisando-o
de modo certo, como, « o mestre », que vale o
mesmo que, um individuo determinado da classe
dos mestres : indefinido
, o que, posto antes do nome,
indica o objecto por este significado, individualisando-o
só de modo vago, como, « um mestre », que
vale o mesmo que, um individuo indeterminado
da classe dos mestres
.

Isto melhor se conhecerá nos seguintes exemplos :

« O mestre explica assim. »

« Um mestre aprende ensinando. »19No primeiro exemplo, o mestre (suppondo-se que
é algum dos seus alumnos quem emitte a proposição),
é o nosso mestre : no segundo, um mestre (emitta
quem emittir a proposição) é qualquer mestre.

Fórma S. e P. do artigo definido : O, m, a, f, os,
m, as f.

Fórma S. P. do artigo indefinido : Um, m, uma,
f, uns, m, umas, f.

N. B. Muitos grammaticos rejeitão o artigo
indefinido ; mas a nossa lingua o admite, e distingue
do numeral cardeal, um, uma, dando-lhe plural.

O artigo põe-se antes do substantivo appellativo
para determinal-o : o homem, a mulher, os homens,
as mulheres ; um homem, uma mulher, uns homens,
umas mulheres
.

No primeiro caso o artigo apresenta o homem
á consideração de nosso espirito determinadamente,
porque individualisa a idea geral de homem de
modo determinado, ou porque, o homem, torna-se o
equivalente de toda a humanidade que nelle se resume :
no segundo porém só vagamente, porque individualisa
a mesma idea de modo vago, ou porque
um homem, que vale o mesmo que um dos homens,
é apenas o equivalente de um certo individuo da especie
humana.20« Deus criou o homem á sua imagem e semelhança ».

« Vejo um homem ».

No primeiro exemplo, o homem, está em sentido
determinado, no segundo, um homem, em sentido
vago.

« Veio o medico » ?

« Veio aqui um medico » ?

No primeiro exemplo, o medico, está em sentido
determinado ; é medico, por que se espera : no
segundo, um medico, em sentido vago, e tanto que
a pessoa a quem se dirige a pergunta, o não conhece.

Põe-se o artigo antes do nome adjectivo para
substantival-o : o bello, um sabio.

« O bello, é ponto essencial em bellas artes ».

« Um sabio não sustenta o que não pode provar ».

No primeiro exemplo, o bello, é o mesmo que a
belleza
 : no segundo, um sabio, o mesmo que um
homem sabio
 : um e outro ficão rigorosos substantivos
por virtude do artigo que se lhes junta.

Põe-se tambem antes de qualquer outra parte
da oração, ou de orações inteiras, para substantival-as,
como se vê nos seguintes exemplos :

« Os porquês só tu os sabes ».21« Um viver assim é insupportavel ».

« O dizeres que não farás, não é razão para que
deixes de fazêl-o ».

Nestes exemplos, os porquês, a mesma cousa que
os motivos, é uma conjuncção reduzida a nome, e nome
do plural ; o viver assim, o dizeres, são duas proposições
infinitivas, uma do modo impessoal, outra
do pessoal, que ficão igualmente reduzidas a
simples nomes por virtude do artigo que se lhes
junta.

N. B. Quando o artigo se antepõe a qualquer
parte de oração invariavel, ou a orações inteiras,
pode-se dizer que está na fórma neutra que tornou
de, hic, haec, hoc, latino, donde vem ; pois muitos
dos auctores antigos escrevêrão, ho homem, ha
mulher, ho, cantar.

Em certos casos a suppressão do artigo adjectiva
o nome appellativo, como se vê nos attributos
das seguintes proposições :

« O homem é homem de bem ».

« O trigo é trigo sem joio ».

O artigo nunca se põe antes de nome proprio,
porque não teria objecto, sendo que o nome proprio
está por sua natureza determinado. Assim, quando
o uso o faz juntar a algum nome destes, está
sempre determinando um appellativo occulto analogo
22á significação do nome : por exemplo, o Manoel,
a Maria
, é o mesmo que, o homem Manoel, a
mulher Maria ; o Brazil, a Bahia, o Amazonas, os
Andes, o mesmo que, o imperio Brazil, a provincia
Bahia, o rio Amazonas, os montes Andes ; o imperio
do Brazil, a provincia da Bahia, o rio das Amazonas,
o mesmo que, o imperio do territorio Brazil,
a provincia da divisão territorial Bahia, o rio das
mulheres
Amazonas (pois dellas lhe veio o nome).

N. B. Quando se junta o artigo aos nomes proprios
formando d’elles nomes do plural, esses nomes
convertem-se em appellativos, como fiz vêr tractando
do substantivo.

Adjectivo demonstrativo é o que indica o objecto
significado pelo nome substantivo, demonstrando-o
debaixo de alguma relação, como de logar,
de identidade, de distribuição. Dahi a sua divisão
em demonstrativo puro, partitivo, distributivo.

Eis os demonstrativos puros :

Este, ésta, isto (esto, antiquado).

Aquelle, aquella, aquillo (aquello, antiquado).

Esse, essa, isso (esso, antiquado).

Mesmo, mesma.

O mesmo, a mesma (com o artigo).

Este, aquelle, esse, demonstrão distancia de logar,
ou posição do objecto em relação ás pessôas
grammaticaes.23« Toma este livro ».

« Dá-me aquelle tinteiro ».

« Chega-me dahi essa cadeira ».

Nos exemplos produzidos, este livro, é o que
está proximo a mim ; aquelle tinteiro , é o que está
mais distante de mim, ou em logar, onde lhe não
posso chegar ; essa cadeira, é a que está em logar
intermedio, mas indeterminado para mim, porque
está em relação com outro individuo.

Ésta relação de logar pode existir unicamente
na consideração do espirito de quem falla, e de
quem ouve, como, este homem de que vos fallei,
aquella mulher que tão pouco se assemelha ás outras,
esse capitão que encheo o mundo com a fama
de suas victorias.

Este, está sempre em opposição, áquelle : esse,
sempre em logar indeterminado para quem falla.

Mesmo, o mesmo, demonstrão a identidade, com
a differença porem que, o mesmo determina também
o individuo, porque leva o artigo que conserva
toda a sua fôrça. Exemplo disto :

« É este o homem ? É elle mesmo ; é o mesmo ».

« É este José ? É José mesmo ; é o mesmo ».

Na dupla resposta a cada uma das duas perguntas
se conhece esta differença. Em, « É elle mesmo »,
que vale tanto como o homem mesmo, e em, « É
24José mesmo », tanto como o homem mesmo José, o
demonstrativo expressa a identidade de pessôa simplesmente :
em, « É o mesmo », que no primeiro caso
vale tanto como, « É o mesmo homem », e no segundo
como, « É o mesmo homem ou individuo José »,
o demonstrativo expressa a mesma identidade, com
determinação do individuo, de que se tracta.

Mesmo pospõe-se, o mesmo antepõe-se ao nome :

Cicero mesmo, o mesmo Cicero ; a cousa mesma,
a mesma
cousa.

Exemplos desenvolvidos :

« Cicero mesmo não foi poupado pelos triumviros ».

« O mesmo Cicero não fallaria tão eloquentemente ».

« A cousa mesma é bôa ».

« A mesma cousa o está indicando ».

No primeiro exemplo, Cicero mesmo, é Cicero
em pessôa, ou a pessôa de Cicero ; no segundo, o
mesmo Cicero, é o mesmo orador Cicero ; no terceiro,
a cousa mesma, é a cousa em si ; no quarto,
a mesma cousa, é a cousa de que se tracta.

N. B. Quando se falla com emphase, junta-se,
mesmo, aos pronomes pessoaes, como, eu mesmo
fiz, tu mesmo disseste, elle mesmo escreveo.

O demonstrativo pode ser composto, como, est’outro
25aquell’outro, ess’outro, est’outro mesmo
&,
e então serve para fazer distinguir um objecto de
outro da mesma natureza, acrescentando o último
a idea de identidade. Exemplos :

« Queres este livro, ou est’outro » ?

« Quero ess’outro, ou est’outro mesmo ».

Todos estes demonstrativos, excepto, mesmo, podem,
postos sós na oração, servir de sujeitos, como,
este affirmou, aquelle negou, esse nada disse. Dahi
a denominação de pronomes que lhes davam os
antigos grammaticos, illudidos pela apparencia.
Mas não são pronomes, porque não se põem pelo
nome, como, eu, tu, elle, que representão nomes de
que se não tem tractado anteriormente no discurso :
são simples demonstrativos ainda nos casos acima,
pois, este, aquelle, esse, quando sujeitos, demonstrão
sempre uma relação de logar de individuo, de
que já se tractou, ou o mesmo individuo pelo logar.

Elle, ella, (ello, antiquado), que alguns grammaticos
incluem no numero dos demonstrativos,
passou a ser exclusivamente pronome pessoal, como
o está indicando a sua terminação antiquada, ello,
que não tem equivalente na lingua, porque o nosso,
aquelle, é que corresponde exactamente ao demonstrativo
latino, ille.26Isto, aquillo, isso, antigamente, esto, aquello,
esso
, como em castelhano, são terminações neutras,
que passarão para a lingua de, istud, illud
ipsum
, ou de iguaes terminações dos demonstrativos
latinos, e equivalem a nomes substantivos.

Eis os partitivos, ou distributivos :

Outro, outra (al, antiquado).

Algum, alguma (algo, antiquado).

Tal.

Qual.

Todo, toda, tudo (quando anteposto ao appellativo).

Nenhum, nenhuma (negativo).

Outro, oppõe-se a, um, como, um e outro ; e neste
caso, um, converte-se de artigo em partitivo.
Exemplo :

« Umas tocavão, outras dançavão ; isto é, umas
dellas, outras dellas
 ».

Tal e qual, só são partitivos quando se não oppõem
um ao outro, como se vê nestes exemplos :

« Tal jogava, tal dançava ; isto é, tal delles ou
d’entre elles. »

« Qual as plumas vermelhas faz de brancas, qual
c’os penachos do elmo açouta as ancas ; isto é, qual
d’elles
ou d’entre elles ».

Quando porem se oppõem um ao outro, são adjectivos
27comparativos, como se observa neste exemplo :

« Tal se mostrou hoje em bravura, qual sempre
se havia mostrado » ; isto é, tal heroe, qual heroe.

Todo, só é partitivo quando se antepõe ao nome
appellativo como aqui :

« Todo homem é mortal ; isto é, todo e qualquer
homem
, ou todo d’entre os homens. »

Quando porem se pospõe ao nome appellativo,
todo converte-se em collectivo universal, porque
exprime idea de totalidade, como se vê neste exemplo :

« O homem todo não perece ; isto é, o homem
em seu ser todo
, ou em corpo e alma ».

Aqui, o homem todo, é justamente o opposto de,
todo homem, no precedente exemplo.

Nenhum, oppõe-se a qualquer dos outros partitivos,
quando intervem a conjuncção, mas, como
aqui se observa :

« Um ou um d’entre elles fallou pouco ; outro ou
outro d’entre elles, muito ; algum ou algum d’entre
elles
, entre pouco e muito ; mas nenhum ou nenhum
d’entre elles
, satisfactoriamente ».

Alguns determinativos não partitivos tornão-se
taes, juntando-se-lhes o complemento, d’elles, ou
d’entre elles, como, um, uma, uns, umas, já notado
28e, muitos e poucos, só no plural : — Muitos d’entre
elles, poucos d’entre elles
.

Algumas vezes se põe só na oração o complemento,
d’elles, ou d’entre elles, servindo de sujeito
apparente, porque elle supõe sempre a existencia
do partitivo, de que é termo de relação. Exemplo :

« D’elles fallárão ; d’elles obrarão ; d’elles conservárão-se
inactivos ; isto é, uns d’elles ; outros d’elles ; alguns
d’elles ».

De, outro, algum, nenhum, e homem, formão-se,
outrem, alguem, ninguém, os quaes valem tanto
como, outro, algum, nenhum homem d’entre os homens,
e podem considerar-se simples partitivos derivados.

Oppõem-se, outrem, alguem, ninguém, aos pronomes
pessoaes, eu, tu, elle, com preferencia aos
primitivos seus analogos, porque involvem já em si
a idea de pessôa.

« Eu trabalhei, e outrem ou alguem lucrou ».

« Tu lembraste, e outrem ou alguem fez ».

« Elle recitou, mas outrem ou alguem compoz o
discurso ».

« Ninguem obedecerá, ainda que, eu, tu e elle
mandemos ».

Eis os distributivos proprios :29Simples e invariavel, cada, — cada homem, cada
mulher.

Composto, variavel na terminação, cada um, cada
uma
, sem plural.

Composto, variavel só no numero, qual quer,
quaes quer
.

Compostos invariaveis, cada qual, quem quer.

Adjectivo conjunctivo, é, como sôa a palavra, o
que tem a virtude de conjunctar proposições, fazendo
as vezes de conjuncção : liga proposições
incidentes a outras por ellas modificadas, isto por
meio de dois termos de relação, um na proposição
modificada, outro na modificante, dos quaes o primeiro
se chama o seu antecedente, o segundo o
seu consequente. Exemplo :

« O homem, que ama a Deus, vive isento do temor
da morte ».

Neste exemplo, onde, o homem que, vale o
mesmo que, o homem o qual homem, o termo de relação
expresso, ou o homem, sujeito da proposição
principal, é o antecedente do adjectivo conjunctivo,
e o termo de relação occulto o seu consequente :
assim, é identificando-se com o primeiro termo,
cuja reproducção é o segundo, que este adjectivo
liga uma proposição á outra.

Fórmas variaveis do adjectivo conjunctivo :30N. S. e P.

O qual m, a qual f, os quaes m, as quaes f.

N. S. e P.

Cujo m, cuja f, cujos m, cujas f (Vale o mesmo
que, do qual, da qual &, de quem, de que).

Fórmas invariaveis do mesmo adjectivo :

Que, para ambos os generos e numeros.

Quem, para ambos os generos e numeros.

O qual, cujo, que, referem-se a pessôas e cousas.

Ha porem uma excepção quanto a, que, o qual nunca
se emprega para exprimir a relação do possuidor
da cousa, quando este é pessôa.

Quem, refere-se unicamente a pessôas, porque já
envolve em si a idéa de pessôa ; pois vale tanto
como, o qual homem.

Exemplos disto :

« O viajante, que, ou o qual, ou a quem, procuras,
não existe nesta cidade, a que, ou á qual, ainda
não chegou ».

Neste exemplo, que, o qual, exprimem uma relação
de pessôa ; a que, á qual, de cousa ; mas, a quem,
uma relação só de pessôa..

« O proprietario, cuja, ou do qual, ou de quem, e
ésta casa, fez um prédio, cuja, ou do qual, ou de que
a capacidade pode bem accommodar duas familias ».31Nest’outro exemplo, o primeiro, cuja, o primeiro,
do qual, de quem, exprimem uma relação de pessôa ;
o segundo, do qual, de que, uma relação de
cousa. Ha alem disso duas observações a fazer : 1.ª
que, quando a relação da pessôa é a do possuidor da
cousa, não se emprega, de que porque o uso o não
admitte : 2.ª que, cuja, não concorda no primeiro
caso com o seu termo antecedente, o proprietario,
nem no segundo, com o seu termo antecedente,
predio, mas em ambos com a cousa possuida, isto
é, casa e capacidade.

Os adverbios, onde, d’onde, por onde, para onde,
põem-se frequentemente pelo adjectivo conjunctivo,
e ligão tambem proposições incidentes : d’ahi o
nome que teem de, adverbios conjunctivos. Exemplo
disto :

« O logar, onde descançamos, é dos mais apraziveis ;
isto é, o logar, no qual logar ».

« A terra, d’onde vieste, é bem longinqua ; isto é, a
terra, da qual terra ».

« A cidade, para onde vamos, é bem populosa ;
isto é, a cidade, para a qual cidade » :

« O caminho, por onde andamos, é bem escabroso ;
isto é, o caminho, pelo qual caminho ».

Adjectivo interrogativo, é, como o indica o termo,
o que serve para interrogar, quando queremos saber
32alguma cousa : liga também proposições, mas
só completivas. Exemplo :

« Não dirás quem és » ?

Neste caso e outros identicos, a ligação das proposições
faz-se tambem por meio de dois termos
de relação, dos quaes o primeiro é sempre mental,
e o segundo pode estar claro : porquanto, « Não dirás
quem és ? », é o mesmo, que, « Não dirás o homem,
qual
, ou que és ; isto é, que qualidade de homem
és ? ». Podia estar claro o segundo termo d’este
modo : « Não dirás qual homem és » ?

Formas variaveis do adjectivo interrogativo :

N. S. e P.

Cujo ? m, cuja ? f, cujos ? m, cujas ? f. (Vale o mesmo
que, de quem ? do qual ? de que ; ?

N. S. e. P.

Qual ? m. e f, quaes ? m. e f.

Formas invariaveis do mesmo adjectivo :

Que ? para ambos os generos e numeros.

Quem ? para ambos os generos e numeros.
(Quem, é o mesmo que, qual ou que homem  ?

Como o primeiro termo de relação do adjectivo
interrogativo está sempre occulto, ou é puramente
mental, a proposição, a que se liga a completiva, de
que elle é liame, pode estar tambem occulta, e as
mais das vezes o está : Exemplos :33« Quem bate » ?

« Quem é que bate á porta » ?

« Que queres » ?

« Que é o que queres » ?

Nestes exemplos, dos quaes o primeiro vale tanto
como, « Qual ou que pessôa bate ? » ; o segundo, tanto
como, « Qual ou que pessôa é a pessôa que bate á
porta ? » ; o terceiro, tanto como, « Que ou qual cousa
queres » ? ; o quarto, tanto como, « Que, ou qual
cousa é o, isto é, a cousa que queres » ? ; a proposição
principal, Pergunto, ou Quero saber, ou outra,
a que se liga a do adjectivo interrogativo, está, como
se vê, occulta, assim como quasi sempre o está em
casos idênticos. Cumpre ainda observar que o, que
do segundo exemplo é o adjectivo conjunctivo, e bem
assim o segundo, que, do quarto.

Ás vezes o primeiro termo de relação do adjectivo
interrogativo acha-se expresso, o que é apenas urna
excepção á regra geral. Exemplo :

« O que queres » ?

Neste exemplo, em que subentenderemos logo a
proposição principal para mais clareza, « O que queres ? »,
vale tanto como se dissessemos, « .Desejo saber
o, ou a cousa que cousa, ou qual cousa queres ? ».

Os adverbios, onde, d’onde, para onde, por onde,
tambem se põem frequentemente pelo adjectivo interrogativo,
34e ligão, como elle, proposições completivas :
d’ahi o nome que igualmente teem de, adverbios
interrogativos
.

Exemplo disto :

« Onde estamos ? ; isto é, em que ou em qual logar,
ou parte , estamos » ?

« D’onde vens ?, isto é, de que, onde qual logar, ou
parte, vens » ? .

« Para onde vás ? ; isto é, para que, ou para qual
logar, ou parte, vás » ?

« Por onde andas ? ; isto é, por que, ou por quaes logares,
sitios, paragens, andas » ?

Adjectivo numeral, é o que determina o objecto
significado pelo substantivo, acrescentando-lhe a
idea de numero de um modo positivo. Exemplo :

« Um livro ; dois navios ».

« Primeiro tomo ; segundo dia ».

Divide-se em cardinal e ordinal.

Numeral cardinal, é o que exprime simplesmente
o numero, como, um, dois, tres, quatro &.

Numeral ordinal, é o que exprime o numero por
ordem, como, primeiro, segundo, terceiro, quarto &
Adjectivo quantitativo, que tambem se chama
numeral indefinido, é o que determina o objecto significado
pelo substantivo, juntando-lhe a idea de
quantidade numerica indeterminada. Exemplo :35« Muitos homens ; mais soldados ; tantas casas » !

Pouco, é o opposto de, muito ; menos, o de, mais ;
quanto, o de, tanto.

Tanto torna-se partitivo, quando se lhe junta, um,
outro, algum, cada
, formando com elle uma especie
de nome composto, como, um tanto, outro tanto, algum
tanto, cada tanto
.

Tanto e quanto, tornão-se adjectivos comparativos,
quando se achão oppostos um ao outro, como se vê
neste exemplo :

« Tantas forão as sentenças, quantas, as cabeças ».

Adjectivo possessivo, é o que determina o objecto
significado pelo substantivo, trazendo á lembrança a
idea de seu possuidor. Exemplo :

« Meu livro ; isto é, o livro que me pertence ».

« Teu chapeo ; isto é, o chapeo que te pertence ».

« Seu filho ; isto é, o filho d’elle. »

Eis aqui este adjectivo em todas as suas formas
com relação ás pessôas grammaticaes :

N. S. e P.

Meu, minha, meus, minhas.

N. S. e P.

Nosso, nossa, nossos, nossas.

N. S. e P.

Teu, tua, teus, tuas.

N. S. e P.36Vosso, vossa, vossos, vossas.

N. S. e P.

Seu, sua, seus, suas.

Ha tambem o adjectivo possessivo derivado de
nome proprio de pessoa, como de Juno, junonio, junonia ;
de Manoel, manoelino, manoelina de José,
josephino, josephina
&c. Exemplos :

« Agasalhos junonios ; isto é, agasalhos de Juno ».

« Leis manoelinas ; isto é, leis del-rei D. Manoel ».

Pode igualmente considerar-se possessivo em relação
ao pae ou avoengos o adjectivo patronimico,
como, Anchisiades, ou filho de Anchises ; Lopes, ou
filho de Lopo ; Rodrigues, ou filho de Rodrigo.

Adjectivo pronominal, ou adjectivo pronome,
como lhe chamão os Francezes, ha só um que é, o
m., a f., o n., que vem de, is, ea, id, latino. Chama-se
pronominal este adjectivo, porque tem a virtude
de representar o nome que indica, ou porque está
sempre só na oração como qualquer verdadeiro pronome.

Exemplos :

« Copiaste a carta ? Copiei-a ».

« O, que escreve, deve pensar antes ».

No primeiro exemplo, o adjectivo pronominal na
sua terminação femenina, a, é complemento directo
do verbo, copiei, e representa, carta, que está indicando :
37no segundo, o mesmo adjectivo na sua terminação
masculina, o, é sujeito do verbo, deve, e representa,
homem, que está indicando.

Em ambos os casos, este adjectivo se distingue
por seu emprego do artigo definido, a que só se assemelha
na fórma, ou na apparencia. No primeiro,
o artigo determina o appellativo, carta, complemento
directo do verbo, copiaste ; e este adjectivo é regimen
de verbo, emprego que o artigo nunca exerce :
no segundo, o artigo não apparece ; mas este adjectivo
é sujeito de verbo, emprego que o artigo também
nunca exerce.

N. B. Adoptei para este adjectivo, que nas minhas
Postillas chamo, demonstrativo, a denominação
de, pronominal, tomada dos grammaticos francezes,
porque melhor o distingue em seu officio
particular no discurso.

Verbo

Verbo, é a palavra que serve para afirmar a existencia
da qualidade na substancia, pessoa ou cousa,
e por conseguinte, o nexo ou copula, que une o attributo
38ao sujeito da proposição, phrase, sentença,
ou enunciado de juizo.

Diz-se tambem que é a palavra por excellencia,
porque dá vida ao discurso, que sem ella não pode
existir.

A fórma primitiva do verbo é uma e unica em
todas as linguas : na portugueza, Ser, que quer dizer,
ser ente, indeterminadamente ; nas outras, o equivalente
de, Ser. Divide-se porem o verbo em substantivo
e attributivo ou adjectivo, segundo se acha
em sua fórma primitiva, ou unido ao attributo,
como, Viver, que quer dizer, ser vivente.

É pois propriedade essencial ao verbo, ou propriedade
pela qual ésta se distingue de todas as outras
palavras, o exprimir a affirmação : isto, quer a
proposição seja affirmativa, quer negativa, como se
vê nos seguintes exemplos :

« Deus é eterno ».

« Deus não é injusto ».

No primeiro caso, o verbo, É, affirma que a qualidade
de, ser eterno, existe no sujeito, Deus, ou lhe
convem : no segundo, o verbo, É, affirma igualmente
que a qualidade de, não ser injusto, existe no
sujeito, Deus, ou lhe convem.

Alem d’esta propriedade essencial que o caracteriza
39palavra por excellencia, tem o verbo a de tomar
inflexões diversas : primó, para accommodar-se á
pessôa e numero do sujeito a quem respeita a affirmação ;.
secundó, para exprimir o tempo a que ella
se refere ; terció, para significar o modo por que a
mesma se faz.

E’sta propriedade, que tem o verbo de mudar de
terminação para preencher qualquer dos tres indicados
fins, chama-se conjugação, de duas palavras
latinas, cum e jugum, com e jugo, que querem dizer
com o jugo das mesmas leis ; isto em relação ás
inflexões semelhantes do verbo em uma e a mesma
conjugação.

N. B. Os accidentes da conjugação do verbo correspondem
em certa maneira aos accidentes da declinação
do nome nas linguas que teem casos, ou
da simples variação dos numeros nas que não teem,
e não constituem a essencia do verbo, que é, exprimir
a affirmação
, assim como os do nome não constituem
a d’este, que é, designar a substancia. Não devem
pois elles entrar na definição do verbo, como
querem alguns grammaticos ; porque a definição não
conviria n’esse caso ao definido, visto que o verbo
unipessoal tem só a terceira pessoa do singular, e
o verbo no infinito não só está em modo indeterminado,
mas não tem pessôas e numeros, sinão por
40excepção, e em casos especiaes, na nossa lingua.
Taes accidentes são em ultima analyse meros accidentes
da affirmação do verbo, que pode existir independente
d’elles, como se observa na proposição,
« Deus é omnipotente », a qual é verdadeira em todo
o tempo e modo, e cujo attributo convem a um sujeito
unico.

Pessoas e numeros do verbo.

Chamão-se pessôas e numeros do verbo as diversas
inflexões que elle toma para accomodar-se á
pessôa e ao numero do sujeito a quem respeita a
affirmação. Assim tem o verbo primeira, segunda,
terceira pessôa do singular e plural, ou concorda
sempre em numero e pessôa com esse sujeito, como
se nota em, eu sou mortal, tu és bravo, elle é honrado,
nós somos viventes, vós sois ricos, elles são
pobres.

Em virtude d’esta modificação do verbo pode-se,
quando elle está em sua fórma primitiva, formar
proposição com duas palavras, ou ainda com uma
só, si elle se acha unido ao attributo, como se vê
nos seguintes exemplos :

« Sou homem ».

« Viveis ».41No primeiro caso, sou homem, é o mesmo que,
eu sou homem,
porque a inflexão do verbo substantivo,
sou, indica um sujeito da primeira pessôa do
singular : no segundo, viveis, é o mesmo que, vós
sois viventes
, porque a inflexão do verbo attributivo,
viveis, indica um sujeito da segunda pessôa
do plural.

N. B. Que cousa, e quantas sejão as pessôas
grammaticaes, já ficou convenientemente explicado,
quando tractei do pronome pessoal ; por isso para
ahi remetto o alumno.

Tempos do verbo.

Chamão-se tempos do verbo as inflexões que elle
toma para exprimir a affirmação em relação ao presente,
ao passado ou preterito, ao futuro, ou ás
tres épocas da duração do tempo ; por quanto pode-se
asseverar que a cousa de que se tracta, existe,
existio, existirá
, como se vê neste exemplo :

« O sol, que brilhou hontem, brilha hoje, e brilhará
amanhã ».

Os tres tempos indicados, a que alguns grammaticos
chamão primitivos, são os unicos simples, como,
42amo, presente ; amei, passado ou preterito ; amarei,
futuro.

O presente, ou tempo em que a cousa existe, é
indivisivel ; mas o preterito ou tempo em que existio,
e o futuro, ou tempo em que existirá, admittem
gráos de perfeição em anterioridade e posterioridade :
d’ahi a necessidade de novas inflexões para
exprimir esses diversos gráos de anterioridade e
posterioridade, que constituem os tempos compostos
do verbo, quer na fórma, quer simplesmente
no sentido.

Sendo mui conhecidos os tempos compostos na
fórma, só tractarei de explicar aqui o seja tempo
composto no sentido. A lingua portugueza só tem
dois nas linguagens do preterito, — o imperfeito, e o
mais que perfeito — , que nos seguintes exemplos pômos
em relação com o preterito perfeito :

« Eu ceava, quando elle entrou ».

« Eu ceára, quando elle entrou ».

No primeiro caso, o preterito imperfeito, ceava,
vale tanto como, estava ceando, ou no acto da cêa ;
pois o exemplo citado corresponde exactamente a
est’outro : « Eu estava ceando, quando elle entrou ».
No segundo, o mais que perfeito, ceára, vale igualmente
tanto como, tinha ceado ou acabado de cear,
pois o exemplo citado corresponde também exactamente
43a estoutro : « Eu tinha acabado de cear,
quando elle entrou ». Assim esses dois tempos, simples
na apparencia, são compostos no sentido, porque
são justamente equivalentes á dois tempos
compostos que em tudo lhes correspondem.

E’stas fórmas do preterito compostas no sentido
passárão para o Portuguez das fórmas latinas, coenabam,
coenaveram
, sem que passasse igualmente a
do futuro, coenavero, a que corresponde a nossa
composta, terei ceado, que se põe em relação com
a simples do futuro do conjunctivo, como se vê
n’este exemplo : « Terei ceado, quando elle entrar ».

Modos do verbo.

Chamão-se modos do verbo as inflexões que elle
toma para significar os diversos modos ou maneiras
por que se faz a affirmação, que pode ser simples,
positiva, ou não.

A lingua portugueza tem inflexões verbaes para
significar unicamente cinco modos ou maneiras de
affirmação, a saber :

O modo indicativo, em que ella se faz simplesmente,
como, « amo, amei, amarei ».44O modo condicional, em que ella se faz condicionalmente,
como « Fariamos, si pudessemos, ou
ainda, si pudéramos fazer ».

O modo imperativo, em que ella se faz imperiosamente,
como, « .Faze tu, fazei vós. »

O modo conjunctivo ou subjunctivo, em que
ella se faz modificadamente, ou com dependencia
de outra, como, « Convem que estudes ».

O modo infinito ou infinitivo, em que ella se
faz indeterminadamente, como, « Morrer o homem,
ou morrermos é inevitável ».

Tinha ainda o Portuguez outra fórma de condicional,
como se vê neste exemplo : « Concluîramos, si
tivessemos podido, ou pudéramos concluir ».

Ésta fórma porem antiquou-se, porque se confundia
com a do preterito mais que perfeito, — Concluîra
concluîras, concluîra, concluîramos, concluîreis,
concluîrão
.

Verbo substantivo. [Ser]

Verbo substantivo, é o verbo em sua fórma primitiva,
ou o verbo, Ser, na lingua portugueza, como
fica dito. Chama-se, substantivo, o verbo, quando se
45apresenta debaixo d’esta fórma, ou separado do attributo,
com o qual se combina para formar o chamado,
verbo attributivo ou adjectivo, porque só
elle é o verbo subsistente por si mesmo, ou o unico
verbo que exprime a affirmação, e pelo qual se podem
resolver todas as proposições de qualquer lingua.
Verbo substantivo, pois, é, por opposição ao
verbo adjectivo, o verbo não combinado com attributo
algum, como se vê nestes exemplos : « Tu és
estudioso
 » ; « Pedro era sabio » ; « Elle foi prudente » ;
Nós seremos amigos ».

Alguns grammaticos pretendem fazer tambem,
estar, verbo substantivo, o qual, si assim fosse, deixaria
de ser o unico verbo : mas ésta doutrina é insustentavel
e erronea, porque, estar, que se resolve
por, ser estante, e vem do simples latino, stare, (estar
firme
) ou ainda do composto, exstare, (estar eminente)
já envolve em sua significação a idéa de estada,
estado, attitude
em certa maneira, ou a idéa de,
existencta modal, e já é por conseguinte o verbo
substantivo combinado com um attributo.

Quando digo, por exemplo, « Pedro está doente »,
acrescento já alguma cousa á simples affirmação
expressa pelo verbo substantivo, porque junto a
ella a idéa de, estada, estado actual, ou modo, por
que Pedro existe na actualidade, que é no estado de
46doente. « Pedro está doente », vale pois tanto como,
Pedro existe, permanece, fica, actualmente doente ;
e o verbo estar é um verbo attributivo como qualquer
dos tres por que elle se explica no presente
caso, ainda supprimido o adverbio, actualmente.

A distincção que fazem os mesmos de que, ser,
exprime uma qualidade permanente, e, estar, uma
qualidade accidental, serve para demonstrar que o
primeiro é o verbo substantivo, e o segundo, um verbo
attributivo. Si quizessemos, por exemplo, dizer que,
« Pedro se fez homem », diriamos com, ser, « Pedro é
homem », acrescentando ao attributo o adverbio
de tempo , porque o verbo substantivo não exprime
senão a simples affirmação ; com o verbo,
estar, porem, que envolve em sua significação a idéa
de, estada, estado, posição actual, ou a idéa de qualidade
em referencia ao tempo, diriamos bem com
o adverbio ou sem elle, « Pedro já está homem, ou
simplesmente, está homem ».

Fórmas simples do verbo substantivo, ou do verbo,
Ser.

Modo indicativo.

Presente.

N. S. Sou, és, é
47N. P. Somos, sois, são.

Preterito imperfeito.

N. S. Era, eras, era.
N. P. Éramos, ereis, erão.

Preterito perfeito.

N. S. Fui, foste, foi.
N. P. Fomos, fostes, fôrão.

Preterito mais que perfeito.

N. S. Fôra, fôras, fôra.
N. P. Fôramos, fôreis, fôrão.

Futuro absoluto.

N. S. Serei, serás, será.
N. P. Seremos, sereis, serão.

Modo condicional.

Futuro.

N. S. Seria, serias, seria.
48N. P. Seriamos, serieis, serião.

Modo imperativo.

Futuro.

N. S. Sê tu.
N. P. Sêde vós.

Modo conjunctivo.

Presente.

N. S. Seja, sejas, seja.
N. P. Sejamos, sejais, sejão.

Preterito imperfeito.

N. S. Fosse, fosses, fosse.
N. P. Fossemos, fosseis, fossem.

Futuro.

N. S. Fôr, fôres, fôr.

N. P. Fôrmos, fôrdes, fôrem.49

Modo infinito impessoal.

Presente.

Ser.

Participio presente.

Sendo.

Gerundio.

Em sendo.

Participio preterito.

Não tem.

Supino.

Sido.

Modo infinito pessoal.

Presente.

N. S. Ser eu, seres tu, ser elle.
N. P. Sermos nós, serdes vós, serem elles.50N. B. Fórma antiquada do condicional preterito :

N. S. Fôra, foras, fôra.
N. P. Fôramos, fôreis, fôrão.

Os tempos compostos do verbo substantivo, ou
antes do verbo, formão-se com o mesmo verbo debaixo
da fórma, e pelo modo que passo a descrever.

Verbo auxiliar. [Haver]

Chama-se, auxiliar, o verbo, que auxilia o verbo
substantivo em sua conjugação, quer este esteja em
sua fórma primitiva, quer unido ao attributo. Isto
faz-se por tres maneiras, porque ou o auxiliar proprio
combinado com o supino fórma os tempos
compostos do preterito e futuro, e com o infinito
unicamente os do futuro, ou combinado com o gerundio
fórma o verbo frequentativo e suas especies,
ou combinado com o participio preterito fórma o
que se chama voz passiva do verbo.

Tractarei agora dos auxiliares com que se formão
51os tempos compostos, reservando-me para tractar
dos outros em logar competente. São estes, dois, —
Haver e Ter, — que perdem neste caso o caracter de
attributivos ou adjectivos, e cujas fórmas simples
são as seguintes :

Modo indicativo.

Presente.

N. S. Hei, has, ha.
N. P. Havemos, haveis, hão.

Preterito imperfeito.

N. S. Havia, havias, havia.
N. P. Haviamos, havieis, havião.

Preterito perfeito.

N. S. Houve, houveste, houve.
N. P. Houvemos, houvestes, houverão.

Preterito mais que perfeito.

N. S. Houvera, houveras, houvera.
52N. P Houveramos, houvereis, houverão.

Futuro absoluto.

N. S. Haverei, haverás, haverá.
N. P. Haveremos, havereis, haverão.

Modo condicional.

Futuro.

N. S. Haveria, haverias, haveria.
N. P. Haveriamos, haverieis, haverião.

Modo imperativo.

Futuro.

N. S. Ha tu.
N. P. Havei vós.

Modo conjunctivo.

Presente.

N. S. Haja, hajas, haja.
53N. P. Hajamos, hajais, hajão.

Preterito imperfeito.

N. S. Houvesse, houvesses, houvesse.
N. P. Houvessemos, houvesseis, houvessem.

Futuro.

N. S. Houver, houveres, houver.
N. P. Houvermos, houverdes, houverem.

Modo infinito impessoal.

Presente.

Haver.

Participio presente.

Havendo.

Gerundio.

Em havendo.54

Participio preterito.

Havido, havida.

Supino.

Havido.

Modo infinito pessoal.

Presente.

N. S. Haver eu, haveres tu, haver elle.
N. P. Havermos nós, haverdes vós, haverem elles.

[Verbo auxiliar. Ter]

Modo indicativo.

Presente.

N. S. Tenho, tens, tem.
N. P. Temos, tendes, teem.

Preterito imperfeito.

N. S. Tinha, tinhas, tinha.
N. P. Tinhamos, tinheis, tinhão.55

Preterito perfeito.

N. S. Tive, tiveste, teve.
N. P. Tivemos, tivestes, tiverão.

Preterito mais que perfeito.

N. S. Tivera, tiveras, tivera.
N. P. Tiveramos, tivereis tiverão.

Futuro absoluto.

N. S. Terei, terás terá.
N. P. Teremos, tereis, terão.

Modo condicional.

Futuro.

N. S. Teria, terias, teria.
N. P. Teriamos, terieis, terião.

Modo imperativo.

Futuro.

N. S. Tem tu.
56N. P. Tende vós.

Modo conjunctivo.

Presente.

N. S. Tenha, tenhas, tenha.
N. P. Tenhamos, tenhaes, tenhão.

Preterito imperfeito.

N. S. Tivesse, tivesses, tivesse.
N. P. Tivessemos, tivesseis, tivessem.

Futuro.

N. S. Tiver, tiveres, tiver.
N. P. Tivermos, tiverdes, tiverem.

Modo infinito impessoal.

Presente.

Ter.

Participio presente.

Tendo57

Gerundio.

Em tendo.

Participio preterito.

Tido, tida.

Supino.

Tido.

Modo infinito pessoal.

Presente.

N. S. Ter eu, teres tu, ter elle.
N. P. Termos nós, terdes vós, terem elles.

[Tempos compostos: Haver + Ser]

Tempos compostos do verbo, Ser, formados
com os seus dois auxiliares :

Modo indicativo.

Preterito perfeito composto.

N. S. Hei, has, há sido
58N. P. Havemos, haveis, hão sido.

Preterito anterior.

N. S. Houve, houveste, houve sido.
N. P. Houvemos, houvestes, houverão sido.

Preterito mais que perfeito composto.

N. S. Havia, havias, havia sido.
N. P. Haviamos, havieis, havião sido.

Futuro imperfeito composto

N. S. Hei, has, ha de ser.
N. P. Havemos, haveis, hão de ser.

Futuro perfeito composto.

Primeira Fórma.

N. S. Haverei, haverás, haverá sido.
N. P. Haveremos, havereis, haverão sido.

Segunda Fórma.

N. S. Haverei, haverás, haverá de ser.
59N. P. Haveremos, havereis, haverão de ser.

Modo condicional.

Futuro perfeito composto.

Primeira Fórma.

N. S. Haveria, haverias, haveria sido.
N. P. Haveriamos, haverieis, haverião sido.

Segunda Fórma.

N. S. Haveria, haverias, haveria de ser.
N. P. Haveriamos, haverieis, haverião de ser.

Modo infinito impessoal

Preterito.

Haver sido.

Participio preterito composto.

Havendo sido.60

Futuro.

Haver de ser.

Participio futuro composto.

Havendo de ser.

Modo infinito pessoal.

Preterito.

N. S. Haver eu, haveres tu, haver elle sido.
N. P. Havermos nós, haverdes vós, haverem elles
sido.

Futuro.

N. S. Haver eu, haveres tu, haver elle de ser.
N. P. Havermos nós, haverdes vós, haverem elles
de ser.

N. B. Fórma antiquada do condicional preterito
composto

N. S. Houvera, houveras, houvera sido.
N. P. Houveramos, houvereis, houverão sido61

[Tempos compostos: Ter + Ser]

Modo Indicativo.

Preterito perfeito composto.

N. S. Tenho, tens, tem sido.
N. P. Temos, tendes, teem sido.

Preterito anterior.

N. S. Tive, tiveste, teve sido.
N. P. Tivemos, tivestes, ’ tiverão sido.

Preterito mais que perfeito composto.

N. S. Tinha, tinhas, tinha sido.
N. P. Tinhamos, tinheis, tinhão sido.

Futuro imperfeito composto.

N. S. Tenho, tens, tem de ser.
N. P. Temos, tendes, teem de ser.

Futuro perfeito composto.

Primeira Fórma.

N. S. Terei, terás, terá sido.
62N. P. Teremos, tereis, terão sido.

Segunda Fórma.

N. S. Terei, terás, terá de ser.
N. P. Teremos, tereis, terão de ser.

Modo condicional.

Futuro perfeito composto.

Primeira Fórma.

N. S. Teria, terias, teria sido.
N. P. Teriamos, terieis, terião sido.

Segunda Fórma.

N. S. Teria, terias, teria de ser.
N. P. Teriamos, terieis ; terião de ser.

Modo infinito impessoal.

Preterito.

Ter sido.63

Participio preterito composto.

Tendo sido.

Futuro.

Ter de ser.

Participio futuro composto.

Tendo de ser.

Modo infinito pessoal.

Preterito.

N. S. Ter eu, teres tu, ter elle sido.
N. P. Termos nós, terdes vós, terem sido.

Futuro.

N. S. Ter eu, teres tu, ter ele de ser.
N. P. Termos nós, terdes vós, terem elles de ser.

N.B. Fórma antiquada do condicional preterito
composto :64

N. S. Tivera, tiveras, tivera sido.
N. P. Tivermos, tivereis, tiverão sido.

Com estes dois verbos auxiliares e o infinito do
verbo, Ser, formão-se ainda diversas linguagens do
futuro, que os grammaticos não teem classificado,
e a que chamaremos — Futuros do Presente ou do
Preterito — , segundo a relação que teem com cada
um destes tempos, como se passa a ver nos seguintes
exemplos :

Futuro do Preterito do Indicativo :— « Foi, quando,
ou como, ou porque havia ou tinha de ser. »

Futuro do Presente do Conjunctivo :— « Seja,
quando, ou como, ou porque haja ou tenha de ser. »

Futuro do Preterito do Conjunctivo :— « Fosse,
quando, ou como, ou porque houvesse ou tivesse de
ser
 ».

Verbo attributivo.

Chama-se, attributivo ou adjectivo, o verbo quando
se acha unido ao attributo, isto, por oposição
65ao verbo substantivo, ou quando está d’elle separado,
como si se dissesse verbo combinado com um
attributo ou um adjectivo.

A necessidade de abreviar o discurso, para de
algum modo acompanhar o pensamento na rapidez,
levou o homem a unir o verbo ao attributo assim,
em vez de dizer com duas palavras, Ser creante,
Ser vivente
, disse com uma só, Crear, Viver, o que
é muito mais conciso .

Tres são as terminações infinitivas do verbo attributivo
na lingua portugueza, e por conseguinte
tres as conjugações a que dão origem : a primeira
em, ar , como, Amar ; a segunda em, êr, como, Mover ;
a terceira : em, ir, como Unir.

Todas estas tres terminações comprehendem o
attributo grammatical e o verbo, Ser, que se torna
patente na terminação em, er, da segunda conjugação.
A terminação em, ar, é evidentemente uma
terminação contracta de, aer, e a terminação em, ir,
é tambem outra terminação contracta de, ier. Assim,
Amar, quer dizer, amante ser, ou ser o que ama ;
Mover, movente ser, ou ser o que move ; Unir, uninte
ser, ou ser o que une.

A terminação infinitiva em ôr, que só se nota no
verbo, Pôr, e seus compostos, não dá origem a uma
66conjugação especial, porque, Pôr, é contracção de,
Pôer, como se dizia antigamente.

Primeira conjugação.
Formas simples do verbo em ar.

Modo indicativo.

Presente.

N. S. Amo (sou amante), amas, ama.
N. P. Amamos, amais, amão.

Preterito imperfeito.

N. S. Amava, amavas, amava.
N. P. Amavamos, amaveis amavão.

Preterito perfeito.

N. S. Amei, amaste, amou.
N. P. Amámos, amastes, amárão.

Preterito mais que perfeito.

N. S. Amára, amáras, amára.
67N. P. Amáramos, amáreis, amárão.

Futuro absoluto.

N. S. Amarei, amarás, amará.
N. P. Amaremos, amareis, amarão.

Modo condicional.

Futuro.

N. S. Amaria, amarias, amaria.
N. P. Amariamos, amarieis, amarão.

Modo imperativo.

Futuro.

N. S. Ama tu.
N. P. Amai vós.

Modo conjunctivo.

Presente.

N. S. Ame, ames, ame.
68N. P. Amemos, ameis, amem.

Preterito imperfeito.

N. S. Amasse, amasses, amasse.
N. P. Amassemos, amasseis, amassem.

Futuro.

N. S. Amar, amares, amar.
N. P. Amarmos, amardes, amarem.

Modo infinitivo impessoal

Presente.

Amar.

Participio presente.

Amando.

Gerundio.

Em amando.69

Participio preterito.

Amado, amada.

Supino.

Amado.

Modo infinito pessoal.

Presente.

N. S. Amar eu, amares tu, amar elle.
N. P. Amarmos nós, amardes vós, amárem elles.

N. B. Fórma antiquada do condicional preterito :

N. S. Amára, amáras, amára.
N. P. Amáramos, amáreis, amárão.

Segunda conjugação.
Fórmas Simples do verbo em er

Modo indicativo.

Presente.

N. S. Movo (sou movente), moves, move.
70N. P. Movemos, moveis, movem.

Preterito imperfeito.

M. S. Movia, movias, movia.
N. P. Moviamos, movieis, movião.

Preterito perfeito.

N. S. Movi, moveste, moveo.
N. P. Movémos, movestes, movérão.

Preterito mais que perfeito.

N. S. Movêra, movêras, movêra.
N. P. Movêramos, movêreis, movêrão’.

Futuro absoluto.

N. S. Moverei, moverás, moverá.
N. P. Moveremos, movereis, moveráõ.

Modo condicional.

Futuro.

N. S. Moveria, moverias, moveria.
N. P. Moveriamos, moverieis, moverião.71

Modo imperativo.

Futuro.

N. S. Move tu.
N. P. Movei vós.

Modo conjunctivo.

Presente.

N. S. Mova, movas, mova.
N. P. Movamos, movais ; movão.

Preterito imperfeito.

N. S. Movesse ; movesses, movesse.
N. P. Movessemos, movesseis, movessem.

Futuro.

N. S. Mover, moveres, mover.
N. P. Movermos, moverdes, moverem.

Modo infinito impessoal.

Presente.

Mover.72

Participio presente.

Movendo.

Gerundio.

Em movendo.

Participio passado.

Movido, movida.

Supino.

Movido.

Modo infinito pessoal.

Presente.

N. S. Mover eu, moveres tu, mover elle.
N. P. Movermos nós, moverdes vós, moverem elles.

N. B. Fórma do condicional preterito antiquado :

N. S. Movêra, movêras, movêra.
N. P. Movêramos ; movêreis, movêrão.73

Terceira conjugação.
Fórmas simples do verbo em ir.

Modo indicativo.

Presente.

N. S. Uno (sou uninte), unes, une.
N. P. Unimos, unis, unem.

Preterito imperfeito.

N. S. Unia, unias, unia.
N. P. Uniamos, unieis, união

Preterito perfeito.

N. S. Uni, uniste, unio.
N. P. Unimos, unistes união.

Preterito mais que perfeito.

N. S. Unira, uniras, unira.
N. P. Uniramos, unireis, unirão.74

Futuro absoluto.

N. S. Unirei, unirás, unirá.
N. P. Uniremos, unireis, uniráõ,

Modo condicional.

Futuro.

N. S. Uniria, unirias, uniria.
N. P. Uniriamos, unirieis, unirião.

Modo imperativo.

Futuro.

N. S. Une tu.
N. P. Uní vós.

Modo conjunctivo.

Presente.

N. S. Una, unas, una.
N. P. Unamos, unais, unão.75

Preterito imperfeito.

N. S. Unisse, unisses, unisse.
N. P. Unissemos, unisseis, unissem.

Futuro.

N. S. Unir, unires, unir.
N. P. Unirmos, unirdes, unirem.

Modo infinito impessoal.

Presente.

Unir.

Participio presente.

Unindo.

Gerundio

Em unindo.

Participio preterito

Unido, unida.76

Supino.

Unido.

Modo infinito pessoal.

Presente.

N. S. Unir eu, unires tu, unir elle.
N. P. Unirmos nós, unirdes vós, unirem elles.

N. B. Fórma do condicional preterito antiquado :

N. S. Unîra, unîras, unîra.
N. P. Unîramos, unîreis, unîrão.

Os tempos compostos do verbo attributivo formão-se
com os auxiliares, Haver e Ter, como os
do verbo substantivo e pela maneira que fica descripta
quando delle tracto.

Porei aqui para exemplo unicamente as primeiras
pessôas do singular e plural, porque as outras,
facil é formal-as, conhecidas as fórmas simples dos
auxiliares.77

Tempos compostos do verbo em ar.

Modo indicativo.

Preterito perfeito composto.

N. S. Hei ou tenho amado.
N. P. Havemos ou temos amado.

Preterito anterior.

N. S. Houve ou tive amado.
N. P. Houvemos ou tivemos amado.

Preterito mais que perfeito composto.

N. S. Havia ou tinha amado.
N. P. Haviamos ou tinhamos amado.

Futuro imperfeito composto

N. S. Hei ou tenho de amar.
N. P. Havemos ou temos de amar.78

Futuro perfeito composto.

Primeira Fórma.

N. S. Haverei ou terei amado.
N. P. Haveremos ou teremes amado.

Segunda Fórma.

N. S. Haverei ou terei de amar.
N. P. Haveremos ou teremos de amar.

Modo condicional.

Futuro perfeito composto.

Primeira Fórma.

N. S. Haveria ou teria amado.
N. P. Haveriamos ou teriamos amado.

Segunda Fórma.

N. S. Haveria ou teria de amar.
N. P. Haveriamos ou teriamos de amar.79

Modo infinito impessoal

Preterito.

Haver ou ter amado,

Participio preterito composto.

Havendo ou tendo amado.

Futuro.

Haver ou ter de amar.

Participio futuro composto.

Havendo ou tendo de amar.

Modo infinito pessoal.

Preterito.

N. S. Haver eu ou ter eu amado.
N. P. Havermos nós ou termos nós amado.

Futuro.

N. S. Haver eu ou ter eu de amar.
80N. P. Havermos nós ou termos nós de amar.

N. B. Fórma antiquada do condicional preterito.
composto :

N. S. Houvera ou tivera amado.
N. P. Houveramos ou tiveramos amado.

Tempos compostos dos verbos em er.

Modo indicativo.

Preterito perfeito composto.

N. S. Hei ou tenho movido.
N. P. Havemos ou temos movido.

Preterito anterior.

N. S. Houve ou tive movido.
N. P. Houvemos ou tivemos movido.

Preterito mais que perfeito composto.

N. S. Havia ou tinha movido.
N. P.Haviamos ou tinhamos movido.81

Futuro imperfeito composto.

N. S. Hei ou tenho de mover.
N. P. Havemos ou temos de mover.

Futuro perfeito composto.

Primeira Fórma.

N. S. Haverei ou terei movido.
N. P. Haveremos ou teremos movido.

Segunda Fórma.

N. S. Haverei ou terei de mover.
N. P. Haveremos ou teremos de mover.

Modo condicional.

Futuro perfeito composto.

Primeira Fórma.

N. S. Haveria ou teria movido.
N. P. Haveriamos ou teriamos movido.82

Segunda Fórma.

N. S. Haveria ou teria de mover.
N. P. Haveríamos ou teriamos de mover.

Modo infinito impessoal

Preterito.

Haver ou ter movido.

Participio preterito composto.

Havendo ou tendo movido.

Futuro.

Haver ou ter de mover.

Participio futuro composto.

Havendo ou tendo de mover.

Modo infinito pessoal.

Preterito.

N. S. Haver eu ou ter eu movido.
83N. P. Havermos nós ou termos nós movido.

Futuro.

N S. Haver eu ou ter eu de mover.
N. P. Havermos nós ou termos nós de mover.

N. B. Fórma antiquada do condicional preterito
composto :

N. S. Houvera ou tivera movido.
N. P. Houveramos ou tiveramos movido.

Tempos compostos do verbo em ir.

Modo indicativo.

Preterito perfeito composto.

N. S. Hei ou tenho unido.
N. P. Havemos ou temos unido.

Preterito anterior.

N. S. Houve ou tive unido.
N. P. Houvemos ou tivemos unido.84

Preterito mais que perfeito composto.

N. S. Havia ou tinha unido.
N. P. Haviam os ou tinhamos unido.

Futuro imperfeito composto.

N. S. Hei ou tenho de unir.
N. P. Havemos ou temos de unir.

Futuro perfeito composto.

Primeira Fórma.

N. S. Haverei ou terei unido.
N. P. Haveremos ou teremos unido.

Segunda Fórma.

N. S. Haverei ou terei de unir.
N. P. Haveremos ou teremos de unir.

Modo condicional.

Futuro perfeito composto.

Primeira Fórma.

N. S. Haveria ou, teria unido.
85N. P. Haveriamos ou teriamos unido.

Segunda Fórma.

N. S. Haveria ou teria de unir.
N. P. Haveriamos ou teriamos de unir.

Modo infinito impessoal

Preterito.

Haver ou ter unido.

Participio preterito composto.

Havendo ou tendo unido.

Futuro.

Haver ou ter de unir.

Participio futuro composto.

Havendo ou tendo de unir.86

Modo infinito pessoal.

Preterito.

N. S. Haver eu ou ter eu unido.
N. P. Havermos nós ou termos nós unido.

Futuro.

N. S. Haver eu ou ter eu de unir.
N. P. Havermos, nós ou termos nos de unir.

N. B. Fórma antiquada do condicional preterito
composto :

N. S. Houvera ou tivera unido.
N. P. Houveramos ou tiveramos unido.

N. B. Os tempos compostos do modo conjunctivo,
tanto do verbo, ser, como dos verbos, amar,
mover, unir
, cuja exemplificação omittimos para
não avolumar muito este livro, formão-se como os
do indicativo : o preterito propriamente dito, o preterito
mais que perfeito, e a primeira fórma do futuro
composto, com os auxiliares, haver e ter, e os
supinos, sido, amado, movido, unido, como se vê nas
primeiras pessoas do singular de cada um dos referidos
tempos em ordem successiva, « haja ou tenha
sido, amado, movido, unido » ;87

« houvesse ou tivesse sido, amado, movido, unido » ;
« houver ou tiver sido, amado, movido, unido » ;
a segunda fórma do futuro composto, com os mesmos
auxiliares e o infinito dos verbos, ser, amar,
mover, unir
, como se vê na primeira pessôa do singular,
« houver ou tiver de ser, amar, mover, unir ».

Para melhor se conhecer que o verbo attributivo
consta de um adjectivo, que é o attributo, e do verbo
substantivo, que affirma a existencia d’elle no sujeito,
passarei agora a conjugal-o em seus tempos simples,
pondo claras as fórmas mutiladas que representão
o attributo e o verbo, das quaes a primeira se
chama a radical ou raiz, e a segunda ou a terminação
é o mesmo verbo. Tomarei o verbo em, er, em
que mais facilmente se pode verificar isto, que no
verbo em, ar, ou em, ir, cujas terminações são contractas.
Sirva de exemplo o verbo, temer.

[Tempos compostos do verbo Temer]

Modo indicativo.

Presente.

N. S. Tem-o, temente sou.
88Tem-es, temente és.
Tem-e, temente é.

N. P. Tem-emos, tementes somos.
Tem-eis tementes sois.
Tem-em, tementes são.

Preterito imperfeito.

N. S. Tem-ia, temente era.
Tem-ias, temente eras.
Tem-ia, temente era.

N. S. Tem-iamos, tementes éramos.
Tem-ieis, tementes ereis.
Tem-ião, tementes erão.

Preterito perfeito.

N. S. Tem-i, temente fui.
Tem-este, temente foste.
Tem- êo, temente foi.

N. S. Tem-êmos, tementes fomos,
Tem-estes, tementes fostes.
Tem-êrão, tementes fôrão.

Preterito mais que perfeito.

N. S. Tem-êra, temente fôra.
89Tem-êras, temente fôras.
Tem-êra, temente fôra.

N. P. Tem-êramos, tementes fôramos.
Tem-êreis, tementes fôreis.
Tem-êrão, tementes fôrão.

Futuro absoluto.

N. S. Tem-erei, temente serei.
Tem-erás, temente serás.
Tem-erá, temente será.

N. S. Tem-eremos, tementes seremos.
Tem-ereis, tementes sereis.

Tem-eráõ, tementes serão.

Modo condicional.

Futuro.

N. S. Tem -eria. temente seria.
Tem-erias, temente serias.
Tem-eria, temente seria.

N. S. Tem-eriamos, tementes seriamos.
Tem-erieis, tementes serieis.
Tem -erião, tementes serião.90

Modo imperativo.

Futuro.

N. S. Tem-e tu, temente , tu.
N. S. Tem-ei vós, tementes sêde vós.

Modo conjunctivo.

Presente.

N. S. Tem-a, temente seja.
Tem-as, temente sejas.
Tem-a, temente seja.

N. S. Tem-amos tementes sejamos.
Tem-ais, tementes sejais.
Tem-ão, tementes sejão.

Preterito imperfeito.

N. S. Tem-esse, temente fosse.
Tem-esses, temente fosses.
Tem-esse, temente fosse

N. S. Tem-essemos, tementes fossemos.
Tem-esseis, tementes fosseis.
Tem-esseis, tementes fossem.91

Futuro.

N. S. Tem-êr, temente fôr.
Tem-êres, temente fôres.
Tem-êr, temente fôr.

N. S. Tem-êrmos, tementes fôrmos.
Tem-êrdes, tementes fôrdes.
Tem-êrem, tementes fôrem.

Modo infinito impessoal.

Presente.

Tem-er, temente ser.

Participio presente.

Tem-endo, temente sendo.

Gerundio.

Em Tem-endo, em temente sendo.92

Participio preterito.

Temido, temida : 11

Supino.

Tem-ido, temente sido.

Modo infinito pessoal.

Presente.

N. S. Tem-er eu, temente ser eu.
Tem-eres tu, temente seres tu.
Tem-er elle, temente ser elle.

N. S. Tem -érmos nós, tementes sermos nós.
Tem-erdes vós, tementes serdes vós.
Tem-erem elles, tementes serem elles.

O verbo attributivo divide-se em, transitivo, intransitivo,
relativo, reflexo
e pronominal.93

Verbo transitivo

Chama-se, transitivo, o verbo attributivo, quando
passa a acção do sujeito a outro sujeito diverso em
que ella se emprega, e que se denomina, complemento
directo ou objectivo
do verbo. Exemplo :

« Pedro estuda a grammatica ».

Neste exemplo, a acção exercida pelo sujeito, Pedro,
recae sobre, a grammatica, que é um sujeito
diverso de, Pedro, como é facil verificar, mudando-se
a oração para a passiva : « A grammatica é estudada
por Pedro ».

Na lingua portugueza o complemento directo ou
objectivo do verbo transitivo é sempre precedido
da preposição, a, quando é nome de pessôa. Exemplo :

« Pedro estima a João ».

A preposição porem que o precede, pode algumas
vezes estar occulta, como se vê n’est’outro
exemplo :

« Criou Antonio como filho ; isto é, a Antonio ».

O verbo transitivo, pode ser ao mesmo tempo,
relativo, quando, alem do complemento directo ou
objectivo, pede um termo de relação, que se denomina,
complemento indirecto ou terminativo. Exemplo :

« Dei um livro a Pedro ».94

N’este exemplo, a Pedro, complemento indirecto
ou terminativo, é o termo de relação da acção do
sujeito occulto, Eu, expressa pelo verbo, e recebida
pelo Sujeito diverso, ou complemento directo ou
objectivo, um livro, como é ainda facil verificar,
mudando-se a oração para a passiva :

« Um livro foi dado por mim a Pedro ».

O verbo transitivo, pode tambem converter-se
em, intransitivo, quando, tomado absolutamente, não
passa a acção do sujeito para outro sujeito diverso,
como se vê n’este exemplo :

« Pedro ama ; isto é, tem ou experimenta amor ».

A razão d’isto é que o attributo grammatical,
amante, que exprime a acção que o verbo substantivo
affirma do sujeito, é tomado n’este caso como
simples adjectivo verbal ; ao passo que, quando o
verbo é transitivo, como, « Amo a Deos », o attributo,
amante, conserva a sua fôrça de participio
latino no verbo portuguez, ou é um verdadeiro participio
alatinado. O mesmo se observa em Latim,
onde, amans, amantis, ora é simples adjectivo verbal,
ora participio.

N. B. Quando o Portuguez começou a formar-se
tinha participios presentes em, ante, ente, inte,
que depois se forão convertendo em, ando, endo, indo.
Ainda hoje dizemos, por exemplo : « Isto não obstante »,
95que vale tanto como, « Não obstando isto ».

D’ahi sem duvida a fôrça de participio que ainda
conserva no, verbo transitivo, o adjectivo attributivo,
ou o attributo com que se combina o verbo,
Ser.

Verbo intransitivo

Chama-se, intransitivo, o verbo attributivo, quando
não passa a acção do sujeito para outro sujeito
diverso. Exemplo :

« José fallou admiravelmente ».

N’este exemplo, a acção exercida pelo sujeito,
José, não passa para outro sujeito diverso ; fica no
mesmo que a exerce.

O verbo intransitivo, converte-se em, transitivo,
quando se lhe dá por complemento directo ou objectivo
o substantivo cognato do verbo acompanhado
de um adjectivo qualificativo, como se vê no seguinte
exemplo :

« Antonio vive vida feliz ».

N’este exemplo, a acção exercida pelo sujeito, Antonio,
passa para um sujeito diverso, vida feliz, mas
representado por substantivo cognato do verbo, e
com qualificação especial. A oração pode mudar-se
96para a passiva d’esta fórma : « Vida feliz se vive por
Antonio
 ».

O verbo intransitivo, pode tambem tornar-se, relativo,
quando se dá um termo de relação á acção
exercida pelo sujeito da proposição, como se vê nos
seguintes exemplos :

« Tu morreste para o mundo ».

« Ficou-lhe a gloria da acção ».

Verbo relativo.

Chama-se, relativo, o verbo attributivo, quando
pede complemento indirecto ou terminativo, ou um
termo de relação da acção exercida pelo sujeito.
Exemplos :

« O mundo obedece a Deus ».

« O sacerdote usa de vestes talares ».

N’estes exemplos, os complementos indirectos ou
terminativos dos verbos, obedece e usa, são termos
de relação, o primeiro, da acção exercida pelo sujeito,
o mundo, o segundo, da exercida pelo sujeito, o
sacerdote.

N. B. Querem alguns que o verbo simplesmente
relativo seja tambem transitivo, mas sem fundamento
plausivel, porque o complemento indirecto ou
terminativo, que se lhe junta, não recebe a acção
97exercida pelo sujeito ; é apenas d ella mero termo de
relação. Por isso o commum dos grammaticos faz
d’elle uma especie á parte.

Verbo reflexo pronominal.

Chama-se, verbo reflexo, o verbo attributivo,
quando se lhe dá por complemento directo ou objectivo
o mesmo pronome pessoal que representa o
sujeito ; e, pronominal reflexo, quando habitualmente
se conjuga com o referido pronome por aquelle
complemento ; porque então a acção exercida pelo
sujeito não passa para outro sujeito diverso, mas
reflecte sobre elle proprio. Exemplo do, verbo puramente
reflexo
 :

« Tu te feriste ».

Exemplo do, verbo pronominal reflexo.

« Eu não me queixo ».

Tanto n’um como n’outro exemplo, a acção exercida
pelo sujeito não se emprega em sujeito diverso ;
pois no primeiro reflecte sobre o sujeito, Tu, porque
recae no mesmo pronome da segunda pessôa, te,
e no segundo, sobre o sujeito, Eu, porque recae no
mesmo pronome da primeira pessôa, me.98

O verbo pronominal, é muitas vezes, relativo, como
se vê nestes exemplos :

« Condôo-me de ti ».

« Compunge-te de meus males ».

N. B. O verbo pronominal, que tanto concorre.
para dar expressão e harmonia ao discurso, era antigamente
muito mais frequente na lingua, do que
é hoje. Muitos verbos pronominaes portuguezes se
teem antiquado : entre outros, vir-se, e, partir-se,
seguramente pelo equivoco a que se prestavão em
sua significação.

Verbo attributivo composto.

Ha na lingua portugueza uma especie de, verbo
attributivo composto
, formado ordinariamente com
os verbos, estar, ficar, andar, ir, vir, e o gerundio
dos outros verbos, como, estar orando, ficar esperando
andar viajando, ir subindo, vir descendo, ou
ainda com o gerundio proprio, quando o verbo que
com elle se combina exprime movimento, como os
tres ultimos, andar andando, ir indo, vir vindo.

Esta especie de verbo composto pode ser, tansitivo,
intransitivo, relativo, reflexo
e pronominal,
segundo a natureza da significação do gerundio com
que se compõe, como se vê nos seguintes exemplos :99

(Transitivo) « Estou escrevendo cartas ».
(Intransitivo) « Ficou expirando ».
(Relativo) « Andou usando de banhos ».
(Reflexo) « Vou-me exercitando ».
(Pronominal) « Veio se queixando ».

Querem alguns grammaticos que, estar, ficar,andar,
ir, vir
, sejão verbos auxiliares quando se
combinão com os gerundios de outros verbos ; mas
em realidade o não são, já porque contribuindo,
por meio de tal combinação, para exprimir a acção
em movimento, não perdem toda a sua fôrça de
verbos attributivos, como, haver e ter, quando fazem
o oficio de verbos auxiliares ; já porque, a sêl-o,
o numero de taes auxiliares seria muito maior,
como se observa dos seguintes exemplos, e de outros
analogos, que podião ser adduzidos :

« Vivo estudando ».
« Morreo fallando ».
« Falla gritando ».
« Canta trabalhando ».
« Trabalha cantando ».
« Pinta escrevendo ».
« Escreve pintando ».
« Corre passeiando ».
« Passeia correndo ».
« Dorme roncando ».
100« Ronca dormindo ».

Com esta especie de verbo attributivo composto
pode formar-se toda a sorte de verbo frequentativo
porque a expressão do movimento ou está ao mesmo
tempo no verbo e no gerundio que com elle se
combina, como em, andou dizendo, foi começando,
ou unicamente no ultimo, como em, ficou esperando,
permaneceo trabalhando.

N. B. Ésta fórma de verbo é, como a do infinito
pessoal, uma riqueza especial á lingua portugueza,
que leva por uma e outra grande vantagem ás linguas
suas analogas e a muitas outras.

O verbo attributivo composto, conjuga-se tambem
com os auxiliares, Haver e Ter, como se passa
a ver.

Fórmas do, verbo attributivo composto, sem os
dois auxiliares.

[Verbo attributivo composto sem os auxiliares — Andar procurando]

Modo indicativo.

Presente.
(Sou andante sendo procurante.)

N. S. Ando procurando.
Andas procurando.
Anda procurando.101

N. P. Andamos procurando.
Andais procurando.
Andão procurando.

Preterito imperfeito.

N. S. Andava procurando.
Andavas procurando.
Andava procurando.

N. P. Andavamos.procurando.
Andáveis procurando.
Andavão procurando.

Preterito perfeito.

N. S. Andei procurando.
Andaste procurando.
Andou procurando.

N. P. Andámos procurando.
Andastes procurando.
Andárão procurando.

Preterito mais que perfeito.

N. S. Andára procurando.
Andáras procurando.
102Andára procurando.

N. P. Andáramos procurando.
Andáreis procurando.
Andárão procurando.

Futuro absoluto.

N. S. Andarei procurando.
Andarás procurando.
Andará procurando.

N. P. Andaremos procurando.
Andareis procurando.
Andaráõ procurando.

Modo condicional.

Futuro.

N. S. Andaria procurando.
Andarias procurando.
Andaria procurando.

N. P. Andariamos procurando.
Andarieis procurando.
Andarião procurando.103

Modo imperativo.

Futuro.

N. S. Anda tu procurando.
N. P. Andai vós procurando.

Modo conjunctivo.

Presente.

N. S. Ande procurando.
Andes procurando.
Ande procurando.

N. P. Andemos procurando.
Andeis procurando.
Andem procurando.

Preterito imperfeito.

N. S. Andasse procurando.
Andasses procurando.
Andasse procurando.

N. P. Andassemos procurando.
Andasseis procurando.
Andassem procurando.104

Futuro.

N. S. Andar procurando.
Andares procurando.
Andar procurando.

N. P. Andarmos procurando.
Andardes procurando.
Andarem procurando.

Modo infinito impessoal

Presente.

Andar procurando.

Participio presente.

Andando procurando.

Gerundio.

Em andando procurando.

Participio preterito.

Não tem.105

Supino.

Andado procurando.

Modo infinito pessoal.

Presente.

N. S. Andar eu procurando.
Andares tu procurando.
Andar elle procurando.

N. P. Andarmos nós procurando.
Andardes vós procurando.
Andarem elles procurando.

Fórmas duplamente compostas do, verbo attributivo
composto
, em que entrão os auxiliares,
Haver e Ter.

[Verbo attributivo composto com os auxiliares — Haver e Ter]

Modo indicativo.

Preterito perfeito.

N. S. Hei ou tenho andado procurando.
106N. P. Havemos ou temos andado procurando.

Preterito anterior.

N. S. Houve ou tive andado procurando.
N. P. Houvemos ou tivemos andado procurando.

Preterito mais que perfeito.

Primeira Fórma.

N. S. Havia ou tinha andado procurando.
N. P. Haviamos ou tinhamos andado procurando

Segunda Fórma.

N. S. Houvera ou tivera andado procurando.
N. P. Houveramos ou tiveramos andado procurando.

Futuro imperfeito.

N. S. Hei ou tenho de andar procurando.
N. P. Havemos ou temos de andar procurando.

Futuro perfeito.

Primeira Fórma.

N. S. Haverei ou terei andado procurando.
107N. P. Haveremos ou teremos andado procurando.

Segunda Fórma.

N. S. Haverei ou terei de andar procurando.
N. P. Haveremos ou teremos de andar procurando.

Modo condicional.

Futuro perfeito.

Primeira Fórma.

N. S. Haveria ou teria andado procurando.
N. P. Haveriamos ou teriamos andado procurando.

Segunda Fórma.

N. S. Haveria ou teria de andar procurando.
N. P. Haveriamos ou teriamos de andar procurando.

Modo conjunctivo.

Preterito.

N. S. Haja ou tenha andado procurando.
108N. P. Hajamos ou tenhamos andado procurando.

Mais que perfeito.

N. S. Houvesse ou tivesse andado procurando.
N. P. Houvessemos ou tivessemos andado procurando.

Futuro imperfeito.

N. S. Haja ou tenha de andar procurando.
N. P. Hajamos ou tenhamos de andar procurando.

Futuro perfeito.

Primeira Fórma.

N. S. Houver ou tiver andado procurando.
N. P. Houvermos ou tivermos andado procurando.

Segunda Fórma.

N. S. Houver ou tiver de andar procurando.
N. P. Houvermos ou tivermos de andar procurando.109

N. B. Damos em sua integra as fórmas compostas
do modo conjunctivo deste verbo com os auxiliares,
Haver, e, ter, nas primeiras pessôas do singular
e plural, contra o que praticámos com os outros,
por ser elle duplamente composto e apresentar
mais difficuldade.

Voz passiva do verbo transitivo.

O verbo attributivo, está sempre na fórma de
verbo activo, porque a lingua portugueza não tem
fórma de, verbo passivo ; mas fórma-se a voz passiva
do, verbo transitivo, juntando-se, como nas linguas
suas analogas, ao verbo substantivo o participio
preterito do, verbo attributivo, ou o attributo sob
ésta fórma, como se vê em, Amar (voz activa), Ser
amado
(voz passiva).

Conjugação do verbo transitivo apassivado.

[Ser amado]

Modo indicativo.

Presente

N. S. Sou amado, ou amada.
110És Amado, ou amada.
É amado, ou amada.

N. P. Somos amados, ou amadas.
Sois amados, ou amadas.
São amados, ou amadas.

Preterito imperfeito.

N. S. Era amado, ou amada.
Eras amado, ou amada.
Era amado, ou amada.

N. P. Eramos amados, ou amadas.
Ereis amados, ou amadas.
Erão amados, ou amadas.

Preterito perfeito.

N. S. Fui amado, ou amada.
Foste amado, ou amada.
Foi amado, ou amada.

N. P. Fomos amados, ou amadas.
Fostes amados, ou amadas.
Forão amados, ou amadas.

Preterito mais que perfeito.

N. S. Fôra amado, ou amada.
111Fôras amado, ou amada.
Fôra amado, ou amada.

N. P. Fôramos amados, ou amadas.
Fôreis amados, ou amadas.
Fôrão amados, ou amadas.

Futuro absoluto.

N. S. Serei amado, ou amada.
Serás amado, ou amada.
Será amado, ou amada.

N. P. Seremos amados, ou amadas.
Sereis amados, ou amadas.
Serão amados, ou amadas.

Modo condicional.

Futuro.

N. S. Seria amado, ou amada.
Serias amado, ou amada.
Seria amado, ou amada.

N. P. Seriamos amados, ou amadas.
Serieis amados, ou amadas.
Serião amados, ou amadas.112

Modo imperativo.

Futuro.

N. S. Sê tu amado, ou amada.
N. P. Sêde vós amados, ou amadas.

Modo conjunctivo.

Presente.

N. S. Seja amado, ou amada.
Sejas amado, ou amada.
Seja amado, ou amada.

N. P. Sejamos amados, ou amadas.
Sejais amados, ou amadas.
Sejão amados, ou amadas.

Preterito imperfeito.

N. S. Fosse amado, ou amada.
Fosses amado, ou amada.
Fosse amado, ou amada.

N. P. Fossemos amados, ou amadas.
Fosseis amados, ou amadas.
Fossem amados, ou amadas.113

Futuro

N. S. Fôr amado, ou amada.
Fôres amado, ou amada.
Fôr amado, ou amada.

N. P. Fôrmos amados, ou amadas.
Fôrdes amados, ou amadas.
Fôrem amados, ou amadas.

Modo infinito impessoal

Presente.

Ser amado, ou amada.

Participio presente.

Sendo amado, ou amada.

Modo infinito pessoal.

Presente.

N. S. Ser eu amado, ou amada.
Seres tu amado, ou amada.
Ser elle amado, ou amada.114

N. P. Sermos nós amados, ou amadas.
Serdes vós amados, ou amadas.
Serem elles amados, ou amadas.

N. B. O participio preterito é o mesmo do,
verbo attributivo
, que se apassiva, e, neste caso,
amado, amada ; porque na lingua portugueza e suas
analogas o participio preterito do, verbo attributivo,
que em Latim pertencia ao mesmo verbo com fórma
especial passiva, tem fôrça de participio passivo.

[Haver ou Ter sido amado]

Fórmas compostas do, verbo transitivo, apassivado,
em que entrão os auxiliares, Haver, e, Ter.

Modo indicativo.

Preterito perfeito.

N. S. Hei ou tenho sido amado, ou amada.
N. P. Havemos ou temos sido amados, ou amadas.

Preterito anterior.

N. S. Houve ou tive sido amado ou amada.
115N. P. Houvemos ou tivemos sido amados,
ou amadas.

Preterito mais que perfeito.

Primeira Fórma.

N. S. Havia ou tinha sido amado, ou amada.
M P. Haviamos ou tinhamos sido amados, ou
amadas.

Segunda Fórma.

N. S. Houvera ou tivera sido amado, ou amada.
N. P. Houveramos ou tiveramos sido amados, ou
amadas.

Futuro imperfeito.

N. S. Hei ou tenho de ser amado, ou amada.
N. P. Havemos ou temos de ser amados, ou amadas.

Futuro perfeito.

Primeira Fórma.

N. S. Haverei ou terei sido amado ou amada.
116N. P. Haveremos ou teremos sido amados ou
amadas.

Segunda Fórma.

N. S. Haverei ou terei de ser amado ou amada.
N. S. Haveremos ou teremos de ser amados ou amadas.

Modo condicional.

Futuro perfeito.

Primeira Fórma.

N. S. Haveria ou teria sido amado ou amada.
N. P. Haveriamos ou teriamos sido amados ou
amadas.

Segunda Fórma.

N. S. Haveria ou teria de ser amado ou amada.

N. P. Haveriamos ou teriamos de ser amados ou
amadas.

Modo infinito impessoal

Presente.

Haver ou ter sido amado ou amada.117

Participio preterito composto.

Havendo ou tendo sido amado ou amada.

Futuro.

Haver ou ter de ser amado ou amada.

Participio futuro composto.

Havendo ou tendo de ser amado ou amada.

Modo infinito pessoal.

Preterito.

N. S. Haver ou ter eu sido amado ou amada.
N. P. Havermos ou termos nós sido amados ou
amadas.

Futuro.

N. S. Haver ou ter eu de ser amado ou amada.
N. P. Havermos ou termos nós de ser amados,
ou amadas.

N. B. Os tempos compostos do conjunctivo
formão-se como os do indicativo : o preterito perfeito,
118o preterito mais que perfeito, e a primeira fórma do
futuro, combinando-se os auxiliares, Haver, e, Ter,
e o supino do, verbo Ser, « sido », com o participio
do, amar, « amado, amada », como se vê nas primeiras
pessôas dos referidos tempos em ordem successiva,
« Haja ou tenha sido amado ou amada » ; « Houvesse ou
tivesse sido amado ou amada » ; « Houver ou tiver
sido amado ou amada » : a segunda fórma do futuro,
combinando-se os auxiliares e o infinito do verbo,
Ser, com o sobredito participio do verbo, Amar,
como se vê na primeira pessôa do mesmo tempo,
« Houver ou tiver de ser amado, ou amada ».

O verbo substantivo, que os grammaticos chamão
n’este caso, verbo auxiliar, ainda o é menos
que, estar, ficar, andar, ir, vir, quando se combinão
com o gerundio de outros verbos, porque está
como em qualquer outro caso exprimindo a affirmação,
e nada perde de sua fôrça, como acontece
com, Haver, e, Ter, quando se convertem em auxiliares.
« Sou amado », é uma proposição, na qual o
o verbo, sou, é o nexo ou cópula que une o attributo,
amado, ao sujeito occulto, eu.

Assim a passividade está unicamente no participio,
amado, quando digo, sou amado ; como a actividade
unicamente no participio alatinado, amante,
quando digo, amo, que é o mesmo que, sou amante.119

N. B. Ésta maneira de apassivar o, verbo attributivo,
menos no que se refere aos tempos compostos
com os auxiliares, Haver, e, Ter, adoptou-a o
Portuguez, bem como os idiomas seus analogos,
da segunda maneira por que os Latinos apassivavão
o mesmo verbo, os quaes tanto dizião, com fórma
especial passiva, « Amor », Sou amado, ou amada,
como, á maneira portugueza, italiana, hespanhola
e franceza, « Sum amatus, amata », Sou amado ou
amada, com a simples addição da fórma neutra,
amatum, que não temos.

Ha ainda na lingua portugueza outra fórma de
apassivar o, verbo transitivo, nas terceiras pessôas
do singular e plural, dando-lhe por complemento
directo apparente o pronome, se, quando o sujeito
da proposição é cousa, e não pessôa propriamente
dita, como se vê em, « A obra fez-se », « Celebrou-se
a festa ».

[Fazer-se]

Fórmas simples do, verbo transitivo, apassivado
unicamente nas terceiras pessôas :

Modo indicativo.

Presente.

N. S. Faz-sefeito ou feita).
120N. P. Fazem se.

Preterito imperfeito.

N. S. Fazia-se.
N. P. Fazião-se.

Preterito perfeito.

N. S. Fez- se.
N. P. Fizerão-se.

Preterito mais que perfeito.

N. S. Fizera-se.
N. P. Fizerão-se.

Futuro absoluto.

N. S. Se fará, ou far-se-ha.
N. P. Se farão, ou far-se-hão.

Modo Condicional.

Futuro.

N. S. Se faria, ou far-se-hia.
121N. P. Se farião, ou far-se-hião.

Modo conjunctivo.

Presente.

N. S. Faça-se.
N. P. Fação-se.

Preterito imperfeito.

N. S. Fizesse-se, ou se fizesse.
N. P. Fizessem-se, ou se fizessem.

Futuro.

N. S. Fizer-se, ou se fizer.
N. P Fizerem-se, ou se fizerem.

Modo infinito impessoal.

Fazer-se.

Participio presente.

Fazendo-se.122

Gerundio.

Em fazendo-se.

Modo infinito pessoal.

Presente.

N. S. Fazer-se.
N. P. Fazerem-se.

N. B. Na segunda fórma do futuro do indicativo
e do condicional intercala-se o pronome, se,
no verbo ; pois, « Far-se-ha, far-se-hia », é o mesmo
que, « Ha de se fazer ou fazer-se, Havia de se fazer
ou fazer-se », e, em última anályse, « Se fará, Se faria ».
Nos mais tempos do indicativo, ou conjunctivo,
ou infinito, tanto se pode collocar o pronome
se, antes como depois : faz-se, ou se faz ; faça-se, ou
se faça ; fazer-se, ou se fazer.

Fórmas compostas do, verbo transitivo, apassivado
unicamente nas terceiras pessôas.123

[Haver-se ou Ter-se feito]

Modo indicativo.

Preterito perfeito.

N. S. Ha-se ou tem-se feito.
N. P. Hão-se ou teem-se feito.

Preterito anterior.

N. S. Houve-se ou teve-se feito.
N. P. Houverão-se ou tiverão-se feito.

Preterito mais que perfeito.

Primeira Fórma.

N. S. Havia-se ou tinha-se feito.
N. P. Havião-se ou tinhão-se feito.

Segunda Fórma.

N. S. Houvera-se ou tivera-se feito.
N. P. Houverão-se ou tiverão-se feito.

Futuro imperfeito

N. S. Ha-se ou tem-se de fazer.
124N. P. Hão-se ou teem-se de fazer.

Futuro perfeito.

Primeira Fórma.

N. S. Se haverá ou se terá, haver-se-ha ou ter-se-ha
feito.
N. P. Se haverão ou se terão, haver-se-hão ou
ter-se-hão feito.

Segunda Fórma.

N. S. Se haverá ou se terá, haver-se-ha ou ter-se-ha
de fazer.
N. P. Se haverão ou se terão, haver-se-hão ou
ter-se-hão de fazer.

Modo condicional.

Futuro perfeito.

Primeira Fórma.

N. S. Se haveria ou se teria, haver-se-hia ou
ter-se-hia feito.
125N. P. Se haverião ou se terião, haver-se-hião ou
ter-se-hião feito.

Segunda Fórma.

N. S. Se haveria ou se teria, haver-se-hia ou
ter-se-hia de fazer.

N. P. Se haverião ou se terião, haver-se-hião ou
ter-se-hião de fazer.

Modo infinitivo impessoal

Preterito.

Haverá ou ter-se feito.

Participio preterito composto.

Havendo-se ou tendo-se feito.

Modo infinito pessoal.

N. S. Haver-se ou ter-se feito.
N. P. Haverem-se ou terem-se feito.

N. B. Os tempos compostos do modo conjunctivo
formão-se como os do indicativo : o preterito
126propriamente dito, o preterito mais que perfeito, e a
primeira fórma do futuro, com os auxiliares, Haver, e,
Ter, o pronome, se, e o supino do verbo, Fazer, « feito »,
como se vê nas terceiras pessôas do singular dos
referidos tempos em ordem successiva, « Haja-se ou
tenha-se feito » ; Houvesse-se ou tivesse-se feito ; Houver-se
ou tiver-se feito : a segunda fórma do futuro, com
os referidos auxiliares e pronome, e o infinito do verbo,
Fazer, como se vê na terceira pessoa do singular
do mesmo tempo, « Houver-se ou tiver-se de fazer ».

Ha ainda na lingua portugueza outra maneira
de apassivar o, verbo transitivo, formando uma especie
de verbo composto com o verbo, Estar, o
gerundio do verbo, Ser, e o participio do verbo que
se apassiva.

Exemplos :

« Estou sendo felicitado ».
« Estás sendo accommettido ».
« Está sendo illudido ».
« Estamos sendo enganados ».
« Estais sendo defendidos ».
« Estão sendo punidos ».

Com o verbo composto por esta fórma na voz
passiva se exprime a paixão em movimento, assim
como com o verbo composto com o gerundio na
voz activa se representa a acção em movimento.127

N. B. A lingua portugueza, que é de todas as
modernas a mais rica em fórmas verbaes, tem tambem
outra maneira de apassivar o verbo attributivo
unicamente na terceira pessôa do singular, de que
logo me occuparei.

Voz media ou reflexa

A voz media ou reflexa é uma especie de voz entre
a voz activa e a passiva. Diz-se que o, verbo attributivo,
está na voz media ou reflexa, quando é
ou simplesmente, reflexo, ou, reflexo pronominal.
Na primeiro caso, o verbo não dá logar á conjugação
alguma especial, porque é accidentalmente, reflexo ;
no segundo, sim, porque o é sempre, ou se
conjuga habitualmente com o mesmo pronome que
representa o sujeito.

Fórmas simples do, verbo reflexo pronominal.128

Modo indicativo.

Presente.

N . S. Eu me condôo — Eu sou condoente a mim.
Tu te condóes — Tu és condoente a ti.
Elle se condóe — Elle é condoente a si.

N. P. Nós nos condoemos — Nós somos condoentes
a nós.
Vós vos condoeis — Vós sois condoentes a
vós.
Elles se condóem — Elles são condoentes
a si.

Preterito imperfeito.

N. S. Eu me condoía.
Tu te condoías.
Elle se condoía.

N. P. Nós nos condoíamos.
Vós vos condoíeis.
Elles se condoíão.

Preterito perfeito.

N. S. Eu me condoí.
129Tu te condoeste.
Elle se condoêo.

N. P. Nós nos condoêmos.
Vós vos condoestes.
Elles se condoêrão.

Preterito mais que perfeito.

N. S. Eu me condoêra.
Tu te condoêras.
Elle se condoêra.

N. P. Nós nos condoêramos.
Vós vos condoêreis.
Elles se condoêrão.

Futuro absoluto.

N. S. Eu me condoerei.
Tu te condoerás.
Elle se condoerá.

N. P. Nós nos condoeremos.
Vós vos condoereis.
Elles se condoeráõ.130

Modo condicional.

Futuro.

N. S. Eu me condoeria.
Tu te condoerias.
Elle se condoeria.

N. P. Nós nos condoeríamos.
Vós vos condoeríeis.
Elles se condoerião.

Modo imperativo.

Futuro.

N. S. Condóe-te tu.

N. P. Condoei-vos vós.

Modo conjunctivo.

Presente.

N. S. Eu me condôa.
Tu te condôas.
Elle se condôa.

N. P. Nós nos condoâmos.
131Vós vos condoais.
Elle se condôão.

Preterito imperfeito.

N. S. Eu me condoesse.
Tu te condoesses.
Elle se condoesse.

N. P. Nós nos condoessemos.
Vós vos condoesseis.
Elles se condoessem.

Futuro.

N. S. Eu me condoer.
Tu te condoeres.
Elle se condoer.

N. P. Nós nos condoermos.
Vós vos condoerdes.
Elles se condoerem.

Modo infinito impessoal

Presente.

Condoer-se.132

Participio presente.

Condoendo-se.

Gerundio.

Em condoendo-se.

Modo infinito pessoal.

Presente.

N. S. Condoer-me eu.
Condoeres-te tu.
Condoer-se elle.

N. P. Condoermos-nos nós.
Condoerdes-vos vós.
Condoerem-se elles.

N. B. Os tempos compostos d’este verbo formão-se, como
os do verbo apassivado, nas terceiras
pessôas, com o pronome, se, quando tem por sujeito
cousa, com a unica differença de se lhe dar por
complemento directo ou objecto apparente os pronomes,
me, e, te, na primeira e segunda pessôa do
singular, e os pronomes, nos, e, vos, na primeira e segunda
133do plural, como se vê no preterito perfeito
composto do modo indicativo, « Eu me hei ou tenho
condoído, tu te has ou tens condoído, elle se ha ou
tem condoído, nós nos havemos ou temos condoído,
vós vos
haveis ou tendes condoído, elles se hão ou
teem condoído ».

O verbo attributivo, divide-se ainda em, regular,
irregular, defectivo
, e unipessoal.

Verbo regular.

Chama-se, regular, o verbo que em todos os seus
modos, tempos e pessoas se conforma com o paradigma
das tres conjugações, representado por,
Amar, Mover, Unir, ou outros verbos que d’elles não
discrepão em cousa alguma, como, por exemplo,
Cantar, Ceder, Illudir, &.

Verbo irregular.

Chama se, irregular, o verbo que em todos os seus
modos, tempos e pessôas se aparta do paradigma
134sobredito, como, Pôr, e seus compostos, ou somente
em alguns dos seus tempos e pessôas, como,
Pedir, Fazer, Dizer, &. N’este ultimo caso consiste
apenas a irregularidade em apartar-se o verbo da
radical ou raiz.

Sirva de exemplo, Pedir, cuja radical ou raiz é,
Ped :

« Presente do indicativo.

N. S. Peço, pedes, pede.
N. P. Pedimos, pedis, pedem ».

« Presente do conjuntivo.

N. S. Peça, peças, peça.
N. P. Peçamos, peçais, peção ».

A irregularidade n’este verbo está, como se vê,
unicamente na primeira pessôa do presente do indicativo
e no presente do conjunctivo, que apartão
da raiz, Ped ; pois, em todos os tempos e pessôas
que seguem a raiz, é elle regular.

N. B. Este verbo fazia antigamente na primeira
pessôa do presente do indicativo, « Pido ;no presente
135do conjunctivo, « Pida, pidas, pida, pidamos, pidais, .
pidão » ; e era regular, assim como outros que depois
se converètrão em irregulares, porque com leve
differença orthographica se escrevia, Pidir.

Verbo defectivo.

Chama-se, defectivo, o verbo a que faltão alguns
tempos e pessôas, como, por exemplo, Feder ; pois
não se diz na primeira pessôa do presente do indicativo,
fedo, nem no presente do conjunctivo, feda,
fedas, feda
, &, mas ou, cheiro mal, ou, estou fedendo
&. Todo verbo ou propriamente, unipessoal, ou
tomado como tal em casos especiaes, é por sua natureza,
defectivo.

N. B. Na lingua portugueza, a mais rica em fórmas
verbaes das que fallão hoje os povos cultos, é
rarissimo o verbo, defectivo, pois além do caso acima
não nos occorre outro ; ao passo que no Latim,
e até no Francez, é frequentissimo este verbo.
Ainda assim o povo baixo suppre as pessôas que
faltão ao verbo, feder, dizendo, feço, feça, feças,
feça, feçamos &
, o que não é usado pela gente culta.136

Verbo unipessoal.

Chama-se, unipessoal, o verbo que só tem a terceira
pessôa do singular. O verbo attributivo pode
ser, unipessoal, de duas maneiras : ou em fórma activa,
como, chove, venta, troveja, gea ; ou em fórma
apassivada, como, vive-se, falla-se, canta-se, come-se.
O primeiro é o, verbo unipessoal, propriamente
dito : o segundo, o verbo pessoal convertido em,
unipessoal.

É propriedade do, verbo unipessoal, conter em si
o sujeito e o attributo, de modo que com uma só
palavra se fórma proposição quando o verbo está na
voz activa, ou com duas, quando está na passiva :
por quanto, chove, é o mesmo que, « ha ou cahe
chuva » ; venta, o mesmo que, « ha ou sibila vento » ;
troveja, o mesmo que, « ha ou rebôa trovão » ; gea,
o mesmo que, « existe ou cahe geada » ; vive-se, vale
tanto como, « existe ou dá-se o viver ou a vida » ;
falla-se, tanto como, « existe ou ouve-se o fallar ou
a falla » ; canta-se, tanto como, « existe ou sôa o
cantar ou o canto » ; come-se, tanto como, « dá-se ou
tem cabimento o comer ou a comida » ; ou resolvendo-se
a proposição por est’outra maneira mais simples,
« o viver-se, o fallar-se, o cantar-se, o comer-se,
existe, ou tem cabimento ».137

Este segundo modo de converter em, unipessoal,
o verbo pessoal, é ainda uma maneira que possúe a
a lingua portugueza de apassivar o, verbo attributivo
unicamente na terceira pessôa do singular ; pois
vive-se, corre-se, escreve-se, é justamente o equivalente
dos verbos unipessoaes latinos com fórma
passiva, vivitur, curritur, scribitur.

O verbo, pêza-me, que se conjuga só na terceira
pessôa do singular, e sempre com o pronome pessoal,
é igualmente um verdadeiro verbo unipessoal,
porque tem o sujeito e o attributo incluidos em si,
como se vê n’este exemplo :

« Pêza-me de haver peccado », que vale tanto
como, « o pezar de haver peccado me possúe, ou se
apodera de mim ».

N. B. Aqui o verbo conjugado com o pronome
está na voz média ou reflexa, como já em outro
logar expliquei.

O mesmo verbo pessoal na fórma activa se unipersonalisa
algumas vezes, como se vê em, convem,
cumpre, importa, releva
. N’este caso porém toma
simplesmente a fórma, e não o caracter de verbo
unipessoal, porque não traz o sujeito incluido em
si, como, chove, relampêa, mas tem ordinariamente
por sujeito alguma proposição.

Exemplo :138

« Convem que estudes ».

« Cumpre que sejas virtuoso ».

« Importa partir cedo ».

« Releva seguires o caminho mais curto ».

O verbo unipessoal, converte-se tambem em pessoal,
quando se toma em sentido figurado, como se
observa nos seguintes exemplos :

« Chovião-lhe as desgraças uma sobre outra ».

« Trovejas na voz ».

Ha na lingua portugueza um, verbo unipessoal,
que se emprega quasi sempre com sujeito occulto,
o verbo, Haver, com a significação de, existir. Este
sujeito é de ordinario, numero, classe, especie, quantidade,
espaço, periodo
, como se vê nos seguintes
exemplos :

« Ha homens extraordinarios ; isto é , numero, classe,
especie
de homens ».

« Ha dias que não te tenho visto ; isto é, numero,
quantidade
de dias ».

« Ha tempos bem calamitosos ; isto é, espaço, periodo
de tempos ».

N. B. O emprego d’este verbo com sujeito occulto
é um dos idiotismos da lingua, assim como
o é tambem o do infinito pessoal, e o do verbo
composto com o gerundio.

Fórmas simples do verbo unipessoal, Haver.139

[Verbo unipessoal, Haver]

Modo indicativo.

Presente.

Ha (é havente, ou existente).

Preterito imperfeito.

Havia.

Preterito perfeito.

Houve.

Preterito mais que perfeito.

Houvera.

Futuro absoluto.

Haverá.

Modo condicional.

Futuro.

Haveria.140

Modo conjunctivo.

Presente.

Haja.

Preterito imperfeito.

Houvesse.

Futuro.

Houver.

Modo infinito.

Presente.

Haver.

Participio presente.

Havendo.

Supino.

Havido.141

Fórmas compostas do mesmo verbo.

Modo indicativo.

Preterito perfeito.

Ha ou tem havido.

Preterito anterior.

Houve ou teve havido.

Preterito mais que perfeito.

Primeira Fórma

Havia ou tinha havido.

Segunda Fórma

Houvera ou tivera havido.

Futuro imperfeito.

Ha ou tem de haver.142

Futuro perfeito.

Primeira Fórma.

Haverá ou terá havido.

Segunda forma.

Haverá ou terá de haver.

Modo condicional.

Futuro.

Primeira Fórma.

Haveria ou teria havido.

Segunda Fórma.

Haveria ou teria de haver.

Modo conjunctivo.

Preterito.

Haja ou tenha havido.143

Preterito mais que perfeito.

Houvesse ou tivesse havido.

Futuro.

Primeira Fórma.

Houver ou tiver havido.

Segunda Fórma.

Houver ou tiver de haver.

Modo infinito.

Preterito.

Haver ou ter havido.

Participio preterito.

Havendo ou tendo havido.

Participio futuro.

Havendo ou, tendo de haver.144

N. B. Este verbo não vem, como sonhão alguns
grammaticos, de, Habeo, latino, que nunca foi
tomado em tal accepção, mas do verbo francez, y
havoir
, que tem a mesma significação e emprego,
que o verbo portuguez, com a unica differença de
vir acompanhado do pronome indefinido, il que
indica o verdadeiro sujeito occulto, nombre, espèce,
quantité
&.

Os nossos clássicos costumão ás vezes juntar
tambem a este verbo a particula, ou adverbio, hi,
ahi ; o que acontece ordinariamente quando elle
vem com sujeito expresso, por exemplo :

« Não ha hi homem ».

« Não ha ahi cousa ».

Acessorios do verbo.

Participio presente.

O participio presente, ou, activo, do verbo attributivo
exprime a acção na actualidade. Na lingua
portugueza é este participio um adjectivo invariavelmente
singular e plural com a terminação em, ando,
endo, indo
, no verbo regular da 1.ª, 2.ª e 3.ª conjugação ;
145e em, ondo, no verbo irregular, pôr, e seus
compostos, como, amando, de amar ; movendo, de
mover ; unindo, de unir ; pondo, de pôr. É, transitivo,
ou, intransitivo, segundo a natureza da significação
do verbo d’onde nasce, e forma-se com elle
a proposição chamada, participio.

Exemplos :

« Reinando Priamo, foi destruida Troia ; isto é,
sendo Priamo reinante ».

« Administrando os reis justiça por si e pelos
que governão em seu nome, são os povos felizes ;
isto é, sendo os reis administrantes justiça, & ».

No primeiro exemplo, o participio, reinando, é intransitivo,
porque a acção exercida pelo sujeito,
Priamo, fica n’elle proprio : no segundo, o participio,
administrando, é transitivo, porque a acção
exercida pelo sujeito, reis, passa ao sujeito diverso,
justiça, em que se emprega

N. B. O participio presente, do verbo substantivo
em que se resolve o do verbo attributivo, exprime
unicamente a affirmação na actualidade. É
um simples accessorio verbal sem caracter de adjectivo,
porque vem sempre, como o verbo d’onde
nasce, separado do attributo, que communica tal
caracter ao participio do verbo attributivo. Exemplo :146

« Sendo Consul Cicero, foi debellada a conjuração
de Catilina ».

N’este exemplo, Consul, substantivo tomado adjectivamente,
é o attributo da proposição participio,
cujo sujeito é, Cicero.

Reinando Priamo, vale tanto como, « Quando
reinava, Priamo, ou em quanto reinava Priamo, e
como reinasse Priamo » ; proposições do modo indicativo
e conjunctivo, em que se resolve a do participio.

Assim a differença que existe entre o participio
presente
ou activo e o attributo incluido no verbo,
é a expressão da circumstancia de tempo em relação
á acção que se pratica, ou transmitte, residindo
a affirmação no participio do verbo substantivo,
que se combina com o attributo para formar o do
attributivo.

A differença de fórma entre este participio e aquelle
attributo, quando destacado do verbo, contra
o que se observa no Latim, ou lingua mãe, provem
de haver sido substituido no Portuguez, como
já expliquei, o primitivo participio em, ante, ente,
inte
, pelo em, ando, endo, indo, sendo que, ondo, é
uma contracção de, oendo.

N. B. Ésta nova fórma que nos veio provavelmente
do Francez, assim como o verbo unipessoal
147Haver, tem sido occasião de alguns grammaticos
modernos confundirem o mencionado participio
activo com o gerundio, que, não obstante assemelhar-se-lhe,
se distingue todavia d’elle por sua natureza
e emprego.

Participio preterito

O participio preterito, ou, passivo, do verbo attributivo
exprime a acção recebida ; o que já leva em
si a idéa de anterioridade. E um adjectivo com duas
terminações para o singular e duas para o plural,
feminina e masculina : como, amado, amada, amados,
amadas
, de amar ; movido, movida, movidos, movidas,
de mover ; unido, unida, unidos, unidas, de
unir ; posto, posta, postos, postas, de pôr irregular.
Tambem se fórma com elle proposição participio,
subetendendo-se o participio preterito composto do
verbo substantivo, tendo sido. Exemplo :

« Acabada a prática, mandou tocar a investir ; isto
é, tendo sido acabada a prática ».

Tendo sido acabada a prática, é o mesmo que,
« Depois que a prática foi ou teve sido acabada, e
como quer que a prática fosse ou tivesse sido acabada » ;
148proposições do modo indicativo e conjunctivo,
em que se resolve a do participio.

Assim a differença que existe entre o participio
preterito passivo
, e o adjectivo attributivo ou qualificativo,
é a expressão da circumstancia de tempo
em relação á acção recebida, transmittida &, residindo
a affirmação no participio preterito do verbo
substantivo que com elle primordialmente se confundio,
e hoje se não distingue.

Composto

Com o participio presente dos auxiliares, Haver,
e, Ter, e o supino do verbo attributivo, fróma-se o
participio preterito composto, havendo ou tendo
amado, movido, unido, posto.

Este participio, que é, intransitivo, ou, transitivo,
segundo a natureza da significação do verbo d’onde
nasce, é um verdadeiro participio preterito activo,
porque exprime simplesmente a acção na anterioridade,
sem envolver idéa de passividade.

N. B. É muito para notar que os grammaticos
não costumem a fazer esta distincção, que aliás salta
aos olhos.149

Participio futuro.

Com o participio presente dos mencionados auxiliares,
e o infinito do verbo attributivo, fórma-se
o participio futuro, havendo ou tendo de amar, mover,
unir, pôr.

Este participio, que exprime simplesmente a acção
por fazer, é tambem um participio activo.

N. B. Alguns verbos portuguezes conservárão o
equivalente do participio futuro simples dos latinos
na fórma activa. Taes são por exemplo : Vir, que faz,
vindouro, vindoura, de venturus, a, um ; Morrer, que
faz, morredouro, morredoura, de moriturus, a, um ;
Perecer, que faz, perecedouro, perecedoura, de periturus,
a
, um.

Gerundio

O gerundio, nome-verbo invariavel, com o caracter
de substantivo, exprime a acção actual de uma
certa maneira
, como : em amanhecendo, em fallando.
Vem do ablativo do gerundio latino, cuja fôrça
conserva, e liga-se a um termo antecedente pela
preposição, em, quasi sempre occulta. É, intransitivo,
150ou, transitivo, segundo a natureza da significação
do verbo, d’onde nasce.

Exemplos das principaes circumstancias expressas
pelo gerundio :

(Tempo) « Em amanhecendo, poz-se logo a caminho ;
isto é, ao amanhecer, na occasião de amanhecer ».

(Modo) « Entrou na praça, caracolando ou em
caracolando
 : isto é, a caracolar ».

(Causa) « Alcançou a paz de espirito, orando ou
em orando a Deus ; isto é, com orar ou por orar ».

N. B. Os nossos clássicos tambem ligão ás vezes
o gerundio ao termo antecedente com a preposição,
entre, como, entre fallando, isto é, entre fallar.
Azurára, escriptor dos mais antigos, disse, sem fazendo,
isto é, sem fazer.

Confundir o gerundio com o participio presente
com que se fórma proposição, como fazem alguns
modernos grammaticos, é desconhecer-lhe a origem,
natureza, e serventia.

No primeiro exemplo citado, si, em vez de dizermos,
« Em amanhecendo, poz-se logo a caminho »,
dissessemos, « Em amanhecendo o dia », teriamos, não
um gerundio, mas uma proposição participio, cujo
sujeito seria, o dia, verbo, sendo, attributo, amanhecente,
ligada á de que é dependencia, não só pelo
151participio, como acontece com ésta especie de proposição,
mas ainda por uma preposição, como se
verifica na mór parte das proposições infinitivas.

N. B. Em Latim o gerundio é o infinito do verbo
declinado, um verdadeiro nome-verbo, que exprime,
como entre nós, a acção actual, e a mesma
acção por fazer, como se vê em, « Pugnandum est »,
que vale tanto, como, « Ha-se ou tem-se de pelejar ».
O que nós fazemos com o infinitivo e as preposições,
fazião os Latinos com o gerundio.

Supino.

O supino, especie de nome substantivo invariavel,
exprime a acção anterior na voz activa. Assume
tambem ésta parte da oração fôrça de verbo,
como no Latim ; mas em Portuguez só tem emprêgo
nos tempos compostos do verbo, formados com
os auxiliares, Haver, e, Ter, como se vê em, hei ou
tenho fallado, has ou tens escripto, ha ou tem polido,
havendo ou tendo dito.152

Conjuncção

Conjuncção, é uma parte invariavel da oração que
liga uma palavra á outra, uma proposição á outra,
um sentido a outro, ou um termo antecedente
a outro consequente, como se vê em, « Eu ditarei e
tu escreverás ». Vem ésta palavra liame do verbo
latino, conjungere, que quer dizer, unir com, ou propriamente,
conjunctar.

A conjuncção, ou liga, aproximando simplesmente
os termos, como, « Desejo, mas temo » ; ou liga,
subordinando um termo a outro, e influindo no
modo do verbo do segundo, como, « Desejo, bem
que
tema ». D’ahi a sua divisão em, conjuncção de
primeira classe ou de aproximação, e conjuncção
de segunda classe ou de subordinação.

Conjuncção de primeira classe.

Chama-se, conjuncção de primeira classe ou de
aproximação, a que liga simplesmente os termos, sem
fazel-os dependentes um do outro, nem exercer n’elles
influencia alguma.

A conjuncção de primeira classe, subdivide-se
153ainda em, conjuncção, que liga palavras, proposições
e sentidos, e, conjuncção, que liga unicamente proposições
e sentidos.

Eis as principaes conjuncções de aproximação da
primeira especie : E, nem, mas, porém, ou, tambem,
agora
ou ora (repetido), (repetido).

Exemplos desta especie de conjuncção ligando
palavras :

« Pedro e João ».

« Rico ou pobre ».

« Formosa, mas altiva ».

« Ora um, ora outro ».

Exemplos da mesma especie de conjuncção, ligando
proposições :

« Chegou hontem, e partio hoje ».

« Não veio, nem virá ».

« Fallou muito, mas nada concluio ».

Exemplos da mesma especie de conjuncção, ligando
sentidos :

« Chovêo quasi tres dias continuos, de modo que
os caminhos se tornárão intransitaveis. Tivemos
porem no terceiro uma bôa noite de luar ».

« O medo faz mais tyrannos que a ambição, diz
um sabio moralista. E a licção da história o confirma ».

N. B. D’esta especie de conjuncções chamão os
154grammaticos, copulativas : e, nem, tambem ; adversativas :
mas, porem ; disjunctivas : ou, nem (repetido),
ora, já (repetidos). Ora, contracção de agora quando
vem só, é conjuncção de aproximação da segunda
especie, e em muitos casos adverbio ; agora, e ,
não repetidos, são adverbios. Ha ainda outras partes
da oração que servem de conjuncções d’esta ordem,
como, quer, (repetido), seja (repetido).

Formão-se tambem locuções conjunctivas da
mesma natureza, como : não só, mas tambem, ou
mas ainda, ou como tambem &.

Eis as principaes conjuncções de aproximação da
segunda especie : Depois, d’ahi, assim, pois, logo,
ora, demais, em fim, finalmente, por isso, por conseguinte,
conseguintemente, portanto, entretanto,
no emtanto,n' este interim, n' este comenos, n' estes
entrementes, comtudo, todavia, não obstante, bem
assim, outro sim
.

Exemplo desta especie de conjuncção, ligando
proposições :

« A virtude é adorável ; ora a charidade é virtude,
logo a charidade é adoravel ».

Exemplo da mesma especie de conjuncção, ligando
sentidos :

« Todos sabemos que a morte é consequencia inevitável
da natureza humana. Entretanto não nos
155preparamos para a morte, que quasi sempre nos apanha
desapercebidos ».

N. B. D’esta especie de conjuncções chamão os
grammaticos, continuativas : Depois, d’ahi, demais,
no emtanto
, e suas analogas ; conclusivas : assim,
logo, portanto, por isso, conseguintemente
, e suas
analogas.

Em nemhum dos exemplos acima citados a conjuncção
faz um termo dependente do outro, ou
exerce n’elles influencia alguma ; pois em, « Pedro e
João », aproxima somente uma palavra á outra ; em
« Fallou muito, mas nada concluio », uma proposição
á outra ; em « Todos sabemos que a morte é consequencia
inevitável da natureza humana
 ». Entretanto
« não nos preparamos para a morte, que quasi sempre
nos apanha desapercebidos
 », um sentido a outro ; e
assim nos mais.

Conjuncção de segunda classe.

Chama-se, conjuncção de segunda classe ou de subordinação,
a que liga os termos, subordinando um
ao outro, e influindo no modo do verbo do segundo,
ou ainda sem influir.156

Eis as principaes conjuncções d’esta especie :
Como, quando, si, como si, sinão, em quanto, com
quanto, porquanto, ainda quando, que, porque,
como quer que, ainda que, posto que, bem que, para
que, antes que, depois que, logo que, de que, a que,
e todas as mais que se compõem com, que.

Exemplos d’esta especie de conjuncção subordinando
um termo a outro, e influindo no modo do
verbo do segundo :

« Em quanto fôres feliz, contarás muitos amigos ».

« Como seja esclarecido este ponto, passarei a tractar
dos mais ».

« Quando fôres homem provecto, terás aprendido
a conhecer o mundo á tua custa ».

« Desejo que sejas feliz ».

« Por mais que faças na elevada posição em que
te achas, não conseguirás escapar ao dente venenoso
da inveja ».

Exemplos da mesma especie de conjuncção, subordinando
um termo a outro, sem influir no modo
do verbo do segundo :

« Partio logo, como foi dia ».

« Quando chegou, já tudo estava concluido ».

« Sahio a tomar ares no campo, logo que as fôrças
lhe permittirão ».157

« Sinão é um sabio profundo, é pelo menos um
homem erudito ».

N. B. D’esta especie de conjuncções chamão os
grammaticos, circumstanciaes : como, como quer que,
quando, ainda quando, em quanto, antes que, depois
que, posto que, ainda que ; condicionaes : si,
sinão, como si ; causaes : porque, pois que, por quanto,
com quanto ; subjunctivas : que
, e as suas compostas,
de que, a que, quando ligão proposições
completivas.

Nos cinco primeiros exemplos dos effeitos da
conjuncção de segunda classe, as conjuncções, em
quanto, como, quando, que, por mais que
, não só
subordinão o segundo termo ao primeiro, mas ainda
influem-lhe no modo do verbo, levando-o ao
conjunctivo, como se vê em, fôres, seja, fôres, sejas,
faças
 : nos quatro últimos, porem, as conjuncções,
como, quando, logo que, sinão, subordinão
unicamente o segundo termo ao primeiro, sem influir-lhe
no modo do verbo.

N. B. Quando a conjuncção é composta, como,
com quanto, posto que &, chama-se, locução conjunctiva.

Preposição.

Preposição, é uma parte invariavel da oração
158que exprime uma relação entre duas palavras, ou
entre um termo antecedente e outro consequente,
ligando o segundo ao primeiro, como se vê em,
« Morrer pela patria ». Vem esta palavra, que se põe
antes de outra, chamada seu complemento, do
verbo latino, prœponere, que quer dizer, antepôr, ou,
pôr antes.

Eis as principaes preposições simples e compostas :
A, em, de, com, por, per, sem, para, sob, sobre,
entre, contra, após, dês, desde, ante, até, té, perante,
durante, segundo, a segundo
(antiquada), conforme,
excepto, afóra
(antiquada), acerca de, antes
de, atrás de, trás
(antiquada), dentro de, fóra de,
aquem de, alem de, junto de, perto de, por entre,
em cima de, acima de, por cima de, em baixo de,
abaixo de, por baixo de, atrás de, por detrás de,
diante de, adiante de, por diante de, por junto de,
por dentro de, por fóra de
.

A preposição exprime em geral diversas relações,
das quaes se podem reputar como principaes as
seguintes :

1.ª A relação de logar, como, em junto de, de,
para, a, por, por entre, alem de, a quem de
, &.

2.ª A relação de tempo, como, em, por, de, durante,
antes de, depois de
, &.159

3.ª A relação de ordem ou posição, como, antes
de, depois de, apoz, a
, &.

4.ª A relação de causa, como, por, com, a, de, &.

5.ª A relação de modo, como, a, segundo, &.

6.ª A relação de conformidade, como, com, conforme
segundo
, &.

Exemplos da preposição, exprimindo uma relação
de logar :

« Nascêo em Lisboa, junto ao Tejo ».

« Sahio de casa, pela porta principal ».

« Embarcou para a India n’um vapor ».

Exemplos da preposição, exprimindo uma relação
de tempo :

« Arrendou a quinta por um anno ».

« Morrêo o anno passado de noite ; isto é, durante
ou em o anno passado ».

Exemplos da preposição, exprimindo uma relação
de ordem :

« Estava antes de mim, seguia-se depois de
mim ».

Exemplos da preposição, exprimindo uma relação
de causa :

« Morrêo á fome, ou de fome ».

« Com a grande magoa se finou ».

Exemplos da preposição, exprimindo uma relação
de modo :160

« Escreve com elegancia, e em regra ».

« Fez-se a ceremonia segundo o rito ».

Exemplos da preposição, exprimindo uma relação
de conformidade :

« Conformou-se com o meu parecer ».

« Obrou segundo, ou conforme a lei ».

A preposição exprime apenas uma relação geral,
a qual só fica definida e determinada pelos dons
termos a que serve de liame, como se vê em cada
um dos exemplos acima citados, E porque ésta
parte da oração pode ser tambem tomada em sentido
proprio ou translato, a relação de logar, de
tempo, &, pode em muitos casos ser meramente
virtual.

Exemplo da preposição exprimindo uma relação
virtual de logar :

« Sahio do assumpto, fazendo uma digressão ».
Exemplo da preposição, exprimindo uma relação
virtual de tempo :

« Nas conjuncturas arriscadas é que se conhece
o grande politico ».

N. B. Quando a preposição é composta, como,
por entre, alem de, chama se, locução prepositiva.161

Adverbio

Adverbio, é uma parte invariavel da oração, que
modifica o verbo ou o nome adjectivo a que se junta,
acrescentando-lhe alguma circumstancia, como se
vê em, « Fallou eloquentemente ». 12 É o equivalente
da preposição com o seu complemento ; pois,
eloquentemente, vale o mesmo que, com eloquencia.
Vem ésta palavra, ou complemento abreviado, de
dous termos latinos, ad, e, verbum, que querem dizer,
junto ao verbo, porque o verbo é a parte da oração
a que mais frequentemente se junta.

O adverbio, pois, exprime todas as circumstancias
expressas pelos complementos das preposições, nos
quaes se pode resolver.162

Eis os principaes adverbios :

De modo — assim, como, quasi, bem, mal, ás escondidas,
ás tontas
, &, alto, baixo (em referencia á
voz), sabiamente, bellamente, graciosamente (e todos
os adverbios formados d’um adjectivo e do substantivo, mente,
excepto os que exprimem ordem, tempo,
e logar).

De tempo — hoje, hontem, ante-hontem, amanhã,
depois de amanhã, cedo, tarde, logo, immediatamente,
agora, outr’ora, então, antigamente, já, nunca,
jamais, sempre, incontinente, ás pressas
.

De ordem — primeiramente, secundariamente,
primó, tertió, quartó
, &.

De quantidade — muito, pouco, assás, mais, menos,
tão, quão, tanto, quanto
.

De affirmar — sim, em verdade, devéras, certamente,
de certo, por ventura
(dubitativo), talvez,
(dubitativo), quiçá (dubitativo antiquado), e os adverbios
demonstrativos, eis, eis-aqui, eis-ahi, eis alli.

De negar — não, nunca, nunca jamais, nada.

De interrogar — como ? porque ? quando ? onde ?
d’onde ? para onde ? por ventura ? por caso ?

De logar — aqui, ahi, alli, cá, lá, acolá, de lá, de
cá, d’aqui, d’ahi, d’alli, onde, d’onde, por onde, para
onde, aliás, algures
(antiquado), nenhures (antiquado),
163alhures (antiquado), por cima, por baixo, dentro,
por dentro, fóra, por fóra, internamente, externamente,
interiormente, exteriormente
.

O adverbio em cuja composição entra o adjectivo
qualificativo, ou que d’elle se fórma, admitte também
gráos de significação, como o adjectivo que o
compõe, ou d’onde vem, segundo se vê, em elegantemente
pos., mais elegantemente comp., elegantissimamente,
ou muito elegantemente superl. ; e em,
ás escondidas pos, mais ás escondidas comp., muito
ás escondidas
superl. O que se fórma do adjectivo
quantitativo, muito, bem como o que vem do seu opposto,
pouco, tem o comparativo e o superlativo como
os adjectivos d’onde nascem, segundo se vê em,
muito pos., mais comp.., muitissimo superl. ; e em,
pouco pos., menos comp., pouquissimo ou muito
pouco
superl.

Exemplos do adverbio, modificando o verbo por
alguma circumstancia que lhe acrescenta.
(Circumstancia de modo) :

« Discorrêo acertadamente ; isto é, com acerto ».
(Circumstancia de tempo) :

« Virá hoje ; isto é, neste dia ».

(Circumstancia de ordem) :

« Fallou primeiramente ; isto é, em primeiro logar ».164

(Circumstancia de quantidade) :

« Chovêo muito ; isto é, em muita quantidade ».
(Circumstancia de logar) :
« Esteve aqui ; isto é, n’este logar ».

Exemplos do adverbio, modificando o adjectivo
por alguma circumstancia que lhe acrescenta :
(Circumstancia de modo) :

« Incontestavelmente real ; isto é, sem contestação
real ».

(Circumstancia de tempo) :

« Presentemente enfermo ; isto é, no tempo presente
enfermo ».

(Circumstancia de ordem) :

« Secundariamente collocado ; isto é, em segundo
logar collocado ».

(Circumstancia de quantidade) :

« Pouco abundante ; isto é, em pouca quantidade
abundante ».

(Circumstancia de logar) :

« Aqui postado ; isto é, n’este logar postado ».

Em todos os exemplos citados, quer modifique o
verbo, quer o adjectivo, o adverbio se resolve na
preposição com o seu complemento, porque é justamente
o equivalente de um complemento circumstancial.

Tambem se pode admittir para o adverbio a divisão
165por classes, segundo a natureza da circumstancia
por elle expressa.

Pertence á primeira classe, que é a mais numerosa
de todas, o adverbio que exprime qualidade,
modo ou maneira, quantidade, como, doutamente,
prudentemente, fortemente, de balde, em vão, quasi,
muito, pouco, demasiadamente, nimiamente
.

Pertence á segunda classe o adverbio que exprime
alguma circumstancia particular da acção,
como — aproximação, assim, igualmente, aliás, juntamente;
— frequencia ou ordem, uma vez, duas veves,
cem vezes, primeiramente, secundariamente
 ;
— tempo, sempre, até, hoje, amanhã, ainda ; — logar,
aqui, alli, acolá
 ; — distancia, longe, perto.

Pertence á terceira classe o adverbio que acrescenta
algum juizo accessorio á proposição, como —
affirmação, sim, certamente, devéras ; — dúvida, talvez,
quiçá
(antiquado) ; — interrogação, por ventura ?
quando ? como ? porque ? onde ?

Quando o adverbio é composto, como, ás pressas,
por ventura
, chama-se, locução adverbial.

Interjeição.

Interjeição, é uma parte invariavel da oração,
166curta e viva, com que se exprimem os sentimentos
d’alma, e que equivale a uma proposição implicita.
Vem do verbo latino, interjicere, que quer dizer,
metter de permeio, e se entremette na phrase, como
se vê em, « Quanto, ah ! quanto é bella » !

Principaes inteijeições :

(De dor) : Ai, ai de mim, ai Jesus.

(De prazer) : Ah, oh, viva, bello.

(De admiração) : Oh ! ah ! ui ! irra !

(De susto) : Jesus, ai.

(De animação) : Eia, ora, sus, animo, bravo, avante,
vamos
.

(De indignação) : Apre, fôra, fôra d’aqui, - arre
(termo baixo).

(De chamar) : Ó, olá, ptsio.

(De impor silencio) : Chiton, ta, silencio.

(De exprimir desejo) : Oxalá, oh.

A interjeição, pois, que é como um reflexo de
nossas impressões momentaneas, transmittido pela
voz, é uma especie de embryão de proposição, ou de
enunciado de juizo não desenvolvido. Assim nenhuma
ha que se não possa resolver em proposição,
como se vê nos seguintes exemplos :

« Olá, é o mesmo que, vem cá, ou estou te chamando ».

« Ai, o mesmo que, quanta, ou que dor sinto ».167

« Animo, o mesmo que, tem animo ».

« Oh ! o mesmo que, como estou admirado » !

« Jesus, o mesmo que, valha-me Jesus ».

« Triste de mim, o mesmo que, como sou triste ou
infeliz ».

Como éstas, se podem resolver todas as outras,
prestando-se attenção á intenção com que são proferidas
quando isoladas, ou ao sentido antecedente
e consequente quando vêm intercaladas no discurso.

Quando a interjeição é composta, como, ai de
mim, ora sus
, chama-se, locução interjectiva.168

Syntaxe.

Noções preliminares

I. [Proposição]

O discurso consta de proposições : a proposição,
de palavras.
Proposição, que tambem se chama, oração, phrase,
sentença
, é o enunciado do juizo, ou acto do entendimento,
pelo qual affirmamos uma cousa de outra.

Toda a reunião de palavras, a qual fórma sentido,
é uma proposição, em que se contem tres termos,
denominados, sujeito, verbo, attributo.

Sujeito, é a pessôa ou cousa a que se attribúe alguma
qualidade : é a idéa principal, o objecto do
juizo.

Attributo, é a qualidade que se attribue ao sujeito :
é a idéa accessoria.

Verbo, que já ficou definido em logar competente,
é o nexo entre os outros dous termos.

Exemplo de uma proposição com seus tres termos :169

« Deus é eterno ».

Deus, sujeito ; é, verbo ; eterno, attributo.

II. [Sujeito e attributo]

O sujeito e o attributo dividem-se em grammaticaes
e totaes.

O sujeito grammatical, é representado por nome
substantivo, pronome, oração.

O attributo grammatical, é representado por
nome adjectivo ou cousa equivalente.

O sujeito e o attributo totaes são o sujeito e attributo
com complementos.

Complemento, é toda palavra ou oração que completa
o sujeito ou o attributo.

III. [Classificação de sujeito e attributo]

O sujeito e attributo podem ser simples, compostos ;
incomplexos, complexos.

Sujeito simples, é o que representa um só objecto,
ou objectos da mesma natureza.

Attributo simples é o que exprime uma só maneira
de existir do sujeito.

Exemplo do sujeito e attributo simples :

« O homem é mortal ».170

Sujeito composto, é o que representa objectos differentes, ou
de natureza diversa.

Exemplo :

« Pedro e João são irmãos ».

Attributo composto, é o que exprime diversas
maneiras de existir do sujeito.

Exemplo :

« Cicero foi orador e philosopho ».

Sujeito incomplexo, é o que não tem complementos.

Attributo incomplexo, é o que tambem não tem
complementos.

Exemplo do sujeito e attributo incomplexos :

« Deus é misericordioso ».

Sujeito complexo, é o que tem complementos.

Exemplo :

« O homem que sabe regular sua vida, é prudente ».

Attributo complexo, é o que tambem tem complementos.

Exemplo :

« O mundo foi creado por Deus ».

IV. [Ordem directa a inversa]

A proposição pode estar na ordem directa ou inversa :
está na ordem directa, quando os seus termos
171se achão naturalmente collocados, tendo o primeiro
logar o sujeito ou idéa principal, o segundo, o
verbo ou idéa de nexo, o terceiro, o attributo ou idéa
accessoria : está na ordem inversa, quando os seus
termos se achão invertidos, transtomada a ordem
natural da precedencia.

Exemplo da proposição na ordem directa, ou com
os seus termos naturalmente collocados : —

« Nenhum governo é bom para os homens máos ».

Exemplo da proposição na ordem inversa, ou
com os seus termos invertidos : —

« Era naquelle tempo clara a fama de D. Duarte
de Menezes, governador de Tanger ».

N. B. A ordem inversa domina ordinariamente
na phrase portugueza, e com especialidade na dos
escriptores denominados clássicos ; por isso cumpre
saber bem distinguir uma de outra ordem, para conhecer
os termos da proposição.

V. [subordinação]

O discurso resulta, não só da ligação e da subordinação
das palavras de uma mesma proposição,
mas ainda da ligação e da subordinação das proposições
entre si.

As regras a que dão origem ésta ligação e ésta
172subordinação, constituem o que se chama, Syntaxe,
palavra que vem do Grego, e quer dizer, arranjo. E
como tal ligação e tal subordinação são duplas,
porque são ao mesmo tempo de palavras e proposições,
d’ahi tambem duas especies de Syntaxe, syntaxe
de palavras, syntaxe de proposições
.

Syntaxe das palavras

Ligação das palavras pela conjuncção.

A ligação das palavras feita pela conjuncção de
aproximação é de todas a mais simples. As palavras
porém ligadas por ésta conjuncção são sempre da
mesma especie.

Exemplos :

« Honra e gloria ».

« Forte, mas prudente ».

« Nem bem, nem mal ».

« Ou eu, ou tu ».

« Cantou e dansou ».

No primeiro exemplo, a conjuncção liga dous nomes ;
no segundo, dous adjectivos ; no terceiro, dous
adverbios ; no quarto, dous pronomes ; no quinto,
dous verbos.173

Ligação das palavras pela preposição.

A ligação das palavras feita pela preposição pode
ser entre palavras da mesma ou de diversa especie.

Exemplos :

« Amor á patria ».

« Cheio de vida ».

« Fallou com ardor ».

No primeiro exemplo, a preposição liga dous nomes ;
no segundo, um adjectivo e um nome ; no terceiro,
um verbo e um nome ».

Ligação dos termos da proposição.

A ligação dos termos da proposição faz-se unicamente
pela conveniencia de fórma e concordancia
entre elles, sem intervenção dos liames da conjuncção
e preposição.

Exemplo :

« Deus é omnipotente : Deus, sujeito ; é, verbo ; omnipotente,
attributo ».

Concordancia do verbo com o sujeito.

O verbo, concorda com o sujeito em pessôa e numero,
accommodando-se pela fórma á pessôa e numero
do sujeito.174

Exemplos :

« Eu delibero ».

« O homem pensa »,

« Vós estudais ».

No primeiro exemplo, o sujeito, eu, é da primeira
pessôa do singular, e o verbo, delibero, accommoda-se
pela fórma á primeira pessôa e ao numero
singular : no segundo, o sujeito, o homem, é da terceira
pessôa do singular, e o verbo, pensa, accommoda-se.
pela fórma á terceira pessôa e ao numero
singular : no terceiro, o sujeito, vós, é da segunda
pessôa do plural, e o verbo, estudais, accommoda-se
pela fórma á segunda pessôa e ao numero plural.

Concordancia do verbo com muitos sujeitos.

Com mais de um sujeito, ainda que seja cada um
do singular, o verbo se põe regularmente no plural,
concordando com todos, quer elles estejão ligados
por conjuncções, quer não. Por isso dizem os grammaticos
que muitos sujeitos do singular fazem um
do plural

Exemplos :

« Camões e Tasso compuzerão epopéas ».

« Pompêo, Lentulo, Scipião, perecêrão miseravelmente ».175

« O amor e a amisade são cousas muito distinctas ».

Quando concorre um sujeito da primeira pessa
do singular com outro da segunda ou terceira, põe-se
o verbo no plural, mas na primeira pessoa.

Exemplo :

« Eu e tu estamos bons ».

Quando concorre um sujeito da segunda pessoa
do singular com outro da terceira, põe-se o verbo
no plural, mas na segunda pessôa.

Exemplo :

« Tu e Antonio estais bons ».

N’estes dous casos, porem, os verdadeiros sujeitos
subentendidos são os pronomes, nós, e, vós.

Quando dous ou mais sujeitos do singular, e da
terceira pessôa, se achão separados pela conjuncção
disjunctiva, ou, o verbo se põe no singular,
concordando com o mais visinho.

« Pedro ou João fallará ».

Mas si os sujeitos são da primeira e segunda pessoa
do singular, o verbo se põe no plural, e na primeira
pessôa.

Exemplo :

« Eu ou tu faltaremos ».

N’este caso, o verdadeiro sujeito subentendido é o
pronome, nós.176

Quando o sujeito é um infinito tomado como
nome, ou uma oração inteira, o verbo põe-se no
singular.

Exemplos :

« É vergonhoso mentir ou o mentir ».

« A ninguém se deve fazer mal ».

« É licito partires ».
É mui conveniente que partas hoje ».

Quando o sujeito é uma conjuncção, ou uma preposição,
convertidas em nomes pelo artigo, o verbo
toma o numero d’essa parte da oração substantivada.

Exemplos :

« O quando só de Deus é sabido ».

« Os porquês, com que sustentou a causa, forão
mui valiosos ».

« Alli se discutio o pro e o contra ».

O verbo, dizem, concorda muitas vezes com o
sujeito indefinido occulto, homens, o que não é uma
ellipse, porque o sujeito não se subentende, mas uma
especie de idiotismo da lingua ;

Exemplo :

« Dizem muito bem de ti ».

« N. B. Esta expressão equivale á latina, ferunt,
aiunt, dicunt
, e á franceza, on dit.177

Concordancia do adjectivo e do nome.

O adjectivo, concorda em genero e numero, como
já ficou dito em logar competente, com o nome
que qualifica, ou determina, accommodando se a
elle pela fórma.

Exemplo do adjectivo, qualificando o nome :

« As orações fervorosas agradão a Deus ».

Exemplo do adjectivo, determinando o nome.

« Este homem é sabio ».

No primeiro caso, o adjectivo, fervorosas, accommoda-se
pela fórma ao genero feminino e numero
plural do nome, orações, com que concorda : no
segundo, o adjectivo, este, accommoda-se tambem
pela fórma ao genero masculino e numero singular
do nome, homem, com quem concorda.

A concordancia do attributo com o sujeito, ou
do qualificativo com o nome, opera-se quando os
dous termos estão unidos pelo verbo substantivo.

Exemplos :

« A terra é redonda ».

« O homem é racional ».

A concordancia do qualificativo com o nome
opera-se ainda quando elles estão unidos por um ou
mais verbos intransitivos.

« Exemplos : Ninguém nasce máo ».178

« Aristides vivêo e morrêo pobre ».

N. B. N’estes últimos casos, o adjectivo completa
o sentido do participio antiquado incluido no verbo,
e o attributo se acha composto de duas palavras :
« Ninguém é nascente máo ; Aristides foi vivente
e morrente pobre ». Innumeraveis são os exemplos
d’esta natureza que podião ser adduzidos, como :
« Elle permaneceo inabalavel » ; « ella cahio desmaiada » ;
« eu estou admirado » ; « tu ficaste ferido » ; « nós
brincamos alegres etc ».

O qualificativo, concorda com uma oração tomada
como nome, pondo-se sempre na fórma masculina,
ou antes n’uma especie de fórma neutra invariavel.

Exemplos :

« É glorioso morrer pela patria ».

« É preciso que sáias d’esta terra ».

N. B. Ésta especie de fórma neutra, que ainda
se distingue nos determinativos, este, aquelle, esse,
todo
, vêm-nos em taes casos do Latim, como se
vê no primeiro exemplo, que é traducção do seguinte :
« Decorum est pro patria mori ».179

Concordancia do adjectivo com muitos nomes.

Quando o adjectivo qualifica muitos nomes põe-se
no plural.

Exemplos :

« A terra e a lua são redondas ».

« O sol e os mais astros são redondos ».

Quando o adjectivo qualifica nomes de genero
diverso põe-se no plural e fórma masculina, si entre
esses nomes ha algum masculino.

Exemplos :

« Homens, mulheres e crianças forão aprisionados
na guerra ».

« Pedro e Maria são robustos ».

Nome attributo.

O nome, que se adjectiva pela suppressão do artigo,
pode servir de attributo, sem que seja necessario
ser do mesmo genero e numero do sujeito.

Exemplos : —

« A ira é furor ».

« Os captivos forão presa dos soldados ».

N. B. N’estes casos, considera-se o nome attributo,
ou adjectivado
, como uma simples qualidade que
180se affirma do sujeito, sem attenção ás fórmas genericas
e numericas.

Concordancia do adjectivo conjunctivo.

O adjectivo conjunctivo, de que já tractei em
logar competente, concorda em genero e numero
com um termo antecedente claro, e outro consequente
quasi sempre occulto.

Exemplos : —

« A guerra, que se preparava, não chegou a realisar-se ;
isto é, a guerra, a qual guerra ».

« O navio, cuja vinda se esperava, não chegou ;
isto é, o navio, do qual navio se esperava a vinda ».

« O homem, a quem procuras, já partio ; isto é, o
homem, o qual homem ».

No primeiro exemplo, o termo antecedente é, guerra,
e o consequente subentendido, guerra : no segundo,
o antecedente, navio, e o consequente subtendido,
navio : no terceiro, o antecedente, homem, o
consequente subentendido, homem.

N. B. O adjectivo conjunctivo, vai sempre para o
principio da oração, quer represente o sujeito, quer
um simples complemento.181

Concordancia do adjectivo interrogativo

O adjectivo interrogativo, de que já igualmente
tractei em logar competente, concorda em genero e
numero com um termo antecedente quasi sempre
occulto, ou puramente mental, e outro consequente
claro.

Exemplos :

« Que dizes ? isto é, quero saber a cousa, que, ou
qual cousa dizes » ?

« Por quem esperas ? isto é, desejo conhecer o
homem, o individuo, por que, ou por qual homem,
ou individuo esperas » ?

Cujo é o gado ? isto é, pretendo certificar-me do
do dono, de que, ou de qual dono é o gado » ?

Éstas proposições tambem se podem explicar
pela seguinte maneira :

« Pergunto pela cousa, que, ou qual cousa dizes » ?

« Pergunto pelo individuo, por que, ou por qual
individuo esperas » ?

« Pergunto pelo dono, de que, ou de qual dono é
o gado » ?

N. B. O adjectivo interrogativo, se põe sempre
no principio da oração, quer represente o attributo,
quer um simples complemento.

A ésta ligação das palavras entre si chamão os
182grammaticos, syntaxe de concordancia, por opposição
ao que denominão, syntaxe de regencia, ou á
subordinação das palavras entre si, de que vou tractar.

Dependencia das palavras.
Sua collocação na proposição.

Nas linguas que teem casos, como o Latim e o
Grego, as relações de subordinação das palavras
entre si são expressas pelos casos, isto independentemente
das preposições claras ou subentendidas que
os possão ligar, o que no Latim só tem cabimento a
respeito do accusativo, quando não é complemento
directo ou objectivo, e do ablativo ; pois a preposição,
tenus, que se pospõe algumas vezes ao genitivo,
é uma excepção, ou faz antes suppor algum ablativo
occulto.

Nas linguas que não teem casos ; como o Portuguez
e suas analogas derivadas do Latim, essas relações
são expressas pelos complementos das preposições,
que se ligão por ellas ás palavras de que são
dependencia, com excepções unicas do complemento
183directo ou objectivo, que ainda assim é no Portuguez
ligado ao verbo pela preposição, a, quando é nome
de pessôa, como já fiz ver, e do complemento indirecto
ou terminativo, quando é algum pronome.

Assim, nas primeiras das sobreditas linguas a collocação
das palavras na proposição depende unicamente
do effeito harmonico que ellas produzem ;
porque as relações de subordinação das mesmas entre
si se achão determinadas pelos casos, e nunca
deixão de ser conhecidas por mais distantes que
estejão umas de outras ; ao passo que nas segundas,
em que taes relações são expressas pelos complementos
das preposições, sem outro algum indicador
que as determine, se deve observar a lei da posição,
a que fica por conseguinte subordinado o
effeito harmonico.

Pode-se, por exemplo, dizer em Latim indifferentemente
para o sentido, ou como melhor o exigir a
harmonia, tanto, amor virtutis, como, virtutis amor
tanto, sol mundum illustrat, como, sol illustrat
mundum
, ou, mundum illustrat sol. Em Portuguez,
porem, não ; porque deve-se dizer, observando a lei da
posição, amor da virtude, o sol allumia o mundo,
pois do contrario o sentido se tornaria muitas vezes
amphibologico No verso, com tudo, ha mais liberdade
a este respeito, porque pode-se dizer, da virtude
184amor, e em certos casos pôr o complemento directo
antes do verbo.

Sirvão de exemplo do primeiro caso estes versos
de Francisco Manoel :

“ De Jesus Christo a Igreja vezes nove. ”

“ Gerêna, de Machuton sepultura ” 

E do segundo est’outros de Camões :

“ As armas e os barões assignalados.

Cantando espalharei por toda a parte ”.

Quando, porem, o complemento directo é algum
pronome, antepõe-se frequentemente ao verbo mesmo
na prosa ; pois tanto se pode dizer, me salvo, como
salvo-me ; te brindou, como, brindou-te, se ferio,
como, ferio-se. A razão d’isto é que o pronome tem
casos que determninão as suas relações de subordinação
com as outras palavras.

Os outros complementos do verbo podem em
muitos casos antepôr-se a este, principalmente quando
são pronomes, isto quer na prosa, quer no verso ;
pois tanto se diz, com pressa te escrevo, e, com
razão fallo
, como, escrevo-te com pressa, e fallo com
razão
.185

Os complementos do adjectivo podem tambem
em muitos casos antepor-se a este, quer na prosa,
quer no verso ; porque tanto se diz, em tudo magnifico,
e, de comêr repleto
, como, magnifico em
tudo, e, repleto de comêr
. Em taes casos o melhor
regulador da collocação dos complementos é sempre
o ouvido.

N. B. Ésta liberdade illimitada, a que se prestavão
o Latim e o Grego, para fazer transposições de
palavras, é a maior difficuldade com que, nos nossos
modernos idiomas sempre embaraçados com
um sem numero de particulas liames, e sujeitos
á lei da posição, luctão os que teem de fazer a
versão das obras primas compostas n’aquellas duas
linguas verdadeiramente musicaes, para reproduzir-lhes
a harmonia, fôrça e graça de estylo.

Complemento.

O complemento, que já ficou definido que cousa
seja, toma diversas denominações segundo a maneira
por que modifica a palavra a que se liga : por
isso, ora é restrictivo, ora objectivo, ora terminativo,
ora circumstancial. O complemento, pode ser complemento
186do nome appellativo, do nome adjectivo, do
verbo attributivo.

Complemento do appellativo.

O complemento do appellativo, é ordinariamente
restrictivo, mas pode ser tambem terminativo quando
o appellativo requer um termo de relação.

I. [Complemento restrictivo]

Chama-se, restrictivo, o complemento que restringe
a significação vaga do appellativo, determinando-a.
Por exemplo, amor, é um nome de significação
vaga, porque significa qualquer amor ; mas, si
lhe juntarmos o complemento, da virtude, fica a significação
da palavra restringida á de, amor da virtude,
e, por conseguinte, determinada.

O complemento restrictivo, exprime principalmente :

1.° A propriedade, a possessão.

2.° O fim, o objecto.

Exemplos do complemento restrictivo, exprimindo
a propriedade e a possessão :

« Este livro é de Pedro ; isto é, é livro de Pedro »187

« As leis de Lycurgo fizerão dos Espartanos um
povo guerreiro ».

« O dono da casa nos recebêo mui bem ».

« A herdade, da qual és possuidor, ou cujo possuidor
és
, é mui bella ».

Em muitos casos a possessão tanto pode ser expressa
por um complemento restrictivo, como por
um adjectivo possessivo. Exemplos :

« As leis d’el rei D. José, ou as leis Josephinas,
forão pela mór parte bôas ».

« Os soldados de Pompeio, ou os soldados Pompeianos,
forão vencidos na Hespanha ».

Exemplos do complemento restrictivo, exprimindo-,
do o fim, o objecto :

« O amor da virtude, eleva nosso espirito a Deus ».

« A ambição de honras e dignidades nos obriga
a commetter baixezas ».

« A cultura da intelligencia melhora o homem,
que é um ente perfectivel ».

Muitas vezes o appellativo é determinado, ou restringido,
não por um nome, mas por um verbo, ou
por uma oração, que é o equivalente do complemento
restrictivo. Exemplos :

A sabedoria é a arte de viver ; isto é, de bem viver ».188

« A economia é a sciencia de evitar despezas inuteis ».

A paixão de que estás possuido, isto é, da qual
estás possuido
, pode vir a ser-te funesta ».

O apposto ao appellativo, quando é nome proprio,
pode ser o equivalente do complemento restrictivo,
porque n’elle ordinariamente se converte.
Exemplos :

« No baluarte S. João, isto é, de S. João, se resistia
á violência do ferro sem temer a do fogo ».

A cidade, Roma antiga, isto é, de Roma, era mui
vasta ».

O adjectivo e qualquer outra parte da oração,
substantivados pelo artigo, admittem complementos
restrictivos como o simples appellativo. Exemplos :

« O bem formado desta cabeça é digno do pincel
de um grande artista ».

« O bello das artes é certamente o mais admiravel
depois do da natureza ».

« Os porquês da recusa só elle os pode saber ».

« O até quando da minha ausencia não se pode
bem fixar ».

« O viver d’este homem é diverso do dos outros ».189

II. [Complemento terminativo]

O complemento terminativo, que já em outro logar
defini, modifica tambem o appellativo quando
é relativo, determinando-lhe a relação. Por exemplo,
inclinação, é um nome relativo de relação indeterminada,
porque pode ser inclinação a qualquer
cousa ; mas si lhe juntarmos o complemento, ás
armas
, fica a relação do nome, inclinação, determinada
pelo complemento terminativo, ás armas.

O appellativo relativo, pois, pode ter dois complementos
ao mesmo tempo, um, restrictivo, outro, terminativo.

Exemplos do complemento terminativo, modificando
o appellativo relativo :

« A inclinação ás armas é evidente em Pedro ».

« O amor ao estudo é feliz disposição para aprender ».

« A vocação para a vida monastica era mui frequente
n’aquelles tempos de fé viva ».

Exemplos de um complemento restrictivo e outro
terminativo, modificando o mesmo appellativo.

« A inclinação de Pedro ás armas é evidente ».

« O amor de João ao estudo é feliz disposição
para aprender ».

« A vocação do christão para a vida monastica
190era mui frequente n’aquelles tempos de fé viva.

N. B. O complemento restrictivo, liga-se ao appellativo
pela preposição, de, e o terminativo ordinariamente
pelas preposições, a, para, para com,
em.

Complemento do adjectivo.

O adjectivo, pode ser modificado por complemento
terminativo, quando é relativo, e por complemento
circumstancial, quer o seja, quer não.

Amante, por exemplo, é um adjectivo relativo,
de relação indeterminada, por que significa amante
de qualquer cousa ; mas si lhe juntarmos o complemento,
da glória, e dissermos, amante da glória,
fica a relação do adjectivo determinada pelo complemento
terminativo, da glória : bella, é um adjectivo
qualificativo, que exprime pura e simplesmente
a qualidade, de ser bella ; mas si lhe juntarmos
o complemento, sem senão, e dissermos, bella sem
senão
, fica a qualidade expressa pelo adjectivo definida
pelo complemento circumstancial, sem senão,
ou por uma circumstancia que exclue todo e qualquer
deffeito.191

I. [Complemento terminativo relativo]

Exemplos do complemento terminativo do adjectivo
relativo : —

« Este homem é temente á Deus ».

« Esta menina me é chara ou é-me chara ».

« Alexandre, Cezar, e Napoleão I forão amantes
da glória
das armas ».

« O grande Albuquerque era propenso á ira ».

Muitas vezes o adjectivo relativo é determinado
não por um nome ou pronome, mas por um verbo,
ou por uma oração, que é o equivalente do complemento
terminativo. Exemplos : —

« Tudo quanto existe no mundo é sujeito a perecer ».

« O navio estava prestes a partir para a India ».

« Todos os capitães do exercito estavão prevenidos
de que serião atacados pelo inimigo durante a
noite
 ».

N. B. O complemento terminativo, liga-se ao
adjectivo ordinariamente pelas preposições, a, por,
para, para com, de, em, com
, excepto quando é algum
pronome, porque então pode deixar de levar
preposição, como se vê no segundo exemplo.192

II. [Complemento circumstancial]

Chama-se, circumstancial, o complemento que
acrescenta alguma circumstancia ao adjectivo, ou
ao verbo, e que especificarei em cada uma d’elas
quando tractar dos complementos do último.

Pode pois o adjectivo, quando é relativo, ter ao
mesmo tempo dois complementos, um, circumstancial,
e outro, terminativo.

Exemplos do complemento circumstancial, modificando
o adjectivo puramente qualificativo : —

« Este edificio é construido com muita solidez ».

« Este sitio escabroso em extremo parece que em
tempo nenhum
foi habitado ».

« A nova povoação está distante cêrca de duas leguas ».

A ceremonia foi celebrada segundo o rito ».

« O templo é feito de cantaria ».

Exemplos do complemento, terminativo e circumstancial,
modificando o adjectivo relativo : —

« Este sitio escabroso em extremo parece que em
tempo nenhum foi habitado pelos homens
 ».

« A nova povoação está distante da antiga cerca
de duas léguas
 ».

« A ceremonia foi celebrada segando o rito pelo
parocho
da freguezia ».193

« O templo é feito de cantaria por um architecto
célebre ».

N. B. O complemento circumstancial, liga-se ao
adjectivo por qualquer preposição accommodada,
como, de, em, com, cêrca, até, para, durante, segundo,
por
, &.

Complemento do verbo.

O complemento do, verbo attributivo, pode ser,
directo ou objectivo, quando o verbo é transitivo ;
terminativo, quando o verbo é relativo, e, circumstancial,
tanto nos dois casos, como quando o verbo
e intransitivo.

I. [Complemento directo ou objectivo]

O complemento directo ou objectivo do verbo transitivo,
que já ficou definido que cousa seja quando
tractei d’este verbo, pode ser nome, pronome, qualquer
parte da oração substantivada, oração.

Exemplos do complemento directo, nome : —

« O homem fertilisa com a cultura a terra ainda
a mais ingrata
. ».194

« Ninguém conhece bem todas as difficuldades de
uma lingua
, sinão quem d’ella faz profundo estudo ».

« Estimo a Pedro que é um homem de bem ».

« Amas a esta menina, ou simplesmente, esta
menina, como si fosse tua filha
 ».

N. B. N’estes exemplos ponho em italico os complementos
directos, a terra, todas as difficuldades,
a Pedro, a esta menina
, com todos os seus accessorios,
porque este complemento, que é um sujeito
diverso, vem como o sujeito da proposição ordinariamente
acompanhado d’elles no discurso.

Exemplos do complemento directo, pronome : —

« Preso-te por tuas excellentes qualidades, e porque
tambem me estimas ».

« Visita-me sempre, porque muito aproveito com
a tua conversação ».

Venera-me como a pae ».

« Apartar-te-has de nós mui breve ».

Exemplos do complemento directo, adjectivo substantivado : —

« Amo o bello das artes, bem como o da natureza ».

« Convem dar o seu a seu dono ».

Exemplos do complemento directo, conjuncção e
adverbio substantivados :195

Não direi o como e o quando por não ser necessario ».

« Ainda tenho em lembrança aquelle seu até
breve que nunca se realisou
 ».

Exemplos do complemento directo, verbo no infinito
e oração.

« Quero partir ».

« Não posso duvidar ».

Desejo aprender as artes e sciencias para ser
instruido
 ».

Não digas d’esta agua não beberei e deste pão
não comerei
 ».

« Sabes que o que pedes é mui difficil de alcançar ? »

N. B. Os verbos, querer, e, poder, tem ordinariamente
por complementos directos verbos no infinito
e orações.

O complemento directo, é sempre um sujeito diverso
do da proposição, como fica dito, menos
quando é representado pelo mesmo pronome que
serve de sujeito, porque então converte-se em simples
intermediario para fazer reflectir a acção d’este
sobre elle proprio, o que só tem cabimento com
o verbo reflexo pronominal, ou accidentalmente reflexo.

Exemplos do primeiro caso :196

« Nós nos compadecemos dos males dos outros
homens, porque elles são nossos semelhantes ».

« Elle se esmera em todo genero de pintura que
emprehende, como perfeito artista que é ».

Exemplos do segundo caso :

« Eu feri-me na mão brincando com um canivete ».

« Tu te revês na tua imagem como um Narcizo ».

N. B. Este complemento directo do verbo reflexo
é, como se vê, uma excepção á regra geral.

II. [Complemento indirecto ou terminativo]

O complemento indirecto ou terminativo, do verbo
relativo, que ja ficou igualmente difinido quando
tractei d’este verbo, pode ser da mesma fórma, nome,
pronome, qualquer parte da oração substantivada,
oração.

Exemplos do complemento indirecto, nome : —

« O mundo obedece a Deus ».

« Usa de armas defezas ».

Exemplos do complemento indirecto, pronome : —
« Fallou-me arrebatadamente ».

« Valêo-te quando menos esperavas ».

Exemplos do complemento indirecto, adjectivo e
adverbio substantivados : —

« Acodio ao seu chamado ».197

« Annuio áquelle seu até amanhã ».

Exemplos do complemento indirecto, verbo e
oração : —

« Acodio a orar ».

« Accorrêo a defender o posto atacado ».

N. B. O complemento indirecto liga-se ao verbo
por preposição accommodada, como, a, de, por,
para, em, para com
&, menos quando é pronome,
porque então pode deixar de levar preposição, como
se vê nos dois exemplos acima.

Pode o complemento indirecto concorrer conjunctamente
com o directo para modificar um só e
o mesmo verbo, quando este é, transitivo relativo ; e
diz-se então que o verbo pede dous complementos,
um, objectivo, e outro, terminativo.

Exemplos dos dous complementos, directo e indirecto,
juntos a um só e o mesmo verbo : —

« Escrevi-te uma carta, da qual ainda me não
déste resposta ».

« Aquelle que primeiramente ensinou aos homens
a arte de escrever
, fez um grande bem á humanidade ».

« Investio-se no cargo, para o qual fôra nomeado ».

« Jesus Christo mostrou o seu grande amor para
com os homens
, morrendo por elles ».

Quando o complemento directo é o adjectivo pronomonal,
198e o indirecto um pronome, reunem-se
ambos, como se formassem uma só palavra, indicando-se
por meio do apóstropho a elisão da vogal do
pronome que se junta ao mencionado adjectivo.
Exemplos : —

« Recebi bôas noticias acêrca da minha pretenção.
E quem foi que t’as deo » ?

« Explicou-te elle o negocio, como convinha ?
Não m’o explicou ».

Disseste a N. o que lhe mandei dizer ? Disse-lh’o.

N. B. Nos escriptores clássicos achão-se ordinariamente
reunidos os dous complementos sem apóstropho
indicativo da elisão da vogal do pronome.

III. [Complemento circumstancial]

O complemento circumstancial, que se junta ao
verbo attributivo, modifica-o, acrescentando alguma
circumstancia ao attributo n’elle incluido, e
pode ser, como o directo e o indirecto, nome, pronome,
parte de oração substantivada, oração.

São principaes circumstancias expressas por este
complemento : — O modo ; o meio ; o instrumento ; a
causa ; a origem ; o fim ; a companhia ; a ordem ; a
199opposição ; a exclusão ; a materia ; o preço ; a medida ;
o espaço ; a distancia ; o tempo, que se divide em,
tempo anterior, actual, posterior, o logar, que se
divide em, logar onde, d'onde, para onde, por onde.

Exemplos do mesmo complemento, exprimindo
cada uma das circumstancias especificadas :

(Circumstancia de modo, que se liga ordinariamente
pelas preposições, com, em, a, de, conforme
ou segundo) :

« Leio com cuidado ».

« O mar rebentava em flôr na costa ».

« Veste-se á moda antiga, ou simplemente á antiga ».

« Cobrio-se toda de dó ».

« Procedêo conforme ou segundo á lei ».

(Circumstancia de meio, que se liga quasi sempre
pelas preposições, por, e per) :

« Por elle conseguio quanto desejava ».

« Pelo teu intermedio se fará tudo ».

(Circumstancia de instrumento, que se liga pelas
preposições, com, a, em, &) :

« Ferio-se com a espada ».

« O inimigo poz tudo a ferro e fogo ».

« Cahio tropeçando n’uma pedra ».

(Circumstancia de causa, que se liga as mais das
vezes pelas preposições, de, com, a, por, per) :200

« Parecia querer estalar de dôr ».

« Nunca mais logrou saude com a grande perda
de sangue que soffrêo
 ».

« Estava morrendo á pura sede ».

« Não pode o homem conceber longa esperança,
por ser mortal ».

« Combatia pelo rei e pela patria ».

(Circumstancia de origem, que se liga quasi
sempre pela preposição, de) :

« Isto nos vem de Deus ».

« Nascêo de ventre livre ».

(Circumstancia de fim, que se liga pelas preposições,
a, para, com, em) :

« Sahio a passear ».

« Levantou-se para orar ».

« Fallou no intuito de convencer-nos, mas não o
conseguio ».

« Partio com proposito de nunca mais voltar ».

(Circumstancia de companhia, que se liga pela
preposição, com) :

« Veio com nosco ».
Sahio com elle de casa ».

(Circumstancia de ordem, que se liga ordinariamente
pelas preposições, diante de, antes de, atrás
de, depois de, após
) :

« Ia diante de mim no cortejo ».201

« Estava antes de ti na ordem hierarchica ».

« Vinha atrás de mim no cortejo ».

« Após o bispo, ou atrás do bispo, seguia-se o
deão ».

(Circumstancia de opposição, que se liga pela preposição,
contra :

« Alarico marchou contra Roma ».

(Circumstancia de exclusão, que se liga de ordinario
pelas preposições, á excepção de, menos) :

« A’ excepção do commandante, todos os officiaes
assistirão ao cortejo ».

« Concluí o meu trabalho sem o auxilio de pessôa
estranha
 ».

(Circumstancia de materia, que se liga de ordinario
pelas preposições, com, e, de) :

« Construio o muro com pedra ensossa ».

« Fez a casa de madeira ».

N. B. Quando porem a materia é materia virtual,
a preposição que se emprega é, sobre, acerca
de, em, de
, como se vê n’este exemplo :

« Discorrêo sobre moral, mas não fallou nos deveres
do homem para comsigo mesmo, de que
não
teve tempo de tractar ».

(Circumstancia de preço, que se liga pelas preposições,
por, per, a) :

« Isocrates vendeo uma oração por vinte talentos ».202

« Cedêo-me as fazendas pelo custo ».

« Couprou tudo a peso de ouro ».

(Circumstancia de medida, que se liga pelas preposições,
até, cêrca de, a, em, claras ou ocultas} :

« Profundou o poço sete braças ; isto é, até sete
braças
 ».

« Subio com o edificio uns vinte palmos ; isto é,
cêrca de uns vinte palmos ».

« Elevou o muro a duas toezas ».

« Poz a parede da frente em vinte pés de alto ».

(Circumstancia de espaço, que se liga pelas preposições,
por, a, de, com, claras ou occultas) :

« Andou longo tracto de caminho sem deparar
habitação alguma : isto é, por longo tracto de caminho ».

« Ia tão debilitado de forças, que descançava de
espaço a espaço no passeio ».

« Collocou as balisas com intervallos razoaveis ».

(Circumstancia de distancia, que se liga pelas preposições,
até, cêrca de, claras ou occultas) :

« Este sitio dista de Roma sete léguas ; isto é, até
sete léguas
, ou cêrca de sete léguas ».

(Circumstancia de tempo, que se liga pelas preposições,
em, durante, por, per, claras ou occultas,
e, de, a, depois de, claras) :

(Tempo anterior) :203

« Meu pai morrêo o anno passado durante o inverno ;
isto é, em o anno passado ou pelo anno passado ».

« Chegou hontem de noite á hora marcada ».

« Vivêo longo tempo depois da epoca em que começou
a escrever ; isto é, por longo tempo ou durante
longo tempo
 ».

(Tempo actual) :

« Estou escrevendo n’este momento ».

« Só agora ás dez horas da manhã posso sahir de
casa ».

« Vivo recluso de dia todo entregue ao trabalho
da escripta ».

(Tempo posterior) :

« Virá para o anno pela paschoa, como promettêo ».

« Não sahirei amanhã por tarde, como costumo ».

« Irei ver-te no anno seguintepara o verão ».

(Circumstancia de logar, que se liga pelas preposições,
em, junto, a, ao pé de, entre, de, até, para,
por, per
) :

(Logar onde) :

« Nascêo em Athenas ».

« Fica junto ao mar ».

« Jaz entre Roma e Frascheti ».

(Logar d’onde) :204

« Venho de França ».

« Sahio d’aopé de Coimbra ».

(Logar para onde) :

« Partio para a Bahia ».

« Irá á China ».

« Seguio até Pernambuco ».

(Logar por onde) :

« Andou pelo Perú ».

« Sahio por esta porta ».

IV. Conversão grammatical

Quando se muda a oração da voz activa para a
passiva, o complemento directo do verbo transitivo
passa a ser sujeito da oração pela passiva, e o sujeito
da oração na voz activa a ser complemento
indirecto do participio passivo ; mas o complemento
circumstancial fica sempre invariavel, assim como
o indirecto do verbo transitivo relativo. Verifique-se
isto por meio de alguns dos exemplos já citados.

Exemplo da oração na voz activa :

« O homem fertilisa com a cultura a terra ainda,
a mais ingrata
 ».205

« Estimo a Pedro, que é um homem de bem ».

« Preso-te por tuas excellentes qualidades, e porque
tambem me estimas ».

« Escrevi-te uma carta, da qual ainda me não
déste resposta ».

Exemplos das mesmas orações na voz passiva
com a conversão sobredita :

« A terra ainda a mais ingrata é fertilisada pelo
homem
com a cultura ».

« Pedro, que é um homem de bem, é por mim, ou
de mim estimado ».

« Tu és por mim, ou de mim presado por tuas
excellentes qualidades, e porque eu tambem sou por
ti
, ou de ti estimado ».

« Por mim te foi escripta uma carta, da qual ainda
por ti me não foi dada resposta ».

N’este último exemplo os participios passivos,
escripta, e, dada, tem cada um dois complementos
terminativos, um da pessôa, por quem, ou, de quem,
outro da pessôa, a quem, ou, para quem. Isto verifica-se
frequentemente nas orações pela passiva,
como se vê nos seguintes exemplos :

« Um discurso foi por mim recitado ao auditorio ».

« Aviso de que partiria hoje, foi por elle dirigido
a Pedro
 ».

O verbo transitivo apassivado pelo pronome indefinido
206se, admitte tambem um complemento indirecto
conversivel em sujeito da oração na voz activa.

Exemplo :

(Oração pela passiva) :

« Pelos paes e parentes das roubadas emigrou-se
frequentemente para Roma ».

(A mesma oração na activa) :

« Os paes e parentes das roubadas emigrárão frequentemente
para Roma ».

N. B. O complemento indirecto do participio
passivo que representa o agente, como dizem os
grammmaticos, liga-se ao participio pela preposição,
por, e ás vezes, de, como se vê nos exemplos
acima.

Equivalente dos complementos.

O adjectivo qualificativo, a proposição circumstancial
incidente em que elle se resolve, o nome
apposto a outro, a proposição completiva, e a proposição
puramente circumstancial, são outros tantos
equivalentes dos complementos acima especificados,
porque completão com elles o sujeito e o attributo
a que se juntão.

O adjectivo qualificativo que se refere á compreensão
207das idéas, exprimindo uma qualidade da substancia,
pessôa ou cousa, designada pelo nome, é
o equivalente do complemento restrictivo, em que
se converte, substituindo-se pelo substantivo abstracto
que significa essa qualidade, precedido da
preposição, de : pois, homem probo, mulher virtuosa,
magistrado integro, terra fertil, praia arenosa, pedra
calcarea, valem o mesmo que, homem de probidade,
mulher de virtude, magistrado de integridade ou
inteireza, terra de fertilidade, praia de areia, pedra
de cal.

Exemplos desenvolvidos :

« O homem honrado, isto é, de honra, cumpre fielmente
os seus tractos ».

« A mulher virtuosa, isto é, de virtude, é o ornamento
da familia a que pertence ».

« A vida militar, isto é, do militar, é arriscada,
mas util á patria ».

« Os mares polares, isto é, do polo, só são navegaveis
em certa estação do anno ».

Este mesmo adjectivo, quando junto ao substantivo
que qualifica, póde por meio do adjectivo conjunctivo
resolver-se em proposição incidente, que é
pelo seu turno o equivalente do complemento restrictivo.

Exemplos :208

« O homem justo, isto é, que é justo, vive com a
consciencia tranquilla ».

« A pobreza honrada, isto é, que é honrada, é preferivel
á riqueza mal adquirida, isto é, que é mal
adquirida
 ».

N. B O adjectivo determinativo que se refere á
extensão das idéas, determinando por qualquer modo
essa extensão em relação á substancia, pessôa ou cousa,
designada pelo nome a que se junta, não constitue
complemento, excepto quando na determinação
vem ao mesmo tempo envolvida a idéa de qualidade,
como a ordem, a propriedade.

Exemplos d’estes dois casos excepcionaes :

« El-rei D. João, o terceiro de Portugal, introduzio
no reino a inquisição, e depois d’ella os Jesuitas ;
isto é, el-rei D. João, que foi o terceiro de nome
na ordem dos reis de Portugal
, introduzio, etc ».

« Manda-me o meu album com o teu retrato ; isto
é, manda-me o album que me pertence, com o retrato
que te pertence ».

O nome apposto a outro, seja proprio, seja appellativo,
é tambem o equivalente do complemento
restrictivo ; porque no primeiro caso, de que já dei
exemplo, converte-se nelle antepondo-se-lhe a preposição,
de, e no segundo resolve-se em proposição
incidente que representa esse complemento.209

Exemplos d’este segundo caso :

« Tito, amor e delicias do genero humano, julgava
perdido o dia em que não fazia bem a alguem ».

« O Brazil, imperio mui vasto e rico, é a todos
os respeitos a segunda nação da America ».

N’estes dois exemplos, amor e delicias do genero
humano
, são qualidades que se attribuem a Tito, e,
imperio mui vasto e rico, qualidades que se attribuem
ao Brazil, por isso resolvem-se em proposições
incidentes, como se vê nos mesmos exemplos,
que aqui ponho com todos os appostos e qualificativos
dos sujeitos resolvidos nas mencionadas proposições :

« Tito, que era amor, e era delicias do genero
que é humano, julgava perdido o dia em que não
fazia bem a alguem ».

« O Brazil, que é imperio que é mui vasto, e é mui
rico
, é a todos os respeitos a segunda nação da America ».

A proposição completiva ora é o equivalente do
complemento restrictivo, ora do terminativo, ora
do objectivo, do que não produzo exemplos, porque
já o fiz, quando tractei dos complementos do nome
appellativo, do adjectivo relativo, do verbo transitivo,
e do relativo.

A proposição circumstancial, não ligada pelo adjectivo
210conjunctivo, mas pela conjuncção, ou pela
preposição, é o equivalente do complemento circumstancial
em suas differentes especies.

Tendo eu dado quando tractei dos complementos
do nome adjectivo, e do verbo attributivo, exemplos
da proposição circumstancial ligada pela preposição,
só produzirei os seguintes da mesma proposição
ligada pela conjuncção :

« Não partirei hoje, porque já é tarde para seguir
viagem
 ».

« Para que sejas bem succedido no exame é necessario
estudar ».

« Como recommendas, assim se fará ».

« Depois que d’aqui partiste, só me escreveste
uma vez ».

« Quando vieres, de tudo te darei conta ».

Nestes exemplos a proposição ligada pela conjuncção,
porque, exprime uma circumstancia de causa ;
a proposição ligada pela conjuncção, como, uma
circumstancia de modo ; as proposições ligadas pelas
conjuncções, depois que, e, quando, exprimem, a
primeira, uma circumstancia de tempo anterior, a
segunda, uma circumstancia de tempo posterior.

Como éstas se podem pelas proposições exprimir
outras circumstancias.211

Modelos de analyse.

I. [Primeiro exemplo]
« A inclinação de Pedro ás armas é evidente ».

Sujeito.

A inclinação (sujeito grammatical).

De Pedro (complemento restrictivo do appellativo, inclinação,
ligado a elle pela preposição, de, da qual, a inclinação,
é o termo antecedente, e, Pedro, o consequente) :
ás armas, complemento terminativo do mesmo appellativo,
ligado a elle pela preposição, a, combinada
com o artigo, as, e da qual, a inclinação, é o termo antecedente,
e, as armas, o consequente).

A inclinação de Pedro ás armas (sujeito total ; complexo,
porque tem os complementos, de Pedro, e, ás armas).

Verbo.

E’ (Verbo substantivo ; está na terceira pessôa do presente
do indicativo ; concorda com o sujeito grammatical,
a inclinação, porque se accommoda pela fórma á
térceira pessôa e numero singular do sujeito).

Attributo.

Evidente (attributo grammatical e total : simples, porque
exprime uma só maneira de existir do sujeito ; incomplexo,
porque não tem complementos ; é um adjectivo
212que concorda em genero e numero com o sujeito grammatical,
a inclinação).

N. B. Não entro em mais promenores, porque o
alumno já conhece todas as partes da oração.

II.[Segundo exemplo]
« Alexandre, Cezar, e Napoleão o primeiro forão amantes
da glória das armas »

Sujeito.

Alexandre, Cezar, e, Napoleão o primeiro (sujeito grammatical
e total) ; composto, porque representa objectos,
isto é, pessôas, differentes ; complexo, porque, Napoleão,
tem o complemento, o primeiro, que se resolve na proposição
incidente, que foi o primeiro de nome na ordem
dos reis de França
, e é o equivalente do complemento
restrictivo).

Verbo.

Forão (verbo substantivo ; está na terceira pessôa do
plural do preterito perfeito do indicativo ; concorda com
o sujeito accomodando-se á sua pessôa e numero, porque
os tres sujeitos da terceira pessôa do singular fazem
um só da mesma pessôa do plural.

Attributo.

Amantes (attributo grammatical ; concorda com os tres
213sujeitos do singular representando um só no plural, e
por isso está no plural) : da glória (complemento terminativo
do adjectivo relativo, amantes, ligado a elle pela
preposição, de, combinada com o artigo, a, e da qual,
amantes, é o termo antecedente, e, a glória, o consequente) :
das armas (complemento restrictivo do apellativo,
glória, ligado a elle pela preposição, de, combinada
com o artigo, as, e da qual, a glória, é o termo antecedente,
e, as armas, o consequente).

Amantes da glória das armas (attributo total ; complexo,
porque tem os complementos, da glória, e, das armas).

N. B. Verifica-se que o sujeito é composto, dividindo-se
a proposição em tantas, quantos são os sujeitos ; o que
se faz, accommodando-se o verbo e o attributo a cada
um dos sujeitos tomado separadamente. A proposição
analysada, por exemplo, pode-se dividir em trez pela seguinte
maneira :

« Alexandre foi amante da glória das armas ».

« Cezar foi amante da glória das armas ».

« Napoleão o primeiro foi amante da glória das armas ».

Quando o attributo é composto tambem se verifica
que o é, dividindo-se a proposição em tantas, quantos
são os attributos. Mas n’este último caso o verbo e o attributo
que se repetem, ficão sempre subordinados ao
sujeito que tambem se repete. Sirva de exemplo a proposição,
« Cicero foi orador e philosopho », a qual se divide
em duas pela seguinte maneira :

« Cicero foi orador ».

« Cicero foi philosopho ».214

III.[Terceiro exemplo]
« O homem fertilisa com a cultura a terra ainda a mais
ingrata ».

Sujeito.

O homem (sujeito grammatical e total ; simples, porque
representa um só objecto, isto é, uma só pessóa ;
incomplexo, porque não tem complementos).

Verbo.

Fertilisa (verbo attributivo da primeira conjugação,
que, decomposto, é o mesmo que, é fertilizante ; está na
terceira pessôa do singular do presente do indicativo ;
concorda em pessôa e numero com o sujeito, o homem,
a cuja pessôa e numero se accommoda ; é transitivo, porque
passa a acção do sujeito, o homem, ao sujeito diverso,
a terra ainda a mais ingrata).

Attributo.

Fertilisante (attributo grammatical incluido no verbo) :
com a cultura (complemento circumstancial de causa do
attributo fertilisante, ligado a elle pela preposição, com,
da qual, fertilisante, ou o verbo, fertilisa, em que se inclue
este attributo, é o termo antecedente, e, a cultura,
o consequente) : a terra (complemento objectivo do attributo,
fertilisante, ou do verbo, fertilisa, em que se
inclue este attributo) : a mais ingrata (complemento do
215appellativo, a terra, como qual este adjectivo superlativo
concorda em genero e numero) : ainda (adverbio de quantidade,
complemento do superlativo, o mais ingrata, cuja
significação encarece).

Fertilisante com a cultura a terra ainda a mais ingrata
(attributo total ; complexo, porque tem os complementos,
com a cultura, a terra, a mais ingrata, e, ainda).

IV. [Quarto exemplo]
« Amo o bello das artes, bem como o da natureza ».

Sujeito.

Eu (sujeito grammatical e total subentendido ; simples,
porque representa um só objecto, isto é, uma só pessôa ;
incomplexo, porque não tem complementos).

Verbo.

Amo (verbo attributivo da primeira conjugação, que,
decomposto, é o mesmo que, sou amante ; está na primeira
pessôa do singular do presente do indicativo ; concorda
em pessôa e numero com o sujeto eu, a cuja pessôa e
numero se accommoda ; é transitivo, porque passa a
acção do sujeito, eu, ao sujeito diverso, o bello das artes).

Attributo.

Amante (attributo grammatical incluido no verbo ; concorda
216 com o sujeito, eu, em genero e numero) : o bello
(complemento objectivo do attributo, amante, ou do verbo,
amo, em que se inclue este attributo) : das artes (complemento
restrictivo do adjectivo substantivado, o bello,
ligado a elle pela preposição, de, combinada com o artigo,
as, e da qual, o bello, é o termo antecedente, e, as
artes
, o consequente) : bem como o da natureza (outro
complemento total do attributo, amante, que se subentende,
representando o adjectivo pronominal, o, o complemento
objectivo, o bello, adjectivo substantivado, do qual,
da natureza, é complemento restrictivo, ligado a elle pela
preposição, de, combinada com o artigo, a ; é uma idéa
equivalente a uma proposição ligada á primeira pela
locução conjunctiva, bem como).

Amante o bello das artes, bem como o da natureza (attributo
total ; composto, porque exprime diversas maneiras
de existir do sujeito ; complexo, porque tem os complementos
totaes, o bello das artes, e, o bello da natureza).

N. B. Facil é verificar que o attributo da proposição
analysada é composto, dividindo-se a proposição em tantas,
quantos são os attributos pela seguinte maneira :

« Amo o bello das artes, bem como amo o da natureza ;
isto é, o bello da natureza ».

V.[Quinto exemplo]
« Convem dar o seu a seu dono ».

Sujeito.

Dar o seu a seu dono (sujeito grammacal e total ; simples,
217porque representa um só objecto, isto é, uma só
cousa ; complexo, porque é uma proposição infinitiva
com o sujeito, verbo, e attributo, como se vai vêr da anályse
que se segue) :

Dar (verbo attributivo transitivo da primeira conjugação ;
está no presente do infinito ; tem incluido em si
o sujeito, que é, o mesmo acto de dar. decompõe-se em,
ser dante : dante, attributo grammatical incluido no verbo,
tem os complementos, objectivo o seu, e terminativo
a seu dono, que se explicão tambem por complementos
do verbo que comprehende o attributo que elles completão).

Verbo.

Convem (verbo attributivo da terceira conjugação que,
decomposto, é o mesmo que, ser convinte, ou conveniente ;
está na terceira pessôa do singular do presente do indicativo ;
concorda em pessôa e numero com o sujeito,
dar o seu a seu dono, a cuja pessôa e numero se accommoda ;
é intransitivo, porque não passa a acção do sujeito
a outro diverso).

Attributo.

Convinte ou conveniente (attributo grammatical e total
incluido no verbo ; simples, porque exprime uma só
maneira de existir do sujeito ; incomplexo, porque não
tem complemento ; concorda com o sujeito ema genero e
numero.218

Sintaxe das proposições.

Noções preliminares.

I. [Conceito de proposição]

A proposição, que é, como fica dito, o enunciado
do juizo e sem a qual não pode haver discurso, ou
fórma por si só, ou concorre com outras para formar
uma phrase, ou sentido completo e absoluto.

Ésta phrase ou sentido que se liga a outros para
formar o discurso, é o que se chama periodo grammatical,
o qual é simples si consta de uma só proposição,
composto si de mais de uma.

A proposição, por exemplo, « Deus creou o mundo
em seis dias », é uma proposição absoluta, porque
fórma um sentido completo e absoluto ; e, posta
por si só no discurso, constitue um periodo grammatical
simples.

Si eu porem disser, em vez disso, « Deus creou o
mundo em seis dias, e descançou no setimo », fórmo
um periodo grammatical composto ; porque por
meio da conjuncção, e, estabeleço um laço, uma relação
entre as duas proposições. É com tudo de
notar n’este caso, que a segunda proposição, bem
que ligada á primeira pelo sentido, não fica menos
219independente d’ella em sua construcção, ou que
são apenas duas proposições absolutas aproximadas
por virtude de uma conjuncção de primeira
classe, ou de aproximação ; por isso taes proposições
não dão logar á regra alguma particular de syntaxe.

O verbo da proposição absoluta, ora está no indicativo,
ora no imperativo, ora no condicional.

II. [O periodo grammatical]

O periodo grammatical pois pode, quando composto,
constar de proposições absolutas aproximadas,
ou, o que é muito mais frequente, de uma proposição
absoluta, e de outras proposições subordinadas
que d’ella dependão.

Quando digo, por exemplo, « O homem pensa,
porque é um ente dotado de intelligencia », estas
duas proposições unidas pela conjuncção, porque,
concorrem ambas para formar uma phrase ou periodo
grammatical, mas de tal maneira, que a segunda
não só modifica e determina a primeira, mas
é d’ella dependente. Ésta subordinação opera-se
por virtude da conjuncção de segunda classe, ou de
subordinação, que as liga. A primeira chama-se proposição
220principal ; a segunda, proposição subordinada.

O verbo nesta especie de proposição subordinada
circumstancial ora vai para o indicativo, ora
para o conjunctivo.

III. [Proposição subordinada]

As vezes a proposição subordinada não está ligada
á principal por uma conjuncção, mas pelo adjectivo
conjunctivo, ou por um adverbio conjunctivo,
como se observa nos dois seguintes periodos
grammaticaes :

« Enéas fugia de Troia, que tinha sido tomada ».

« Enéas veio á Italia, onde fundou um reino ».

No primeiro periodo, a proposição subordinada,
que tinha sido tomada, acha-se ligada á principal,
Enéas fugia de Troia, pelo adjectivo conjunctivo,
que. No segundo, a proposição subordinada, onde
fundou um reino
, acha-se ligada á principal, Enéas
veio á Italia
, pelo adverbio conjunctivo, onde, que
se resolve no mesmo adjectivo.

O verbo n’esta especie de proposição subordinada,
vulgarmente chamada incidente, vai tambem,
ora para o indicativo, ora para o conjunctivo.221

IV. [Proposição subordinada infinitiva]

Outras vezes a proposição subordinada, debaixo
da fórma de proposição infinitiva, liga-se á principal
por uma simples preposição, como se nota n’esta
phrase ou periodo grammatical :

« Sem a cultivares, a terra não te produz bons
fructos ».

N’este periodo, a proposição subordinada, sem a
cultivares
, acha-se ligada á principal, a terra não
te produz bons fructos
, pela preposição, sem, como
si fosse um mero complemento circumstancial.

V. [Proposição participio]

Casos ha em que a proposição subordinada toma
uma fórma particular, porque não tem conjuncção,
nem outro equivalente, que a ligue, e o seu verbo
vai para o participio, como se vê nest’outro periodo
grammatical :

« Tendo sido tomada Troia, Enéas veio á Italia ».

N’este periodo, a proposição subordinada, Tendo
sido tomada Troia
, acha-se ligada á principal, Enéas
veio á Italia
, unicamente pelo participio, tendo sido
tomada
, ou, em última anályse, tendo sido.

Ésta especie de proposição, em que o verbo toma
222uma fórma especial, chama-se, proposição participio.

Taes são as quatro fórmas de proposições subordinadas,
chamadas, circumstanciaes, porque exprimem
uma circumstancia, seja relativa ao sentido
geral da proposição principal, seja a qualquer de
seus termos.

VI. [Proposição completiva do infinito]

Mas n’esta phrase ou periodo grammatical, « Quero
que sejas feliz », a proposição subordinada, sejas
feliz
, ligada á proposição principal, Quero, pela
conjuncção, que, não exprime uma simples circumstancia
d’ella, mas completa-lhe o sentido : por
isso chama-se, completiva.

Não ha sinão um limitado numero de conjuncções
que sirvão para unir a proposição completiva
á principal, por exemplo, que, a que, de que ; mas
o adjectivo interrogativo, ou os adverbios interrogativos
desempenhão o mesmo officio, como se nota
nos seguintes periodos grammaticaes :

« Dize-me quem sejas, ou és » ?

« Quero saber d’onde vieste » ?

No primeiro periodo, a proposição completiva,
quem sejas, ou és, acha-se ligada á principal, Dize-me,
223pelo adjectivo interrogativo, quem. No segundo, a
proposição completiva, d’onde vieste, acha-se
ligada á principal, Quero saber, pelo adverbio
interrogativo, d’onde.

N’esta especie de proposição subordinada, quando
ligada pela conjuncção, o verbo vai ordinariamente
para o conjunctivo ; e, quando ligada pelo
adjectivo e adverbios interrogativos, ora para o indicativo,
ora para conjunctivo.

VII. [Proposição completiva do infinito]

Algumas vezes a proposição completiva não tem
conjuncção que a ligue á principal, e o seu verbo
vai para o infinito, como se vê nas duas seguintes
phrases ou periodos grammaticaes :

« Creio ser feliz ».

« Bom é estudares ».

No primeiro periodo, a proposição subordinada,
ser feliz, acha-se ligada á principal, Creio, pela
identidade do sujeito, que é o mesmo em ambas : pois,
Creio ser feliz, é a mesma cousa que, Eu creio ser
eu feliz
. No segundo, a proposição subordinada,
estudares, serve ella mesma de sujeito á principal,
Bom é, e sendo os sujeitos diversos, a ligação entre
as duas proposições opera-se pelo mesmo verbo no
224infinito ; o que acontece com todas as proposições
do infinito pessoal sem outro liame.

Ésta especie de proposição subordinada chama-se,
proposição completiva do infinito.

Resumo.

Dividem-se, pois, as proposições. 1.° em, absolutas ;
2.° em, subordinadas circumtanciaes ; 3.° em, subordinadas
completivas
.

As proposições absolutas podem estar sós no discurso,
ou aproximadas entre si, sem que n’um ou
n’outro caso constituão regra alguma especial de
syntaxe. Quando aproximadas entre si, éstas proposições
ligão-se, ou por conjuncções de aproximação,
ou pela identidade de sujeito, ou simplesmente
pelo sentido na falta das duas primeiras ligações.

As proposições subordinadas não podem estar sós
no discurso, mas unem-se sempre á uma proposição
absoluta, de que dependem, e que se chama,
principal.

As proposições subordinadas circumstanciaes,
ligão-se á principal, ou por conjuncções de subordinação,
ou pelos adjectivo e adverbios conjunctivos,
225ou por preposições quando tomão a fórma de
proposição infinitiva, ou pelo verbo do participio
quando tomão a fórma de proposição participio.

As proposições completivas, ligão-se á principal
ou por certas conjuncções de subordinação, ou pelos
adjectivo e adverbios interrogativos, ou pelo
verbo no infinito quando tomão a fórma de propoção
infinitiva.

As regras de construcção, a que estão sujeitas as
proposições subordinadas circumstanciaes e completivas,
constituem o que se chama, syntaxe das proposições.

Proposições subordinadas circumstanciais.

Proposição circumstancial ligada por uma conjuncçaõ.

A proposição circumstancial, ligada por uma conjuncção,
pode ter o seu verbo, no indicativo, ou no
conjunctivo.

O verbo no indicativo enuncia um facto como
positivo e sem dependencia de outro. O verbo no
conjunctivo enuncia um facto como incerto, condicional,
hypothetico e subordinado a outro.226

Este principio geral determina o emprêgo de um
ou de outro d’estes modos na proposição circumstancial.

Assim, si a circumstancia, que a proposição acrescenta,
é um facto positivo, e só convencionalmente
subordinado a outro por fôrça da conjuncção,
o verbo vai para o indicativo, mas si é um
facto hypothetico, e por sua natureza subordinado
a outro, vai para o conjunctivo.

Exemplo da proposição circumstancial, ligada
por uma conjuncção com o verbo no indicativo. —

« O caso não acontecêo, como geralmente se diz,
mas de modo bem diverso ».

« Tanto que foi avisado da ordem de prisão passada
contra elle, occultou-se em casa de um amigo ».

« Em quanto te demoras, passa o tempo de partir ».

« Pois que me encarreguei do negocio, hei de leval o
ao cabo, como convem á minha dignidade ».

« Quando se dêo este memorável successo, era eu
bem menino, mas tenho d’elle perfeita lembrança ».

N’estas cinco phrases ou periodos grammaticaes,
os verbos das proposições circumstanciaes ligadas
pelas conjuncções de subordinação, como, tanto
que, em quanto, pois que, quando
, enuncião factos’
positivos, e só convencionalmente subordinados a
227outros por fôrça das referidas conjuncções. Assim,
todas essas proposições subordinadas — a primeira
á principal, O facto não acontecêo ; a segunda á principal,
occultou se em casa de um amigo ; a terceira á
principal, passa o tempo de partir ; a quarta e quinta
á principal, hei de leval-o ao cabo ; a sexta á principal,
era eu bem menino ; são conversiveis em proposições
absolutas simplesmente aproximadas ás
principaes, si supprimirmos as conjuncções de
subordinação que as ligão, ou as substituirmos por
conjuncções de aproximação.

Exemplos, dos mesmos periodos grammaticaes
com a conversão sobredita : —

« É isso opinião geral, mas o caso não acontecêo
assim e de modo bem diverso ».

« Foi avisado da ordem de prisão passada .contra
elle, e occultou-se em casa de um amigo ».

« Tu te demoras, e passa o tempo de partir ».

« Encarreguei-me do negocio ; hei de leval-o ao
cabo ; assim convem á minha dignidade ».

« Dêo-se este memorável successo ; era eu bem
menino ; mas tenho delle perfeita lembrança ».

Com a suppressão das conjuncções de subordinação
ficão todos esses periodos grammaticaes compostos
de proposições absolutas aproximadas. No
primeiro até a proposição transformada é a primeira
228na ordem das outras, o que é o equivalente da
proposição principal nos periodos grammaticaes
que comprehendem proposições absolutas aproximadas.

Exemplos da proposição circumstancial, ligada
por uma conjuncção, com o seu verbo no conjunctivo : —

« Proferes ameaças, para que nos infundas terror ».

« Themistocles procurava as paragens estreitas,
afim que não fosse envolvido na peleja pela grande
multidão dos navios inimigos ».

« Podes demorar a execução do negocio, com tanto
que
o concluas bem ».

« Até que sejas homem feito, devem passar-se
ainda não poucos annos ».

« Toda a cidade, como si fosse um só homem, corrêo
ás armas para defender-se do ataque ».

N’estes exemplos, os verbos das proposições
circumstanciaes, ligadas ás principaes pelas conjuncções,
para que, afim que, comtanto que, até que,
como si
, estão todos no conjunctivo, não só por fôrça
d’essas conjuncções de subordinação, como e mui
principalmente porque enuncião factos hypotheticos,
condicionaes, e de sua natureza subordinados
a outros. Assim, não são taes proposições conversiveis
229em absolutas pela simples suppressão das
conjuncções de subordinação, como as que teem o
seu verbo no indicativo.

Com certas conjuncções de subordinação, como,
postoque, ainda que, si, como, em quanto, quando
&
., a proposição circumstancial, ora tem o seu
verbo no indicativo, ora no conjunctivo, segundo o
facto por elle enunciado é positivo e só convencionalmente
subordinado, ou hypothetico, e por sua
natureza subordinado a outro.

Exemplos da proposição circumstancial, ligada
por uma mesma conjuncção, com o seu verbo, ora
no indicativo, ora no conjunctivo : —

« Posto que já sobresae na pintura, ainda não é
com tudo para equiparar-se ao mestre ».

« Posto que já sobresáia na pintura, ainda não é
com tudo para equiparar-se ao mestre ».

« Ainda que és erudito, não podes todavia passar
por sabio ».

« Ainda que sejas erudito, não podes, ou não poderás
todavia passar por sabio ».

« Si fico n’esta terra, não lógro mais saude ».

« Si eu ficar nesta terra, não lograrei mais saude ».

N’estes exemplos, as proposições cicumstanciaes,
que teem o verbo no indicativo, podem pela simples
suppressão das conjuncções, posto que, ainda que,
230si, que as ligão ás principaes, converter-se em outras
tantas proposições absolutas aproximadas, por
ésta fórma :

« Já sobresae na pintura, mas ainda não é para
equiparar-se ao mestre ».

« És erudito, mas não podes passar por sabio ».

« Fico n’esta terra ; e não lógro mais saude ».

N. B. Note-se em uns e outros exemplos a especie
de opposição que se estabelece entre as conjuncções
de subordinação, posto que, ainda que, e
as conjuncções de aproximação, com tudo, todavia. A
mesma especie de opposição se verifica com, bem
que, com quanto
, e, com tudo, todavia, nada ou não
obstante
.

Tendo dado acima exemplos da proposição circumstancial
com o verbo no indicativo, ligada pelas
conjuncções de subordinação, como, em quanto,
quando
, só os produzirei agora da mesma proposição
com o verbo no conjunctivo : —

« Como não houvesse vento, não desaferrou do
porto aquelle dia ».

« Em quanto fôres feliz, contarás muitos amigos ».

« Quando começar a romper o dia, sahirei a dar
um passeio pelo campo ».231

Proposição circumstancial ligada pelos adjectivo e adverbios conjunctivos.

A proposição circumstancial, ligada pelo adjectivo
conjunctivo, ou pelos adverbios que se põem por elle,
tem, como a circumstancial ligada por uma conjuncção,
o seu verbo no indicativo, quando o facto por
este enunciado é um facto positivo, e no conjunctivo,
quando é um facto condicional, ou hypothetico.

Proposição circumstancial ligada pelo adjectivo conjunctivo.

Exemplos d’esta especie de proposição com o verbo
no indicativo :

« Deus, que é justo, premeia os que se não desvião
do caminho da virtude ».

« O homem, que é prudente, regula suas despezas
pelos rendimentos de seu trabalho ».

« Ha na Grã Bretanha um rio, que se chama Tamisa,
ou o Tamisa. »

Em todos estes casos, o adjectivo conjunctivo, que,
liga á principal uma proposição que enuncia uma
circumstancia explicativa ou determinativa de um
232dos termos da primeira, e resumivel no adjectivo
qualificativo, como se vê nest’outros exemplos :

« Deus justo premeia os não viciosos, ou os virtuosos ».

« O homem prudente regula suas despezas pelos
rendimentos de seu trabalho ».

« Ha na Grã Bretanha um rio chamado Tamisa,
ou o Tamisa ».

Casos ha notaveis em que o adjectivo conjunctivo,
que liga a proposição circumstancial á principal,
está por uma conjuncção, seja de aproximação, seja
de subordinação.

Exemplos da proposição ligada por este adjectivo,
fazendo as vezes de uma conjuncção de aproximação :

« Alcibiades passou á Asia a ter com Pharnabaso,
a quem captivou por suas maneiras insinuantes ».

« Tentárão resistir a Agesiláo os Athenienses, os
Beocios, e seus alliados, aos quaes todos vencêo em
batalha ».

No primeiro caso, o adjectivo conjunctivo é o equivalente
da conjuncção, e, e do adjectivo pronominal,
o ; no segundo, o equivalente da conjuncção, mas, e
do adjectivo pronominal, os, como se vê nest’outros
exemplos :233

« Alcibiades passou á Asia a ter com Parnabaso,
e o captivou por suas maneiras insinuantes ».

« Tentárão resistir a Agesiláo os Athenienses, os
Beocios e seus alliados, mas a todos os vencêo em
batalha ».

Em taes casos, a proposição ligada pelo adjectivo
conjunctivo é conversivel em absoluta aproximada,
sendo este adjectivo substituido pela conjuncção de
aproximação, por que está, e pelo adjectivo pronominal.

Outras vezes, a proposição circumstancial está ligada
pelo adjectivo conjunctivo, fazendo este as vezes
de conjuncção de subordinação, como se vê nos
seguintes exemplos :

« Somos levados a adquirir certos conhecimentos,
em que reputamos bello sobresahir, isto é, porque
n’elles
reputamos bello sobresahir ».

« Fui á capital do orbe christão, que ha muito desejava
visitar ; isto é, porque ha muito a desejava visitar ».

No primeiro caso, o adjectivo conjunctivo está
pela conjuncção de subordinação, porque, e o pronome
pessoal, elles : no segundo, pela referida conjuncção, e
o adjectivo pronominal, a. Em nenhum
dos dois casos, porem, a proposição circumstancial
muda de natureza com a conversão do liame.234

Exemplos da proposição circumstancial ligada
pelo adjectivo conjunctivo, tendo o verbo no conjunctivo :

« Não ha no mundo vivente algum que não seja
sujeito á morte ».

« Ainda está por nascer o homem que saiba dar
direcção á navegação aeria ; aquelle que o fizesse,
seria reputado um prodigio de genio ».

Exemplos da mesma proposição, fazendo o adjectivo
conjunctivo as vezes de conjuncção de subordinação :

« Artaxerxes pedio aos Athenienses um chefe que
prepuzesse ao seu exercito ».

« Creou Deus a mulher que fosse a companheira
do homem em todos os trabalhos da vida ».

No primeiro caso, o adjectivo conjunctivo, que,
está pela conjuncção de subordinação, para que, ou,
afim que, e o adjectivo pronominal, o : no segundo,
pela referida conjuncção, e o pronome pessoal, ella.
Mas as duas proposições circumstanciaes não mudão
de natureza com a conversão, como se vê nest’outros
exemplos :

« Artaxerxes pedio aos Athenienses um chefe, para
que, ou, afim que
o prepuzesse ao seu exercito ».

« Creou Deusa mulher, para que ella fosse a companheira
do homem em todos os trabalhos da vida ».235

N. B. O adjectivo conjunctivo é um liame especial
que faz as vezes de uma conjuncção e de um
pronome, como, alem dos exemplos acima, se póde
verificar em toda outra proposição por elle ligada :

« O homem, que é mortal, isto é, porque é mortal,
vive sobre a terra vida transitoria ».

« O homem, que é prudente, isto é, quando elle é
prudente
, sabe regular a sua vida ».

Proposição circumstancial ligada pelos adverbios conjunctivos.

A proposição circumstancial, ligada pelos adverbios
que se poem pelo adjectivo conjunctivo, tem
tambem o seu verbo no indicativo ou no conjunctivo,
segundo o facto enunciado pelo verbo é positivo,
ou condicional e hypothetico.

Exemplos d’esta especie de proposição com o verbo
no indicativo :

« A teria, onde nos vai bem, é para nós a patria, ou
uma segunda patria ».

« Camões andou grande parte da sua vida pela India,
para onde foi muito moço, e d’onde trouxe por
toda e unica riqueza os seus Luziadas ».236

Exemplos da mesma especie de proposição com
o verbo no conjunctivo :

« A terra, onde te fôr bem, será para ti a patria,
ou uma segunda patria ».

« Procura exercer alguma profissão honesta, d’onde,
ou, por onde possas subsistir, sem ser pesado aos
outros ».

Todas as proposições, ligadas por adverbios que
se põem pelo adjectivo conjunctivo, são da natureza
das que teem por liame este adjectivo ; pois nos
exemplos acima, a terra onde, vale tanto como, a
terra em que
, ou, na qual ; a India para onde, e, d’onde,
tanto como, a India para a qual, e, da qual,
alguma profissão honesta d’onde
, ou, por onde, tanto
como, alguma profissão honesta de que, ou, da
qual
, ou, por que, ou, pela qual. Assim, taes proposições
dão exactamente logar ás mesmas regras de
syntaxe a que estão sujeitas as proposições ligadas
pelo mencionado adjectivo.

Proposição circumstancial infinitiva ligada por uma preposição.

A proposição circumstancial infinitiva, liga-se
por úma preposição á principal, ou áquella de que
237depende ; vai para o infinito pessoal, quando tem sujeito
diverso do da proposição por ella modificada ;
e conserva-se por via de regra no infinito impessoal,
quando o sujeito de ambas as proposições, modificada
e modificante, é o mesmo.

Exemplos d’esta especie de proposição :

« Depois de andarem os vasos da armada de conserva
á não capitânea durante uns quinze dias
,
sobreveio tamanho temporal que os separou uns
dos outros, e fez soçobrar um d’elles ».

« Por serem os ventos contrarios, não poude o
navio adiantar muito aquelle dia ».

« Antes de emprehenderes uma tão longa viagem,
bom é que te provejas do necessario para ella ».

« Sem fazermos os preparativos necessarios, não
será possivel partir d’aqui ».

« Sem estudar ninguém aprende ».

Nos exemplos acima, as proposições do infinito
pessoal ligadas pelas preposições, depois de, por
antes de, sem
, bem como a do infinito impessoal ligada
pela última d’estas preposições, e postas todas
em itálico, são como outros tantos complementos
circumstanciaes das proposições de que dependem,
e nelles em última anályse se resumem,
porque as preposições não deixão n’este caso
de fazer o seu officio. A modificação verbal do
238nosso infinito é que exige ésta distincção entre as
proposições infinitivas.

Não obstante a regra geral estabelecida para o
emprêgo do infinito pessoal, encontrão-se nos auctores
clássicos muitos exemplos da proposição infinitiva
do modo pessoal com sujeito identico ao da
proposição por ella modificada, isto quando os verbos
das duas proposições estão alguma cousa distantes
um do outro, ou quando a contravenção á
regra não offende o ouvido. Já d’aqui se deixa ver
que uma tal excepção não assenta em base alguma
solida, porque o que exige o emprêgo do infinito
pessoal é a clareza, ou o evitarem-se com elle
os equivocos que por sua falta se dão nas outras linguas.

N. B. A proposição do infinito pessoal, peculiar
á nossa lingua, colloca-se ordinariamente na ordem
inversa, como se vê nos exemplos acima, isto
quer seja ella circumstancial, quer completiva. Ha
com tudo nos bons auctores não poucos exemplos
do contrario. Dá-se tambem de ordinario n’esta
proposição ellipse do sujeito, quando este é algum
dos pronomes pessoaes, como ainda se vê nos
exemplos acima.239

Proposição circumstancial participio.

A proposição circumstancial participio, liga-se
á principal ou aquella de que depende, pelo mesmo
participio, que n’ella está pelo verbo ; e forma-se
com o participio presente ou preterito composto,
quando tem sujeito diverso do da proposição por
ella modificada, pois sem ésta circumstancia o participio
é apenas complemento de algum sujeito.

Exemplos d’esta especie de proposição formada
com participio presente :

« Sendo o vento favoravel, o navio desaferrou do
porto, e seguio viagem ».

« Escasseando as munições para resistir mais
tempo
, rendêo-se a fortaleza por capitulação ».

« Sabendo-se bem a lingua latina, facil é aprender
as linguas suas derivadas ».

« Terminada a ceremonia, sae do templo ».

As proposições postas em itálico nos exemplos
acima, das quaes a primeira tem por sujeito, o vento,
e liga-se pelo participio, sendo, á principal, o navio
desaferrou do porto
 ; a segunda tem por sujeito, as
munições
, e liga-se pelo participio, escasseando, á
principal, rendêo-se a fortaleza por capitulação ; a
terceira tem por sujeito, a lingua latina, e liga-se
pelo participio, sabendo, á principal, facil é aprender
240as linguas suas derivadas ; a quarta elliptica
tem por sujeito, a ceremonia, e se liga pelo participio
subentendido, estando, á principal, sae do templo ;
todas teem sujeito proprio ou diverso do das proposições
por ellas modificadas ; e constituem o que
se chama, proposição participio, porque contem
os tres termos, fazendo n’ellas o participio, com ou
sem o attributo, as vezes do verbo, cuja affirmação
exprime. Éstas proposições, como já fiz ver, resolvem-se,
quando formadas com o participio presente,
em proposições do modo indicativo, com a conjuncção,
em quanto, e em proposições do modo conjunctivo,
com a conjuncção, como.

Quando, porém, o participio não tem sujeito proprio,
é apenas complemento do sujeito da proposição
em que se encontra, como se vê n’est’outros exemplos :

« Recebendo aviso de haver o inimigo torcido a
marcha, manda Cesar levantar o campo ».

« Conhecendo o mal que causara com sua leviandade,
José se arrependêo de ter fallado indiscretamente ».

N’estes dois exemplos, os participios, recebendo,
conhecendo
, são meros complementos ; o primeiro,
do sujeito, Cesar, o segundo, do sujeito, José ; e ambos
se resolvem em proposições circumstanciaes,
241como os simples qualificativos, por ésta maneira :

« Cesar, que recebe aviso de haver o inimigo torcido
a marcha
, manda levantar o campo ».

« José, que conhecia o mal que causára com sua
leviandade
, arrependêo-se de ter faltado indiscretamente ».

Taes complementos tambem se podião explicar
pelos gerundios, em recebendo, em conhecendo, como
accessorios dos attributos, mandante, arrependente
e então as duas proposições citadas equivalerião
a est’outras :

« Ao receber aviso de haver o inimigo torcido a
marcha
, manda Cesar levantar o campo ».

« Por conhecer o mal que causára com sua leviandade,
José arrependêo-se de ter fallado indiscretamente ».

Exemplos da mesma especie de proposição formada
com participio preterito composto :

« Tendo cahido o cabeça ferido na refrega, os
amotinados começarão a dispersar-se sem apresentar
mais resistencia ».

« Tendo sido tomada Troia, Enéas veio á Italia ».

« Partido de Africa o conde, os Mouros mostrárão-se
logo mais ousados que d’antes, chegando em
suas correrias até ás portas de Arzila ».242

« Feita a paz, entrou a florescer o commercio e
a agricultura ».

Em todos quatro exemplos acima citados, a proposição
participio, que vai em itálico, fórma-se com
o participio preterito composto, e por elle se liga á
principal. As duas primeiras são proposições completas ;
as duas últimas, ellipticas.

Na primeira das duas proposições completas, o
participio, tendo cahido, que está pelo verbo, é o
participio composto de um verbo attributivo ; na segunda,
que se acha na fórma passiva, o participio,
tendo sido, que está pelo verbo, é o participio composto
do verbo substantivo.

Na primeira das duas proposições ellipticas, partido,
é apenas um supino, a que se deve addicionar
tendo, e, se, para fórmar o participio composto, que
está pelo verbo, porque, partir-se, era antigamente
verbo pronominal : na segunda, que se acha na fórma
passiva, o participio que se subentende para fazer
as vezes do verbo, é o participio composto do verbo
substantivo, tendo sido. Assim, as duas proposições
ellipticas equivalem a est’outras completas, Tendo-se
partido de Africa o conde
, ou, tendo-se o conde
partido de Africa
, e, Tendo sido feita a paz.

Na primeira proposição elliptica, partido, tambem
se podia explicar pelo participio preterito passivo,
243porque os antigos tambem costumavão a conjugar,
partir, chegar, ir, vir, com, ser, como auxiliar.
N’este caso, o participio que se devia subentender
para fazer as vezes do verbo, seria o participio presente
do verbo substantivo ; e a proposição elliptica
equivaleria a est’outra completa, Sendo partido de
Africa o conde
.

A proposição participio elliptica, em que ora se
subentende o participio presente, ora o participio
preterito composto, segundo o verbo da proposição
principal está no presente ou no preterito, reduz-se
a um simples complemento, juntando-se-lhe a
preposição, depois, como se vê nos mesmos exemplos
adduzidos, que aqui ponho com ella :

« Depois de terminada a ceremonia, sae do templo ».

« Depois de partido de Africa o conde, os Mouros
mostrárão-se mais ousados que d’antes, chegando
em suas correrias até ás portas de Arzila ».

« Depois de feita a paz, entrou a florecer o commércio
e a agricultura ».

As proposições formadas com participio preterito
composto, resolvem-se, como tambem já fiz
vêr, em proposições do modo indicativo, com a conjuncção,
depois que, e era proposições do modo conjunctivo,
com a conjuncção, como.244

N. B. Pede o genio da lingua que a proposição
participio se colloque sempre na ordem inversa,
isto com mais rigor ainda que a proposição do infinito
pessoal. Em prosa rarissimas são as excepções
que se encontrão a esta regra, e essas de ordinario
nas fórmas especiaes, Isto não obstante, isto posto,
isto dito
, das quaes as duas últimas se reduzem aos
complementos circumstanciaes, Depois d’isto posto,
depois d’isto dito
. No verso, porém, ha muito mais
liberdade a tal respeito. Camões, por exemplo, disse :
« Prosperamente os ventos assoprando ».

Proposições subordinadas completivas.

Proposição completiva ligada por uma conjuncção.

A proposição completiva, ligada pela conjuncção
de subordinação, que, tem, excepto em casos especiaes,
o seu verbo no conjunctivo, o qual enuncia
sempre n’este caso um facto condicional, hypothetico,
e subordinado ao facto positivo enunciado pelo
verbo da proposição principal, a que ella se prende.

« Convem que sejas prudente nos teus negocios ».245

« Desejo que te appliques ao estudo das bellas artes ».

« Ordeno-te que partas sem demora ».

Nos tres exemplos citados, e em outros analogos,
os verbos das proposições subordinadas vão para o
conjunctivo, porque a conjuncção de subordinação,
que
, liga ordinariamente proposições completivas,
cujo enunciado é condicional e hypothetico.

O mesmo se verifica com a proposição completiva
ligada pelas compostas da conjuncção, que, que
se põem pela simples, ou que suppõem a ellipse de
alguma palavra, a que se deva seguir tal conjuncção.

Exemplos : —

« Inclino-me a que venha a acontecer assim ; isto
é, inclino-me a crer, ou, a suppôr que &c ».

« Applica-te a que se faça o serviço com cuidado ;
isto é, applica-te a vigiar que &c ».

« Faze com que sáias bem de tal empreza ; isto é,
faze comtigo mesmo que &c ».

« Farei com que melhores de posição ; isto é, farei
comigo que &c
 ».

« Attenta em que o campo se lavre no menor espaço
de tempo possivel ; isto é, attenta em vigiar,
ou, em entender que &c ».

Em todos estes exemplos, e outros analogos, as
246conjuncções, a que, com que, em que, estão pelas
simples, que, do que nos convencemos, dando um
complemento accommodado á preposição que a
precede.

Casos ha, porém, em que a proposição completiva
ligada pela conjuncção, que, tem o verbo no indicativo :
primeiro, quando o facto enunciado pelo seu
verbo só é convencionalmente subordinado a outro :
segundo, quando ella é comparativa.

Exemplos do primeiro caso : —

« Creio que sabes do que se passa ».

« Julgo que serás feliz na empreza ».

N’estes exemplos, pode até a proposição subordinada
passar a ser principal com a suppressão da
conjuncção, que, e a principal a ser subordinada
com a juncção de um liame accommodado, claro,
ou occulto, como abaixo se vê : —

« Sabes do que se passa, como creio, ou simplesmente,
creio ».

« Serás feliz na empreza, segundo julgo, ou simplemente,
julgo ».

Exemplos do segundo caso :

Serás, como espero, mais bem succedido nesta
empreza, que nas outras ; isto é, que foste bem succedido
nas outras ».

« Poucos estudantes se entregarão menos ao estudo,
247que tu ; isto é, que tu te entregas a elle, ou o
fazes ».

« Arremettêrão tão impetuosamente ao sahir dos
arraiaes, que levárão os assaltantes de vencida logo
no primeiro recontro ».

N’estes exemplos, as proposições completivas, ligadas
ás principaes pela conjuncção, que, são tambem
comparativas, porque cada uma d’ellas representa
o segundo termo de uma comparação, cujo
primeiro termo está na principal, ou porque cada
uma d’ellas completa uma comparação. As duas
primeiras são ellipticas, e supprem-se, como se vê
nos mesmos exemplos.

Muitas vezes a proposição comparativa liga-se á
principal pela locução conjunctiva, do que, que se
põe em logar de, que, e suppõe uma ellipse.

Exemplos :

« Custou-te mais a comprehender o Latim do que
a mim ; isto é, em comparação do, ou, d’aquillo, que
me custou a mim ».

« É mais espirituosa, do que formosa ; isto é, em
comparação do
, ou, d’aquillo, que é formosa ».

N’estes exemplos, e outros analogos, ha, como se
vê, uma dupla ellipse, que se suppre, como nos
mesmos fica indicado.

Raros são os casos em que a proposição completiva
248se liga á principal por outra conjuncção que
não seja, que, ou alguma de suas compostas preditas,
excepto quando ella é o segundo termo de uma
comparação de igualdade. Mas n’esses raros casos
o verbo da completiva pode estar no conjunctivo ou
no indicativo, segundo a natureza do facto por elle
enunciado.

Exemplos d’esta especie de proposição ligada
pelas conjuncções, si, e, como : —

(Com o verbo no conjunctivo) :

« Ninguém pode saber melhor si seja ou não verdade
o que estou dizendo ».

« N’esta história conhecerás a fundo como as cousas
se tenhão passado n’aquelle tempo ».

(Com o verbo no indicativo) :

« Ninguém pode saber melhor si é ou não verdade
o que estou dizendo ».

« N’esta história conhecerás a fundo como as cousas
se passárão n’aquelle tempo ».

Quando a proposição completiva se acha ligada á
principal por alguma das compostas da conjuncção,
como, que se põem pela simples, ha ellipse de uma
palavra accommodada que requeira tal conjuncção,
como se vê nos seguintes exemplos : —

« Fico inteirado, ou ao facto de como a cousa se
249tenha, ou tem passado ; isto é, fico inteirado, ou ao
facto de saber, ou, conhecer como &. ».

« Estou crente em como tal desgraça se não dê ;
isto é, estou crente em esperar, ou, em conseguir
como &
 ».

N. B. Como, n’estes casos, vale o mesmo que, o
modo por que ; por isso significa mais que o simples,
que, por que podia ser substituido, e só exprimiria
a subordinação de um facto a outro.

A proposição completiva porém, quando é o segundo
termo de uma comparação de igualdade, liga-se
á principal pelas conjuncções, como, quão, ou
pelo adverbio, quanto, posto por ellas, e tem o seu
verbo no indicativo, como se vê nos seguintes exemplos : —

« O caminho pela serra era tão extenso, com ingreme,
isto é, como era ingreme ; podia ser tambem,
quão, ou, quanto ingreme ».

« Nero mostrou-se sobre o throno tão feroz, como
imbecil e covarde, isto é, como se mostrou imbecil
e covarde ; podia ser tambem, quão, ou, quanto imbecil
e covarde ».

N. B. Cumpre notar que com quanto seja, quão,
a verdadeira correspondente de, tão, é todavia n’estes
casos de um uso muito menos geral que, como,
sem dúvida pelo desagradavel da pronúncia.250

Proposição completiva ligada pelo adjetivo e adverbios interrogativos.

A proposição completiva, ligada pelo adjectivo
interrogativo e adverbios que se põem por elle, chama-se
tambem interrogativa, e pode ter o seu verbo
no indicativo ou no conjunctivo, segundo o facto
por este enunciado é positivo, ou condicional e
hypothetico.

Proposição completiva ligada pelo adjectivo interrogativo.

Ésta especie de proposição, quando tem o verbo
no indicativo, põe-se de ordinario só no discurso
com a proposição principal occulta, como se vê nos
seguintes exemplos : —

« Quem és » ?

« Quem é que está ahi » ?

« Que dizes, ou, que é o que dizes » ?

« Qual será o teu destino » ?

Em todos estes exemplos, e outros analogos, ha
ellipse da proposição principal, Pergunto, ou, Desejo
saber
, ou outra accommodada requerida pelo sentido.
É este o modo habitual de nos exprimirmos,
quando a proposição é interrogativa.251

Muitos casos ha, porém, em que a mesma especie
de proposição, quando tem o verbo no indicativo,
se põe no discurso com a proposição principal expressa,
como se vê n’est’outros exemplos : —

« Tenha vossa mercê a bondade de dizer quem é ».

« Não sei qual será o teu destino ».

« Queira vossa mercê dizer que opinião tem sobre
este ponto, ou, qual é a sua opinião sobre este
ponto ».

« Não me atrevo a dizer que cousa é mais para
admirar entre tantas dignas de apreço ».

N. B. Isto ainda assim verifica-se de ordinario
na conversação polida, ou n’um discurso seguido.

Quando ésta especie de proposição tem o verbo
no conjunctivo, põe-se no discurso com a proposição
principal clara, como se vê nos seguintes exemplos :

« Dize quem sejas, e que cousa pretendas ».

« Vejo-me perplexo sobre qual dos dois caminhos
deva escolher ».

« Ignora-se quem tenha sido o inventor do alphabeto ».

« Não é possivel encontrar hoje quem saiba decifrar
os hyeroplighos ».

N’estes casos, a proposição principal acha-se sempre
expressa, porque o verbo da completiva enuncia
252um facto condicional, hypothetico, e absolutamente
dependente do(enunciado pelo verbo da
principal.

Quando, porém, a proposição ligada pelo sobredito
adjectivo é, em vez de interrogativa, simplesmente
exclamativa, dá logar a grande numero de
ellipses, quer tenha o verbo no indicativo, quer no
conjunctivo, como se vê n’estes exemplos :

« Que bravo » !

« Que pena » !

No primeiro dos dois exemplos, Que bravo, pode
supprir-se por esta fórma, Admiro que bravo se
mostrou
, ou, se tenha mostrado ; no segundo, Que
pena
, por est’outra, Que pena se apossa, ou, se aposse
de mim, só Deus sabe
. Ésta especie de proposição
que só apresenta de ordinario um dos termos, e
esse incompleto, participa em certo modo da natureza
da interjeição, que é apenas um echo dos
affectos d’alma.

Ás vezes com tudo tem ella os seus termos expressos,
apresentando unicamente a ellipse da proposição
principal, como se nota no seguinte exemplo :

Que glória não será para ti o prestar um tal serviço
á patria ! isto é, Vê, ou, Considera que glória & ».253

Proposição completiva ligada pelos adverbios interrogativos.

A proposição completiva, ligada pelos adverbios
que se põem pelo adjectivo interrogativo, está igualmente
sujeita ás mesmas regras sobre o emprêgo do
verbo e a construcção elliptica ou não.

Exemplos d’esta especie de proposição com o
verbo no indicativo e a proposição principal occulta :

« Aonde váis » ?

« D’onde vens » ?

N’estes exemplos, tanto a proposição, Aonde váis,
que é o mesmo que, a que parte váis, como a outra,
D’onde vens, o mesmo que, de que parte vens,
se põem só no discurso com a ellipse da proposição
principal, Pergunto, ou, Quero saber, ou, Dize,
ou outra accommodada que se subentende.

Exemplos da mesma especie de proposição com
o verbo no conjunctivo e a proposição principal
clara :

« Por onde se dirija, não está certo ».

« D’onde lhe venha o mal, não póde suspeitar ».

N’estes exemplos, a primeira completiva, Por onde
se dirija
, vale tanto como, por que, ou, por qual
parte se dirija
 : a segunda, D’onde lhe venha o mal,
tanto como, de que, ou, de qual causa lhe venha o
mal
. Ambas ellas teem as proposições principaes
254claras, porque os seus verbos no conjunctivo enuncião
factos condicionaes, hypotheticos, e subordinados
aos enunciados pelos verbos d’estes.

Proposição completiva do infinito.

Ésta especie de proposição completiva vai na
nossa lingua para o infinito pessoal, todas as vezes
que tem sujeito proprio ou diverso do da proposição
por ella modificada ; e conserva-se invariavelmente
no impessoal, quando o sujeito de ambas
as proposições, modificada e modificante, é o mesmo.

Infinito pessoal.

A completiva do infinito pessoal liga-se á proposição
principal, ou áquella de que depende, pela
mesma fórma infinitiva do verbo, que é peculiar á
lingua.

Exemplos :

« Nota-se em certa estação do anno andarem as
aves em bandos pelo campo.

« Nascermos, crescermos, e morrermos, é proprio
da nossa natureza ».255

« Fazeres de tua parte a diligencia para conseguir
as cousas
, é ponto essencial em tudo ».

« Vi em tanta multidão succederem-se uns aos
outros no serviço sem a menor confusão
 ».

Nos tres primeiros exemplos, as proposições completivas
do infinito pessoal, Andarem as aves em
bandos pelo campo
Nascermos, crescermos e morrermos,
Fazeres de tua parte a diligencia para
conseguir as cousas
, constituem os sujeitos das
principaes ; no ultimo, a proposição completiva do
mesmo modo, succederem-se uns aos outros no serviço
sem a menor confusão
, apenas um complemento
do attributo da principal. Tanto umas, como
outra, teem sujeito proprio, e ligão-se ás principaes
unicamente pela fórma verbal infinitiva.

N. B. Já tive occasião de observar que, na proposição
do infinito pessoal, ha quasi sempre ellipse
do sujeito, quando este é algum dos pronomes pessoaes.
Isto mesmo ainda se verifica em dois exemplos
acima. Dá-se tambem ellipse do sujeito n’esta
especie de proposição, quando elle é algum pronome
indefinido, como se vê no seguinte exemplo :

« É loucura dar conselhos a outrem e não tomal-os
para si
 ».

N’este exemplo, e outros analogos, subentende-se,
256alguem, ou, qualquer, e as proposições infinitivas
completão-se por este modo :

É loucura dar alguem conselhos a outrem e não
tomal-os para si
.

Infinito impessoal.

A completiva do infinito impessoal liga-se á proposição
principal, ou aquella de que depende, pela
identidade do sujeito, o qual é sempre o mesmo em
ambas as proposições.

Exemplos :

« Quero instruir-te na grammatica ».

« Sabes fallar com prudencia e a proposito ».

« Não contamos vencer hoje o que resta de caminho ».

« Os fatuos presumem ser sabios com dois dedos
de sciencia
 ».

N’estes exemplos, as proposições completivas do
infinito impessoal, Instruir-te na grammatica, —
Fallar com prudencia e a proposito, — Vencer hoje
o que resta de caminho
, — Ser sabios com dois dedos
de sciencia
, são todas meros complementos dos
attributos das principaes, e ligão-se a ellas pela
identidade do sujeito.257

Ésta regra geral para a personalisação ou não
personalisação do infinito não tem excepção, quanto
á proposição completiva.

N. B. Ha com tudo casos em que a proposição
completiva do infinito não tem outro liame, sinão o
que se dá entre os termos da proposição. Isto verifica-se
quando ésta especie de proposição tem o sujeito
incluido no verbo, como se vê nos seguintes
exemplos :

« Sentir é pensar ; isto é, o acto de sentir ».

« Respirar é viver ; isto é, o acto de respirar ».

N’estes casos, porém, a proposição infinitiva que
serve de sujeito, está evidentemente pelo nome ; pois,
sentir, é o mesmo que, o sentir, ou, o sentimento ;
respirar, o mesmo que, o respirar, ou, a respiração.
O mesmo se deve entender dos infinitivos, attributos ;
pois, pensar, e, viver, equivalem aqui a substantivos
abstractos, ou a simples designativos de qualidades.
Assim, taes proposições são os equivalentes d’est’outras :

« O sentimento é pensamento ».

« A respiração é vida ».

Reduzi o infinitivo á sua expressão mais simples
para tornar a cousa evidente, mas o mesmo se observa
nas seguintes proposições infinitivas quanto ao
liame e sujeito : —258

« Fazer o seu movimento de rotação em vinte
e quatro horas
é proprio da terra ; isto é, o acto de
fazer & ».

« Chover no alto Egypto é raro ; isto é, o acto de
chover & ».

Concordancia dos verbos das proposições do periodo grammatical.

Relação de simultaneidade.

Quando o periodo grammatical, ou phrase, consta
unicamente de proposições absolutas aproximadas,
os verbos d’estas, excepto em alguns casos especiaes
que apontarei, estão sempre em relação de
simultaneidade, e põem-se todos no mesmo tempo,
como se vê nos seguintes exemplos :

« O homem pensa primeiramente, depois obra ; o
bruto, porem, só se dirige pelo instincto ».

« Tudo era mar, e ao mar faltavão praias ».

« Cheguei, vi, venci ».

« Levanta-te, encaminha-te ao templo, e ora a
Deus ».

Em todos estes exemplos, os verbos das proposições
259aproximadas estão em relação de simultaneidade
com os das principaes, porque se achão postos
no mesmo tempo, que os d’estas ; e grave erro seria
pôl-os em outro, dizendo v. g., O homem pensa
primeiramente, depois obrou
, — Cheguei, vi, venço,
&, porque ficaria destruida toda a concordancia que
deve reinar entre elles em casos taes, visto como
devem enunciar factos que todos se refirão á mesma
época, para a aproximação das proposições poder
ser completa.

Pode-se considerar como excepção a ésta regra
o caso em que se distingue intencionalmente o tempo,
para se tirar d’ahi alguma conclusão moral, ou
outra, porque então o verbo da proposição aproximada
se põe em relação de anterioridade, ou de
posterioridade, com o da principal, como se vê nos
seguintes exemplos :

« Já fomos jovens, e hoje somos velhos ».

« Filho és, e pai serás ».

Isto verifica-se ordinariamente nos proverbios, ou
no estylo sentencioso, porque em tal caso o espirito
só attende á conclusão que se tira da opposição das
épocas.

Quando o periodo grammatical, ou phrase, consta
de uma ou mais proposições subordinadas e uma
absoluta principal, si o verbo da subordinada, circumstancial,
260ou, completiva, enuncia um facto que
se suppõe occorrido ao mesmo tempo que o facto
enunciado pelo da principal, está tambem em relação
de simultaneidade com elle, e põe-se no mesmo
tempo, com a unica differença de modo si a subordinada
é do conjunctivo, sem ella si do indicativo.

Exemplos :

« Em quanto escrevo, não me distráio com outra
cousa ».

« Quando eu ia, tu vinhas ».

« Espero que faças ».

« Eu esparava que fizesses ».

« Eu quizera que o tivesses feito ».

Ésta relação de simultaneidade ou concordancia
dos verbos não se suppõe interrompida, quando se
põe em correspondencia : 1.°, o imperfeito do indicativo
com o presente ou preterito do mesmo modo :
2.°, o presente do conjunctivo com o futuro do indicativo
ou do imperativo.

Exemplo do primeiro caso :

« Em quanto caminhavão, fez-se ou faz-se noite ».

Exemplo do segundo caso :

« Pedirás a Deus que te conceda a paz de espirito ».

« Pede a Deus que te conceda a paz de espirito ».261

Eis a razão d’esta especie de anomalia que se
nota na relação de simultaneidade.

O imperfeito do indicativo é um tempo por fazer
que tanto participa do presente, como do preterito,
por isso pode corresponder não só a outro imperfeito,
mas ainda ao presente e ao preterito, sem
quebra da concordancia, como se vê nos exemplos
dados.

O presente do conjunctivo é um presente, não
positivo e realisado, mas hypothetico e realisavel,
ou um presente com fôrça de futuro por fazer, por
isso pode tambem corresponder não só a outro
presente, mas ainda ao futuro do indicativo e do
imperativo ; pois, Espero que faças, é o mesmo que,
Espero que farás ; — Pede a Deus que te conceda a
paz de espirito
, o mesmo que, pede a Deus que elle
te concederá a paz de espirito
, ou simplesmente,
pede que Deus te concederá &.

Relação de anterioridade.

Si o facto enunciado pelo verbo da proposição
subordinada é anterior ao enunciado pelo verbo da
principal, põe-se o verbo da subordinada no preterito
262perfeito
, ou no mais que perfeito do indicativo
si o mesmo facto é positivo, do conjunctivo si
condicional e hypothetico.

Exemplos com o verbo no preterito perfeito do
indicativo :

«  quanto aproveitámos ou temos aproveitado ».

« Porque estudei ou tenho estudado a minha licção,
quero dal-a ».

Exemplos com o verbo no mais que perfeito do
mesmo modo :

« Vê quanto aproveitáramos ou tínhamos aproveitado ».

« Porque estudára ou tinha estudado a minha
licção queria dal-a ».

Exemplos do verbo no preterito do conjunctivo :

«  quanto tenhamos aproveitado ».

« Temo que se tenha realisado ».

Exemplos do verbo no mais que perfeito do mesmo
modo :

« Temia que se tivesse realisado ».

« Quanto desejaria que tivesse permanecido em
Roma ».

Ésta relação de anterioridade tambem se exprime
no infinito pessoal e impessoal.

Exemplos do verbo no preterito do infinito pessoal :263

« Não approvo teres praticado tal ».

« Não era conveniente terem-se as tropas retirado
d’aquelle ponto ».

No primeiro exemplo, teres praticado tal, equivale
ao preterito do conjunctivo, que tenhas praticado
tal
 ; no segundo, terem-se as tropas retirado
d’aquelle ponto
, ao mais que perfeito, que se tivessem
as tropas retirado d’aquelle ponto
.

Exemplos do verbo no preterito do infinito impessoal :

« Julga elle ter aproveitado ».

« Julgava elle ter aproveitado ».

No primeiro exemplo, ter aproveitado, equivale
tanto ao preterito perfeito do indicativo, que aproveitou,
ou, tem aproveitado, como ao preterito do
conjunctivo, que tenha aproveitado ; no segundo,
ter aproveitado, tanto ao mais que perfeito do indicativo,
que linha aproveitado, como ao do conjunctivo,
que tivesse aproveitado.

Em todos os exemplos citados, os verbos das
proposições subordinadas concordão com os das
principaes na correlação dos tempos do preterito
com os do presente, imperfeito, e futuro.

N. B. Não puz exemplos do preterito anterior
por ser raro entre nós o emprêgo d’este tempo,
mas pode se dar com elle a mesma correlação sobredita
264como se vê em, Que teve aproveitado não é
duvidoso
, ou em, Que teve aproveitado não será
duvidoso
.

Relação de posterioridade

Quando o facto enunciado pelo verbo da propoposição
subordinada é um facto posterior ao enunciado
pelo verbo da principal, o verbo da subordinada
põe-se, ou no futuro proprio do conjunctivo
e modificações do futuro do presente e preterito
do mesmo modo, si o facto é incerto e hypothetico ;
ou no futuro imperfeito absoluto, e perfeito do
indicativo, si é positivo ; ou no futuro do condicional,
si é puramente condicional.

Exemplos do verbo no futuro proprio do conjunctivo :

« Si partires, faze-m’o saber ».

« Quando tiveres chegado ao logar do teu destino,
escreve-me ».

Exemplos do verbo nas modificações do futuro
do mesmo modo :

« Quando tenhas, ou, hajas de partir, faze-m’o saber ».265

« Devias-me fazer saber, quando tivesses, ou, houvesses
de partir
 ».

Exemplo do verbo no futuro imperfeito do indicativo :

« Desejo saber quando tens, ou, has de partir ».

Exemplo do verbo no futuro absoluto do mesmo
modo :

« Desejo saber quando partirás ».

Exemplo do verbo no futuro perfeito do mesmo
modo :

« Qual dos dois terá aproveitado mais, não sei
dizer
 ».

Exemplos do verbo no futuro do condicional :

« Eu julgava que começaria a ceremonia ».

« Julguei que teria começado a ceremonia ».

Ésta relação de posterioridade tambem se pode
exprimir pelo infinito pessoal ou impessoal.

Exemplo do verbo no futuro do infinito pessoal :

« Creio terem, ou, haverem elles de partir ».

Exemplo do verbo no futuro do infinito impessoal :

« Receio ter, ou, haver de partir ».

Nos dois últimos exemplos, a primeira proposição
infinitiva equivale a ésta do modo indicativo, que
teem
, ou, hão de elles partir, ou ainda a ésta, que
266partiráõ elles ; a segunda, a est’outra do modo conjunctivo,
que tenha, ou, haja de partir.

Em todos os outros exemplos citados, os tempos
do futuro do conjunctivo, do indicativo, e do condicional,
estão em relação com o presente, e imperfeito,
do indicativo, e com o futuro do imperativo,
que outros denominão tambem presente.

Ésta correlação chama-se, como as anteriores já
designadas, concordancia dos verbos.

Modelos de análise

Sentidos aproximados.

Unico.

« Deus creou o mundo em seis dias, e descançou no
setimo ».

É um periodo grammatical, ou phrase, que se compõe
de duas proposições aproximadas. Deus creou o mundo
em seis dias
, absoluta (principal, ou antes primeira em
ordem, porque a ella se refere a segunda absoluta) : E
descançou no septimo
, absoluta aproximada. As duas proposições
achão-se aproximadas uma da outra ; 1°, pela
conjuncção de aproximação, E ; 2°, pela identidade do
sujeito, que em ambas é, Deus, claro na primeira, e subentendido
267na segunda ; 3°, pela relação de simultaneidade
dos verbos, Creou, Descançou, que estão ambos no
preterito perfeito.

Cumpre observar que as duas últimas relações não
concorrem menos, que a primeira de nexo, para aproximar
os sentidos absolutos formados pelas duas proposições,
e tornar o segundo relativo ao primeiro. Ás vezes
falta a relação de nexo, e a da identidade do sujeito,
mas subsiste sempre a da simultaneidade dos tempos
dos verbos, excepto ó caso unico que apontei.

Sentidos subordinados.

I. [Primeiro exemplo]
« Tanto que foi avisado da ordem de prisão passada
contra elle, occultou-se em casa de um amigo ».

É um periodo grammatical ou phrase, que se compõe
de duas proposições, das quaes uma é subordinada á outra.
Occultou-se em casa de um amigo, absoluta (principal,
porque d’ella depende a outra) ; Tanto que foi avisado da
ordem de prisão passada contra elle
, subordinada (circumstancial,
porque exprime uma circumstancia da principal).

A relação de dependencia em que está a subordinada
da principal é determinada pela conjuncção de subordinação,
Tanto que, que as liga. Além d’esta relação
de subordinação, achão-se as duas proposições ligadas
por outras duas, a de identidade do sujeito subentendido,
que é o mesmo em ambas, e a da simultaneidade dos
268tempos dos verbos, os quaes ambos estão no preterito
perfeito.

Assim, o segundo sentido subordinado fica completamente
adherente ao primeiro.

II.[Segundo exemplo]
« O homem, que ama a deús, vive isento do temor da
morte, porque tem a consciencia tranquilla ».

É um periodo grammatical, ou phrase, que se compõe
de tres proposições, uma principal, e duas subordinadas.
O homem (que ama a Deus) vive isento do temor da
morte
, absoluta (principal, porque d’ella dependem as outras) ;
Que ama a Deus, 1.ª subordinada (incidente restrictiva,
porque exprime uma circumstancia accidental ao
sujeito da principal) ; Porque tem a consciencia tranquilla,
2.ª subordinada (circumstancial, porque exprime uma
circumstancia do attributo da principal).

A relação de dependencia da 1.ª subordinada acha-se
determinada pelo adjectivo conjunctivo, Que, que a liga
á principal ; a da 2.ª subordinada, pela conjuncção de
subordinação, Porque, que a liga igualmente á principal.
Cumpre notar que, além das relações de subordinação,
que ligão as subordinadas á principal, estão ellas
ligadas á mesma pelas de identidade do sujeito, que é em
última anályse o mesmo em todas, ou, O Homem, e de
simultaneidade dos tempos dos verbos, os quaes todos
estão no presente do indicativo.269

III. [Terceiro exemplo]
« Soprando vento favoravel, largou o navio do porto
para seguir a derrota que lhe estava designada ».

É um periodo grammatical, ou phrase, que se compõe
de tres proposições, uma principal, e duas subordinadas.
Largou o navio do porto para seguir a derrota, absoluta
(principal, porque d’ella dependem as mais) ; Soprando
vento favoravel
, proposição participio equivalente
a est’outra do modo conjunctivo, como soprasse
vento favoravel
, subordinada (circumstancial, porque
exprime uma circumstancia da principal). Que lhe estava
designada
, subordinada (incidente explicativa, porque
exprime uma circumstancia inherente a um dos complementos
do attributo da principal.

A relação de dependencia da 1.ª subordinada é determinada
pelo participio, Soprando, que a liga á principal ;
a da 2.ª subordinada, pelo adjectivo conjunctivo, Que,
que a liga igualmente á principal. Cumpre notar que,
além d’esta relação de subordinação, achão-se as tres
proposições ligadas pela da simultaneidade dos tempos
dos verbos, correspondendo o imperfeito do conjunctivo,
Soprasse, por que está o participio, Soprando, como fica
dito, e o imperfeito do indicativo, Estava, nas duas subordinadas,
ao preterito perfeito do indicativo, Largou,
na principal.

IV. [Quarto exemplo]
« Desejo que saibas bem o latim, sem que com tudo
abandones o estudo das outras materias a que te tens dedicado ».270

É um periodo grammatical que se compõe de quatro
proposições, uma principal, e tres subordinadas. Desejo,
absoluta (principal, porque d’ella dependem as mais) ;
Que saibas bem o Latim,1ª subordinada (completiva,
porque completa a principal, de cujo attributo faz parte) ;
Sem que com tudo abandones o estudo das outras materias,
2.ª subordinada (circumstancial, porque exprime uma
circumstancia do attributo da principal) ; A que te tens
dedicado
, 3.ª subordinada (incidente restrictiva, porque
exprime uma circumstancia accidental do attributo da
2.ª subordinada, e em última anályse do da principal, de
que ambas fazem parte como a completiva).

As relações dedependenciada 1ª subordinada achão-se
determinadas pela conjuncção de subordinação, Que,
que a liga á principal, e pelo verbo no conjunctivo ; as da
2.ª subordinada, pela conjuncção de subordinação, Sem
que
, que a liga tambem á principal, e pelo verbo igualmente
no conjunctivo ; a da 3.ª subordinada, pelo adjectivo
conjunctivo, Que, que a liga á 2.ª subordinada.

É de notar que, além d’essas relações de subordinação,
estão as proposições ligadas, as tres primeiras pela
relação de simultaneidade dos tempos dos verbos, achando-se,
Desejo (verbo da principal) no presente do indicativo,
Estudes, e, Abandones verbos da 1.ª e 2.ª subordinadas)
no presente do conjunctivo ; a quarta pela relação
de anterioridade de tempo do seu verbo, Tens dedicado,
no preterito perfeito do indicativo, posto em correspondencia
com o presente do conjunctivo do verbo,
Abandones, da 3.ª subordinada.271

V. [Quinto exemplo]
« Quero saber quando partirás da Bahia para a Côrte,
como tencionavas, afim de poder remetter-te directamente
ao logar, onde te achares, as cartas que tiver de
escrever-te ».

É um periodo grammatical, ou phrase, que se compõe
de cinco proposições, uma principal, e quatro subordinadas,
Quero saber (quando partirás &) afim de poder
remetter-te directamente ao logar
(onde &) as cartas, absoluta
(principal, porque d’ella dependem todas as mais ;)
Quando partirás da Bahia para a Côrte, 1.ª subordinada
(completiva, porque concorre para completar o attributo
da principal de que faz parte) ; Como tencionavas, 2.ª subordinada
(circumstancial, porque exprime uma circumstancia
da 1.ª subordinada) ; Onde te achares, 3.ª subordinada
(circumstancial incidente restrictiva, porque
exprime uma circumstancia accidental da principal) ;
Que tiver de escrever-te, 4.ª subordinada (circumstancial
incidente restrictiva, porque exprime tambem uma circumstancia
accidental do attributo da principal.

As relações de dependencia das subordinadas achão-se
determinadas, a saber ; — da 1.ª , pela conjuncção de subordinação,
Quando, que a liga á principal ; — da 2.ª, pela
conjuncção de subordinação, Como, que a liga á 1.ª —
da 3.a, pelo adverbio conjunctivo, Onde, que a liga á
principal, e pelo verbo no conjunctivo : — da 4ª, pelo
adjectivo conjunctivo, Que, que tambem a liga á principal,
e pelo verbo igualmente no conjunctivo. É de notar
que, além de todas essas relações de subordinação, as
proposições subordinadas ligão-se ainda á principal, a
272saber ; — a 1.ª, pela relação de posterioridade do seu
verbo, Partirás, no futuro do indicativo, posto em correspondencia
com o verbo da principal, Quero, no presente
do indicativo, e modificado pelo infinitivo, Saber ;
a 2.ª, pela relação de anterioridade do seu verbo, Tencionavas,
no preterito imperfeito do indicativo, posto em
correspondencia com o verbo sobredito da 1.ª no futuro
do mesmo modo ; — a 3.ª e a 4.ª, pelas relações de posterioridade
de seus verbos, Achares, e, Tiver de escrever,
no futuro simples (o 1.°), no composto (o 2.°) do conjunctivo,
postos em correspondencia com o mencionado
verbo da principal no presente do indicativo.

Dividem ainda os grammaticos a Syntaxe em
syntaxe natural e syntaxe figurada, o que tanto se
pode applicar á syntaxe das palavras, como á das
proposições ; mas ésta divisão não tem verdadeira
importancia grammatical, visto como o discurso é
sempre mais ou menos figurado em toda e qualquer
lingua ; por isso deixo de lhe dar aqui seguimento.
Basta que o alumno saiba que pela syntaxe
natural se deve dizer : — Deus creou o mundo em
seis dias
, e Deus descançou no setimo dia ; — Eu
pergunto d’onde vens tu
 ? — e que pela figurada se
pode dizer : — Deus creou o mundo em seis dias, e
descançou no setimo ; — D’onde vens ?

Quanto ás principaes figuras de syntaxe, Ellipse,
ou supressão, hyperbato, ou transposição e deslocação,
Syllepse, ou discordancia apparente, &,
273remetto o alumno ás minhas Postillas Grammaticaes,
onde tracto largamente da materia.274

Orthographia.

A melhor maneira de aprender a orthographia é
a prática adquirida pela leitura dos bons auctores
contemporaneos, e pela consulta dos diccionarios
mais correctos que devem ser manuseados ; por isso
limitar-me-hei a poucos preceitos a tal respeito,
convencido de que o professor deve obrigar o alumno
a fazer exercicios orthographicos sobre os modelos
a seguir, para escrever correctamente.

Os systemas exclusivos de orthographia somente
segundo a pronúncia, ou de orthographia puramente
etymologica, são irrealisaveis ;o primeiro, porque
a pronúncia varia, para bem dizer, em cada
provincia, e em cada seculo ; o segundo, porque seria
mister escrever as palavras como se achão na
lingua d’onde são derivadas, ao que se oppõe a fórma
e a pronúncia dos termos derivados. Assim, o
unico systema racional, e o unico seguido pelos
bons auctores, é o da orthographia mixta, que participa
de um e de outro, e melhor se accommoda
275ás modificações, por que vai passando a lingua de
tempos a tempos.

Si observarmos o que vai pelas outras linguas, em
que as palavras se escrevam de uma maneira, e pronuncião
de outra, como na franceza e na ingleza,
cuja orthographia merece o nome de verdadeiro capricho
orthographico, veremos que a portugueza é
uma d’aquellas em que a escriptura varia menos da
pronúncia, si bem mais que na italiana ; e que não
ha razão para se clamar tanto contra a falta de regularidade
de nossa orthographia, uma das mais adaptadas
á pronúncia. Sem dúvida a invariabilidade
das regras orthographicas, a qual se não accommoda
ás modificações por que passa a pronúncia
de qualquer lingua em certo periodo de tempo, foi a
origem da singular disparidade que se nota na pronúncia
e na escriptura do Francez e do Inglez.

Orthographia, é uma palavra de origem grega,
que sôa tanto como escriptura correcta ou exacta ;
e d’ahi o seu objecto, que vem a ser a — correcção
na escripta.

O melhor preceito que se póde dar acêrca da ortographia
portugueza, que é um systema mixto de
276orthographia etymologica e phonetica, e por tanto
complicado, é seguir a orthographia dos escriptores
contemporaneos de melhor nota, rectificada pelos
bons diccionarios.

Duas são as especies de signaes que emprega a
orthographia para chegar ao seu fim : 1.° os caracteres
alphabeticos, ou lettras, com que se escrevem
as palavras : 2.°, os signaes orthographicos, ou de
pontuação, que marcão as pausas do discurso, e as
inflexões da voz em cada uma.

I. [Regras orthographicas]

Como os caracteres alphabeticos já são bem conhecidos
do alumno, dispenso-me de reproduzil-os
aqui, e limito-me a indicar em geral o seu conveniente
emprêgo na escriptura.

Escrevem-se com lettras maiusculas ou grandes :

1.° A inicial de todos os principios de periodos,
como se vê no seguinte exemplo :

« A terra é redonda, e gira em torno do sol ».

2.° A inicial de todos os nomes proprios, como se
vê em, Pedro, Brazil, Maranhão, Amazonas, lbiapaba,
Charaies
, &.

3.° As iniciaes do tractamento que se dá aos rêis
e principes, ás auctoridades, aos titulares e, por civilidade,
277aos simples cidadãos, e que se exprime ordinariamente
por ellas, como se vê em, V. M., V. A.,
V. Exc., V. S., V. Mc
.

4.° A inicial de todos os versos, como se vê n’este
exemplo :

« E julgareis qual é a mais excellente.
Si ser do mundo rei, si de tal gente ».

5.° A inicial de todo o discurso que se cita, e se
põe ordinariamente depois de dois pontos, como se
vê n’est’outro exemplo :

« Deus disse : Faça-se a luz, e a luz foi feita ».

6.° A inicial de alguma palavra que se queira distinguir
no discurso, como se vê em muitos logares
d’esta grammatica.

Á excepção d’estes casos, todas as mais lettras que
se em pregão na escriptura são minusculas ou pequenas.

Quanto á maneira de escrever as palavras deve-se
principalmente observar o seguinte :

1.° Fazer a distincção das homógraphas, escrevendo-as,
para evitar a confusão, com o respectivo
accento, como se vê nos exemplos aqui adduzidos :

« Rôgo (nome), rógo (verbo) ».

« Vívido (simples adj.), vivido (adj. part.) ».278

« Para (prepos.), pára (verbo), Pará (nome) ».

«  (nome), sê (verbo), se (pronome) ».

2.° Guardar a uniformidade no modo de escrever
o diphtongo nasal, ão, tanto nos nomes, como nos
verbos, escrevendo, pão, mão, louvárão, louvaráõ, o
que é seguramente muito mais logico, que escrever
em uns casos, ão, e n’outros, am.

N. B. Muitos escriptores modernos, a maior parte
sem dúvida, escrevem, amaram, amarão, ao passo
que escrevem ao mesmo tempo, quinhão, questão,
oração, funcção, frangão, golphão &
 ; mas não
vejo fundamento plausivel para ésta alteração, quando
a natureza do diphtongo é a mesma, quer nos
nomes, quer nos verbos. Uma tal novidade só serve
para difficultar a pronúncia do portuguez aos
estrangeiros, visto como a terminação, am, não representa
effectivamente o diphtongo, ão, peculiar á
lingua, e corrupção de, on.

3.° Não dobrar consoantes, sinão entre duas vogaes,
e quando a etymologia ou a pronúncia o requer,
como se vê em, bello, syllaba, succede, commettimento,
communicar, vosso, grosso, arruido,
arrombar &
.

4.° Guardar a analogia nas palavras derivadas
de outras, escrevendo, por exemplo, com dois, cc,
peccadosinho, peccador, peccar
, de peccado ; successivo,
279succeder, succedido, de successo ; com dois, bb
abbadessa, abbadia, abbacial
, de abbade.

5.° Conservar nas palavras que veem do grego o
ch, o ph, e o y escrevendo, por exemplo, chimera,
chimica, philosophia
e hydrographia.

6.° Guardar, apenas com as modificações requiridas
pela pronúncia, a orthographia etymologica
nas palavras derivadas do Latim, que constituem a
immensa maioria das da lingua que d’elle se formou,
escrevendo, por exemplo : Acção, de actionem (accusat.
latino) ; licção, de lectionem (idem) ;condição, de
conditionem (idem) ;extensão, de extensionem (idem) ;
facto, de facto (ablat. latino) ; imperio, de imperio
(idem) ; imperar, de imperare (infinit. latino) ; corromper ;
de corrumpere (idem) ; inquirir, de inquirere
(idem)

São estes os poucos preceitos geraes que julgo
conveniente dar sobre o modo de escrever as palavras,
deixando tudo o mais á capacidade do professor ;
porque n’um estudo que deve ser eminentemente
prático, e feito sobre modelos quasi como a
pintura, fôra improficuo, sobre fatigante, para o
alumno, estar a amontoar regras que todas teem de
ordinario numerosas excepções.280

II. [Regras de pontuação]

São signaes orthographicos, ou de pontuação, a
virgula (,), o ponto e virgula ( ;), os dois pontos ( :),
o ponto final (.), o ponto de interrogação ( ?), o ponto
de admiração
( !), os pontos de reticencia (…),
a linha ou risca de união (-), o traço de divisão
( — ), o parenthesis (), as virgulas dobradas (”).

A virgula, serve para fazer a distincção das orações,
ou ainda dos membros d’estas quando é isso
conveniente, e marca uma pequena pausa com inflexão
de voz.

Exemplos :

« Converta-se em trevas aquelle dia, não olhe
Deus para elle do alto, e não seja esclarecido pela
luz. (Job) ».

« A intelligencia, a palavra, a belleza da fórma,
são as qualidades essenciaes que distinguem o homem
do bruto ».

O ponto e virgula, serve para fazer a distincção
de sentidos que se incluem, ou põem em opposição
no mesmo periodo, e marca uma pausa com inflexão
de voz, maior que a virgula.

Exemplos :

« Encarreguei-me de um negocio que é bem difficil ;
hei-de leval-o ao cabo, custe o que custar ; assim
281convem á minha dignidade n’elle compromettida ».

« Sabia o poder com que o governador vinha em
pessôa, ainda estimado maior na fama, que na apparencia ;
mas nem assim dobrou da resolução de
proseguir o cêrco, esperando a última fortuna. (Jacinto
Freire) ».

Os dois pontos, servem para fazer a distincção, ou
de pensamentos cuja enumeração se faz, ou de um
discurso, ou pensamento, que se cita ; e marcão
uma pausa com inflexão de voz, ainda maior que o
ponto e virgula.

Exemplos :

« Julgava o arcebispo que quem se valia de regadores
para negocios dependentes de sufficiencia,
julgava mal da sua : ou era querer ensinar os subditos
a trabalharem e merecerem por si, estando desenganados
que não havião de ter com elle melhor
valedor, que merecimento proprio. (Frei Luiz de
Souza) ».

« E disse : « Esses Turcos e Janizaros que d’este
logar estamos vendo, veem a restaurar comnosco a
honra que no primeiro cêrco perdêrão ; porém nem
elles valem mais que os que então forão vencidos,
nem nós valemos menos que os vencedores. (Jacinto
Freire) ».282

O ponto final, serve para fazer a distincção dos
sentidos absolutos, ou periodos, de que se compõe o
discurso, e marca uma pausa, tambem absoluta, com
inflexão de voz que a denota.

Exemplos :

« O governador andava sobremaneira cuidadoso
dos negocios de Dio, interpretando mal a falta dos
avisos, quando aportou na barra de Gôa a capitânea
em que fôra D. Alvaro. Vinha o navio todo
embandeirado, e dando alegras salvas, querendo indicar
de longe as novas que trazia. Accorrêo á praia
grande parte do povo, solicito a perguntar pelos filhos,
parentes e amigos, e os menos empenhados,
pelo commum do Estado. o capitão foi levado aos
paços do governardor, satisfazendo pelo caminho a
duplicadas e molestas perguntas. (Jacinto Freire) ».

N. B. N’estas pausas, a voz alça-se menos ou
mais, segundo a pausa é menor, ou maior.

O ponto de interrogação, marca uma pausa com
inflexão de voz especial, propria de quem pergunta,
e espera pela resposta, ou a dá a si mesmo.

Exemplos :

« De Dio não queremos, nem podemos ter mais,
que a fortaleza ; pois com que furia cega tornamos a
comprar com o nosso sangue o mesmo de que somos
senhores ? Que novos povoadores temos para
283habitar a ilha ? De que parte do mundo podemos
trazer outros, que deixem de ser Mouros, ou Gentios,
de fé tão incerta com o Estado, como estes que
agora nos offendem ? (Jacinto Freire) ».

O ponto de admiração, marca uma pausa com
inflexão de voz tambem especial, propria de quem
se admira, ou mostra surprehendido e estupefacto.

Exemplos :

« No mar tanta tormenta, e tanto damno,
Tantas vezes a morte apercebida !
Na terra tnta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida ! (Camões) ».

Os pontos de reticencia, marcão uma pausa com
inflexão de voz, que denota suspensão intencional
do que se ia dizer.

Exemplos :

« Mas moura emfim nas mãos das brutas gentes,
Que pois eu fui….E n’isto, de mimosa,
O rosto banha em lágrimas ardentes
Como co’orvalho fica a fresca rosa. (Camões) ».

A linha ou risca de união, posta no fim da regra
da escripta mostra que o fragmento de palavra que
284a leva, liga-se ao fragmento que está no principio
da regra seguinte ; posta entre o verbo e o pronome
que se lhe junta immediatamente por complemento,
mostra que as duas palavras se ligão na
pronúncia, como se vê em, Dizer-vos, quero-te, façamol-o,
quizeão-n’o
 ; posta no meio de uma palavra
composta, mostra que a palavra fórma uma só
com a sua componente, ligando-se na pronúncia,
como se vê em, Boqui-aberto, equi-distante, grandi-loquo.

O traço de divisão, serve para fazer a distincção
de pensamentos ou palavras que se queirão discriminar,
chamando sobre elles a attenção do leitor.

Exemplo :

« De tudo isto o que era para concluir-se, que
n’aquelle tempo erão rarissimos os mappas-mundi ;
e tanto que, tractando d’elles Antonio Ribeiro dos Santos,
citado pelo auctor da memoria, aponta apenas
dois, — um do infante D. Pedro, Duque de Coimbra,
e outro do cartorio de Alcobaça, que veio ás
mãos do infante D. Fernando, filho de D. Manoel.
(Gonçalves Dias) ».

O parenthesis, serve para fazer a distincção de
um sentido que se intercala no periodo sem que
d’elle faça parte, e marca uma pausa com inflexão de
voz, que denota interrupção.285

Exemplo :

« Tinha partido de Baçaim D. Alvaro de Castro
com cincoenta navios (assim chamão quaesquer baixeis
na India, ainda que sejão caravelas latinas, ou
embarcações de remo) ; e como vinhão empachados
com munições e mantimentos, não podendo soffrer
mares tão grossos, tornárão a arribar em pôpa destroçados,
e abertos, tomando diversas angras e enseadas,
onde o temporal os lançava.(Jacinto Freire) ».

N. B. Os classicos fazião grande uso, antes abuso, do
parenthesis ; mas cumpre evitar o mais possivel
o seu emprêgo, quando a phrase que se intercala
é extensa, porque isso torna o estylo empeçado,
e prejudica á clareza, que deve ser a primeira qualidade
do discurso.

As virgulas dobradas, servem para fazer a distincção
dos discursos de terceiro, ou d’aquillo que se
cita, ou põe por exemplo.

Exemplo :

« No seculo XIV escrevêo o célebre Boccaccio a
proposito do Oceano Atlântico :

Além do Oceano Atlântico, existem certas ilhas
separadas por canaes, e um pouco afastadas da terra,
nas quaes, segundo se diz, habitão as gorgonas : outros
affirmão que ellas estão muito pelo mar dentro.
(Gonçalves Dias) ».286

N. B. E’ de summa importancia conhecer bem o
emprêgo que se deve fazer destes signaes orthographicos,
porque sem uma bôa pontuação o discurso
não produz o seu effeito ; por isso dei mais desenvolvimento
a ésta parte.287

Prosodia.

Suppondo o alumno bem conhecedor do que é
syllaba, e de que as palavras se compõem de syllabas,
assim como estas de sons vogaes e consoantes,
ou de vozes e consonancias, dispenso-me de
instruil-o no que já sabe, e limito-me a dar-lhe alguns
preceitos geraes sobre a prosodia portugueza,
a qual pode simplificar-se muito, visto como o valor
da quantidade especial das syllabas subordinadas
é quasi nullo na lingua em relação ao da quantidade
da syllaba predominante de cada palavra,
em cuja composição entrão umas e outras.

A prosodia das linguas vivas aprende-se, como a
orthographia, mais com a prática, que com as regras
que, sem ésta, serião de fraco soccorro, e nos
illudirião muitas vezes, por mais minuciosas que
fossem ; porque só ouvindo fallar bem qualquer
lingua, é que se adquire a bôa pronúncia d’ella.
Assim, o alumno deve aprender a bôa pronúncia da
sua lingua, não só sob a direcção dos professores
que a ensinão, mas ainda na conversação das pessoas
instruidas e bem fallantes.289

Prosodia, que tomada em sentido geral vale tanto
como, orthoepia, correcta pronúncia, é uma palavra
que quer dizer em Grêgo — accento conforme o
canto ; e d’ahi o seu objecto que vem a ser — a bôa
e correcta pronúncia.

Em toda a palavra ha uma syllaba predominante,
chamada accento prosodico, ou tonico, á qual ficão
subordinadas todas as outras syllabas antecedentes
e subsequentes, como se vê em, Amisáde,
cuja penultima syllaba é a predominante. Este accento
prosodico ou tonico é o principio regulador
da correcta pronúncia, que se não pode dar sem
elle.

I. [Regras de prosodia]

As palavras portuguezas só admittem accento
prosodico : 1.°, na última syllaba, como, Rubôr, coraçáõ,
feroz, azúl, talvêz, faráõ
 ; 2.°, na penultima,
como, Purêza, virtúde, piedôso, sincéro, mansamênte,
amárão
 ; 3.°, na antepenultima, como, Espirito,
púrpura, férvido, líquido, misericordiosissimo,
cándido
.

As palavras, cujo accento prosodico recae na
antepenultima syllaba, chamão-se exdruxulas ou
dactylicas.290

Na syllaba sobre que recae o accento prosodico
da palavra carrega-se fortemente, alçando-se a
voz ; as outras pronuncião-se com rapidez, mas as
subsequentes mais surdamente que as antecedentes.
Ha comtudo casos, em que a quantidade da syllaba
subordinada pode ser reconhecida, não obstante a
rapidez da pronúncia.

Chama-se quantidade da syllaba a sua qualidade
de ser longa, breve, ou commum.

Em, Prócuradôr, por exemplo, a primeira e a última
syllabas são ambas longas, porque cada uma
d’ellas gasta dois tempos na pronunciação, ainda
que a prolação da primeira seja apenas sensivel em
comparação da da última, em que recae o accento
prosodico : a segunda e a terceira são ambas breves,
porque cada uma dellas gasta um só tempo
na pronunciação.

Em, Amárão a primeira syllaba é breve, porque
gasta um só tempo na pronunciação ; a segunda e
a última ambas são longas, porque cada uma d’ellas
gasta dois ; sendo a segunda a syllaba predominante,
sobre contracta ; a última, um dipthongo.

N. B. Chama-se tempo o maior ou menor espaço
que gasta a voz em pronunciar a syllaba.

Nestes dois exemplos, observa-se que a prolação
da primeira de, Prócurador, torna-se sensivel, porque
291a syllaba subordinada precede ao accento prosodico
da palavra, e que a prolação da última de,
Amárão, não, porque a syllaba subordinada segue-se
ao accento prosodico da palavra.

No Grêgo e no Latim, linguas evidentemente musicaes,
cuja verdadeira e exacta pronúncia hoje se
ignora, era de summa importancia o perfeito conhecimento
da quantidade de cada syllaba ; mas nas
linguas modernas, cuja pronúncia é rapida, e passa
como a correr pelas syllabas subordinadas para accentuar
fortemente a predominante, segundo se
verifica no Portuguez, e nos outros idiomas derivados
do Latim, é isso cousa de pouco momento.

O que importa saber é que as syllabas que precedem
o accento prosodico tornão-se breves em relação
a elle, embora em certas palavras se possa
sentir a prolação de alguma d’ellas, como em, Prégar,
de prédica, a de, pré, em sácristia, a de,  ; e
que as que se seguem ao referido accento, tornão-se
não só breves, mas quasi surdas, como em, âma,
fére, fúro
, as syllabas finaes, que são brevissimas.

Os vocabulos que constão de uma só syllaba,
como, dó, pó, já, tu, cru, sé, chamão-se monosyllabos :
os que constão de duas, como, pede, lasso,
posse, casa, ouro, pinha
, dissyllabos : os que constão
de tres, como, amáva, centelha, virtude, misero,
292menino, trissyllabos : os que constão de mais de tres,
como, amplitude, misericordia, riquissimo, implorar,
curiosidade
, polysyllabos.

Escusado é dizer que nos monosyllabos o accento
prosodico recae na syllaba unica, que é sempre
longa, quando não é alguma das preposições,
de, em, ou só, ou combinada com o artigo, como
em, do, no, ou algum dos pronomes, me, te, se, nos,
vos
, porque então torna-se grave.

Nos dissyllabos que terminão por consoante, como,
Setim, cochim, afan, pudor, rubor, retroz, talvez,
revez, cruel, feral, feliz, feroz, atroz, dispoz, desfez
,
recae o accento prosodico na última syllaba, menos
nas terceiras pessôas. do plural dos verbos,
pedem, medem, movem, fazem, &, nas quaes recae
na penultima.

Nos dissyllabos que terminão por vogal, como,
Dama, pella, fama, fome, sêde, cofre, pomo, gomo,
lombo, doce, molle, grave, justo, puro, sancto
, recae
o accento prosodico na penúltima, menos em,
cipó, timbó, ou quando a vogal é, u, como em, parú,
Itú
, e outros nomes brasilicos, porque então recae
na última.

Nos dissyllabos que terminão por diphtongo nasal
em, ão, recae o accento prosodico na penultima,
293se são-terceiras pessôas do plural do presente
dos verbos, como, amão, louvão, fação, digão, sejão,
&
, e na última, si são terceiras pessôas do futuro,
Faráõ ; dirão, teráõ & : recae na última, si são nomes,
como, Torrão, menção, porção, purão, ração,
&, menos em Orgão, golphão, frangão, nos quaes
recae na penultima.

Nos trissyllabos que terminão por consoante,
como, Estendal, arraial, arganaz ; sassafraz, arrebol,
rosicler, Espichel
, recae o accento prosodico
na última syllaba, menos nas terceiras pessôas do
plural, dos verbos, como, Impedem, succedem, pedirem,
ouvisem, quizessem
, &, nas quaes recae
na penultima, bem como nos nomes, Setúbal e
Tentúgal
.

Nos Trissyllabos que terminão por vogal, como,
Virtude, bondade, justiça, direito, espelho, formoso,
formado, eivada, sumido ; amava, pedia
, recae o
accento prosodico na penultima, menos nas palavras
exdruxulas, como, cúpula, crápula, férvido ;
vívido, límpido
, &, nas quaes recae na antepenultima.

Nos trissyllabos que terminão por diphtongo nasal
em, ão, recae o accento prosodico na penultima,
si são terceiras pessôas do plural do preterito
dos verbos, como, Amárão, fizerão, disserão, fazião,
294vestião
, ou do ; condicional ; como, farião, ririão,
e na última, si são terceiras pessôas. do plural
do futuro, do indicativo, como., Quererão, louvarão,
sentirão, &
 : recae na última, si são nomes ;.
como, Condição, extensão, confusão, trapalhão, &.

Quanto aos polysyllabos, como, Tempestade, uniformidade,
misericordia, gloriosissimo, misericordiosamente,
conservárão, conservarião, conservaráõ,
admiração, estupefacção
, seguem a mesma
regra dos vocabulos de mais de uma syllaba, visto
como os nomes portuguezes não admittem accento
prosodico, sinão na última, penultima, e antepenultima.

II. [Regra de accentuação]

São accentos orthographicos, o agudo (´), o grave
(`), o circumflexo (^), o til (~), o apóstropho (’),
o trema (¨).

O accento agudo, que recae sobre a vogal aberta,
representa o accento prosodico em que se alça
fortemente a voz sobre a syllaba accentuada, como
se vê em, Amáramos, sé, vertí, cipó, condurú :

O accento grave, que recae sobre a vogal grave,
ou levemente fechada, representa o accento prosodico
em que se abaixa a voz sobre a vogal accentuada,
295como se vê em, Do, no, (prep. e art.), quando os
queremos distinguir de, Dó, nó ;(nomes).

N. B. Este accento é pouco usado, porque o agudo
posto sobre a vogal aberta indica sufficientemente
que a vogal proxima é grave.

O accento circunflexo, que recae sobre a vogal
fortemente fechada, representa o accento prosodico
em que se alça e abaixa a voz, como se vê em,
Amámos, viramos, sômos.

O accento nasal, ou, til, que recae sobre a vogal
nasal, só representa a nasalidade da syllaba, e não o
accento prosodico propriamente dito ; por isso não
dispensa os outros accentos orthographicos.

O apóstropho, indica suppressão de vogal, como
se vê em, D’isso, d’ahi, d’ora avante &.

O trema, indica divisão de syllaba ou de dipthongo,
como se vê em, Saüdade, em vez de, saudade.

Enumeramos o apóstropho e o trema entre os
accentos orthographicos, porque ou mais ou menos
influem sobre a pronúncia.

São estes os preceitos geraes que julgo conveniente
dar sobre a prosodia, deixando o mais á capacidade
do professor, que deve aperfeiçoar a pronúncia
do alumno.296

11 Esta fórma do verbo attributivo no participio preterito repelle, por
sua significação passiva, a conversão, que as demais fórmas admittem ;
pois de tal conversão resultaria tornar-se de paciente em agente a pessôa
ou cousa significada pelo substantivo com que concordasse o participio
Os revisores.

21 O adverbio tambem modifica outros adverbios a que se junta,
acrescentando-lhes uma circumstancia de quantidade ou encarecimento,
para mais, ou para menos, como se vê nos seguintes exemplos : “Comprou
tudo assaz barato” ; “Ganhou no negocio muito mais do que pensava” ;
“Perdêo mui pouco ao jogo” ; “Foi muito menos feliz que o seu
competidor” ; "Fallou perfeitamente bem ;” Sahio-se da empreza terrivelmente
mal”.

Só por omissão foi que o Auctor deixou de incluir ésta idéa na
definição do adverbio, pois, havendo sido elle o nosso mestre de grammatica,
assim nos ensinou : e, em verdade, os adverbios que nos exemplos
acima se acham em gripho, modificam em primeiro logar os outros
adverbios a que estão juntos, concorrendo então uns e outros já reunidos
para modificarem os verbos attributivos das proposições, e o attributo
da que é formada com o verbo substantivo.

Os revisores.