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Caneca, Frei. Breve Compendio de Grammatica Portugueza – T01

[Breve compendio de grammatica portugueza]

[Poucas regras e muita reflexão
Com uso mui frequente, eis a maneira
Das artes aprender com perfeição.
Duclos.]

Ideas geraes de grammatica
ou
Origem das partes della

Grammatica é a arte de reduzir á regras os princípios communs
a todas as linguas.

As linguas são compostas de phrases, ou de sentenças, ou de
orações ; as phrases de palavras ; as palavras de syllabas ; as syllabas de
lettras ; as lettras ou, o que é a mesma cousa, os sons são os
primeiros elementos ou materiaes das linguas,

Nomes — Logo que os homens acharam os sons, isto é, as lettras,
cuidaram em inventar palavras para designarem os diversos objectos,
que se offereciam aos seus sentidos. Como cada um destes objectos
é um ser animado, ou uma substancia inanimada, as primeiras palavras,
em que se conveio, foram chamadas — substantivos — isto é, nomes
de substancias.

Artigos — Para dispor ou advertir aos ouvintes, afim de tomarem-se
os nomes em um sentido individual já determinado pelo discurso,
inventaram-se pequenas palavras, para porem-se antes dos nomes,
chamadas — artigos. —

Pronomes — Para evitar a repetição das mesmas palavras,
quando os mesmos objectos se offereciam no discurso, foi necessario
crear outras, que podessem exprimir as cousas, que se queria subentender :
dahi a origem dos — pronomes — isto é, palavras, que representam
os nomes.

Adjectivos — Fallando-se das cousas, é necessario dizer o que
ellas são ; foram, pois, ainda necessarias novas palavras para designarem
os attributos e as qualidades das substancias : dahi a origem
dos — adjectivos — isto é, palavras que se ajuntam aos nomes para
mostrar-lhes as qualidades.

Verbos — Para expressar o que as cousas obram, etc. foram necessarias
outras palavras que notassem a sua influencia, e as suas diversas
operações : dahi a origem dos — verbos — que são por excellencia
assim chamados ; porque exprimem a existência, a acção, a condição
e a paixão dos seres.

Participios — As circumstancias dos discursos obrigaram os homens
a procurar palavras para expressarem brevemente os attributos
e as qualidades das cousas, e as suas durações ; inventaram então
palavras, que significassem como os verbos e terminassem como os
nomes ; eis a origem dos — participios. —25

Adverbios — Considerando eloquentemente as diversas qualidades
e acções, se descobriu logo que ellas eram susceptiveis de modificações
innumeraveis, e por isso ainda foi necessario inventar palavras
para designarem-se essas modificações : chamou-se-lhes — adverbios
— ; porque ellas se ajuntam aos verbos, afim de dar mais ou menos
extensão as suas significações,

Nomes de numeros — A multiplicidade de individuos de cada
especie, e a frequencia das acções de uma mesma natureza fizeram
buscar para o futuro uma nova sorte de palavras, a especificar
de uma vez objectos, causas e effeitos : dahi os — nomes de numeros. —

Preposições — Para denotar as relações, que as cousas tem entre
si, e fixar a idea de uma pela da outra, inventaram novas expressões,
chamadas — preposições ; — porque ellas precedem os nomes
e os verbos.

Conjuncções — Frequentemente as cousas tendo relações remotas,
era impossível referil-as em uma phrase sem o soccorro de certas
particulas, que por isso se chamam — conjuncções. —

Interjeições — Emfim, depois de se terem provido de meios sufficientes
para designar a natureza, a especie, o numero, os attributos,
a influencia, a existência, as relações e as differentes modificações
das cousas, se inventaram outras palavras para exprimir os movimentos
subitos d’alma. Estas são as particulas ou as — interjeições,
— que são mais ou menos numerosas, segundo o genio das linguas,

E’ facil de ver por este detalhe, que a grammatica é fundada
sobre nove especies de palavras, cujas origens são tomadas da natureza.
Chamou-se-lhes as nove partes da oração ; porque effectivamente
não se pode proferir alguma palavra, que não pertença a alguma
destas especies.26

Introducção

Grammatica portugueza é a arte que ensina a fallar, ler e escrever
correctamente a lingua portugueza.

Divide-se em quatro partes : etymologia, ortographia, prosodia
e syntaxe.

A etymologia é a primeira parte da grammatica, que ensina a
origem das palavras,

A ortographia é a segunda parte da grammatica, que ensina a
escrever com perfeição.

A prosodia é a terceira parte da grammatica, que ensina a ler
com perfeição.

A syntaxe é a quarta parte da grammatica, que ensina a compor
perfeitamente a oração.

Oração é um ajuntamento do palavras, pelo qual exprimimos os
nossos pensamentos : consta de nove partes, Artigo, nome, pronome,
verbo, participio, adverbio, preposição, conjuncção e interjeição.

Artigo é uma palavra, que se põe antes do nome para o particularisar.

Nome é uma palavra, que dá a conhecer alguma cousa,

Pronome é uma palavra, da qual se usa pelo nome.

Verbo é uma palavra, que significa a acção que alguem pratica
ou recebe.

Participio é uma palavra, que significa como o verbo, e termina
como o nome.

Adverbio é uma palavra, que se ajunta ao nome e ao verbo,
para modificar as suas significações.

Conjuncção é uma palavra que serve de unir ou separar as partes
da oração.

Preposição é uma palavra, que se põe antes do nome, para notar
as diversas relações.

Interjeição é uma palavra, que significa os movimentos subitos
d’alma.27

Parte primeira
Etymologia

Lição I
Do artigo, nome, e genero dos nomes

Artigo é uma palavra, que se põe antes do nome para o particularisar.

Divide-se em dous — definido, e indefinido.

Artigo definido é o que faz tomar os nomes em um sentido já determinado,
v. g : O, os, A, as.

Artigo indefinido é o que faz tomar os nomes em um sentido
vago, v. g : Um, uns ; Uma, umas.

Genero dos nomes é a differença de sexo, que elles dão a conhecer
ou pela significação ou pela terminação.

Divide-se em dous — masculino, e feminino — que se conhecem
pela concordancia dos artigos com os nomes.

São do genero masculino os nomes que concordão com os artigos
o, as, um, uns, v. g : O homem, um homem.

São do genero feminino os nomes que concordam com os artigos
a, as, uma, umas, v. g : A casa, uma casa.

Chamam-se commum de dous os nomes, que ao mesmo tempo
concordam com os dous artigos o, a, um, uns, v. g : O guia, a
guia, um guia, uma guia.

Chamara-se epicenos ou promiscuos os nomes que concordam
com algum dos artigos, o, um, ou a, uma ; mas não exprimem os
sexos, v. g : o morcego, a cobra.

Nome é uma palavra que dá a conhecer alguma cousa, v. g :
mesa, panno.

Divide-se em dous — substantivo e adjectivo.

Nome substantivo é o que dá a conhecer a substancia da cousa,
v. g : homem, terra.

Divide-se em dous — proprio e commum.

Nome adjectivo é o que dá a conhecer a qualidade da cousa,
v. g : verde, forte.

Divide-se em quatro — qualificativo, gentilico, patrio e numeral.

Substantivo proprio é o que significa uma cousa particular,
v. g : Pernambuco.

Substantivo commum é o que significa uma cousa de uma classe
semelhante, v. g : cidade.28

Divide-se em cinco — abstracto, physico, collectivo, augmentativo
e diminuitivo.

Substantivo abstracto é o que significa alguma cousa, que não
se pode ver e nem tocar, v. g : virtude.

Substantivo physico é o que significa alguma cousa, que se
pode ver ou pegar, v. g : terra.

Substantivo collectivo é o que significa ajuntamento de cousas
da mesma especie, v. g : exercito.

Divide-se em tres — total, mutiplicativo, partitivo.

Colletivo total é o que significa um ajuntamento completo,
v. g : tudo.

Collectivo multiplicativo é o que significa o ajuntamento repetido
algumas vezes, v. g : duplo.

Collectivo partitivo é o que significa parte do ajuntamento,
v. g : dezena.

Substantivo augmentativo é o que significa a cousa augmentada,
v. g : santão.

Substantivo diminutivo é o que significa a cousa diminuida,
v. g : santinho.

Adjectivo qualificativo é o que significa a qualidade da cousa,
v. g : rouxo.

Adjectivo gentilico é o que significa a nação, v. g : Francez.

Adjectivo patrio é o que significa o lugar do nascimento, v. g :
Pernambucano.

Adjectivo numeral é o que significa a quantidade.

Divide-se em tres — cardinal, ordinal e distributivo.

Numeral cardinal é o que significa o numero vago, v. g : um,
dous, tres, etc
.

Numeral ordinal é o que significa o numero por ordem, v. g :
primeiro, segundo, etc.

Numeral distributivo é o que significa o numero por classes,
v. g : de dom em dom, de tres em tres.

O adjectivo ainda se divide em positivo, comparativo e superlativo,
segundo o gráo da sua significação.

Adjectivo positivo é o que significa simplesmente a qualidade
da cousa, v. g : branco.

Adjectivo comparativo é quando o positivo tem antes de si a
palavra mais, v. g : mais branco.

Adjectivo superlativo é quando o positivo tem ou antes de si
as palavras muito, o mais, v. g : muito branco, o mais branco, ou
ao fim a palavra issimo, v. g : branquissimo.

Taboa dos adjectivos, que sendo irregulares nos comparativos
e superlativos, podem seguir a regra geral

image Positivos | Comparativos | Superlativos | Alto | superior | supremo, ou summo Antigo | anterior | antiquissimo29

image Positivos | Comparativos | Superlativos | Baixo | inferior | infimo | Bom | melhor | optimo | Derradeiro | ulterior | ultimo | Externo | exterior | extremo | Grande | maior | maximo | Interno | interior | intimo | Máo | peior | pessimo | Pequeno | menor | minimo | Acre | mais | acerrimo | Amavel | amabilissimo | Affavel | affabilissimo | Amigo | amicissimo | Aspero | asperrimo | Capaz | capacissimo | Celebre | celeberrimo | Chão | chanissimo | Christão | christianissimo | Commum | commumnissimo | Defensivel | defensibilissimo | Difficil | difficilimo | Docil | dulcissimo | Facil | facilimo | Feliz | felicissimo | Feroz | ferocissimo | Fiel | fidelissimo | Frio | frigidissimo | Horrível | horribilissimo | Humilde | humilissimo | Integro | integerrimo | Louvavel | laudabilissimo | Miseravel | miserabilissimo | Nobre | nobilissimo | Pobre | pauperrimo | Sabio | sapientissimo | Sagrado | sacratissimo | Salubre ou saudavel | saluberrimo | São | sanissimo | Vão | vanissimo

Lição II
Do numero dos nomes

Numero é a diferente maneira de exprimir a unidade ou a pluralidade
das cousas.

Os numeros grammaticaes são dous — singular e plural.30

Numero singular é o que mostra uma só cousa ; o que se conhece
ou pela terminação dos nomes, ou pela concordancia delles com os
artigos o, a, um, uma.

Numero plural é o que mostra mais de uma cousa ; o que se conhece
ou pela terminação dos nomes, ou pela concordancia delles
com os artigos os, as, uns, umas,

Os nomes portuguezes acabam ou nas cinco lettras vogaes, a,
e, i, o, u, ou nas seis consoantes l, m, n, r, s, z ; e fazem o plural por
mudanças ou accrescimos de lettras.

Os nomes acabados nas vogaes, fazem o plural acrescentando-se-lhes
um s, v. g : casa, casas ; leque, leques ; lei, leis ; bolo, bolos ;
cajú, cajús,

Exceptuam-se os adjectivos numeraes cardinaes acabados nas
vogaes, v. g : trinta, sete, oito, etc.

Os pronomes que, se, isto, tudo, aquillo, eu, que faz no plural
nós, e tu, que faz no plural voa.

Os nomes acabados em ão, fazem o plural mudando uns para
ões, outros para ans, e outros para ãos, v. g : feijão, feijões ; pão,
pans ; irmão, irmãos
.

Os acabados em l, mudam uns o l para s, outros para eis, es, is,
v. g : animal, animaes ; papel, papeis ; buril, buris ; facil, faceis ; pharol,
pharoes ; taful, tafues
.

Exceptuam-se mal, cônsul, que fazem no plural males, cônsules,
e cal, que não tem plural.

Os nomes acabados em m, fazem o plural mudando o m para
ns, v. g : bem, bens ; fim, fins ; som, sons ; atum, atuns.

Exceptuam-se os pronomes alguem, ninguem, outrem e quem,
que não soffrem alteração.

Os nomes acabados em n, fazem o plural acrescentando-se-lhes
ao singular um s, v. g : roman, romans ; joven, jovens.

Exceptuam-se afan, abdomen, hymen, semen, que não tem
plural.

Os nomes acabados em r, fazem o plural acrescentando-se-lhes
es, v. g : pezar, pesares ; prazer, prazeres ; elixir, elixires ; flor, flores ;
catur, catures.

Exceptuam-se ambar, nectar e ether, que não tem plural.

Os nomes acabados em s, fazem o plural acrescentando-se-lhes
es, v. g : canabraz, canabrazes ; revez, revezes ; feliz, felizes ; cos, coses ;
cruz, cruzes
.

Exceptuam-se algemas, alviçaras, andas, andilhas, vesperas,
complectas, matinas, laudes, fauces, preces, viveres
e outros, que são
do plural ; e cahos, anus, e pus, que não tem plural.

Os nomes acabados em z, fazem o plural acrescentando-se-lhes
es, v. g : paz, pazes ; mez, mexes ; raiz, raizes ; atroz, atrozes ; luz,
luzes
.31

Lição III
Dos pronomes

Pronome é uma palavra, da qual se usa pelo nome.

Divide-se em sete — pessoal, possessivo, reciproco, relativo, interrogativo,
demonstrativo e indefinido.

Pronome pessoal é o que exprime as pessoas, que são seis —
tu, elle ou ella, nós, vós, elles ou ellas.

Pronome possessivo é o que exprime a posse de alguma cousa,
v. g : meu, minha ; teu, tua ; seu, sua ; nosso, nossa ; vosso, vossa.

Pronome reciproco é o que faz retroceder a acção do verbo,
v. g : feriu-se.

Pronome relativo é o que faz lembrar o nome antecedente,
v. g : que, qual, quem.

Pronome interrogativo é o que por elle se pergunta alguma cousa
com o ponto ? v. g : que ? qual quem ?

Pronome demonstrativo é o que por elle se mostra alguma cousa,
v. g : este, esta, isto ; esse, essa, isso ; aquelle, aquella, aquillo, e os
seus compostos, v. g : este mesmo, etc.

Pronome indefinido é o que significa alguma cousa indeterminadamente,
v. g : alguem, outrem, ninguem.

Variação dos pronomes

O pronome eu muda para mim, depois das preposições a, de,
em, para, por, contra
, etc. v. g : em lugar de se dizer a eu, de eu,
etc., se diz a mim, de mim. Muda para migo, nosco, depois da preposição
com, v. g : em lugar de dizer-se com eu, com nós, se diz com
migo, com nosco
. Muda para me, unido aos verbos, v. g : em vez
de dar a eu, se diz dar-me.

O pronome tu muda para ti, depois das preposições v. g : em
lugar de dizer-se a tu, de tu, etc., diz-se a ti, de ti, etc. Muda para
tigo, vosco, depois da preposição v. g : em lugar de dizer-se com tu
com vós
, se diz com tigo, com vosco. Muda para te unido aos verbos,
v. g : em lugar de dizer-se dar a tu, se diz dar-te.

Os pronomes elle, ella, mudam para se, depois das preposições,
v. g : em lugar de dizer-se a elle, se diz a si, de si. Mudam para
sigo, depois da preposição v. g : em lugar de dizer-se com elle, se
diz com sigo. Mudam para lhe, unidos aos verbos, v. g : em lugar
de dizer-se dar a elle, a ella, se diz dar-lhe, etc.

Os pronomes que, qual, quem mudam para cujo, cuja, etc., depois
das preposições, v. g : em lugar de dizer-se a que, etc. se diz
a cujo etc.32

Lição IV
Dos verbos em geral

Verbo é uma palavra, que significa a acção, que aIguem pratica
ou recebe.

Os verbos se consideram quanto ás significações, e quanto
ás propriedades.

Os verbos, considerados segundo as suas significações, se dividem
em activos e passivos.

Verbo activo é o que significa a acção, que se pratica, v. g :
eu amo.

Divide-se em transitivo, intransititivo ou neutro, relativo e reflexivo
ou reciproco.

Verbo passivo é o que significa a acção, que se recebe, v. g :
eu sou amado.

Verbo transitivo é aquelle, cuja acção passa de um a outro sugeito,
v. g : amo a virtude.

Verbo intransitivo ou neutro é aquelle, cuja acção fica incluida
no sugeito, que a pratica, v. g : eu durmo.

Verbo relativo é o que, alem de sua acção passar a outro sugeito,
refere-se ainda a um segundo para completar a significação, v. g :
dar o livro a Pedro.

Verbo reflexivo ou reciproco é aquelle, cuja acção recahe sobre o
mesmo sugeito, que a pratica, v. g : feri-me.

Os verbos, considerados segundo ás suas propriedades, dividem-se
em regular e irregular ou anomalo.

Verbo regular é o que segue alguma das conjugações.

Verbo irregular ou anomalo é o que não segue-as em tudo.

Divide-se em auxiliar e defectivo.

Verbo auxiliar é o que ajuda a compor os outros, v. g : eu tenho
amado
.

São quatro — ser, estar, ter e haver.

Verbo defectivo é o que precisa de algumas vozes, e por isso
só se usa nas terceiras pessoas, v. g : chove.

Conjugação é a variação de terminação, que modifica a significação
dos verbos por modos, tempos, pessoas e numeros.

Divide-se em regular e irregular.

Conjugação regular é aquella, cuja variação segue uma ordem
determinada.

Conjugação irregular é aquella, cuja variação segue uma ordem
indeterminada.

As conjugações são tres. A 1.ª é dos verbos que acabam em
ar, v. g : amar. A 2.ª é dos verbos acabados em er, v. g : receber.
A 3.ª é dos verbos acabados em ir, v. g : admittir.

Modos são as differentes maneiras dos verbos significarem ; e
são quatro — indicativo, imperativo, conjunctivo c infinitivo.33

O modo indicativo é o que mostra a acção affirmativamente.

O modo imperativo é o que mostra a acção de mandar.

O modo conjunçtivo é o que mostra a acção condicionalmente.

O modo infinitivo é o que mostra a acção indeterminadamente.

Tempos são os espaços, que marcam as acções ; e são tres — presente,
preterito e futuro.

Presente é o que significa o espaço actual, v. g : o dia de hoje

Preterito é o que significa o passado, v. g : o dia de hontem.

Futuro é o que significa o que ha de vir, v. g : o dia de
amanhã.

Pessoas são os objectos, que figuram na oração ; e são tres — 1.ª
eu ; 2.ª tu ; 3.ª elle ou ella, no singular ; 1.ª nós ; 2.ª vós ; 3.ª elles ou
ellas, no plural.

Lição V
Dos verbos em particular

Conjugação dos quatro verbos auxiliares
Ser | Estar | Ter | Haver

Modos indicativos

Presentes

tableau Singular | Eu sou, | Estou, | Tenho, | Hei, Tu és, | Estás, | Tens, | Has, Elle é, | Está, | Tem, | Ha,

tableau Plural | Nós somos, | Estamos, | Temos, | Havemos, Vós sois, | Estaes, | Tendes, | Haveis, Elles são. | Estão. | Tem. | Hão ou ha.

Preteritos imperfeitos

tableau Singular | Eu era, | Estava, | Tinha, | Havia, Tu eras, | Estavas, | Tinhas, | Havias, Elle era, | Tinha. | Havia.34

tableau Plural | Nós eramos, | Estavamos, | Tinhamos, | Haviamos, Vós ereis, | Estaveis, | Tinheis, | Havieis, Elles eram. | Estavam. | Tinham. | Haviam.

Preteritos perfeitos

tableau Singular | Eu fui, | Estive, | Tive, | Houve, Tu foste, | Estiveste, | Tiveste, | Houveste, Elle foi. | Esteve. | Teve. | Houve.

tableau Plural | Nós fomos, | Estivemos, | Tivemos, | Houvemos, Vós fostes, | Estivestes, | Tivestes, | Houvestes, Elles foram. | Estiveram. | Tiveram. | Houveram.

Futuros

tableau Singular | Eu serei, | Estarei, | Terei, | Haverei, Tu serás, | Estarás, | Terás, | Haverás, Elle será. | Estará. | Terá. | Haverá.

tableau Plural | Nós seremos, | Estaremos, | Teremos, | Haveremos, Vós sereis, | Estareis, | Tereis, | Havereis, Elles serão. | Estarão. | Terão. | Haverão.

Futuros condicionaes

tableau Singular | Eu seria, | Estaria, | Teria, | Haveria, Tu serias, | Estarias, | Terias, | Haverias, Elle seria. | Estaria. | Teria. | Haveria.

tableau Plural | Nós seriamos, | Estariamos, | Teriamos, | Haveriamos, Vós serieis, | Estarieis, | Tereis, Havereis, Elles seriam. | Estariam. | Teriam. | Haveriam.35

Modos imperativos

Presentes

tableau Singular | Sê. | Está. | Tem. | Ha. | Tu.

tableau Plural | Sede. | Estai. | Tende. | Havei. | Vós.

Modos conjunctivos

Presentes

tableau Singular | Eu seja, | Esteja, | Tenha, | Haja, Tu sejas, | Estejas, | Tenhas, | Hajas, Elle seja. | Esteja. | Haja.

tableau Plural | Nós sejamos, | Estejamos, | Tenhamos, | Hajamos, Vós sejaes, | Estejais, | Tenhais | Hajaes, Elles sejam. | Estejam. | Tenham. | Hajam.

Preteritos imperfeitos

tableau Singular | Eu fosse, | Estivesse, | Tivesse, | Houvesse, Tu fosses, | Estivesses, | Tivesses, | Houvesses, Elle fosse. | Estivesse. | Tivesse. | Houvesse.

tableau Plural | Nós fossemos, | Estivessemos, | Tivessemos, | Houvessemos, Vós fosseis, | Estivesseis, | Tivesseis, | Houvesseis, Elles fossem. | Estivessem. | Tivessem. | Houvessem.36

Preteritos perfeitos

tableau Singular | Eu fora, | Estivera, | Tivera, | Houvera, Tu foras, | Estiveras, | Tiveras, | Houveras, Elle fora. | Tivera. | Houvera.

tableau Plural | Nós foramos, | Estiveramos, | Tiveramos, | Houveramos, Vós foreis, | Estivestes, | Tivereis, | Houvereis, Elles foram. | Estiveram. | Tiveram. | Houveram.

Futuros

tableau Singular | Eu for, | Estiver, | Tiver, | Houver, Tu fores, | Estiveres, | Tiveres, | Houveres, Elle for. | Tiver. | Houver.

tableau Plural | Nós formos, | Estivermos, | Tivermos, | Houvermos, Vós fordes, | Estiverdes, | Tiverdes, | Houverdes, Elles forem. | Estiverem. | Tiverem. | Houverem.

Modos infinitos

Presentes impessoaes

tableau Ser | Estar | Ter | Haver

Presentes pessoaes

tableau Singular | Ser, | Estar, | Ter, | Haver, | Eu, Seres, | Estares, | Teres, | Haveres, | Tu, Ser. | Estar. | Ter. | Haver. | Elle.37

tableau Plural | Sermos, | Estarmos, | Termos, | Havermos, | Nós, Serdes, | Estardes, | Terdes, | Haverdes, | Vós, Serem. | Estarem. | Terem. | Haverem. | Elles.

Participios dos presentes (activos)

tableau Sendo | Estando | Tendo | Havendo

Participios dos preteritos (passivos)

tableau Sido | Estado | Tido | Havido

O verbo ser chama-se substantivo, porque significa a afirmação
por si, sem algum attributo.

Os verbos estar, ter e haver chamam-se auxiliares ; porque, unidos
aos participios de qualquer verbo, formam os seus tempos compostos,
v. g : nós estavamos deitados ; elles tinham fugido ; tu havias
gritado
, etc.

Conjugação dos verbos regulares
Am-ar | Receb-er | Admitt-ir

Modos indicativos

Presentes

tableau Singular | o, as, a. | o, es, e. | o, is, e.

tableau Plural | amos, ais, ão. | emos, eis, em. | imos, is, em.

Preteritos imperfeitos

tableau Singular | ava, as, a. | ia, as, a. | ia, ias, ia.38

tableau Plural | avamos, aveis, avam. | iamos, ieis, iam.

Preteritos perfeitos

tableau Singular | ei, aste, ou. | i, este, eu. | i, iste, io.

tableau Plural | amos, astes, aram. | emos, estes, eram. | imos, istes, iram.

Futuros

tableau Singular | arei, ás, ará. | erei, erás, erá. | irei, irás, irá.

tableau Plural | aremos, areis, arão. | eremos, ereis, erão. | iremos, ireis, irão.

Futuros condicionaes

tableau Singular | aria, arias, aria. | eria, erias, eria. | iria, irias, iria.

tableau Plural | ariamos, arieis, ariam. | eriamos, erieis, eriam. | iriamos, irieis, iriam.

Modos imperativos

Presentes

tableau Singular | a. | e. | Tu.39

tableau Plural | ai. | ei. | i. | Vós.

Modos conjunctivos

Presentes

tableau Singular | e, es, e. | a, as, a.

tableau Plural | emos, eis, em. | amos, ais, am.

Preteritos imperfeitos

tableau Singular | asse, asses, asse. | esse, esses, esse. | isse, isses, isse.

tableau Plural | assemos, asseis, assem, | essemos, esseis, essem. | issemos, isseis, issem,

Preteritos perfeitos

tableau Singular | ara, aras, ara. | era, eras, era. | ira, iras, ira.

tableau Plural | aramos, areis, aram. | eramos, ereis, eram. | iramos, ireis, iram.

Futuros

tableau Singular | ar, ares, ar. | er, eres, er. | ir, ires, ir.40

tableau Plural | armos, ardes, arem. | ermos, erdes, erem. | irmos, irdes, irem.

Modos infinitos

Presentes impessoaes

tableau ar. | er. | ir.

Presentes pessoaes

tableau Singular | ar, ares, ar. | er, eres, er. | ir, ires, ir.

tableau Plural | armos, ardes, arem. | ermos, erdes, erem, | irmos, irdes, irem.

Participios dos presentes (activos)

tableau ando. | endo. | indo

Participios dos preteritos (passivos)

tableau ado. | ido.

Ha uma quarta conjugação dos verbos acabados em or, que é
só do verbo irregular por, e dos seus compostos, v. g : compor, dispor,
propor, repor, suppor
, etc.

A voz passiva de todos os verbos se forma do verbo substantivo
ser com o participio passivo do verbo, que se quer na voz passiva,
v. g : sou amado, sou recebido, sou admittido, sou proposto.

Os verbos irregulares da 1.ª conjugação são dar, ficar, e os
acabados em car, rogar, e os acabados em gar.

Os verbos irregulares da 2.ª conjugação são caber, crer, dizer,
fazer, ler, ver
, e os seus compostos, poder, perder, querer, saber, trazer
valer
.

Os verbos irregulares da 3.ª conjugação são ir, pedir, seguir, e
os seus compostos, rir e vir.41

Os verbos irregulares da 4.ª conjugação são pôr, e os seus compostos,
v. g : compor, dispor, etc.

Os verbos defectivos são acontecer, anoitecer, aprazer, e os seus
compostos, aprover, feder, munir, relampaguejar, submergir, trovejar
e chover
.

Lição VI
Dos participios

Participio é uma palavra, que significa como o verbo, e termina
como o nome.

Os participios se dividem em participios do presente ou activos,
e participios do preterito ou passivos.

Os participios do presente ou actívos são os tempos dos verbos
que acabam em ando, endo, indo, ondo, v. g : amando, recebendo,
admittindo, transpondo
.

Os participios do preterito ou passivos são os tempos dos verbos,
que acabam em ado, ido, osto, v. g : amado, recebido, transposto.

Participios passivos mudaveis

Primeira conjugação

tableau Aceitado | aceito | Juntado | junto Annexado | annexo | Limpado | limpo Apromptado | prompto | Manifestado | manifesto Captivado | captivo | Matado | morto Cegado | cego | Misturado | mixto Descalçado | descalço | Molestado | molesto Entregado | entregue | Occultado | occulto Enxugado | enxuto | Pagado | pago Escusado | escuso | Professado | professo Exceptuado | excepto | Quietado | quieto ou quedo Expressado | expresso | Salvado | salvo Expulsado | expulso | Seccado | secco Faltado | falto | Segurado | seguro Fartado | farto | Sepultado | sepulto Gastado | gasto | Soltado | solto Ignorado | ignoto | Sugeitado | sugeito Infectado | infecto | Suspeitado | suspeito Inquietado | inquieto | Vagado | vago Isentado | isento42

Segunda conjugação

tableau Aborrecido | Aborrido | Escurecido | escuro Absolvido | absolto | Extendido | extenso Absorvido | absorto | Incorrido | incurso Accendido | acceso | Interrompido | interrupto Conhecido | cognito | Morrido | morto Convencido | convicto | Nascido | nato Convertido | converso | Pervertido | perverso Corrompido | corrupto | Prendido | preso Defendido | defeso | Resolvido | resoluto Elegido | eleito | Rompido | roto Enchido | cheio | Recozido | recoito Envolvido | envolto | Suspendido | suspenso Escrevido | escripto | Torcido | torto

Terceira conjugação

tableau Abrido | aberto | Extinguido | extincto Abstrahido | abstracto | Extrahido | extracto Affligido | afflicto | Frigido | frito Cobrido | coberto | Imprimido | impresso Concluido | concluso | Incluido | incluso Confundido | confuso | Infundido | infuso Contrahido | contracto | Inserido | inserto Difundido | diffuso | Instruido | instructo Dirigido | directo | Opprimido | oppresso Distinguido | distincto | Possuido | possesso Dividido | diviso | Reprimido | represso Elegido | eleito | Submergido | submerso Erigido | erecto | Supprimido | suppresso Exhaurido | exhausto | Surgido | surto Exprimido | expresso | Tingido | tinto

Lição VII
Dos adverbios

Adverbio é uma palavra, que se ajunta ao nome ou ao verbo,
para modificar as suas significações.

Os adverbios se dividem quanto ás suas formas, e quanto ás
mas significações.43

Os adverbios, considerados quanto ás suas formas, são simples
ou primitivos, compostos e derivados.

Os adverbios simples são hontem, onde, sim, logo, etc.

Os adverbios compostos são ante-hontem, assim como, logo que,
já agora, com quanto
, etc.

Os adverbios derivados são certamente, prudentemente, amavelmente,
etc.

Os adverbios, considerados quanto ás suas significações, são de
quantidade, de qualidade, de tempo, de lugar, de ordem, de perguntar,
de affirmar, de negar, de mostrar, de duvidar, de excluir.

Adverbios de quantidade

tableau Adverbios | Significações | Adur | apenas | Muito | em muita quantidade Apenas | com escassez | Quanto | em quanta quantidade Assás | bastantemente | Quasi | com pouca differença Acerca | com aproximação | Sequer | ao menos Mais | em maior quantidade | Tanto | em tanta quantidade Menos | em menor quantidade

Adverbios de qualidade

tableau Adverbios | Significações | Assim | em tal maneira | Quiçá | quem sabe, talvez Como | em qual maneira | Talvez | acaso

Adverbios de tempo

tableau Adverbios | Significações | Agora | nesta hora | Inda | nesta hora Ainda | até esta hora | Já | neste instante Amanhã | dia proximo futuro | Logo | neste tempo Antes | em tempo antecedente | Nunca | em nenhum tempo Asinha | depressa | Hoje | no dia presente Até agora | até esta hora | Hontem | dia anterior ao de hoje Avante | para o futuro | Quando | no tempo em que Cêdo | em pouco tempo | Sempre | em todo o tempo Depois | em tempo subsequente | Tarde | muito depois Então | naquelle tempo44

Adverbios de lugar

tableau Adverbios | Significações | Acolá | naquelle lugar | Dahi | desse lugar Ahi | nesse lugar | Dali | daquelle lugar Além | da banda contraria | Daqui | deste lugar Algures | em algum lugar | Dentro | no lugar interior Alhures | em outro lugar | Diante | no lugar anterior Ali | na quele lugar Fora | no lugar exterior Aquem | da banda de cá | La | nesse lugar Aqui | neste lugar | Longe | em grande distancia Arriba | no lugar de cima | Nenhures | em nenhum lugar Atraz | na parte posterior | Onde | no lugar em que Cá | neste lugar Perto | em pequena distancia Cerca | em tomo

Adverbios de ordem

tableau Adverbios | Significações | Aeito | por ordem seguida | Avante | adiante Afim | finalmente | Antes que | precedentemente Antes | primeiramente | Primeiro que | antes que

Adverbios de perguntar

tableau Adverbios | Significações | Até quando ? | até que tempo | Porque ? | qual a maneira Como ? | de que modo | Quando ? | em que tempo Como assim ? | Quanto ? | que quantidade D’onde ? | de que lugar

E assim todos os adverbios que tiverem depois o ponto interrogativo ?

Adverbios de affirmar

tableau Adverbios | Significações | Assim | desse modo | Pois não | por que não Deveras | com verdade | Sim | certamente.45

Adverbios de negar

tableau Adverbios | Significações | Ainda não | actualmente não | Não | nada absolutamente Debalde | em vão | Nunca | em nenhum tempo Nada | cousa nenhuma | Tão pouco | jamais

Adverbios de mostrar

tableau Adverbios | Significações | Eis | tendes, vedes | Eis aqui | vedes aqui Eis ali | tendes ali

Adverbios de duvidar

tableau Adverbios | Significações | Acaso | casualmente | Porventura | acaso Aliás | de outro modo | Quiçá | talvez Bofé | com veras | Talvez | alguma vez

Adverbios de excluir

tableau Adverbios | Significações | Apenas | escassamente | Somente | sem companheiro Só | unicamente | Tão somente | sem companheiro

Locução adverbial é uma phrase ou palavra, que equivale a um
adverbio, ou vice-versa. Exemplos :

tableau Locuções | Significações | Alto | em tom alto | Certo | certamente Attento | estar com attenção | Conforme | em conformidade Baixo | em tom baixo | Excepto | com excepção Barato | por preço barato | Pouco | pouca quantidade Bastante | em quantidade bastante | Subito | rapidamente Caro | por preço caro.46

Lição VIII
Das preposições

Preposição é uma palavra, que se põe antes do nome para notar
as diversas relações.

Dividem-se em duas classes, isto é, umas entram na composição
dos nomes e dos verbos, e lhes mudam as significações ; outras
se usam sós, ou soffrem alguma mudança, que se chama contracção.

Preposições que entram nos nomes e verbos

tableau Preposições | Significações | Composições | Ab, abs | ausencia | a-solver, abs-ter-se Ante, anti | lugar anterior | ante-por, anti-pathia Apar | lugar lateral Apos | seguimento Até | termo, fim Com | união | com-posição, com-por Contra | opposição | contra-hir, contra-bando, D’antes | antecedencia De, di, dis, | privação | de-feito, di-manar, dis-pensar Desde | extensão Entre | lugar medio | entre-ter, entre-mez Ex, extra | lugar d’onde | ex-por, extra-hir Im, in | interior, negação | im-pedir, in-habil Inter | inter-por, inter-medio Intro | lugar interior | intro-metter, intro-versão Junto | união Ob | lugar opposto | ob-ter, ob-tenção Para | fim que se pretende | para-bem, para-fusar Per | meio | per-mittir, per-feição Perante | em presença Pos | lugar posterior | pos-por, pos-tinha Pre | precedencia | pre-eminencia, pre-ferir Pro | lugar onde | pro-metter, pro-curar Re | duplicação | re-por, re-banho Retro | lugar opposto | retro-ceder, retro-trahir Sem | sem-saboria Sobre | lugar superior | sobre-por, sobre-salto, Sub | lugar inferior | sub-missão, sub-trahir Te | fim, limite Tras | tras-passar, tras-lado47

Preposições que soffrem contracção

A se contrahe em ao, aos, as, antes dos artigos definidos, v. g :
a o, a os, se diz, ao, aos, etc.

De se contrahe em do, dos, da, das, antes dos artigos definidos,
v. g : de o, de os, de a, de as, se diz do, dos, da, das.

Em se contrahe em no, nos, na, nas, antes dos artigos definidos,
e pronomes, que principiam por vogaes, v. g : em o, em a, etc.,
em este, se diz, no, na, neste, etc.

Pôr se contrahe em pelo, pelos, pela, pelas, antes dos artigos
definidos, v. g : por o, por os, por a, por as, se diz, pelo, pelos, pela,
pelas
.

Lição IX
Das conjuncções e interjeições

Conjuncção é uma palavra, que serve de unir, ou de separar
as partes da oração,

Dividem-se em oito classes — copulativas, disjunctivas, condicionaes,
causaes, conclusivas, comparativas, explicativas e adversativas.

Conjuncção copulativa é a que serve de ligar as partes da oração,
v. g : bemassim, com, e, item. outrosi, tamòem

Conjuncção disjunctiva é a que separa as partes da oração, v. g :
já, nem, ora, ou, quando, quer.

Conjuncção condicional é a que sugeita a condição as partes da
oração, v. g : comtanto que, comquanto que, salvo si, sem que, si,
sinão.

Conjuncção causal, é a que dá a razão, v. g : pois, porquanto,
porque, visto que, que
, significando a que.

Conjuncção conclusiva é a que indica o fim da oração, v. g :
assim, alfim, emfim, logo, ora, pelo que, portanto, por conseguinte,
por fim
.

Conjuncção comparativa é a que mostra o gráo de comparação,
v. g : assim, assim como, bem como, como.

Conjuncção explicativa é a que exprime o modo, v. g : as ditas.

Conjuncção adversativa é a que denota a opposição, v. g : ainda
assim, ainda que, comtudo, em que, mas, porém, posto que, supposto
que, todavia, etc
.

Além das conjuncções propriamente ditas, toda a palavra, adverbio,
phrase adverbial, e outras locuções, que servem de nexo as
proposições, podem-se chamar conjuncções, v. g : como quer que, a
não ser assim, tanto quanto, emquanto, onde quer que, mormente,
certo que, si por acaso, isto é, para assim dizer, a saber, não obstante,
toda a vez que
.48

Interjeição é uma palavra, que significa os movimentos subitos
d’alma.

Umas interjeições exprimem um só affecto, outras varios ao
mesmo tempo, e outras pelo uso somente se conhecem as suas significações,
segundo a occasião e o tom particular com que são proferidas.

As interjeições dividem-se em dezeseis classes, que são :

Interjeição de riso, v. g : a, a, a.
Dita de sobresalto, v. g : ai, ai.
Dita de silencio, v. g : chist, sio, ia, chiton.
Dita de exhortar, v. g : eia, eia.
Dita de aversão, v. g : irra, apre.
Dita de chamar, v. g : ó, ó lá, eia.
Dita de desejo, v. g : oxalá, ó.
Dita de dor, v. g : ui, ai, guai, an.
Dita de parar, v. g : ta, ta.
Dita de animar, v. g : sus, ora sus.
Ditas de admirar e de espanto, v. g : á, ó, ui.
Dita de attenção, v. g : ó, siu.
Dita de mostrar, v. g : eis.
Dita de despertar, v. g : alerta.
Dita de repulsar, v. g : fora, apage.49

Parte segunda
Ortographia

Lição X
Da escripturação

Ortographia é a segunda parte da grammatica, que ensina a
escrever corn perfeição.

Escrever é representar os nossos pensamentos por meio de duas
ordens de caracteres, chamados lettras e pausas.

Lettras são caracteres formados de dous signaes mathematicos,
isto é, de um circulo e de uma linha recta, cujos nomes são vozes
simples, v. g : A, a, B, b, C, c, D, d, E, e, F, f, G, g, H, h, I,
i, J, j, K, k, L, l, M, m, N, n, O, o, P, p, Q, q, R, r, S, s, T, t, U,
u, V, v, X, x, Y, y, Z, z
.

Pausas são caracteres formados dos mesmos signaes mathematicos,
cujos nomes são vozes compostas, v. g. : coma ou virgula,
semicolon ou ponto e virgula
 ; colon ou dous pontos : periodo ou
ponto final
. ponto interrogativo ? ponto admirativo ! viracento ou
apostrophe
asterisco * obeliscocaretcrotchet ou parenthese ()
hifenindice paragrapho § secçãocotaçãoabraço
ellipse — — reticenciaaccento agudo ´, accento grave ˋ, accento
circumflexo
ˆ, til ~.

As vinte e quatro lettras, que compõe o alphabeto portuguez,
dividem-se em duas classes — vogaes e consoantes.

As vogaes A a, E e, I i, O o, U u, Y y, sós ou unidas a uma,
ou mais consoantes, formam as syllabas ; e unidas a outras vogaes,
formam os diphtongos.

As consoantes B b, C c, D d, F f, G g, H h, J j, K k, L l,
M m, N n, P p, Q q, R r, S s, T t, V v, X x, Z z
, só unidas a alguma
vogal formam as syllabas.

Syllaba é o som resultante da pronunciação de uma vogal só,
ou unida a uma ou mais consoantes, v. g : a, ta, tra, tran, trans.

Diphtongo é o som resultante da pronunciação de duas vogaes
juntas.

Os diphtongos são doze ai, ao, au, ei, eo, eu, tu, oe, oi, ou, na,
ui
, Exemplos pai, não, causa, leito, céo, feudo, viu, heroe, boi, roubo,
guapo, cuidado
, etc.

Escrevem-se lettras grandes somente em tres casos ; no principio
de qualquer discurso ; depois de ponto final, interrogativo
e admirativo ; nos nomes proprios e de dignidades, de tribunaes, de
50sciencias e de mezes. A primeira lettra de cada um verso na
poesia deve ser grande,

A escripturação das consoantes dobradas é um objecto sugeito
a opiniões. Veja a nota 1

Goma ou virgula , escreve-se para separar as orações e os nomes
distinctos, antes das conjuncções e, nem, ou, etc. e antes dos
pronomes relativos, entre os verbos e entre os adverbios.

Semicolon ; escreve-se para dividir um periodo em partes, antes
das conjuncções mas, porém, nem, porque, ainda que, etc. e quando
uma sentença fica incompleta.

Colon : escreve-se quando se allega sentença de alguem, antes
do adverbio porque, e da phrase a saber etc.

Periodo . escreve-se quando a oração ou o periodo finda em
sentido perfeito.

Interrogativo ? escreve-se no fim da oração, pela qual se pergunta
alguma cousa.

Admirativo ! escreve-se no fim da oração, que exprime compaixão.

Viracento ou apostrophe ’ escreve-se quando se supprime alguma
vogal

Asterisco * escreve-se para referir alguma nota.

Obelisco ‡ escreve-se no caso precedente para mais instrucção.

Caret ‿ escreve-se em baixo da palavra omittida,

Crotchet ou parenthese ( ) escreve-se para incluir em algum discurso
uma idéa particular, para mais intelligencia.

Hifen – escreve-se no fim da linha na palavra partida, para
ligar os pronomes aos verbos, para formar de duas palavras uma,

Indice I escreve-se para notar a passagem de algum
autor.

Paragrapho § e secção escrevem-se no principio de um
novo discurso.

Cotação “ ” escreve-se para se apresentar o pensamento de
um autor pelas suas mesmas palavras.

Ellipse — — escreve-se para omittir partes do verso ou da
sentença.

Abraço ︷ escreve-se para ligar diversas cousas.

Reticência … escreve-se para suspender algum pensamento.

Accento agudo ´ escreve-se para fazer a syllaba longa.

Accento grave ˋ inutil na ortographia portugueza.

Accento circumflexo ˆ escreve-se para fechar o som das vogaes
e, o.

Til ~ escreve-se para supprir as consoantes m, n.51

Parte terceira
Prosodia

Lição XI
Da leitura ou pronunciação

Prosodia é a terceira parte da grammatica, que ensina a ler
com perfeição.

Divide-se em accentos e figuras.

Ler é pronunciar as vozes representadas pelas lettras com as
pausas, accentos e figuras.

Figuras são certo modo de escrever e pronunciar differente
das regras estabelecidas.

Dividem-se em oito : por acrescentamento de lettras, por diminuição,
por suppressão, por separação, por mudança, por transposição,
por contracção e por dilatação.

As figuras por acrescentamento de lettras são tres : prothese,
epenthese e paragoge
.

Prothese acrescenta lettras no principio do nome, v. g : allevantar
por levantar.

Epenthese acrescenta lettras no meio do nome, v. g : Mavorte,
por Marte,

Paragoge acrescenta lettras no fim do nome, v. g : martyre
por martyr.

As figuras por diminuição de lettras são tres ; apherese, syncope
e apocope
,

Apherese diminue lettras no principio do nome, v. g : sprito
por espirito.

Syncope diminue lettras no meio do nome, v. g : esprito por
espirito,

Apocope diminue lettras no fim do nome, v. g : marmor por
marmore,

As figuras por suppressão de letras são tres ; synerese, synalepha
e ellipse
,

Synerese de duas vogaes do nome faz uma, v. g : flauta por
flauta,

Synalepha supprime a vogal final do nome, v. g : d’ Oliveira,
por de Oliveira,

Ellipse supprime o m final do nome, v. g : co a vida por
com a vida.

As figuras por separação de lettras são duas ; dierese e temese.

Dierese dissolve o diphtongo do nome, v. g : saude.52

Temese divide um nome em dous, v. g pro luxo.

A figura por mudança de lettras do nome á antithese, que muda
em l o r final do nome, v. g : amal-o por amar o.

Metathese é a figura por transposição de lettras, que inverte as
lettras do nome, v. g : droba por dobra,

Systole é a figura por contracção, que fez breve a syllaba
longa, v. g : epócha por épocha.

Diastole é a figura por dilatação, que faz longa a syllaba breve,
v. g : sófa por sofá.

Vicios de prosodia

Barbarismo dá-se quando se pronuncia breve a syllaba longa e
vice-versa, v. g : telegrápho por telégrapho ; ou quando se pronuncia
o verbo de uma oração na pessoa incompetente, v. g : tu sois malvado
por tu és malvado.53

Parte quarta
Syntaxe

Lição XII
Da syntaxe e da oração em geral

Syntaxe é a quarta parte da grammatica, que ensina a compor
a oração,

Divide-se em simples ou natural e figurada.

Syntaxe simples ou natural é a recta composição da oração, segundo
as regras estabelecidas.

Divide-se em syntaxe de concordancia e em syntaxe de regencia.

Syntaxe figurada é a irregularidade ou suppressão das partes
da oração. Veja a nota ‡‡2

Concordancia de syntaxe ou grammatical é a relação entre as
partes da oração ou entre esta.

Divide-se em concordancia regular e em concordancia irregular.

Regencia de syntaxe ou grammatical é o poder, que uma parte
ou oração tem sobre outra.

Divide-se em regencia regular e em regencia irregular.

Concordancia regular é quando as partes da oração ou esta segue
o uso da lingua.

Esta concordancia deve observar-se entre as partes da oração ;
isto é, entre o sugeito e o verbo ; entre o attributo e o sugeito ;
entre o adjectivo, pronome, e participio e o substantivo ; entre as
orações parciaes e as totaes ; entre as orações subordinadas e a principal.

Concordancia irregular (solecismo) é quando ha discordancia
nos mesmos casos precedentes,

Regencia regular é quando as partes regentes precedem claramente
as partes regidas (complementos).

Regencia irregular e quando é o contrario pela ellipse.

Oração é uma reunião de palavras, pela qual exprimimos os
nossos pensamentos.

Considera-se de tres modos : quanto á construcção, quanto á
significação, quanto ao numero.

Quanto á construcção a oração divide-se em directa e indirecta.

Gonstrucção directa é quando o agente precede ao verbo, o
este ao attributo. E’ simples quando a oração tem somente tres
termos — sugeito, verbo e paciente ; composta quando a oração
54tem muitos sugeitos e attributos ; e complexa quando os tres termos
são modificados por accessorios.

Construcção indirecta ou inversa é quando esta ordem é alterada.

Quanto á significação a oração divide-se em principal, absoluta
ou independente, e em parcial ou subordinada.

Oração principal é a que tem o verbo no indicativo.

Oração parcial é a que tem o verbo no conjunctivo, ou no indicativo
ligada a principal por meio de alguma conjuncção.

Divide-se era incidente e integrante.

Oração incidente é a explicativa ou restrictiva do sugeito, ou
do attributo de outra oração.

Oração integrante é a do infinito ou do finito, nunca do imperativo,
que serve de sugeito ou de attributo, ou de complemento de
outra oração.

Quanto ao numero chama-se periodo quando o ponto ou discurso
consta de quatro orações parciaes. Chama-se oração periodica
quando consta de mais de quatro orações.

Lição XIII
Da syntaxe de concordancia em particular

As partes essenciaes da oração ou phrase são tres ; sugeito ou
agente, verbo ou nexo, paciente ou attributo.

Sugeito é a palavra, que exercita a acção do verbo.

Verbo é a palavra, que mostra a acção do sugeito.

Attributo é a palavra, que recebe a acção do sugeito, v. g : Antonio
educou a Pedro com todo o zelo
. Veja a nota ‡‡‡3

A oração activa muda-se para a voz passiva deste modo ; O
paciente da activa Pedro passa para sugeito da passiva, o verbo educou
passa para o mesmo tempo e modo da voz passiva, o sugeito da
activa Antonio passa para paciente da passiva regido pela preposição
por, o complemento com todo o zelo não soffre alteração,
v. g : Pedro foi educado por Antonio com todo o zelo.

Concordancia do verbo com o sugeito

Todo o verbo concorda em numero e pessoa com o sugeito da
oração, v. g : Antonio ama a virtude.

Os verbos impessoaes chover, trovejar etc, tem os sugeitos incluidos
em si, v. g : Chove, quer dizer a chuva cahe.

O sugeito da terceira pessoa se declara, v. g : Antonio estuda.

O sugeito da primeira ou da segunda pessoas se occulta, v. g :
Escrevi a Pedro, Mandaste a carta.55

O sugeito da primeira com outro da segunda pessoas de qualquer
numero pede verbo na segunda pessoa do plural, v. g : Eu e
tu estudamos
.

O sugeito da segunda pessoa com outro da terceira de qualquer
numero pede verbo na segunda do plural, v. g : Tu e Antonio
estudaes com assiduidade
.

Muitos sugeitos da terceira pessoa do singular, ou do plural
pedem verbo na terceira pessoa do plural, v. g : Antonio e os irmãos
fugiram
.

Muitos sugeitos de differentes pessoas do singular pedem verbo
na terceira pessoa do plural, v. g : Eu, tu e Antonio marcharemos
juntos
.

O relativo que pede verbo em qualquer numero, segundo os
objectos a que se refere, v. g : O homem que foi, ou os homem que
foram a cidade
, etc.

O collectivo tudo, o negativo nada e as conjuncções nem, ou, levam
o verbo ao singular, v. g : As riquezas e os perfumes, tudo desapparece.
As riquezas e os perfumes, nada faz a felicidade eterna,
Nem a lei nem o castigo intimida ao homem. O ouro ou a prata
agrada a todos
.

O infinito haver substantivado pede verbo em qualquer numero,
v. g : Podem ou pode haver homens que etc.

O numeral um e outro e o negativo universal nenhum com
substantivos occultos pedem verbos em qualquer numero, v. g :
um e outro, ou nenhum nem outro apparecia ou appareciam ; mas
com os substantivos claros pedem verbo no numero dos substantivos,
v. g : Um e outro negocio me agrada.

Concordancia do attributo com o sugeito

O attributo sendo substantivo commum concorda em numero
com o sugeito, v. g : Antonio é homem. Mas sendo adjectivo concorda
em genero e numero com o sugeito, v. g : Antonio é prudente.

Os infinitos e os participios do presente dos verbos activos
tem attributos como si estivessem no modo finito, v. g : Amar ou
amando as virtudes
.

Muitos sugeitos ou attributos, os segundos concordam com os
primeiros nas mesmas relações pela identidade do mesmo verbo, do
mesmo artigo, e das mesmas conjuncções repetidas, v. g : A vida e
a morte
é util e justa,

Concordancia dos adjectivos com os substantivos

Os adjectivos, pronomes e participios, concordam em genero e
56numero com os substantivos, v. g : Homem honrado. Meu livro.
Van esperança.

Muitos substantivos do singular do mesmo ou de diverso genero
concordam com os substantivos occultos, entes, objectos, pessoas
ou cousas
, v. g : As virtudes e os vicios são (cousas) oppostas.

Muitos substantivos de diverso genero e numero concordam
com o adjectivo na terminação masculina do plural, v. g : O pae e
as filhas são
(entes) formosos.

Si os substantivos exprimem cousas inanimadas pedem adjectivo,
ou no numero em que estiver o substantivo mais proximo para
com este concordar, ou no plural concordando com aquelles occultos
v. g : Á justiça, a lei, o premio e o castigo deve ser respeitado, ou
devem ser
(objectos) respeitados.

Si os substantivos são de dignidades e officios, os adjectivos
concordam com o genero da pessoa a quem se falia, v. g : Vossa
magestade é justo
.

O artigo definido o anteposto aos adjectivos para os substantivar
é invariavel em genero e numero, v. g : O bello da funcção
era a dansa ou eram as dansas
.

Os adjectivos, participios ou adverbios excepto, mediante, salvo,
não obstante, supposto etc
. concordara com alguns substantivos occultos,
e não com os que os regem, v. g : excepto (o numero de) algumas
pessoas
.

O pronome pessoal vós, usado em lugar de tu, concorda com o
adjectivo no singular, v. g : vós sereis respeitado.

Concordancia das orações parciaes com as totaes

As orações incidentes e integrantes, ligadas as totaes pelo relativo
que, concordam era genero e numero com os sugeitos ou attributos
das orações totaes pelas posições immediatas, v. g : O homem,
que ama as lettras, respeita aos homens, que são virtuosos
.

Nas orações integrantes o que é invariavel, e ellas concordam
com as totaes, entendendo-se sempre o antecedente isto, v. g : Antonio
quer que
(isto) se faça.

As orações integrantes do infinito impessoal concordam com as
totaes por ser o sugeito do verbo regido o mesmo do verbo regente
v. g : Gostarás de ler.

Si o infinito é pessoal as orações integrantes não concordam
com as totaes por ser o sugeito do verbo regido differente do verbo
regente, v. g : Gostarás de leres (tu).

Concordancia das orações subordinadas com a principal

A proposição responsiva concorda com a interrogativa por de
57pender do mesmo verbo, excepto na pessoa, v. g : Quem és ? soi
Antonio
.

As proposições subordinadas concordam com a principal por
meio das conjuncções, adverbios e pbrases conjunctivas, v. g : Antonio,
quando se retirou da cidade, entregou aos amigos tudo o que
sem trabalho tinha adquirido, sem que alguem o obrigasse a obrar
dessa maneira
.

Concordancia irregular ou solecismo

Solecismo é a falta de regencia ou de concordancia.

Ha solecismo entre as partes da oração, entre as orações parciaes
e as totaes, e entre as orações totaes.

Solecismo entre os termos da oração dá-se :

Quando se usa de substantivo commum no plural, depois dos
adjectivos um e outro, nenhum nem outro, v. g : um e outro homens
etc
,

Quando se usa de verbo no plural depois dos adjectivos cada,
cada um, cada qual, v. g : Cada qual faziam etc.

Quando se usam, ou se omittem os artigos ; os pronomes são
unidos aos substantivos, bem como as preposições fora das regras,
v. g : O pae e mãe, Todo homem. Com successos.

Solecismo entre as orações parciaes e totaes dá-se :

Quando se usa do relativo que em lugar de o qual, a qual, ou
a quem, depois de um ou mais substantivos, causando ambiguidade
v. g : Pedro é homem, que muito estimo, etc.

Quando se usa dos participios activos com sugeitos differentes,
v. g : Foram a cidade, sendo mandado, etc.

Quando se usa nas orações integrantes da forma pessoal no primeiro
caso, e da impessoal no segundo, v. g : vens para me veres, et
não para te ver
, etc.

Quando se usa do pronome cujo, em lugar de que, qual, quem,
v. g : O homem, cujo não conheço, etc.

Solecismo entre as orações totaes dá-se :

Quando não ha correspondencia entre as conjuncções, e por
isso a oração principal não coincide com as parciaes, v. g : Si, em
lugar de se usar de ainda que ou comtudo, se usa de assim tambem
e si a oração começa por assim como, e acaba por contudo, causando
ambiguidade.

Lição XIV
Da syntaxe de regencia em particular

Regencia regular — Nas phrases ou orações ha partes regentes,
partes regidas, e partes que nunca são regidas.58

Partes regentes são as que dirigem as significações das outras ;
que são verbo, adjectivo e preposição.

Verbo rege substantivo, v. g : Amo a Deus. Escrever cartas.
Ensinando aos homens.

Adjectivo de significação relativa rege substantivo, v. g : Sugeito
ás leis. Dado á instrucção
.

Preposição rege qualquer parte da oração, v. g : De Antonio.
Com eloquencia. Para estudar, etc.

Partes regidas, (complementos) são aquellas cujas significações
são dirigidas por outras.

Os complementos são quatro — objectivo, terminativo, restritivo
e circumstancial.

Complemento objectivo é toda a palavra ou oração, que recebe
a acção do verbo (paciente) ; e se observa :

Quando é pessoa ou cousa personificada, tendo sempre antes a
preposição a, v. g : Amo a Deus.

Quando é pronome ou cousa, não tendo preposição, v. g : Amote,
Procuro livros
.

Quando as variações me, nos, te, vos, se, se ajuntam aos verbos
simplesmente activos, v. g : José faltou-me.

Complemento terminativo é toda a palavra ou oração, que termina
a significação relativa das palavras regentes, e é precedido
das preposições a, com, contra, de, para, por ; e se observa :

Quando os verbos de significação relativa, tem dous complementos,
um objectivo e outro terminativo, v. g : Dei o livro a
Pedro
.

Quando, as variações, me, nos, te, vos, se, lhe, lhes, lha, lhas,
se ajuntam aos ditos verbos, v. g : Pedro applicou-se ás lettras,
Mandou lhe a carta.

Complemento restrictivo é toda a palavra precedida da preposição
de, depois de substantivo commum ; e se observa :

Quando se empregam os pronomes derivados meu, minha, nosso,
nossa, teu, tua, vosso, vossa, v. g : Saudades minhas. Razões
vossas.

Complemento circumstancial é toda a palavra ou oração precedida
de qualquer preposição, sem ser pedida pela sua significação,
e se observa :

Quando depois do verbo substantivo ser, vem relações de lugar,
de tempo, de gráos de significação, v. g : Antonio foi a Olinda
o anno passado
.

Quando depois dos verbos adjectivos, vem relações de quantidade,
de qualidade, de modo, de fim, meio ou de instrumento, v. g :
Antonio feriu-me com a espada.

Partes que nunca são regidas, são o sugeito, o verbo e a preposição.

Syntaxe figurada em particular

Regencia irregular — A syntaxe figurada divide-se em tres principaes
figuras, hyperbato, ellipse e pleonasmo.59

Hiperbato é a inversão dos termos da oração.

Divide-se em cinco — temese, anastrophe, parenthese, sinchise
e anacolutho.

Temese é quando se interpõe uma palavra em outra, v. g :
amar-te-hei. era lugar de hei de amar-te.

Anastrophe é quando a palavra composta principia por onde
deve acabar, v. g : como no mesmo exemplo. ’

Parenthese é quando se interpõe a uma phrase ou oração uma
palavra ou phrase que forme um sentido distincto.

Sinchise é quando ha confusão de construcção, v. g : trahir
horroroso é da patria crime
, em lugar de dizer-se o trahir a patria
é um crime horroroso
.

Anacolutho é quando ha inconsequencia no discurso, v. g :
como no mesmo exemplo.

Ellipse é a suppressão dos termos da oração.

Divide-se em tres — zeugma, syllepse e enalage,

Zeugma é quando á um verbo se referem muitos sugeitos, v. g :
Antonio, Pedro e outros salvaram a patria.

Syllepse é quando muitos substantivos de diverso genero no
singular tem o adjectivo no plural, v. g : a casa, o sitio, o campo
e a horta são deleitaveis
 ; ou quando muitos sugeitos de diversas
pessoas do singular tem o verbo no plural, v. g : Antonio, tu e
Maria passeavam hontem
.

Enalage é quando se substitue uma parte da oração por outra,
como seja trocando os tempos ou os modos dos verbos, empregando
os adjectivos por adverbios, os verbos como Substantivos e os
participios como verbos, v. g : o nosso viver em lugar de se dizer a
nossa vida etc
.

Pleonasmo é a superabundancia de palavras, v. g : vi com os
olhos
, em lugar de dizer-se somente vi.60

Notas

1voir O alphabeto portuguez é muito imperfeito, visto que para formar umas
syllabas tem lettras de mais, e para formar outras faltam-lhe lettras ; porque
adoptaram os homens alguns erros que communicaram a posteridade, e
que já estão irremediaveis, Esses erros foram habituarem-nos desde a nossa
infancia a pronunciar algumas lettras com sons differentes dos seus naturaes,
v. g : a lettra c com o som de k ou de q ; a lettra g com o som de j ; a lettra
s com o som z ; as lettras ch com o som de q ou de x ; as lettras ph com o
sem de f.

A lettra c, tão necessaria, e de tanta utilidade no alphabeto portuguez,
soffre tantas alterações, que se pode affirmar que ella tem um som indeterminado ;
porque tendo o e naturalmente um som brando, semelhante ao de
com ella unida as cinco vogaes podiamos formar as syllabas sa, se, si, so, su,
sem precisarmos de s. Mas não succede assim, porque desde a nossa escola
nos ensinam a pronunciar c com o som de k ou de q, quando a unimos com
as vogaes a, o, u, v. g : ca, co, cu, pronunciamos ka, ko, ku, e somente a conservar
o seu natural som de c, quando a unimos com as vogaes e, i, v. g : ce, ci,
pronunciamos se, si. Ora, isso é um erro imperdoavel, porque si consultarmos
a natureza das cousas, veremos, que si a uma criança, quando principia
a pronunciar as primeiras syllabas, interrogarmos c a ?c o ?c u ? ella rapidamente
responderá sa, so, su, e não ka, ko, ku ; e era desnecessario pôr uma
virgula abaixo do ç para conservar o som de s, v. g : ça, ço, çu, e pronunciarmos
sa, so, su.

A vista disso faço as observações seguintes :

Si a lettra c tem o natural som de s, deve sempre conservar este som
em todas as syllabas ; e então se fazia desnecessaria a lettra s.

Si a lettra t tem o som de k ou de q, deve conservar sempre este som em
todas as syllabas ; e então eram desnecessarias as lettras k, q.

Si a lettra c tem o som de k ou de q, deve conservar sempre este som
em toda as syllabas ; e não era preciso usar-se de ch para produzir o som
daquellas lettras.

Si as lettras ch tem o som de k ou de q, devem conservar sempre este
som ; e não mudar outras vezes para o de x, porque desse modo estaremos
constantemente ignorando quando convém pronunciar algum desses sons,
v. g : a palavra choro, escripta com as mesmas lettras, significa xoro e coro.

Para formarmos as syllabas fa, fe, fi, fo, fu, temos a lettra f, e não é preciso
usarmos de ph.

Para formarmos as syllabas ja, je, ji, jo, ju, temos a lettra j, que deve
pronunciar-se com o som ge, e não com o som de jota ; e para as syllabas je, ji
não é preciso usarmos de g, que tem o som de gue.

Para as syllabas gua, gue, gui, go, gu, basta usarmos simplesmente de
g sem ajuntar-lhe u, porque g deve pronunciar-se com o som de gue, e não
de je.

Para as syllabas qua, que, qui, quo, qu, podemos usar simplesmente das
lettras q ou k, e não usarmos umas vezes de c, outras de ch, outras de g, so
ou unido com u. e outras vezes de k.

Para as syllabas za, ze, zi, zo, zu, temos a lettra z, e não precisamos
nsar dc s, em lugar de z, nos termos compostos, v. g : desapparecer : e quando
na pronunciação de dous temos o s final do primeiro fere naturalmente a
vogal inicial do segundo termo, v. g : meus amigos, onde se percebe a syllaba
za.

Para as syllabas sa, se, si, so, su, temos a lettra s, e não precisamos da
lettra c.

Para as syllabas xa, xe, xi, xo, xu, temos a lettra x, e não precisamos
das lettras ch.

Até aqui tendo mostrado, que o alphabeto portuguez, para formar umas
syllabas, tem lettras de mais ; agora mostrarei, que, para formar outras, faltam-lhe
lettras, como :

Para formar as syllabas nha, nhe, nhi, nho, nhu, e lha, lhe, lhi, lho, lhu,
não temos lettras, usamos do h entre as vogaes e as consoantes, porque sem
este artificio as consoantes l, n, ferindo na pronunciação as vogaes, formam
differentes syllabas, v. g : as palavras minha filha, sem h, fica mina fila.

Ora, bem se vê, que estas syllabas são falsas ; pois que não ha palavras
que principiem por nh, lh.

Reprovo, finalmente, o uso de duplicar as consoantes, v. g : bb sabbado,
cc accento, dd addição, gg aggravo, ff affeição, ll elle, mm grammatica, nn
anno, pp appenso, ss assembléa, ct objecto, sc sciencia, pt escripto ; porque
demora a escripturação, e de nada serve a pronunciação. Alem disso, si nós
fallamos para sermos entendidos, não ha cousa mais miseravel, que fallarmos
de modo que ninguem nos entenda ; o que assim succederia, si pronunciassemos
todas as consoantes duplicadas.

Esta verdade foi reconhecida pelo Sr. Jeronymo Soares Barbosa, que
depois de dar em sua grammatica philosophica grande numero de regras
acerca da ortographia, disse finalmente : “ Escrevam-se as palavras com
tantas lettras, quantas bastem para a pronunciação ”

2‡‡‡voir Ha duas ordens de figuras grammaticaes, a saber : figuras de dicção
e figuras de syntaxe.

Figura de dicção é a alteração das palavras, como se vê na ortographia.

Figura de syntaxe é a irregular collocação das palavras, como se vê na
syntaxe figurada.

3‡‡‡voir O paciente da oração chama-se attributo concordado, quando o verbo
é o substantivo ser, v. g : Deus é justo ; e chama-se predicado regido,
quando o verbo é adjectivo, v. g : Deus formou o homem.