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Grivet, Charles Adrien Olivier. Nova Grammatica Analytica – T04

[Nova grammatica analytica da lingua portugueza]

Prefacio

Offerecendo á consideração dos mestres esta nova grammatica,
comprazo-me na esperança de que lhe achem os requisitos que faltavão
á que publiquei em 1865, para que fosse um bom livro escolar, e
nella encontrem mórmente, além de um tratado completo sobre a
materia, o methodo mais apropriado para a introducção, nas aulas, do
estudo systematico dos classicos, sem o qual, por mais que se faça, a
regeneração da linguagem não passará de uma aspiração chimerica.

Não quer isso dizer que a linguagem deva ficar estacionaria no
meio deste constante e irresistivel andar de todas as cousas humanas;
não, muito pelo contrario: a cada seculo, a cada geração mesmo compete
uma phraseologia propria, que, reflexo historico, registre as suas
conquistas no dominio da civilisação, e formule as suas aspirações
para o ideal em que tem fitos os olhos; porém o valor litterario desta
phraseologia não póde estar em romper ella com as tradições das éras
anteriores, e sim em vasar os pensamentos novos no molde largamente
accommodatécio donde, pela vez primeira, sahiu a lingua no esplendor
da mocidade, do vigor e da louçania, firmando para sempre a sua
autonomia entre as suas irmãas da estirpe greco-latina.

Neste intuito não só extractei, dos mesmos clássicos, a generalidade
dos exemplos destinados a illustrar e confirmar a minha doutrina
grammatical, senão também procurei tornar intuitiva a utilidade de
soccorrer-se assiduamente a estes mananciaes da boa dicção pela pratica
de processsos analyticos pouco intrincados, e por isso mesmo mais
expeditos e intelligiveis. Pois pareceu-me que o meio, senão unico,
ao menos mais adequado para reagir com efficacia contra a decadencia
crescente da linguagem, era o de pôr em frequente confrontação
as loquellas espurias do tempo presente com as lições dos
benemeritos das lettras, que accommodando genialmente a arte da
palavra aos dictames do bom senso, isto é, da logica, buxilárão o
padrão perenne das feições caracteristicas da lingua portugueza.

O autor.

Rio do Janeiro, 4 do Maio de 1874.XV