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Ribeiro, Júlio. Grammatica portugueza – T01

Grammatica portugueza

Introducção

1. Grammatica é a exposição methodica dos factos da
linguagem (1)1.

A grammatica não faz leis e regras para a linguagem; expõe os
factos della, ordenados de modo que possam ser aprendidos com facilidade.
O estudo da grammatica não tem por principal objecto a correcção
da linguagem. Ouvindo bons oradores, conversando com pessoas
instruidas, lendo artigos e livros bem escriptos, muita gente consegue
fallar e escrever correctamente sem ter feito estudo especial de um
curso de grammatica. Não se póde negar, todavia, que as regras do
bom uso da linguagem, expostas como ellas o são nos compendios, facilitam
muito tal aprendizagem; até mesmo o estudo dessas regras é o
unico meio que têm de corrigir-se os que na puericia aprenderam mal
a sua lingua.

2. Ha muitos outros pontos de vista sob os quaes é util
o estudo da grammatica.

Nós começamos a aprendizagem da falla aprendendo a entender
as palavras que ouvimos pronunciar aos outros; depois aprendemos a
pronuncial-as nós proprios, e a coordenal-as, como os outros fazem,
para exprimir as nossas impressões, os nossos pensamentos. Um pouco
mais tarde temos de aprender a entendel-as quando apresentadas á nossa
vista manuscriptas ou impressas: temos de apresental-as tambem desse
modo, isto é, de escrevel-as. Será então dever nosso usar da linguagem
não só com correcção, mas tambem de modo que agrade aos outros, que
sobre elles exerça influencia. Muitas pessoas terão ainda de aprender
linguas extranhas, linguas que servem aos mesmos fins a que serve a
nossa, mas de modo diverso. Nós temos mais de estudar as formas varias
1por que passou a nossa lingua, temos de comparar essas fórmas
com a fórma actual para que melhor entendamos o que esta é, e como
veio a ser o que é. Não nos basta usar da linguagem; é mister saber o
que constitue a linguagem, e o que nos importa ella. O estudo da linguagem
diz-nos muito sobre a natureza e sobre a historia do homem;
Como a linguagem é o instrumento e o meio principal das operações da
mente, claro éstá que não podemos estudar essas operações é a sua natureza
sem um conhecimento cabal da linguagem.

Para todos estes fins é o estudo da grammatica o primeiro passo;
e o estudo da grammatica de nossa lingua o passo mais seguro e mais
facil.

O estudo da grammatica divide-se em diversas partes; nunca se
acaba: começa em nossa infancia, e dura toda a vida. Os homens mais
intelligentes e doutos têm sempre alguma cousa a accrescentar ao seu
conhecimento da linguagem, mesmo da materna.

3. Linguagem é a expressão do pensamento por meio
de sons articulados.

4. Sons articulados significativos, quer proferidos, quer
representados por symbolos, chamam-se palavras.

Consideradas relativamente á sua significação, chamam-se as palavras
termos; consideradas relativamente a seus elementos materiaes,
chamam-se vocabulos.

5. A grammatica é geral ou particular.

6. Grammatica geral é a exposição methodica dos factos
da linguagem em geral.

7. Grammatica particular é a exposição methodica dos
factos de uma lingua determinada.

8. Grammatica portugueza é a exposição methodica
dos factos da lingua portugueza.

9. Divide-se-a grammatica em duas partes: lexeologia e
syntaxe (1)2.2

Parte primeira
Lexeologia

10. A lexeologia considera as palavras isoladas, já em
seus elementos materiaes ou sons, já em seus elementos morphicos
ou fórmas.

11. A lexeologia compõe-se de duas partes: phonologia
e morphologia.

Livro primeiro
Elementos materiaes das palavras

12. Phonologia é o tratado dos sons articulados.

13. A phonologia considera os sons articulados

1) isoladamente, como elementos constitutivos das palavras;

2) agrupados, já constituidos em palavras;

3) representados por symbolos.

14. As partes, pois, da phonologia são tres: phonetica,
prosodia e orthographia.

Secção primeira
Phonetica

15. Phonetica é o tratado dos sons articulados considerados
em sua maxima simplicidade, como elementos constitutivos
das palavras (1)3.

Som é a impressão produzida no orgam auditivo pelas vibrações
isokhronas do ar.3

Voz é o som laryngeo de que se servem os animaes para estabelecer
entre si certas relações.

O orgam essencial para a producção de vozes é o larynge: os
pulmões fazem as vezes de um folle, e a trakhea-arteria as de um portavento.

Voz articulada é a voz humana modificada por movimentos voluntários
do tubo vocal.

O apparelho, pois, da voz articulada é o tubo vocal, isto é, o pharynge,
a bocca e as fossas nasaes.

O larynge humano tem dous estreitamentos formados por dous
pares de linguetas — glotte inferior e glotte superior, chamados tambem
cordas vocalicas.

Usualmente a denominação «glotte» comprehende-os ambos.

Atravez da glotte effectuam-se a aspiração e a exspiração. Durante
esta é que se produzem as vozes, cuja intensidade está sempre
na razão directa da força com que é expellido o ar.

As vozes vão modificar-se especialmente na parte superior do
tubo vocal. E’ este um apparelho composto de membranas e de muscuos:
tem orgams moveis e orgams immoveis.

Os orgams moveis são:

1) O véo do paladar, divisão musculo-membranosa, quasi quadrilateral,
cuja margem superior apega-se á abobada palatina,
ao passo que a inferior fluctúa livre sobre a base da lingua,
apresentando em sua parte média a saliencia chamada úvula
ou campainha, e continuando-se de cada lado corri a lingua e
com o pharynge por meio das prégas conhecidas anatomicamente
por pilares do véo do paladar;

2) a lingua, corpo musculoso, maravilhosamente flexivel, que,
ligado em- parte á mandibula inferior, contrai-se, alonga-se,
dobra-se, vibra, podendo ir tocar com sua extremidade quasi
todos os pontos da cavidade buccal. Comparam-na pittorescamente
e com muita justeza ao badalo de um sino;

3) as faces e os labios. Os labios formam a abertura da bocca,
e, fechados elles, torna-se impossivel a emissão de sons articulados;

4) a arcada dentaria inferior.

Os orgams immoveis são:

1) as fossas nasaes;

2) a abobada palatina;

3) a arcada dentaria superior.

Cerrar os dentes não impede a passagem do ar; póde-se, pois
fallar com os dentes cerrados.4

Eis, em resumo, o mekhanismo da palavra: o ar exspirado pelos
pulmões entra em vibração nos estreitamentos do larynge, onde se
fórma a voz, e atravessa a bocca, onde se faz a articulação. Os musculos
do larynge modificam a primeira, os do véo do paladar, da lingua, das
faces e dos lábios se encarregam da segunda.

16. De tres maneiras modifica-se o apparelho vocal na
prolação de sons laryngeos; ha, conseguintemente, tres categorias
de vozes articuladas, a saber: vozes livres, vozes constrictas,
vozes explodidas.

A velha distribuição dos elementos phonologicos em sons simples
e em articulações, em vozes e em consonancias, provém da observação
imperfeita que dos phenomenos de vocalisação têm feito os grammaticos (1)4.

De facto, as chamadas vozes são em essencia sons produzidos pela
passagem do ar nas cavidades pharyngeas e buceaes que se dispõem de
modo particular, e que, por conseguinte, resoam diversamente em cada
uma das prolações.

As pretendidas consonancias nãó são sons como as vozes; são ruidos,
isto é, vibrações irregulares, mixtas e confusas demais para poderem
ser percebidas em separado: estes ruidos não podem fazer-se ouvir
distinctamente por si, mas differenciam-se pela maneira porque deixam
começar ou acabar a emissão de uma voz. As consonancias não se podem
pronunciar sem que se associem a uma voz: d’ahi o seu nome —
cum sonare.

No momento de emittir-se uma voz a cavidade buccal e a pharyngea
dispõem-se de modo tal, que apresentam ao ar, que vai produzir a
voz, certos obstaculos que elle abala, d’ónde o ruido inais ou menos accentuado
das consonancias (2)5.

Em resumo, tanto vozes como consonancias não passam de sons
laryngeos de vozes
propriamente ditas, que se modificam diversamente
ao atravessarem a parte superior do tubo vocal.5

O erro dos grammaticos consiste na apreciação falsa dos ruidos
da bocca, ou de qualquer outra parte do apparelho de phonação: todo
o som laryngeo é a voz a que dá modo de ser, a que imprime fórma o
jogo continuo ou momentaneo dos orgams moveis da bocca (1)6.

Os grammaticos da india conheceram e discriminaram bem estes
factos: ás vozes chamaram elles svara (sons), ao passo que ás pretendidas
consonancias deram o nome de vyanjana (o que torna distincto, o
que manifesta) (2)7.

17. Todos os sons laryngeos que tem passagem livre
pelo tubo vocal mais ou menos alongado são vozes livres.

De todos os elementos da linguagem o menos complexo, o que
com mór facilidade se produz, é a voz livre a: consiste ella em uma
mera emissão de som laryngeo por entre os labios descerrados.

A voz livre i é produzida pela maxima dilatação horisontal da
bocca, ou, em outros termos, é a voz livre em cuja enunciação a abertura
oral extende-se longitudinalmente até o ultimo grau.

A prolãçaoda voz livre opposta u effectua-se pela maxima approximação
dos cantos da bocca, durante a emissão do som.

As outras vozes livres são intermediarias em relação ás tres principaes:
assim e fica entre a e i; o entre a e u.

Em Francez representa-se frequentemente e por ai, e o por
au, ex.: «maisonvraiauteurchaud».

As vozes livres typos podem ser propriamente dispostas assim:

image á a | ai = é, ê | ó, ô = au | i | u6

As vozes da esquerda do diagramma são produzidas por dilatação
do orificio da bocca, e as da direita por contracção do mesmo orificio; as
vozes mais distantes de a, isto é, i e u, são as que assim se modificam
em mais elevado grau ; as intermedias, isto é, e e o, produzem-se
por uma alteração menor do feitio natural da bocca, e participam tanto
da fórma mais simples a, como das mais profundamente modificadas
i e u (1)8.

A generalidade dos grammaticos confunde estas vozes com as lettras
que as representam, e tanto a umas como a outras dão elles o nomo
de vogaes (2)9.

As vozes livres podem ser classificadas segundo os orgams que
mais concorrem para a sua formação: a é, pois, guttural; i palatal; u
labial.

18. Se na emissão das vozes livres contrai-se o véo
do paladar de modo que passe o ar para as fossas nasaes,
obtêm-se vozes an, en, in, on, un, chamadas compostas ou
nasaes em opposição ás primitivas a, e, i, o, u, consideradas
puras.

19. Todos os sons laryngeos modificados por estreitamento
parcial do tubo vocal são vozes constrictas.

Esse estreitamento do tubo vocal póde ter logar em diversos pontos:
ao nivel mais ou menos do meio da lingua elle dá che, je, lhe,
nhe
; na altura da lingua, se, ze; entre a ponta da lingua e a parte
posterior dos dentes incisivos superiores, ne; entre o labio inferior e
a borda dos mesmos dentes incisivos, fe, ve; entre os labios, me.
Para pronunciar le, que é re enfraquecido, aponta da lingua achata-se
de encontro ao paladar, e a voz passa pelos vãos que ficam entre a lingua
e as partes lateraes das arcadas dentarias. Re é um som vibrante
rolado.

A generalidade dos grammaticos confunde estas vozes com as lettras
que as representam, e tanto a umas como a outras dão elles o nome
de consoantes semivogaes (3)10.7

20. Todos os sons laryngeos modificados por occlusão
subita e completa do tubo vocal em qualquer de seus pontos
são vozes explodidas.

Variam estas vozes conforme o ponto do tubo vocal em que se
opera a occlusão: tendo ella logar entro o meio da lingua e a abobada
palatina, produzem-se ke, ghe; entre a ponta da lingua e a parte
posterior dos dentes incisivos superiores, estando um tanto separadas
as arcadas dentarias, effectuam-se te, de; entre os labios obtêm-se
pe, be. Quando o som se faz ouvir no momento em que separam-se
os pontos occlusos do tubo vocal, ha explosão que póde ser precedida
de murmurio vocal, de um como esforço primo para vencer o obstaculo.

A pluralidade dos grammaticos confunde estas vozes com as lettras
que as representam, e tanto a umas como a outras dão elles o nome
de consoantes mudas (1)11.

21. Em resumo, se se quer distinguir estas tres ordens
de vozes basta determinar

1) para as vozes livres — -a forma do tubo vocal;

2) para as vozes constrictas — o ponto do estreitamento
do mesmo tubo;

3) para as vozes explodidas — os orgams que operam a
occlusão d’elle.

As vozes modificadas labiaes e sobretudo as labiaes explodidas
são as mais faceis de pronunciar, attenta a simplicidade de movimentos
que exigem; são as primeiras pronunciadas pela criança — papá, mamã,
etc.; são as que com mór facilidade se consegue fazer repetir a certos
animaes, e que se encontram naturalmente formadas no balido, no mugido,
etc. (2)12.8

Eis as vozes constrictas e explodidas methodicamente classificadas
segundo estes principios:

tableau Vozes constrictas | Vozes explodidas | Sibilantes | Nasaes | Liquidas | Vibrante | Surdas | Sonoras | Gutturaes | ke | ghe | Palataes | je, che | nhe | Linguaes | lhe | le, re | rre | Dentaes | se, ze | ne | te | de | Labiaes | fe, ve | me | pe | be

Este diagramma apresenta uma classificação aproximativa; é susceptivel
de modificações.

Com effeito, as vozes constrictas e explodidas resultam em sua
maxima parte da acção concurrente de varios orgams: me, por exemplo,
é ao mesmo tempo nasal e labial; ne, dental e nasal; le, re, rre
são linguaes, palataes e dentaes; fe, ve, labiaes e dentaes.

A differença entre as vozes explodidas surdas e as sonoras é que
estas se produzem com vibração das cordas vocalicas (glotte), e aquellas
não.

22. As vozes livres puras mais importantes são

Oito:

1) a agudo como em chá
2) a grave – – mesa
3) e agudo – – pé
4) e fechado – – mercê
5) i commum – – vil
6) o aberto – – mo
7) o fechado – – avô
8) u commum – – sul.9

23. As vozes livres compostas ou nasaes mais importantes
são cinco:

1) an como em tampa, canja
2) m – – tempo, dente, refém, joven
3) in – – limpo, tinta
4) on – – tombo, sonda
5) un – – calumba, mundo,

As vozes livres estudadas á luz de uma analyse severa apresentam
gradações em numero infinito (1)13: todavia para as necessidades da
pratica bastam algumas principaes de entre ellas, as quaes possam servir
de typos a todas.

As treze vozes livres acima especificadas capitulam todas as vozes
livres da lingua portugueza aliás abundantissimas.

24. As vozes constrictas e explosivas são dezenove;

1) be como em boi
2) ke – – cal
3) de – – dó
4) fe – – fé
5) ghe – – gado
6) je – – jaca
7) le – – luz
8) me – – mó
9) ne – – nó
10) pe – – pó
11) re – – caro
12) rre – – rei
13) se – – sol
14) te – – til
15) ve – – voz
16) ze – – zebra
17) che – – chá
18) lhe – – lhama
19) nhe – – cunha.10

25. Trinta e duas são, pois, as vozes elementares essenciaes
da lingua portugueza.

Ha mais dous sons distinctos banidos hoje do uso da gente culta:
dje, tche.

Os caipiras de S. Paulo pronunciam djente, djogo. Os mesmos e
tambem os Minhotos e Trasmontanos dizem tchapéo, tchare.

F. Diez pensa que dje, tche são as fórmas primitivas de je e che (1)14,
e tudo leva a crér que realmente o são.

Dje é som romanico genuino: existe em Provençal, em Italiano,
e no seculo XIII existia no Francez que o transmittiu ao Inglez, onde
até agora se acha, ex.: «jealousy». Em escriptos latinos do seculo IX
encontram-se as fórmas pegiorentur, pediorentur, por pejorentur.

Tche é tambem som romanico castiço: existe em Provençal, em
Italiano, em Hespanhol, e existiu no Francez, donde passou para o ln.glez
que ainda hoje o conserva, ex.: «Chamber».

A existencia de ambas estas fórmas no fallar do interior do Brazil
prova que estavam ellas em uso entre os colonos portuguezes do seculo
XVI. A antiguidade o a vernaculidade do tche attestam-se pela sua permanencia
na linguagem do Minho e de Trás-os-montes: como sabe-se,
o povo rude é conservador tenaz dos elementos arkhaicos das linguas.

26. Casos ha em que uma só voz experimenta duas
modificações simultaneas: as vozes assim modificadas chamam-se
complexas. São: ble, bre, cle, cre, cse (orthographado
por cc, cç, x), cte, dre, fle, fre, gle, gme, gne, gre, imne, ple,
pre, pse, pte, ske, skhe, ste, tle, tme, tre, vre
, ex.: «bleso
bradoclerocredonexobacteriaisdragaflecha
frotaglobozeugmadignogradomnemonica
plantapratolopsoapteroeskeletoeskhema
estyloatlastmesetrapolavra».

Toda avoz póde sempre passar por duas modificações, se fôr uma
d’ellas antecedente e a outra subsequente: em dor, por exemplo, a modificação
11d precede a voz o, e segue-a a modificação r. Só nos casos da
presente especificação é que duas modificações conglobam-se para preceder
a voz.

Secção segunda
Prosodia

27. Prosodia é o tratado dos sons articulados em relação
á sua intensidade comparativa, quando constituidos em
palavras.

Prosodia é o mesmo que accentuação: ambos os termos etymologicamente
considerados referem-se a modulação dos sons, porquanto
entre os Gregos e entre os Romanos a enunciação era uma como toada
melodiosa (1)15. Nas linguas modernas prosodia tem a accepção restricta
da definição.

28. Syllaba é o som articulado expresso por uma só
emissão de voz.

Sem voz livre não ha syllaba (2)16: já ficou dito que o chamado,
som consoante não é som, mas apenas fórma de som.

29. A combinação de duas vozes livres distinctas em
uma só syllaba, de modo que se ouçam as duas vozes elementares,
chama-se diphthongo.

F. Diez (3)17, seguindo a opinião de Constancio (4)18 e de outros
12grammaticos, entende que existem em Portuguez verdadeiros triphthongos,
e cita para exemplos: eguaes, averiguais, averigueis.

30. Vozes livres puras junctas a vozes livres puras
formara diphthongos puros; vozes livres nasaes junctas a vozes
livres puras formam diphthongos nasaes.

31. Os diphthongos puros são dezenove :

1) ae, ai como em pae, esvai
2) au – – pau
3) ea – – láctea
4) ei – – lei
5) éi – – papéis
6) eo – – niveo
7) éo – – céo
8) eu – – judeu
9) ia – – gloria
10) ie – – série
11) io – – vário
12) iu – – feriu
13) óe, ói – – heróe, Nytéroi
14) oi – – foi
15) ou – – sou
16) ua – – agua
17) ue – – guela
18) ui, uy – – fui, Ruy
19) uo – – arduo.

A primeira voz componente de um diphtongo cliama-se prepositiva;
a segunda, subjunctiva.

32. Os diphthongos nasaes são tres:

1) ãe como em mãe
2) ão, am – – mão, bençam
3) õe, õem – – põe, põem

Ui só é diphthongo nasal em mui, muito; que se lêm muin,
muinto
.13

33. Os vocabulos podem constar de uma syllaba ou
de mais de uma syllaba. Chamam-se

1) os de uma syllaba monosyllabos.
2) – – duas syllabas dissyllabos.
3) – – tres – trissyllabos.
4) – – quatro ou mais – polysyllabos.

34. Accento tonico é a predominancia do tom que no
mesmo vocabulo tem uma syllaba sobre outras.

As syllabas são longas ou breves conforme a duração do tempo
que se gasta em proferil-as; esta duração chama-se quantidade.

Em Grego e em Latim a quantidade (χρόνος, tempus) não dependia
do accento tonico (τόνός, tenor).

Em Portuguez bem como na pluralidade das linguas modernas
quantidade e accento tonico confundem-se, e só é considerada verdadeiramente
longa a syllaba predominante (1)19. Soares Barbosa (2)20, apreciando
erradamente o mekhanismo phonetico das linguas modernas,
tenta em vão combater esta doutrina que já era corrente entre os grammaticos
do seculo passado (3)21.

35. O accento tonico recai em Portuguez sobre uma.
das tres syllabas finaes dos vocabulos polysyllabos: não recua
para aquem da antepenultima.

Exceptua-se o verbo seguido de encliticas, ex.: «Aos pobres
annuncia-se-lhes o Evangelho». (Pereira de Figueiredo).

36. Relativamente ao accento tonico dividem-se os vocabulos
em oxytonos e barytonos. São oxytonos os que têm o
14accento tonico na ultima syllaba, ex.: «vaporcanhão»; são
barytonos os que não têm o accento tonico na ultima syllaba.
Subdividem-se os barytonos em paroxytonos e proparoxytonos:
são paroxytonos os que têm o accento tonico na penultima
syllaba, ex.: «cidáde»; são proparoxytonos os que o têm na
antepenultima, ex.: «cámara».

Os vocabulos oxytonos são tambem chamados agudos;
os paroxytonos, graves; os proparoxytonos, esdruxulos ou
dactylicos.

37. São oxytonos os vocabulos acabados

1) por d, é, é, i, y, ó, é, u, ex.: «alvarácafé —
mercê
nebriguaranyavóavôbahu».

Exceptuam-se álkali, júry, tilbury, e os vocabulos latinos
em i, is, u, us admittidos em Portuguez sem
mudança de fórma, ex.: «quásiársisbiliscutis
— parénthesis
tribuVénusvirus».

(S final nunca influe sobre a collocação do accento
tonico.)

2) por voz livre nasal, ex.: «irmãpalafrêmmarfim
— semitom
jejúm».

Exceptuam-se dos acabados

a) por ãiman, orphan.

(An é a fórma graphica de ã breve.)

b) por emadem, hómem e seus compostos gentilhómem
e lobishóniem; hôntem e seu composto
antehôntem; jóven, nuvem, órdem e seus compostos
contraórdem, desórdem; os vocabulos latinos
admittidos em portuguez sem mudança de
fórma, ex.: cerumen, regimen; os terminados por
15gem, ex.: «págemvertigemsalsugem»; as
fórmas verbaes, ex.: «ámementéndempartem».
Destas tiram-se as terceiras pessôas de ambos
os números do presente do indicativo, e a
segunda do singular do presente do imperativo de
ter, vir e de seus compostos, os quaes seguem a
regra geral.

Eu nunca representa terminação de palavra oxytona.

c) por om (1)22ednoncólon

d) por umálbumultimátum, e mais vocabulos
latinos em um admittidos em Portuguez sem
mudança de fórma.

3) pelos diphthongos puros ae (ai), au, ei, éi, co, eu,
iu, óe, oi (ôe), ou, ui
, ex.: «amdeesvaisaráu
lerêipapéischapéocamaféuferiuheróe
depôisrebôeGuardafui».

Exceptuam-se dos acabados por ei as fórmas em eis
do imperfeito e do plusquam perfeito do indicativo,
do imperfeito do condicional e do imperfeito do subjunctivo
de todos os verbos, ex.: «amáveisentendéreis
— partirieis
visseis»; o plural dos substantivos
em avel, ex.: «sáveis (afóra easeavéis que segue
a regrá)»; o plural dos adjectivos em avel e em
il breve, ex.: «friáveis, — fosseis».

4) por todos os diphthongos nasaes, ex.: «Guimarães
capitão
perpõe».

Dos que acabam por ão exceptuam-se aecórdam
bénçam, frángam, lódam, médam, orégam, órgam,
pégam, órpham, rábam, sótam
, e zángam; as fórmas
16verbaes em ão (afóra as do futuro que seguem
a regra) ex.: «ámamentenderam-partiriam».

An é a fórma graphica de ão breve.

5) por l, r, z, ex.: «mainélmulhérrapáz».

Exceptuam-se dos acabados

a) por lAnnibal, Asdrúbal, Setúbal, Tentúgal, Túbal,
arrátel
e consul; os substantivos acabados por
avel
, ex.: «condestável (afóra Azavél e cascavél
que seguem a regra)» e por evel e ivel, ex.: «casével
nivel»; os adjectivos terminados por avel; evel,
ivel, ovel, uvel
, ex.: «friávelindelévelterrivel
móvelsolúvel»; alguns adjectivos terminados
por il, ex.: «ágildébildócilfácilfértilfóssil
fútilhábilignóbilinconsútilmóbilpénsil
— portátil
projéctilréptilútilverosimil e
seus compostos». Os mais adjectivos em il e tambem
revél
e novél seguem a regra, querendo alguns grammaticos
e lexicographos que pénsil, projéctil se
pronunciem pensil, projéctil, reptil.

b) por ralcáçar, aljôfa, almiscar, ámbar, assúcar,
cadáver, câncer, dura-mater e pia-máter, kharacter
,
(plural kharactéres), cathéter, crêmor, éther,
júnior, Júpiter, mártyr, nácar, néctar, prócer, revólver,
sénior, siler, sóror, súlphur, Tánger, Victor
.

Grammaticos ha (1)23 que contam Gibraltar entre estes exceptuados:
enganam-se. Gibraltar, corruptela do arabico «Ghib-altlah (monte
da entrada)», é vocabulo oxytono.

Caldas rimou-o com mar:

«Jaz sepultada
No fundo mar,
Perto do estreito
De Gibraltar (2)24».17

Gibráltar é modo inglez de aecentuar o vocabulo: a verdadeira
pronuncia hespanhola, como se póde ver em Webster (1)25, é tambem
Gibraltár.

38. São paroxytonos os vocabulos acabados

1) por a, e, o, cx,: «mésabáldeládo».

2) pelos diphthongos ea, eo, ia, ie, io, ua, uo, ex.:
«lácteaniveováriasérievigáriomágua —
árduo
».

3) por x, ex.: «cálix».

Ea, eo, são sempre diphthongos. De ea encontram-se como
excepções Cananéa, Paulicéa que por anologia melhor
se escreveriam; Cananéia, Paulicéia.

Ea é diphthongo nos substantivos terminados

1) por bia, ex.: «lábiatibia».

Destes exceptuam-se hydrophobia, mancebia.

2) por cia, ex.: «enxárciaphiláucia».

Destes exceptuam-se «advocacia, aristocracia, bacia,
delegacia, democracia, diplomacia, legacia, melancia,
prophecia, supremacia, theocracia
».

3) por kia, ex.: «parókia».

4) por pia, ex.: «cópiaprosápia».

Destes exceptuam-se pia, utopía e os derivados gregos
de άνθρωπος, lycanthropia, philanthropia, etc.

Ia é tambem diphthongo

1) na terminação feminina dos adjectivos em io, ex.:
«váriavicária».

2) na terminação de nomes proprios femininos, ex.:
«ZenóbiaMárciaCanidiaPelágiaThessália
MesopotámiaOceániaTartáriaÁsiaIlypátia
MoráviaEudóxiaThomázia».

Destes exceptuam-se Albergaria, Alcobia, Alexandria,
18Almeria, Anadia, Andaluzia, Antiokhia, Armia, Bahia,
Berberia, Cafraria, Deidamia, Faria
(masculino
e feminino), Freiria, Garcia (masculino e feminino),
Hungria, Iphigenia, Iria, Laudamia, Leiria, Lombardia,
Luzia, Malvazia, Maria, Mendia, Nicomedia,
Normandia, Picardia, Samaria, Seleucia, Sophia,
Thalia, Trafaria, Turquia
.

Ia não é diphthongo, e fica o i, conseguintemente, debaixo
do accento tonico.

1) nas terminações verbaes, ex.: «amariafazia».

2) na terminação de substantivos appellativos quando
precedida por kh, qu, d, f, ph, g, l, m, n, r, s, t,
v, x, z
, ex.: «monarkhiafranquiaabbadiaalmofia
philosophiatheologiareveliaanemia
mania
drogariapoesiaquantiaavariacoxia
— azia
». Exceptuam-se dos terminados

a) em khiaaristolókhia.

b) em diabalbúrdia, comédia, concórdia, .custódia,
desídia, discórdia, encyclópédia, enxúndia
estúrdia, facúndia, gymnopédia, inédia, insidia,
iracúndia, misericórdia, orthopédia, palinódia,
paródia, perfidia, pericárdia, prosódia, psalmódia,
rhapsódia, salabórdia, tragédia, túndia
.

c) em fiabazófia, embófia, empáfia.

d) em giaestratégiarégia.

e) em liaalgália, bromélia, camélia, contumélia,
dáhlia, eutrapélia, familia, magnólia, tília, vígilia
.

f) em miaallchimia, blasphémia, homonýmia, infámia,
lipothýmia, metonýmia, múmia, synonýmia
.

g) em niaacrimónia, actinia, agrimónia, begónia,
bignónia, cachimónia, khalcedónia, celidónia,
ceremónia, colónia, colophónia, demónia,
gloxínia, ignomínia, insánia, parcimónia, santimónia,
sardónia, ténia, vénia, zizania
.19

h) era riaalbuminúria, alimária, araucária
ária, artéria, candelária, centúria, cúria, decúria,
dysentéria, dysúria, .escória, estrangúria,
féria, fragária, fimbria, phylactérias, fumária,
fúria, giria, glória, hematúria, história, incúria,
injúria, iskhúria, lamúria, léria, leziria, lipyria,
luminária, luxúria, matéria, memória, miséria,
mollúria, palmatória, penúria, pepitória,
sória, vanglória, victória
.

i) era siaamásia, antonomásia, ardósia, cásia, colocásia,
geodésia, magnésia, paronomásia
.

j) em tia, angustia.

k) em viaanadúvia, ignávia, lascivia, lixivia, protévia.

l) em ziadúzia.

Ie não é diphthongo nas terminações dos verbos; ex.: annuncie,
pronuncie
, etc.
lo é diphthongo

1) na terminação dos substantivos, ex.: «Januário
critério».

2) na terminação dos adjectivos, ex, «plenáriodivisório».

Exceptuama-se

a) dos substantivos — adubio, alvedrio, amavios, armentio,
arripio, assobio, atavio, bafio, bailio, baixio,
brio, bugio, calafrio, chio, cicio, cio, Clio, corrupio,
Khio, cunhadio, Dario
(em Camões Dário), desafio,
desfastio, desvario, desvio, estio, fastio, feitio,
fio, frio, gentio, gio, Io, mio, mulherio, navio,
passadio, pavio, pio, plantio, poderio, pousio,
rapazio, rio, ripio, rocio, rodopio, safio, talhafrio,
thio, tresvario, trincafio, vadio
.

b) dos adjectivos — alfario, algarvio, arredio, baldio,
bravio, corredio, doentio, erradio, escorregadio,
esguio, lavradio, macio, novedio, pio, prestádio,
20regadio, sadio, sombrio, tardio, valadio, vadio,
vazio
.

Io não é diphthongo na primeira pessôa do singular do
presente do indicativo dos verbos em iar, ficando, conseguintemente,
o i sob o accento tonico, ex.: «pronuncio».

Ua, ue, uo, não são diphthongos nas terminações dos
verbos, ex.: accentúa, continúa; accentúe, continúe accentúo,
continúo. Ua
tambem não constitue diphthongo quando
terminação feminina de substantivos e adjectivos acabados em
u, ex.: perúa, núa de peru, nu.

Em geral todo o concurso de vozes livres no meio de vocabulos
fórma diphthongo, se uma delias é i ou u.

Exceptuam-se

a) heroina, paraiso, ruina, ruido, e todos os vocabulos
em que i soffre modificação subsequente,
ex.: «Coimbraruim; os verbos, como arguir,
constituir
», etc.

b) alahúde, atahúde, saúde e todos os vocabulos em
que u soffre modificação subsequente, ex.: Ataúlpho
paúl.

39. São vocabulos proparoxytonos em geral

1) as primeiras pessoas do plural do imperfeito e do
plusquam perfeito do indicativo, do imperfeito do
condicional e do imperfeito do subjunctivo, ex,:
«dávamosentendéramospartiriamosvissemos».

2) todos os superlativos proprios, ex.: «brevissimo —
celebérrimo
facilimomáximominimoóptimo
péssimo
».21

3) os adjectivos terminados pelas desinencias latinas

aco, a ex. maniaco, a | loquo a ex. ventríloquo, a
aro, a
sáfaro, a | nubo, aprónubo, a
cola
, –.agrícola | paro, aovíparo, a
fero, a
lucífero, a | pedebípede
fluo, a
mellífluo, a | peto, acentrípeto, a
frago, a
saxífrago, a | sono, aaltísono, a
fugo, a
prófugo, a | ubo, aíncubo, a
geno, a
nubígeno, a | ulo, acrédulo, a
gero, a
armígero, a | uplo, aséxtuplo, a
ico, a
económico a | volo, abenévolo, a
ido, a
esquálido, a | vomo, aignívomo, a
imo, a
décimo, a | voro, acarnívoro, a
iplo, a
multiplo, a

Exceptuam-se dos terminados

a) por aco, aopáco, a; poláco, a; velhaco, a.

b) por ico, aaprico, a; pudico, a e seu composto
impudico, a.

c) por ido, a — os participios aoristos dos verbos da
segunda e da terceira conjugação, ex.: «entendido
rostido».

d) por imo, acadimo, a.

4) os substantivos terminados por

gena ex. indigena | ula ex. esportula
olo
vitriolo | ulocúmulo

Exceptuam-se dos terminados

a) por olocarôlo, cebôlo, consôlo e seu composto
desconsôlo, miôlo, rebôlo, tijôlo
.

b) por ulacasúla, cogúla, escapúla, medúlla, matúlla.22

c) por uloCatúllo, . casulo, cogulo, Iúlo, Lucúllo,
miúllo, Tibúllo
.

5) os substantivos terminados pelas desinencias gregas

ada ex. lusíada | phoro ex. phósphoro,
allage
enállage | phraseantiphrase,
anthropo
misánthropo (1)26 | phytoneóphyto,
bole
hypérbole | podaantipoda,
cephalo
hydrocéphalo | polispentápolis,
dromo
hippódromo (2)27 | pterolepidóptero,
gamo
bígamo | pylo. – eolipylo,
grapho
telégrapho | scaphopyróscapho,
gono
polygono | scopohoróscopo,
logo
prólogo | sophophilósopho,
meno
energúmeno | sporoZoósporo,
metro
thermómetro | stolediástole,
nomo
astrónomo | stomaperistoma,
onymo
homónymo | stropheepístrophe,
phago
lotóphago | syllabopolysyllabo,
phalo
bucéphalo | theseantithese,
phano
diáphano | tomocistótomo,
philo
Theóphilo | tonomonótono,
phobo
photóphóbo | typoarkhétypo.
phonoteléphono,

Ha muitos vocabulos que .são proparoxytonos sem estarem
23incluidos n’estas regras, ex.: «Relâmpagoêmbolo». Só a
pratica poderá servir de guia nestes casos.

40. Nos vocabulos polysyllabos, além do accento tonico,
ha accentos secundários: são as predominancias dos elementos
componentes que ainda se fazem sentir, apezar de subordinadas
á syllaba regente do composto. Facil é conhecel-as
pela dissecção da palavra: bárbaraménte tem o accento secundário
na primeira syllaba; cortêzania o tem na segunda;
em vantojôsissimo recai elle sobre a terceira, exactamente
como acontece com as primitivas bárbara, cortéz, vantajoso.

E um verdadeiro schibboleth (1)28 para o extrangeiro a collocação
do accento secundário: note-se a differença entre apparêntemênte, pronuncia
correcta, e appárentemênte, pronuncia viciada pela retrocessão
do referido accento.

41. Os substantivos, adjectivos e participios de duas
ou de mais syllabas, que na penultima tem a voz fechada ô,
mudam essa voz para a aberta ó nas terminações femininas
do singular, e nas de ambos os generos do plural, ex. :

ôvo, nôvo, pôsto,
óva, nóva, pósta,
óvos, nóvos, póstos,
óvas, nóvas, póstas
.

42. Tem sempre a voz fechada ô na penultima syllaba

1) abandôno, abôno, algôz, alvorôço, alvorôto, apôio, arrôcho,
arrôio, arrôlo, balôfo, barrôco, bôbo, bôdo,
bôjo, bôlbo, bôlo, bôlso, bôto, cachôrro, dôrço, côco,
colôno, côrro, côto, côcho, côxo, desabôno, dôbro,
24dôno, embôno, encôsto, endôsso, engôdo, ensôsso,
entôno, entrecôsto, enxacôco, esbôço, escôlho, espôso,
estôfo, entôrno, farricôco, ferrôlho, fôfo, fôjo, fôrro
(liberto),
frôxo, gafanhôto, garôto, gôdo, gôgo gômo, gôrdo ,
gôsto, gôto, gôzo
(cão), jôrro, lôbo, lôdo, lôgro, marôto,
minhôto, môço, môio, môlho
(adubo), mômo,
môno, môrmo, môrro, môsto, môcho, nôjo, ôco,
ôlmo
, , patrôno, Peixôto, perdigôto, pilôto, pimpôlho,
piôlho, pôldro, pôlvo, pômbo, pômo, Pôrto
(quando appellido
de familia), pôtro, rapôso, repôlho, rôdo, rôlho,
rôlo, rôsto, rôto, rôxo, salôbro, sôldo
(estipendio),
sôco
(murro), sôlho, sômno, sôpro, sôro, sôrvo, Tinôco,
tôdo, tôlo, tômo, tôno, tôpo
(summidade), tôsco,
trambôlho, thrôno, vôlvo, vôo, zarôlho, zôrro, chamôrro,
chôcho
, e os derivados destes.

Nem todos os mestres da lingua se acham de accôrdo sobre o som.
do o no plural destes nomes: a presente lista é em parte extrahida de
obras que tratam do assumpto, é em parte organizada segundo o parecer
de pessoas doutas consultadas pelo auctor.

2) os nomes femininos terminados

a) em olha, ex.: «fôlharôlha».

b) em ora (designando pessoas), ex.: «professôra
protectôrasenhôra».

Exceptua-se nóra.

c) em ôrra, ex.: «gôrrazôrra».

Exceptua-se desfórra.

3) alcôvá, arrôba, bôlsa, carôcha, cebôla, côdea, côlcha,
côstra, crôsta, escôva, fôrca, fôrça, fôrma, lagôsta,
môsca, ôstra, pôlpa, rôla, sôpa, sôrda
, etc.

43. Tém sempre a voz aberta ó na penultima syllaba
abrólho, apódo, Apóllo, bolinhólo, canóro, cochichólo, colló,
25cópo, cópto, . cornozóllo, demagógo, devóto, dólo, Dóto, emmenagógo,
Eólo, fóco, flóco, hydragógo, hyssópo, ignóto, Isidóro,
lóro, mólhio
(feixe), módo, móto, nósso, nóto, pedagógo, pólo, póro,
próto, protocóllo, pyrópo, remórso, remóto, rógo, sialogógo,
sócco
(calçado), sólo, sonóro, subsólo, Theodóro, tiracóllo, torcicóllo,
tópo
(encontro), lóro, trópo, vósso, vóto, chóque.

Demagógo, emmenagógo, hydragógo, pedagógo, sialogógo, etc,
são usualmente pronunciados demagôgo, emmenagôgo, etc.

44. Alteram-se os vocabulos por addição, por eliminação,
por transposição e por absorpção de vozes ou de modificações.

Os modos de realisarem-se estas alterações chamam-se figuras de
metaplasmo
.

Ha tres figuras de addição, tres de eliminação, duas de transposição,
uma de transformação, e duas de absorpção.

Chama-se a addição de voz feita

1) ao principio de um vocabulo — prothese, ex.: «acrêdor». por
«crêdor»;

2) ao meio — epenthese, ex.: «Mavórte». por «Marte»;

3) ao fim — paragoge, ex.: «martyre». por «martyr».

Chama-se a eliminação de voz feita

1) ao principio de um vocabulo — apherese, ex.: «liança». por
«alliança»;

2) ao meio — syncope, ex.: «imigo». por «inimigo»;

3) ao fim — apocope, ex.: «marmor». por «marmore».

A transposição de uma voz ou de uma modificação chama-se metathese,
ex.: «vigairofrol» por «vigárioflor».

O futuro do indicativo e o imperfeito do condicional dos verbos
admittem entre o thema e a desinencia as fórmas complementares dos
pronomes pessoaes, ex.: «dir-te-eifal-o-iasamar-nos-emospôr-vos-ão».
em vez de «direi-tefaria-teamaremos-nosporão-vos». Esta
figura, que é realmente uma variedade da metáthese, chama-se tmese.

A transformação de uma voz ou de uma modificação chama-se
antithese, ex.: «Sulla-amal-o». por «Syllaamar-o».

A absorpção da voz livre pura que termina um vocabulo pela voz
livre inicial do vocabulo seguinte chama-se synalepha, ex.: «da, mo».
por «de-a, me-o».26

A synalepha não se effectua quando está sob o accento tonico a
voz livre terminal do primeiro vocabulo, nem tampouco na inserção
por tmese de pronomes em verbos.

A pratica da synalepha é mais seguida em Portugal do que no
Brazil, todavia ella é de rigor na leitura corrente, bem como a ligação
dos vocabulos quando seus elementos o permittem, ex.:

«Dom donzel, onde é que está el-rei? dizia Affonso Domingues ao
pagem
» (Alexandre Herculano)

lê-se:

«Dom donzé londé questá el-rei? dizí Affonso Domingue záo pagem».

A absorpção da voz livre nasal que termina um vocabulo pela voz
livre inicial do vocabulo seguinte chama-se, ekthlipse, ex.: «co’ase’os»,
por «com ascom os».

A ekthlipse só se empréga na poesia e na conversação familiar.

Secção terceira
Orthographia

45. Orthographia é o tratado da representação symbolica
dos sons articulados.

Não está ainda fixa a orthographia da lingua portugueza: prevalece
comtudo nella o elemento etymologico.

Varias tentativas se têm feito para estabelecer em Portuguez a orthographia
exclusivamente phonetica; todas têm abortado.

Ainda ultimamente subiu em Portugal á consideração da Academia
Real das Sciencias o parecer de uma commissão que advogava e
apunha em pratica tal systema (1)29: nada produziu.

Orthographia phonetica em Portuguez é utopia: como muito bem
adisse o snr. Theophilo Braga (2)30, «os partidarios da orthographia phonetica
representam modernamente na grammatica o papel dos que procuravam
a linguagem natural.».27

46. Os symbolos das modificações que no tubo vocal
experimentam os sons laryngeos chamara-se lettras.

O som expresso por uma lettra chamava-se em Grego δτοχεία, e a.
própria lettra γράμμα; em Latim o som era elementa, e a representação
graphica delle littera, lettra.

Lettra não é signal: a lettra representa um só elemento de palavra;
o signal representa uma palavra inteira. A expressão arithmetica
«dous mais quatro» escreve-se com quatorze lettras, ao passo que bastam-lhe
tres signaes «2+4».

Quando a palavra consta do um só elemento phonico é possivel
represental-a por uma só lettra, ex.: os artigos «o, a».

Tanto lettras como signaes comprehendem-se na denominação geral
kharactéres.

47. Ghama-se alphabeto o systema de lettras usado
para representar os elementos phonicos de um idioma.

48. Constam em geral os alphabetos de lettras simples
e de lettras compostas.

A lettra é simples quando consiste em um só symbolo, ex.: «a,
t
»: é composta quando formada por um symbolo e por uma notação, ou
por mais de um symbolo.

Uma reunião de symbolos só constitue lettra composta quando
toda ella representa um valor unico, ex.: «phth». que vale t, simples: se
cada symbolo conserva seu valôr próprio já a reunião não forma lettra
composta, porém sim grupo de lettras, ex.: «clpr».

A lettra composta tambem se chama digramma.

49. O alphabeto portuguez consta de 25 lettras simples
e 83 compostas.

As simples são — a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n,
o, p, q, r, s, t, u, v, x, y, z
.

As compostas são:

á, ah, ha, = a de caso.
ã, am, an, han = an de canso.
bb, bh = b.
28cc, cqu, kh, kkh, qu = k.
bd, cd, dd, dh, gd = d.
é, eh, he = e de meta.
ê = e em sebo.
em, en, hen = em de tempo.
ff, ph = f.
gg, gh, gu = g em paga;-gg tambem = j.
i, ih, hi, hy = i
im, in, ym, yn = in de sinto.
ll = l.
gm, mm = m,
gn, mn, nn
= n
ó, oh, ho = o de cova.
ô = o em povo
õ, om, on, hom, hon = on de conde
pp = p
rh, rr, rrh = r
cc, ç, cç, pç, ps, se, ss = c em face.
bt, ct, phth, pt, th, tt, tth = t
uh, hu = u
um, un, hum, = um de chumbo
w = u e v
ch, sch, sh = x
zz = z
lh = lh de telha.
nh = nh de tenho.

50. Dividem-se as lettras em vogaes e alterantes. São
vogaes as que representam vozes livres, e alterantes as que
symbolisam as modificações de constricção e de explosão por
que passam os sons laryngeos no tubo vocal.

As vogaes simples são seis— a, e, i, o, u, y.

As alterantes simples são dezenove — b, c, d, f, g, h. j,
k, l, m, n, p, q, r, s, t, v, x, z
.29

Inclue-se o h entre as lettras por uniformidade de classificação:
na maioria dos vocabulos portuguezes elle não passa de signal etymologico,
cuja utilidade é indicar a aspiração da palavra extrangeira raiz.
Todavia em bahia, calda, alahude, atahude, etc, serve para marcar a
separação de vozes que sem o seu auxilio poderiam ser tomadas como
formando diphthongos.

51. Accentos são notações orthographicas com que se
compõem lettras para exprimir a natureza, a predominancia,
a contracção, a suppressão de vozes livres.

52. Ha em Portuguez quatro accentos: o agudo (´),
o circumflexo (^), o nasal ou til (~), e o suppressor ou apostropho
(’).

Alguns lexicographos usam do accento grave (`), para marcar os
sons fechados (1)31: tal accento, extranho ao Portuguez, acha-se banido
do uso geral (2)32.

53. O accento agudo colloca-se

1) sobre a inicial para indicar contracção de vozes similhantes/ex.:
«á». por «aa», «áquelle» por «a aquelle».

Escreve-se «vestido á Luiz XIEstylo á Camões», porque em
taes locuções ha ellipse da palavra «moda»: «vestido á XV» é ellipse
de «Vestido á moda de Luiz XV». Em Francez diz-se até: Habillé
à la diable
.

2) no corpo dos vocabulos sobre todas as vogaes excepto
y: serve então para indicar a tonicidade da syllaba,
ex.: «dádivatétricomaniacocórregolúrido».

3) sobre a, e, o na terminação dos vocabulos; serve
30em taes casos para indicar a tonicidade da syllaba,
notando conjunctamente o abrimento da voz, ex.:
«alvarácafémocotó».

54. O accento circumflexo colloca-se

1) sobre e, o no corpo e no fim dos vocabulos para
indicar tonicidade da syllaba, notando conjunctamente
o fechamento da voz, ex.: «quedocôvomercê
avô».

2) sobre e para indicar contracção de vozes similhantes,
ex.: «têm». por «teem».

55. O accento nasal ou til colloca-se

1) sobre a no fim dos vocabulos para indicar a tonicidade
da syllaba, notando conjunctamente a nasalidade
da voz, ex. : «galãmanhã».

2) sobre a prepositiva dos diphthongos nasaes, ex.:
«mãegaranhãopõe».

Seria erro escrever ae, aõ, oe com til na subjunctiva: a voz nasal
destes diphthongos é a prepositiva, e sobre a lettra que a representa é
que deve cahir o signal de nasalidade.

Pela historia das fórmas do Portuguez vê-se que o til é uma abreviação
de m ou n: os antigos escreviam tẽpo, põte por tempo, ponte.

56. O apostropho colloca-se no logar de uma vogal
suppressa, ex.: «d’estep’ra». em vez de «de estepara».

O uso do apostropho vai-se tornando cada vez mais raro na prosa.
Escreve-se hoje delle, do, lho, etc, e não mais d’elle, d’o, lh’o. A differenciação
necessaria entre certos vocabulos faz-se por meio do accento
agudo: assim désse, déste, fórmas do verbo dar, levam accento que as
distinga de desse, deste, contracções de de esse, de este.

Escrever n’um, n’uma, etc, como geralmente se faz, é absurdo.
Taes fórmas são contracções de em um, em uma, etc.: a usar-se do
31apostropho ha de ser escrevendo-se ‘num, ‘numa de modo que elle occupe
o logar da vogal e desapparecida.

Melhor é seguir o caminho mais curto, e escrever no, num.

57. A voz aberta tonica d representa-se

1) por a no principio e no meio dos vocabulos, ex.:
«chatoretalho».

2) por d no fim dos vocabulos, ex.: «alvardpachá».

3) por ah na interjeição ah e nas palavra extrangeiras
que tem por etymologia essa lettra composta, ex.:
«dahlia».

4) por ha nas palavras que tem- por etymologia essa
lettra composta, ex.: «habilharmonia».

O accento que em cáfila, sáfaro, e em outros vocabulos proparoxytonos
collocam alguns escriptores nada tem com a natureza da voz;
indica apenas a tonicidade das syllabas ca, sa, etc.

58. A voz aberta tonica é representa-se

1) por e no principio e no meio dos vocabulos, ex.:
«elotareco».

2) por é no fim dos vocabulos, ex.: «cafémaré».

3) por eh e he nos vocabulos que por etymologia têm
essas lettras compostas, ex.: «Menzaleh, heliaco».

O accento de pégo (abysmo) e o de prégar (declamar sermões) são
usados para differençar-esses vocabulos de pego (presente de pegár) e
de pregar (cravar pregos).

O accento que em lépido, tétrico e em outros vocabulos proparoxytonos
collocam alguns escriptores nada tem com a natureza da voz;
indica apenas a tonicidade das syllabas pe, te, etc.

59. A voz fechada tonica ê representa-se por é (accentuado)
sómente quando é terminal de vocabulo, ex.: «mercê
— vocé
». Nos mais casos escreve-se com e (simples), ex.:
«medoremo».32

O accento de pêgo (participio irregular do verbo pegar) é usado
para diferençar esse vocabulo dos dous outros acima referidos pego e
pégo.

60. A voz tonica commum i representa-se

1) por i (simples)- no corpo dos vocabulos em geral, e
na terminação dos vocabulos oxytonos. ex.: «ensino
javali».

2) por i (accentuado) nas syllabas cuja tonicidade se
quer indicar ex.: «annunciovario». dos verbos
«annunciarvariar».

O fim do accento neste caso é o mesmo que o dos
accentos de a e de e, já vistos; serve para differençar
vocabulos.

3) por e na terminação de todos os vocabulos barytonos
e na conjuncção e, ex.: «cidademosarabe-
montes e valles», que se lêm «cidadimontis i vailis».

A maioria dos Brazileiros assim pronuncia: em Portugal diz-se
«cidádêmosárabêmontês ê vallês» dando á voz terminal um som abafado,
muito distincto de i.

4) por y nos vocabulos derivados de palavras gregas
escriptas com o, e nas terminações dos nomes tupys,
ex.: «hypothesetypoJacarehy».

E’ uso representar por y a voz commum i que occorre entre duas
vozes livres: escreve-se, pois, «GoyazGuyana».

Cumpre, todavia, notar que tal pratica só está em voga com os
nomes proprios: caiar, goiabada, etc., escrevem-se com i.

5) por ih na interjeição ih!

6) por hi e hy nos vocabulos que por etymologia têm
essas lettras compostas, ex.: «hippicohydra».33

61. A voz aberta tonica ó representa-se

1) por o no principio e no meio dos vocabulos, ex.:
«oleominhoca».

2) por ó (accentuado) ná terminação dos vocabulos,
ex.: «enxófilhó».

3) por oh na interjeição «óh!».

4) por ho nos vocabulos que têm por etymologia essa
lettra composta, ex.: «horahospede».

Os compostos da vocabulos oxytonos terminados em ó retém o accento,
ex.: «avósinhasómente».

O accento que em estólido, sólido e em outros vocabulos proparoxytonos
collocam alguns escriptores nada tem com a natureza da voz;
indica apenas a tonicidade das syllabas tó, só, etc.

62. A voz fechada ô representa-se por ô (accentuado)
sómente quando é terminal de vocabulo, ex.: «avobisavó».
Nos mais casos escreve-se com o (simples), ex.: «povorodo».

63. A voz tonica commum u representa-se

1) por u no principio e no meio dos vocabulos, ex.:
«tubaentrudo».

2) por ú no fim dos vocabulos ex.: «tatú, urubú».

3) por uh e hu nos vocabulos que têm por etymologia
essas lettras compostas, ex.: «uhlanohumido».

Em alguns vocabulos inglezes admittidos em Portuguez sem alteração
de fórma graphica a voz u representa-se por w, ex.: «whig
whist».

O accento que em húmido, lúrido e em outros vocabulos proparoxytonos
collocam alguns escriptores nada tem com a natureza da voz:
indica apenas a tonicidade das syllabas hú, lú, etc.

Observação. As vozes a, ê, ô, quando não são tonicas, representam-se
sempre pelas lettras simples a, e, o, ex.: «cadoz, mesinha, polido».
As vozes abertas é, ó, passando na derivação dos vocabulos de tonicas
a atonicas, retém o accento ex.: «pésinho, avósinha» [61, 4)]. A
34voz u atonica final representa-se por u no vocabulo tribu;, nos outros
casos representa-se sempre por o, ex.: «livro, macho».

64. A voz nasal an representa-se

1) por ã — na terminação dos vocabulos oxytonos; ex.:
«galãirmã».

2) am — no corpo dos vocabulos antes de b, m, p, ex.:
«ambosgrammarampa».

3) por an — em todos os outros casos, ex.: «canja
iman».

4) por han em vocabulos derivados de linguas extrangeiras,
assim originariamente escriptos, ex.: «hangho
hanseatico».

65. A voz nasal en representa-se

1) por em — na terminação dos vocabulos; no corpo
delles antes de b, m, p, nos compostos de além,
aquem, bem, decem, sem
: ex.: «ordempalafrem
emboço
emmoldurartemporãoalemtejano
aquemgangético
bemdizerdecemvirosemsaborão».

2) por en — na terminação do vocabulo joven, e nos
casos não comprehendidos acima.

Escrevem-se tambem com enespecimen, gluten, hymen, hyphen,
lichen (likhen
melhor orthographia), pollen e outros vocabulos tomados
do Latim sem mudança de fórma: em taes casos, porém, a terminação
en não é nasal.

3) por hen — nos vocabulos derivados do grego ἓνδεκφ
ex.: «hendecasyllabo»; e tambem em alguns nomes
proprios derivados do Saxonio, ex.: «Henrique».

66. A voz nasal in representa-se

1) por im — na terminação dos vocabulos, e no corpo
35d’elles vindo antes de b, m, p, ex.: «assimimbuir
immediato
irwpedir».

2) por in — em todos os casos não comprehendidos acima,
ex.: «lindopinto».

3) por ym — no corpo de vocabulos derivados do Grego,
antes de b, m, p, ex.: «SymboloSymmakho
tympano».

4) por ym — no corpo.de vocabulos derivados do Grego
em todos os outros casos, ex.: synodosyntaxe».

67. A voz nasal on representa-se

1) por om — no fim dos vocabulos, e no corpo delles
vindo antes de b, m, p, ex.: «semitonbomba
gommaromper», e tambem em «commigocomtigo
ôomsigocomnoscocomvosco», e em outros
compostos de com, ex.: «comtanto, comtudo».

2) por on — na terminação dos vocabulos canon, colon,
nos derivados destes e nos casos não comprehendidos
acima, ex.: «redondotonto».

3) por hom, e hon nos vocabulos que por etymologia
têm o h que entra nessas lettras compostas, ex.:
«hombro, honra».

68. A voz nasal un representa-se

1) por um — na terminação dos vocabulos; no corpo
delles, vindo antes de b, m, p; nos compostos de
circum, duum, trium: ex.: «atumchumbar
summulistacumprircircumstanciaduumviro
triumviro».

2) por un — nos casos não comprehendidos na regra
acima, ex.: «fundarmundano».

3) por hum em humbral, humbreira

69. O plural dos nomes terminados por an, em, en
36(nasal), im, om, um escreve-se sempre com n, ex.: «orphans
— ordens
palafrensjovenspatinssonsjejuns».

70. A modificação vocal be representa-se

1) por b — na maioria dos casos, ex.: «ambossiba».

Ha como já ficou dito (16 — 21) differença entre modificação vocal
e voz modificada: modificação vocal é simplesmente a fórma que imprime
ao som laryngeo tal ou tal jogo das partes moveis da bocca; voz
modificada é o som laryngeo já revestido dessa fórma. Assim, b é uma
modificação vocal, be, uma, voz modificada.

A vogal e que na exposição de cada uma destas regras sobre orthographia
acompanha as alterantes (be, ke, etc.) é posta para obviar á
impossibilidade de proferir modificação sem som.

2) por bb — em abbade, abbreviar, gibba, rabbi, sabbado,
e nos derivados destes.

3) por bh — em abhorrecer, e em seus derivados, bem
como na transcripção de certas palavras sanskritas,
ex.: «bhavam».

71. A modificação vocal ke representa-se

1) por e — antes de a, o, u, ex.: «cabocopacuba».

2) por cc — em acclamar, acclimar, acclive, accommodar,
accorrer, accrescentar, accrescer, accubito,
accumular, accurado, accusar, bocca, ecclesiastico,
occasião, occaso, occorrer, occultar, occupar, peccar,
seccar, socco, soccorrer, succo, succumbir
e
nos derivados destes.

3) por cqu — em acquisição, acquirir, acquiescencia,
acquiescer
.

4) por k — em kabyla, kadosh, kakatus, kaleidoscopo,
kali, kan, kandjar, kanguru, kaolin, karaita,
karakusa, karmatico, kava, kerosene, kenosoico,
kepi, keratite, kerauno, kermes, kermcsse, keroda,
kino, kioosque, kirsch, klopemania, knut, kremlim,
37kufico, kusso, kyllopodia, kymrico, kyrie-eleison,
kyriologla, kyrios, kistos, parokia
, nos derivados
destes e em varios outros vocabulos, oriundos
de linguas extrangeiras mórmente da grega em que
esta modificação é representada por k.

Escreve-se geralmente parochia, e para isso ha razão: S. Jeronymo
e Isidoro de Sevilha escreveram em Latim parochia. Este vocabulo,
porém, não é de bom cunho: veio do Grego πάροχοε por uma confusão.
A palavra genuina emprega-a Santo Agostinho: é paroecia, do Grego
παροικία. A seguir a melhor etymologia deve-se escrever em Portuguez
parokia.

5) por kh — nos derivados de raizes gregas escriptas
por x e em algumas palavras oriundas de linguas
orientaes, «anakhronismoarkhetypoAkhmet
Khorassan».

Os derivados de palavras gregas escriptas com χ orthographam-se
usualmente com ch, ex.: «anáchronismoarchetypo»;
mas insta acceitar a refórma acima, já proposta por Grivet (1)33
e por varios outros grammaticos. Os latinos querendo trasladar
para o seu idioma o χ.que é κ aspirado, com muito
acerto pospuzeram ao c, que no seu alphabeto equivalia
sempre a k, o h, signal de aspiração: representar, porém χ
por ch portuguez, que symbolisa uma modificação vernacula
especialissima, é dislate etymologico que só serve para difficultar
o tirocinio da lingua.

Com effeito, quem será capaz de saber a pronuncia exacta
dos vocabulos «archeiro, archonte» só por vel-os escriptos?
Não é a confusão originada de tal liso de lettras impróprias
um estorvo sério ao conhecimento perfeito da lingua franceza?
Os vocabulos chirurgien e chiromancie por exemplo,
derivam-se ambos da mesma raiz χςίρ e todavia um pronuncia-se
xirurgien e o outro kiromancie!38

6) por kkh — nos derivados de raizes gregas escriptas por kkh,
ex.: «Bakkhoekkhymose».

O douto snr. Antonio Ennes na sua monumental traducção
da Historia Universal de Cesar Cantu (1)34 já adoptou
para os nomes proprios estas reformas orthographicas [5)6)].
Oxalá o tivera feito em todos os casos em que é ella exigida
pela etymologia.

A verdadeira orthographia dos termos de metrologia «Kilo,
kilometro
, etc.», é «khilo, khilometro, etc.»: a raiz grega de
taes vocabulos é χίλιοι

7) por q — antes de u nos vocabulos em que u representa
voz.

U representa voz

a) antes de a, o, u, ex.: «quadro (afóra quaderno,
quatorze
que se lêm caderno, catorze), quociente
equuleo».

b) nos vocabulos adquirir, antiquissimo, delinquir,
deliquescencia, deliquio, eloquencia, exequente,
exequivel, frequencia, inquerito, liquido, obliquidade,
questão, questor, quiproquo, Quirites, sequela,
sequencia, sepuestro, tranquilidade, ubiquidade
,
e nos derivados destes, bem como nos
derivados das raizes latinas «acquus, equus, quinque,
sequor
», ex.: «equidadeequinoquinquefolio
sequencia, etc».

«Cuestão». pronunciam alguns; «kestão» dizem outros:
a setima edição do Diccionario de Moraes segue o primeiro
modo.

8) por qu- — antes de e e de i, ex.: «queroquilha».

O u neste caso não representa voz, é mero signal orthographico;
39as excepções já ficaram notadas na regra antecedente.

Em vocabulos berberes escreve-se q (simples) antes de
qualquer vogal, ex.: «Barqah, Qoceyr».

72. A modificação vocal de representa-se

1) por bd — em subdito.

2) por cd — em alguns vocabulos derivados do Grego,
ex.: «anecdota».

3) por d — na maioria dos casos ex.: «darDido».

4) por dd — em addensar, addição, addicionar, addido,
addir, additar, adducção, adduzir, reddito
.

5) por dh — em adhesão, adherir, adhortar, nos derivados
destes e na transcripção de algumas palavras
sanskritas, e de outras linguas estrangeiras, ex.:
«dhuli».

6) por gd — em Emygdio, Magdala, Magdalena, etc.

73. A modificação vocal fe representa-se

1) por f

a) nos vocabulos primitivos, simples, ex.: «afan
Africa».

b) nos derivados destes, ex.: «afanosoafricano».

c) nos derivados puramente portuguezes, ex.: «afocinhar
afofar».

d) nos compostos com os prefixos de, pre, pro, re,
ex.: «defenderpreferirprofessorrefutar».

2) por ff — nos compostos latinos começados por a, di,
e, o, su
, que passaram para o Portuguez quasi sem
alteração, ex.: «affectodifferirefficienteoffender
suffragio».

3) por ph — nos derivados da lingua grega, ex.: «phrodito
photographo».40

74. A modificação vocal ghe representa-se

1) por g — antes de a, o, u, ex.: «gatogotagula».

2) Por gg — nos compostos latinos começados por a e,
su que passaram para o Portuguez quasi sem mudança
de fórma, ex.: «aggravarsuggesto».

3) por gh — em muitos vocabulos extrangeiros, principalmente
arabes, ex.: «AlmhogrebGharbGhez,
etc.».

4) por gu — antes de e e i, ex.: «guerraguita».

Antes de e e de i a lettra u é simples signal orthographico,
e só serve para mostrar que g representa a modificação
explodida gh, e não a constricta j. Todavia antes de e e de
i conserva a lettra u seu valor proprio em ambiguidade, antiguidade,
aguentar, arguir, contiguidade, guela, languidez,
linguistica, linguiça, unguento
.

75. Como já ficou dito o h em Portuguez a nenhuma
modificação de voz corresponde; verdadeiramente não é lettra:
é antes uma notação etymologica e orthographica. Como
notação etymologica recorda a aspiração das raizes latinas,
gregas e de outras linguas; como notação orthographica entra
na formação das lettras compostas ah, bh, ch, dh, etc.

Deve-se pois escrever com h

1) as interjeições ah, oh.

2) as palavras em que o uso o admitte para marcar a
não existencia de diphthongo, ex.: «alahudeatahude».

Muitos marcam esta não existencia de diphthongo por accento
agudo, escrevendo alaúdesaúde: Garrett propõe para
o mesmo fim a dierese (¨) (1)35.41

3) os vocabulos que o têm de origem, ex.: «haver
heliometrohippodromohorahumildadehyperbole
uhlano. etc.».

Sobre escreverem-se com ou sem h as terminações do futuro
do indicativo e do imperfeito do condicional dos verbos,
não ha e nem pode haver duvida fundada: o h deve ser
eliminado. Com effeito, em amar-te-ei, far-te-ia e outras
fórmas similares, amarei, faria etc. scindem-se em amar-ei
far-ia
, e no ponto de scisão insere-se por tmese um pronome
pessoal no objectivo ou no objectivo adverbial. Nada
mais simples. A querer-se, por, amor da etymologia, escrever
amar-te-hei, far-nos-hias tambem se deverá escrever
amarhei, farhias nos casos inais simples. A não usar-se do
h etymologico nestes ultimos, tambem não se poderá usar
nos primeiros.

76. A modificação vocal je representa-se

1) por g — antes de e, i, y, ex.: «gelogibbagyro».
Dos vocaculos que começam por je exceptuam-se
Jebus, jecorario, jectigação, jecuiva, Jehovah, jeitar,
jejum, jéjuno, jellala, jencionaes, Jenissey, jenipapo,
jenolim, jequiry, jequitibá, Jequetinhonha, jerataca,
jerepemonga, jererê, Jeremias, Jericó, jerimum, jerivá,
Jersey, Jerumirim, Jerusalem, Jesus, jetahy,
macujê
e os derivados destes, ex.: «jesuitajehovista
jetahy-peva, etc.».

Entre Geropiga e Jeropiga ha differença: Geropiga (com
g) é um liquor feito de mosto e vinho. Jeropiga (com j) significa
uma especie de tisana, e tambem clyster.

2) por j

a) antes de a, o, u, ex.: «jacajotajuba».

b) na terminação da terceira pessoa do aoristo do
indicativo, e nas de todas do presente do subjunctivo
dos verbos em jar-, ex.: de «festejar». «festejei
42— festeje
festejesfestejefestejemosdestejeis
— festejem
».

c) nos derivados do verbo latino jacio, ex.: «adjectivo
conjecturaobjectoprojectilsujeito».

São estas as regras possiveis sobre o emprego de g em
j para representar a modificação je; e é o que basta. A
excepção que pretendiam estabelecer alguns grammaticos,
mandando escrever laranjeira, anjinho, sobre especiosa,
é pouco seguida.

77. modificação vocal le representa-se

1) por l

a) nos vocabulos começados por a, ex.: «alegrar
alugar».

b) nos vocabulos começados por e, ex.: «elaterio
elucidário».

Exceptuam-se desles ella, ellas, elle, elles , ellipse
e seus derivados, ello (variação antiquada de
elle.

c) nos vocabulos começados por o, ex.: «olaia
oleou».

Exceptuam-se destes olla, ollaria, olleiro.

2) por ll

a) nos compostos de vocabulos começados por l com
os prefixos al, col, il derivados dos latinos ad,
con, in
, ex.: «alludircolligirillegitimo».

b) nos compostos de mel e de mil ex.: «mellifluo
millenio».

c) nas syllabas bei, cel, del, gil, gril, mil, nel, pel,
pil, tel, til, vel, zel
, quando sobre ellas recahir o accento
tonico, séguindo-se-lhes uma vogal, ex.: «barbella
— cancella
cadellapugillogrillomamillo
— panella
pellepupillomartelloscintilla
— novella
donzella».43

Ha muitas excepções a esta regra: só um bom diccionario
póde ser guia segura para todos os casos.

78. A modificação vocal me representa-se

1) por m — na pluralidade dos casos, ex.: «Allemanha
amar».

2) por gm — em apophtegma, augmento, e nos derivados
deste.

3) por mm

a) em muitos vocabulos derivados do Latim e do
Grego, ex.: «gemmagrammatica».

b) nos compostos de vocabulos começados por m
com os prefixos com, em, im (alterações de con,
in)
, ex.: «commoveremmadeirarimmortal».

79. A modificação vocal ne representa-se

1) por n — na pluralidade dos casos, ex.: «canotenaz».

2) por gn — em assignarmalignarsignal, nos derivados
destes, e em IgnezIgnacio, etc.

3) por mn — em alguns vocabulos tomados do Latim
e do Grego e nos derivados desses vocabulos, ex.:
«alumnocolumnahymnomnemonico».

4) por nn — nos compostos de vocabulos começados por
n com os prefixos an, en, in (alterações de ad, in),
ex.: «annunciarennobrecerinnocente».

80. A modificação vocal pe representa-se

1) por p — na pluralidade dos vocabulos, ex.: «apagar
eponymo».

2) por pp

a) nos compostos de vocabulos começados por p
44com os prefixos ap, op, sup (alterações de ad, ob,
sub
), ex.: «applaudiroppugnarsupprimir».

b) em Aggripa, Agrippina, cippo, Joppe, Oppia,
Poppa
, e nos vocabulos derivados do nome grego
hippos
(cavallo) ex.: «hippodromohippico-Hippolyto
— Philippe
».

81. A modificação vocal re (r brando como em caro)
representa-se sempre por r ex.: «furosaracuratóro».

Depois de b, e, d, f, g, p, ph , t, v, a lettra r serve para representar
o elemento brando das modificações compostas br, cr, etc, ex.:
«brodiocravodragafrotagratoprimophreneticotrama
livro».

82. A modificação vocal rre (r forte como em roda,
Conrado)
representa-se

1) por r

a) no principio dos vocabulos usuaes, ex.: «roca
rumo».

b) depois de l, m, n, s, ex.: «chilrarAmrão —
Conrado
Israel».

c) nos vocabulos compostos com os prefixos a, de,
pre, pro
, ex.: «araigarderogarprerogativa
proromper».

Nos vocabulos compostos com o prefixo a vai prevalecendo
o uso de rr, e muitos escrevem arraigar.

2) por rh — no principio de vocabulos derivados do
Grego, ex.: «rhetoricarhombo».

3) por rr — entre vogaes no corpo de vocabulos, ex.:
«carromurro».

4) por rrh — entre vogaes nos vocabulos derivados do
Grego, ex.: «arrhascatarrho».45

83. § 1.° A modificação se no principio dos vocabulos
representa-se

1) por e — antes de e e de i nos derivados e compostos
de centum, circum, cis, ex.: «centenacentumviro
— circo
circumstanciacisalpinacisgangetico»,
e em muitissimos outros vocabulos.

2) por s

a) sempre antes de a, o, u, ex.: «sapo, sola, sumo»:

Até o principio deste seculo escreviam-se com ç inicial
muitas palavras, «ex.: çapatoçordaçurriada».

b) antes de e e de i na maioria dos vocabulos da
lingua, ex.: «sedasiba».

3) por ps — em psalmo e em seus derivados, ex.:
«psalteriopsalmodia, etc.».

§ 2.° A modificação vocal no corpo dos vocabulos representa-se

1) por e

a) antes de i nos substantivos derivados de adjectivos
verbaes, ex.: «constanciaconfidencia» de
«constanteconfidente».

b) nas diversas terminações dos tempos dos verbos,
ex.: «conhecerrociarempeciamos, e no adjectivo
refece».

Exceptua-se ser.

c) nos derivados de vocabulos latinos cuja penultima
syllaba é ci ou ti, ex.: «officiovicio» de «officio
— vitio
».

2) por cc

a) antes de e e de i nos compostos de vocabulos começados
por e com o prefixo ac (alteração de ad),
ex.: «acceleraraccidente».46

b) antes de i nos verbos derivados de vocabulos latinos
cuja penultima syllaba é cti, ex.: «fraccionar» de
«fractio».

3) por ç

a) antes de a e de o em muitos verbos tanto da primeira
como da terceira conjugação, ex.: «roçava
— roço
reconheçareconheço».

b) antes de a, o, u, em açacalar, açafata, açafate;
açafrão, açafroa, açamo, açodar, açofeifa, açor,
açorar, açorda, açotéa, açougue, açoute, açude,
açular
, etc.

c) antes das terminações ão, ões em derivados de
vocabulos latinos cuja penultima syllaba é ti, ex.:
«locuçãolocuçõesturbaçãoturbações». de
«locutioneturbatione».

d) na terminação de muitos substantivos depois de
a, an, ar, e, en, er, i, in
, ex.: «cabaçamelaço
pujança
engrimançogarçacadarçopeça
— codeço
licençalençoterçaberçolinguiça
— chouriço
pinçapainço», etc.

4) por — antes das terminações ão, ões, em derivados
de vocabulos latinos cuja penultima syllaba é
cti, ex.: «acçãoacçõessatisfacçãosatisfacções».
de «actionesatisfactione».

5) por — antes das terminações ão, ões, em derivados
de vocabulos latinos cuja penultima syllaba é
pti, ex.: «descripçãodescripçõessubscripção
subscripções». de «descriptionesubscriptione».

6) por s — nos compostos de vocabulos começados por
s, com os prefixos a, de, pre, pro, sobre, ex.: «asellar
— deservir
presentirproseguirsobresahir».

Nos compostos com os prefixos a e de vai prevalecendo o
uso de ss: muitos escrevem assellar, desservir.

7) por sc — em derivados de vocabulos latinos em que
47figura a modificação sc, ex.: «condescenderrescindir
— sciencia
scintillar».

8) por ss — entre vogaes

a) na terminação do imperfeito do subjunctivo de todos
os verbos, ex.: «amasseentendessepartisse
compuzesse».

b) na terminação dos superlativos proprios, ex.: «justissimo
péssimoriquissimo».

c) na terminação dos substantivos verbaes, ex.: «confessor
professor».

9) por x — em anxiedade, apoplexia, auxilio, defluxo,
maximo, proximo, syntaxe
e nos derivados destes.

§ 3.°) A modificação vócal se no fim dos vocabulos representa-se

1) por s — na puralidade dos casos, ex.: «alasaltares
— narizes
Parisvozesurraszurzis».

2) por x — em vários vocabulos tomados do Latim sem
alteração ou com pequena alteração de fórma graphica,
ex.: «appendixcalixduplexFelixindex
phenix, etc.».

3) por z

a) nas terminações az, ez, iz, oz, uz, do singular
dos vocabulos oxytonos, ex.: «matrazrevez
narizcadozluz»

Exceptuam-se gurupés e os monosyllabos mes,
tres, pus, sus
.

b) nas terminações az, ez, iz, oz, uz, dos tempos
dos verbos dizer, fazer, querer, trazer, conduzir,
deduzir, induzir, produzir, reduzir, seduzir, pôr
,
e nos derivados destes (á excepção de requerer)
ex.: «fazfezdizquizpozpuzcompuz
reduz
, etc.».48

84. A modificação vocal te representa-se

1) por bt — em subtil e em seus derivados, ex.: «subtilisar».

2) por ct — nos derivados de vocabulos latinos e gregos
em que se encontra essa modificação, ex.: «conjectura
— dactylo
».

3) por phth — em varios vocabulos derivados do Grego,
ex.: «apophthegmadiphthongo».

4) por pt — nos derivados de vocabulos latinos e gregos
em que se encontra essa modificação, ex.: «proscripto
symptoma».

5) por t — na maioria dos vocabulos, ex.: «cantar
propheta».

6) por th — nos derivados de vocabulos gregos em que
se encontra a modificação Θ, ex.: «Athenastheosopho
thiathio (1)36».

«Th — lettra composta, representante do Θ do alphabetho
Grego, como em methodo, thema, theoria, theatro, (vocabulos
originários).

Havia antigamente abuso no emprego desta lettra, escrevendo-se
com ella palavras em que nem a etymologia, nem
a pronuncia a exigem, como theor, cathegoria, author, authoridade;
e ainda hoje se vê esse abuso no nome proprio
Nitheroy, que assim é geralmente escripto; como se na lingua
indigena brazileira houvesse aquelle kharacter grego.

Convem corrigir a orthographia desta palavra, assim como
se tem corrigido a de outras.

Nem se póde dizer que o th fosse alli introduzido para
indicar a aspiração que naquella lingua sem escriptura tinha
49o som consoante t de tal vocabulo, pois não é crivel
que só neste houvesse a aspiração, quando todos os mais
se escrevem com t simples» (1)37

7) por tt

a) nos derivados de compostos de vocabulos latinos
começados por t com, o prefixo at (alteração de
ad), ex:: «attençãoattrahirattributo».

b) nos derivados dos vocabulos latinos littera, mittere,
e nos derivados e compostos de taes derivados,
ex.: «lettrametterillitteratopermittir,
etc.».

c) em varios outros vocabulos derivados do Latim, ex.:

«atticismosetta».

85. A modificação vocal ve em vocabulos propriamente
portuguezes representa-se sempre por v, ex.: «ovorelva
reviver».

Em alguns vocabulos extrangeiros, mormente allemães, admittidos
em Portuguez sem alteração de fórma graphica, a modificação v representa-se
por w, ex.: «thalwegWurtemberg».

Nos vocabulos que, assimilados pelo uso geral, fazem já parte
integrante do cabedal da lingua, deve-se sempre escrever com v, ex.:
«valsavisigothico».

Constancio (2)38 extende este preceito até aos nomes geographicos,
e quer que se escreva Veimar, Vestphalia.

E’ excesso de rigor; mas antes isso do que o inqualificavel dislate
de escrever-se com w vocabulos que o não têm de origem; revólver,
por exemplo, escripto usualmente rewolver. O vocabulo é inglez,
derivado do verbo to revolve, de pura procedencia latina. Lé-se em
Webster: (3)39.

Revolve, v. i. [imp. & p. p. revolved; p. pr. & vb. n. revolving]
[Lat. revolvere, revolutum, from re again, back, and volvere to roll,
turn round; O. Fr. revolver, Sp. & Port. revolver, It. rivolvere].50

1. To turn or roll around on an axis.

2. To move round a center; as, the planets revolve round the
sun.

To return [Rare] Ayliffe.

Revolv’er, n. One who, or that which revolves; specially, a fire-arm
«with several loading-chambers or barreis so arranged as to
revolve on an axis and be discharged in succession by the same lock;
a repeater; — chiefly used of pistols of such construction.».

Se se escrevesse rewolver, dever-se-ia ler, segando as regras da
phonetica ingleza, riuólvar e não revólver.

E’ realmente vergonhoso nada ter a dizer quando Americanos e
Inglezes nos perguntam pela causa da deturpação sandia do seu vocabulo…

86. A modificação vocal xe representa-se

1) por ch — tanto no principio como no corpo da maioria
dos vocabulos, ex.: «chavecacho».

Nos vocabulos catechismo, schisma o h não serve para formar
lettra composta: é, mudo por uso. Taes vocabulos lêm-se,
catecismo, cisma, e alguns escriptores já assim os orthographam.

2) por x

a) depois do som nasal en, ex.: «enxadaenxerto
enxuto».

Exceptuam-se enchacotar, enchamel, encharcar,
encher, enchouçar, enchouriçar
, e os derivados
destes.

En nestes casos todos é mero prefixo, e os themas de si
começam por ch.

b) depois de diphthongo, ex.: «eixopeixet-frouxo
paixão».

c) em vocabulos de origem arabe; os pricipaes são:
51oxalá, xacoco, xadrez, xairel, xamate, xaque,
xaqueca, xaquema, xara, xarafim, xarão, xaraque,
xareta, xaroco, xarope, xanter, xelma, xeque

(Herculano escreve cheik (1)40), xergão.

d) em abexim, Alexandre, annexim, bexiga, bacaxim,
bruxo, buxa, buxo
(arvore), cartaxo, coaxar,
coxa, coxia, coxim, coxo, debuxo, dixe,
faxa, faxina, graxa, laxante, lixa, mexer, pixe,
praxe, puxar, rixa, roxo, taxa, vexar
, e nos derivados
destes.

3) por sch em vocabulos tomados das linguas orientaes,
ex.: padischah, schibboleth.

4) por sh — em vocabulos inglezes admittidos em Portuguez
sem alteração graphica, ex.: «Shakespeare
Sharpa».

87. A modificação vocal ze representa-se.

1) por s

a) depois de vogal no corpo de vocabulos derivados
de raizes latinas em que tal modificação se escreve
por s, ex.: «accusarcasamesa». de «accusare
casamensa».

b) em obséquio, subsistencia, extrinseco, intrinseco,
e em alguns compostos com o prefixo trans, ex.:
«transactotransitorio».

2) por x — depois de e inicial, ex.: «exactoeximir».

Querem ós grammaticos Portuguezes que ex neste caso
valha eiz, e que exacto, eximir, etc., leiam-se eizacto, eizimir,
etc.

3) por z

a) no principio dos vocabulos, ex.: «zelozimbro».52

b) depois de a inicial, ex.: «azougueazul».
Exceptuam-se asar, Asia, asinha (adv.), asir, asinino,
asylo
.

c) nas terminações aza, eza, de vocabulos propriamente
portuguezes, ex.: «razacrueza».

d) nos derivados de vocabulos latinos em que a mo
dificação z está por c, d ou t ex.: «dizerfazer
— preza
razão» de «dicerefacerepreda
— ratione
».

e) no plural dos nomes que terminam no singular por
az, ez, iz, oz, uz, ex.: «rapazesvezescodornizes
— piozes
alcatruzes».

f) nos verbos em ar cujo thema não tem s, ex.:
«organizarprophetizar».

4) por zz — em alguns nomes proprios da lingua arabe,
ex.: «Azzarat».

88. A modificação vocal lhe representa-se sempre por
lh, ex.: «colheitamulher

Em gentilhomem, philharmonica, etc., o h não fórma com o l lettra
composta; é simples signal etymologico: taes-vocabulos lêm-se gentilomem,
philarmonica
. Seria mais judicioso escrever gentil-homem
phil-harmonica
, etc.

89. A modificação vocal nhe representa-se sempre por
nh, ex.: «cánhotomanhã».

No seculo XVI a modificação nhe representava-se tambempor gn:
lê-se nos Lusiadas (1)41:

«D’estes arrenegados muitos são
No primeiro esquadrão que se adianta
Contra irmãos e parentes (caso estranho!)
Quaes nas guerras civis de Julio e Magno».53

Em anhelar, anhedito etc., e nos compostos de derivados latinos,
com o prefixo in como inhabil, inherente, o h não fórma com o n lettra
composta; é simples signal etymologico: taes palavras lêm-se anelar,
anélito, inábil, inerente
, etc.

90. As modificações voccaes compostas (26) representam-se
sempre pelas lettras simples correspondentes aos seus
elementos: assim a modificação composta tm (do vocabulo
tmese) é representada por t e m, e não por phth, e gm, porquanto
a lettra simples correspondente ao elemento t da modificação
acima é t e não phth, e a correspondente ao elemento
m é m e não gm.

91. A modificação vocal cs representa-se

1) por cc — em acceder, accepção, accesso, accional,
etc.

2) por — em convicção, facção, ficção, fracção, etc.

3) por x — em axilla, convexo, crucifixo, fixar, fluxo,
flexivel, genuflexo, heterodoxo, inflexão, influxo, nexo,
orthodoxo, paradoxo, plexo, prolixo, reflexo, sexo,
xiphoide, xylographia, xyloide
, etc., e nos derivados
destes.

92. O diphthongo ae representa-se

1) por ae

a) em pae.

b) no plural dos nomes em al, ex.: «capitaessalgueiraes».

c) na segunda pessoa do plural do presente do imperativo
dos verbos da primeira conjugação, ex.:
«amaedaeperdoae».

2) por ai — em todos os outros casos, ex.: «aipo
balaioamaisdaisperdoaissaisvais».

93. O diphthongo au representa-se sempre por au,
ex.: «autocautograupau».54

Alguns mestres da lingua mandam escrever sempre por ao este
diphthongo quando é final de syllaba (1)42: outros fazem uma distincção
cerebrina, preceituando que se escrevam por au os vocabnlos grau e
nau, e por ao todos os mais, ex.: «maopao». (2)43.

«Com grande impropriedade, diz Garrett, escrevem alguns com
ao as palavras pau, mau e similhantes:as vogaes a, o não produzem
o som d’aquellas palavra, nem fazem diphthongo senão o nasal — se é
que diphthongo se lhe póde chamar (3)44».

94. O diphthongo ea representa-se sempre por ea, ex.:
«lacteanivea».

95. O diphthongo ei representa-se sempre por ei, ex.:
«leinotáveissahireisvestirieis».

96. O diphthongo éi representa-se sempre por éi, ex.:
«papéisrevéis».

97. O diphthongo eo representa-se sempre por eo, ex.:
«lacteoniveo».

98. O diphthongo éo.representa-se sempre por.éo, ex.:
«chapéoescarcéo».

99. O diphthongo eu representa-se sempre por eu, ex.:
«feudojudeumeucomeulambeu».

A respeito da matéria desta regra diz Timotheo Lecussan Verdier (4)45 :

«Daremos outra satisfacção orthographica acerca da desinencia
em u da terceira pessoa do singular de alguns preteritos, no modo indicativo
dos verbos. Os nossos maiores sempre a terninaram em u, e
nunca em o. Hoje algumas pessoas escrevem léo, ouvío, ferío, etc., e
carregam a penultima com accentos, ora agudos, ora circumflexos.
Os antigos sempre escreveram leu, ouviu, feriu etc., sem accento algum».55

100. O diphthongo ia representa-se sempre por ia,
ex.: «glóriamemoria».

101. O diphthongo ie representa-se sempre por ie, ex.:
«seriesuperficie».

102. O diphthongo io representa-se sempre por io,
ex.: «rosariovario».

103. O diphthongo iu representa-se sempre por iu
na terceira pessoa do singular do aoristo da segunda e da terceira
conjugação, ex.: «feriusahiuvestiuviu».

Alguns mestres da lingua querem nestes casos que o diphthongo
iu seja orthographado io (1)46. Não têm elles razão: a judiciosa observação
de Garrett, acima citada (93), milita tambem para este caso.

104. O diphthongo óe representasse

1) por ôe — na pluralidade dos casos, ex.: «heróe
pharóesremóe».

2) por oy — em alguns nomes proprios, ex.: «Eloy
Godoy».

Sobre a orthographia do outro nome da bahia de Guanabara diz
o erudito snr. Capistrano de Abreu (2)47: «Nyteróe e não Nictheroy, Nitherohy,
Nitherohi, Nitheroy
, como erradamente se escreve».

105. O diphthongo ôi representa-se sempre por oi,
ex.: «boidepoisfoi».

106. O diphthongo ou representa-se sempre por ou,
ex.: «courolouromandoutomou».56

Este diphthongo é por alguns escripto e pronunciado oi no corpo
dos nomes: assim, em vez de agouro, couros, louro, etc., lêm elles
agoiro, coiro, loiro, etc. Esta substituição justificavel em certos casos
(agoiro, coiro, por. exemplo, de augurium, corium), em muitos outros o
não é. A maioria dos escriptores emprega sempre ou, excepto em oito
e seus derivados.

107. O diphthongo ua representa-se sempre por ua,
ex.: «aguamagua».

Alguns escriptores escrevem antietymologicamente agoa, magoa.

108. O diphthongo ue representa-se sempre por ue,
ex.: «guelalingueta».

109. O diphthongo ui representa-se

1) por ui — na maioria dos casos, ex.: «fuifluido».

2) por uy — em alguns nomes proprios, ex.: «Guy —
Ruy
».

110. O diphthongo uo representa-se sempre por uo,
ex.: «arduoexiguo».

111. O diphthongo nasal ãe representa-se sempre por
ãe, ex.: «capitãesmãe».

Os portuguezes pronunciam em final como o diphthongo ãe: vem
dahi a rima tão extranha aos ouvidos, de mãe com ninguem, tambem,
etc., ex.:

«Triste de quem der um ai
Sem achar ekho em ninguem,
Felizes os que têm pae,
Mimosos os que tem mãe!». (1)48

112. O diphthongo nasál ão representa-se

1) por am — quando sobre elle não cai o accento tonico
[37-4)], ex.: «bençamamamentenderam
partiriam».57

2) por ão — quando sobre elle cai o accento tonico
[37-4)], ex.: «amarãoentenderãobotão, etc.».

113. O diphthongo nasal õe representa-se

1) por õe — na maioria dos casos, ex.: «botõestu pões
— elle põe
».

2) por õem — sómente na terceira pessoa do plural do
presente do indicativo dos verbos em or, ex.: «elles
põem
repõemcompõem, etc.».

114. Algumas regras geraes se pódem estabelecer para
a regularisação da orthographia; são:

1.ª

Seguir fielmente a etymologia, quando se lhe não oppoe
a pronuncia, ex.: «latheusciencia» e não «ateuciencia.

«Eu não creio em nenhuma orthographia, diz Garrett (1)49, senão
na etymologica por ser aquella em que póde haver menos questões,
schismas e heresias».

2.ª

Modificar o rigor etymologico quando se lhe oppõe a pronuncia,
ex.: «esseestatuaolhosprinceza». e não «epse —
statua
oclhosprincepsa».

Das lettras compostas de s com outras alterantes só pode ser inicial
se antes de e, de i e de y, ex.: «scenascienciascylla». A todas
as outras antepõe-se um e euphonico, ex.: «esbrizarescalaescoria
escudoeskhemaescleroticaescribaespuriaestylo, etc.».

Esta prothese euphonica (ainda mais rigorosa entre os Hespanhoes
que até com se antes de e e de i a praticam, escrevendo escena, escitico
por scena, scythico) já era usada no Latim da decadencia, nas inscripções
khristãs de Roma, nas inscripções africanas.

«Encontra-se mais frequentemente um i diante dos grupos se, st,
sp: iscolasticus, iscripta, istatuam, istudio, istipendiis, Istiliconis, ispumosus,
58ispeculator, ispes, Ispartacus; por vezes é um e: escole, Estefaniæ.
O i apparece alli pelo segundo seculo, e torna-se mais usual
nos fins do quarto e nos principios do quinto. Mais tarde é elle substituido
pelo e, e é justamente o e que se encontra diante da lettra sibilante
seguida de uma explodida surda nas linguas novo-latinas: especie,
escada, estabulo, espada» (1)50.

3.ª

Seguir sómente a pronuncia, empregando as alterantes
conforme as modificações que ellas em geral representam,
quando não há razão de.etymologia para dobrar lettras simples,
ou para empregar lettras compostas, ex.: «tabóca». e não
«tabbóca» e nem «phthabhoka»,

4.ª

Pôr accento sobre a vogal predominante dos vocabulos
pouco usuaes, quando pelas regras prosodicas se não puder
conhecer a predominancia, ex.: «dáctylothálamo, etc.» ou
quando houver necessidade de distinguir uma voz aguda de
de uma voz fechada, ex.: «côvo (adj, concavo) — cóvo (subst.,
cesto de apanhar peixe)».

5.ª

Preferir uma lettra a um accento para melhor distincção
dos vocabulos, sempre que não haja nisso inconveniente, ex.:
«Sahir— bahu» e não «Sairbaú».

6.ª

Conservar as alterações feitas na etymologia em prol da
pronuncia, ou para distinguir um vocabulo de outros, ex.:
59«conceição — por — concepção —; catarata (doença de olhos)
— e — cataracta (catadupa); maça — e — massa, etc.».

Observação n.° 1.) As palavras portuguezas genuinas terminam
ou, por voz livre, ou por alguma destas 7 modificações — l, m, n, r, s,
x, z
.

Observação n.° 2.) Nenhum vocabulo principia ou acaba por vogal
dobrada.

Foi uso dobrarem-se vogaes no fim de.vocabulos para indicação
de tonicidade de syllaba: escrevia-se saa, see, soo por sá, sé, só. Ainda
hoje ha quem escreva teem, veem etc. para distinguir a terceira pessôa
do plural da terceira do singular.

E’ desnecessário. Um accento produz o mesmo effeito que a repetição
da vogal, «elle tem, elles têm, elle vem, elles vem», evitando-se uma
fórma graphica absurda e desgraciosa. Quando se encontram duas vogaes
no fim de um vocabulo, como em môo, vôo, etc., é porque são
tambem duas e distinctas as vozes representadas: realmente môo, vôo
lêm-se, mô-u, vô-u.

Observação n.° 3.) Nenhum vocabulo Portuguez principia ou acaba
por alterante dobrada.

Nos séculos XV e XVI dobrava-se l no principio e no fim dos
vocabulos, escrevendo-se por exemplo «Llourençoanell», do seculo
XIII ao seculo XIV dobrava-se r no principio dos vocabulos, e no corpo
delles depois de lettra alterante, ex.: «rreceberhonrran»; desde o
principio da monarkhia até o seculo XV escrevia-se ssa, ssas por sa,
sas
(sua, suas).

Observação n.° 4.) Antes de b, m, p, usa-se de m e não de n, ex.:
«ambosgrammaticatrompa».

Exceptuam-se alguns substantivos proprios allemaes, ex.: «Oldenburgo
— Schœnbrunn
».

115. Ao partirem-se vocabulos em fim de linha observem-se
as seguintes regras:

1.ª

Respeite-se sempre na pratica a integridade das syllabas,
ex.: «am-barpau-tavo-a-dor».60

2.ª

Separem-se os vocabulos compostos pelos seus elementos
de composição, ex.: «con-starin-spirar».

3.ª

Lettras alterantes que parecem independentes ou que não
sôam acompanham a syllaba subsequente, ex. «affli-cto
prom-pto».

Livro segundo
Elementos morphicos das palavras

116. Morphologia é o tratado das fórmas que tomam
as palavras para constituir a linguagem.

117. A morphologia considera as palavras sob a relação
de fórma

1) como constituindo grandes grupos de idéas de que
se compõe o pensamento;

2) como entidades phonicas que se modificam individualmente
para representar cada idéa em particular;

3) como originando-se umas de outras.

118. As partes, pois, da morphologia são tres; taxeonomia,
kampenomia ou ptoseonomia e etymologia.

Secção primeira
Taxeonomia

119. Taxeonomia é a distribuição das palavras em
grupos correspondentes aos grupos de idéas de que se compõe
o pensamento.

120. Dividem-se as palavras em oito grupos ou categorias,
a saber: Substantivo, Artigo, Adjectivo, Pronome, Verbo,
Adverbio, Preposição e Conjuncção.61

121. Estes oito grupos arranjam-se entre si em tres
divisões naturaes; são

1) tres grupos de palavras (independentes das outras,
capazes de formar sentenças por si, e entre si — o
substantivo, o pronome e o verbo.

2) tres grupos de palavras qualificadoras, dependentes
sempre de outra palavra que ellas descrevem ou limitam
— o artigo, o adjectivo e o adverbio.

3) dous grupos de palavras connectivas que juntam
uma palavra com outra, ou uma sentença com outra
— a preposição e a conjunção.

A pluralidade dos grammaticos conta mais o Participio e a Interjeição.

Ora o participio é parte integrante do verbo e, como tal, não deve
formar categoria á parte.

A interjeição, grito involuntário, instinctivo, animal, não representa
idéia, não constitue parte do discurso, é mais som do que palavra. (1)51

122. As oito categorias de palavras arranjam-se ainda
em dois grupos: o das palavras sujeitas á flexão ou variaveis,
e o das não sujeitas á flexão ou invariaveis. São variaveis, o
artigo, o adjectivo, o pronome e o verbo: são invariaveis o
adverbio, a preposição e a conjuncção.

As palavras hoje invariaveis já gosaram de vida, já tiveram fórmas
moveis nas linguas matrizes; são, se é permittido o simile, organismos
inferiores cujas junctas ankylosaram-se, cujas partes fluidas solidificaram-se
por uma como crystallisação linguistica. No adverbio encontram-se
ainda vestigios de flexão.

A linguagem, interprete da intelligencia, é um instrumento de
analyse: com effeito, as palavras servem para distinguir os seres, os
objectos, as qualidades, as substancias reaes ou abstractas, as acções, os
estados diversos das pessôas, das cousas, todas as manifestações da
62vida, todos os phenomenos, até mesmo os qne caem sob o dominio da
imaginação e do futuro, o contingente, o absurdo, o impossivel. Ajuntem-se
ainda as relações innumeraveis de tempo e de logar, de genero
e de especie, de numero e de qualidade, de causa e de effeito; as relações
e as correlações infinitas de tudo o que existe, e que se póde conceber;
passe-se dos elementos simples da linguagem, do som laryngeo,
da articulação, da syllaba á palavra; da palávra á proposição; da proposição
ao discurso… Pasmará a mente ante a simplicidade desse
mekhanismo assombroso, ou antes dessa organisação pujante cujas
funcções multiplas executam-se por meio de um numero tão limitado
de apparelhos. (1)52.

I
Substantivo

123. Substantivo é o nome de um objecto, de uma
cousa, ex.: «aguaflorestapassaro».

Qualquer palavra pertencente a qualquer categoria das partes do
discurso torna-se substantivo, quando usada como nome de uma cousa
distincta, ex.: «Vives é um verbo»; neste exemplo «vives» é substantivo
porque é usado para indicar uma palavra particular.

124. Dividem-se os substantivos em substantivos proprios
e em substantivos appellativos.

125. Substantivos proprios são os nomes individuaes,
ex.: «AmazonasSaldanha».

Os substantivos proprios tornam-se appellativos quando significam
mais do que um individuo, e quando são empregados para representar
uma classe, ex.: «Os Macaulays e os Herculanos não abundamPedro
V foi um Marco Aurelio
».

Todavia tàes palavras são melhor consideradas como substantivos
proprios quando são applicadas a uma raça, a uma familia, a uma dynastia,
ex.: «Os Malaiosos Andradesos Orléans».63

126. Substantivos appellativos são nomes que competem
a classes de cousas, e podem ser applicados a quálquer
membro da classe, ex.: «homemcavallocidadeespingarda».

Os substantivos appellativos tornam-se substantivos proprios ou
partes de substantivos proprios, quando usados como nomes de cousas
individuaes, ex.: «BahiaPortoRio-GrandeVilla-Bella».

127. Os substantivos appellativos subdividem-se em
concretos, abstractos, collectivos, verbaes, e compostos.

128. Substantivos concretos são nomes de cousas que
têm ou que se suppõe terem existencia actual, ex.: «não
firmamentoouro - unicornio».

Palavras como algodão, cobre, oxygenio, etc., chamam-se substantivos
materiaes
.

129. Substantivos abstractos são nomes de qualidades
ou de propriedades consideradas á parte das cousas a que existem
ligadas, ex.: «bondadepesoscienciavirtude».

As palavras desta classe não exprimem existencias independentes,
mas somente abstracções arkhitectadas pela mente ao attentar nas
existencias que ellas kharacterisam. Por meio do emprego de adjectivos
ou de participios podem taes abstracções ser expressas como attributos
das cousas a que pertencem, ex.: «menino bommartello grande
— homem sciente
general experimentado». Os attributos, quando são
considerados á parte das causa3, recebem nomes e formam substantivos
abstractos.

130. Substantivos collectivos ou substantivos de multidão
são nomes que denotam muitos individuos considerados
como formando um todo ou aggregado, ex.: «armadaexercito
povo».

As cousas significadas pelos substantivos collectivos existem realmente,
mas só pela conjuncção de suas partes constituintes: involvem
sempre, pois, idéias de pluralidade.64

Os substantivos collectivos têm significação singular quando é
idéia predominante a união das partes que constituem a concepção.
Nesta proposição «A camara foi dissolvida» são topicos que com maior
força se apresentam ao espirito — a união dos deputados em um corpo,
e a destruição dessa união: prevalece, censeguintemente, a significação
singular. Nesta outra «A plebe estava amotinada» o que attrahe a attenção
vêm a ser os actos de rebeldia e os excessos por parte de muitos
individuos da plebe: predomina o sentido de plural.

Ha certos collectivos que se podem chamar especiaes porque se applicam
mais particularmente a uma cousa do que a outra; são entre
outros :

Alcatéia de lobos | Fáto de cabras
Armento de bois | Joldra de assassinos
Bando de aves / ciganos / salteadores | Malta de capoeiras / Manada de bois / Matilha de cães
Cáfila de camelos | Manga de arcabuzeiros
Cardume de peixes | Nuvem de moscas
Corja de bebados / ladrões / tratantes / vadios | Ponta de mulas / Rancho de soldados / Récua de cavalgaduras / Roda de homens
Chusma de criados | Sucia de velhacos
Enxame de abelhas | Vara de porcos

131. Substantivos verbaes são certas partes do verbo
empregadas como substantivos, ex.: «Fallar é pratacallar
é ouro
».

Em todas as linguas é o infinito empregado como substantivo

132. Substantivos compostos são os nomes que se formam
pela reunião

1) de dous substantivos, ex.: «couve-flor».

2) de um substantivo e de um adjectivo, ex.: «pedreiro-livre».

3) de um verbo e de um substantivo, ex.: «saca-trapo».65

4) de uma preposição e de um substantivo, ex.: «subchefe».

5) de dous substantivos ligados por preposição, ex.:
«cabo-de-esquadra».

6) de dous verbos, ex.: «ruge-ruge».

7) de um verbo e de um adverbio, ex.: «mija-mansinho».

8) de tres palavras diversas, ex.: «mal-me-quer».

II
Artigo

133. Artigo é uma palavra que se antepõe ao substantivo
afim de particularisar-lhe a significação.

Palavra átona, que nada exprime por si, o artigo contribue poderosamente
para a clareza da expressão: tornando as palavras precisas e
vivazes, dá elle calor á phrase, veste-a de realidade. A este respeito fica
o Latim classico muito abaixo das linguas neo-latinas: estes dous sentidos
diversissimos «dá-me pão, dá-me o pão» traduzem-se em Latim pela
fórma unica «da mihi panem», ficando á conta do contexto a elucidação
do dizer.

134. O artigo é o (1)53.

III
Adjectivo

135. Adjectivo é uma palavra que descreve ou determina
o substantivo.

136. Divide-se o adjectivo em adjectivo descriptivo
e adjectivo determinativo.66

137. O adjectivo descriptivo denota a qualidade ou a
propriedade da cousa significada pelo substantivo a que elle
se refere.

Este adjectivo charna-se tambem qualificativo.

138. O adjectivo descriptivo é restricto quando denota
uma qualidade accessoria do substantivo, ex.: «homem
bom
cavallo preto»; é explicativo quando denota uma qualidade
essencial, que já se inclue na idéa do objecto, ex.:
«diamante durohomem mortal». O mesmo adjectivo é muitas
vezes tomado em ambos os sentidos.

Observação n.° 1.) O adjectivo descriptivo não tem significação por
si: denota sempre alguma qualidade ou propriedade que se suppõe existir
ligada a um sujeito.

Observação n.° 2.) O adjectivo descriptivo é facilmente convertido
em substantivo; isto em consequencia de empregarem-se palavras que
significam qualidade em vez das que significam cousas em que residem
qualidades.

139. O adjectivo determinativo denota o numero, a
posição ou qualquer, outra limitação da cousa significada pelo
substantivo a que elle se refere.

Este adjectivo chama-se tambem limitativo.

140. Subdivide-se o adjectivo determinativo em numeral,
demonstrativo, distributivo, conjunctivo, possessivo e indefinido.

141. Determinativo numeral é um adjectivo empregado
para designar limitação numérica, ex.: «umdous —
tres
; — primeirosegundoterceiro; — duplotriploquadruplo».67

142. O determinativo numeral chama-se

1) Cardial — se só denota numero sem referir-se a ordem
de successão, ex.: «Dez homenscem moedas».

Os determinativos numeraes cardiaes, são:

Um, dous, ambos, tres, quatro, cinco, seis, sete,
oito, nove, dez, onze, doze, tréze, quatorze, quinze,
dezeseis, dezesete, dezoito, dezenove, vinte, vinte-um,
vinte-dous, trinta, quarenta, cincoenta,
sessenta, setenta, oitenta, noventa, cem, duzentos,
trezentos, quatrocentos, quinhentos, seiscentos, setecentos,
oitocentos, novecentos, mil, dous mil, um
milhão de, dous milhões de
, etc.

2) Ordinal — se denota a ordem em que oceorrem as
cousas, com relação ao numero de cousas similhantes
que as precederam, ex.: «o quarto reio decimo
filho
».

Os determinados numeraes ordinaes são :

Primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto,
setimo, oitavo, nono, decimo undecimo ou
decimo-primeiro; duodecimo ou decimo-segundo,
decimo-terceiro, decimo-quarto, decimo quinto,
decimo-sexto, decimo-setimo decimo-oitavo, decimo-nono,
vigesimo, vigesimo-primeiro, vigésimo-segundo,
trigesimo, quadragesimo, quinquagesimo,
sexagesimo, septuagesimo, octogesimo,
nonagesimo, centesimo, ducentesimo, trecentesimo,
quadrigentesimo, quingentesimo, sexcentesimo,
septingentesimo, octingentesimo, nongentesimo,
millesimo, millionesimo
, etc.

3) Multiplicativo — se denota o numero de vezes que
68uma cousa é augmentada ou multiplicada, ex.: «duplo
triplocentuplo».

Os determinativos numeraes multiplicativos são:

Duplo, triplo, quadruplo, quintuplo, sextuplo, decuplo,
centuplo, multiplo
.

Ha muitas fórmas numéricas que não pertencem ao adjectivo,
ex.:

Substantivos) metade, dobro, dezena, cento, mithão, etc.
Verbos) dobrar, quartear, dizimar, centuplicar, etc.
Adverbios) primeiramente, secundariamente, etc.

143. Determinativo demonstrativo é o que designa
pessoas ou cousas, distinguindo-as de outras no que diz respeito
a logar ou a tempo, ex.: «Esta espingardaessa faca
— aquelle veado
».

Os determinativos demonstrativos são: este, esse, aquelle,
este outro, esse outro, aquelle outro
.

Este indica proximidade em relação á pessôa que falla; é o demonstrativo
da primeira pessôa: «esta espingarda» indica a espingarda
que está junto da pessôa que falla. Esse indica proximidade em relação
á pessôa com quem se falla; é o demonstrativo da segunda pessôa:
«essa faca» indica a faca que está perto da pessôa com quem se falla.
Aquelle indica distancia absoluta ou proximidade com relação a terceiro;
é o demonstrativo da terceira pessôa: «aquelle veado» indica o veado que
se vê ou que se suppõe ao longe.

144. Determinativo distributivo é o que indica que os
individuos que compõem um todo ou aggregado devem ser
considerados separadamente, ex.: «Cada terra tem seu uso
cada soldado levava a sua barraca».

Os determinativos distributivos, são cada, cada um, cada
qual
.

145. Determinativo conjunctivo é o que conjuncta
clausulas
, ex.: «Um homem, o qual eu vios amigos aos
quaes mandamos as fructas
».69

Os determinativos conjunctivos são qual, o qual, cujo.

Muitos grammaticos admittem uma classe de determinativos interrogativos:
não ha razão para a existencia, de tal classe. Em todo o
periodo interrogativo dá-se a ellipse da proposição principal, e o chamado
determinativo interrogativo é, sem tirar nem pôr, o determinativo
conjunctivo servindo para ligar duas proposições.

146. Determinativo possessivo é o que indica senhorio
ou posse em referencia ás cousas significadas pelos substantivos
a que elle se .junta, ex.: «Minha espingardateu
cavallo
».

Os determinativos possessivos são meu, teu, seu, nosso,
vosso, proprio, alheio
.

Muitos adjectivos qualificativos parece involverem uma idéia de
possessão, ex.: «Fazenda nacionalfamilia imperial», isto é «Fazenda
da nação
familia do imperador».

Ao contrario, os adjectivos possessivos perdem por vezes a sua
accepção própria, para tomar um sentido vago, indeterminado, ex.:
«Vou bem de musica: já toco minhas valsasJá faz seu frio».

147. Determinativo indefinido é o que limita pessoa
ou cousa sem indicação de individualidade particular, ex.:
«Alguns homenscertos, negocios».

Os determinativos indefinidos são: «Algum, bastante, certo,
mais, menos, mesmo, muito, nenhum, outro, pouco, qualquer,
quanto, quejando, só, tal, tanto, todo, um
».

O que kharacterisa terminantemente o adjectivo, e o discrimina
de qualquer outra especie de palavras, é a circumstancia de andar elle
sempre ligado a um substantivo ou pronome, na qualidade de attributo
ou na de predicado. Vindo a preencher outra funcção, isto é, a figurar
por si só, quer de sujeito, quer de complemento directo, quer emfim
de complemento indirecto, elle deixa de ser adjectivo para assumir uma
qualificação diversa. Neste novo estado os descriptivos passam a ser tidos
como substantivos, e os determinativos como pronomes. (1)54.70

Todavia o distributivo cada nunca se emprega sem substantivo
claro; os numeraes cardiaes, embora empregados sós, não são considerados
pronomes; os numeraes ordinaes e multiplicativos bem como os
possessivos, quando empregados sem substantivo claro, são substantivos
pelo artigo.

IV
Pronome

148. Pronome é uma palavra usada em logar de um
substantivo.

149. Divide-se o pronome em.pronome substantivo e
em pronome adjectivo.

150. Pronome substantivo é o que está em logar do
substantivo sem limitai-o por maneira nenhuma, ex.: «Elle
falia
». em vez de «Pedro falia».

151. Pronome adjectivo é o que está em logar do
substantivo, limitando-o ao mesmo tempo de alguma maneira,
ex.: «Este relogio é bom, aquelle é ruim». O pronome
aquelle está em logar do substantivo relogio, e ao mesmo
tempo limita-o, indicando a distancia em que se acha a cousa
que elle representa.

Eu, tu, elle, nós, vós, elles são pronomes substantivos;
este, esse, aquelle, este outro, esse outro, aquelle, outro
são
pronomes adjectivos.

152. Os pronomes substantivos são chamados pronomes
pessoaes.

153. Os pronomes pessoaes denotam pessôas.

154. Pessôa é a maneira por que se relaciona o sujeito
com o predicado.

Parece quasi impossivel dar uma definição clara e distincta do
termo pessôa: adquire-se, porém, exacto conhecimento da palavra
quando se attende á significação dos pronomes pessoaes.

155. Ha tres pessoas: a primeira denota quem falla;
71a segunda; o interlocutor; a terceira, o assumpto; ex.: «Creio
eu que tu não poderás cortar o pau: elle é duro».

156. Ha tres classes de pronomes pessoaes, a saber:
pronomes da primeira pessôa; pronomes da segunda pessôa;
pronomes da terceira pessôa
.

São:

da primeira) eu, nós;
da segunda) tu, vós;
da terceira) elle, elles;

157. O pronome adjectivo divide-se em demonstrativo,
distributivo, conjunctivo, possessivo
e indefinido.

O pronome adjectivo, como já se deu a entender na observação
final do capitulo antecedente, nada mais é do que o adjectivo determinativo
empregado na sentença sem substantivo claro. Todavia nesta
classe ha pronomes essenciaes que não são empregados como adjectivos,
isto é, que não podem ser construidos com substantivos. Taes são
demonstrativos isto, isso, aquillo;

Isto corresponde á primeira pessôa; isso, á segunda; aquillo,
á terceira.

conjunctivos que, quem, o que quer que, quem quer, quem quer
que
.

indefinidos al, algo, alguem, beltrano, fulano, homem, nada,
ninguem, outrem, sicrano, tudo
.

Observação n.° 1) Que nas phrases interrogativas e exclamativas
emprega-se tambem adjectivamente, ex.: «Que homem aquelle? — Que
mulher
!».

Observação n.° 2.) Sobre o uso de homem como pronome diz o sr.
Theophilo Braga:

«No Portuguez do século XV e XVI, e ainda hoje na linguagem
popular, encontra-se o substantivo homem usado como pronome indefinido.
El-rei D. Duarte, traduzindo o tratado De modo Confitendi» de
S. Thomaz de Aquino, traz: «Porém nom póde homem têr-se que alguma
cousa não diga
…» A phrase latina era: «Hæc tamen tacere non
valeo
». E’ ainda hoje popularissima na fórma de home, e no provincialismo
insulano «heme».

No Cancioneiro Geral, em Sá de Miranda e Ferreira, usa-se esta
72fórma pronominal tão peculiar hoje no Francez on, de om e de homme,
ex.: «Leixar homem liberdade (Cancioneiro Geral)Cuida homem
que bem escolheQue se não póde homem erguer (Sá de Miranda)».
No anexim popular «Home pobre uma vez á loja» a sua fórma indefinida
é «Quem é pobre vai uma vez á loja». Sobretudo nos anexins populares
é bastante frequente este facto: «Anda homem a trote para ganhar
capote
» por «Anda-se», etc. «Deita-se homem pelo chão para ganhar
gabão
». O substantivo gente tambem se emprega neste sentido,
sobre tudo no dialecto brazileiro: «Quando a gente está com gente.
Gente me deixe…». (1)55.

Grammaticos ha que consideram como pronomes os adjectivos
numeraes quando sós na oração (2)56.

V
Verbo

158. Verbo é uma palavra que enuncia, diz ou declara
alguma cousa. O verbo implica sempre uma asserção
ou predicação.

159. Divide-se o verbo em verbo intransitivo e verbo
transitivo.

160. Verbo intransitivo é o que enuncia um estado,
ou mesmo uma acção que não se exerce directamente sobre
um objecto.

161. Verbo transitivo é o que enuncia uma acção que
se exerce directamente sobre um objecto.

Esta classificação funda-se na natureza do predicado contido no
verbo.

O predicado apresenta-se ao nosso espirito:

1) como simples estado, como puro modo de ser (ίδιοπάθεια, status,
habitus
) de um objecto, ex.: «estarsentartombar
morrer». Chamam-se intransitivos os verbos que involvem
taes predicados. Assim, tombar é um verbo intransitivo porque
73a qualidade que notámos no objecto que é tombante (termo
ficticio) nos apparece como puro modo de ser desse objecto,
como simples mudança de logar que elle effectua de um
momento para, outro.

2) Como o estado de um objecto, como um modo de ser desse
objecto, que póde produzir, ou que produz realmente algum
effeito sobre outro objecto, ex.: «ferirquebraramar —
odiar
». Chamam-se transitivos estes verbos porque o objecto
a que elles se referem exerce uma acção que actua:sobre
outro objecto extranho, que passa para sobre elle.

Para que o estado de um objecto qualquer se nos appresente
como transitivo preciso é que involva idéia de movimento.
E ainda não basta. E’ tambem preciso que esse estado
se apresente, em virtude do movimento, como produzindo
um effeito qualquer sobre outro objecto, ou ao menos como
capaz de o produzir.

Assim, andar, tombar não são verbos transitivos porque as
ideias das qualidades andante, tombante que elles encerram
não representam o objecto de quo taes qualidades são predicadas,
como exercendo acção sobre outro. Ellas nol-o mostram
em simples estado de movimento.

Verdade é que se diz vulgarmente «a acção de andar, de
tombar
». Neste caso a palavra acção está tomada em sentido
lato, quiçá improprio, e não indica por fórma alguma que o
objecto que anda, tomba actue sobre objecto extranho.

Apezar de tudo tal classificação não é e nem pode ser absoluta:
muitos verbos empregam-se indifferentemente como intransitivos ou
como transitivos, e quási que não ha um só verbo transitivo em Portuguez
que se não possa empregar como intransitivo.

162. Os verbos transitivos podem estar na voz activa
e na voz passiva. Estão na voz activa quando a acção transitiva
que representam é exercida pelo sujeito da oração: estão
na voz passiva quando, pelo contrario, tal acção é exercida
sobre esse sujeito.

Os Estoicos chamaram ao verbo transitivo em voz activa — χατηγόρημα
όροόν
verbum rectum, verbo direito; ao verbo transitivo em voz passiva
deram o nome de ὒπιον— verbum supinum, verbo deitado de costas;
ao verbo intransitivo classificavam elles como — οὑδέτρον— verbum neutrum,
verbo que não era direito, nem deitado de costas
. Estas denominações
74foram tomadas, ao que parece, das attitudes diversas dos athletas
ao darem e receberem golpes (1)57.

163. O verbo chama-se mais

1) Auxiliar — quando empregado como elemento subsidiario
na formação

a) dos tempos compostos de todos os verbos.

b) de todos os tempos dosverbos passivos.

c) de todos os tempos dos verbos periphrasticos e
frequentativos.

Os verbos auxiliares são haver, ter e ser.

2) Regular — quando segue exactamente seu paradigma
de conjugação, ex.: «louvardefender».

3) Irregular — quando não segue exactamente seu paradigma
de conjugação, ex.: «darcaber».

4) Impessoal — quando em accepção própria não póde
ter por sujeito um nome de pessôa, ex.: «trovejar
acontecer».

5) Defectivo — quando não é empregado em todas as
fórmas, ex.: «federcolorir».

6) Periphrastico — quando ao seu infinito ligam-se por
meio da preposição de os tempos dos verbos haver
ou ter.

a) O verbo periphrastico formado com os tempos do
verbo haver chama-se promissivo, ex.: «Eu hei
de comprar
».

b) O verbo periphrastico formado com os tempos do
verbo ter chamá-se obrgativo, ex.: «Eu tenho de
comprar
».

7) Frequentativo — quando ao participio imperfeito
ajuntam-se tempos seus ou de outro verbo para denotar
75duração e progresso do estado de movimento
ou de actividade, marcado pelo seu predicado, ex.:
«Ir indovir vindoestar cahindoandar estudando».

8) Terminativo — quando o predicado n’elle contido
exige um termo indirecto de acção: dar, usar são
verbos terminativos porque os predicados dante
usante
(palavras ficticias) nelles contidos requerem
termos indirectos de acção, ex.: «Dar alguma cousa
a alguem
usar de alguma cousa».

São terminativos verbos intransitivos e transitivos.

9) Prodominal — quando por uso da lingua emprega-se
sempre com um pronome objectivo que representa
o sujeito, ex.: «Queixar-secondoer-se».

A distribuição da acção do verbo em reciproca,
reflexiva
, etc., está mais no dominio da logica do
que no da grammatica. Diz Garret (1)58:

«O verdadeiro systema de grammatica devera ser
o de simplificar, mas parece que acintemente não
tratam sinão de augmentar entidades e fazer difficultoso
o que é simples e facil, multiplicando termos
e categorias de divisões e subdivisões em cousas
que as não precisam. Que quer dizer, por exemplo,
verbo reciproco? E’ um verbo activo, nem
mais, nem menos, com um pronome no objectivo,
assim como podia ter um nome».

VI
Adverbio

164. Adverbio é uma palavra que qualifica um verbo,
um adjectivo ou um outro adverbio.76

Prisciano, grammatico latino do seculo VI definiu o adverbio
«Est pars orationis indeclinabilis, cujus significatio verbis adjicitur»;
Court de Gébelin (1)59 e outros grammatieos modernos (2)60 têm o mesmo
modo de entender, isto é, que o adverbio só modifica verbos. Chamam
ao adverbio adjectivo do verbo, e dão-lhe superlatividade em phrases
como «muito eloquentemente, pouco prudentemente». A opinião mais seguida
é que elle modifica adjectivos, verbos e outros adverbios.

165. Conforme a natureza da modificação que exprime,
divide-se o adverbio em adverbio

1) de tempoagora, ainda, amanhã, antes, cedo, hoje,
hontem, depois, já, jamais, logo, nunca, ora,
quando, sempre, tarde, então
.

2) de logaronde, aqui, ahi, alli, aquem, além, acima,
arriba, avante, cá, lá, acolá, fóra, dentro, algures,
alhures, nenhures, perto, longe, trás
.

Aqui é o adverbio de logar da primeira pessoa;
ahi, da segunda; alli, lá, acolá, etc, da terceira.

3) de ordemprimeiramente, ultimamente, depois.

4) de modobem, mal, assim, como, acintemente, e
a mór parte dos que se formam pela adjuncção da
terminação mente a um adjectivo.

5) de conclusão logicaconseguintemente, consequentemente.

6) de quantidademuito, pouco, assás, mais, menos,
tão, quão, tanto, quanto, como, quasi
.

7) de affirmaçãosim, verdadeiramente, effectivamente,
realmente, certamente
.

8) de negaçãonada, não, menos, nunca, jamais.

9) de duvidatalvez, acaso, quiçá.

10) de exclusãosó, somente, apenas, unicamente, siquer,
sinão
.

11) de designaçãoeis.77

166. Cháma-se locução adverbial umá Teunião !de palavras
que faz as vezes de um adverbio, éx. : «de baldeás direitas».

VII
Preposição

167. Preposição é uma palavra que liga um substantivo
ou um pronome a um ou outro substantivo ou a um outro
pronome, a um adjectivo, a um verbo, mostrando a relação
que ha entre elles.

168. As preposições portuguezas são: a, ante, após
(pos), até (té), com, contra, de, desde (des), em, entre, para,
per, por, sem, sob, sobre, trás
.

169. Abaixo, acerca, acima, afóra, além, antes,
aquem, á roda, ao redor, atrás, conforme, debaixo, de cima,
defronte, detrás, dentro, depois, diante, excepto, junto, longe,
perto, perante
, etc., são adverbios ou mesmo locuções prepositivas,
sem o serem realmente.

170. Póde-se juntar uma preposição a outra para modificar
a natureza da relação, ex.: «Por entrede sobre».

A este respeito diz Moraes: «Outras vezes o nome se offerece ao
nosso entendimento em duas relações: v. g. «a porta de sobre o muro»:
onde «muro» se offerece como possuidor da «porta», e como logar sobre
que ella estava» (1)61. E accresenta em nota: Os Hebreus tinham o
«mesmo uso. V. Oleastri, Hebraism. Canon 5 — Non auferetur sceptrum,
de Jehudah, et Scriba de interpedes ejus, donec veniat Siloh et ei obedientia
gentium
.— Os Latinos usaram o mesmo: v. g. — in ante diem;
in super rogos
; de sub; de super. — Nós dizemos — de entre muros; perante,
empós, após de
; desno tempo; desde, de des e deForam-me tirar
dos claustros e de sobre os livros (Vida do Arcebispo). De sob as
arvores (Menina e Moça)
; Mora a sobripas, etc.».78

171. Chama-se locução prepositiva uma reunião de
palavras que faz as vezes de uma preposição, ex.: «Em cima
de
a cavalleiro de».

VIII
Conjuncção

172. Conjuncção é uma palavra que liga sentenças
entre si, e que prende tambem entre si palavras usadas do
mesmo modo em uma sentença.

Burgraff (1)62 entende que a conjuncção só liga proposições e a
maioria dos exemplos em contrario explica-os elle por meio de ellipses:
na expressão «tres e seis são nove» opina o douto philologo que «e»
seja uma verdadeira preposição equivalente de «com».

173. Divide-se a conjuncção em conjuncção coordenativa
e conjuncção subordinativa.

174. Conjuncção coordenativa é a que liga entre si
asserções independentes umas de outras, ou que prende umas
com outras palavras usadas do mesmo modo em uma sentença.

175. A conjuncção coordenativa é

1) Copulativae, tambem, nem.
2) Continuativapois, ora, outrosim.
3) Explicativacomo.
4) Disjunctivaou, quer.
5) Adversativamas, porém, todavia.
6) Conclusivalogo, pois.

176. Conjuncção subordinativa é a que liga entre
si asserções dependentes umas de outras.

A conjuncção subordinatav nunca liga palavras entre si.79

177. A conjuncção subordinativa é

1) Condicionalsi.
2) Causalporque, como, que.
3) Concessivaembora, quer.
4) Temporalcomo, quando.
5) Integranteque, como, si.

Deve-se antes escrever si do que se: este modo de orthographar a
palavra, sobre ser mais conforme com a pronuncia, identifica o derivado
com a raiz latina. Em Francez e em Hespanhol adoptou-se si; em
Italiano, se.

A este respeito escreve Timotheo Lecussan Verdier (1)63: «Acerca
da conjuncção condicional si que hoje vertemos em se, observará o
leitor que em muitos logares deste poema ella se acha impressa si.
Seguimos este modo de a escrever, não só por ser mais etymologico
e adoptado em outras linguas que, como a nossa, derivam da latina;
mas tambem porque em manuscriptos e livros antigos portuguezes temos
encontrado esta condicional, escripta si e não se. Ainda mais, como
esta conjuncção si sempre precede e começa todo o inciso que a
pede, é indubitavel que nunca se pode equivocar com o pronome si
que sempre tem de ser precedido e accompanhado de alguma preposição
a si, de si, por si, após si, etc. Observará outrosim o leitor que
o pronome si, quando regido por verbo, muda-se em se, e que neste
caso muitas vezes precede o verbo; e, essencialmente, si o inciso é
condicional: ora, encontrando-se com a conjuncção si, si esta se escrever
e pronunciar se, e si o verbo que se segue começa pelas syllabas
se ou ce; o triplice sucessivo som de se será sem duvida sobejamente
desagradavel, por exemplo: Se se separa; se se segura; se se segue; se
se celebra
; se se semeia; se se ceifa; se se sega, se se ceia, etc. Observe
finalmente o leitor que, si a euphonia das linguas modernas pede
muitas vezes alguma alteração na prolação de palavras que nas linguas
de que são derivadas se pronunciam bem diversamente; em a
nossa, como a mais chegada de todas á latina, a mesma euphonia
pede tambem em alguns casos, e mórmente neste, que não desvairemos
da etymologia e da orthographia, e que evitemos tão ingratas cacophonias,
como a que fica apontada. As linguas hespanhola e franceza,
hoje mais distantes que a nossa da fonte latina de que ellas manam,
conservaram a orthographia e a pronuncia da condicional si; os nossos
80maiores assim a pronunciaram e escreveram; escrevamol-a, pois, e
pronunciemol-a como elles. Declaramos que sempre escreveremos
desta maneira, e que nos pesa de algumas, e não poucas, condicionaes
que ainda se acham nesta edição, impressas em se por haverem
escapado á nossa correcção».

178. Chama-se locução conjunctiva uma reunião de
palavras que faz as vezes de uma conjuncção, ex.: «logo que
— comtanto que
si bem que, etc.».

IX
Interjeição

179. Interjeição é um som articulado que exprime
um affecto subito, ou que imita um som inarticulado, ex.:
«Oh!disse o principe. Esta unica interjeição lhe fugia da
bocca
; mas que discurso houvera ahi, que a egualasse? Era
o rugido de prazer do tigre, no momento em que salta do fojo
sobre a preia descuidada
(A. Herculano). — Paf!… um
primeiro tiro. Paf!… um segundo tiro. Paf!… uma saraivada

(Anonymo)».

Os Gregos não consideraram a interjeição como verdadeira palavra,
por isso que é ella antes clamor instinctivo do que signal de idéia;
por conveniencia classificaram-na entre os adverbios; foram os grammaticos
latinos que lhe assignaram logar distincto entre as partes do
discurso. Scaligero, De Brosses, Destut Tracy e muitos outros grammaticos
celebres tiveram-na como a palavra por excellencia, como a parte
primitiva e principal do conjuncto de signaes que exprimem o pensamento.
Era justa a opinião dos mestres gregos: a interjeição não representa
idéia, não involve noção; é articulação instinctiva, é grito animal,
não é palavra (1)64.

180. As inteijeições exprimem

1) a dôr — ai! ui!
2) o prazer — ah! oh!
813) o allivio — ah! eh!
4) o desejo — oh! oxalá!
5) a animação — aia! sus!
6) o applauso — bem! bravo!
7) imposição de silencio — chiton! psio! caluda!
8) a aversão — ih! chi!
9) o appello — ó! olá! psit! psiu!
10) a impaciencia — irra! apre!

Ha interjeições onomatopaicas, isto é, que imitam
ruidos, ex.: «Zaz!truz!».

Ha ainda uma interjeição de duvida muito usada em Portugal e
quasi desconhecida no Brazil; é ágora. Diz-se, por exemplo «Pedro está
rico
». Responde o interlocutor para mostrar a duvida no mais alto
ponto: Agora está» O tom em que se pronuncia esta interjeição é especialissimo.

181. Chama-se locução interjectiva qualquer reunião
de palavras empregada exclamativamente, ex.: «Pobre de
mim!
Que gosto!».

Secção segunda
Kampenomia ou ptoseonomia

182. Kampenomia ou Ptoseonomia é o conjuncto das
leis que presidem á flexão das palavras:

183. Flexão é a mudança que exprimenta a palavra
variavel para representar as diversas gradações da idéia.

184. Distinguem-se na palavra variavel dous elementos
principaes: o thema e a terminação.

1) Thema é, o elemento da palavra, que indica em generalidade
a idéia, que ella é chamada a representar.82

2) Terminação é o elemento da palavra, que restringe
de um ou de outro modo a idéia indicada pelo
thema. Em, ingestão, ingesto, ingest é o thema, e ão,
o
são terminações, o thema chama-se, tambem. radical;
e a terminação desinencia.

Ha differença entre thema e raiz: raiz é o elemento primo da palavra,
o som que encerra a idéia matriz, conservada pura através das
migrações etymologicas. Em ingerir a terminação é ir; o thema inger;
a raiz ger:

in é o que se chama um prefixo. A’s vezes é o, thema constituido
pela raiz em sua pureza, ex.: de gerir ger; ás vezes
é elle formado pela raiz modificada por um prefixo, ex.: de
ingerir inger (ger+in); ás vezes altera-se a raiz para construil-o,
ex.: de saber, saiba, insipiencia themas sáb, saib, insip;
raizes alteradas sab, saib, sip; raiz primitiva sap.

185. São palavras sujeitas á flexão o nome e o verbo.

O adverbio marca a transição das palavras variaveis para as invariaveis:
com effeito é elle como que um adjectivo ankylosado; e, si,
rigorosamente fallando, não recebe flexão, modifica-se todavia para exprimir
grau de comparação, ex.: «lindamente, lindissimamente».

186. Ha flexão nominal e flexão verbal; themas e
terminações, nominaes, e themas e terminações verbaes
.

O thema é o desenvolvimento da raiz primitiva (monosyllabica
sempre nas linguas indo-germanicas): modifica-se, ou converte-se elle
em substantivo ou em adjectivo si a flexão é nominal, e em verbo si
ella é verbal.

187. Flexão nominal é a união das terminações nominaes
com o thema.

188. Por meio da flexão nominal representa-se o genero,
o numero e o grau de significação.

189. Genero é a distincção flexional dos nomes em relação
aos sexos das cousas por elles significadas ou modificadas.83

A expressão nome comprehende tanto o substantivo como o adjectivo.

190. As palavras que representam cousas que não
tem sexo assumem genero na maioria dos casos; por analogia
de flexão.

191. Ha em Portuguez dous generos: o masculino e
o feminino.

192. Numero é a distincção flexional dos nomes em
relação ao facto de representarem ou de modificarem elles
uma só cousa ou mais de uma cousa.

193. Ha em Portuguez dous números: o singular e o
plural.

1) Um nome que representa ou que modifica uma só
cousa está no singular, ex.: «navio espaçoso, vela
branca
».

2) Um nome que representa ou que modifica mais
de uma cousa está no plural, ex.: «navios espaçosos,
velas brancas
».

194. Grau

1) em relação ao substantivo, é a faculdade de poder
elle representar uma cousa ou em estado normal,
ou augmentada, ou diminuida.

2) em relação ao adjectivo, é a faculdade de poder
elle qualificar o substantivo

a) sem comparal-o com outro,

b) comparando-o com outro,

c) exaltando-o pela comparação acima de todos os
individuos da especie representada pelo substantivo,

d) exaltando-o em absoluto.

195. Ha em Portuguez tres graus de significação para
o substantivo normal, augmentativo, diminutivo, e tres tambem
para o adjectivo: positivo, comparativo e superlativo.84

196. Flexão verbal é a união das terminações e desinencias
nominaes com o thema.

Relativamente ao verbo deve haver differença entre terminação e
desinencia. Em rigor, terminação é o elemento do verbo que restringe
a significação do thema verbal em relação ao modo e ao tempo, e desinencia
é o elemento que restringe esse mesmo tempo em relação ao
numero e pessôa. Praticamente, mesmo em referencia ao verbo, na
palavra terminação comprehendem-se terminação e desinencia.

197. Por meio da flexão verbal representa-se o modo,
o tempo, o numero e a pessoa do verbo.

198. Modo é a fórma que o verbo assume para qualificar
a sua enunciação.

199. Ha em portuguez quatro modos: o indicativo, o
condicional, o imperativo e o subjuntivo.

200. A enunciação do verbo é representada

1) pelo indicativo como real,

2) pelo condicional como dependente de uma condição,

3) pelo imperativo como exigida por uma ordem, por
uma manifestação de vontade,

4) pelo subjunctivo como contingente.

201. O infinito e o participio são antes fórmas nominaes
do verbo do que modos: o infinito representa o substantivo;
o participio, o adjectivo.

A este respeito diz o grande philologo indianista, snr. Miguel
Bréal (1)65: «Ha erros mais graves que se deveriam expungir dos livros
de estudos: esses erros imbuem no espirito de nossos meninos idéias
que prejudicam mais tarde a intelligencia da syntaxe.

Nada é mais simples que a noção do modo, si limitamo-nos ao
indicativo, ao imperativo e ao subjunctivo. O modo, diremos nós ao
menino, muda conforme a maneira porque se appresenta a proposição.
Si nos contentarmos com expôr ou ennunciar um facto, empregaremos
o indicativo. Si quizermos dar uma ordem, será o imperativo. O subjunctivo
85serve para exprimir uma acção que é considerada como possivel
ou como desejável. Obscurecemos, porém, a idéia de modo desde
que a estendemos ás fórmas impessoaes, como são o infinito, o supino (1)66,
os participios. Realmente elles não são modos, mas sim formações
de uma natureza á parte, a que é preciso dar um outro nome.

Com effeito, o que kharacterisa o verbo é que elle por si só póde
representar uma proposição, como o vemos em phrases taes como
audio, pergite, taceat. Para empregar a linguagem da logica, o sujeito
nestas proposições é representado pela desinencia, o predicado pela
raiz ou thema: quanto á copula que os reune, é ella supprida por nossa
intelligencia. Mas dá-se cousa inteiramente diversa com fórmas como
legere, amans, monitu: por si próprias ellas não apresentam sentido
completo, porquanto nestas palavras nosso espirito concebe de maneira
diversa a relação entre a flexão e o radical. A copula interior não é
subentendida, de modo que não ha proposição. Legere, amam, monitus
são na realidade formações nominaes. Tocamos aqui na differença
essencial que ha entre verbo e nome. Todas as outras noções que o
verbo serve ainda para notar são accessorias, O tempo, a voz, a pessôa,
o numero, a força transitiva, são de importancia secundaria, e
vêm de certa meneira por accrescimo. Já se deixa ver que confusão
introduz-se no espirito das crianças quando reunem-se sob a mesma
designação do modo fórmas verbaes como venite, lege, eamus, e formações
nominaes como audire, legendi, lusum».

O snr. Adolpho Coelho (2)67 tambem considera o infinito e o participio fórmas
nominaes do verbo.

O infinito Portuguez tem a peculiaridade de ser sujeito a flexão
pessoal e numérica.

202. Tempo do verbo é a forma que elle assume para
determinar a epokha do seu enunciado.

203. As epokhas são tres: presente, passado e futuro.

204. Para determinar as varias gradações de anterioridade
e de posterioridade das tres epokhas nos diversos modos
86e fórmas nominaes tem o verbo portuguez vinte e quatro
tempos, como se póde ver deste quadro

tableau Indicativo | Imperativo | Condicional | Subjunctivo | Infinitivo | Participio | Presente | Imperfeito | Perfeito | Aoristo | Plusquam perfeito | Futuro | Gerundio

(1)68 (2)69

205. Em geral

1) O presente indica a actualidade daquillo que o verbo
enuncia, ex.: «Pedro é imperador»,

2) o imperfeito indica a actualidade, em relação a uma
épokha passada, daquillo que o verbo enuncia, ex.:
«Em 1798 era Washington presidente dos Estados
Unidos. — Eu estava almoçando quando elle chegou».

3) o perfeito indica a reiteração preterita do enunciado
do verbo, ex.: «temos estado em Paris quatro
vezes
. — O ministério tem sido muito guerreado.».87

Tem escapado a todos os grammaticos esta feição kharacteristica
do perfeito portuguez — a reiteração do enunciado do verbo em um tempo
passado. Com effeito, a distincção entre tempo inteiramente decorrido e
tempo que ainda perdura nada faz em relação ao emprego exacto de
aoristo e do perfeito. O aoristo, como se vai ver, enuncia indeterminadamente
uma cousa passada: o perfeito declara que essa cousa foi repetida.
E’ intuitivo pelo simples confronto destas phrases:

Comi laranjasTenho comido laranjas.
Estive em Roma... Tenho estado em.Roma.

4) O aoristo indica em absoluto a preteritividade do
enunciado do verbo, ex.: «Pedro morreu. — Perdeu-se
o navio

5) o plusquamperfeito indica a preteritividade do enunciado
do verbo com referencia de anterioridade a uma
épokha passada, ex.: «Quando chegou Blucher a Waterloo
já as tropas francezas
tinham perdido a esperança
da victoria
».

6) o futuro indica simples futuridade do enunciado do
verbo, ex.: «Paulo será ministro».

7) O futuro anterior indica a futuridade do enunciado
do verbo com anterioridade a uma circumstancia qualquer,
ex.: «Pedro já terá sido acclamado quando
chegarem as tropas
».

206. Os tempos são simples ou compostos: simples
são os que se formam pela adjuncção da terminação e da desinencia
ao thema; compostos são os que se formam pela adjuncção
dos tempos dos verbos auxiliares ao participio aoristo.

207. Numero do verbo é a fórma que o verbo assume
para indicar a unidade ou a pluralidade do sujeito.

208. Sujeito é aquella cousa a cujo respeito se faz o
enunciado do verbo.

209. Pessoa do verbo é a fórma que o verbo assume
para indicar que seu enunciado se faz em relação a quem falla,
ao interlocutor de quem falla, ou a respeito de terceiro.88

210. Conjugar um verbo é fazel-o passar por todas
as suas flexões.

I
Substantivo

§ 1.°
Genero

211. O genero do substantivo é determinado pela significação
do thema ou pela flexão.

A flexão nominal, perfeita relativamente ao numero e ao grau, é
deficiente no que diz respeito ao genero: na mór parte dos casos ha necessidade
de pedir ao thema a significação do substantivo para determinar-se
o genero a que elle pertence. Em geral póde-se dizer que as
regras tiradas da desinencia para determinar o genero de um substantivo
estão sempre subordinadas ás que se tiram da significação do
thema.

212. São masculinos em virtude da significação do
thema

1) os substantivos que significam macho, quer sejam
appellativos, quer sejam proprios, ex.: «Homem
cavalloCaligulaIncitatus».

2) os nomes proprios de anjos, demonios, deuses, semideuses,
e outras creações anthropomorphicas a que
se attribue o sexo masculino ex.: «AzraelSatanaz
JupiterHercules».

3) Os nomes proprios de ventos, ex.: «BoreasZephyro».

4) os nomes proprios de montes, ex.: «Himalaya
OssaPelion».

5) os nomes proprios de rios, ex.: «LimaParahyba
Sena».89

6) os nomes proprios de mares, ex.: «BalticoCaspio».

7) os nomes proprios de mezes, ex.: «JaneiroAbril».

8) os nomes das lettras do alphabeto, os dos algarismos
e os das notas musicaes, ex.: «o J; — o R; — o
4; — o 5;— o ; — o ».

9) os infinitos dos verbos e quaesquer palavras, phrases
ou sentenças empregadas como substantivos, ex.:
«O dar; — o partir; — o bom; — o sim; — o «não posso».
do rei».

213. São femininos em virtude da significação do
thema

1) os substantivos que significam femea, quer sejam
appellativos, quer sejam proprios, ex.: «Mulher
leôaDidoEstricte (cadella de Acteon)».

2) os nomes proprios de deusas, nymphas e outras divindades
e personificações allegoricas, a que se attribue
o sexo feminino, ex.: «JunoEukharisClotho
— Tisiphone
Discordia, etc.».

3) os nomes proprios de cidades, villas e aldeias, ex.:
BysancioTrancosoSaint Nasaire.

Os nomes proprios que foram primitivamente appellativos
têm o genero que indica a sua desinencia, ex.: «O Porto — a
Bahia».

4) os substantivos que designam cousas abstractas, ex.:
«Pallidezsaudesuperficie».

5) os nomes dos dias da semana, ex.: «Segunda-feira
Sexta-feira». Exceptuam-se Sabbado e Domingo que
são masculinos.

214. Os substantivos que têm uma só fórma para designar
ambos os sexos chamam-se communs de dous,
ex.: «Artificecônjugeguia».

A estes se podem juntar os nomes proprios de familia, ex.: «O
sr. Peixoto
a sr.ª Peixotoo sr. Mirandaa sr.ª Miranda».90

215. Os nomes que sob um só genero indicam tanto
o sexo feminino como o masculino chamam-se epicenos, ex.:
«JacuLeopardoTigre».

Em relação ao genero regem-se este nomes pelas desinencias; para,
distincção dos sexos aggregam-se-lhes as palavras macho e femea, ex.:
«O jacu femeaa onça macho». Macho e femea são usados como adjectivos
de dous generos, si bem que encontrem-se nos escriptos classicos
portuguezes as variações macha e femeo.

216. São masculinos em virtude da desinencia os substantivos
terminados.

1) por á, e, é, i, o, ó, u, y, ex.: «Alvarábaldecafé
— javali
livrocipóavôperujaboty».

Exceptuam-se os acabados

a) por á.

b) por eArvore, ave, carne, cidade, couve, fonte,
lebre, parede, parte, planicie, ponte, rede, sebe, sede, serpente,
torre, vide, chave
, e todos os substantivos abstractos (que
são numerosos), ex.: «sêde, tolice, virtude».

c) por éChaminé, fé, galé, libré, maré, polé, ralé,
ré, sé
.

d) por óEiró, enxó, filhó, ilhó, mó, teiró.

e) por uTribu.

f) por yJuruty.

2) por au, eo, eu, ex.: «Pauchapéobreu».

Exceptuam-se dos acabados em auNau.

3) por ak, ex.: «Almanak».

4) por al, el, il, ol, ul, ex.: «Pinhalmarnelbarril
— lençol
paul».

Exceptuam-se dos acabados em alcal e varios adjectivos
substantivados, ex.: «Capitalmoral».

5) por em, im, om, um, ex.: «Armazem marfim
— trom
jejum».

Exceptuam-se dos acabados por emordem, nuvem,
e bem assim aquelles cuja terminação em é modificada
91por g, ex.: «vertigem». Ádem é masculino
no singular e feminino no plural.

6) por an, en, on, ex.: «Imanhyphencolon».

7) por ar, er, ir, or, ur, ex.: «Altartalhernadir
— valor
e — atur».

Exceptuam, se dos acabados

a) em erColher.

b) em orCor, dor, flor.

8) por is, us, ex.: «Lapisvirus».

Exceptuam-se dos acabados em isbilis, cutis, phenis.

9) por az, ez, iz, oz, uz, ex.: «Matrazrevezmatiz
— cadoz
capuz ».

Exceptuam-se dos acabados

a) em azPaz, tenaz.

b) em ezrez, tez, torquez, vez.

c) em izaboiz, cerviz, cicatriz, matriz, raiz, sobrepeliz,
variz
.

d) em ozFoz, noz, pioz, voz.

e) em uzCruz, luz.

10) por ão ex.: «Coração».

As excepções a esta regra são muito numerosas: em geral póde-se
dizer que são femininos os substantivos derivados do adjectivos e de
verbos, ex.: «Aptidãomultidãotransformaçãovariação». Todos os
augmentativos em ão são masculinos.

217. São femininos em virtude da desinencia os substantivos
terminados

1) por a, ex.: «Casacunha».

Exceptuam-se alpaca, cabreuva, kholera (doença),
phoca, mappa, pampas, tapa, vicunha, lhama, chinchilla
92e os derivados do, Grego terminados em ma e
ta, ex.: «Clima, cometa».

Asthma, cataplasma e khrisma são femininos.

Schisma (cisma melhor orthographia, segundo a pronuncia fixada
pelo uso) é masculino e feminino.

Cometa, estratagema, planeta e alguns outros foram outrora femininos
em Portuguez: explicá-se assim a destemperada syllepse de
genero que os grammaticos querem á fina força metter na conta a Camões:

«Mas já a planeta que no céo primeiro
Habita cinco vezes apressada
Agora meio rosto, agora inteiro
Mostrára emquanto o mar cortava a armada» (1)70.

A famigerada figura teve de certo origem em um erro typographico
da edição princeps dos Lusiadas, reproduzido nas edições subsequentes.

2) por ã, ê, ex.: «mercê».

Exceptuam-se dos acabados em ãcaftã, talismã.

218. Converte-se um substantivo que representa individuo
do sexo masculino em outro que representa individuo
do sexo feminino

1) mudando a desinencia

a) o em a, ex.: «Filho, filhagato, gata».

b) ão em ôa, ex.: «Furão, furóaleão, leôa».

c) ão em ona nos augmentativos, ex.: «Sabichão, sabichona».

2) ajuntando a aos vocabulos terminados pela voz livre
u ou por qualquer modificação, ex.: «peru, perúa;
defensor, defensora; juiz, juiza; marechal, marechala».

Estes substantivos, ou antes, adjectivos substantivados,
93tiveram outrora uma só terminação para ambos
os generos, ex.: «D’averdes donas por entendedores».
(Cancioneiro da Vaticana, n.° 786)

«Eu sou má ledor de lettra tirada».
Jorge Ferreira, Eufrozina.

219. Os adjectivos substantivados que terminam em
a e e não mudam, ex.: «Persa, Arabe».

220. São irregulares

Abbade feminino abbadessa | frei feminino soror
actoractriz | gallogallinha
allemãoallemã | gamocorça
alcaidealcaideza | genronora
anãoanã | heróeheroina
autocrataautocratriz | hospedehospeda
anciãoanciã | homemmulher
avôavó | ilhéoilhôa
barão
baroneza | imperadorimperatriz e imperadora (Gil Vicente)
bodecabra
boi, tourovacca
cãocadella
carneiroovelha | infanteinfanta
catalão, – catalã | irmãoirmã
cavalloegua | judeujudia
cervocorça | khristãokhristã
cidadãocidadã | ladrãoladra
coimbrãocoimbrã | machofemea
compadrecomadre | meiãomeiã
condecondessa | mestremestra
diáconodiaconiza | mongemonja
domdona | mulo ou machomula ou besta
duqueduqueza | padrastomadrasta
elephanteelephanta | padremadre
embaixadorembaixatriz | padrinhomadrinha
escrivãoescrivã | paemãe
filhotefilhota | pagãopagã
folgazãofolgazona | papapapiza
fradefreira | pardalpardoca
94parente feminino parenta | réo feminino
perdigãoperdiz | sacerdotesacerdotiza
peruperua | sakhristãosakhristã
poetapoetiza | sandeusandia
principeprinceza. | sultãosultana
priorprioreza | vão
prophetaprophetiza | villãovillã
rapazrapariga | viscondeviscondessa
reirainha | zangamabelha

221. 1) Alguns substantivos que significam cousas
que não têm sexo admittem flexão de genero, e no feminino
indicam quasi sempre augmento de volume ou de capacidade
no sentido da largura. Taes são

Bacio — feminino bacia | jarro feminino jarra
bagobaga | poçopoça
barcobarca | regueiroregueira
buracoburaca | rioria
caldeirocaldeira | saccosaccá
canecocaneca | sapatosapata
cantharocanthara | taleigotaleiga
cestocesta | vallovalla
fossofossa | chindlochinella
hortohorta | chuçochuça

2) Com alguns substantivos o masculino exprime idéia
de unidade, e o feminino tem sentido collectivo, ex.:

fructo feminino fructa
gritogrita
lenholenha
madeiromadeira
marujomaruja
ramorama

3) Muitos substantivos masculinos têm com outros femininos
identidade morphica e etymologica, divergindo
95completamente na significação, ex.: «porto e
porta».

4) Muitissimos substantivos masculinos têm com outros
femininos similhança morphica, sem que sejam congeneres,
nem por significação, nem por etymologia,
ex.:

masculinos | femininos
aro, argola | ara, altar
banho, ablução | banha, gordura
caso, successo | casa, morada
fito, alvo | fita, tira de seda
medo, pavor | lima, utensilio
limo, lodo | méda, montão de feixes
prato, vaso | prata, metal
queixo, maxilla | queixa, lamento
sino, campa | sina, sorte
tropa, récua, exercito | tropo, termo rhetorico.

5) Os seguintes substantivos são indifferentemente masculinos
ou femininos: «aneurisma, apostema, espia,
guia, personagem, sentinella
».

§ 2.°
Numero

222. O numero dos substantivos é indicado pela flexão.

Exceptuam-se os substantivos cujo singular termina por s,
os quaes conservam-se invariaveis, ex.: «O alferes, os alferes
o ourives, os ourives». Todavia ainda n’este caso usavam os
antigos escriptores da flexão, escrevendo alfereses, ouriveses.
Deus ainda faz deuses, e simples, no sentido de «ingrediente»,
faz simplices.96

223. A flexão nominal numeral consiste na addição
da desinencia s ao singular dos nomes.

224. Recebem a flexão numeral sem soffrer mais modificações
os substantivos terminados

1) por voz livre pura, ex.: «Filha, filhasalvará, alvarás
rede, redesgalé, galésnebri, nebrislivro,
livros
cipó, cipóstribu, tribusjacu, jacus
tilbury, tilburystupy, tupys».

2) por ã, ex.: «Galã, galãs».

Exceptua-se ademã que faz ademães ou ademanes.

3) por am, ex.: «Orgam, orgams».

4) por n, ex.: «Iman, imans, — regimen, regimens
colon, colons».

Exceptua-se canon que faz «canones».

5) por k, ex.: «Almanak, almanaks».

225. Soffrem modificações para receber a flexão numeral
todos os não comprehendidos nas especificações acima.

226. As modificações que experimentam os substantivos
para receber a flexão numeral consistem na inserção, na
troca e na queda de sons, e, conseguintemente, de lettras.

227. Os substantivos terminados

1) por r ou z inserem um e, ex.: «Mar, maresmatiz
matizes
».

2) por al, ol, ul deixam cair l e inserem e, ex.: «Capital,
capitaes
lençol, lençoespaul, paues».

Exceptuam-se cal, mal, real (moeda hespanhola)
e consul que fazem cales, males, reales e consules.
Real (moeda portugueza e brazileira) faz réis.

3) por el deixam cair o l, e inserem i, ex.: «Painel,
paineis
».

4) por il (paroxytono) deixam cair o l, e inserem e antes
de i, ex.: «Fossil, fosseis».

5) por il (oxytono) deixam somenté cair o l, ex.: «Reptil,
Reptis
».97

6) por em, im, om, um trocam o m por n, ex.: «Margem,
margens
fim, finstom, tonsatum, atuns».

7) por x trocam o x por ce, ex.: «Calix, cálices».

8) por ão trocam ão por õe, ex.: «Coração, corações».

Exceptuam-se d’estes

a) os que recebem a flexão sem soffrer mais modificações.

São

Alão | irmão
aldeião | loução
ancião | mão
anão | meião
castellão | pagão
cidadão | soldão
coimbrão | vão
comarcão | villão
cortezão | vulcão
kristão | chão
grão

Alão faz tambem no plural alães e alões
aldeião – – – – aldeães e aldeões
ancião – – – – anciães e anciões
cortezão – – – – cortezões
soldão – – – – soldães
villão – – – – villães e villões
vulcão – – – – vulcães e vulcões

b) os que para receber a flexão trocam ão por ãe.
São

Allemão | phaisão
capellão | guardião
98capitão | guião
catalão | massapão
cão | pão
deão | sakhristão
ermitão | tabellião
escrivão | truão
folião | charlatão

Folião faz tambem no plural foliões
phaisão – – – – phaisões
guardião – – – – guardiões
guião – – – – guiões
sakhristão – – – – sakhristãos
charlatão – – – – charlatões.

227. O plural dos substantivos compostos subordina-se
ás seguintes regras:

1) Os substantivos compostos formados por dous substantivos
ou por um substantivo e um adjectivo recebem
a flexão numeral em ambos os elementos
quando é uso escreverem-se esses elementos separados
por hyphen, ex.: «Couve-flor, couves-flores
pedreiro-livre, pedreiros-livres».

Exceptuam-se os que por uso escrevem em uma
palavra só, sem discriminarem-se os elementos componentes,
ex.: «Lengalengamadreperolamadre-silva
pontapévarapauaguardentecantochão
logartenenterapadura», que fazem «Lengalengas,
varapaus, aguardentes, rapaduras
, etc.». «Padre-nosso».
faz indeiferentemente «padre-nossos». e
«padres-nossos».

Precedendo o adjectivo na composição, o substantivo
composto recebe a flexão numeral sómente
no ultimo elemento, ex.: «recta-guarda, recta-guardas,
99vangloria, vanglorias». Gentil-homem faz no
plural gentis-homens.

Recebem tambem uma flexão numeral em ambos
os elementos os nomes dos dias da semana, ex.:
Segunda-feira, terça-feira que fazem segundas-feiras,
terças-feiras
. Meio dia, Norte-Sul, verde-mar,
verde-montanha, verde Paris
, não se usam no plural.

Grandalmirante, grão-cruz, grão-mestre, grandofficial,
grand-Opera
fazem no plural grandalmirantes,
grão cruzes, grão-mestres, grandofficiaes, grand-operas
(1)71.

2) os substantivos compostos formados por um verbo
e um substantivo recebem flexão sómente no substantivo,
ex.: «Tirapésguarda-chuvas».

3) Os substantivos compostos formados por um adverbio
e um adjectivo ou por uma preposição e um
substantivo recebem flexão sómente no substantivo,
ou no adjectivo ex.: «Sub-chefe, sempre-vivas».

4) Os substantivos compostos formados por dous substantivos
ligados por preposição recebem a flexão sómente
no primeiro substantivo ex.: «Cabos-de esquadra».

Si o segundo elemento já está com flexão numérica
pedida pelo sentido, é claro que ella deve ser
conservada, ex.: «Um mestre de meninos, dous
mestres de meninos
».

5) Os substantivos compostos formados por dous verbos
recebem a flexão em ambos, ex.: «Luzes-luzes
rugesruges».

Exceptuam-se ganha-perde e leva-traz que não
admittem flexão numérica.100

A palavra «vaivem» fórma o seu plural de dous
modos: no sentido proprio faz «vaivens», ex.: «Dar
vaivens á porta
»; no sentido figurado faz «vaisvens»,
ex.: «Os vais-vens da sorte».

6) Os substantivos compostos formados por um verbo
e um adverbio não recebem flexão numérica, ex.:
«Uma sucia de mija-mansinho».

7) Os substantivos compostos formados por tres palavras
diversas recebem flexão sómente no ultimo elemento,
ex.: «Mal-me-queres».

229. Muitos substantivos empregam-se mais geralmente
no plural; são:

1) «algemas, alviçaras, arredores, ambages, andas,
calendas, caricias, ervilhas, cãs, cócegas, confins,
damas
, (jogo), escovens, esgares, esponsaes, exequiás,
fastos, fauces, ferias, fezes, grelhas, idus,
lampas, laudes, lemures, matinas, manes, migas,
nonas, ovens, papas, .pareas, preces, primicias, refens,
semeas, sevicias, syrtes, suissas, tremoços,
trevas, victualhas, viveres
e os nomes dos naipes:
copas, espadas, ouros, paus
».

2) os nomes de cousas pares, ex.: «bofes, bragas, calças,
ceroulas, tesouras, ventas
, etc.».

Todavia diz-se grelha, treva, refem, calça, ceroula, tesoura, etc.;
e até com alguns como calça, ceroula, tesoura vai prevalecendo o uso
do singular.

230. Não são habitualmente usados no. plural

1) os nomes proprios, ex.: Pedro, Tito.

Exceptua-se um caso: quando são elles tomados
figuradamente para significar individuos da mesma
classe, como os Virgilios, os Homeros, os Cesares, os
Alexandres
, etc., isto é, os poetas celebres como
Virgilio e Homero, os grandes generaes como Cesar,
etc.101

2) Os nomes de sciencias e artes, tomadas individualmente ;
ex.: «a theologia, a philosophia, a esculptura,
a pintura
, etc.»;

Exceptua-se o caso de serem taes nomes tomados
como nomes de doutrinas scientificas, de obras de
arte ex.: «as philosophias dos deistas — as esculpturas
de Miguel Angelo — as pinturas de Raphael».

3) Os nomes de qualidades habituaes e os de necessidades
e moléstias de organismo, ex.: «a fé, a esperança,
e a caridade, a fome, a sede, a febre
,» menos
quando são tomadas pelos actos e effeitos d’ellas,
ex.: «duas fés e crençasDeus aborrece avarezas,
isto é, os actos viciosos da avareza; passei formes e
sedes
; reinam febres paludosas».

4) Os nomes de metaes ou substancias elementares
inorganicas, ex.: «ouro, prata, cobre, hydrogenio,
azote, carbone
, etc.»; excepto si quizermos significar
peças, artefactos, porções ou especies, accidentalmente
differentes, como «estar a ferrosmuitas
pratas
aguais mineraesaguas thermaes, etc»;

5) Os nomes de produetos animaes ou vegetaes, ex.:
«leitemelceracanellaseda, etc.»;

Todavia diz-se: «andar a leites; os méis do Brazil; as sedas de Lyão,
etc.».

6) Os nomes de ventos; etc.: «nortesul, etc.»; todavia,
cursando dias e temporadas, é costume dizer:

«Entraram-lhe os suestes, os nordestes, as brisascursavam.
os levantes
, etc.»;

As vezes o singular emprega-se pelo plural, ex.: «Já tem visto muito
janeiro
Sempre diz muita mentiraTenho lá estado muita vezEsta
moça tem lindo cabello
».102

§ 3.°
Grau

231. A flexão nominal gradual consiste na addição
de desinencias augmentativas ou diminutivas aos nomes em
grau normal.

232. São desinencias augmentativas principaes ão,
aço, az, azio, alha, orio e astro
(de uso litterario este ultimo).

233. Para formar o augmentativo

1) Os nomes terminados em voz livre pura deixam cahir
a vogal que a representa, e assumem uma das
desinencias acima ex.:

de macaco | macacão
mestre | mestraço
velhaco | velhacaz
copo | copazio
muro | muralha
fino | finorio
poeta | poetastro

2) Os nomes terminados por voz modificada, isto é,
por lettra alterante, recebem as duas primeiras desinencias
acima sem mais modificações, ex.:

de mulher | mulherão
monsenhor | monsenhoraço

A desinencia orio só se adapta a nomes terminados
por voz livre.

São muitos os augmentativos idiomáticos que se
não sujeitam a regras e a classificações regulares,
ex.: «Amigalhão, bebarraz, bebarro, beberrão, boqueirão,
cabeçorra, casarão, corpanzil, canzarrão,
doudarrão, espadagão, fatacaz, fradalhão, fradegão,
103gatarrão, homemsarrão, ladravaz, linguaraz, machacaz,
moçalhão, narigão, porcalhão, rapagão, sabichão,
santarrão, toleirão, velhacas, velhão, velhancão
».

Ha ainda beijoca de beijo, moçoila de moça, naviarra
de nau.

234. O augmentativo exprime-se tambem pela adjuncção
do adjectivo «forte», ex.: forte admiração, forte maroto,
forte tolo
. Taes phrases são sempre exclamativas.

235. Alguns substantivos ha formados pela adjuncção
de desinencias augmentativas a themas verbaes e não a outros
substantivos, ex.: estirão, fujão, chorão, e o irregular comilão.

236. São desinencias diminutivas principaes inho, ito.

237. Para formar o diminutivo

1) Todos os nomes barytonos terminados por voz livre
pura deixam cair a vogal que a reprensenta, e assumem
uma das desinencias acima ex.:

de gato | gatinho
moça | mocita

2) Todos os nomes terminados por voz livre nasal ou
por diphtongo, bem como os oxitonos terminados por
voz livre pura, inserem um z para se encorparem a
desinencia, ex.:

de irmã | irmãzinha
pagem | pagemsinho
marfim | marfimsinho
som | somzinho
jejum | jejunzinho
pae | paesinho
boi | boisinho
ladrão | ladrãosinho104

3) Os nomes acabados por voz modificada, isto é, por
lettra alterante, recebem as desinencias sem mais
modificação, ex.:

de colher | colherinha
nariz | narizinho

Todavia diz-se Gabrielsinho, Manuelsinho, e tambem colhersinha,
mulhersinha
.

238. São desinencias dimiautivas secundarias ejo, el,
ello, ete, .eto, elho, ico, im, ilho, isco, ola, olo, ote, oto
; ex.:

de logar | logarejo
corda | cordel
porta | portello
jogo | joguete
coro | coreto
folha | folhelho
abano | abanico
espada | espadim
brocado | brocadilho
pedra | pedrisco
rapaz | rapazola
bolinho | bolinholo
velho | velhote
perdigão, pico | perdigoto, picoto.

A flexão com estas desinencias rege-se pelas mesmas leis por que
se governa a que foi feita com as principaes. A desinencia olo ajunta-se
as mais das vezes a diminutivos em inho, ex.: «de bolinhobolinholo».105

239. São diminutivos irregulares

de aguia aguilucho de monte montezinho
ave avesinha | – mulher mulherinha
camara camarazinha | – parte partezinha
cão canito | – povo populacho
diabo diabrete | – rapaz rapagote
fonte fontezinha | – rio riacho
frango franganito | – verão veranico
grão granito | – velho velhusco
lobo lobato e lobacho | – vulgo vulgacho
moça moçazinha

240. Ha ainda

1) um diminutivo em ebrecasebre.

2) diminutivos familiares, ex.: «de pae, papae, — de
thio, titio, de senhor, sôr, sô e até seu — de senhora,
sõra, sia
(Minas) nha (S. Paulo) — de soror, sôr».

3) diminutivos eruditos em culo, olo, ulo, ex.: «Corpusculo
— homunculo
capreolo-nucleologlobulo
— granulo
».

4) diminutivos caseiros e irregulares (alguns) de nomes
proprios, ex.:

de João Joãosinho
Pedro Pedrinho
Anna Nicota
Francisco Chico, Chiquinho, etc.
José Juca, Juquinha, etc.
Luiz Lulú
Maria Maricás, Maricota, etc.

241. A cada desinencia gradual masculina corresponde
quasi sempre uma desinencia feminina: assim106

a ão corresponde ona | a ico corresponde ica
açoaça | – ilhoilha
oriooria | – oloola
inhoinha | – otoota
ejoeja | – culocuia
elloella | – eoloeola
etoeta | – uloula etc.
elhoelha

Exemplo:

Macacão de macaco corresponde a solteirona de solteira
senhoraçosenhor – – senhoraçasenhora
finoriofino – – finóriafina
gatinhogato – – gatinhagata
mocitomoço – – mocitamoça
logarejologar – – carquejacarque
portelloporta – – picadellapicada
coretocoro – – maletamala
folhelhofolha – – quartelhaquarta
abanicoabano – – pellicapelle
brocadilhobrocado – – espiguilhaespiga
bolinhólobolinho, bolo – – casinholacasinha, casa
picotopico – – casotacasa
corpusculocorpo – – moléculamole
capréolocapro – – capréolacabra (Latim p)
globuloglobo – – fórmulafórma

A fórma diminutiva tem por vezes força de superlativo, quer no
mentido phisico, quer no moral, ex.: «Vacca chegadinha a parir, isto é,
muito chegadaUm póbresinho, isto é, um homem muito pobre».

A facilidade de flexão gradual é um dos elementos da vida energica
e da mobilidade graciosa da lingua portugueza: tambem o emprego acertado
d’essas formas, tão maravilhosamente cambiantes, é de grande, de
quasi insuperável difficuldade para quem não bebeu o conhecimento da
lingua com o leite materno. Um exemplo de entre milhares: de pobre
fórma-se o diminutivo póbrete que representa a ideia primitiva burlescamente
diminuida; de póbrete deriva-se o augmentativo pobretão que
mais ainda accentua o ridiculo que já pesava sobre pobreto de pobretão,
107obtem-se o diminutivo pobretãosinho que vem ajuntar ao ridiculo uma
como lastima insultuosa.

O infinito presente e o gerundio fórmas nominaes do verbo,
equivalentes, a substantivos assume a flexão diminutiva,
ex.: «Um andarzinhoEstar dormindinhoEu e ella andaimos
muito manas
passiandito a par (1)72».

Em Hespanhal e em Gallego dá-se o mesmo uso.

II
Artigo

242. O artigo, estrictamente fallando, não tem radical
ou thema: é antes uma desinencia prepositiva, cujo fim é,
como já se viu, particularisar a significação do substantivo.

243. As flexões ou melhor as variações do artigo definido
são:

Singular masculino o
– feminino a
Plural masculino os
– feminino as

III
Adjectivo

244. O adjectivo admitte flexões de genero, de numero,
de grau de significação e de grau de qualificação.

245. Em geral as leis da flexão dos adjectivos são as
mesmas que governam a flexão dos substantivos: assim de bonito
tiram-se bonitos, bonita, bonitas, bonitão, bonitona, bonitinho,
bonitinha, bonilote, bonitota
etc.108

§ 1.°
Genero

246. Admittem flexão de genero

1) os adjectivos descriptivos terminados

a) por o, os quaes mudam o em a ex.: «Branco
branca
».

b) por ez, ol, or, u, os quaes ajuntam simplesmente
a desinencia a, ex: «Camponez, camponezahespanhol,
hespanhola
defensor, defensoranu,
nua
».

Exceptuam-se como invariaveis:

a) dos acabados em ezcortez com seu composto
descortez; montez, pedrez, pescarez, soez.

Todos os adjectivos em ez eram antigamente
invariaveis. Lê-se ainda em Diniz (1)73:

«Quem mais sente as terriveis consequencias
E’ a nossa portugueza; casta linguagem».

b) dos acabados em olreinol.

Hespanhol era tambem invariavel: dizia-se «lingua
hespanhol, manta hespanhol
».

c) dos acabados em oranterior, citerior, exterior,
inferior, interior, maior, melhor, peior,
posterior, semsabor, superior
.

d) por ão, os quaes mudam ão em ã ex.: «Vão, vã».
Grão (gran, apocope de grande) é invariavel.

e) por om, em que om troca-se por oa ex.: «bom,
boa
» (é o unico da classe).

2) os adjectivos determinativos na seguinte ordem109

a) os numeraes cardiaes um, dois, que fazem uma,
duas
.

b) todos os numeraes ordinaes, ex.: «Quartoquinto,
etc.» que fazem regularmente «quartaquinta,
etc.»

c) todos os multiplicativos, ex.: «Duploquadruplo,
etc.» que fazem regularmente «duplaquadrupla,
etc.»

d) todos os demonstrativos, ex.: «Esteesse, etc.»
que fazem «esta, essa, etc.»

e) o distributivo «cada um» que faz regularmente
«tcada uma».

f) o conjunctivo «cujo» que faz regularmente «cuja».

g) os possessivos «nosso, vosso, proprio, alheio» que
fazem regularmente «nossa, vossa, própria, alheia».

«Meu, teu, seu» fazem regularmente «minha,
tua, sua
».

h) os indefinidos «algum, certo, mesmo, muito, outro,
pouco, quanto, quejando, tanto, todo
» que fazem
o feminino regularmente «alguma, certa,
mesma
, etc.»

247. Não admittem flexão-de genero

1) os adjectivos terminados por e, al, el, il, ul, ar,
er, az, iz, oz, m, n, s
, ex.: «Levegeralfielsubtil
— azul
particularesmolerefficazfelizferoz
— ruim
jovensimples».

2) os adjectivos determinativos seguintes:

a) os numeraes cardiaes de «dous» em diante, ex.:
«Tresdez, etc.»

Exceptuam-se os compostos de «um» e «dous»,
ex.: «Vinte e umtrinta e dous» que fazem
«vinte e umatrinta e duas, e os nomes de centenas,
ex.: duzentas, quinhentas».110

b) o distributivo «cada».

c) os conjunctivos «qual, que».

d) os indefinidos «mais, menos, qual, quer, só, tal».

§ 2.°
Numero

248. Os adjectivos, tanto descriptivos como determinativos,
seguem geralmente na flexão numeral as regras dadas
para a flexão numeral dos subsntivos.

249. São invariaveis quanto ao numero

1) grão (apocope de grande) e são (apocope de Santo)

2) os determinativos cada, cada um, mais, menos,
que
.

«Qualquer» faz no plural «quaesquer».

§ 3.°
Grau

250. Considera-se a qualidade de uma cousa como
existindo nella em maior ou em menor grau. O adjectivo póde
exprimir essa qualidade em todos os seus graus. Quando a exprime
como simplesmente existindo, dir-se que está no grau
positivo de qualificação, ex.: «O ouro é pesada». Quando a
exprime como existindo em grau maior ou menor relativamente
a outras cousas que tambem a tenham, diz-se que está
no grau comparativo, ex.: «A platina é mais pesada do que
a prata, e menos fuzivel de que o ouro
». Quando a exprime
como existindo no mais elevado ou no mais diminuto grau relativamente
a outras cousas que tambem a tenham, diz-se que
está no superlativo relativo, ex.: «O ouro é o mais pesado dos
metaes
.» Quando a exprime como existindo em elevado grau,
mas sem estabelecer comparação com outras cousas que tambem
a tenham, diz-se que está no superlativo absoluto, ex.:

«o ouro é pesadissimo».111

251. Só o superlativo absoluto é que se fórma em
Portuguez por meio de flexão.

Ver-se-á na syntaxe a maneira de formar os graus de comparação
e de superioridade relativa. Todavia bom, mau, grande, pequeno têm
comparativos flexionaes de radicaes latinos, são; «Melhor peior, maior,
menor
». «Junior, major, prior, senior» e outros comparativos latinos
são sempre substantivos em Portuguez, e só remotamente involvem
idéia de comparação.

252. A desinencia gradual de superlatividade absoluta
é simo.

Esta terminapão simo deriva-se da terminapão latina simo
(ablativo de simus). A fórma superlativa simus é abrandamento
de timus que ainda se encontra pura em intimus; vem
do aryaco tamas ex.: anatamas. Simus=timus contrae-se em
certos casos, de modo que desapparece completamente s=t,
ex.: facilimus, maximus, pulcherrimus; em Portuguez: facilimo,
maximo, pulkherrimo
.

253. Para receber esta desinencia os adjectivos terminados

1) por al, il, u nenhuma modificação experimentam,
ex.: «de essencial, essencialissimo — de agil, agilissimo
— de cru, cruissimo».

2) por vel mudam vel em bil, ex.: «de amavel, amabilissimo».

3), por um mudam m em n; ex.: «de commum, communissimo».

4) por ão mudam ão em an, ex.: «de, vão, vanissimo».

5) por z mudam z em e, ex.: «de fer\az, feracissimo».

6) por e e o deixam cair a vogal, ex.: «de triste, tristissimo
— de lindo, lindissimo».112

254. São superlativos absolutos irregulares, ou antes,
formados de radicaes. latinos

Acerrimo de acre | generalismo de geral
amicissimoamigo | homilissimo ou homillimohomilde
antiquissimoantigo
asperrimoaspero | liberrimolivre
celeberrimocelebre | magnificentissimomagnifico
khristianissimokhristão | miserrimomisero
crudelissimocruel | nobilissimonobre
difficilimodifficil | pauperrimopobre
dolcissimodoce | sacratissimosagrado
facilimofacil | sapientissimosabio
fidelissimofiel | saluberrimosalubre
frigidissimofrio | similimosimilhante
uberrimoubertoso

Encontram-se todavia frequentemente as fórmas regulares
amiguissimo, antiguissimo, asperissimo, celebrissimo, cruelissimo,
humildissimo
, etc.

255. Os seguintes, formados tambem de radicaes latinos,
são superlativos absolutos heterogeneos, isto é, correspondem
a positivos de que são morphologicamente diversissimos.

infimo de baixo
maximogrande
minimopequeno
optimobom
pessimomau
summo / supremoalto

Encontram-se frequentemente as fórmas regulares baixissimo,
grandissimo, pequenissimo, bonissimo, altissimo
. Mau
faz tambem malissimo.

Comquanto, rigorosamente fallando, o substantivo não possa
admittir esta flexão, que é própria do adjectivo discritivo, todavia
encontram-se as fórmas — cousissima, irmanissimo. Na
113edade media se dizia em Latim barbaro «dominissima». Plauto
escreveu: «O patrue mi patruissime».

256. Os adjectivos podem tambem flexionar-se para
exprimir o grau augmentivo e o diminutivo. As regras que
seguem são as mesmas dos substantivos, ex. «de soberbo
soberbão, soberbaço soberbinho, soberbito«, etc.

O participio do presente e o aoristo assumem flexões augmentativas
e diminutivas, ex. «Amantão, amantinho de
amanteencolhidao, encolhidinho de encolhido».

257. São augmentativos irregulares de adjectivos

1) os adjectivos terminados em udo que indicam por
si abundancia, desenvolvimento na idéia significada
pelo seu thema, ex.: «barrigudo, beiçudo, linguarudo,
narigudo, olhudo, orelhudo, testudo
, etc».

2) feanchão de feio
fracalhãofraco
grandalhãogrande
gordanlhudogordo
pedinchão / pidonhopedinte
santarrãosanto
secarrãosecco
tristonhotriste.

IV
Pronome

258. Os pronomes substantivos ou pessoaes, para exprimir
as diversas relações (Vide a syntaxe), fléxionam-se do
modo especial seguinte:114

Singular

tableau 1.ª Pessôa | 2.ª Pessôa | 3.ª Pessôa | Relação subjectiva | objectiva | adverbial | objectiva-adverbial | eu | tu | elle, ella | me | te | o, a, se | mim, comigo | ti, comtigo | si, comsigo | elle, ella | me | te | lhe, se

Plural

tableau 1.ª Pessôa | 2.ª Pessôa | 3.ª Pessôa | Relação subjectiva | objectiva | adverbial | objectiva-adverbial | nós | vós | elles, ellas | nos | vos | os, as, se | nós comnosco | vós, comvosco | si, comsigo, elles ellas | nos | vos | lhes, se.

Lhe, como se vê do eskhema acima, só recebe flexão de numero,
e fórma lhes.

Lhes em concurso com o, a, os, as, fórma lho, lha, lhos, lhas, ex.:

«O’ santas que embalais os berços das crianças,
E assim lhos revestis de floreas esperanças (1)74».

Nos Luziadas encontra-se a cada passo lhe como fórma invariavel,
ex.:115

«A cidade correram e notaram
Muito menos daquillo que queriam
Que os Mouros cautelosos se guardavam
De lhe mostrarem tudo que pediam (2)75».

O, a, os, as, me, te, se, lhe, nos, vos, lhes chamam-se pronomes
encliticos por isto que sempre se acostam ao verbo depois do qual vêm,
ex.: «Viu-adizem-me, etc.»

259. Aos pronomes adjectivos applica-se tudo o que
ficou dito sobre a flexão dos adjectivos determinativos.

V
Verbo

260. Ha em Portuguez quatro conjugações que se
distinguem pela terminação do presente do infinito:

a primeira tem a terminação do presente do infinito em ar ex.: «Cantar».
– segunda – – – – – – – er ex.: «Vender».
– terceira – – – – – – – ir ex.: «Partir».
– quarta – – – – – – – ôr ex.: «Pôr».

Os elementos completos da flexão verbal regular acham-se no seguinte
quadro synoptico: para as tres primeiras conjugações — cantar
vender, partir
— nada mais ha a fazer do que junctar as terminações
do quadro aos themas — am, vend, part. — A quarta conjugação
pôr — está no quadro pratica e não scientificamente disposta: com
effeito, antepondo-se a modificação — p — ás terminações, está conjugado
o verbo. Mas cumpre notar que o thema do verbo não se limita
a essa modificação — p —: as vozes fechadas ô e u e as nasaes que
figuram nas terminações perténcem ao thema que é de facto — po, põ;
pu, punh e não — p — simplesmente.116

[Tabellas de conjugação]

A disposição dos verbos nas tabellas seguintes, em columnas correspondentes
horisontaes e verticaes, facilita o confronto dos tempos,
modos e fórmas nominaes entre si. Póde-se estudar pela ordem vertical,
primeiro todo o indicativo, depois o imperativo, e assim por diante.
Todavia isso seria apenas uma concessão á rotina; é preferível estudar-se
pela ordem horisontal, primeiro o presente em todos os modos
e fórmas nominaes, depois o imperfeito, etc. Além de militar para
isso a razão de não serem os tempos dependencias dos modos, mas sim
os modos dependencias dos tempos, ha mais a considerar que o estudo
por ordem horisontal mostra a perfeita analogia que ha entre os modos
de cada tempo — analogia perdida para quem conjuga primeiro
todo o indicativo, depois o imperativo, etc.insert

Tabella n.° 1 — Quadro comparativo das terminações dos tempos simples das quatro Conjugações Regulares

tableau Tempos | Numeros | Pessoas | Modos | Formas Nominaes | Indicativo | Imperativo | Condicional | Subjunctivo | Infinito | Participio | Pessoal | Impessoal | 1.ª | 2.ª | 3.ª | 4.ª | 1.ª | 2.ª | 3.ª | 4.ª | 1.ª | 2.ª | 3.ª | 4.ª | 1.ª | 2.ª | 3.ª | 4.ª | 1.ª | 2.ª | 3.ª | 4.ª | 1.ª | 2.ª | 3.ª | 4.ª | 1.ª | 2.ª | 3.ª | 4.ª | Presente | Singular | 1.ª | o | o | o | onho | ar | er | ir | ôr | ar | er | ir | ôr | ante | ente | inte | oent ou onent | 2.ª | as | es | es | ões | a | e | e | õe | ares | eres | ires | ôres | 3.ª | a | e | e | õe | ar | er | ir | ôr | Plural | 1.ª | amos | emos | imos | omos | armos | ermos | irmos | ôrmos | 2.ª | ais | eis | is | ondes | ae | ei | i | onde | ardes | erdes | irdes | ôrdes | 3.ª | am | em | em | õem | arem | erem | irem | ôrem | Imperfeito | Singular | 1.ª | ava | ia | ia | unha | aria ou ara | eria ou era | iria ou ira | oria ou ozera | ando | endo | indo | ondo | 2.ª | avas | ias | ias | unhas | arias ou aras | erias ou eras | irias ou iras | orias ou ozeras | 3.ª | ava | ia | ia | unha | aria ou ara | eria ou era | iria ou ira | oria ou ozera | Plural | 1.ª | avamos | iamos | iamos | unhamos | ariamos ou aramos | eriamos ou eramos | iriamos ou iramos | oriamos ou ozeramos | 2.ª | aveis | ieis | ieis | unheis | aries ou áreis | eries ou ereis | iries ou ireis | ories ou ozereis | 3.ª | avam | iam | iam | unham | ariam ou aram | eriam ou eram | iriam ou iram | oriam ou ozeram | Aoristo | Singular | 1.ª | ei | i | i | uz | ado | ido | ido | osto | 2.ª | aste | este | iste | ozesto | 3.ª | ou | eu | iu | oz | Plural | 1.ª | ámos | êmos | imos | ozemos | 2.ª | astes | estes | istes | ozestes | 3.ª | aram | eram | iram | ozeram | Plusquam-Perfeito | Singular | 1.ª | ara | era | ira | ozera | 2.ª | aras | eras | iras | ozeras | 3.ª | ara | era | ira | ozera | Plural | 1.ª | aramos | eramos | iramos | ozeramos | 2.ª | áreis | ereis | ireis | ozereis | 3.ª | aram | eram | irão | ozeram | Futuro | Singular | 1.ª | arei | erei | irei | orei | ar | er | ir | ozer | 2.ª | arás | erás | irás | orás | ares | eres | ires | ozeres | 3.ª | ará | erá | irá | orá | ar | er | ir | ozer | Plural | 1.ª | aremos | eremos | iremos | oremos | armos | ermos | irmos | ozermos | 2.ª | areis | ereis | ireis | oreis | ardes | erdes | irdes | ozerdes | 3.ª | arão | erão | irão | orão | arem | erem | irem | ozerem | Gerundio | ando | endo | indo | ondoinsert

Tabella n.° 2 — Conjugação do verbo HAVER

tableau Tempos | Numeros | Pessoas | Modos | Formas Nominaes | Indicativo | Imperativo | Condicional | Subjunctivo | Infinito | Participio | Pessoal | Impessoal | Presente | Singular | 1.ª | Hei | Ha | Haja | Haver | Haver | 2.ª | Has | Hajas | Haveres | 3.ª | Ha | Haja | Haver | Plural | 1.ª | Havemos ou hemos | Havei | Hajamos | Havermos | 2.ª | Haveis ou heis | Hajais | Haverdes | 3.ª | Hão | Hajam | Haverem | Imperfeito | Singular | 1.ª | Havia ou hia | Haveria ou houvera | Houvesse ou houvera | Havendo | 2.ª | Havias ou hias | Haverias ou houveras | Houvesses ou houveras | 3.ª | Havia ou hia | Haveria ou houvera | Houvesse ou houvera | Plural | 1.ª | Haviamos ou hiamos | Haveriamos ou houveramos | Houvessemos ou houveramos | 2.ª | Havieis ou hieis | Haverieis ou houvereis | Houvesseis ou houvereis | 3.ª | Haviam ou hiam | Haveriam ou houveram | Houvessem ou houveram | Preterito | Singular | 1.ª | Tenho havido | Teria ou tivera havido | Tenha havido | Ter havido | Ter havido | 2.ª | Tens havido | Terias ou tiveras havido | Tenhas havido | Teres havido | 3.ª | Tem havido | Teria ou tivera havido | Tenha havido | Ter havido | Plural | 1.ª | Termos havido | Teriamos ou tiveramos havido | Tenhamos havido | Temos havido | 2.ª | Tendes havido | Terieis ou tivereis havido | Tenhais havido | Terdes havido | 3.ª | Têm havido | Teriam ou tiveram havido | Tenham havido | Terem havido | Aoristo | Singular | 1.ª | Houve | Havia, a, os, as | 2.ª | Houveste | 3.ª | Houve | Plural | 1.ª | Houvemos | 2.ª | Houvestes | 3.ª | Houveram | Plusquam-Perfeito | Singular | 1.ª | Houvera ou tinha havido | Tivesse ou tivera havido | 2.ª | Houveras ou tinhas havido | Tivesses ou tiveras havido | 3.ª | Houvera ou tinha havido | Tivesse ou tivera havido | Plural | 1.ª | Houveramos ou tinhamos havido | Tivessemos ou tiveramos havido | 2.ª | Houvereis ou tinheis havido | Tivesseis ou tivereis havido | 3.ª | Houveram ou tinham havido | Tivessem ou tiveram havido | Futuro | Singular | 1.ª | Haverei | Houver | 2.ª | Haverás | Houveres | 3.ª | Haverá | Houver | Plural | 1.ª | Haveremos | Houvermos | 2.ª | Havereis | Houverdes | 3.ª | Haverão | Houverem | Futuro anterior | Singular | 1.ª | Terei havido | Tiver havido | 2.ª | Terás havido | Tiveres havido | 3.ª | Terá havido | Tiver havido | Plural | 1.ª | Teremos havido | Tivermos havido | 2.ª | Tereis havido | Tiverdes havido | 3.ª | Terão havido | Tiverem havido | Gerundio | Havendo | Gerundio anterior | Tendo havidoinsert

Tabella n.° 3 — Conjugação do verbo TER

tableau Tempos | Numeros | Pessoas | Modos | Formas Nominaes | Indicativo | Imperativo | Condicional | Subjunctivo | Infinito | Participio | Pessoal | Impessoal | Presente | Singular | 1.ª | Tenho | Tenha | Ter | Ter | Tente | 2.ª | Tens | Tem | Tenhas | Teres | 3.ª | Tem | Tenha | Ter | Plural | 1.ª | Temos | Tenhamos | Termos | 2.ª | Tendes | Tende | Tenhais | Terdes | 3.ª | Têm | Tenham | Terem | Imperfeito | Singular | 1.ª | Tinha | Teria ou tivera | Tivesse ou tivera | Tendo | 2.ª | Tinhas | Terias ou tiveras | Tivesses ou tiveras | 3.ª | Tinha | Teria ou tivera | Tivesse ou tivera | Plural | 1.ª | Tinhamos | Teriamos ou tiveramos | Tivessemos ou tiveramos | 2.ª | Tinheis | Terieis ou tivereis | Tivesseis ou tivereis | 3.ª | Tinham | Teriam ou tiveram | Tivessem ou tiveram | Preterito | Singular | 1.ª | Tenho tido | Teria tido ou tivera tido | Tenha tido | Ter tido | Ter tido | 2.ª | Tens tido | Terias tido ou tiveras tido | Tenhas tido | Teres tido | 3.ª | Tem tido | Teria tido ou tivera tido | Tenha tido | Ter tido | Plural | 1.ª | Temos tido | Teriamos tido ou tiveramos tido | Tenhamos tido | Termos tido | 2.ª | Tendes tido | Terieis tido ou tivereis tido | Tenhais tido | Terdes tido | 3.ª | Têm tido | Teriam tido ou tiveram tido | Tenham tido | Terem tido | Aoristo | Singular | 1.ª | Tive | Tido, a, os, as | 2.ª | Tiveste | 3.ª | Teve | Plural | 1.ª | Tivemos | 2.ª | Tivestes | 3.ª | Tiveram | Plusquam-Perfeito | Singular | 1.ª | Tivera ou tinha tido | Tivesse tido ou tivera tido | 2.ª | Tiveras ou tinhas tido | Tivesses tido ou tiveras tido | 3.ª | Tivera ou tinha tido | Tivesse tido ou tivera tido | Plural | 1.ª | Tiveramos ou tinhamos tido | Tivessemos tido ou tiveramos tido | 2.ª | Tivereis ou tinheis tido | Tivesseis tido ou tivereis tido | 3.ª | Tiveram ou tinham tido | Tivessem tido ou tiveram tido | Futuro | Singular | 1.ª | Terei | Tiver | 2.ª | Terás | Tiveres | 3.ª | Terá | Tiver | Plural | 1.ª | Teremos | Tivermos | 2.ª | Tereis | Tiverdes | 3.ª | Terão | Tiverem | Futuro anterior | Singular | 1.ª | Terei tido | Tiver tido | 2.ª | Terás tido | Tiveres tido | 3.ª | Terá tido | Tiver tido | Plural | 1.ª | Teremos tido | Tivermos tido | 2.ª | Tereis tido | Tiverdes tido | 3.ª | Terão tido | Tiverem tido | Gerundio | Tendo | Gerundio anterior | Tendo tidoinsert

Tabella n.° 4 — Conjugação do verbo SER

tableau Tempos | Numeros | Pessoas | Modos | Formas Nominaes | Indicativo | Imperativo | Condicional | Subjunctivo | Infinito | Participio | Pessoal | Impessoal | Presente | Singular | 1.ª | Sou | Sê | Seja | Ser | Ser | 2.ª | És | Sejas | Seres | 3.ª | É | Seja | Ser | Plural | 1.ª | Somos | Sêde | Sejamos | Sermos | 2.ª | Sois | Sejais | Serdes | 3.ª | São | Sejam | Serem | Imperfeito | Singular | 1.ª | Era | Seria ou fôra | Fosse ou fôra | Sendo | 2.ª | Eras | Serias ou fôras | Fosses ou fôras | 3.ª | Era | Seria ou fôra | Fosse ou fôra | Plural | 1.ª | Eramos | Seriamos ou fôramos | Fossemos ou fôramos | 2.ª | Ereis | Serieis ou foreis | Fosseis ou fôreis | 3.ª | Eram | Seriam ou forma | Fossem ou fôram | Preterito | Singular | 1.ª | Tenho sido | Teria ou tivera sido | Tenha sido | Ter sido | Ter sido | 2.ª | Tens sido | Terias ou tiveras sido | Tenhas sido | Teres sido | 3.ª | Tem sido | Teria ou tivera sido | Tenha sido | Ter sido | Plural | 1.ª | Temos sido | Teriamos ou tiveramos sido | Tenhamos sido | Termos sido | 2.ª | Tendes sido | Terieis ou tivereis sido | Tenhais sido | Terdes sido | 3.ª | Têm sido | Teriam ou tiveram sido | Tenham sido | Terem sido | Aoristo | Singular | 1.ª | Foi | Sido (invariavel) | 2.ª | Foste | 3.ª | Foi | Plural | 1.ª | Fomos | 2.ª | Fostes | 3.ª | Fôram | Plusquam-Perfeito | Singular | 1.ª | Fôra ou tinha sido | Tivesse ou tivera sido | 2.ª | Fôras ou tinhas sido | Tivesses ou tiveras sido | 3.ª | Fôra ou tinha sido | Tivesse ou tivera sido | Plural | 1.ª | Fôramos ou tinhamos sido | Tivessemos ou tiveramos sido | 2.ª | Fôreis ou tinheis sido | Tivesseis ou tivereis sido | 3.ª | Fôram ou tinham sido | Tivessem ou tiveram sido | Futuro | Singular | 1.ª | Serei | Fôr | 2.ª | Serás | Fôres | 3.ª | Será | Fôr | Plural | 1.ª | Seremos | Fôrmos | 2.ª | Sereis | Fôrdes | 3.ª | Serão | Fôrem | Futuro anterior | Singular | 1.ª | Terei sido | Tiver sido | 2.ª | Terás sido | Tiveres sido | 3.ª | Terá sido | Tiver sido | Plural | 1.ª | Teremos sido | Tivermos sido | 2.ª | Tereis sido | Tiverdes sido | 3.ª | Terão sido | Tiverem sido | Gerundio | Sendo | Gerundio anterior | Tendo sidoinsert

Tabella n.° 5 — Conjugação do verbo ESTAR

tableau Tempos | Numeros | Pessoas | Modos | Formas Nominaes | Indicativo | Imperativo | Condicional | Subjunctivo | Infinito | Participio | Pessoal | Impessoal | Presente | Singular | 1.ª | Estou | Está | Esteja | Estar | Estar | Estante | 2.ª | Estás | Estejas | Estares | 3.ª | Está | Esteja | Estar | Plural | 1.ª | Estamos | Estae | Estejamos | Estarmos | 2.ª | Estais | Estejais | Estardes | 3.ª | Estão | Estejam | Estarem | Imperfeito | Singular | 1.ª | Estava | Estaria ou estivera | Estivesse ou estivera | Estando | 2.ª | Estavas | Estarias ou estiveras | Estivesses ou estiveras | 3.ª | Estava | Estaria ou estivera | Estivesse eu estivera | Plural | 1.ª | Estavamos | Estariamos ou estiveramos | Estivessemos ou estiveramos | 2.ª | Estaveis | Estarieis ou estivereis | Estivesseis ou estivereis | 3.ª | Estavam | Estariam ou estiveram | Estivessem ou estiveram | Preterito | Singular | 1.ª | Tenho estado | Teria ou tivera estado | Tenha estado | Ter estado | Ter estado | 2.ª | Tens estado | Terias ou tiveras estado | Tenhas estado | Teres estado | 3.ª | Tem estado | Teria ou tivera estado | Tenha estado | Ter estado | Plural | 1.ª | Temos estado | Teriamos ou tiveramos estado | Tenhamos estado | Termos estado | 2.ª | Tendes estado | Terieis ou tivereis estado | Tenhais estado | Terdes estado | 3.ª | Têm estado | Teriam ou tiveram estado | Tenham estado | Terem estado | Aoristo | Singular | 1.ª | Estive | Estado | 2.ª | Estiveste | 3.ª | Esteve | Plural | 1.ª | Estivemos | 2.ª | Estivestes | 3.ª | Estiveram | Plusquam-Perfeito | Singular | 1.ª | Estivera ou tinha estado | Tivesse ou tivera estado | 2.ª | Estiveras ou tinhas estado | Tivesses ou tiveras estado | 3.ª | Estivera ou tinha estado | Tivesse ou tivera estado | Plural | 1.ª | Estiveramos ou tinhamos estado | Tivessemos ou tiveramos estado | 2.ª | Estivereis ou tinheis estado | Tivesseis ou tivereis estado | 3.ª | Estiveram ou tinham estado | Tivessem ou tiveram estado | Futuro | Singular | 1.ª | Estarei | Estiver | 2.ª | Estarás | Estiveres | 3.ª | Estará | Estiver | Plural | 1.ª | Estaremos | Estivermos | 2.ª | Estareis | Estiverdes | 3.ª | Estarão | Estiverem | Futuro anterior | Singular | 1.ª | Terei estado | Tiver estado | 2.ª | Terás estado | Tiveres estado | 3.ª | Terá estado | Tiver estado | Plural | 1.ª | Teremos estado | Tivermos esiado | 2.ª | Tereis estado | Tiverdes estado | 3.ª | Terão estado | Tiverem estado | Gerundio | Estando | Gerundio anterior | Tendo estadoinsert

Tabella n.° 6 — Conjugação do verbo CANTAR (paradigma da 1.ª Conjugação)

tableau Tempos | Numeros | Pessoas | Modos | Formas Nominaes | Indicativo | Imperativo | Condicional | Subjunctivo | Infinito | Participio | Pessoal | Impessoal | Presente | Singular | 1.ª | Canto | Canta | Cante | Cantar | Cantar | Cantante | 2.ª | Cantas | Cantes | Cantares | 3.ª | Canta | Cante | Cantar | Plural | 1.ª | Cantamos | Cantae | Cantemos | Cantarmos | 2.ª | Cantais | Canteis | Cantardes | 3.ª | Cantam | Cantem | Cantarem | Imperfeito | Singular | 1.ª | Cantava | Cantaria ou cantára | Cantasse ou cantára | Cantando | 2.ª | Cantavas | Cantarias ou cantáras | Cantasses ou cantáras | 3.ª | Cantava | Cantaria ou cantára | Cantasse ou cantára | Plural | 1.ª | Cantavamos | Cantariamos ou cantáramos | Cantassemos ou cantáramos | 2.ª | Cantaveis | Cantarieis ou cantareis | Cantasseis ou cantáreis | 3.ª | Cantavam | Cantariam ou cantaram | Cantassem ou cantaram | Preterito | Singular | 1.ª | Tenho cantado | Teria ou tivera cantado | Tenha cantado | Ter cantado | Ter cantado | 2.ª | Tens cantado | Terias ou tiveras cantado | Tenhas cantado | Teres cantado | 3.ª | Tem cantado | Teria ou tivera cantado | Tenha cantado | Ter cantado | Plural | 1.ª | Temos cantado | Teriamos ou tiveramos cantado | Tenhamos cantado | Termos cantado | 2.ª | Tendes cantado | Terieis ou tivereis cantado | Tenhais cantado | Terdes cantado | 3.ª | Têm cantado | Teriam ou tiveram cantado | Tenham cantado | Terem cantado | Aoristo | Singular | 1.ª | Cantei | Cantando, a, os, as | 2.ª | Cantaste | 3.ª | Cantou | Plural | 1.ª | Cantámos | 2.ª | Cantastes | 3.ª | Cantaram | Plusquam-Perfeito | Singular | 1.ª | Cantára ou tinha cantado | Tivesse ou tivera cantado | 2.ª | Cantáras ou tinhas cantado | Tivesses ou tiveras cantado | 3.ª | Cantára ou tinha cantado | Tivesse ou tivera cantado | Plural | 1.ª | Cantaramos ou tinhamos cantado | Tivessemos ou tiveramos cantado | 2.ª | Cantareis ou tinheis cantado | Tivesseis ou tivereis cantado | 3.ª | Cantaram ou tinham cantado | Tivessem ou tiveram cantado | Futuro | Singular | 1.ª | Cantarei | Cantar | 2.ª | Cantarás | Cantares | 3.ª | Cantará | Cantar | Plural | 1.ª | Cantaremos | Cantarmos | 2.ª | Cantareis | Cantardes | 3.ª | Cantarão | Cantarem | Futuro anterior | Singular | 1.ª | Terei cantado | Tiver cantado | 2.ª | Terás cantado | Tiveres cantado | 3.ª | Terá cantado | Tiver cantado | Plural | 1.ª | Teremos cantado | Tivermos esiado | 2.ª | Tereis cantado | Tiverdes cantado | 3.ª | Terão cantado | Tiverem cantado | Gerundio | Cantando | Gerundio anterior | Tendo cantandoinsert

Tabella n.° 7 — Conjugação do verbo VENDER (paradigma da 2.ª Conjugação)

tableau Tempos | Numeros | Pessoas | Modos | Formas Nominaes | Indicativo | Imperativo | Condicional | Subjunctivo | Infinito | Participio | Pessoal | Impessoal | Presente | Singular | 1.ª | Vendo | Vende | Venda | Vender | Vender | Vendente | 2.ª | Vendes | Vendas | Venderes | 3.ª | Vende | Venda | Vender | Plural | 1.ª | Vendemos | Vendei | Vendamos | Vendermos | 2.ª | Vendeis | Vendais | Venderdes | 3.ª | Vendem | Vendam | Venderem | Imperfeito | Singular | 1.ª | Vendia | Venderia ou vendêra | Vendesse ou vendêra | Vendendo | 2.ª | Vendias | Venderias ou vendêras | Vendesses ou vendêras | 3.ª | Vendia | Venderia ou vendêra | Vendesse ou vendêra | Plural | 1.ª | Vendiamos | Venderiamos ou vendêramos | Vendessemos ou vendêramos | 2.ª | Vendieis | Venderieis ou vendêreis | Vendesseis ou vendêreis | 3.ª | Vendiam | Venderiam ou vendêram | Vendessem ou vendêram | Preterito | Singular | 1.ª | Tenho vendido | Teria ou tivera vendido | Tenha vendido | Ter vendido | Ter vendido | 2.ª | Tens vendido | Terias ou tiveras vendido | Tenhas vendido | Teres vendido | 3.ª | Tem vendido | Teria ou tivera vendido | Tenha vendido | Ter vendido | Plural | 1.ª | Temos vendido | Teriamos ou tiveramos vendido | Tenhamos vendido | Termos vendido | 2.ª | Tendes vendido | Terieis ou tivereis vendido | Tenhais vendido | Terdes vendido | 3.ª | Têm vendido | Teriam ou tiveram vendido | Tenham vendido | Terem vendido | Aoristo | Singular | 1.ª | Vendi | Vendido, a, os, as | 2.ª | Vendeste | 3.ª | Vendeu | Plural | 1.ª | Vendemos | 2.ª | Vendestes | 3.ª | Venderam | Plusquam-Perfeito | Singular | 1.ª | Vendêra ou tinha vendido | Tivesse ou tivera vendido | 2.ª | Vendêras ou tinhas vendido | Tivesses ou tiveras vendido | 3.ª | Vendêra ou tinha vendido | Tivesse ou tivera vendido | Plural | 1.ª | Vendêramos ou tinhamos vendido | Tivessemos ou tiveramos vendido | 2.ª | Vendêreis ou tinheis vendido | Tivesseis ou tivereis vendido | 3.ª | Venderam ou tinham vendido | Tivessem ou tiveram vendido | Futuro | Singular | 1.ª | Venderei | Vender | 2.ª | Venderás | Venderes | 3.ª | Venderá | Vender | Plural | 1.ª | Venderemos | Vendermos | 2.ª | Vendereis | Venderdes | 3.ª | Venderão | Venderem | Futuro anterior | Singular | 1.ª | Terei vendido | Tiver vendido | 2.ª | Terás vendido | Tiveres vendido | 3.ª | Terá vendido | Tiver vendido | Plural | 1.ª | Teremos vendido | Tivermos vendido | 2.ª | Tereis vendido | Tiverdes vendido | 3.ª | Terão vendido | Tiverem vendido | Gerundio | Vendendo | Gerundio anterior | Tendo vendidoinsert

Tabella n.° 8 — Conjugação do verbo PARTIR (paradigma da 3.ª Conjugação)

tableau Tempos | Numeros | Pessoas | Modos | Formas Nominaes | Indicativo | Imperativo | Condicional | Subjunctivo | Infinito | Participio | Pessoal | Impessoal | Presente | Singular | 1.ª | Parto | Parte | Parta | Partir | Partir | 2.ª | Partes | Partas | Partires | 3.ª | Parte | Parta | Partir | Plural | 1.ª | Partimos | Parti | Partamos | Partirmos | 2.ª | Partis | Partaes | Partirdes | 3.ª | Partem | Partam | Partirem | Imperfeito | Singular | 1.ª | Partia | Partiria ou partira | Partisse ou partira | Partindo | 2.ª | Partias | Partirias ou partiras | Partisses ou partiras | 3.ª | Partia | Partiria ou partira | Partisse ou partira | Plural | 1.ª | Partiamos | Partiriamos on partiramos | Partissemos ou partiramos | 2.ª | Partieis | Partirieis ou partireis | Partisseis ou partireis | 3.ª | Partiam | Partiriam ou partiram | Partissem ou partiram | Preterito | Singular | 1.ª | Tenho partido | Teria ou tirera partido | Tenha partido | Ter partido | Ter partido | 2.ª | Tens partido | Terias ou tireras partido | Tenhas partido | Teres partido | 3.ª | Tem partido | Teria ou tivera partido | Tenha partido | Ter partido | Plural | 1.ª | Temos partido | Teriamos ou tiveramos partido | Tenhamos partido | Termos partido | 2.ª | Tendes partido | Terieis ou tivereis partido | Tenhais partido | Terdes partido | 3.ª | Têm partido | Teriam ou tiveram partido | Tenham partido | Terem partido | Aoristo | Singular | 1.ª | Parti | Partido, a, os, as | 2.ª | Partiste | 3.ª | Partiu | Plural | 1.ª | Partimos | 2.ª | Partistes | 3.ª | Partiram | Plusquam-Perfeito | Singular | 1.ª | Partira ou tinha partido | Tivesse ou tivera partido | 2.ª | Partiras ou tinhas partido | Tivesses ou tiveras partido | 3.ª | Partira ou tinha partido | Tivesse ou tivera partido | Plural | 1.ª | Partiramos ou tinhamos partido | Tivessemos ou tiveramos partido | 2.ª | Partireis ou tinheis partido | Tivesseis ou tivereis partido | 3.ª | Partiram ou tinham partido | Tivessem ou tiveram partido | Futuro | Singular | 1.ª | Partirei | Partir | 2.ª | Partirás | Partires | 3.ª | Partirá | Partir | Plural | 1.ª | Partiremos | Partirmos | 2.ª | Partireis | Partirdes | 3.ª | Partirem | Partirem | Futuro anterior | Singular | 1.ª | Terei partido | Tiver partido | 2.ª | Terás partido | Tiveres partido | 3.ª | Terá partido | Tiver partido | Plural | 1.ª | Teremos partido | Tivermos partido | 2.ª | Tereis partido | Tiverdes partido | 3.ª | Terão partido | Tiverem partido | Gerundio | Partindo | Gerundio anterior | Tendo partidoinsert

Tabella n.° 9 — Conjugação do verbo PÔR (paradigma da 4.ª Conjugação)

tableau Tempos | Numeros | Pessoas | Modos | Formas Nominaes | Indicativo | Imperativo | Condicional | Subjunctivo | Infinito | Participio | Pessoal | Impessoal | Presente | Singular | 1.ª | Ponho | Pôe tu | Ponha | Pôr | Pôr | Poente ou ponente | 2.ª | Pôes | Ponhas | Pôres | 3.ª | Pôe | Ponha | Pôr | Plural | 1.ª | Pomos | Ponde vós | Ponhamos | Pôrmos | 2.ª | Pondes | Ponhais | Pôrdes | 3.ª | Pôem | Ponham | Pôrem | Imperfeito | Singular | 1.ª | Punha | Poria ou pozera | Pozesse ou pozera | Pondo | 2.ª | Punhas | Porias ou pozeras | Pozesses ou pozeras | 3.ª | Punha | Poria ou pozera | Pozesse ou pozera | Plural | 1.ª | Punhamos | Poriamos on pozeramos | Pozessemos ou pozeramos | 2.ª | Punheis | Porieis ou pozereis | Pozesseis ou pozereis | 3.ª | Punham | Poriam ou pozeram | Pozessem ou pozeram | Preterito | Singular | 1.ª | Tenho posto | Teria ou tirera posto | Tenha posto | Ter posto | Ter posto | 2.ª | Tens posto | Terias ou tireras posto | Tenhas posto | Teres posto | 3.ª | Tem posto | Teria ou tivera posto | Tenha posto | Ter posto | Plural | 1.ª | Temos posto | Teriamos ou tiveramos posto | Tenhamos posto | Termos posto | 2.ª | Tendes posto | Terieis ou tivereis posto | Tenhais posto | Terdes posto | 3.ª | Têm posto | Teriam ou tiveram posto | Tenham posto | Terem posto | Aoristo | Singular | 1.ª | Puz | Posto, a, os, as | 2.ª | Pozeste | 3.ª | Poz | Plural | 1.ª | Pozemos | 2.ª | Pozestes | 3.ª | Pozeram | Plusquam-Perfeito | Singular | 1.ª | Pozera ou tinha posto | Tivesse ou tivera posto | 2.ª | Pozeras ou tinhas posto | Tivesses ou tiveras posto | 3.ª | Pozera ou tinha posto | Tivesse ou tivera posto | Plural | 1.ª | Pozeramos ou tinhamos posto | Tivessemos ou tiveramos posto | 2.ª | Pozereis ou tinheis posto | Tivesseis ou tivereis posto | 3.ª | Pozeram ou tinham posto | Tivessem ou tiveram posto | Futuro | Singular | 1.ª | Porei | Pozer | 2.ª | Porás | Pozeres | 3.ª | Porá | Pozer | Plural | 1.ª | Poremos | Pozemos | 2.ª | Poreis | Pozedes | 3.ª | Porem | Pozerem | Futuro anterior | Singular | 1.ª | Terei posto | Tiver posto | 2.ª | Terás posto | Tiveres posto | 3.ª | Terá posto | Tiver posto | Plural | 1.ª | Teremos posto | Tivermos posto | 2.ª | Tereis posto | Tiverdes posto | 3.ª | Terão posto | Tiverem posto | Gerundio | Pondo | Gerundio anterior | Tendo postoinsert

Tabella n.° 10 — Conjugação da voz passiva, verbo SER VENDIDO

tableau Tempos | Numeros | Pessoas | Modos | Formas Nominaes | Indicativo | Imperativo | Condicional | Subjunctivo | Infinito | Participio | Pessoal | Impessoal | Presente | Singular | 1.ª | Sou vendido | Sê vendido | Seja vendido | Ser vendido | Ser vendido | 2.ª | És vendido | Sejas vendido | Seres vendido | 3.ª | É vendido | Seja vendido | Ser vendido | Plural | 1.ª | Somos vendidos | Sôde vendidos | Sejamos vendidos | Sermos vendidos | 2.ª | Sois vendidos | Sejais vendidos | Serdes vendidos | 3.ª | São vendidos | Sejam vendidos | Serem vendidos | Imperfeito | Singular | 1.ª | Era vendido | Seria ou fôra vendido | Fosse uu fôra vendido | Sendo vendido | 2.ª | Eras vendido | Serias ou fôras vendido | Fosses ou fôras vendido | 3.ª | Era vendido | Seria ou fôra vendido | Fosse ou fôra vendido | Plural | 1.ª | Eramos vendidos | Seriamos ou fôramos vendidos | Fossemos ou fôramos vendidos | 2.ª | Ereis vendidos | Serieis ou foreis vendidos | Fosseis ou fôreis vendidos | 3.ª | Eram vendidos | Seriam ou foram vendidos | Fossem ou fôram vendidos | Preterito | Singular | 1.ª | Tenho sido vendido | Teria ou tivera sido vendido | Tenha sido vendido | Ter sido vendido | Ter sido vendido | 2.ª | Tens sido vendido | Terias ou tiveras sido vendido | Tenhas sido vendido | Teres sido vendido | 3.ª | Tem sido vendido | Teria ou tivera sido vendido | Tenha sido vendido | Ter sido vendido | Plural | 1.ª | Temos sido vendidos | Teriamos ou tiveramos sido vendido | Tenhamos sido vendidos | Termos sido vendidos | 2.ª | Tendes sido vendidos | Terieis ou tivereis sido vendidos | Tenhais sido vendidos | Terdes sido fendidos | 3.ª | Têm sido vendidos | Teriam ou tiveram sido vendidos | Tenham sido vendidos | Terem sido vendidos | Aoristo | Singular | 1.ª | Fui vendido | Vendido, a, os, as | 2.ª | Foste vendido | 3.ª | Foi vendido | Plural | 1.ª | Fomos vindidos | 2.ª | Fostes vendidos | 3.ª | Fôram vendidos | Plusquam-Perfeito | Singular | 1.ª | Fôra ou tinha sitio vendido | Tivesse ou tivora sido vendido | 2.ª | Fôras ou tinhas sido vendido | Tivesses ou tiveras sido vendido | 3.ª | Fôra ou tinha sido vendido | Tivesse ou tivera sido vendido | Plural | 1.ª | Fôramos ou tinhamos sido vendidos | Tivessemos ou tiveramos sido vend. | 2.ª | Fôreis ou tinheis sido vendidos | Tivesseis ou tivereis sido vendidos | 3.ª | Fôram ou tinham sido vendidos | Tivessem ou tiveram sido vendidos | Futuro | Singular | 1.ª | Serei vendido | Fôr vendido | 2.ª | Serás vendido | Fôres vendido | 3.ª | Será vendido | Fôr vendido | Plural | 1.ª | Seremos vendidos | Fôrmos vendidos | 2.ª | Sereis vendidos | Fôrdes vendidos | 3.ª | Serão vendidos | Fôrem vendidos | Futuro anterior | Singular | 1.ª | Terei sido vendido | Tiver sido vendido | 2.ª | Terás sido vendido | Tiveres sido vendido | 3.ª | Terá sido vendido | Tiver sido vendido | Plural | 1.ª | Teremos sido vendidos | Tivermos sido vendidos | 2.ª | Tereis sido vendidos | Tiverdes sido vendidos | 3.ª | Terão sido vendidos | Tiverem sido vendidos | Gerundio | Sendo vendido | Gerundio anterior | Tendo sido vendidoinsert

Tabella n.° 11 — Conjugação do verbo periphrastico promissivo HAVER DE CANTAR

tableau Tempos | Numeros | Pessoas | Modos | Formas Nominaes | Indicativo | Imperativo | Condicional | Subjunctivo | Infinito | Participio | Pessoal | Impessoal | Presente | Singular | 1.ª | Hei de cantar | Haja de cantar | Haver de cantar | Haver de cantar | 2.ª | Has de cantar | Hajas de cantar | Haveres de cantar | 3.ª | Ha de cantar | Haja de cantar | Haver de cantar | Plural | 1.ª | Havemos de cantar | Hajamos de cantar | Havermos de cantar | 2.ª | Haveis de cantar | Hajais de cantar | Haverdes de cantar | 3.ª | Hão de cantar | Hajam de cantar | Haverem de cantar | Imperfeito | Singular | 1.ª | Havia de cantar | Haveria ou houvera de cantar | Houvesse ou houvera de cantar | Havendo de cantar | 2.ª | Havias de cantar | Haverias ou houveras de cantar | Houvesses ou houveras de cantar | 3.ª | Havia de cantar | Haveria ou houvera de cantar | Houvesse ou houvera de cantar | Plural | 1.ª | Haviamos de cantar | Harveriamos ou houveramos de cant. | Houvessemos ou houveramos de cantar | 2.ª | Havieis de cantar | Haverieis ou houvereis de cantar | Houvesseis ou houvereis de cantar | 3.ª | Haviam de cantar | Havoriam ou houveram de cantar | Houvessem ou houreram de cantar | Preterito | Singular | 1.ª | 2.ª | 3.ª | Plural | 1.ª | 2.ª | 3.ª | Aoristo | Singular | 1.ª | Houve de cantar | 2.ª | Houveste de cantar | 3.ª | Houve de cantar | Plural | 1.ª | Houvemos de cantar | 2.ª | Houvestes de cantar | 3.ª | Houveram de cantar | Plusquam-Perfeito | Singular | 1.ª | Houvera de cantar | 2.ª | Houveras de cantar | 3.ª | Houvera de cantar | Plural | 1.ª | Houveramos de cantar | 2.ª | Houvereis de cantar | 3.ª | Houreram de cantar | Futuro | Singular | 1.ª | Haverei de cantar | Houver de cantar | 2.ª | Haverás de cantar | Houveres de cantar | 3.ª | Harorá de cantar | Houver de cantar | Plural | 1.ª | Haveremos de cantar | Houvermos de cantar | 2.ª | Havereis de cantar | Houverdes de cantar | 3.ª | Haverão de cantar | Houverem de cantar | Futuro anterior | Singular | 1.ª | 2.ª | 3.ª | Plural | 1.ª | 2.ª | 3.ª | Gerundio | Havendo de cantar | Gerundio anterior | Tendo havido do cantar (desusado)insert

Tabella n.° 12 — Conjugação do verbo frequentativo ANDAR CANTANDO

tableau Tempos | Numeros | Pessoas | Modos | Formas Nominaes | Indicativo | Imperativo | Condicional | Subjunctivo | Infinito | Participio | Pessoal | Impessoal | Presente | Singular | 1.ª | Ando cantando | Anda cantando | Ando cantando | Andar cantando | Andar cantando | 2.ª | Andas cantando | Andes cantando | Andares cantando | 3.ª | Anda untando | Ando cantando | Andar cantando | Plural | 1.ª | Andamos cantando | Andae cantando | Andemos cantando | Andarmos cantando | 2.ª | Andais cantando | Andeis cantando | Andardes cantando | 3.ª | Andam cantando | Andem cantando | Andarem cantando | Imperfeito | Singular | 1.ª | Andava cantando | Andaria ou andára cantando | Andasse ou andára cantando | 2.ª | Andavas cantando | Andarias ou andáras cantando | Andasses ou andáras cantando | 3.ª | Andava cantando | Andaria ou andára cantando | Andasse ou andára cantando | Plural | 1.ª | Andavamos cantando | Andaríamos ou andáramos cantando | Andássemos ou andáramos cantando | 2.ª | Andaveis cantando | Andarieis ou andáreis cantando | Andasseis ou andáreis cantando | 3.ª | Andavam cantando | Andariam ou andaram cantando | Andassem ou andáram cantando | Preterito | Singular | 1.ª | Tenho andado cantando | Teria ou tivera andado cantando | Tenha andado cantando | Ter andado cantando | Ter andado cantando | 2.ª | Tens andado cantando | Terias ou tiveras andado cantando | Tenhas andado cantando | Teres andado cantando | 3.ª | Tem andado cantando | Teria ou tivera andado cantando | Tenha andado cantando | Ter andado cantando | Plural | 1.ª | Temos andado cantando | Teriamosou tiveramos andado cant. | Tenhamos andado cantando | Termos andado cant. | 2.ª | Tendes andado cantando | Terieis ou tivereis andado cantando | Tenhais andado cantando | Terdes andado cantado | 3.ª | Têm andado cantando | Teriam ou tiveram andado cantando | Tenham andado cantando | Terem andado cant. | Aoristo | Singular | 1.ª | Andei cantando | 2.ª | Andaste cantando | 3.ª | Andou cantando | Plural | 1.ª | Andamos cantando | 2.ª | Andastes cantando | 3.ª | Andaram cantando | Plusquam-Perfeito | Singular | 1.ª | Andára ou tinha andado cantando | Tivesse, ou tivera andado cantando | 2.ª | Andáras ou tinhas andado cantando | Tivesses ou tiveras andado cantando | 3.ª | Andára ou tinha andado cantando | Tivesse ou tivora andado cantando | Plural | 1.ª | Andáramos ou tinhamos andado cant. | Tivessemos ou tiveramos andado cant. | 2.ª | Andáreis ou tinheis andado cantando | Tivesseis ou tivereis andado cantando | 3.ª | Andaram ou tinham andado cantando | Tivessem ou tiveram andado cantando | Futuro | Singular | 1.ª | Andarei cantando | Andar cantando | 2.ª | Andarás cantando | Andares cantando | 3.ª | Andará cantando | Andar cantando | Plural | 1.ª | Andaremos cantando | Andarmos cantando | 2.ª | Andareis cantando | Andardes cantando | 3.ª | Andarão cantando | Andarem cantando | Futuro anterior | Singular | 1.ª | Terei andado cantando | Tirer andado cantando | 2.ª | Terás andado cantando | Tireres andado cantando | 3.ª | Terá andado cantando | Tiver andado cantando | Plural | 1.ª | Teremos andado cantando | Tivermos andado cantando | 2.ª | Tereis andado cantando | Tiverdes andado cantando | 3.ª | Terão andado cantando | Tiverem andado cantando | Gerundio | Gerundio anterior | Tendo andado cantandoinsert

Tabella n.° 13 — Conjugação do verbo pronominal QUEIXAR-SE

tableau Tempos | Numeros | Pessoas | Modos | Formas Nominaes | Indicativo | Imperativo | Condicional | Subjunctivo | Infinito | Participio | Pessoal | Impessoal | Presente | Singular | 1.ª | Eu me queixo | Queixa-te tu | Eu me queixo | Queixar-me eu | Queixar-se | Queixante | 2.ª | Tu te queixas | Tu te queixas | Queixares-te tu | 3.ª | Elle se queixa | Elle se queixa | Queixar-se elle | Plural | 1.ª | Nós nos queixamos | Queixae-vos vós | Nós nos queixemos | Queixarmo-nos nós | 2.ª | Vós vos queixaes | Vós vos queixeis | Queixardes-vos vós | 3.ª | Elles se queixam | Elles se queixem | Queixarem-se elles | Imperfeito | Singular | 1.ª | Eu me queixava | Eu me queixaria ou me queixára | Eu me queixasse ou me queixara | Queixando-se | 2.ª | Tu te queixavas | Tu te queixarias ou te queixáras | Tu te queixasses ou te queixáras | 3.ª | Elle se queixava | Elle se queixaria ou se queixára | Elle se queixasse ou se queixára | Plural | 1.ª | Nós nos queixavamos | Nós nos queixariamos ou nos queixáramos | Nós nos queixássemos ou nos queixáramos | 2.ª | Vós vos queixáveis | Vós vos queixarieis ou vos queixáreis | Vós vos queixásseis ou vos queixáreis | 3.ª | Elles se queixavam | Elles se queixariam ou se queixáram | Elles se queixassem ou se queixáram | Preterito | Singular | 1.ª | Eu me tenho queixado | Eu me teria ou me tivera queixado | Eu me tenha queixado | Ter-me eu queixado | Ter-se queixado | 2.ª | Tu te tens queixado | Tu te terias ou te tiveras queixado | Tu te tenhas queixado | Teres-te tu queixado | 3.ª | Elle se tem queixado | Elle se teria ou se tivera queixado | Elle se tenha queixado | Ter-se elle queixado | Plural | 1.ª | Nós nos temos queixado | Nós nos teriamos ou nos tiveramos queix. | Nós nos tenhamos queixado | Termo-nos nós queix. | 2.ª | Vós vos tendes queixado | Vós vos terieis ou vos tivereis queixado | Vós vos tenhais queixado | Terdes-vos vós queix. | 3.ª | Elles se têm queixado | Elles se teriam ou se tiveram queixado | Elles se tenham queixado | Terem-se elles queix. | Aoristo | Singular | 1.ª | Eu me queixei | Queixado | 2.ª | Tu te queixaste | 3.ª | Elle se queixou | Plural | 1.ª | Nós nos queixamos | 2.ª | Vós vos queixastes | 3.ª | Elles se queixaram | Plusquam-Perfeito | Singular | 1.ª | Eu me queixára ou me tinha queixado | Eu me tivesse ou me tivera queixado | 2.ª | Tu te queixáras ou te tinhas queixado | Tu te tivesses ou te tiveras queixado | 3.ª | Elle se queixára ou se tinha queixado | Elle se tivesse ou se tivera queixado | Plural | 1.ª | Nós nos queixáramos ou nos tinhamos queix. | Nós nos tivessemosou nos tiveramos queix. | 2.ª | Vós vos queixáreis ou vos tinheis queixado. | Vós vos fixesseis ou vos tivereis queixado. | 3.ª | Elles se queixáram ou se tinham queixado. | Elles se tivessem ou se tiveram queixado | Futuro | Singular | 1.ª | Eu me queixarei | Eu me queixar | 2.ª | Tu te queixarás | Tu te queixares | 3.ª | Elle se queixará | Elle se queixar | Plural | 1.ª | Nós nos queixaremos | Nós nos queixarmos | 2.ª | Vós vos queixareis | Vós vos queixardes | 3.ª | Elles se queixarão | Elles se queixarem | Futuro anterior | Singular | 1.ª | Eu me terei queixado | Eu me tiver queixado | 2.ª | Tu te terás queixado | Tu te tiveres queixado | 3.ª | Elle se terá queixado | Elle se tiver queixado | Plural | 1.ª | Nós nos teremos queixado | Nós nos tivermos queixado | 2.ª | Vós vos tereis queixado | Vós vos tiverdes queixado | 3.ª | Elles se terão queixado | Elles se tiverem queixado | Gerundio | Queixando-me | Gerundio anterior | Tendo-me queixadoinsert

Tabella n.° 14 — Conjugação do verbo impessoal TROVEJAR

tableau Tempos | Modos | Formas Nominaes | Indicativo | Condicional | Subjunctivo | Infinito (Impessoal) | Participio | Presente | Troveja | Troveje | Trovejar | Trovejanto | Imperfeito | Trovejava | Trovejaria ou Trovejára | Trovejasse ou trovejára | Preterito | Tem trovejado | Teria ou tivera trovejado | Tenha trovejado | Ter trovejado | Aoristo | Trovejou | Tivesse ou tivera trovejado | Trovejado | Plusquam-Perfeito | Trovejára ou tinha trovejado | Trovejar | Futuro | Trovejará | Tiver trovejado | Futuro anterior | Terá trovejado | Gerundio | Trovejando | Gerundio anterior | Tendo trovejadoinsert

Sobre as tabellas retro ha a notar:

Tabella n.° 3 O participio presente Tente é usado na
phrase «A’ mão tente».

Tabella n.° 5 O participio presente Estante é classico:
«Mouros mercadores estantes na terra», João de Barros, Decada I,
Liv. VII, Cap. 9.

Tabella n.° 8. D’esta conjugação empregam-se alguns
participios presentes, como «Ouvinte, pedinte, seguinte, etc.».

Tabella n.° 10. Estão n’este eskhema sómente terminações
masculinas do singular e do plural, sendo que a voz passiva
admitte tambem terminações femininas; a conjugação completa
deveria ser: «Indicativo presente — Sou vendido ou vendida,
etc.».

Tabella n.° 11. Como o verbo periphrastico promissivo
conjuga-se o periphrastico obrigativo, substituindo-se ter a haver.
Fórma-se a voz passiva de ambos estes verbos, trocando-se
em todos os tempos, modos e fórmas nominaes a fórma
activa do infinito pela correspondente passiva, ex.: «Hei ou
tenho de louvar» converte-se em «Hei ou tenho de ser louvado

Tabella n.° 12. O verbo frequentativo não tem participios.
Quando elle é formado por um verbo unico faltam-lhe
tambem os tempos era que occorrem ilexões homographas:
«Vir vindo», por exemplo, não tem a segunda forma do indicativo
plusquam perfeito, a qual deveria ser «Eu tinha vindo
vindo
», e nem outras similhantes.

[Verbos irregulares principaes da primeira conjugação]

261. São verbos irregulares principaes da primeira
conjugação dar, estar, todos os verbos terminados por ear e
alguns terminados por iar.

Os grammaticos chamam irregularidades todas as modificações
dos themas e das terminações verhaes que elles não conseguiram fazer
entrar em um ou outro de seus inflexiveis paradigmas. O methodo racional,
que vê na lingua um organismo e não o produeto do capricho
ou do acaso, não poderia admittir como anomalias as mais usadas fórmas
verbaes; aquellas fórmas que constituem, por assim dizer, a própria
essencia do discurso. O methodo racional procura a razão dessas
117pretensas irregularidades, e explica-as pelas leis da enphonia, cujo
papel tão considerável foi na formação das linguaes romanicas. Excepção
feita de ser e de ir, cada um dos quaes tem vários themas, não ha
em Portuguez, propriamente fallando, verbos irrregulares (1)76.

1) Dar

Indicativo presente — Dou, das, dá; damos, dais, dão, Indicativo
aoristo — Dei, déste, deu; demos, déste, deram. Subjunctivo
presente — Dê, dês, dê; demos, deis, dêm.

2) Estar

Está conjugado por inteiro (Tabella n.° 4).

3) Verbos terminados por ear

Os verbos terminados por ear tomam i entre e e a na
primeira, na segunda e na terceira pessoa do singular, e na
terceira do plural do indicativo presente, e communicam essa
irregularidade ás mesmas pessoas do subjunctivo presente, e
á segunda do singular do imperativo, ex.: Cear que faz: Indicativo
presente — Ceio, ceias, ceia; ceiam. Imperativo — Ceia.
Subjunctivo presente — Ceie, ceies, ceie; ceiem.

Exceptua-se crear que só é irregular no indicativo presente
Crio, crias, cria; creamos creais; criam, e, conseguintemente,
no subjunctivo presente — Crie, cries, etc. [Vide
adiante a observação n.° 2, sobre os verbos irregulares, 1)]

4) verbos terminados por iar

Os verbos terminados por iar são regulares ex.: Criar,
que se conjuga Crio, crias, etc.

Exceptuam-se agenciar, anciar, cadenciar, commerciar,
mediar, negociar, odiar, penitenciar, premiar, remediar, sentenciar
,
que tomam um e antes de i nas mesmas pessoas que
118as dos verbos em ear acima mencionados, ex.: Indicativo presente
Agenceio, agenceias, agenceia; agenceiam. Imperativo
Agenceia. Subjunctivo presente — Agenceie, agenceies, agenceiem.

[Verbos irregulares principaes da segunda conjugação]

262. São verbos irregulares principaes da segunda
conjugação caber, crer, dizer, fazer, haver, jazer, perder,
poder, praza , querer, requerer, saber, ter, trazer, valer, ver
.

1) Caber

Indicativo presente — Caibo, cabes, cabe; cabemos, cabeis,
cabem
. Indicativo aoristo — Coube, coubeste, coube; coubemos,
coubestes, couberam
.

2) Crer

Indicativo presente — Creio, crês, crê; cremos, credes,
crêm
. Como crer se conjuga ler.

3) Dizer

Indicativo presente — Digo, dizes, diz; dizemos, dizeis, dizem.
Indicativo aoristo; — Disse, disseste, disse; dissemos, dissestes,
disseram
. Indicativo futuro — Direi, dirás, dirá; diremos,
direis, dirão
. Condicional imperfeito — Diria, dirias, diria; diriamos,
dirieis, diriam
.

4) Fazer

Indicativo presente — Faço, fazes, faz; fazemos, fazeis,
fazem
. Indicativo aoristo — Fiz, fizeste, fez; fizemos, fizestes,
fizeram
. Indicativo futuro — Farei, farás, fará; faremos, fareis,
farão
. Condicional imperfeito — Faria, farias, faria; fariamos,
farieis, fariam
.

5) Haver

Está já conjugado por inteiro (Tabella n.° 2).119

6) Jazer

Indicativo presente — Jazo, jazes, jaz, jazemos, jazeis
jazem
. Indicativo aoristo — Fórma moderna, regular. Jouve,
jouveste, jouve
; jouvemos, jouvestes, jouveram, fórma antiga.

7) Perder

Indicativo presente — Perco, perdes, perde; perdemos, perdeis,
perdem
.

8) Poder

Indicativo presente — Posso, podes, pode; podemos, podeis,
podem
. Indicativo aoristo — Pude, poudeste, poude; poudemos,
poudestes, pouderam
. E’ melhor orthographia do que — Podeste,
pôde
; podemos, podestes, poderam, porquanto representa-se
assim, com o diphthongo portuguez ou, a attracção do diphtongo
latino ui de potui, potuisti, etc. Não tem imperativo.

9) Prazer (impessoal)

Indicativo presente — Praz. Indicativo aoristo — Prouve. O
composto pronominal comprazer-se é quasi perfeitamente regular:
só na terceira pessoa do singular do presente do indicativo
tem a fórma irregular compraz.

10) Querer

Indicativo presente — Quero, queres, quer; queremos, quereis,
querem
. Indicativo aoristo — Quiz, quizeste, quiz; quizemos,
quizestes, quizeram
. Não tem imperativo. Subjunctivo
presente — Queira, queiras, queira; queiramos, queiraes, queiram.
Tanto a este como ao verbo poder deu Vieira imperativo,
quando disse: «Querei só o que podeis, e sereis omnipotentes.
Si quereis ser omnipotentes, podei só o justo e o licito (1)77».120

11) Requerer

Indicativo presente — requeiro, requeres, requer; requeremos,
requereis, requerem
. Indicativo aoristo — Requeri, requereste,
requereu
; requeremos, requerestes, requereram.

12) Saber

Indicativo presente — Sei, sabes, sabe; sabemos, sabeis,
sabem
. Indicativo aoristo — Soube, soubeste, soube; soubemos,
soubestes, souberam
. Subjunctivo presente — Saiba, saibas, saiba;
saibamos, saibais, saibam
.

13) Ter

Está já conjugado por inteiro (Tabella n.° 2).

14) Trazer

Indicativo presente — Trago, trazes, traz; trazemos, trazeis,
trazem
. Indicativo aoristo — Trouxe, trouxeste, trouxe; trouxemos,
trouxestes, trouxeram
. Indicativo futuro — Trarei, trarás,
trará
; traremos, trareis, trarão. Condicional imperfeito — Traria,
trarias, traria
; trariamos, trarieis, trariam.

15) Valer

Indicativo presente — Valho, vales, vale ou val; valemos
valeis, valem
.

16) Ver

Indicativo presente — Vejo, vês, vê; vemos, vedes, vêm.
Indicativo aoristo — Vi, viste, viu; vimos, vistes, viram. O verbo
derivado prover aparta-se em alguns tempos da conjugação
de ver. Indicativo aoristo — Provi, proveste, proveu; provemos,
provestes, proveram
. Participio aoristo — Provido.121

[Verbos irregulares da terceira conjugação]

263. São verbos irregulares da terceira conjugação
adherir, acudir, aggredir, cahir, cobrir, conduzir, cortir, frigir,
ir, medir, parir, remir, rir, vir
.

1) Adherir

Indicativo presente — Adhiro, adheres, adhere; adherimos,
adheris, adherem
. Como adherir conjugam-se advertir, comedir,
compellir, competir, convergir, despir, discernir, divergir,
divertir, emergir, enxerir, expellir, ferir, impellir, inherir,
mentir, preterir, reflectir, repellir, repetir, seguir, sentir,
servir, vestir
. (Enxerir tambem se escreve inserir).

Convergir, divergir, emergir são tambem da segunda
conjugação — converger, diverger, emerger.

2) Acudir

Indicativo presente — Acudo, acodes, acode; acudimos,
acudis, acodem
. Como acudir conjugam-se bulir, construir,
cuspir, destruir, engulir, fugir, sacudir, subir, sumir, tussir
.

Os escriptores antigos conservavam sempre o u na mór
parte d’estes verbos, escrevendo acude, construe, fuge.

3) Aggredir

Indicativo presente — Aggrido, aggrides, aggride; aggredimos,
aggredis, aggridem
. Como aggredir conjuga-se prevenir,
progredir, transgredir
.

4) Cahir

Indicativo presente — Caio, cais, cai; cahimos, cahis,
caem
. Gomo cahir conjugam-se sahir, trahir.

5) Cortir

Indicativo presente — Curto, curtes, curte; cortimos, cortis,
curtem
. Como cortir conjugam-se ordir, sortir.122

A respeito d’este ultimo diz Francisco José Freire (1)78: «N’este
verbo ha uma especial irregularidade que é causa de alguns erros,
pronunciando-se em diversas pessoas e linguageus algumas vezes sor,
e outra sur. A regra dos orthographos para o acerto é que, quando
depois do t se seguir i, se diga sor, v. g, sortiamos, sortis, sortia,
sortias
, etc.; e quando depois do t se seguir a ou e, se pronuncie sur;
por exemplo surta elle, surte, surtem, etc.».

6) Cobrir

Indicativo presente — Cubro, cobres, cobre; cobrimos, cobris,
cobrem
. Como cobrir conjuga-se dormir.

7) Conduzir

Indicativo presente — Conduzo, conduzes, conduz; conduzimos,
conduzis, conduzem
. Como conduzir conjugam-se
todos os verbos terminados em uzir, ex.: «Induzir».

8) Frigir

Indicativo presente — Frijo, freges, frege; frigimos, frigis,
fregem
.

9) Ir

Indicativo presente — Vou, vais vai; vamos ou imos,
ides, vão
. Indicativo imperfeito — Ia, ias, ia; iamos, ieis, iam.
Indicativo aoristo — Fui, foste, foi; fomos, fostes, foram. Imperativo
Vai; ide. Subjunctivo presente — Va, vas, va; vamos,
vades, vão
.

10) Medir

Indicativo presente — Meço, medes, mede; medimos, medis,
medem
. Como medir conjugam-se ouvir, pedir.123

Sobre os pretendidos compostos d’este ultimo diz Francisco José
Freire (1)79: «Despedir: grande contorversia ha sobre si se ha de dizer
eu me despido, ou eu me despeço». Esta pronunciação é do uso reinante,
mas a primeira é não menos que do Vieira em mais de um logar das
suas obras. Na 5.ª pag. do tom. 1, escrovendo ao principe D. Theodosio,
lhe diz: «Eia, meu principe, despida-se vossa alteza dos livros»
etc. No tom. 2. pag. 343, disse tambem: «Com esta ultima advertencia
vos despido, ou me despido de vós
» etc. Seguiu este classico a
«Duarte Nunes de Leão na sua Orthographia, o qual, fazendo um catalogo
de varias pronunciações que so deviam emendar, diz na pag.
70 despido-me e não despeço-me. Os rigoristas estão ainda pelos exemplos
de Vieira o outros bons.». Impedir nos nossos melhores authores
acho-o conjugado: Eu impido, tu impides, elle impide, etc.. Duarte Nunes,
na Origem da Lingua Portugueza, pag. 124, diz; «Adherencia é a
que entre nós impide fazer-se justiça
» etc.. Fundados n’este exemplo e
em outros de diversos classicos, especialmente de Vieira, é que ainda,
alguns não querem fazer irregular este verbo, dizendo: «impido, impides,
impede
, etc, como hoje diz a maior parte dos modernos».

Os verbos despedir e impedir só têm com pedir similhança de forma:
sua origem e sua significação são diversissimas das d’este ultimo.

11) Parir

Indicativo presente — Pairo, pares, pare; parimos, paris,
parem
.

12) Remir

Indicativo presente — Redimo, redimes, redime; remimos,
remis, redimem
. Imperativo — Redime; remi.

13) Rir

Indicativo presente — Rio, ris, ri; rimos, rides, riem.

14) Vir

Indicativo presente — Venho, vens, vem; vimos; vindes,
vêm
. Indicativo imperfeito — Vinha, vinhas, vinha; vinhamos
124vinheis, vinham. Indicativo aoristo — Vim, viesle, veiu; viemos,
viestes, vieram
. Imperativo — Vem; vinde.

Observação n.° 1.) Os verbos compostos conjugam-se exactamente
como os simples de que se derivam. Por não attenderem a isto é que
pessoas, aliás doutas, conjugam os verbos avir e desavir com as flexões
de haver, dizendo «Elle tem de se haver comigoOs socios se deshouveram»,
devendo ser «Elle tem de se avir commigoOs socios se desavieram».
Moraes e Constando erram, procurando explicar a phrase incorrecta
«Have-lo com alguem» a qual deve ser emendada «Avil-o com alguem».
Comprazer, prover, requerer affastam-se de seus simples prazer,
ver, querer
, como fica consignado na lista dos verbos irregulares da segunda
conjugação.

Observação n. 2.) Na conjugação dos verbos irregulares attenda-se
com muito cuidado ás regras seguintes

1) Quando um verbo é irregular na fórma da primeira pessoa
de singular do indicativo presente, communica essa irregularidade
a todas as fórmas do subjunctivo presente, ex.: «Medir».
Indicativo presente — Meço, subjunctivo presente — Meça, meças,
meça
; meçamos; meçais, meçam.

Exceptuam-se dar, estar, haver, ir, querer, saber, que, fazendo
no indicativo presente — dou, estou, hei, vou, quero, sei,
fazem no subjunctivo presente — Dê, esteja, haja, vá, queira,
saiba
, como ficou consignado nos logares respectivos.

2) Quando um verbo é irregular nas fórmas da segunda pessoa,
tanto do singular como do plural do indicativo presente, communica
essa irregularidade ás formas das pessoas correspondentes
do imperativo, ex.: «Remir». Indicativo presente, secunda
pessoa do singular — Redimes; segunda pessoa do plural
remis: Imperativo, segunda pessoa do singular — Redime;
segunda pessoa do plural — remi.

3) Quando um verbo é irregular na fórma da terceira pessoa
do plural do indicativo aoristo, communica essa irregularidade
ás formas em ra do indicativo plusquam perfeito e do concicional
imperfeito, a todas do subjunctivo imperfeito e ás do
subjunctivo futuro, ex.: «Trazer». Indicativo aoristo — Trouxeram,
indicativo plusquam perfeito, condicional imperfeito e
subjunctivo imperfeito em raTrouxera, trouxeras, trouxera;
trouxeramos, trouxereis, trouxeram: Subjunctivo imperfeito
(1.ª forma), Trouxesse, trouxesses, trouxesse; trouxessemos,
trouxesseis, trouxessem
: Futuro — Trouxer, trouxeres, trouxer ;
trouxermos, trouxerdes, trouxerem.125

4) Todos os verbos regulares e irregulares communicam o radical
de suas fórmas do infinito presente impessoal a todas as
fórmas do indicativo futuro, do condicional imperfeito e do
infinito presente pessoal ex.: «Valer». Indicativo futuro — Valerei,
valerás, valerá
; valeremos, valereis, valerão: Condicional
imperfeito — Valeria, valerias, valeria; valeriamos, valerieis,
valeriam
: Infinito presente pessoal — Valer, valeres, valer; valermos,
valerdes, valerem
.

Exceptuam-se dizer, fazer, trazer, que, por uma contracção
especial no indicativo futuro, fazem Direi, dirás, dirá;
diremos, direis, dirão
: Farei, farás, fará; faremos, fareis,
farão
: Trarei, trarás, trará; traremos, trareis, trarão, e no
condicional imperfeito — Diria, dirias, diria; diriamos, dirieis,
diriam
: Faria, farias, faria; fariamos, farieis, fariam: Traria,
trarias, traria
; trariamos, trarieis, trariam.

Observação n.° 3) Os verbos chamados por muitos grammaticos
«accidentalmente irregulares» são verbos perfeitamente regulares: as
suas pretendidas irregularidades desapparecem, si se presta a devida
attenção ás regras da orthographia.

Sobre tal assumpto diz sensatamente Soares Barbosa (1)80. Nunca
«se devem confundir as consonancias com as consoantes, isto é os sons
elementares das consoantes, com as letras consoantes que nossa orthographia
usual empregou para os exprimir na escriptura. Si um som
elementar sôa sempre o mesmo ao ouvido, quer se escreva de um mondo,
quer de outro, para que se ha de fazer da irregularidade da escriptura
uma irregularidade na conjugação?

Por exemplo: as lettras e, g, antes de a, o, u, dão a mesma
consonancia que qu e gu antes de e e i. Não se devia, portanto, dar por
irregular uma caterva de verbos portuguezes terminados em car e gar,
como: ficar, julgar, etc., pela razão de nossa orthographia se servir,
não já d’estas figuras, mas de qu e gu, para exprimir a mesma consonancia
antes de e no perfeito (aoristo, ) fiquei, julguei, e no presente do
subjunctivo fique, julgue, etc.

Da mesma sorte a lettra g antes de e e i representa ao ouvido a
mesma consonancia que exprime o nosso j consoante antes de quaisquer
vogal. Os verbos, pois, em ger e gir, corno eleger, fingir, e infinitos
outros d’esta especie, não deviam ser contados por nossos grammaticos
na classe dos irregulares, por se escreverem com j em logar
de g, quando se lhe segue a, o, como: elejo, eleja; finjo, finja, A anomalia,
126assim como a analogia, está sempre nos sons da lingua, e não
em sua orthographia, e, si de uma cousa se póde argumentar para outra,
é d’esta para aquella e não d’aquella para esta. Só esta observação
restitue á classe dos regulares um grande numero de verbos, exluidos
d’ella sem razão por nossos grammaticos.

Pelo mesmo principio já estabelecido não são tambem irregulares
os verbos attrahir, cahir, e seus compostos contrahir, distrahir, recahir,
etc; sahir, e outros similhantes. Porque, si o h, com que ora se
escrevem, é para separár as duas vogaes em ordem a não fazerem diphthongo,
e mostrar que o i é longo e agudo, muito melhor faziam
isto os nossos antigos dobrando o i, e escrevendo caiir, saiir; e nós
ainda melhor, accentuando o mesmo i, d’este modo «cair, sair»; e tirando
o accento quando faz diphthongo no presente do indicativo e do
subjunctivo, como caio, caia, saio, saia, etc.».

[Verbos defectivos]

264. São defectivos

1) Os verbos brandir, carpir, feder, fruir, fulgir, ganir,
e latir que se não empregam nas formas em que
ao thema se deveria seguir a ou o. Assim, não se
pode dizer — brando, branda; carpo, carpa; fedo,
feda
; fruo, frua; fuljo, fulja; gano, gana, lato,
lata
, etc.

2) Os verbos abolir, addir, adir, banir, colorir, delinquir,
delir, demolir, emollir, empedernir, exinanir,
exhaurir, extorquir, fallir, florir, munir, polir, renhir,
retorquir, submergir
, que se não empregam
as formas em que o thema se deveria seguir a, e,
o
. Assim não se póde dizer addo, ado, bana, demole,
etc.

O correctissimo escriptor, snr. Ramalho Ortigão, usou da fórma
colorem do verbo colorir.

3) Os verbos precaver e rehaver que não são usados
nas tres pessoas no singular e na terceira do plural
do indicativo presente; no imperativo e no subjuntivo
presente.

265. Muitos verbos têm dous participios aoristos, um
regular e outro irregular: este ultimo é contracção do primeiro,
127ou então vem immediatamente do verbo latino. Os participios
aoristos irregulares são mais usados como adjectivos
verbaes, e é por isso que os vemos quasi sempre depois de
ser e estar.

«E’ digno de ler-se o que escreve Leoni (1)81 sobre este assumpto:
Os participios, que tem fórma regular, são geralmente os que se conjugam
com os verbos ter e haver, porque denotam uma acção feita ou
executada; pelo contrario os irregulares, sendo apenas meros adjectivos
verbaes, designam somente qualidade, como todos os adjectivos.
Assim, não podemos dizer: Temos afflicto alguem, em vez de temos
affligido
: porque póde ser um estado não promovido ou causado
por outrem; e «affligido» quer dizer «feito afflicto»; pelo que,
«Temos affligido» significa Temos feito o acto de affligir, ou temos feito
com que alguem ficasse afflicto
».

1) Primeira conjugação

Inf. Pres. | Part. Aor. Reg. | Part. Aor. Irr.

Acceitar, | Acceitado, | Acceito;
Affeiçoar, | Affeiçoado, | Affecto;
Annexar, | Annexado, | Annexo;
Apromptar, | Apromptado, | Prompto;
Arrebatar, | Arrebatado, | Rapto, ant.;
Bemquistar, | Bemquistado, | Bemquisto;
Botar, embotar, | Botado, | Boto;
Captivar, | Captivado, | Captivo ou Capto;
Cegar, | Cegado, | Cego;
Circumcidar, | Circumcidado, | Circumciso;
Compaginar, | Compaginado, | Compacto;
Completar, | Completado, | Completo;
Concretar, | Concretado, | Concreto;
Condensar, | Condensado, | Condenso;
Confessar, | Confessado, | Confesso;
Cultivar, | Cultivado, | Culto;128

Inf. Pres. | Part. Aor. Reg. | Part. Aor. Irr.

Curvar, | Curvado, | Curvo;
Densar, | Densado, | Denso;
Descalçar, | Descalçado, | Descalço;
Despertar. | Despertado, | Desperto;
Dispersar, | Dispersado, | Disperso;
Entregar, | Entregado, | Entregue;
Enxugar, | Enxugado, | Enxuto;
Estreitar, | Estreitado, | Estreito;
Exceptuar, | Exceptuado, | Excepto, usado hoje como preposição;
Excusar, | Excusado, | Excuso, ant.;
Exemptar, | Exemptado, | Exempto;
Expressar, | Expressado, | Expresso;
Expulsar, | Expulsado, | Expulso;
Extremar, | Extremado, | Extreme, ant.;
Faltar, | Faltado, | Falto;
Fartar, | Fartado, | Farto;
Findar, | Findado, | Findo;
Fixar, | Fixado, | Fixo;
Ganhar, | Ganhado, | Ganho;
Ignorar, | Ignorado, | Ignoto;
Infectar, | Infectado, | Infecto;
Infestar, | Infestado, | Infesto;
Inficionar, | Inficionado, | Infecto;
Inquietar, | Inquietado, | Inquieto;
Juntar, | Juntado, | Junto;
Lesar, | Lesado, | Leso;
Libertar, | Libertado, | Liberto;
Limpar, | Limpado, | Limpo;
Livrar, | Livrado, | Livre;
Malquistar, | Malquistado, | Malquisto;
Manifestar, | Manifestado, | Manifesto;
Misturar, | Misturado, | Misto;
Molestar, | Molestado, | Molesto;129

Inf. Pres. | Part. Aor. Reg. | Part. Aor. Irr.

Murchar, | Murchado, | Murcho;
Occultar, | Occultado, | Occulto;
Pegar, | Pegado, | Pêgo;
Professar, | Professado, | Professo;
Quietar, | Quietado, | Quieto;
Rejeitar, | Rejeitado, | Rejeito, ant.;
Requisitar, | Requisitado, | Requisito;
Safar, tirar fóra ou desembaraçar, | Safado, | Safo;
Salvar, | Salvado, | Salvo;
Seccar, | Seccado, | Secco;
Segurar, | Segurado, | Seguro;
Sepultar, | Sepultado, | Sepulto, ant.;
Situar, | Situado, | Sito;
Soltar, | Soltado, | Sôlto;
Sujeitar, | Sujeitado, | Sujeito;
Suspeitar, | Suspeitado, | Suspeito;
Suxar, | Suxado, | Suxo;
Vagar, | Vagado, | Vago;
Voltar, | Voltado, | Vôlto.

2) Segunda conjugação

Inf. Pres. | Part. Aor. Reg. | Part. Aor. Irr.

Absolver, | Absolvido, | Absolto ou absoluto;
Absorver, | Absorvido, | Absorto;
Accender, | Accendido, | Acceso;
Agradecer, | Agradecido, | Grato:
Arrepender, | Arrependido, | Arrepeso, ant.;
Attender, | Attendido, | Attento;
Bemquerer, | Bemquerido, | Bemquisto;
Benzer, | Benzido, | Bento;
Colher, | Colhido, | Colheito, ant.;
Comer, | Comido, | Comesto, ant.;130

Inf. Pres. | Part. Aor. Reg. | Part. Aor. Irr.

Conceder, | Concedido, | Concesso, ant.;
Conhecer, | Conhecido, | Cognito;
Conter, | Contido, | Conteudo, ant.;
Convencer, | Convencido, | Convicto;
Converter, | Convertido, | Converso;
Corromper, | Corrompido, | Corrupto;
Cozer, | Cozido, | Cozei to ou coito, ant.;
Defender, | Defendido, | Defeso;
Desonvolver, | Desenvolvido, | Desenvolto;
Despender, | Despendido, | Despeso, ant.;
Deter, | Detido, | Deteudo, ant. ;
Dissolver, | Dissolvido, | Dissoluto;
Devolver, | Devolvido, | Devoluto;
Eleger, | Elegido, | Eleito;
Encher, | Enchido, | Cheio;
Escolher, | Escolhido, | Escolheito, ant.;
Esconder, | Escondido, | Escuso;
Escorrer, | Escorrido, | Escorreito, termo popular;
Escurecer, | Escurecido, | Escuro;
Extender, | Extendido, | Extenso;
Immerger, | Immergido, | Immerso;
Incorrer, | Incorrido, | Incurso;
Interromper, | Interrompido, | Interrupto, pouco usado;
Involver, | Involvido, | Involto;
Manter, | Mantido, | Manteudo, ant.;
Nascer, | Nascido, | Nado ou nato;
Pender, | Pendido, | Penso;
Perverter, | Pervertido, | Perverso;
Prender, | Prendido, | Preso;
Propender, | Propendido, | Propenso;
Querer, querer bem, | Querido, | Quisto;
Reconhecer, | Reconhecido, | Recognito;131

Inf. Pres. | Part. Aor. Reg. | Part. Aor. Irr.

Recozer, | Recozido, | Recoito, ant.;
Refranger, | Refrangido, | Rafracto;
Remover, | Removido, | Remoto;
Reprehender, | Reprehendido, | Reprehenso;
Resolver, | Resolvido, | Resoluto;
Reter, | Retido, | Reteudo, ant. ;
Retorcer, | Retorcido, | Retorto;
Revolver, | Revolvido, | Revolto;
Romper, | Rompido, | Roto;
Solver, | Solvido, | Soluto;
Submetter, | Submettido, | Submisso;
Surprehender, | Surprehendido, | Surpreso;
Suspender, | Suspendido, | Suspenso;
Tanger, | Tangido, | Tacto;
Tender, | Tendido, | Tenso;
Ter, | Tido, | Teudo, ant.;
Tolher, | Tolhido, | Tolheilo, ant.;
Torcer, | Torcido, | Torto;
Volver, | Volvido, | Volto ant.;

2) Terceira Conjugação

Inf. Pres. | Part. Aor. Reg. | Part. Aor. Irr.

Abstrahir, | Abstrahido, | Abstracto;
Adquirir, | Adquirido, | Acquisto;
Affligir, | Affligido, | Afflicto;
Aspergir, | Aspergido, | Asperso;
Assumir, | Assumido, | Assumpto;
Cingir, | Cingido, | Cincto;
Circumduzir, | Circumduzido, | Circumducto;
Coagir, | Coagido, | Coacto;
Compellir, | Compellido, | Compulso;
Comprimir, | Comprimido, | Compresso;
Concluir, | Concluido, | Concluso;132

Inf. Pres. | Part. Aor. Reg. | Part. Aor. Irr.

Confundir, | Confundido, | Confuso;
Contrahir, | Contrahido, | Contracto;
Contundir, | Contundido, | Contuso;
Convellir, | Convellido, | Convulso;
Corregir, | Corregido, | Correcto;
Diffundir, | Diffundido, | Diffuso;
Diluir, | Diluido, | Diluto;
Digerir, | Digerido, | Digesto;
Dirigir, | Dirigido, | Directo;
Distinguir, | Distinguido, | Distincto;
Distrahir, | Distrahido, | Distracto;
Dividir, | Dividido, | Diviso, pouco usado;
Erigir, | Erigido, | Erecto;
Excluir, | Excluido, | Excluso;
Exhaurir, | Exhaurido, | Exhausto;
Eximir, | Eximido, | Exempto;
Expellir, | Expellido, | Expulso;
Exprimir, | Exprimido, | Expresso;
Extinguir, | Extinguido, | Extincto;
Extorquir, | Extorquido, | Extorto;
Extrahir, | Extrahido, | Extracto;
Fingir, | Fingido, | Ficto;
Frigir, | Frigido, | Frito;
Haurir, | Haurido, | Hausto;
Illudir, | Illudido, | Illuso;
Incluir, | Incluido, | Incluso;
Induzir, | Induzido, | Inducto;
Infundir, | Infundido, | Infuso;
Inserir, | Inserido, | Inserto;
Instruir, | Instruido, | Instructo, pouco usado;
Introduzir, | Introduzido, | Introducto;
Obtundir, | Obtundido, | Obtuso;
Omittir, | Omittido, | Omisso;133

Inf. Pres. | Part. Aor. Reg. | Part. Aor. Irr.

Opprimir, | Opprimido, | Oppresso;
Possuir, | Possuido, | Possesso;
Recluir, | Recluido, | Recluso;
Remittir, | Remittido, | Remisso;
Repellir, | Repellido, | Repulso;
Reprimir, | Reprimido, | Represso, pouco usando;
Restringir, | Restringido, | Restricto;
Submergir, | Submergido, | Submerso;
Supprimir, | Supprimido, | Suppresso, pouco usado;
Surgir, | Surgido, | Surto;
Tingir, | Tingido, | Tincto;

[Formas antigas do particípio]

266. Alguns verbos ha cujas fórmas regulares do participio
aoristo antiquaram-se, servindo as irregulares tanto do
adjectivos verbaes, como de verdadeiros participios na formação
dos tempos compostos. São

1) Primeira Conjugação

Inf. Pres. | Part. Aor. Reg. Antiq. | Part. Aor. Irr. usado

Gastar, | Gastado, | Gasto;
Pagar, | Pagado, | Pago;

2) Segunda Conjugação

Inf. Pres. | Part. Aor. Reg. Antiq. | Part. Aor. Irr. usado

Escrever, | Escrevido, | Escripto;
Descrever, | Descrevido, | Descripto;
Prescrever, | Prescrevido, | Prescripto, etc.134

3) Terceira Conjugação

Inf. Pres. | Part. Aor. Reg. Antiq. | Part. Aor. Irr. usado

Abrir, | Abrido, | Aberto;
Cobrir, | Cobrido, | Coberto;
Descobrir, | Descobrido, | Descoberto;
Encobrir, | Encobrido, | Encoberto;
Imprimir, | Imprimido, | Impresso.

VI
Advervio

267. No admittir graus de comparação (lindamente,
mais lindamente, lindissimamente, boamente, melhormente,
optimamente)
revela o adverbio ter sido palavra flexional nas
antigas linguas indo-germanicas, fontes da portugueza. Como
já ficou dito (184) marca elle a transição das palavras variáveis
para as invariaveis.

Alguns adverbios, os adjectivos adverbiados e as locuções
adverbiaes assumem flexões diminutivas para exprimir encarecimento,
superlatividade, ex.: «Levantai-me cedinhoFallou
baixinho
Estar de pésinho.».

Secção terceira
Etymologia

268. Etymologia é o conjuncto das leis que presidem
á derivação das palavras nas diversas linguas.

Lexeogenia seria termo preferivel a Etymologia. Comtudo este
ultimo tem em seu favor desde séculos a consagração universal: não
póde, pois, ser substituido.

Bem como as especies organicas que povoam o mundo, as linguas,
verdadeiros organismos sociologicos, estão sujeitas á grande lei da lucta
pela existencia, á lei da selecção. E é para notar-se que a evolução linguistica
se effectua muito mais promptamente do que a evolução das
135especies: nenhuma lingua pareee ter vivido por mais de mil annos, ao
passo que muitas espceies, pareee terem-se perpetuado por milhares de
séculos.

E’ admiravel o seguinte confronto (1)82:

A selecção

nas especies

1) As espeeies têm suas variedades,
obra do meio ou
de causas physiologicas.

2) As especies vivas deseendem
geralmente das especies
mortas do mesmo paiz.

3) Uma especie em um paiz isolado
passa por menos variações.

4) Variações produzidas pelo
eruzamento eom espeeies distinctas
ou extrangeiras.

5) A superioridade das qualidades
physicas que asseguram
a vietoria dos individuos de
uma especie causa da selecção.

6) A belleza da plumagem ou
a melodia do canto, causa da
selecção.

7) Laeunas numerosas nas especies
extinctas.

8) Probabilidades de duração
de uma especie, em um numero
dos individuos que a compõem.

9) As especies extinctas não
reapparecem mais.

10) Progresso nas especies pela
divisão do trabalho physiologico.

nas linguas

1) As linguas têm os seus dialectos,
obra do meio ou dos eostumes.

2) As linguas vivas descendem
geralmente das linguas mortas
do mesmo paiz.

3) Uma lingua em um paiz
isolado passa por menos variações.

4) Variações produzidas pela
introdução de palavras novas,
devidas ás relações exteriores,
ás sciencias, á industria.

5) O genio litterario e a instrucção
publica centralisada,
causas da selecção:

6) A brevidade ou a euphonia
causa da selecção.

7) Laeunas numerosas nas linguas
extinetas.

8) Probabilidades de duração
de uma lingua em o numero
dos individuos que a fallam.

9) As linguas extinctas não
reappareeem mais.

10) Progresso nas linguas pela
divisão do trabalho intellectual.136

Classificação genealogica

nas especies

1) Constancia de estructura;
orgams de alta importancia
physiologica; orgams de importancia
variada.

2) Vestigios de estructura primordial:
orgams rudimentarios
ou atrophiados: estructura
embryonaria.

3) Uniformidade de um conjuncto
de kharacteres.

4) Cadeia do affinidades nas
especies vivas ou extinctas.

nas linguas

1) Constancia de estructura;
radicaes de alta importancia;
flexões de importancia variada.

2) Vestigios de estructura primordial:
lettras rudimentarias
ou atrophiadas: phase embryonaria.

3) Uniformidade de um conjuncto
de kharacteres.

4) Cadeia de affinidades nas
linguas vivas ou extinctas.

269. As palavras da lingua portugueza derivam-se

1) de palavras da lingua latina considerada mãe;
2) de outras palavras da mesma lingua portugueza.
3) de palavras de linguas extrangeiras antigas e modernas.

A lingua latina, transformando-se, produziu sete linguas
chamadas novo-latinas ou romanicasO Portuguez, o Hespanhol,
o Francez, o Provençal, o Italiano, o Ladino e o
Rumeno (1)83.

270. O dominio actual da Lingua Portugueza comprehende
18.050:000 pessoas em uma area territorial de
10.277:000 khilometros quadrados, assim distribuida pela
America do Sul, Europa, Africa, Asia e Oceania:137

image Norte — Amazonas, Pará, Maranhão, Piauhy, Ceará, Rio Grande do Norte, Parahyba, Pernambuco | Leste — Alagôas, Sergipe, Bahia, Espirito Santo, Rio de Janeiro, S. Paulo | Sul — Paraná, Santa Catharina, Rio Grande do Sul | Centro — Minas Geraes, Goyaz, Matto Grosso | Reino Europeu, Madeira, Açores | Ilhas da Africa | Guiné Meridional | Moçambique | India | Macau e Timor | Khilometros quadrados | Habitantes | 4.172.000 | 3.080.000 | 942.000 | 3.950.000 | 536.000 | 750.000 | 2.702.000 | 2.320.000 | 93.000 | 4.700.000 | 4.000 | 150.000 | 810.000 | 2.000.000 | 1.000.000 | 350.000 | 4.000 | 450.000 | 14.000 | 300.000 | Totaes | 10.277.000 | 18.050.000

(1)84

271. O estudo comparativo das linguas romanicas leva-nos
ao conhecimento das leis gloticas que presidiram á evolução
do Latim. No estado actual da sciencia physiologica é
impossivel assignalar todas as causas que produziram taes
leis. O que não soffre duvida é quanto contribuiu para ellas a
influencia do meio, alliada ao pendor que tem o homem, assim
como todo o animal, para empregar o minimo exforço
possivel na realisação de actos physiologicos (2)85. E’ por causa
138d’esta tendencia, pronunciadissima nos climas enervadores dos
paizes intertropicaes, que as linguas européas tanto se têm adoçado
e corrompido em certas partes da America.

272. Na passagem do Latim para Portuguez nota-se:

1) a persistencia do accento tonico: fémea de fémina,
hómem
de hómine, pállido de pállido (1)86.

E’ esta a grande lei da evolução glottica que deu o dominio
romanico: pela persistencia do accento prepetuou-se
o Latim nas suas sete filhas. Se se eliminasse das palavras
romanicas o accento latino, originar-se-ia um khaos
linguistico em que ninguem se poderia mais entender;
perder-se-hia de uma vez o fio conductor que levou Diez
e Brachet ás suas maravilhosas descobertas; extinguirse-ia
o germen de vida que deu Acoli á Italia e Coelho
a Portugal.139

2) a queda da voz livre não accentuada

a) no principio das palavras: bispo de episcopo, relogio
de horologio.

b) no meio das palavras: bondade de bonitate, caldo
de calido.

Esta syncope dá-se especialmente com a voz sendo rara
com as outras.

c) no fim das palavras: amor de amore, tom de tono.
Esta apocope dá-se com as vozes e e i depois
das modificações c, b, m, n, r. Com u é ella rara.

3) queda de modificações vocaes e até de syllabas inteiras

a) no principio das palavras: irmão de germano.

E’ rarissima esta apherese.

b) no meio das palavras: boi de bove, dedo de digito;
dono de domino, vêa (veia) de vena, mãe
de matre.

Esta syncope dá-se especialmente com as modificações b,
d, g (gh), l, n, r, v
; com o grupo tr, com as syllabas
em que entram taes elementos.

c) no fim das palavras : si (sim) de sic, a de ad,
vime de vimine.

Esta apocope dá-se éspecialmente com as modificações e,
d, m, n, t
, e com as syllabas em que entram taes elementos.

4) conversão das vozes tonicas

a) e em i: migo, de mecum, sigo de secum, sigo
(verbo) de sequor, tigo de tecum.

b) i em e: cedo de cito, pero de piro.

c) o em u: cumpro de compleo.

E’ rara esta conversão.140

d) u em o: copa de cupa, lobo de lupo.

5) conversão das vozes atonicas

a) a em e: espargo de aspárago.
b) ai: IgnezAgnéte.
c) eo: Orugaerúca.
d) eou: (por attracção): ouriço de ericio,
e) ie: gengiva de gingiva.
f) oe: escuroobscuro.
g) uo: ortigaurtica.
h) uou: ourinaurina.

6) conversão dos diphthongos

a) ae em e: Cesar de Cæsar.
b) au em a, o, ou, ou oi: Agosto de Augusto; pobre
de paupere; mouro, moiro de mauro; ouro, oiro
de auro.

7) conversão em j da voz livre quando posta antes de
outra tambem livre: jerarkhia de hierarchia; Julio
de Iulio.

8) abrandamento das modificações vocaes fortes, especialmente

a) de b em v: arvore de arbore, fava de faba.
b) de e em g: gruta de crypta, lago de lacu.
c) de f em v: ourives de aurifice, Estevam de Stephano.
d) de n em l: alma (álima) de anima, alimaria de
animalia.

e) de p em b: lobo de lupo, pobre de paupere.

Por meio de uma forma intermedia em b, p, transforma-se
em v: escova de scopa por meio de scoba; povo de pobo
(fórma antiga) e de poplo, poblo fórmas conjecturaes.
Compare-se o Hespanhol pueblo. E’ raro este abrandamento.

f) de t em d: roda de rota, vide de vite.141

9) reforço das modificações vocaes brandas, especialmente
de l por d: escada de scala, deixar de laxare.

10) dissimilação de modificações para evitar que sejam
Repetidas na mesma palavra. Faz-se

a) convertendo uma modificação vocal em outra da
mesma classe: alvitre de arbitrio (r em l); marmelo
de melimelo (l em r); rouxinol de lusciniolu
(l em r).

b) suprimindo uma modificação vocal: prôa de prora
(suppressão de r), frade de fratre (suppressão de r).

11) de generação

a) de c (k) em s: cera (pronuncia-se sera) de cera
(pronuncia-se kera); Cicero (pronuncia-se Sissero)
de Cicero (pronuncia-se Kikero).

b) de g (gh) em j: gente (pronuncia-se jente) de gente
(pronuncia-se ghente); giro (pronuncia-se jiro)
de gyro (pronuncia-se ghira).

c) de s em z: casa (pronuncia-se caza) de casa (pronuncia-se
cassa); rosa (pronuncia-se roza) de rosa
(proriuncia-se rossa).

d) de x (cs) em z: exame (prouuncia-se ezame) de
examine (pronuncia-se egzamine).

e) de x (cs) em x (ch): luxo (pronuncia-se lucho) de
luxu (pronuncia-se lucsu).

f) de ti em ç: nação de natione, Horacio de Horatio.

12) conversão de modificações geminadas em molhadas;
especialmente

a) de ll em lh: galha de galla, centelha de scintilla.

b) de nn em nh: grunhir de grunnire, pinha de
pinna.

13) desapparição da primeira de duas modificações que
actuam sobre a mesma voz: augmento (pronuncia-se
aumento) de augmento; recto (pronuncia-se réto)
de recto; psalmo (pronuncia-se salmo) de psalmo.142

14) dissolução em voz livre da primeira de duas modificações
que actuam sobre a mesma voz.

A modificação dissolvida fica formando diphthongo com a voz precedente.
C, g, l, p, iniciaes de grupos modificativos dissolvem-se em
i: noite de nocte; reinar de regnare; buitre, escuitar (forma antiga e
usada ainda no Brazil), fruita (forma antiga e ainda usada no Brazil),
muito de vulture, ascultare, fructu, multo; conceito de concepto. X divide-se
em cs: c dissolve-se em i, e s assume a fórma graphica de x com
valor de ch: eixo de axe, teixo de taxo. O mesmo acontece com os grupos
ct, ps, sc, ss: feito de facto, caixa de capsa, feixe de fasee, paixão
de passione.

Sobre a voz que precede a modificação dissolvida ha a notar.

a) a voz a antes de i, resultante da dissolução de p (grupo
ps) e de s (grupo ss) fica inalterada: caixa de capsa, paixão
de passione.

b) a voz a antes de i, resultante da dissolução de e (grupos
cs = x e ct) e de s (grupo se) converte-se em e e forma o
diphthongo ei : teixo de taxo, feito de facto, feixe de defasce.

c) a voz a antes de i, resultante da dissolução de l, converte-se
em o formando o diphthongo oi: coice de calce; foice
de falce.

Na mór parte dos casos, a dissolução depois de o, além
de ser em i pode tambem ser em u: noite ou noute, coice
ou couce, foice ou fouce. Todavia ha fórmas immoveis consagradas
pelo uso; diz-se sempre oito e não outo; Outubro,
douto
e não Oitubro, doito.

Depois de u é rara a dissolução de c em i; todavia ha
exemplos, como os acima citados escuitar, fruito que se
encontram em Camões e são vigentes no Brazil.

N’este caso de dissolução a voz precedente u converte-se
por vezes em o: aloitar, loitar (em Portuguez antigo, no
dialecto Gallego e ainda hoje no interior do Brazil) por luctar
de luctare.

15) conversão em ch dos grupos iniciaes cl, fl, pl: chave
de clave; chamma de flamma, chuva de pluvia.

Para comprehender-se como estes grupos latinos pouderam dar a
modificação ch, o unico meio é recorrer á comparação com as outras
linguas romanicas.143

Os grupos iniciaes cl, fl, pl em Francez permacem inalterados —
clef, flamme, pluie; em Hespanhol convertem-se em llllave, llama
lluvia
; em Italiano o segundo elemento (l) dissolve-se em ichiave
fiamma, pioggia
. Esta ultima lingua permitte-nos organisar o seguinte
eskhema (1)87 em o qual a transformação gradativa pode ser seguida pela,
vista.

kl | fl | pl
ki | fi | pi
kj | fj | pj
j | j | j
ch | ch | ch

Nos tres grupos l dissolve-se em i; por sua vez i transforma-se
em j; j repelle o primeiro elemento (k, f, p), e toma o som que tem
em gallego (Xente, Xaneiro, Xunho, Xuiz) representado graphieamente
por ch.

Robustecem ainda esta theoria as formas castelhanas jaga, jano,
jeno
; em Portuguez chaga, chão, cheio; em Hespanhol classico llaga,
llano, lleno
; em Italiano piaga, piano, pieno; em Francez plaie, plain,
plein
; em Latim plaga, plano, pleno. A consanguineidade das fórmas
portuguezas chaga, chão, cheio com as castelhanas jaga, jano, jeno, além
de ficar phonicamente estabellecida a uma simples audição, prova-se
tambem historicamente. Em um praso do seculo XIV (2)88 lê-se «Ua fila
de Margarida que
Jamam Luzia, que traga com elles este herdamento».

16) conversão do grupo medio ct em ch nas palavras
cacho de cacto (3)89, colcha de culc’ta, trecho de tracto.144

17) conversão em lh dos grupos medios

a) bl: ralhar de rab’lare (rabulare), trilhar de trib’lare
(tribulare).

b) cl: espelho de spec’lo (speculo), olho de oc’lo (oculo). .

c) gl: coalhar de coag’lare (coagulare), telha de teg’la
(tegula).

d) pl: escolho de scop’lo (scopulo) manolho (manojo,
Brazil) de manup’lo (manupulo, manipulo).

e) sl; ilha de is’la (insula).

E’ o unico exemplo do caso. Compare-se o Francez île
(isle).

f) tl: rolha de rot’la (rotula), velho de vet’lo (vetulo).

A par d’estas encontram-se outras fórmas diversas, derivadas
destes mesmos grupos, por exemplo:

a) bl: diabo, diacho, dianho (S. Paulo), assim como a forma
regular dialho (Minas).

b) cl: mancha a par de malha de mac’la (macula)

c) gl: tecla a par de telha teg’la (tegula); regra a par de
relha de reg’la (regula).

d) pl: ancho de amplo. A causa desta anomalia é a nasalidade
da syllaba que procede o grupo: seria difficil sinão
impossivel pronunciar satisfactoriamente lh depois de m
ou n. Encher de implere; é esta uma palavra composta:
145raiz ple de plere (testo), in prefixo. Reduz-se, pois, a
um simples caso da regra acima [16)] sobre pl inicial.

e) tl: rolo, rol de rot’lo (rotulo).

18) inserção de um b euphonico entre os elementos m
e r do grupo mr, resultante da queda de uma voz:
lembrar (nembrar antigo) de mem’rare (memorare),
hombro de hum’ro (humero).

Compare-se combro de cum’lo (cumulo) numbro popular
por numéro) de num’ro (numero); semblante (sembrante
antigo) de sim’lante (similante)

A’ acção da mór parte das leis exaradas acima escapam
muitos casos que, longe de serem excepções, são exemplos
de leis mais particulares que não cabe aqui registrar.

19) a obliteração do genero neutro.

20) o apparecimento dos artigos o, a, os, as, um, uma,
uns, umas
.

21) a suppressão dos casos e a passagem da declinação
para o estado analytico por meio de preposição ex.:

image O (os) servo, os / do (dos) servo, os / ao (aos) servo, os / o (os) servo, os / o servo, os / pelo (pelos) servo, os | em vez de | Servus, i / servi, orum / servo, is / servum, os / serve, i / servo, is

22) a passagem da conjugação para o estado analytico
por meio de auxiliares, ex:

image Eu terei amado / eu teria amado / eu sou amado / eu serei amado | em vez de | Amavor / amavissem / amor / amabor146

23) construcção direita da phrase na ordem logica actual
do pensamento, ex.:

image Escreverei a vida de D. João de.Castro, varão ainda maior que o seu nome, maior que as suas victorias. / F. Freire de Andrade | confrontado a | Facturusne opera pretium sim, si a primordio Urbis res Populi Romani perscripserim, nec satis scio, nec si sciam dicere ausim / Titus Livius.

I
Substantivo

§ 1.°
Substantivos portuguezes derivados de substantivos latinos

272. Os substantivos portuguezes derivam-se dos substantivos
latinos em ablativo do singular, ex.: «Filha, servo,
edade, exercito, especie
» vem de «Filia, servo, enlate, exercitu,
specie
».

A medida que a linguagem latina popular foi desconhecendo a
importancia dos casos, foram-se estes reduzindo aos que, com mais sensivel
differença de flexão, exprimiam as relações mais urgentes do pensamento.
Por preencher a ambos estes requisitos triumphou o ablativo.
Mas, o que aconteceu com relação ao plural? A ignorancia do povo,
ou antes, o seu bom senso, não se podia accommodar com as formas
diversissimas e, na apparencia, irregulares — Filiabus, servis, cetalibus,
147exercitibus, speciebus
. Foi, pois, adoptada a mais regular, a mais
homologa, a menos complexa de todas, o accusativo plural, cuja flexão
resumia-se quasi sempre em acrescentar um simples s ao ablativo singular
— de Filia, filias; de servo, servos; de œtate, œetates; de exercitu,
exercitus
; de specie, species (1)90.

Os nomes acabados em ão constituem á primeira vista
uma excepção a esta regra tão simples e tão logica da formamação
do plural. Basta, porém, um olhar aos seguintes eskhemas
para que resalte a perfeita regularidade do que é apparentemente
uma irregularidade:

image Ancião / castellão / cortezão / grão / irmão / vão | Terminação singular do substantivo latino ano | Terminação plural do substantivo popular latino anos | Terminação singular do substantivo portuguez ão | Terminação plural do substantivo portuguez ãos

O n não se perdeu na passagem do Latim popular para o Portuguez:
existe como nasalação do a, e é representado graphicamente pelo
til. (Vide 55).148

image cão / pão | Terminação singular do substantivo latino ane | Terminação plural do substantivo latino anes | Terminação singular do substantivo portuguez ão | Terminação plural do substantivo portuguez ães

Tambem neste caso não se perdeu o n ao passar o Latim popular
para o Portuguez: existe como nasalação do a, e é representado graphicamente
pelo til.

Resta agora saber como a terminação ane do singular se converteu
em ão. A terminação ane pela queda do e final reduziu-se a an, e
este som era representado por am, ex.: «Cam, pam». Ora mais tarde
um leu-se ão, e dahi resultou a confusão e a homologação de fórmas diversas
por origem (1)91.

image Acção / dicção / facção / habitação / prelecção / supposição / etc. | Terminação singular do substantivo latino popular one | Terminação plural do substantivo popular latino ones | Terminação singular do substantivo portuguez ão | Terminação plural do substantivo portuguez ões

Ainda neste terceiro caso não se perdeu o n ao passar o Latim popular
para Portuguez: existe comonasalação do a, e é representado graphicamente
pelo til.

A conversão do one em ão é devida á mesma causa acima exposta.
One pola queda de e final reduziu-se a on, ortographado om, e lido
ão. O plural, pois, em ãos, ães, ões, em vez de ser uma anomalia, é o
fio que tem o linguista para penetrar neste labyrintho etymologico.149

Dos tres generos que havia em Latim, masculino, feminino e
neutro, só os dous primeiros passaram para o Portuguez; e o neutro
obliterou-se.

Eis em resumo a analyse destes factos:

1) Os substantivos latinos masculinos conservaram-se masculinos
em Portuguez: assim Mundus, murus, filius deram Mundo,
muro, filho
. Os substantivos femininos portuguezes Cor,
dor, flor
vêm dos masculinos latinos Color, dolor, flos: esta
anomalia é devida á influencia do Francez, em que só com
tres excepções são femininos os substantivos de cousas inanimadas,
derivadas de substantivos latinos masculinos em or-.
Na palavra Honra mudou-se o genero do radical Honor por
infjuencia da terminação accidental femenina a.

2) Os substantivos latinos femininos conservaram-se femininos
em Portuguez: assim Rosa, luna, fillia deram Rosa, lua, filha.

3) Os nomes neutros latinos filiaram-se em Portuguez ora entre
os masculinos, ora entre os femininos.

O povo romano não conservou por muito tempo a intuição das razões
quo o tinham levado a dar de preferencia o genero neutro a taes
ou taes substantivos: pouco a pouco os substantivos neutros se foram
passando para o genero masculino. Este erro, que os grammaticos romanos
consignam como usual sob o Império, encontra-se frequentemente
nas inscripções, em que gravadores ignorantes pozeram «Templus,
memhrus, brachius
» em vez de «Templum, membrum, braehium». D’ahi
os masculinos portuguezes «Templo, membro, braço». Mais tarde, por
occasião da queda do Império, a força sempre crescente da anologia deu.
logar a um engano ainda mais grosseiro; tomou-se o plural neutro em
a por um nominativo singular da primeira declinação, e assim «Folia,
pira, poma
», pluraes de «Folium, pirim, pomum» foram declinados
como rosa, apparecendo em certos textos de Latim merovingio fórmas
monstruosas como Pecoras, folias, etc. E’ por isto que temos em Portuguez
os substantivos femininos «Folha, pêra, poma, etc., derivados
dos substantivos «Folium, pirum, pomum», etc.

§ 2.°
Substantivos derivados de palavras da lingua portugueza

274. Além dos substantivos que constituem o fundo
do Portuguez e dos de tekhnologia moderna, que se vão multiplicando
150com o progredir das sciencias, outros ha que se
derivam quotidianamente dos substantivos, adjectivos, e verbos
já existentes na lingua.

Affixos

275. Com as palavras existentes consideradas como
radicaes (Vide 183) formam-se novas palavras por meio de
affixos.

276. Affixo é a palavra que, ajunctada a uma palavra
já existente ou ao seu thema, modifica-lhe a significação
por meio de uma idéia accessoria que lhe accrescenta, ex.:
«de Fórma, refórma (fórma nova) — de guerra, guerreiro
(homem que faz a guerra)».

277. Dividem-se os affixos em prepositivos (que se
põem antes do thema) e pospositivos (que se põem depois do
thema).

278. Os affixos prepositivos chamam-se prefixos; os,
pospositivo chamam-se suffixos.

Prefixos ha que não alteram a significação do thema; chamam-se
expletivos, ex.: «Atambor».

279. As palavras formadas de outras por, meio de
affixos chamam-se derivadas-compostas.

Prefixos

280. Os prefixos portuguezes são tomados em sua
quasi totalidade do Latim e do Grego.

281. Alguns são tomados do Latim com pequena alteração,
e outros sem nenhuma.

1) a (expletivo) — Abarracamento, ametade.

2) a, ab, abs, (apartamento) — Aversão, abjuração, abstracção.

3) a, ad, (lôgar onde, com palavras que significam
151estado, quietação; logar para onde, com palavras que
exprimem tendencia, movimento) — Abordagem, adjuncção.

Antes de c, f, g, l, n, p, r, s, t, — ad homologa o d,
ex.: «Accaso, affeição, aggravação, allusão, annuncio, approvação;
arrumação, accenso, attenção
».

4) ante (situação anterior, prioridade de tempo) — Antebraço,
antedata
.

5) bem (exito feliz, perfeição) — Bemaventurança, bemcasado,
bemfeitoria
.

6) bis (repetição) — Bisavô, bissecção.

7) circum (contorno) — Circumferencia, circumloquio.

Antes de lettra vogal circum deixa cahir o m: ex.: «circuito»;
conserva-o todavia em «circumambiente».

8) com (concurso, concomitancia)- — Coacção, conjectura,
compaixão
.

Com

a) antes do b, m, p conserva-se inalterado, ex.: «Combatimento,
commettimmento, compadre
».

b) antes de c, d, f, g, j, n, q, s, t, v muda o m em n, ex.:
«Concordia, conducção, confrade, conglobação, comjuiz,
connexão, conquista, consogro, conturbação, convergencia
».

c) antes do l e r homologa o m, ex.: «Collocação, correlação».

d) antes de lettra vogal deixa cahir o m, ex.: «Coherdeiro,
cooperação
».

9) contra (situação fronteira, opposição) — Contrabateria,
contrabando
.

10) de (principio, origem) — Decurso, degradação.

11) des (negação) — Desfavor, desventura.

12) dis (separação) — Discordancia, disjuneção.152

Dis

a) antes de c, p, s, t, conserva-se inalterado, ex.: «Discrepancia,
disposição, dissecção, distracção
».

b) antes de f homologa o s, ex.: «Difamação, diffusão».

c) antes de g, l, m, r, v deixa cahir o s, ex.: «Digestão, diluvio,
dimensão, directoria, diversão
».

13) e (extracção) — Elucidação, emersão.

14) ex (logar d’onde, cessação) Extracção, exuberahcia.

Antes de fex homológa o x, ex.: «Effeito». Converte-se
frequentemente em is, ex.: «Isenção».

15) in (logar onde, com palavras que significam estado,
quietação; logar para onde, com palavras que significam
tendencia, movimento; negação) — Incisão, influencia,
injustiça
.

In

a) antes de b, p muda o n em m, ex.: «Inbibição, impiedade».

b) antes de l, m, r, homologa o n, ex.: «Illapso, immundicia,
irrupção
».

c) in as mais das vezes converte-se em en e antes de b, m,
p
, em em, ex.: «Encarecimento, embaraço, emmadeiramento,
empino
».

16) inter (situação media) — Interposição, intersecção.

Inter, as mais das vezes converte-se em entre, ex.:
«Entrecasca, entreforro».

17) intro (tendencia para logar interno) — Introducção,
introversão
.

18) mal (mau exito, impeifeição) — Malandança, malfeitoria.

19) manu (obra de mãos) — Manufactura, manuscripto.153

Manu converte-se algumas vezes em mam e mani, ex.:
«Mampostciro, manistergio».

20) meio (dimidiação) — Meiodia, meio-relevo.

21) não (negação) — Não-conformidade, não-razão.

22) ob (situação fronteira, opposição) — Objecio, obstaculo.

Ob antes de e, f, p homológa o b, ex.: «Occurrencia, officio,
oppugnação
».

23) per (logar por onde, superlatividade) — Perseguição,
perfeição
.

24) post (successão) — Postcommunio, posthumaria.

Antes de lettras alterantes post, as mais das vezes, deixa
cahir o t, ex.: «Pospello, posposição».

25) pre (antecedencia) — Preposição, previsão.

26) preter (omissão, excesso) — Pretermissão, preternaturalidade.

27) pro (patrocinio, substituição) — Promoção, pronotario.

28) re (repetição, regresso) — Retoque, repulsão.

29) retro (regresso) — Retrogradação.

30) salvo, a (isenção) — Salvoconducto, salvaguarda.

31) se (apartamento) — Sedacção, segregação.

32) semi (demidiação) — Semicirculo, semicupio.

33) solo, a (inferioridade) — Sotomestre, sotavento.

34) sub (inferioridade) — Subchefe, submissão.

Antes de c, f, g, psub homologa o b, ex.: «Succursal,
suffusão, suggestão, supposição
». Converte-se frequentemente
em soc, sof, sor, com o b homologado, ex.: «Soccorro,
soffrimento, sorriso
»: ainda n’esta cenversão perde algumas
vezes o b, ex.: «Socava».

35) subter (inferioridade) — Subterfugio.

36) super (superioridade) — Superabundancia, superfluidade.154

37) trans (mutação, passagem) — Transfiguração, transgressão.

Trans converte-se frequentemente em tra, tras, tres, ex.:
«Traducção, Trasladação, tresvario». Antes de s deixa cahir
o s, ex.: «Transcripção».

38) tris (triplicação) — Trisavô.

Antes da lettra alterante deixa cahir o s, ex.: «Trifolio».
Converte-se frequentemente em tres, ex.: «Tresdobro».

39) ultra (situação além, excesso) — Ultramar, ultraromantismo.

40) vice (subtituição com inferioridade) — Vice-almirante,
vice-rei
(antigamente viso-rei).

Vice deixa ás vezes cahir o e, mudando o e em s, ex.:
«Visconde».

282. São tomados do Grego

1) a ou an (privação) — Aphonia, anarkhia.

2) amphi (dualidade) — Amphisbena.

3) ana (elevação) — Analogia.

4) anti (opposição) — Antipathia.

5) apo (apartamento) — Apogeu.

6) kata (abaixamento) — Catastrophe.

7) dia (intermediação) — Diametro.

8) ec óu ex (apartamento) — Ecstasis, exodo.

9) en (tendencia) — Enema.

10) endo (internação) — Endosmose.

11) epi (superposição) — Epilogo.

12) exo (externação) — Exosmose.

13) hyper (excesso) — Hyperbole.

14) hypo (submisso) — Hypothese.

15) meta (transposição) — Metathese.

16) para (cognação) — Paraphrase.

17) peri (circuito) — Perimetro.155

18) pro (anteposição) — Prothese.

19) pros (tendencia) — Prosphonema.

20) syn (conjuncção) — Syntaxe.

Antes de l e msyn homológa o n, ex.: «Syllaba,
symmetria
». Antes de b e p converte o n em
m, ex.: «Symbolo, sympathia».

Suffixos

283. Os suffixos portuguezes são numerosos, uns derivados
das fórmas latinas, outros das fórmas augmentativas,
diminutivas e pejorativas da propria lingua. Destes ultimos já
tudo ficou dito na Kampenomia (230 a 240).

A) Suffixos que se juntam ao radical de substantivos.

1) aço: para nomes que exprimem percussão, golpe,
ex.: .«Lançaço, pistolaço».

Esta formação é muitissimo usada no Rio-Grande do Sul
por influencia do Hespanhol das republicas limitrophes.

2) ada: para a maior parte dos nomes que exprimem
a idéia de percussão e acto, como: «Estocada, facada,
pedrada, rapaziada
».

Esta suffixo é muito peculiar da lingua portugueza, no
sentido indicado. Exprime tambem a ideia de porção, e de
tempo, ex.: «Alvorada, barrigada, caldeirada, mesada, noitada,
pratada, temporada, tigellada
».

3) ade: nos substantivos derivados da terceira declinação
latina, cuja fórma se fixou; como em Mortandade,
tempestade, cidade (civitate
).

Por analogia, muitos nomes tomaram este suffixo: amizade
(amicitia), ceguidade (g. vic. ii. 354), mansidade (id. iii,
389, mansuetudine, mansidão), soledade (solitudine, solidão).156

Este suffixo exprime sobretudo qualidades abstractas consideradas
em si, como: Dilatabilidade, fusibilidade, impenetrabilidade,
impressionabilidade, sensibilidade
.

4) ado: exprime dignidade, profissão, tal e qual como
no Latim o suffixo atus, ainda conservado no Portuguez
litterario em ato; taes são: Condado, consulado,
ducado, episcopado, marquezado, mestrado,
professorado
.

5) agem: para denotar reunião, multidão; é derivado
do suffixo latino aticum contrahido em at’cum, porque
o tantes de e ou i não accentuados teve o som
de z e g; ex.: «Portaticum (portagem), viaticum
(viagem), plumagem, folhagem, passagem, contagem,
cabotagem, tonelagem, matalotagem , camaradagem
».

6) al: exprime collecção quantidade das cousas significadas
pelos substantivos a que se junctam, ex.:
«Areial, colmeal, faval, feijoal, laranjal, olival, tojal».

7) alha: significa ajuntamento, ex.: «cordoalha». Adduz
por vezes sentido peiorativo á ideia de ajuntamento,
ex.: «canalha, miuçalha».

8) ama: exprime accumulação, concretização em um
todo das cousas significadas pelos substantivos a que
se junctam, ex.: Courama, dinheirama.

9) ame: exprime o mesmo, ex.: «vasilhame, velame»;

10) aria: exprime sobretudo estabelecimento e agglomeração,
ex.: «Hospedaria, ourivesaria, padaria,
pastellaria, escadaria, rataria, vozeria
».

11) ato: esta fórma erudita ainda se encontra em «Baronato,
canonicato, cardinalato, curato, generalato
,
etc.»

12) dura: exprime collecção completa das cousas significadas
pelos substantivos a que se juncta, ex.: «Cercadura,
dentadura, pregadura
».157

13) ão: designa especialmente pessoas, quando derivado
do suffixo latino anus; ex.: «Irmão de germanus,
romão
, (ant.) de romanus, capellão, castellão, cirurgião,
comarcão, hortellão
».

14) edo, eda: exprime plantio regular dos vegetaes significados
pelos substantivos a que se junctam, ex.:
«Alameda, arvoredo, figueiredo, olivedo, vinhedo».

15) eiro: proveniente do suffixo latino arius, exprimindo
a ideia de officio, ex.: «Carpinteiro (charperite,
em Francez; perdeu-se o radical em Portuguez), ferreiro,
padeiro, sapateiro, vaqueiro
». Exprime tambem
instrumentos e receptaculo: «Areeiro, brazeiro,
lanceiro, marteiro
(ant.), taboleiro, tinteiro». Significa
ainda pessoa que gosta do objecto indicado
pelo substantivo rádical, ex.: Broeiro (que gosta de
broas. Portugal) crianceiro, janelleiro, parenteiro
(S. Paulo).

Finalmente, serve para formar nomes de arvores
fructiferas, com a particularidade de que n’este caso
a terminação acompanha o thema em genero, isto é,
de que fica o nome do fructo. Assim, diz-se limeira,
pereira
porque lima e pera são do genero feminino
e limoeiro, pereiro, porque limão, pero são do
genero feminino.

Exceptua-se figueira de figo, cumprindo notar que
ficus (figo) em Latim é substantivo feminino.

16) ena; desiga especialmente os numeros collectivos:
ex.: «Centena, dezena, novena, onzena, quarentena,
trezena, vintena
».

17) essa, eza e iza: o suffixo latino issa dá estas tres
fórmas portuguezas de substantivos femininos, ex.:
«Abbadessa, condessa, baroneza, duqueza, marqueza,
pnnceza, prioreza, poetiza, prophetiza, sacerdotiza
».

18) ia: exprime emprego, cargo, e tambem o logar em
158que se exerce emprego, cargo, ex.: «Abbadia, freguezia,
prelazia, primazia, recebedoria, sakhristia,
thesouraria
».

19) io: designa ajunctamento ex.: «Rapazio, mulherio».

20) ismo: designa a generalisação do significado do substantivo
primitivo, ex.: «Heroismo khristianismo,
materialismo, organismo, positivismo, transformismo
».

21) ista: designa pessôas, e ao mesmo tempo seu emprego,
profissão, estado, modo de ser; derivado do
Latim barbaro ista, ex.: «Banhista, especialista,
evangelista, oculista, pensionista, psalmista
».

22) mento: este suffixo é derivado do Latim mentum,
que designava meio, instrumento, cousa própria para
um fim; designa acção, progressão, ex.: «Pensamento,
andamento
».

Uma grande parte dos substantivos que hoje têm o suffixo
em ão, tinham no seculo XV o suffixo em mento, ex.:
«Perdimento (perdição), salvamento (salvação)».

23) ume: exprime accumulação, concretização em um
todo das cousas significadas pelos nomes a que se
junctam, ex.: «Cardume, queixume, tapume».

B) Suffixos que se junctam ao radical de adjectivos.

284. Na lingua portugueza formam-se substantivos
derivados de adjectivos por meio dos seguintes suffixos:

1) aria; ex.: «Porcaria, enfermaria».

2) encia; ex.: «Assistencia, continencia, prudencia».

3) eza; «Certeza, firmeza, frieza, justeza, redondeza,
simpleza
».

4) ice; ex.: «Damice (Jorg Ferr.; Aul.), doudice, gulosice
(goloseima), mouquice; velhice
».

5) idade; ex.: «Fidelidade, fragilidade, mortalidade,
mundanidade, pouquidade
(J. Ferr., Euf., 299),
sensibilidade, simplicidade
».159

6) ismo; ex.: «Atavismo, culteranismo, gallicismo, germanismo,
latinismo, maneirismo, pedantismo
».

7) mento; ex.: «Contentamento, sacramento».

8) ura; ex.: «Amargura, friura, loucua, mixtura,
negrura, secura, verdura
».

C) Suffixos que se junctam ao radical dos verbos.

285. São numerosos os sufflixos que dão ao radical
dos verbos terminações que lhes modificam o sentido e os convertem
em substantivos; taes são entre outros:

1) ça. Com themas de verbos da 1.ª conjugação insere
nasalada a voz a; com themas de verbos da 2.ª ou
da 3.ª insere tambem nasalada a voz e, ex.: «andança;
querença, avença».

2) cão. Insere a com themas de verbos da 1.ª conjugação,
e i com themas de verbos da 2.ª ou da 3.ª,
ex.: «fixação, imbebição, preterição».

3) cia. Com themas de verbos da 1.ª conjugação insere
nasalada a voz a; com themas de verbos da 2.ª ou
da 3.ª insere tambem nasalada a voz e, ex.: «discrepancia,
intendencia, fallencia
».

4) della. Insere a voz kharacteristica da conjugação,
ex.: «aparadella, espremedella, cahidella». Só em
estylo faceto se pode usar d’estes compostos.

5) deira. Insere a voz kharacteristica da conjugação,
ex.: «travadeira, batedeira, abrideira». E’ o feminino
do seguinte.

6) dor. Insere a voz kharacteristica da conjugação,
ex.: «travador, batedor, abridor».

7) douro. Insere a voz kharacteristica da conjugação,
ex.: «matadouro, estendedouro, surgidouro».

8) dura. Insere a voz kharacteristica da conjugação,
ex.: «andadura, cozedura, urdidura».

9) eiro. Ajunta-se simplesmente ao radical de alguns,
verbos de significação reiterativa ou peiorativa, ex.:
«Cavouqueiro, marinheiro; louvaminheiro».160

10) iz. «Chamariz». é o unico exemplo, provavelmente.

11) mento. Com themas de verbos da 1.ª conjugação
insere a voz a; com themas de verbos da 2.ª ou da
3.ª insere i, ex.: «andamento, defendimento, sahimento».

12) torio. Insere a voz a com themas de verbos da 1.ª
conjugação, e com themas de verbos da 3.ª insere
i, ex.: «fallatorio, dormitorio». Não é usado com
themas de verbos da 2.ª conjugação.

Substantivos derivados de verbos

286. A lingua portugueza fórma substantivos dos verbos,
por tres modos:

1) ajunctando suffixos ao radical dos verbos

2) empregando a terceira pessoa do singular do indicativo
presente da 1.ª e da 2.ª conjugação, ex.: «a
apanha da azeitona
a malha do centeio; os comes
e bebes, os pertences
».

3) empregando o infinito presente, o participio presente
e o participio aoristo.

287. Os substantivos verbaes da segunda categoria
são de uso popular, e bastante frequentes.

288. O infinito presente do verbo, fórma verdadeiramente
nominal, facilmente se converte em substantivo por
meio do artigo, ex.: «O comer, o dormir, o jantar, o passear,
os dizeres
».

Alguns d’estes verbos subsistem unicamente como substantivos,
ex.: «Porvir, prazer (placere)».

De prazer encontram-se fórmas praz e prouve.

289. Os parlicipios do presente convertem-se em substantivos
depois de terem sido tomados como adjectivos, ex.:
«Assistente (de assistir), amante, negociante, constituinte, presidente,
imperante, aspirante
».161

290. Os participios aoristos nas duas fórmas, e especialmente
na do genero feminino, são das principaes fontes
de derivação do substantivo, ex.: Vista, revista, reducto (de
reduzir), queimada, producto (de produzir), entrada, partida,
sahida, chamada, progresso
(de progredir), retrocesso
(de retroceder).

Algumas vezes o verbo tem-se perdido, e só se conserva
o participio: ex.: «Defuncto, transumpto, excerpto».

§ 3.°
Substantivos derivados de linguas extrangeiras

291. Além dos substantivos derivados da lingua latina,
considerada mãe, como já se disse ha em Portuguez substantivos
das seguintes linguas extrangeiras

Antigas

1) Phenicio ex.: «Atummamona».

2) Hebraico – «Abbadekherubim».

3) Arabe – «Alcovamatraca».

4) Celtico – «Dolmenlegua».

5) Grego – «Armãothio».

6) Gothico – «Guerramarechal».

Modernas

1) Provençal ex.: «Bailadamenestrel».

2) Francez – «Barrica darotina».

3) Hespanhol – «Almoçofandango».

4) Italiano – «Gazetasentinella».

5) Euskara – «Esquerdo».

6) Cigano – «Catãopiela».

7) Inglez – «Docapudim».

8) Allemão – «Obuzzinco».

9) Persico – «Bazarderviche».162

10) Malaio – «Bambú, sagú».

11) Chinez – «Cháganga».

12) Turco – «Caftãsultão».

13) Slavo – «PolkaSteppe».

14) Bunda e Congo – «Inhameurucungo».

15) Tupy – «Caipórapiracema».

16) Quichua – «Goiabapampa».

Claro está que só uma grammatica especialmente histórica e um
diccionario etymologico poderão tratar detidamente das palavras portuguezas
oriundas de todas estas fontes, o quiçá do outras.

Todavia, como a sciencia moderna tem com suas nomenclaturas
resuscitado e universalisado o Grego antigo, é de utilidade uma
lista das palavras gregas radicaes mais vulgarmente usadas.

E entra essa lista aqui, na secção dos substantivos, por isso
que são substantivos, a mór parte dos derivados, os quaes, constituidos
por seu turno em palavras radicaes, dão origem a outros substantivos,
a adjectivos, a verbos e adverbios, ex.: «de phôs, photós e graphô
tira-se photogaphia, do que vêm photographo, photographico, photographar,
photographicamente
».

292. Lista das palavras gregas radicaes mais vvulgarmente
usadas

1) A, B, alpha, beta: alphabeto.

2) Acouo, eu ouço: acústica.

3) Acros, summidade, topo: acrostico, acropolis.

4) Adelphos, irmão: Philadelphia; Adelphos.

5) Aer, ar: aeronauta, aeroscapho.

6) Agoge, conducção, acto de guiar: synagoga.

7) Agogos, guia: demagogo, pedagogo.

8) Agon, luta: agonia, antagonista.

9) Aner, andros, homem varão: monandria, pentandria.

10) Angelos, mensageiro: anjo, angélico.

11) Anthios, flor: anthologia, polyantho.

12) Anthropos, homem, ser humano: misanthropia,
philantropia.

13) Arithmos, numero: arithmetica, logarithmo.163

14) Aristos, o melhor: aristocracia.

15) Arkho, eu governo: monarkhia, arkhonte.

16) Arktos, urso, norte: arctico, Arcturo.

17) Astron, estrella: astrologia, astronomia.

18) Atuletes, luctador: athleta, athletico.

19) Atmos, exhalação: atmosphera.

20) Aulos, canudo: hydraulica.

21) Autos, o mesmo, identico: autobiographia, autocrata.

22) Ballo, eu tiro, lanço: syrabolo, hyperbole.

23) Baros, peso: barometro.

24) Biblion, livro: biblia, bibliotheca.

25) Bios, vida: biologia, amphibio.

26) Daimon, genio, espirito mau: demonio, pandemonio.

27) Deca, dez: decálogo, decalitro.

28) Demos, povo: democrata, philodemo.

29) Dendron, arvore: lepidodendro, toxicodendro.

30) Dis, duas vezes: diptero, dioptrica.

31) Doxa, opinião, louvor: orthedoxia, heterodoxia.

32) Dogma, opinião, preceito : dogma, dogmático.

33) Drama, representação: drama, melodrama.

34) Dromos, carreira: hippódromo, dromedario.

35) Dynamis, força: dynamica, dynamite.

36) Eidos, fórma: spheroide, kaleidoscopio.

37) Eremos, deserto, eremita, ermida, ermitão.

38) Ergon, trabalho: cirurgião, metallurgia.

39) Ethos, kharacter: ethica, esthetica.

40) Gamos, casamento: bigamia, polygamia.

41) Gaster, estomago: gastronomia, epigastrio.

42) Ge, terra: geologia, geometria.

43) Genea, genesis, descendencia: genealogia, Genesis.

44) Genos, especie: heterogeneo, homogeneo.

45) Gignosko, eu conheço: prognostico, gnostico.

46) Glotta, glossa, lingua: polyglotta.164

47) Glypho, eu gravo: hieroglypho, triglypho.

48) Gonia, angulo: polygono, trigonometria.

49) Gramma, grammatos, lettra: grammatica, diagramma.

50) Grapho, eu escrevo: graphico, telegrapho.

51) Gymno, nu, gymnazo, eu exercito-me: gymnasio,
gymnastica.

52) Hecto, cem: hectogramma, hectolitro.

53) Hedra, assento: calhedra, octaedro.

54) Helios, sol: heliometro, Heliopolis.

55) Hemera, dia: ephemeride, ephemero.

56) Hemi, meio: hemicyclo, hemispherio.

57) Hepta, sete: heptagono, hepetarkha.

58) Hex, seis: hexagono, hexametro.

59) Hieros, sagrado: hierophante, hieroglypho.

60) Hippos, cavallo: hippopotamo, hippódromo, Hippolyto.

61) Hodos, caminho: methodo, exodo.

62) Homalos, regular: anomalia.

63) Homos, identico: homologo, homoeopathia.

64) Horizo, limite, extrema: horizonte, aphorismo.

65) Hydor, agua: hydraulica, hvdrogeneo.

66) Higros, humido: hygrometro.

67) Idios, peculiar: idiopathico, idioma.

68) Ikhthys, peixe: ikhthyologia, ikhthyophagos.

69) Isos, igual: isosceles, isokhrono.

70) Kalos, bello: calligraphia, callisthenico.

71) Kalupto, eu escondo: apocalypse, eucalypto.

72) Kampe, flexcão: kampenomia, kampelogia.

73) Kenos, vazio: cenotaphio.

74) Keras, chifre: rhinoceronte, monocero.

75) Kheir, mão: khirographia, kiromancia.

76) Khilioi, mil: khilogramma.

77) Khole, bilis: kholera, melankholia.

78) Khristos, ungido: Khristo, khristandade.165

79) Khronos, tempo: khronologia, anakhronismo.

80) Khrysos, ouro: khrysol, Khrysostomo.

81) Kosmos, mundo: microcosmo, cosmographia.

82) Kratos, governo: autocracia, theocracia.

83) Krino, eu separo, decido: crise, critica.

84) Kyrlos, circulo: cyclo, encyclica.

85) Lambano, eu tomo; syllabe, acção de tomar conjunctamente:
syllaba (isto é, os elementos phonicos
que são tomados conjunctamente para constituir um
emissão de voz).

86) Laos, povo: Laodicéa, leigo.

87) Lepsis, acção de apoderar-se: epilepsia, catalepsia.

88) Lexis, palavra: lexeologia, lexeogenia.

89) Lithos, pedra: lithographia, lithotomia.

90) Logos, discurso, sciencia: khronologia, geologia.

91) Lysis, perda: analyse, paralysia.

92) Macros, alto: macrologia.

93) Mania, loucura: bibliomania, monomania.

94) Manteia, adivinhação: khiromancia, nigromante.

95) Martyr, testemunho: martyr, martyrologio.

96) Mathema, sciencia: mathematica.

97) Megas, grande: omega, micromegas.

98) Mekhane, engenho: makhina, mekhanica.

99) Melas, preto: melankholia.

100) Melos, canto: melodia, melodrama.

101) Meter, mãe, utero: metropole, metrorrhagia.

102) Metron, medida: metronomo, metrologia.

103) Micros, pequeno: microscopio, micromegas.

104) Mimos, imitador: pantomima, mimica.

105) Miseo, eu odeio: misanthropo, misogamia.

106) Mneme, memoria: mnemónica, Mnemosine.

107) Monos, só: monarkha, monandria.

108) Morphe, fórma: morphologia, metamorphose.

109) Myria, dez mil: myriametro.

110) Mythos, fabula: mytho, mythologia.166

111) Naus, navio: nau, nauta, aeronauta.

112) Necros, morto: nigromante, necrologio.

113) Neos, novo: neophyto, neologismo.

114) Nesos, ilha: Peloponeso, Polynesia.

115) Nomos, lei: astronomia, economia.

116) Ode, canto: prosodia, psalmodia.

117) Oicos, casa: economia, diocese.

118) Oligoi, poucos: oligaikhia.

119) Onoma, nome: anonymo, synonymo.

120) Oplon, arma: panoplia.

121) Optomai, eu vejo: optica, synopse.

122) Ophthalmos; olho: ophthalmia, ophthalmologia.

123) Orao, eu vejo: diorama, panorama.

124) Ornis, ornithos, passaro: ornithologia, ornithorinco.

125) Orthos, direito: orthographia, orthodoxia.

126) Oxys, agudo: oxygenio, oxalico.

127) Paidea, educação: encyclopedia, Cyropedia.

128) Pais, paidos, menino: pedagogo, pedagogia.

129) Pan, pastos, tudo: pantheon, pantheismo.

130) Pathos, sentimentos: sympathia, pathetico,

131) Pente, cinco: pentagono, pentametro.

132) Petalon, folha de corolla de flor: monopetalo, polypetalo.

133) Phago, eu como: anthropophago, sarcophago.

134) Phantazo, eu faço apparecer phantazia, phantasma.

135) Phainomai, eu appareço: phenomeno, epiphania.

136) Pharmacon, remedio: pharmacia.

137) Phemi, eu digo: emphase; prophecia.

138) Phero, eu trago: phosphoro, metaphora.

139) Philos, amigo: philosopho, philanthropo.

140) Phone, voz: phonetica, euphonia.

141) Phos, photos, luz: photosphera, phosphoro.

142) Phrasis, modo de fallar: methaphrase, antiphrase.167

143) Phren, phrenos, cérebro: phirenologia, phrenesi.

144) Phthongos, som: diphthongo, triphthongo.

145) Physis, natureza: physica, physiologia.

146) Phyton, planta: phytographia, zoophyto.

147) Planaomai, eu vagueio: planeta.

148) Pneuma, espirito, sopro: pneumatica, pneumonia.

149) Poieo, eu faço: poeta, pharmacopéia.

150) Polemos, guerra: polemica, polemista.

151) Poleo, eu vendo: monopolio.

152) Polis, cidade: metropole, Constantinopla.

153) Polites, cidadão: metropolita, politica.

154) Polys, muitos: polygraphia, polypetalo.

155) Potamos, rio: hippopotamo, potamologia.

156) Pous, podos, : polypo; antipoda.

157) Protos, primeiro: protogonista, protomartyr.

158) Psallo, eu canto: psalmodia, psalmo.

159) Pseudes, falso: pseudonymo, pseudophilosopho.

160) Psykhe; alma psykhologia, metempsykhose.

161) Pteron, aza: kheiroptero, diptero.

162) Ptosis, flexão: antiptosis, ptoseonomia.

163) Pyr, fogo: pyrotekhnico, pyramide.

164) Rhetor, orador: rhetorica.

165) Rhis, rhinos, nariz: catarrhimo rhinoplastia.

166) Rhodon, rosa: rhododendro.

167) Sarx, sarkos, carne: sarcophago.

168) Skelos, perna: isosceles.

169) Skeptomai, eu examino: sceptico.

170) Scopeo, eu vejo, examino: microscopio, telescopio.

171) Sophia, sabedoria: philosophia, theosophia.

172) Spao, eu puxo: espasmo.

173) Sphaira, bola: hemispherio, esphera.

174) Stasis, estação, posição: apostasia, ecstase.

175) Stello, eu mando para fóra: apostolo, epistola.

176) Stenos, estreito, pequeno: estenographia.

177) Sthenos, força: hypersthenização, hyposthenizante.168

178) Stikhos, verso: acrostico, hemistikhio.

179) Strophe: volta: catastrophe, apostrophe.

180) Taphos, tumulo: epitaphio, cenotaphio.

181) Tasso, eu ponho em ordem: tactica, syntaxe.

182) Tekhne, arte: tekhnico, polytekhnico.

183) Tele, ao longe: telegrapho, telegramma.

184) Temno, eu corto: anatomia, epitome.

185) Theaomai, eu olho: theatro.

186) Theos, deus: atheismo, theologia.

187) Thermos, quente: thermometro; isothermico.

188) Thesis, logar, posição: hypothese, synthese.

189) Tonos, tensão: monotono, tonico.

190) Topos, logar: topographia, topico.

191) Toxicon, veneno: toxicologia, toxico.

192) Trepo, eu viro: tropico, tropo.

193) Zoon, animal: zoologia, zoophito.

II
Artigo

293. O artigo portuguez, cujas fórmas flexionaes ou
melhor variantes são o, a, os, as, deriva-se de hoc, hac, hos,
has
, fórmas do abalativo singular e do accusativo plural do
demonstrativo latino hic, hoce, hoc.

Como já ficou dito (133), o Latim classico não tinha artigo, e era
tal falta uma causa de frequentes obscuridades no dizer. Nos fins quasi
do Império, o povo para clareza da phraze, começou a juntar aos substantivos
os demonstrativos ille, hicce, hic, e esse uso é a origem do artigo
romanico. Ille deu le, la, les, em Francez; el, lo, la, em Hespanhol;
il, lo, la, em Italiano, etc.. Hicce deu ce, usado ainda no dialecto picardo
(ch’curé, ch’marichau). Hic deu em Portuguez o, a, derivados dos
ablativos do singular hoc, hac, pela queda do c; e os, as, derivados dos
accusativos do plural hos, has: em documentos antigos e mesmo em escriptos
169relativamente modernos encontram-se as fórmas ho, ha, hos, .
has
, escriptas com h (1)92.

E’ singular que quasi todos os etymologistas tenham desacertado
a respeito da origem do artigo portuguez: Diez (2)93 entende que elle tem
certa apparencia particular, quasi anti-romanica, e quer á fina força
identifical-o com o el, lo, la, hespanhol. Constancio (3)94 fal-o vir do Grego.
José Alexandre Passos (4)95 segue a Constancio, e entra em explicações
que tocam ao ridiculo. A origem do artigo acima exposta é intuitiva,
e Leoni (5)96, comquanto cerebrino em suas lucubrações philologicas,
andou com muito critero neste ponto.

Todavia não se póde negar que houve no Portuguez, e no Gallego
luta pela existencia entre as formas lo, la, los, las e o, a, os, as. Encontram-se
em Portuguez antigo exemplos das primeiras: «A los alcades
(F. Guard., 410)
; — Sobre lo pam (F. Bej., 411); Sobre los santos (F.
Sant, 571); etc.». As segundas, que prevalecem hoje, remontam tambem
a grande antiguidade; já se encontram exemplos dellas em uma
carta de 1207 (Esp. Sag.ʳ XLI, 251). Os exemplos «todolos, todalas».
explicam-se pela antithese euphonica do s em l, bem como as formas
ainda vivas «pelo, pela. pelos, pelas» em que o r de per abrandou-se
em l. Diante da palavra rei o estylo de chancellaria tem conservado el.
Em Gallego el vivo ainda a par de o.

III
[adjectivos]

§ 1.°
Adjectivos descriptivos

294. Os adjectivos descriptivos portuguezes formam-se
como os latinos.170

1) por meio de prefixos ajunctados a outros adjectivos

2) por meio de suffixos ajuntados

a) ao radical de substantivos;

b) ao radical de outros adjectivos;

c) ao radical de verbos;

3) considerando-se como adjectivos os participios do
presente e do aoristo de certos verbos:

4) pela combinação de dous adjectivos entre si, ou de
um adverbio e de um adjectivo.

295. Prefixos principaes que se junctam aos adjectivos
para formar outros adjectivos.

1) des: «Desagradavel, descuidoso».

2) in: «Infeliz, injusto».

3) ob: «Obcecado, obscuro».

4) sobre: «Sobrehumano, sobrivivente».

5) sub: «Subjacente, -, submettido».

296. Suffixos principaes que se junctam ao radical
dos substantivos para formarem-se adjectivos

1) al: «Especial, mortal».

Vem de ali, fórma ablativa do suffixo latino alis.

2) ano: «Espartano, mundano».

Vem de ano, fórma ablativa do suffixo latino anus,
empregado especialmente na formação de adjectivos
geographicos.

3) ar: «Articular, familiar».

Vem de ari, fórma ablativa do suffixo latino aris.

4) ario: «Parlamentario, voluntario».

Vem de ario, fórma ablativa do suffixo latino
arius. Em Portuguez antigo esse suffixo soffre quasi
sempre uma metathese «Adversairo, contrairo».171

5) atico: «Lunatico, mágestatico».

Vem de atico, fórma ablativa do suffixo latino aticus.
E’ de uso erudito.

6) eiro: «Embusteiro, interesseiro».

Vem por metathese de erio, fórma ablativa do
suffixo latino erius.

7) ento: «Ferrugento, praguento».

Vem de ento, fórma ablativa do suffixo latino
entus.

8) enho: «Extremenho, ferrenho».

Vem por nasalisação de eno, fórma ablativa do
suffixo latino enus.

9) ico: «Mythico, typico».

Vem de ico, fórma ablativa do suffixo latino icus.

10) ifero: «Esteilifero, soporifero».

Vem de ifero, fórma abalativa do suffixo latino
iferus.

11) il: «Febril, viril».

Vem de ili, fórma ablativa do suffixo latino ilis.

12) ino: «Matutino, vespertino».

Vem de ino, fórma ablativa do suffixo latino
inus.

13) olico: «Parabolico, symbolico».

Vem de olico, fórma ablativa do suffixo latino
olicus.

14) onho: «Enfadonho, medonho».

Vem de onio, fórma ablativa do suffixo latino
onius.

15) oso: «Formoso, gibboso».

Vem de oso, fórma ablativa do suffixo latido osus.
E’ o suffixo de maior uso em Portuguez.

16) udo: «Cabelludo, peitudo».

Vem por abrandamento de t, em d, de uto, fórma
ablativa do suffixo latino ulus.

17) um: cabrum, ovelhum, vaccum que só se empregam
172com o substantivo gado. Ha ainda bodum,
que se usa como substantivo, significando «cheiro
de bode»; e gatum.

18) úndo: «Furibundo, meditabundo»:

Vem de undo, fórma ablativa do suffixo latino
undus, desinencia de participios arkhaicos com força de
participios presentes (1)97.

297. São suffixos que se junctam ao radical de adjectivos
para formarem-se outros adjectivos

1) ete: «Trigueirete».

2) onho: «Tristonho».

3) orio: «Finorio».

4) ole: «Grandote».

Sobre estes e outros suffixos diminutivos veja-se
o tractado da flexão de grau (230-255).

298. São suffixos que junctam-se ao radical de verbos
para formarem-se adjectivos

1) ando, endo: «Doutorando, tremendo».

Vem dos participios do futuro da voz passiva latina.
Alguns não tem verbo correspondente em Portuguez,
ex.: «Despiciendo».

2) avel: «Amavel, palpavel».

Vem por abrandamento de b em v, de abili, fórma
ablativa do suffixo latino abilis.

3) evel: «Indelevel».

Vem por abrandamento de b em v, de ebili, fórma
ablativa do suffixo latino ebilis.

4) iço: «Espantadiço, fugidiço».

Vem de ido, fórma ablativa do suffixo latino icius.

5) ivel: «Crivei, soffrivel».

Vem por abrandamento de b em v, de ibili, fórma.
ablativa do suffixo latino ibilis.

6) ivo: «Pensativo, repressivo».173

Vem de ivo, fórma ablativa do suffixo latino ivus.

7) ovei: «Movel».

Vem por abrandamento de b em v, de obili, fórma
ablativa do suffixo latino obilis.

8) uvel: «Soluvel, voluvel».

Vem por abrandamento de b em v, de ubili, fórma
ablativa do suffixo latino ubilis.

E de notar que em muitos pontos de Portugal o povo ainda pronuncia
as palavras acabadas em l e r com o i etymologico: «Amavili,
fatali, possivili, articulari, familiari, beberi, comeri, entenderi
, etc.».

Além d’estes adjectivos descriptivos ha outros muitos de forma
erudita, tomados directamente dos correspondentes latinos, ex.: «Caudato,
famelico
, etc.»; e mesmo uma grande parte dos que constituem
o fundo da lingua conservam os radicaes latinos, ex.: «Sagittario, voluntario,
etc.»

Muitas palavras latinas ao passarem para as linguas romanicas
tomaram duas fórmas, uma popular, outra erudita. A fórma popular,
producto fatal da evolução que transforma as linguas, tem sempre um
cunho verdadeiramente nacional em cada idioma: a fórma erudita, introduzida
pelos escriptores versados em latinidade classica, apezar de
acceita e naturalisada, conserva quasi sempre seu ar extrangeirado.

Taes palavras constituem as chamadas duplas (1)98 em philologia.

Exemplos de duplas

tableau fórma popular | fórma erudita | latim | de substantivos / bésta | balista | balista | chamma | flamma | flamm a | chave | clave | clavis | deão | decáno | decanus | escada | escala | scala | mister | ministerio | ministerium| molde | módulo | modulus | sello | sigillo | sigillum174

tableau de adjectivos / ancho | amplo | amplus | cheio | pleno | plenus | delgado | delicado | delicatus | estreito | estricto | strictus | ensosso | insulso | insulsus | nedio | nitido | nitidus | redondo | rotundo | rotundus | rijo | rigido | rigidus

299. Os participios do presente e do aoristo são considerados
tambem como adjectivos, ex.: «Amante, mordente,
ouvinte
; amado, mordido, ouvido».

300. Pela combinação de dous adjectivos entre si
formam-se novos adjectivos, ex.: «luso-britannico, anglor
franeez
».

Ha a notar n’esta composição que o primeiro elemento
fica invariavel: luso-britannico; luso-britannica.
Em alguns casos esse primeiro elemento soffre
até uma apocope: «heroi-comico» por «heroico-comico».

301. Pela combinação de um adverbio e de um adjectivo
formam-se novos adjectivos, ex.: «Bemfeito, malavindo».

§ 2.°
Adjectivos determinativos

302. Os adjectivos determinativos portuguezes derivam-se
em sua quasi totálidade de seus correspondentes latinos.

Um, dous, tres, quatro, etc., vem de uno, duos (1)99, tres, quatuor etc.175

image primeiro, segundo, terceiro, etc. / primario, secundo, tertiario, etc. [307, 1) 3)] | duplo, tripulo, quadruplo, etc. / duplo, triplo, quadruplo, etc. | este, esse, aquelle, est’outro, ess’outro, aquell’outro. / iste, ipse, hic ille, ist’alt’ro, ips’alt’ro, hic ill’alt’ro. | que, qual, cujo, / qui, quali, cujo. | meu, teu, seu, nosso, vosso, / meo, tuo, suo, nostro, vestro | proprio, alheio / proprio, alieno. | algum, certo, mais, menos, mesmo, muito, nenhum, outro, pouco, quanto, só, tal, tanto, todo vem de aliqu’uno, certo, magis, minus, metipsimus, (contracção de metipsissimus) multo, null’uno, altero, pauco, quanto, solo, tali, tanto, toto.

303. Os seguintes tem origens diversas :

image Cada vem de Κατά, preposição grega que significa individuação de escolha, sucessão; e talvez melhor de quot latino, que dá o sentido exacto do Portuguez cada, e que tambem era usado no singular como se vê em quotidie. | cada, um – – cada e um, raizes já portuguezas.176

image qualquer / qual e quer, raizes já portuguezas. | quejando / que e jando (do Francez antigo gent, gentil, bello).

IV
Pronome

§ 1.°
Pronomes substantivos

304. Os pronomes substantivos e suas variações são
de pura origem latina.

Eu é o abrandamento da fórma romanica eo, em que se converteu
0 pronome latino ego. Em um documento gallego do seculo XIII já
se lia «E co dê illis carta de meu seelu sedada (1)100». No celebre juramento
de Luiz o Germanico, prestado em Strasburgo no anno de 842,
já se vê ego transformado em jeo ou ieo: «Si salvara ieo ciste meon frade
Karlo
».

Me, tu, te, se, nós, nos, vós, vos são fórmas latinas inalteradas.
Mim vem de mi, contracção classica do dativo latino mihi, usado em
vez do ablativo: antigamente a fórma portugueza era mi, e ainda hoje
o é em poesia, si a rima assim o exige. O povo nasalou o i por euphonia,
e a fórma nasalada foi a que prevaleceu na lingua.

Ti, si vem dos dativos latinos tibi, sibi pela queda de b, e pela
contracção de ii em i.

Comigo, comtigo, comsigo, comnosco, cómvosco, vêm das fórmas latinas
compostas mecum, tecum, sccum, nobiscum, vobiscum, ás quaes o povo
antepoz pleonasticamente a preposição com, já existente na posposição de
cum ás fórmas primitivas.

Elle, etta, elles, ellas vem de ille, illa, illis, illas, fórmas, de ille.

Lhe, lhes, cujas fórmas primitivas na dingua eram lhi, Ihis, vem
dos dativos latinos illi, illis.

Sobre as fórmas objectivas o, a, os, as veja-se a etymologia do
artigo (290-291).177

§ 2.°
Pronomes adjectivos

305. A etymologia dos pionomes adjectivos é a mesma
que a dos adjectivos determinativos.

Ha as seguintes excepções:

image Quem de qu’heme (que homem), heme por homem. | alguem / alg’heme (aliquis homo). | ninguem / nenheme (nec hem, nec homo). | al. / aluid. | nada / nata (res nata). | beltrano fulano sicrano / origem incerta. Constancio entende que fulano é o termo arabe folano: a ser assim, talvez que a attracção da rima creasse os termos oppostos beltrano e sicrano. Beltrano parece ser o substantivo proprio Beltrão, empregado para indicar pessôa que se não quer nomear, do mesmo modo porque se empregam para fim identico os substantivos proprios Sancho e Martinho. Nas Fabulas de Lafontaine encontram-se muitos exemplos de Bertrand usado neste sentido. Em Portuguez mesmo temos o adagio: «Quem ama a Beltrão ama ao seu cão».

(1)101 (2)102 (3)103178

V
Verbo

306. O Portuguez é a lingua romanica que tem conservado
com mais fieldade as fórmas da conjugação latina.

307. Tabella comparativa das terminações da voz activa
em Latim e Portuguez:

tableau Todos os modos excepto o imperativo | imperativo | Latim | Portuguez | Latim | Portuguez | S. | 1.ª Pessôa | m, o, i, | ou, o, a, ei, i, e, r | 2.ª Pessôa | s, sti, | s, ste | a, e, i, to | a, e, | 3.ª Pessôa | t | a, e, i, ou, eu, iu, a, r | to | P. | 1.ª Pessôa | mus | mos | 2.ª | Pessôa | tis | is, es | te, tote | e, i | 3.ª Pessôa | nt | am, ão, em

308. Tabella comparativa das desinencias da voz activa
em Latim e Portuguez:

tableau Todos os modos excepto o imperativo | imperativo | Latim | Portuguez | Latim | Portuguez | S. | 1.ª Pessôa | m | falta | falta | falta | 2.ª Pessôa | s, sti, | s, ste | to | falta | 3.ª Pessôa | t | falta | to | falta | P. | 1.ª Pessôa | mus | mos | 2.ª | Pessôa | tis | des, ant. es, is | te, tote | de ant. é, i | 3.ª Pessôa | nt | am, ão, em | nto | falta179

309. Estudo historico das fórmas do verbo SER.

O verbo Ser foi apropriado do verbo latino esse; encontra-se,
porém, em varias inscrippões e diplomas do seculo VII
até o seculo IX, a fórma romanica «essere», assim como, a
par de «posse», encontra-se «potere», e, a par de «offerre»,
«offerere». Segundo Brachet (1)104 a desinencia «re» do infinito
era para dar mais corpo á palavra. A fórma italiana usual «essere»,
a provençal «esser» e a franceza antiga «estre» explicam
esta fórma do infinito portuguez que é tambem a do hespanhol.

A conjugação actual do verbo «Ser» em Portuguez soffreu
algumas modificações

I) Indicativo

1) Presente

tableau Latim | Portuguez | S. | 1.ª Pessôa | Sum | Sou | 2.ª | Es | Es | 3.ª | Est | E’ | P. | 1.ª | Sumus | Somos | 2.ª | Estis | Sois | 3.ª | Sunt | São.

a) Singular, 1 .ª Pessôa. — Encontram-se nos Livros de
Linhagens
, na traducção da Historia Geral de Hespanha
e na Chronica de Guiné as fórmas «som».
e «san»; no Cancioneiro da Ajuda acha-se «soou»;
no Cancioneiro da Vaticania, «soò»; no Cancioneiro
de Resende
, «sam». e «san»; em Gil Vicente (2)105
«Tres annos ha que sam seu». No latim vulgar já
se acham as fórmas su e so que attenta a tendencia
180do Portuguez para deixar cahir a desinencia da primeira
pessoa do singular, explica a fixação da fórma
«sou» que já apparece em um documento de
1265 (1)106. Em Gil Vicente e tambem nos cancioneiros
encontra-se «sejo» em vez de «sou», por confusão
com «sedeo».

b) 2.ª Pessoa. — A segunda pessoa do singular conservou-se
inalterada porque, como se vê da tabella
(305), a terminação s não se altera. Em Gil Vicente
encontra-se a fórma «ses».

c) 3.ª Pessôa. — A terceira pessôa do singular conservou-se
na linguagem poética dos Cancioneiros Provençaes
«Est o praso salido». Em, Dom Diniz acha-se
«Tal est o meu sen» —« Melhor est e mais será o meu
bem
». O Castelhano ficou com «es» como forma d’esta
pessôa; mas em Portuguez, o s sendo desinencia
da 2.ª pessôa, cahiu, e ficou constituida e vigente
a fórmá «é». (2)107.

d) Plural, 1.ª Pessôa. — A primeira pessôa do plural
como se vê da tabella (305), conservou-se inalterada
com a ligeira mudança orthographica de u em o.

e) 2.ª Pessôa. — A segunda pessôa do plural foi substituida
pela correspondente do presente do subjunctivo
«sitis», que produziu «sondes, soedes, sodes» que
quando se não podia dar a homonymia com «soeis».
(do verbo soer, em Latim solere), syncopou-se em
«sois». Encontram-se as fórmas «sondes (3)108, sodes
(4)109, soees (5)110, soes». (6)111.181

f) 3.ª Pessôa. — A terceira pessôa do plural, por apocope
do t deu «sum» (1)112, depois «som». (2)113, e «son».
(3)114, e ultimamente «sam» e «são», fórmas analogicas
com as das terceira pessôas do plural de todos
os verbos portuguezes, e que tem a vantagem de
evitar a homonymia com «sum», fórma da primeira,
pessôa do singular. A fórma «sunt» encontra-se ainda
em um documento de 1298 (4)115.

2) Imperfeito

tableau Latim | Portuguez | S. | 1.ª Pessôa | Eram | Era | 2.ª | Eras | Eras | 3.ª | Erat | Era | P. | 1.ª | Eramus | Eramos | 2.ª | Eratis | Ereis | 3.ª | Erant | Eram.

a) Singular, 1.ª Pessôa. — A primeira pessôa do singular
passou para o Portuguez só com a alteração de
apocopar o m, «era».

b) 2.ª Pessôa. — A segunda pessôa do singular passou
inalterada para o Portuguez, «eras».

c) 2.ª Pessôa. — A terceira pessôa do singular passou
para o Portuguez só com a alteração de apocopar o
t, «era». Encontra-se «sia» como fórma d’essa pessôa.
«E o dito Juiz que presente sia perguntou…».
(5)116. A explicação d’este facto resalta da synonimia
182entre esse, stare, e sedere (ser, estar e ter assento).
«Sia» vem de «sedet» por queda de modificações e
contracção de vozes.

d) Plural, 1.ª Pessôa. — A primeira pessôa do plural,
em Latim eramus, passou para o Portuguez, deslocando
o accento tonico e com a ligeira mudança orthographica
de u em o, éramos.

e) 2.ª Pessôa. — A segunda pessôa do plural passou
para o Portuguez, syncopando o t, e abrandando a
em e. Encontra-se a fórma «erades» (1)117.

f) 3.ª Pessôa. — A terceira pessôa do plural passou para
o Portuguez por apocope do t.

3) Aoristo

tableau Latim (perfeito) | Portuguez (aoristo) | S. | 1.ª Pessôa | Fui | Fui | 2.ª | Fuisti | Foste | 3.ª | Fuit | Foi | P. | 1.ª | Fuimus | Fomos | 2.ª | Fuistis | Fostes | 3.ª | Fuerunt | Foram

Por um processo identico ao já explicado na passagem
das formas do presente e do imperfeito, passou para o aoristo
portuguez o perfeito latino, como se póde verificar pelo
simples confronto das fórmas acima. Encontra-se a fórma arkhaica
«seve». (2)118.183

4) Plusquam perfeito

tableau Latim | Portuguez | S. | 1.ª Pessôa | Fueram | Fôra | 2.ª | Fueras | Fôras | 3.ª | Fuerat | Fôra | P. | 1.ª | Fueramus | Fôramos | 2.ª | Fueratis | Fôreis | 3.ª | Fuerant | Fôram

Como para o tempo acima, basta o simples confronto
das fórmas respectivas para o estudo da passagem
do plusquam perfeito latino para o portuguez.

5) Futuro

O futuro do indicativo portuguez, bem como o
imperfeito do condicional, formaram-se por um processo
paraphrastico, peculiarmente romanico, que
adiante será explicado.

II) Imperativo

As fórmas da segunda pessôa do singular e da do
plural «sé, séde» provêm da confusão synonimica,
já acima notada, entre esse e sedere [306, 1) 1) a)].

III) Subjunctivo.

1) Presente

tableau Latim (arkhaico) | Portuguez | S. | 1.ª Pessôa | Siem | Seja | 2.ª | Sies | Sejas | 3.ª | Siet | Seja | P. | 1.ª | Siamus | Sejamos | 2.ª | Siatis | Sejais | 3.ª | Sient | Sejam184

As fórmas latinas arkhaicas confrontadas com as
portuguezas explicam a passagem d’este tempo. Encontra-se
a fórma «seiaees» (1)119.

2) Imperfeito

tableau Latim | Portuguez | S. | 1.ª Pessôa | Fuissem | Fosse | 2.ª | Fuisses | Fosses | 3.ª | Fuisset | Fosse | P. | 1.ª | Fuissemus | Fossemos | 2.ª | Fuissetis | Fosseis | 3.ª | Fuissent | Fossem

O imperfeito do subjunctivo portuguez vem do
plusquam perfeito latino pelo mesmo processo dos
outros tempos. Encontra-se a forma «focedes». (2)120.

3) Futuro

tableau Latim | Portuguez | S. | 1.ª Pessôa | Fuerim | Fôr | 2.ª | Fueris | Fôres | 3.ª | Fuerit | Fôr | P. | 1.ª | Fuerimus | Fôrmos | 2.ª | Fueritis | Fôrdes | 3.ª | Fuerint | Fôrem

O confronto das formas latinas e portuguezas explica
a passagem do tempo. Encontram-se as fórmas
«sever» (3)121, «severim» (4)122185

IV) Infinito presente

Encontram-se as fórmas «seer» (1)123 e «soer» (2)124,
«sendo», como não tinha analogo no verbo, latino
esse, foi tomado do verbo sedere. Encontra-se a fórma
«seendo» (3)125.

V) Participio

1) Presente

Encontra-se d’este participio a fórma seente (4)126

3) Aoristo

Tambem por não haver fórma especial no verbo
esse foi creado analogicamente o participio aoristo
«sido».

310. Estudo historico da conjugação regular portugueza

[História da conjugação regular]

I) Indicativo

1) Presente

tableau 1.ª conjugação | 2.ª | 3.ª | 4.ª | S. | 1.ª Pess. | Cant-o | Vend-o | Part- o | P-onh-o | 2.ª | Cant-as | Vend-es | Part-es | P-õ-es | 3.ª | Cant-a | Vend-e | Part-e | P-õ-e | P. | 1.ª | Cant-amos | Vend-emos | Part-imos | P-o-mos | 2.ª | Cant-ais | Vend-eis | Part-is | P-on-des | 3.ª | Cant-am | Vend-em | Part-em | P-õ-em

Até os fins do seculo XIV a segunda pessôa do
plural deste tempo nas tres primeiras conjugações
186conservou abrandado em d o t da terminação latina
tis «mata-des, perde-des, querede-des (1)127». Todavia
no Cancioneiro Geral já se encontram as fórmas guarda-ys,
dirye-is, quizere-is. Em uma carta de Affonso
V (2)128, vem-se as fórmas habe-is, pode-is, sabe-is. A
partir dos meiados do seculo XV foi que prevaleceu
esta fórma syncopada: João de Barros fixou-a (3)129. Na
quarta conjugação, bem como em alguns verbos irregulares,
conserva-se o t abrandado em d: «pon-des,
ri-des, ten-des, vin-des». Sobre esta conservação diz
Frederico Diez (4)130: «Apoiado no n conservou-se
em alguns verbos o d primitivo, e em geral
no futuro do subjunctivo e no infinito conservou-se
apoiado sobre o r (cantardes). Regularmente, porém,
tal d cahiu, e o a que o precedia, quando não
fortificado pelo accento, converteu-se em i (cantáis,
cantaríeis
)». E’ curioso o estudo das fórmas da quarta
conjugação. O infinito presente latino poner deu
pôer (com e breve) que contrahiu-se mais tarde em
pôr. O confronto das fórmas do presente do indicativo
latino com as do portuguez elucida a formação
portugueza, apparentemente irregular e todavia regularissirna.

tableau Latim | Portuguez | S. | 1.ª Pessôa | Pon-o | P-onh-o | 2.ª | Pon-is | P-õ-es | 3.ª | Pon-it | P-õ-e | P. | 1.ª | Pon-imus | P-o-mos | 2.ª | Pon-itis | P-on-des | 3.ª | Pon-unt | P-õ-em187

O n nasalou-se ao passar para o Portuguez, e essa
nasalação é representada por nh na primeira pessôa
do singular e por ~ na segunda e terceira do
singular, e na terceira do plural. Na primeira pessôa
do plural houve queda da syllaba ni, e na segunda
conservou-se, como já ficou dito, o d etymologico:
o estar nestas pessôas a syllaba nasalada anteposta
a m e d faz com que não seja necessário representar
graphicamente a nasalação.

2) Imperfeito

tableau 1.ª conjugação | 2.ª | 3.ª | 4.ª | S. | 1.ª Pess. | Cant-ava | Vend-ia | Part-ia | P-unh-a | 2.ª | Cant-avas | Vend-ias | Part-ias | P-unh-as | 3.ª | Cant-ava | Vend-ia | Part-ia | P-unh-a | P. | 1.ª | Cant-ávamos | Vend-íamos | Part-íamos | P-únh-amos | 2.ª | Cant-áveis | Vend-íeis | Part-eis | P-únh-eis | 3.ª | Cant-avam | Vend-iam | Part-iam | P-unh-am

Sobre a passagem deste tempo do Latim para oPortuguez
ha a notar, como facto mais importante,
a deslocação do accento na primeira e na segunda
pessôa do plural — cantabámus, cantávamos, cantabátis,
cantáveis.Os imperfeitos latinos em abam
passaram para o Portuguez, mudando simplesmente
o b em v. Nos imperfeitos em ebam syncopou-se o
b, e o e converteu-se em i: assim de vendebam veio
vendêa, vendia.

Nos imperfeitos em iebam tambem syncopou-se o
b, e ie contrahiu-se em i: assim de vestiebam veio
vestiea, vestia. A respeito das fórmas punha, tinha,
vinha
, escreve Diez (1)131: «O imperfeito do indicativo
188nos tres verbos pôr, ter, vir, apresenta flexões
inteiramente particulares punha, tinha, vinha, com
deslocação do accento e mudança da vogal radical.
E’ de suppor que se tenha recuado o accento para
melhor consolidar o «n» radical que, sem isso, teria
cahido como no infinito: empregou-se a fórma
pónia (escripta ponha) para que se não perdesse o
«n», e trocaram-se «o» e «e» por «u» e «i», para
distinguir este tempo do presente do subjunctivo.
Todavia existiam outroia variantes usadas sem n,
como teeya a par de tinha; via a par de vinha.
(Santa Rosa)».

3) Aoristo

tableau 1.ª conjugação | 2.ª | 3.ª | 4.ª | S. | 1.ª Pess. | Cant-ei | Vend-i | Part-i | Puz-(i) | 2.ª | Cant-aste | Vend-este | Part-iste | Poz-este | 3.ª | Cant-ou | Vend-eu | Part-iu | Poz-(i) | P. | 1.ª | Cant-ámos | Vend-emos | Part-imos | Poz-emos | 2.ª | Cant-ástes | Vend-estes | Part-istes | Poz-estes | 3.ª | Cant-aram | Vend-eram | Part-iram | Poz-eram

A diversidade de fórmas do perfeito latino desapparece
quasi totalmente em Portuguez: toma esta
lingua para typo o aoristo derivado do perfeito dos
verbos latinos em avi, evi, ivi, e com esse typo, modificado
phonicamente, confórma quasi todos o aoristos,
tanto dos verbos primitivos, como dos derivados.
Na fórma em avi, o v foi syncopado de accordo
com a tendencia que já se dava no Latim vulgar —
probai por probavi; probaisti por probavisti; probit
por probavit. A mudança de ai em ei é peculiar ao
Portuguez, como se vê em celleiro, primeiro de cellairo,
primairo
, metatheses de cellario; primario,
fórmas ablativas de cellarius, primarius. A syncope
189de ve na terceira pessôa do plural já se encontra
no Latim classico — amarunt por amaverunt.

Nos aoristos derivados de perfeitos latinos em evi
e ivi, a syncope de v deu ei e ii que se contrahiram
em i: por analogia syncoparam-se tambem outros
sons figurativos, e realisou-se a mesma contracção
— de vendidi veio vendii contrahido em vendi. Na
terceira pessôa do singular nota-se que vi latino se
converteu em u, mudando-se na primeira conjugação
a em oamavit deu amou. Trata-se de saber como
de vi nasceu u. Em Latim acha-se fautor por favitor;
lautum por lavitum; nauta por navita, etc.:
em taes fórmas houve syncope de um ifavtor por
favitor. — Ora o v consoante juncto ao t formava um
grupo de sons anti-latino; teve pois o v de se dissolver
na voz livre correspondente u. Foi por processo
identico que de navis tirou-se nau. A mudança
de a em o na primeira conjugação «amavit,
amou
» está no genio do Portuguez e tem nelle
muitas analogas: ouro de aurum, louro de laurus,
mouro
de maurus, thesouro de thesaurus, etc..
Os perfeitos latinos em ui conservaram-se nos aoristos
portuguezes modificados phonicamiente: a vogal
da primeira syllaba attrahiu o u da terminação.

1. Capui (em vez de cepi) deu caupe, caube e
depois coube.

2. Habui deu haube, hoube e depois houve.

3. Posui deu pouse, pous, puz.

4. Potui deu poute, poude, pude.

5. Sapui deu saupe, soupe, soube, sube.

6. Traxui (em vez de traxi) deu trauxe, trouxe,
truxe
(fórma popular).

A mudança de ou em u na primeira pessôa do
singular (pude por poude) teve por fim distinguir
190essa fórma da terceira pessôa do singular. De houve,
houveste, houve
, etc, encontram-se as fórmas (1)132
ouvi, uvi, ouve, ovi, ove, ouvo, ouveste, etc. De
puz, pozeste, poz, etc. encontram-se as-fórmas (2)133
puge, pugi, pugy, pos, pose, .pusy, etc. De pude,
poudeste, poude
, etc, encontram-se as fórmas (3)134
podi, puyd’, podo, pudo, etc. O preterito quiz, quizeste,
quiz
, etc, vem de quaesii, quaesi. Encontram-se
as fórmas (4)135 quige, quigi, quizo, etc. O aoristo
tive vem de tenui: o n cahiu por syncope, deu teui;
e, para evitar-se hiato, o u converteu-se em v; por
metathese o som forte i passou para o primeiro logar
afim de obviar á confusão entre as fórmas da
primeira e da terceira pessôa do singular: a segunda
pessôa do singular e todas as do plural conservaram
por analogia esse som. No Portuguez antigo
encontram-se a cada passo formas puras em que não
ha troca de som — teverom (5)136 teverõ (6)137 tevera (7)138,
etc.

Este aoristo tive, tivestes, teve, etc. serviu de typo
a duas formações novas, a saber estive, estiveste,
esteve
, etc., aoristo de estar; e a seve, severom,
etc, fórmas arkhaicas de ser. Em trouxe, trouxeste,
191trouxe, etc., o x é pronunciado como s, e por isso
apparece mudado em g, trouge; acha-se syncopado
nas fórmas trouve, trouveste, trouveram, trouverão
(no), trouvesse, trouvessem (1)139. A fórma em x, hoje
vigente, é mais arkhaica do que estas, e raro
apparece nos antigos documentos portuguezes.

4) Plusquam perfeito

tableau 1.ª conjugação | 2.ª | 3.ª | 4.ª | S. | 1.ª Pess. | Cant-ara | Vend-era | Part-ira | Poz-era | 2.ª | Cant-aras | Vend-eras | Part-iras | Poz-eras | 3.ª | Cant-ara | Vend-era | Part-ira | Poz-era | P. | 1.ª | Cant-áramos | Vend-éramos | Part-íramos | Poz-éramos | 2.ª | Cant-áreis | Vend-éreis | Part-íreis | Poz-éreis | 3.ª | Cant-aram | Vend-eram | Part-iram | Poz-eram

Este tempo vem do plusquam perfeito latino já
syncopado no periodo classico — cantaram por cantaveram.
Na primeira e na segunda pessôa do plural
soffre deslocação do accento — cantarámus, cantáramos;
cantarátis, cantáreis.

5) Futuro

tableau 1.ª conjugação | 2.ª | 3.ª | 4.ª | S. | 1.ª Pess. | Cantar-ei | Vender-ei | Partir-ei | Por-ei | 2.ª | Cantar-rás | Vender-ás | Partir-ás | Por-ás | 3.ª | Cantar- | Vender-á | Partir-á | Por-á | P. | 1.ª | Cantar-emos | Vender-emos | Partir-emos | Por-emos | 2.ª | Cantar-eis | Vender-eis | Partir-eis | Por-eis | 3.ª | Cantar-ão | Vender-ão | Partir-ão | Por-ão

Tendo-se ensurdecido e até extinguido nos fins do
periodo classico as desinencias alterantes das flexões
192latinas (270), tornou-se summamente difficil aos illiteratos
distinguir de prompto o imperfeito amabam,
amabas, amabat
, etc.; por exemplo, do futuro amabo,
amabis, amabit
, etc.; o futuro tegam, teges, teget,
do presente do subjunctivo tegam, tegas, tegat,
etc. A necessidade da clareza obrigou o povo romano
a procurar uma nova fórma do futuro. Habere
«juncto ao infinito do verbo servia muitas vezes para
exprimir o desejo de fazer alguma cousa em um
tempo futuro. Cicero disse: Habeo ad te scribere
Quid habes igitur dicere de Gadilano faedere?». Em
Santo Agostinho acha-se «Venire habet». por «veniet».
D’estas formas ao futuro actual portuguez ou antes
romanico (1)140 ha apenas um passo. O presente do
verbo haver agglutinou-se aos infinitos, e constituiu
o futuro — amar hei, vender-has, partir-ha, etc..
Hemos, heis são contracções ainda usadas de havemos,
haveis
. Ve-se que, propriamente fallando, não
é o futuro um tempo simples, isto é, um tempo que
venha directamente de um correspondente latino,
mas sim um tempo composto de um verbo e de um
auxiliar. As duas partes, porém, acham-se de tal sorte
soldadas entre si (amarei, venderás, partirás,
etc.,) que seria impossivel classificar tal tempo entre
os compostos.

Os infinitos dizer, fazer, trazer, em ligação com
hei, has, ha, para exprimir o fuluro, soffreram syncope
do z e contracção das vogaes postas em contacto
pela syncope: assim em vez de dizerei, fazerds,
trazerds
,. etc, existem as fórmas direi, farás, trarás,
etc.

Esta formação do futuro romanico foi reconhecida
193primeiramente no Hespanhol por Antonio de Nebrixa (1)141,
e depois no Portuguez por Duarte Nunes de
Leão (2)142.

II) Imperativo

tableau 1.ª conjugação | 2.ª | 3.ª | 4.ª | S. | 2.ª Pess. | Cant-a | Vend-e | Part-e | P-õ-e | P. | 2.ª | Cant-ae | Vend-ei | Part-í | P-on-de

Este tempo tem duas fórmas suas, derivadas ambas
das correspondentes latinas — a segunda pessôa
do singular e a segunda do plural. As outras que
alguns grammaticos lhe costumam junctar, a saber
— a terceira pessôa do singular e primeira e terceira
do plural — foram tomadas do presente do subjunctivo.
Ter, ir, rir, vir, pôr, na segunda pessôa do
plural, conservam abrandado em d o t etymologico :
Tende, ide, ride, vinde, ponde.

III) Condicional imperfeito.

tableau 1.ª conjugação | 2.ª | 3.ª | 4.ª | S. | 1.ª Pess. | Cantar-ia | Vender-ia | Partir-ia | Por-ia | 2.ª | Cantar-ias | Vender-ias | Partir-ias | Por-ias | 3.ª | Cantar-ia | Vender-ia | Partir-ia | Por-ia | P. | 1.ª | Cantar-íamos | Vender-íamos | Partir-íamos | Por-íamos | 2.ª | Cantar-íeis | Vender-íeis | Partir-íeis | Por-íeis | 3.ª | Cantar-iam | Vender-iam | Partir-iam | Por-iam194

A formação d’este tempo que, não existindo em
Latim, era supprido pelo imperfeito do subjunctivo, é
em tudo identica á formação do futuro do indicativo,
substituido o auxiliar presente hei, has, ha,
etc., pelo auxiliar imperfeito hia, hias, hia, etc., contracções
ainda usadas de havia, havias, havia, etc..

IV) Subjunctivo

1) Presente

tableau 1.ª conjugação | 2.ª | 3.ª | 4.ª | S. | 1.ª Pess. | Cant-e | Vend-a | Part-a | P-onh-a | 2.ª | Cant-es | Vend-as | Part-as | P-onh-as | 3.ª | Cant-e | Vend-a | Part-a | P-onh-a | P. | 1.ª | Cant-emos | Vend-amos | Part-amos | P-onh-amos | 2.ª | Cant-eis | Vend-ais | Part-ais | P-onh-ais | 3.ª | Cant-em | Vend-am | Part-am | P-onh-am

Este tempo segue exactamente o seu correspondente
latino, e fórma-se pelos processos geraes de
derivação já conhecidos.

2) Imperfeito

tableau 1.ª conjugação | 2.ª | 3.ª | 4.ª | S. | 1.ª Pess. | Cant-asse | Vend-esse | Part-isse | Poz-esse | 2.ª | Cant-asses | Vend-esses | Part-isses | Poz-esses | 3.ª | Cant-asse | Vend-esse | Part-isse | Poz-esse | P. | 1.ª | Cant-ássemos | Vend-éssemos | Part-issemos | Poz-essemos | 2.ª | Cant-ásseis | Vend-ésseis | Part-isseis | Poz-esseis | 3.ª | Cant-assem | Vend-essem | Part-issem | Poz-essem

Deriva-se este tempo do plusquam perfeito latino
já syncopado no periodo classico — cantassem
por cantavissem. Esta formação é commum a todas
as linguas romanicas.195

3) Futuro

tableau 1.ª conjugação | 2.ª | 3.ª | 4.ª | S. | 1.ª Pess. | Cant-ar | Vend-er | Part-ir | Poz-er | 2.ª | Cant-ares | Vend-eres | Part-ires | Poz-eres | 3.ª | Cant-ar | Vend-er | Part-ir | Poz-er | P. | 1.ª | Cant-armos | Vend-ermos | Part-irmos | Poz-ermos | 2.ª | Cant-ardes | Vend-erdes | Part-irdes | Poz-erdes | 3.ª | Cant-arem | Vend-erem | Part-irem | Poz-erem

Este tempo simples, tanto no Portuguez como
no Hespanhol, é kharacteristico das transformações
do verbo nas linguas romanicas, e segundo
Diez (1)143, provéem do futuro perfeito latino. As
formas hespanholas antigas aproximam este tempo
da sua origem (podieropotuero) pela sua terminação
em um o final: no Portuguez a falta de
vogal na flexão approxima-o do infinito impessoal
na primeira e na terceira pessôa do singular.

V) Infinito

1) Presente

tableau 1.ª conjugação | 2.ª | 3.ª | 4.ª | Cant-ar | Vend-er | Part-ir | P-ô-r

O infinito presente portuguez tem a particularidade
kharacteristica de poder apresentar todas as flexões
do futuro do subjunctivo [Veja-se supra, IV,
3)].196

2) Gerundio

tableau 1.ª conjugação | 2.ª | 3.ª | 4.ª | Cant-ando | Vend-endo | Part-indo | P-on-do

O infinito gerundio portuguez é derivado da fórma
ablativa do gerundio latino amando, monendo,
etc, (1)144.

VI) Participios

1) Presente

tableau 1.ª conjugação | 2.ª | 3.ª | 4.ª | Cant-ante | Vend-ente (pouco usado) | Part-inte (desusado | Po-ente ou Pon-ente

O participio presente é hoje exclusivamente usado
como mero adjectivo. Todavia nos documentos
antigos encontram-se a cada passo exemplos d’este
participio com toda a força que tinha em Latim —
«Filhantes a saia, leixam o manto (2)145. Os despresintes
Deus caem no inferno
(3)146.» Mesmo em Camões
ainda se lé:

«Perlas ricas e imitantes
A côr da aurora» (4)147197

3) Aoristo

tableau 1.ª conjugação | 2.ª | 3.ª | 4.ª | Cant-ado, a | Vend-ido, a | Part-ido, a | Post-o, a

O participio aoristo foi tomado do participio perfeito
da voz passiva latina, em ado (atus) para a
primeira conjugação; em ido (itus) para a terceira:
para a segunda nas linguas romanicas, foi adoptado
o suffixo utus, contracção da fórma uitus. Assim
no Portuguez antigo encontram-se as duas fórmas
de participios em udo e ido. Nos Fóros de Beja
acha-se movudo por movido; conheçudo por conhecido,
e conjunctamente vendudo e vendido. Esta fórma
em utus não deixava confundir os participios da
segunda conjugação com os da terceira; na fórma
uitus, contrahida, veiu a prevalecer a vogal accentuada,
e por isso se transformou em ido. No portuguez
moderno ainda se acha a fórma udo, mas isso
em alguns participios que perderam o kharacter verbal,
e ficaram puros adjectivos: Teudo, manteudo,
conteudo, sanhudo
. Em uma Ordenação de D. Duarte,
lê-se: «Assim como era conteúdo no dito termo (1)148».

Sendo geralmente passivos os participios aoristos
variaveis, alguns todavia têm significação, ora activa,
ora passiva, ex.: «Homem atraiçoado, homem
gue atraiçoa, ou que é atraiçoado; homem lido, que tem
lido muito, instruido, erudito; carta lida, a carta
que foi lida.»

Os principaes participios aoristos que se subordinam
a este uso são:198

Abhorrecido | confuso (confundido) | limitado
acanhado | conhecido | limpo
acautelado | considerado | louvado
acreditado | conversado | meditado
aferrado | costumado | merecido (meritissimo, superlativo erudito, forense)
agarrado | crescido
agradecido | decidido
aladroado | demorado | mettido
alargado | desconfiado | minguado
alambicado | descrido | moderado
altanado | descuidado | namorado
amarrado | desenganado | offerecido
antecipado | desesperado | ousado
apertado | desmazellado | parida
apressado | desolado | pausado
arrazoado | despachado | picado
arrebatado | determinado | precatado
arrependido | dissimulado | prevenido
arriscado | embaraçado | procedido
arrojado | encarado | puxado
arrufado | encarecido | recatado
assomado | encolhido | reflectido
atabalhoado | enfiado | regrado
atirado | engraçado | regulado
atraiçoado | engrolado | remontado
atrapalhado | enleiado | renegado
atrevido | entalado | reservado
atroado | entendido | resguardado
aturdido | esforçado | retardado
avantajado | esperdiçado | retirado
avisado | estirado | sabido
calado | esquecido | sacudido
calculado | estragado | sentido
199cançado | exaggerado | soffrido
carregado | exaltado | solto
comedido | experimentado | subido
compadecido | extrangeirado | tirado
comportado | fingido | valido
concentrado | lambido | versado
concertado | lembrado | vendido
conduzido | lido | vigiado
confiado | limado | zangado

E bem assim os compostos d’estes como «insoffrido,
reconcenprado
».

Alguns verbos de desempenho de funcçõs organicas
como «dormir, comer» e, conseguintemente,
«almoçar, jantar, merendar, cear» prestam-se a
uso identico; diz-se: «Estar bem dormido, bem comido;
Estou almoçado
».

Além das fórmas regulares dos participios, existem
outras de origem erudita, e em geral immobilisadas
no adjectivo (296).

VII) Tempos compostos

A mais profunda differença que separa a conjugação
latina da portugueza é — que os tempos de
acção incompleta da voz passiva e todos os da activa
exprimem-se em Latim por desinencias (amor,
amavero
): ao passo que em Portuguez exprimem-se
pelo participio aoristo precedido de ter na voz activa,
e de ser na passiva. Esta creação dos auxiliares
para serviço da conjugação que, á primeira vista,
parece extranha ao genio da lingua latina, não foi
um facto isolado ou uma innovação sem precedentes:
já existia ella em germen no fallar dos Romanos.
Cicero dizia: «De Caesare satis dictum habeo
por dixiHabebas scriptum por scripseras». E Cesar:
200«Vectigalia parvo pretio redempta habet em vez
de redemitCopias quas habebat paratas em vez
de paraverat». A’ medida que se foram desenvolvendo
as tendencias analyticas da lingua, foi prevalecendo
o uso d’esta segunda fórma, e, a partir do
seculo VI, os textos latinos apresentam numerosos
exemplos d’ella. O mesmo aconteceu com as flexões
da voz passiva: o Latim vulgar as substituiu pelo
verbo sum juncto ao participio passado — sum amatus
em vez de amor. Nas collecções de diplomas
merovingios encontram-se a todo o momento estas
fórmas novas «Omnia quae ibi sunt aspecta por
aspectanturHoc volo esse donatum por donari».
A nova lingua que se ia constituindo, assim como
tinha abandonado as desinencias dos casos [269, 7)]
para as substituir por preposições, tambem abandonou
na conjugação as fórmas verbaes dos tempos
compostos para as substituir por verbos auxiliares,
consequencia natural da necessidade que impellia a
lingua latina a passar do estado synthetico para o
analytico (1)149.

311. Os verbos portuguezes formam-se, segundo o
mesmo processo dos nomes, por derivação e por composição.

312. Por derivação formam-se verbos

1) de substantivos: de trabalho, trabalhar; de dama,
damejar
(J. Fere, Aul., 42, V); de caminho, caminhar;
de numero, numerar; de purpura, purpurar;
de pavão, pavonear; etc..

Galopar (Portugal) andar a galope; galopear (Brazil) andar
a galope, e tambem, com sentido transitivo, principiar
201a domar uma cavalgadura, montando-a pelas primeiras tres
vezes.

2) de adjectivos, ou com a simples terminação verbal,
ou tambem com o prefixo a ou e: de doce, adoçar,
de vermelho, avermelhar; de francez, afrancezar.
(Do baixo Latim izare) senhorizar (J. P. Ribeiro, IV),
bemfeitorizar, poetizar, prophetizar. De lucido, elucidar,
etc..

3) de verbos já existentes: de escrever, escrevinhar;
de cantar, cantarolar; de tremer, tremelicar; de
comer, comichar
; de beber, beberricar; de gemer,
gemelicar
. Estes verbos têm sempre um sentido peiorativo
e frequentativo; ex.: «Namoriscar, namorejar».

313. Por composição verbos já existentes fórmam outros,
juntando se

1) com um substantivo, ex.: «Manobrar, manter».

2) com um adjectivo, ex.: «Purificar».

3) com um adverbio, ex.: «Transluzir, ultrapassar,
entreabrir
».

4) com os prefixos que entram na composição dos nomes,
ex.: «Dispôr, repôr, compôr, suppôr, etc.».

Pertencendo á primeira conjugação todos os verbos que se vão
diariamente creando em Portuguez, é essa primeira conjugação considerada
como conjugação viva; as outras tres, por se não prestarem á
formação de novos verbos, são consideradas mortas. Os verbos portuguezes
da primeira conjugação orçam por 8.000, ao passo que os das
outras tres não chegam a 500.

VI
Preposição

314. As preposições portuguezas derivam se

1) de preposições latinas simples.202

2) de duas preposições latinas reunidas.

3) de palavras ou de grupos de palavras do proprio
cabedal da lingua portugueza.

315. São derivadas de preposições latinas simples

tableau A que vem de ad | ante – – – ante | após (pós) – – – post | atrás (trás) – – – trans | até (té) – – – hactenus, tenus. A orthographia antiga (atlá) faz pensar no Arabe fata, hattah, que poderia ter substituido tenus latino, como en-xa-Allah, subrogou utinam. | com – – – cum | contra – – – contra | de – – – de | em – – – in | entre – – – inter | per / por – – – per | por (em favor de) – – – pro | sem – – – sine | sub – – – sub | sobre – – – super

As preposições latinas extra, infra, pós, (t), pro, supra,
trans, ultra
, são usadas em composições de palavras, ex.: «Extraordinario,
transatlantico
».

Trans deixa algumas vezes cahir o n, ex.: «Traspassar».
Post deixa sempre cahir o t, ex.: «Pospôr».203

316. São derivadas de duas preposições latinas reunidas
algumas preposições portuguezas, ex.: «Deante, para, ,
perante» que vêm de «De ante, per ad (1)150, per ante».

317. São derivadas de palavras ou de grupos de palavras
que já fazem parte do proprio cabedal da lingua muitissimas
preposições portuguezas, ex.: «Excepto, salvo, defronte,
emfrente
».

318. Quasi todas, si não todas, as locuções prepositivas
portuguezas são formadas por grupos de palavras que
já fazem parte do cabedal proprio da lingua, ex.: «Em cima
de, a cavalleiro de
».

VII
Conjuncção

319. As conjuncções portuguezas derivam-se

1) de conjuncções e de outras palavras latinas mais
ou menos correspondentes.

2) de palavras ou de grupos de palavras do cabedal
proprio da lingua.

320. São derivadas de conjuncções e de outras palavras
latinas mais ou menos correspondentes

Como que vem de cum
e
– – – et
más
– – – magis
ora
– – – hora
ou
– – – aut
pois
– – – post
quando
– – – quando
que
– – – quam, quod
si
– – – si204

321. Quasi todas, si não todas as outras conjuncções,
bem como as locuções conjunctivas, são oriundas de palavras
ou de grupos de palavras já pertencentes ao cabedal proprio
da lingua, ex.: «Outrosim, todavia».

VIII
Adverbio

322. Os adverbios portuguezes derivam-se

1) de adverbios e de locuções adverbiaes da lingua
latina, mais ou menos correspondentes.

2) de adjectivos que, empregados invariavelmente na
fórma masculina, tornam-se adverbios.

3) de adjectivos a cuja fórma feminina juncta-se o suffixo
mente.

4) de locuções do cabedal proprio da lingua, empregadas
adverbialmente.

323. Derivam-se de adverbios e de locuções adverbiaes
da lingua latina, mais ou menos correspondentes:

Acaso que vem de ad casum
acima
– – – ad cimam
acolá
– – – eccu’ illac
adrede
– – – ad recte
agora
– – – hac hora
ahi
– – – eccu’istic
ainda
(inda) – – – ab inde, inde
algures
– – – alg-hu-er-es
alhures
– – – ali-hu-er-es
nenhures
– – – nem-hu-er-es
alli
– – – eccu’illic
amanhã
– – – ad mane
antes
– – – ante
aqui
– – – eccu hic
205arriba que vem de ad ripam
assás
– – – ab satis
avante
– – – ab ante
bem
– – – bene
(em Hesp.) acá – – – eccu’hac
cedo
– – – cito
como
– – – quo modo
dentro
– – – de intro
depois
– – – de post
donde
– – – de unde
eis
– – – ecce
então
– – – intunc
fóra
– – – foras
hoje
– – – hodie
hontem
– – – hodie ante
– – – jam
jámais
– – – jam magis
– – – illac
logo
– – – loco (no logar, como
em Francez sur-le-champ)
longe – – – longe
mais
– – – magis
mal
– – – male
menos
– – – minus
muito
– – – multo
não
– – – non
nunca
– – – nunquam
onde
– – – unde
ora
– – – hora
perto
– – – pressum de premere
pouco
– – – pauco
quão
– – – quam
quando
– – – quando
206quanto que vem de quanto
sempre
– – – semper
sim
– – – sic
– – – solum
tão
– – – tam
tanto
– – – tanto
tarde
– – – tarde
trás
(atrás) – – – trans

Ao transformar-se o Latim sob as influencias variadas que cooperaram
na creação das linguas romanicas, muitas palavras, em razão de
sua ouphonia triumpharam na luta pela existencia, e passaram a ter
accepção diversa da primitiva; assim, unde supplantou a ubi, e ficou
servindo para exprimir logar onde. A necessidade de clareza e de perspicuidade
no dizer creou os grupos barbaros como de post, ad satis,
etc. que se perpetuaram nos novos idiomas.

Aquém e além estão na lingua hodierna por aqui ende, alli ende.
Ende do Latim inde é uma velha palavra que significa delle, delia, etc.
ex.: «Ganham herdamentos nos meus reguengos e fazem ende honras (1)151».
Ende tem seu correspondente no Francez velho ent, e no Francez
actual en.

324. Os adjectivos são empregados adverbialmente na
fórma masculina, ex.: «Fállar alto, gostar immenso».

Em Gil Vicente encontra-se «Fallo mui doce cortez (2)152». Já no
Latim classico era corrente este uso, tomando o adjectivo a fórma neutra:
«Dulce ridentem Lalagen amabo, dulce loquentem (3)153».

325. Muitos adverbios, com especialidade os de modo,
fórmam-se pela juncção do suffixo mente á fórma feminina
dos adjectivos, ex.: «Primeiramente, pudicamente».207

Conhece-se bem a origem desta formação adverbial. Os suffixos
e, ter que serviam para formar adverbios (docte, prudenter) desappareceram,
por isso que não estavam sob o accento, e o Portuguez, para
crear uma classe de palavras com o cunho grammatical de adverbios,
teve de recorrer a outro suffixo; adoptou para tal fim mente, ablativo
de mens, que já mesmo entre os escriptores do Império tomára a accepção
de modo, maneira, feitio, etc. Acha-se em Quintiliano «Bonamente
factum
»; em Claudiano «Devota mente tuentur»; em S. Gregorio
de Tours: «Iniqua mente concupiscit.».

326. Ha muitos adverbios portuguezes que são formados
pela agglutinação de palavras do cabecial proprio da
lingua, ex.: «outrora, talvez, tampouco».

Quiçá vem do Italiano «Chi sa», (quem sabe).

IX
Interjeição

327. A interjeição, verdadeiro grito animal, mais clamor
instinctivo do que signal de idéa (178), não está sujeita
ás lei do pensamento, não se governa pela grammatica, não
tem derivação. As verdadeiras interjeições são sempre as mesmas
em todas as linguas.

Coragem, eia sus e outras similhantes exclamações, claras ellipses
de phrases completas, são empregadas interjectivamente mas não
são interjeições.

Estas locuções interjectivas têm derivação: Apage, eia, sus, vêm
do Latim; Oxalá é o Arabico En-xa-Allah (Deus o queira); Coragem,
avante
, etc., são tomadas do cabedal proprio da lingua.208

Parte segunda
Syntaxe

Generalidades

328. A syntaxe considera as palavras como relacionadas
umas com outras na construcção de sentenças, e considera
as sentenças no que diz respeito á sua estructura, quer
sejam simples, quer se componham de membros ou de clausulas.

329. Sentença é uma coordenação de palavras ou
mesmo uma só palavra formando sentido perfeito, ex.: «As
abelhas fazem mel
Os cães ladramMorro».

Sentença do Latim sententia (pensamento, juizo, expressão completa)
é denominação preferivel a periodo. Com effeito, o termo periodo,
do Grego periodos (caminho em volta, rodeio) não traduz bem a noção
de pensamento, de juizo. Aristoteles (1)154 e Cicero (2)155 empregaram-no
com a significação de «sentença rhetorica», figurada, ornada.

Por «formar sentido perfeito» entende-se — dizer alguma
cousa a respeito de outra de modo completo.

330. Relativamente á sua significação as sentenças
são declarativas, imperativas, condicionaes, interrogativas e
exclamativas.

331. Sentença declarativa é a que declara ou assevera
uma cousa, ex.: «O dia está quente».209

A sentença declarativa chama-se .

1) affirmativa quando assevera que uma cousa é, ex.:
«O dia está quente».

2) negativa quando assevera que uma cousa não é,
ex.: «O dia não está quente».

Estes dous generos de sentenças são identicos em fórma e construcção
grammatical, com quanto directamente oppostos em significação.
Para converter-se uma sentença affirmativa em negativa basta
ajuntar-se-lhe o adverbio não; e vice-versa, para converter-se uma sentença
negativa em affirmativa é sufficiente a subtracção do mesmo adverbio.

332. Sentença imperativa é aquella por meio da
qual se ordena, se requer ou se pede que se faça alguma
cousa. Seu kharacteristico é o uso do verbo no modo imperativo,
ex.: «Traze fogoDespacha-me esta petiçãoLivrae-me
deste susto
»

333. Sentença condicional é a que assevera uma
cousa mediante uma condição, ex.: «Pedro, si fôr avisado,
escapará da cilada
».

334. Sentença interrogativa é a que se emprega para
fazer perguntas, ex.: «Está chovendo?».

335. Sentença exclamativa é a que exprime um
sentimento ou opinião relativa, asseverada ou por asseverar,
ex: «Quão estúpido é elle!Que guerra vai haver!».

As sentenças exclamativas são desconnexas relativamente ao discurso
em que oecorrem, e podem ser consideradas como phrases interjeccionaes.

336. Toda a sentença consta de dous elementos

1) o que representa a cousa a cujo respeito se falla:
chama-se sujeito.

2) o que representa o que se diz a respeito do sujeito:
chama-se predicado.

Este segundo elemento subdivide-se em dous outros:210

a) a idéia que se liga ao sujeito: chamar-se predicado
propriamente dito
.

b) o laço que prende o predicado propriamente dito
ao sujeito: chama-se copula.

N’este exemplo «Rosas são flores» «Rosas» é o sujeito;
«são» a copula; «flores», o predicado propriamente
dito.

N’este outro «Pedro ama». «ama» decompõe se em
am thema, e a terminação: o thema am fica
tido como o predicado propriamente dito, e a
terminação a como copula.

Em geral pode-se dizer com Mason (1)156 que a copula grammatical
de todas as sentenças consiste na flexão do verbo.

O acto da mente pelo qual o predicado se liga á noção expressa
pelo sujeito chama-se juizo.

O resultado de um juizo é um pensamento.

A expressão do pensamento é a sentença.

337. Quando uma sentença se compõe de duas ou
de mais asserções, cada uma dessas asserções chama-se membro.

Nesta sentença: «O plano foi bem concebido, e produziu o
effeito desejado
» as duas partes «O plano foi bem concebido».
e «produziu o effeito desejado» são os membros da sentença.

338. Chamam-se clausulas os membros da sentençá
quando são tão connexos entre si que um depende do outro,
e até o modifica.

Nesta sentença: «Foge o veado, si o accossa o cão», «Foge
o veado
» é uma clausula; «si o acossa o cão», outra.

339. Phrase é uma combinação de palavras coordenadas
entre si, mas sem formar sentido perfeito.211

Nesta sentença: «O orador excedeu a expectação do publico».
as palavras coordenadas «excedeu a expectação do publico».
formam uma phrase.

340. A phrase construida com um infinito chama-se
phrase infinitiva
ex.: «Obedecer á lei é dever do cidadão
Sirva-nos de lenitivo á derrota o termos resistido com valentia».

341. A phrase construida com um participio chama-se
phrase participal, ex.: «Negreiros são traficantes de escravos
Patrid, involvendo-se na bandeira hollandeza,
saltou ao mar
Morto Cesar, os conjurados sahiram de
Roma
».

342. Divide-se a syntaxe em syntaxe lexica e syntaxe
logica.

Livro primeiro
Syntaxe lexica

343. A syntaxe lexica considera as palavras como relacionadas
umas com outras na construcção de sentenças.

Secção primeira
Relação das palavras entre si

344. Cinco são as relações que têm entre si as palavras
ou os grupos de palavras, a saber :

1) Relação subjectiva.

2) Relação predicativa.

3) Relação attributiva.

4) Relação objectiva.

5) Relação adverbial.212

345. Relação subjectiva é a relação em que o sujeito
d’uma sentença está para com o seu predicado.

Póde estar em relação subjectiva um nome, um pronome, uma
parte da oração substantivada, uma phrase, uma clausula, um membro,
uma sentença.

Nestas sentenças: «Pedro é ricoEu sou nervoso — «Vives» é verbo
— E’ verdade que não fui a Roma
». — «Pedro», «eu», «vives» e «que
não fui a roma
» estáo em relação subjectiva.

346. Relação predicativa é a relação em que o predicado
de uma sentença está para com seu sujeito.

A relação predicativa póde ser expressa, ou por um verbo somente,
quando é completa a sua predicação; ou por um verbo de predicação
incompleta juncto com o seu complemento; ou por um verbo
qualquer seguido de adjunctos adverbiaes.

São verbos de predicação completa os que não necessitam de palavra
complementar para fazer sentido perfeito, ex.: «O vegetal vive.».

São verbos de predicação incompleta os que necessitam de palavra
complementar para fazer sentido perfeito; taes são; o verbo ser, o
verbo estar; alguns intransitivos como ficar, parecer etc.; todos os transitivos
como amar, cantar, etc, ex.: «Eu sou ricoAntonio está doente
— Pedro está pobre
A França parece rejuvenescidaO rei ama-nos
Lincoln cortava lenha».

Nesta sentença «O menino corre», o verbo «corre» está em relação
predicativa com o sujeito «menino». Nesta outra «A mesa é redonda»,
não somente o verbo «é» está em relação predicativa com o sujeito «me,
sa
», mas tambem o está o adjectivo «redonda».

347. Relação attributiva é a relação em que a palavra
que representa alguma qualidade, alguma circumstancia
da cousa de que se falla, está para com a palavra que representa
tal cousa, isso sem que haja asserção, sem que se faça
uso do verbo para mostrar a connexão entre ambas existentes.

Nesta sentença «Homens prudentes procedem ás vezes com imprudencia»,
213o adjectivo «prudentes» está em relação attributiva para com o
substantivo «homens»: o attributo que esse adjectivo denota é tomado
como pertencente ao substantivo «homens», porém não é affirmado a respeito
delle. Si fôr dito «Os homens são sabios», haverá asserção, e o adjectivo
«sábios» estará então em relação predicativa para com o substantivo
«homens». Na sentença «Socrates foi homem sabio» o adjectivo «sábio».
está em relação attributiva para com o substantivo «homem», e a
phrase «homem sabio» está em relação predicativa para com o substantivo
«Socrates».

Como attributos só podem pertencer a cousas, só com substantivos
podem as palavras ou grupos de palavras estar em relação attributiva.

A relação attributiva é expressa

1) por um artigo, exemplo: «O homemum homem».

2) por um substantivo apposto, ex.: «Epaminondas, general, —
Affonso, rei». O substantivo a que se appõe outro substantivo
chama-se fundamental.

3) por um adjectivo descriptivo, ex.: «Maçã grande».

4) por um adjectivo determinativo, ex.: Este livroCada casa
Minha lousaalgum homem.

5) por um participio, ex.: «O soldddo ferido».

6) por um substantivo precedido da preposição de, ex.: «A casa
de pedro».

7) por uma clausula adjectivo (Vide 374 — 375), «A carta que
eu escrevi
».

As palavras ou clausulas que estão em relação attributiva
para com um substantivo chamam-se adjunctos attributivos
desse substantivo.

348. Relação objectiva é a relação em que está para
com um verbo de acção transitiva o objecto a que se dirige,
ou sobre que se exerce essa acção.

Nesta sentença «O cão, levantou a cabeça» o substantivo «cabeça»
está em relação objectiva para com o verbo «levantou».

A palavra que está em relação objectiva para com o verbo chama-se
objecto ou paciente desse verbo.

Como uma acção só póde ser exercida sobre uma cousa, só podem
214tambem servir de objecto substantivos ou então palavras, phrases, clausulas
e sentenças tomadas como taes, isto é, substantivadas.

A relação objectiva não é indicada por preposições, salvo quando
para evitar amphibologiás usa-se da preposição a, ex.: «Enéas venceu A
Turno», ou quando por idiotismo da lingua empregam-se preposições
expletivas, ex.: «Pegou da lançapuxar pela espada». em vez de «Pegar
a lança
puxar a espada».

349. Relação adverbial é a relação em que está para
com um adjectivo, verbo ou adverbio a palavra, phrase
ou clausula que qualifica esse adjectivo, verbo, ou adverbio.

A relação adverbial é expressa

1) por um adverbio, ex.: «Elle combateu esforçadamente».

2) por um substantivo precedido de preposição, ex.: «Paulo
gosta
de fructasPedro escreve com gostoCesar foi louvado
por Cicero
». O infinito de um verbo pódo ser usado neste
caso visto que é por sua natureza verdadeiro substantivo (Vide
207), ex.: «Farto de brincar». Tambem se póde empregar
uma clausula substantivo (Vide 372), ex.: «Os homens gostam
de
que se lhes lisongeie o orgulho».

3) pelos pronomes substantivos em relação apropriada ao caso.

São relações apopriadas ao caso

a) a relação adverbial, ex.: «Pedro veio comigo».

b) a relação objectiva dos pronomes pessoaes usada, por idiotismo
da lingua, em vez da relação adverbial, ex.: «Paulo
deu-
me um livro». em vez de «Paulo deu a mim um livro».

A relação objectiva dos pronomes substantivos, assim
empregada, chama-se relação objectiva-adverbial.

4) por uma clausula adverbio (376), ex.: «Antonio estava lendo
quando eu cheguei».

As palavras ou sentenças que estão em relação adverbial para
com outras chamam-se adjunctos adverbiaes. A mór parte dos adjunctos
adverbiaes incluem-se na seguinte classificação:

Adjunctos adverbiaes

1) de tempo
2) de logar
3) de ordem
4) de modo
2155) de conclusão
6) de quantidade
7) de affirmação
8) de negação
9) de duvida
10) de exclusão
11) de designação

As palavras que na construcção de sentenças já estejam em differentes
relações, podem estar em qualquer relação para com outras.

Secção segunda
Particularidades do sujeito, do predicado e do objecto

I
Sujeito

350. O sujeito de uma sentença é simples, composto
ou complexo:

1) é simples quando consta de um só substantivo, de
um pronome ou de um infinito de verbo, ex.: «Cesar
conquistou as GalliasEu sou ignoranteerrar
é proprio do homem».

2) é composto quando consta de dous ou de mais
substantivos, pronomes ou infinitos de verbos, ex.:
«Cesar e Pompeu foram rivaesEu e tu estamos
ricos
Comer e Dormir são cousas diversas».

3) é complexo quando consta de uma clausula substantivo,
de uma phrase, ou de uma citação qualquer,
ex.: Que elle o disse é certo — «Por toda a parte»
é uma phrase usada por Luiz de CamõesO
amai-vos uns aos outros» do Evangelho derribou
os templos pagãos
.

351. Chama-se sujeito ampliado o sujeito a que se liga
216um adjuncto atributivo, ex.: «O general morreuAffonso,
rei, casou-seChegaram-me cartas que eu esperava. Já
vêm-se terras de Hespanha
».

O sujeito, si é um infinito de verbo transitivo, póde ser ampliado
pelo objecto só, ou por elle com um adjuncto adverbial; no caso de ser
infinito de verbo intransitivo, amplia-se com um adjuncto adverbial,
ex.: «Perdoar injurias é dever do sabio. Perdoar injurias com alegria é
dever do khristão. Andar ás pressas
».

II
Predicado

352. O predicado de uma sentença é simples ou complexo :

1) é simples quando expresso por um só verbo, ex.:
«A virtude floresceO homem morre».

2) é complexo quando expresso por um verbo de predicação
imcompleta acompanhado por seu complemento.

353. Quando um verbo de predicação incompleta é
intransitivo ou está na voz passiva, o complemento do predicado,
substantivo ou adjectivo, fica em relação predicativa
para como sujeito da sentença, ex.: «Eu sou chamado Antonio
— Este homem parece rico».

354. Quando um verbo de predicação incompleta é
transitivo ou está na voz activa, o complemento do predicado
fica em relação attributiva para com o objecto do verbo, ex.:
«Comprei o panno vermelhoChamei-o mentiroso».

355. Quando o complemento do predicado é um verbo
no modo infinito como «Eu posso escreverDevo mandar»,
o objecto da sentença está as mais das vezes ligado a esse
infinito dependente, ex.: «Eu posso escrever uma carta
Devo mandar um aviso».217

356. Chama-se predicado ampliado o predicado a
que se liga um adjuncto adverbial, ex.: O menino anda bem
— Cheguei hontem. Comi maçãs com muito prazerVi
muitos soldados em Berlim.

III
Objecto

357. O objecto de um verbo é simples, composto ou
complexo. Estas distincçoes são as mesmas que já se fizeram
relativamente ao sujeito (349).

358. Chama-se objecto ampliado o objecto a que se
liga um adjuncto attributivo, um outro objecto ou um adjuncto
adverbial, ex.: «Ouvi um cantor celebreQuero estudar
o
sãoskrito — Vejo um homem com uma espingarda

Póde servir de objecto uma sentença, um discurso, um
livro inteiro.

Livro segundo
Syntaxe logica

359. A syntaxe logica considera as sentenças no que
diz respeito á sua estructura quer sejam ellas simples quer
sejam compostas.

360. Sentença simples é a que contem uma só asserção,
sejam ou não ampliados seu sujeito e seu predicado,
ex.: «Abelhas fazem mel».

A sentença simples chama-se tambem oração ou proposição.

361. Sentença composta é a que contém mais de
uma asserção, ex.: «Pedro é feliz, porém eu sou desgraçado
218— Si me abandonas considero-me perdido
Estou certo de
que Napoleão teria vencido os alliados em Waterloo, si Grouchy
tivesse chegado no tempo devidos
».

362. Duas são as relações que podem manter entre
si os membros de uma sentença composta:

1) relação de coordenação;

2) relação de subordinação.

Secção primeira
Coordenação

363. Os membros de uma sentença composta estão
em relação reciproca de coordenação quando, relativamente
á sua força de expressão, são independentes entre si, formando
proposições separadas quanto ao sentido, unidas apenas
grammaticalmente por palavras connectivas, ex.: «Pedro é rico
e Antônio é trabalhador

364. Si os membros de uma sentença composta não
estão em opposição uns aos outros, mas simplesmente ligados,
a relação de coordenação entre elles existente chama-se copulativa,
ex.: «Pedro é tenente e Antonio é capitão

365. Si os membros de uma sentença13 composta,
além de acharem-se ligados, exprimem ainda opposição, a relação
de coordenação entre elles existente chama-se adversativa,
ex.: «Pedro é pobre, mas trabalha muito

366. Quando as sentenças coordenadas tem ou o mesmo
sujeito, ou o mesmo predicado, ou o mesmo adjuncto adverbial,
acontece frequentemente ser a parte commum expressa
uma só vez. Taes sentenças chamam-se contractas, ex.:
«Pedro furtou um relogio e foi pilhado em flagrante, isto é,
Pedro furtou um relogio; Pedro foi pilhado em flagrante
Pedro está bebedo e Antonio louco, isto é, Pedro está bebedo e
219Antonio está loucoHerculano pensava e escrevia bem — isto
é — Herculano pensava bem, e Herculano escrevia bem».

A sentença não é contracta quando seu sujeito, composto de varios
nomes no singular ou no plural, é explanação de um nome do plural desentido
mais lato, que os comprehenda a todos. Em «Pedro e Paulo são
ricos
João e seus filhos são honestos» não ha sentença contracta, porque
«edro e PauloJoão e seus filhos» são explanações de uma phrase
qualquer de sentido mais amplo, por exemplo: «Os irmãos Pedro e
Paulo
Aquelles homens João e seu filhos».

367. A relação de coordenação é sempre expressa
por conjuncções coordenativas.

368. Do principio que rege a coordenação dos membros
da sentença deduz-se — que -as conjuncções coordenativas
só podem ligar palavras e membros que estejam na mesma
relação com as outras partes da sentença.

369. Encontram-se por vezes sentenças compostas cujos
membros não se acham ligados por conjuncção alguma.
Taes sentenças chamam-se collateraes. Exemplos:

«Vim, vi, venci. —
Qual do cavallo vôa, que não desce;
Qual, co o cavallo em terra dando, geme;
Qual vermelhas as armas faz de brancas;
Qual co’os penachos do elmo açouta as ancas (1)157».

370. As sentenças collateraes podem ser ao mesmo
tempo contractas, ex.: «As boas lettras criam a adolescencia,
recreiam a velhice, adornam os sucessos prosperos, servem
de asylo na adversidade, divertem-nos em casa, não nos embaracam
por fóra, velam comnosco, nas jornadas nos seguem,
no campo nos acompanham
(2)158».220

371. Ao seguirem-se os membros de uma sentença
collateral; contracta ou não, o uso geral é que por meio da
conjuncção «e» se desfaça a collateralidade entre os dous ultimos,
ex.:

«Mas o de Luso, arnez, couraça e malha
Rompe, corta, desfaz, abola
e talha (1)159».

Secção segunda
Subordinação

372. Si um ou mais membros de uma sentença composta
dependem de outro membro da mesma sentença, ha relação
de subordinação.

373. Na sentença composta o membro de que dependem
outros membros chama-se clausula principal; ao membro
ou membros dependentes dá-se o nome de clausulas subordinadas,
ex.: «Eu não quiz que Antonio partisse sem que
tivesse chegado o correio
» «Eu não quiz» clausula principal;
«que Antonio partisse» e «sem que tivesse chegado o correio».
clausulas subordinadas.

374. As clausulas subordinadas são de tres especies:
clausulas substantivos, clausulas adjectivos, clausulas adverbios.

I
Clausulas substantivos

375. Clausula substantivo é aquella que, em sua relação
com o resto da sentença, equivale a um substantivo.221

A clausula substantivo póde ser

1) sujeito do verbo da clausula principal, ex.: «que eu
cahisse no laço
era o que elle desejava».

2) objecto desse verbo, ex.: «Eu disse te que fosses».

3) predicado propriamente dito delle, ex.: «Pedro é
exactamente
o que parece ser».

4) adjuncto attributivo do sujeito ou do objecto do mesmo
verbo, e, em geral, tudo o que se liga por meio
da preposição de, ex.: «A ideia de que partirás
sem mim
tortura-me o coraçãoTenho um presentimento
de que não viverei muitoPreciso de
que venhas hoje
».

376. A clausula substantivo começa sempre pela conjuncção
que, ou péla preposição de, ou por uma palavra interrogativa.

Nos escriptos classicos muitas vezes omitte-se a conjunção que,
ex.: «A grande reputação que Gil Vicente adquiriu entre seus contemporaneos
e a celebridade que ainda hoje seu nome gosa entre os litteratos,
juncto á singularidade de suas obras
, parece deveriam ter animado a
algum zeloso de nossa litteratura a comprehender uma nova edição deste
nosso antigo escriptor
» (1)160

Os caipiras de S. Paulo praticam frequentemente a mesma omissão,
dizendo: «Podia elle viesse hoje», etc.

II
Clausulas adjectivos

377. Clausula adjectivo é aquella que em sua relação
com o resto da sentença equivale a um adjectivo.

378. A clausula adjectivo está sempre em relação attributiva
com um substantivo expresso ou subentendido, ao
222qual se prende por meio de um pronome conjunctivo, ex.:
«Veja este lenço que eu bordei».

III
Clausulas adverbios

379. Clausula adverbio é aquella que, em sua relação
com o resto da sentença, equivale a um adverbio.

380. A clausula adverbio está sempre em relação
adverbial (348), para com um adjectivo, ou para com um verbo,
ex.: «Amarei a Lalage formosa quando ri, formosissima
quando choraPedro estava te escrevendo uma carta
quando chegaste».

Ha clausulas adverbios

1) de tempo.
2) de logar.
3) de ordem.
4) de modo.
5) de duvida.
6) de comparação.
7) de causa.

381. As clausulas adverbios de tempo começam por
adverbios ou por locuções adverbiaes de tempo, ex.: «Pedro
estava lendo
quando os ladrões lhe assaltaram a casaPorque
não pereci tanto que sahi do ventre de minha mãe
?».

382. As clausulas adverbios de logar começam por
adverbios ou por locuções adverbiaes de logar, ex.: «Onde
quebraste o pote procura a rodilhaOnde quer que vás has
de ter trabalhos
».

383. As clausulas adverbios de ordem começam por
locuções adverbiaes de ordem, como antes que, depois que,
etc., ex.: «Antes que cases olha o que fazesDepois que
tiveres passado passarei eu».

384. As clausulas adverbios de modo começam pelo
223adverbio como, por alguma, locução composta com elle, e pelas
conjuncções e locuções conjunctivas causaes, ex.: «Sahiu
o negocio
como eu o queria, ou assim como eu o queria».

385. As clausulas adverbios de duvida ou adversativa
começam pelas conjuncções e locuções conjunctivas de
subordinação, ex.: «Si tu fores, Pedro ficaráAntonio é feliz
si bem que seja pobre».

386. As clausulas adverbios de comparação formam
o segundo elemento das sentenças comparativas, e começam
sempre pelas conjuncções que, como, ou pela locução conjunctiva
do que. São admittidas depois dos adjectivos no comparativo,
dos adverbios de comparação, etc. Exemplos: «Eu sou
maior que Pedro
Tu és tão rico como PauloAntonio escreve
menos atrevidamente do que Francisco
Pedro bebe mais
do que José
».

387. As clausulas adverbios de causa começam pelas
conjuncções porque, por quanto, ou por qualquer locução conjunctiva
equivalente, ex.: «Gasto muito dinheiro porque sou
muito rico
Já disse que não quero, portanto não me abhorreçam
— Quero ver, por isso vou
».

Livro terceiro
Regras de syntaxe

I
Substantivo

388. Um substantivo apposto concorda sempre com o
fundaméntal em relação, isto é, o apposto estará em relação
subjectiva predicativa, objectiva ou adverbial, conforme o está
o seu fundamental.

389. Sempre que é possivel concorda o apposto com
224o seu fundamental em genero enumero, ex.: «Alexandre, imperador
da Russia
Victoria, imperatriz das indiasOs Gregos,
leões da Europa
As Musas, filhas de Júpiter».

390. Si o apposto não tem flexão de genero, ou si é
usado em um unico numero, prescinde-se da concordancia,
ex.: «Lucrecia, exemplo de honestidadeAlbuquerque, algemas
da Asia
».

391. Sempre que é possivel, o substantivo usado predicativamente
concorda com o sujeito em genero e numero,
ex.: «Antonio é reiMaria é rainhaOs hespanhoes são fidalgos
As moçás são leôas».

392. Si o substantivo usado predicativamente não
tem flexão de genero, ou si é usado em um unico numero,
prescinde-se da concordancia, ex.: «As legiões romanas eram
o terror do mundo
As palavras de Pedro são ouro sem
liga
».

393. Omitte-se muitas vezes a preposição antes de
um substantivo em relação attributiva de possessão, ex.: «Rio
Amazonas
O nome PeroCasa Gárraux» em vez de «Rio
das Amazonas
O nome de PedroA casa de Garraux».

394. Muitas vezes, para encarecer o sentido, repete-se
um substantivo que desempenha na sentença uma funcção
qualquer, ex.: «Dias e dias se pássaramNão era possivel
estar eu a dar-lhe dinheiro dinheiro e dinheiro
».

II
Artigo

§ 1.°
Concordancia do artigo

395. O artigo está sempre em relação attributiva para
225com um substantivo, ou para com uma palavra qualquer,
uma phrase; um membro, uma clausula, uma sentença, tomados
substantivamente.

396. O artigo concorda sempre em genero e numero
com o substantivo cuja significação particularisa, ex.: «O homem
A mulherOs homensAs mulheres».

Uma palavra- qualquer, uma phrase, um membro, uma clausula,
uma sentença, tomada substantivamente é considerada como sendo do
genero masculino, ex.: «Terrivel cousa é um nãoOs comes e bebes
A V. Exc. devo o terem-me tratado bemAdmiro o «está consumado».
de Jesus».

§ 2.°
Uso do artigo antes de um só substantivo

397. Para particularisar a significação de modo certo
antepõe-se o artigo

1) aos substantivos appellativos

a) quando estando em relação subjectiva ou objectiva
são tomados em toda a sua extensão, ex.: «O
homem é mortal
O cavallo é solipedeO ferro
é duro
Quando estive na Arabia fiquei conhecendo
bem o camello
Receio mais o tigre do que o
leão
».

b) quando modificados por adjuncto attributivo, ex.:
«O rico lavradorO filho de PedroO elephante
que hontem vimos
».

A adjuncto póde estar occulto: em «O homem veiu»
subentende-se — de que fallamos, que esperavamos, etc.

2) ás palavras, phrases, membros, clausulas e sentenças
substantivadas, ex.: «O sete de espadas» — Espero
226o
simO «pois eu fui» de CamõesO «morra e
vingue-se» de Vieira.

3) a qualquer substantivo de logar ou de tempo, quando
ténha tambem como adjuncto attributivo todo,
que por via de regra o procede, ex. «Por toda a parte
— Por todo o anno
Por todo o mez».

Estas e outras phrases analogas podem soffrer uma inversão,
ex.: «Toda a casa está cheia de ratos ou A casa
toda está cheia de ratos
», Quando todo equivale a cada, é
facultativo o emprego do artigo, ex.: «Todo homem sensato
ou Todo o homem sensato despreza a ostentação.» No
plural é sempre obrigatorio o uso do artigo, ex.: «Todos os
homens sensatos desprezam a ostentação
».

4) aos substantjvos proprios de pessôas

a) quando modificados por um adjuncto attributivo
que os preceda, ex.: «O destemido RabelloO sentencioso
Sancho
».

b) quando appellidos ou alcunhas, ex.: «O Caramurú
— O Pato Macho
».

c) quando designam individuos de celebridade universal,
ex.: «O KhristoO DanteO Byron».

d) em estylo familiar, ex.: «O Joaquim casa com a
Thereza
».

5) aos substantivos proprios

a) das cinco partes do mundo e de grandes , regiões,
ex: «A EuropaA AmericaO SaharaA Nigricia».

Antigamente dizia-se «Africa, Asia, etc.», sem
artigo.

b) de paizes, ex.: «O BrazilO Tyrol». Exceptuam-se
Portugal, Castella e talvez poucos mais,
que não levam artigo, a não ser quando modificados
por um adjuncto attributivo, ex.: «Portugal
227é rico
Castella é orgulhosaO Portugal de D.
José I deu leis á Inglaterra
».

c) de provincias e de divisões analogas, ex.: «O
Ceará
O MinhoO YorkshireAs Boccas do Rhodano».

Esta regra tem numerosas excepções que só pela leitu
ra de bons eseriptores de geographia se poderão conhecer
ex.: «GoyazMatto-GrossoMinasPernanibucoSanta
Catharina
S. PauloSergipeTrás-os-Montes, etc.»
que nunca levam artigo.

d) de montanhas, ex.: «AndesOs PyreneusO
Olympo
».

e) de promotorios e cabos, ex.: «O OrtegalO Passaron».

f) de mares, ex.: «O AtlanticoO Mediterraneo».

g) de estreitos, ex.: «O BosphoroO Sund».

Exceptuam-se Gibraltar, Jenikalé e alguns outros.

h) de rios, ex.: «O AmazonasO Tejo».

i) de obras primas artisticas e litterarias, ex.: «A
Alhambra
A BatalhaO LacoonteOs Lusiadas».

j) de navios, ex.: «O Great EasternA Bahiana».

k) de homens, quando tomados adjectivamente, ex.:
«Camões é o Virgilio portuguezOs Alexandres
são raros
»;

6) muitas vezes aos adjectivos possessivos, ex.: «A minha
casa
Os meus amigos».

Nestes casos o ouvido é que decide do emprego ou da
omissão do artigo; todavia o uso moderno propende mar
para a omissão.228

7) aos nomes de parentesco e de objectos possuidos
em vez dos adjectivos possessivos, isto quando o
sentido da phrase é tão claro que não deixa duvida
sobre o possuidor, ex.: «Este menino perdeu a mãe
Rapaz, que é da gravata»?

8) a Senhor, Senhora, etc, quando nos dirigimos a
alguem sem accrescentar mais nomes de tratamento,
ex.: «O Senhor quer pão? — A Senhora vai sahir»?

9) aos pronomes possessivos, ex.: «Este livro é meu;
o teu é melhor».

10) aos adjectivos numeraes que indicam horas, ex.:
«As duas horas, Ás tres».

11) ás palavras meiodia, meianoute, ex. «Virei ao meiodia
— Cheguei
á meianoute».

12) aos nomes de numeração, ex.: «o quatro não sahiu
— Falta
o nove»

O artigo serve tambem para uma construcção especialissima da
lingua portugueza: junta-se a um adjectivo ou substantivo de qualificação,
que se prende pela preposição de a um nome de individuo que se
queira qualificar energicamente, ex.: «O bom do homema pobre da
mulher
O tratante do padrea burra da criada».

Esta construcçao é familiar e não se usa em estylo elevado.

398. Omitte-se o artigo

1) geralmente, antes de todos os substantivos proprios
não precedidos de adjuncto attributivo, ex.: «Minerva
plantou a oliveira
Paris em civilisacão leva
de vencida todas as capitaes do mundo
».

2) particularmente, antes dos nomes proprios de ilhas,
cidades e astros, ex.: «Ceylão é rica, e Java é bella
— Lisboa é limpa, e Constantinopla é immunda

Júpiter é maior do que Mercúrio
».

Exceptuam-se os nomes proprios de ilhas, cidades
e constellações, quando procedentes de substantivos
229communs, ex.: «A Madeira por si só vale tanto
como os Açores
O Porto é mais rico do que o Havre
— Já vi o Cruzeiro do Sul e as Ursas
».

3) antes dos termos principaes de ditos sentenciosos,
ex.: «Pobreza não é villeza».

4) antes do substantivo capital de uma definição ex.:
«Biologia é a sciencia da vida».

5) antes das palavras em apostrophe, ex.: «Surgi, povos,
vinde a juizo!
».

6) nas phrases exclamativas, ex.: «Bella criança!Lindo
menino!
».

7) antes dos substantivos que constituem uma enumeração
de partes, ex.: «Tudo quanto appetecemos na
vida, glorias, honras, riquezas, não nos satisfaz
».

8) antes dos adjectivos possessivos seguidos de um
nome de parentesco, ex.: «Minha mãeMeus thios».

Quando, porém, se quer distinguir com maior particularisação
ura parente por meio de uma palavra determinativa
ou qualificativa, antepõe-se o artigo, ex.: «O meu filho Jorge,
— A minha cunhada solteira

9) antes dos nomes de tratamento precedidos de Senhor,
Senhora
, etc., quando nos dirigimos ás pessoas
a quem os damos, ex.: «Que diz a isto, Senhor
Barão
? — Toma café, Senhora Condessa?».

Todavia, por uma especie de emphase emprega-se o artigo
quando os nomes de tratamento indicam cargo, dignidade
jurisdiccional, relação social, ex.: «Que diz a isto o nobre
Promotor
? — Que decidem os Senhores Representantes do Povo?
— Nunca accusarei o meu amigo…». Por vezes usa-se
tambem da mesma construcção quando a Senhor, Senhora
seguem nomes proprios, ex.: «Que quer o Sr. João Gonçalves?
Veja isto a Sr.ª D. Thereza».

Em Portugal usa-se do artigo antes dos nomes de parentesco
230e de relações sociaes, ainda mesmo dirigindo-se a pessoa
que falla ao interlocutor, ex.: «— Rapaz, onde foste a estas
horas
? — Pois o thio não me mandou á botica?». «Quer o
amigo almoçar comnosco
?».

Na provincia de S. Paulo, especialmente na zona do oeste,
ha um uso extranhissimo e absolutamente contrario a
este: supprime-se artigo e adjectivo possessivo com os nomes
pae e mãe, ainda mesmo fallando-se em ausencia, ex.:
«Mãe não quer que eu casePae deu-me hoje um cavallo».

10) antes dos nomes de numero que indicam datas, ex.:
«A 14 de Março — a 18 de Maio».

Todavia diz-se: «A primeiro de Junho ou no primeiro de
Junho
». Quando se põe clara a palavra dias tambem se usa
do artigo, ex.: «Aos doze dias do mez de Janeiro».

11) antes dos pronomes conjunctivos empregados interrogativamente,
ex.: «Que queres? — Que te parece?».

«O que queres? — O que te parece?» e outras construcções
identicas são incorrectas. Nos escriptores classicos abundam
exemplos do uso acertado:

«Pois de ti, Gallo indigno, que direi?». Camões. «E que
vos parece que façamos
Vieira «O homem, que fizeste
Sousa Caldas. «Que havia de fazer?». Bocage. «que é o que
ouço
Francisco Manuel.

§ 3.°
Uso do artigo antes de substantivos consecutivos

399. Si o primeiro de dous ou de mais substantivos
consecutivos é precedido de artigo, a repetição ou a omisssão
d’elle antes do outro ou dos outros é geralmente facultativa.
Exemplo de repetição: «Que cousa são as honras e as dignidades
sinão fumo
?». Exemplo de omissão: «De Troia disse
Ovidio que onde ella tinha estado já maduravam searas. E o
mesmo podemos, dizer
das planicies, valles e montes d’onde
231se levantavam ás nuvens aquelles vastissimos corpos de casas,
muralhas e torres
».

400. E’ de rigor a repetição

1) antes de termos que tenham entre si sentido opposto,
ex.: «O dia e a nouteAs obras boas e as
más
».

2) antes dos membros de uma gradação, ex.: «A necessidade,
a pobreza , a fome, a falta do necessario
para o sustento da vida é o mais forte, o mais poderoso,
o mais absoluto imperio que despoticamente
domina sobre todos os que vivem
».

401. E’ de rigor a omissão

1) antes de termos synonymos, ex.: «O fumo, tabaco
ou betum é uma planta originaria da America
A
mudança e variedade das linguas do Brazil é sem
duvida curiosa
Os homens compassivos e bons —
As mulheres ajuizadas e prudentes
».

2) antes de termos relativos ao mesmo individuo, ex.:
«O rei da Prussia e imperador da AllemanhaO
cunhádo e socio de Pedro
».

III
Adjectivo

§ 1.°
Concordancia do adjectivo

402. O adjectivo está sempre em relação attributiva
ou em relação predicativa para com um substantivo, ou para
com uma palavra qualquer, uma phrase, um membro, uma
clausula, uma sentença, tomados substantivamente.232

403. Geralmente o adjectivo concorda em genero e
numero com o substantivo a que se refere, ex.: — «O homem
branco
A mulher brancaOs homens brancosAs mulheres
brancas
».

404. O adjectivo que faz as vezes de um adverbio é
invariavel ex.: «Vontade todo poderosaCasas meio derribadas».

Todavia, em relação a meio alguns escriptores fazem a concordancia,
ex.: «Porta meia abertaCasas meias queimadas».

405. Quando a um substantivo de um genero se refere
outro de genero diverso e modificado por um adjectivo,
este adjectivo concorda com o segundo substantivo, ex.: «Cicero,
aquella fonte do eloquenciaCatilina, aquella peste da
republica
».

Os escriptores antigos e o povo ainda hoje fazem a concordancia
com o primeiro, ex.: «Cicero, aquelle fonte de eloquenciaCatilina
aquelle peste da republicaManuel, tu és um borraJulio, tu serás
um mamã».

406. O adjectivo substantivado é do genero masculino,
ex.: «O bello do negocioO difficil da questão».

O adjectivo pouco, si está collocado antes de um substantivo
feminino, póde assumir, apezar de estar substantivado,
a flexão do feminino, ex.: «Uma pouca de palhaUma pouca
de agua
».

407. Concorrendo dous ou mais substantivos do mesmo
genero e do numero singular, o adjectivo toma a flexão do
genero commum a todos e do numero plural, ex.: «improbos
eram o ardor e exforço empregados
Validas eram a coragem
e a esperança
».

408. Concorrendo dous ou mais substantivos do singular,
de genero e de significações differentes, o adjectivo
233toma em geral a flexão do genero masculino e do numero
plural, ex.: «A noute e o dia eram claros».

409. Concorrendo dous ou mais substantivos do singuiar,
de genero differente e de significação similhante, o adjectivo
concorda com o ultimo, ex.: «O amor e a amizade
verdadeira
— ou — A amizade e o amor verdadeiro».

E’ vicioso empregar um substantivo no plural e fazer concordar
com elle adjectivos no singular: estas e outras phrases, por exemplo,
são incorrectas; «O primeiro e segundo juizes de pazAs grammaticas
franceza e portugueza
». Deve-se dizer: «O primeiro juiz de paz e o segundo
A grammatica franceza e a portugueza».

Cumpre todavia notar que muitos grammaticos não são desta opinião:
Diaz (1)161, por exemplo, auctorisa esta concordancia de adjectivos
no singular com um substantivo no plural, que até se dá ém Latim.
Camões escreveu: «O quarto e quinto Affonsos (2)162».

410. Concorrendo dous ou mais substantivos do plural,
de genero differente, o adjectivo concorda com aquelle de
que está mais proximo, ex.: «Seus temores e esperanças eram
vãs
Vãos eram seus temores e esperanças».

Alguns escriptores fazem o adjectivo assumir sempre a flexão
masculina de genero, ex.: «Vinham vestidos de pennas, com as faces,
beiços, narizes e orelhas cheios de grossos pendentes
».

411. Concorrendo um ou mais substantivos do plural
com outro ou outros do singular e, sendo os de um numero
differentes em genero dos do outro, o adjectivo concorda em
genero com aquelle ou aquelles que estiverem no plural, ex.:
«As fazendas e o dinheiro, eram muitas».234

Alguns escriptores fazem o adjectivo assumir sempre neste caso
a flexão do masculino plural, ex.:

«Porque essas honras vãs, esse ouro puro
Verdadeiro valor não dão á gente:
Melhor é merecel-os sem os ter,
Que possuil-os sem os merecer».
Camões.

«De branca seda leva o kharo esposo
As calças e o jubão de ouro lavrados».
Corte Real.

Outros fazem o adjectivo concordar sómente com o ultimo substantivo,
ex.:

«Era este Lazaraque um tyranno que, com manhas e astúcia sua,
se veiu a fazer tão grande, que teve poder para desherdar os dous filhos
de Et-Rei Buçaide de Fez
.
Duarte Nunes de Leão».

412. Anteposto a dous ou mais substantivos o adjectivo
concorda sómente com o primeiro, ex.: «Com quanta
prudencia, agrado e modestia se defende de todos
Cada um
d’elles trazia seu arco e frechas
».

413. Nas phrases de tratamento, como Vossa Senhoria,
Sua Alteza, Sua Magestade
, etc., os adjectivos possessivos inseparaveis
concordam em genero com o substantivo honorifico,
ao passo que os adjectivos descriptivos separaveis assumem o
genero da pessôa a quem ou de quem se falla, ex: «Vossas
Senhorias, Senhores Vereadores, são cordatos e justos
Suas
Altezas
(os principes) são magnanimos e bonsSua Magestade
(a rainha) é illustradissimas».

A concordancia em numero é regular.

E’ uma das muitas extravagancias do estylo de chancellaria o conservarem-se
nas phrases de tratamento as fórmas do adjectivo possessivo
235da segunda pessôa do plural «vossa, vossas» quando o genio da
lingua portugueza quer que se dirija em terceira pessôa ao individuo,
ou individuos com quem se falla.

414. Nos adjectivos compostos a concordancia tanto
em genero como em numero cabe a ambos os componentes,
quando em cada um se manifesta o sentido adjectival, ex.:
«Meninos surdos-mudosOutras tantas meninas».

415. Nos adjectivos compostos a concordancia só cabe
ao ultimo componente quando o primeiro ou os primeiros tem
um como sentido adverbial ex.: «No cerrado das hostes palpitavam
gloriosas as bandeiras auri-verdes do Brazil
Os
exercitos austro-hungaros
A esquadra anglo-turco-franceza».

§ 2.°
Posição do adjectivo

416. Os adjectivos descriptivos antepõem-se ou pospõem-se
aos substantivos conforme o genio da lingua, o estylo
da composição, e o gosto do escriptor: não se póde estabelecer
regras positivas a este respeito. Todavia nota-se

1) que alguns adjectivos de poucas syllabas como bello,
bom
são mais commumente antepostos, ex.: «Um
bello homem
Um bom livro». Não seria, porém,
erro dizer-se «Um homem belloum livro bom».

2) que se antepõem os adjectivos descriptivos aos
substantivos proprios, ex.: «O sublime GoetheO
mystico Dante
».

Póde-se pospôr o adjectivo descriptivo ao substantivo
proprio quando se quer insistir sobre este, ou distinguil-o
de seus homonymos, ex.: «Raphael, o divinoAffonso, o sábio»;
mas neste caso o adjectivo é quasi sempre precedido
de artigo.236

3) que se pospõem aos substantivos os adjectivos descriptivos
que exprimem relações externas e estados
corporaes, ex.: «Opinião commumMulher doente».

E’ de rigor a posposição com adjectivos descriptivos
derivados de substantivos proprios, ex.: «A escola allemã
O estylo fiorentino». Todavia em estylo elevado ainda neste
caso póde-se antepor os adjectivos, ex.: «Nada temem brazileiros
corações
Luso valor».

4) que os adjectivos de propriedades materiaes como
côr, fórma, gôsto, etc., pospõem-se geralmente, ex.:
«Uma gravata vermelhaUma mesa redondaUm
vinho doce
».

Bocage escreveu

«Contam que certa raposa,
Andando muito esfaimada
Viu roxos maduros cachos
Pendentes de alta latada».

5) que alguns adjectivos variam de significação conforme
são antepostos ou pospostos, ex.: «Urna pobre
viuva
; Uma viuva pobreUm novo livro; Um livro
novo
».

Em geral o adjectivo posposto tem sentido proprio; eo
anteposto, figurado.

417. O adjectivo determinativo antepõe-se ao substantivo
ex.: «Este homemAquella mulher».

418. Os adjectivos determinativos demonstrativos este,
esse, aquelle
pospõem-se em algumas sentenças exclamativas,
ex.: «Que homem este!Que pensamento esse!Que mulher
aquella!
».237

§ 3.°
Repetição e omissão do adjectivo determinativo antes de um
ou de mais substantivos

419. Em geral militam para a repetição ou para a
omissão do adjectivo determinativo antes de um só substantivo,
ou de substantivos consecutivos, as regras acima exaradas
para a repetição ou para a omissão do, artigo.

§ 4.°
Adjectivos numeraes

420. Os adjectivos numeraes tomados comos nomes
dos dez algarismos são substantivos, ex.: «Um sete e tres quatros.
Os zeros são mal feitos, mas os cincos são bem acabados».
Tambem são substantivos quando tomados como nomes
de cartas, ex.: «O dous de paus o cinco de copas».

421. Os números entre cem e duzentos são expressos
por cento, e não por cem, ex.: «Cento e dez, cento e trinta».

422. Antes immediatamente de mil usa-se de cem,
ex.: «Cem mil homens».

423. Quando entre mil e cem medeia outro nome de
numero usa-se de cento ex.: «Cento e vinte mil homens».

424. No enunciado de quantidades

1) Si o numero se compõe de unidades e dezenas, ou
de unidades, dezenas e centenas põe-se a conjuncção
e entre cada dous elementos, ex.: «Vinte E quatro
— Duzentos
E cincoenta E cinco».

2) si o numero se compõe de mais de uma casa de
tres algarismos não se põe conjuncção entre o primeiro
algarismo da ultima casa e o numero que o
precede, ex.: «seis mil quinhentos e quarenta e seis
(6:546)». No caso, porém, de ser esse primeiro algarismo
238um zero, interpõe-se a conjuncção, ex.:
«cinco mil e vinte e oito» (5:028). Quando o numero
se compõe de varias casas de tres algarismos, omitte-se
a conjuncção entre cada duas casas ex.: «Tres
trilhões, quatrocentos e quarenta e quatro bilhões,
duzentos e vinte e cinca milhões, quinhentos e vinte
oitomil, duzentos e vinte cinco
(3, 444, 225, 528, 225)».
Todavia, quando na ultima casa de tres algarismos
faltam unidades e dezenas interpõe-se a conjuncção
ex.: «Vinte e um milhões, tresentos e cincoenta e
dous mil e quatrocentos
(21.352.400)».

425. Na computação khronologica por séculos emprega-se
o adjectivo numeral ordinal anteposto, e o numeral
cardial posposto, ex.: «No decimo sexto seculoNo seculo dezesseis».

426. Na computação dos dias do mez emprega-se o
adjectivo numeral cardial, ex.: «A dous de Maio», Ha uma
excepção: é o dia primeiro; diz-se «Primeiro de Maio» e não
«Um de Maio».

427. Na enumeração dos reis e personagens celebres
do mesmo nome usa-se do numero ordinal até dez e do cardial
dahi em diante, ex.: «Carlos IXLuiz XVI» lêm-se «Carlos
nono
Luiz dezesseis».

428. Ambos quer sempre depois de si o artigo, ex.:
«Ambos os fihos, ambas as mãos».

Observação n. 1) Ambos não se pode usar a respeito de cousas entre
si oppostas; não se deve, pois, dizer «ambos os partidos brasileiros».
mas sim «os dous partidos brasileiros».

Observação n. 2) Os adjectivos determinativos numeraes ordinaes

1) quando indicam meramente a ordem, são antepostos, ex.:
«O primeiro livro».

2) quando indicam uma divisão, são pospostos, ex.: «O livro
primeiro
».

Observação n. 3) Quando um adjectivo determinativo numeral cardial
239encontra-se com um ordinal, é indifferente collocar-se antes um
ou outro, ex.: «Os primeiros dez livrosOs dez primeiros livros».

§ 5.°
Adjectivos conjunctivos

429. Os adjectivos conjunctivos referem-se sempre a
um nome da clausula principal: esse nome chama-se antecedente.

O adjectivo conjunctivo qual póde admittir depois de si uma repetição
do antecedente que, assim repetido, toma o nome de subsequente,
ex.: «São perdidos os dias nos quaes dias não fazemos algum bem».

Esta construcção é quasi desusada, e emprega-so só em casos especialissimos,
quando é ella absolutamente indispensavel á clareza do
sentido.

O adjectivo conjunctivo cujo, equivalente exacto de «do qual, da
qual, dos quaes, das quaes
», por isso que tem significação restrictiva
possessiva, quer sempre claro depois de si o substantivo a que restringe,
ex.: «O homem cujo filho aprende comigoVi a mulher cujas filhas
casaram-se hontem
».

Ao envez do que succede com «qual» o substantivo que segue a
cujo é sempre diverso do antecedente.

O emprego cujo sem antecedente e subsequente immediatos, si
bem que classico, é arkhaico, ex.: «Cujas são estas arvores? — Eu sei
cujo é o gado
».

§ 6.°
Adjectivos indefinidos

430. Tanto, no plural lantas, tantas, serve para completar
nomes de numero, quando não se sabe ao certo quantas
as dezenas ou as unidades, ex.: «Comprei trezentas e lantas
gallinhasGanhei vinle e tantos mil reis». Usa-se de muitos,
muilas
nos mesmos casos, quando se presuppõe que o
numero de dezenas ou de unidades ignoradas excede a cinco.

431. Todo torna se adverbio em sentenças como estas:
«Sou todo ouvidosDeus é todo bondade».240

432. Os adjectivos determinativos possessivos meu,
teu, seu, nosso, vosso
, e os indefinidos algum, nenhum, qualquer,
tal, tanto, todo
, pospõem-se algumas vezes aos seus substantivos,
ex.: «O livro meupoder nenhum». Alheio e proprio
pospõem-se frequentemente. Cumpre notar que estes dous possessivos
e muitos dos indefinidos como certo, mesmo, muito,
pouco
, etc., assumem repetidas vezes o kharacter de verdadeiros
adjectivos descriptivos e que, como taes, subordinam-se
á regra geral (410).

433. Algum posposto significa nenhum, ex.: «Eu por
maneira alguma consinto
».

§ 7.°
Formação dos comparativos e dos superlativos

434. Forma-se geralmente um comparativo de inferioridade,
collocando-se o adjectivo descriptivo entre as particulas
menos e que, ex.: «Pedro é menos rico que Antonio».

435. Fórma-se geralmente um comparativo de egualdade,
collocando-se o adjectivo descriptivo entre as particulas
tão e como, éx.: «Pedro é tao alto como José».

436. Forma-se geralmente um comparativo de superioridade,
collocando-se o adjectivo descriptivo entre as particulas
mais e que, ex.: «Antonio é mais rico que Pedro».

437. Fórma-se geralmente um superlativo relativo
collocando-se o adjectivo descriptivo entre o mais e de, ex.:
«Antonio é o mais rico de todos».

438. Fórma-se um superlativo absoluto antepondo-se
ao adjectivo descriptivo muito, extremamente, ou qualquer
outro adverbio de quantidade ou de modo, que, indicando
exalçamento, não tenha significação relativa, ex.: «Pedro é
muito ricoAntonio é extremamente pobre».

Observação n. 1) Nos comparativos de inferioridade e de superioridade,
em vez de que depois do adjectivo descriptivo, quer o uso que
241se empregue do que, ex.: «Pedro é menos alto do que AntonioPaulo é
mais rico
do que José».

Observação n. 2) Os comparativos de inferioridade e de superioridade
admittem encarecimento por meio do adverbio muito, ex.: «Muito
mais rico
muito menos provável».

Observação n. 3) Nos comparativos do egualdade, quando é esta
estabelecida entre duas ou mais qualidades do mesmo ou de diversos
sujeitos, em vez de como póde usar-se de quão ou de quanto, ex.: «Pedro
é tão rico quão generoso
Antonio é tão altivo quanto cortezPaulo
é tão bravo quanto covarde é Philippea
».

Observação n. 4) Em vez de ião grande póde-se empregar tamanho.
Camões (1)163 escreveu: «Ora vê, Rei, quamanha terra andámos».
Quamanho equivale a quão grande: na linguagem hodierna é desusado.

Observação n. 5) Em virtude do seu sentido já de si absoluto não
admittem graus os adjectivos descriptivos eterno, exsangue, immenso,
infinito, innumero, omnipotente
e outros similhantes.

Observação n. 6) Vê-so com frequencia darem-se graus a superlativos
tomados directamente do Latim. «Mais péssimo, muito uberrimo,
optimissimo
» ouve-se a cada canto. Vasco Mousinho de Quevedo (2)164 escreveu:
«A mais suprema parte da torre». Si bem que fosse esse o uso
dos antigos que até diziam «mui muito», taes construcções no estado
actual da lingua são erros deploráveis.

Observação n. 7) Por imitação da syntaxe latina servem muitas
vezes os superlativos absolutos de superlativos relativos, ex.: «O optimo
de todos
O prudentissimo dos conselhos» em vez de «O melhor de
todos
O mais prudente dos conselhos».

Observação n. 8) Os substantivos tomados adjectivamente assumem
todos estes graus, ex.: «Pedro é mais esculptor do que poetaEu sou
tão homem como tu
Elle é muito meu irmão».

§ 8.°
Adjectivos correlativos

439. Adjectivos determinativos ha que em certas clausulas
comparativas exigem o emprego de outros da mesma
242natureza: chamam-se correlativos. Tal é correlativo de si proprio
e de qual; quanto de tanto, etc, ex.: «tal pae, tal filho
tal mulher me fosse ella qual marido lhe eu soutantas
cabeças quantas sentenças». Camões dá por correlativo a
qual o adverbio eis (1)165.

IV
Pronome

§ 1.°
Pronomes substantivos em relação adverbial

440. Os pronomes substantivos em relação adverbial
são sempre regidos por uma preposição, ex.: «A mimDe ti
— Por si
Com elle».

441. Migo, tigo, sigo, nosco, vosco são sempre regidos
pela preposição com.

§ 2.°
Pronomes substantivos em relação objectiva adverbial

442. Os pronomes substantivos em relação objectiva
adverbial equivalem sempre a pronomes substantivos em relação
adverbial, servindo de complementos ás preposições a e de.

Assim

me equivale a a mim ou a de mim
te
– – a ti – – de ti
se
– – a si – – de si
nos
– – a nós – – de nós
vos
– – a vós – – de vós
se
– – a si – – de si.243

443. Os pronomes substantivos em relação objectiva
adverbial equivalem algumas vezes aos adjectivos possessivos
meu, teu, seu, etc, ex.: «Elle me é paeAmigas te somos
Não lhe sou tutor» em vez de «Elle é pae meuAmigas
tuas somos
Não sou tutor seu».

Esta construcção é latina: Virgilio escreveu «tibi vultus». (1)166 em
vez de «tuus vultus». e «huic conjux (2)167 por «suus (ejus) conjux».

444. Em logar do pronome da primeira pessoa do
singular eu usam os escriptores da fórma da primeira pessoa
do plural nós. O verbo vai para o plural; os adjectivos em
relação attributiva ou predicativa com esse pronome ficam no
singular, ex.: «Antes sejamos breve que prolixo

Antigamente dava-se geralmente o mesmo uso com o pronome da
segunda pessoa; ainda hoje nesta provincia (S. Paulo) os velhos fazendeiros,
conservadores tenazes dos hábitos fidalgos de seus avós, usam
de tal tractamento em relação aos inferiores a quem votam affecto.

§ 3.°
Posição e influencia dos pronomes substantivos em relação
subjectiva, objectiva e objectiva adverbial

445. A collocação dos pronomes sujeitos nas sentenças
effectua-se de accordo com os seguintes preceitos:

1) No indicativo e no condicional, nos tempos simples
e nos compostos das sentenças declarativas, o pronome
sujeito antepõe-se geralmente ao verbo, ex.:
«Nós queremosNós desejariamosVós não sabeis
— elles teriam vindo».244

Todavia, por emphase, para maior intimação, no dizer
pospõe-se muitas vezes o pronome sujeito, ex.: «Estavamos
nós em ParisTinha elle chegado».

Dá-se o mesmo ainda quando o sujeito não é representado
por pronome, ex.: «Brilhava a lua em céo sem nuvensVinha
desfilando
o exercito».

2) Nas sentenças interrogativas pospõe-se o pronome
sujeito ao verbo, ex.: «Queres tu vir almoçar comigo?».

Cumpre notar que, principalmente no Brazil, vai-se estabelecendo
o uso-de construir as sentenças interrogativas em
ordem directa, deixando-se o seu sentido de pergunta a
cargo somente da inflexão da voz, ex.: «u queres vir almoçar
comigo

3) Com verbos no imperativo o pronome sujeito, si
vem claro, pospõe-se, ex.: «Dize tuCorrei vos».

Observa-se ainda o mesmo nas sentenças negativas em
que o imperativo é substituido pelo subjunctivo presente, ex.:
«Não digas tuNão corrais vós».

4) Com verbos no subjunctivo, si é expressa a conjuncção
de subordinação, o sujeito, quer seja representado
por pronome, quer por substantivo, antepõe-se
geralmente, ex.: «Desejo que elle venha antes
que os criados
tenham sahido». Si fica occulta
a conjuncção o sujeito pospõe-se, ex,; «Oxalá
tenha
elle vida!».

5) Com verbos no infinito e no participio pospõe-se o
sujeito, ex.: «Fallares tu assim é indecoroso
Morto Pedro ninguem mais reinará».

6) Com verbos no infinito perfeito o sujeito, pronome
ou substantivo, fica geralmente, entre o auxiliar e o
participio aoristo, ex.: «Ter eu faltado á palavra
Terem
os francezes chegado tarde245

7) Servindo a phrase infinitiva de complemento a uma
preposição antepõe-se geralmente o sujeito, ex.:
«Para eu comerEm Paulo chegando».

8) Eu antepõe-se a tu, e tu a elle, ella; nós antepôe-se
a vós e vós a elles, ellas, ex.: «Eu e tu estamos
bons — Tu e elle sois ricos».

Dizer tu e eu, elle e tu, etc., é francezismo injustificavel.

446. A collocação dos pronomes objectos nas sentenças
effectua-se de accordo com os preceitos seguintes:

1) Com verbo no indicativo o pronome objecto

a) nos tempos simples, excepto o futuro, antepõe-se
ou pospõe-se indifferentemente, ex.: «Eu te amo
ou amo-te».

b) nos tempos compostos, excepto o futuro ante-
rior, antepõe-se ou pospõe-se ao auxiliar, ex.:
«Nós o temos visto ou temol-o visto».

c) no futuro anterior antepõe-se sempre ao auxiliar,
ex.: «Tu nos terás vistoElle o terá querido».

d) nos tempos simples dos verbos pronominaes, e
em todas as pessoas verbaes que têm o accento
tonico sobre a ultima ou sobre a penultima syllaba,
exceptuado sempre o futuro, antepõe-se ou
pospõe-se, comtanto que não resulte equivoco ou
collisão de sons, ex.: «Eu me queixei ou queixei-me
— Eu me queixo ou queixo-me».

Estas construcções «Vós queixais-vosNós queixavamos-nos»,
são de difficil enunciação: deve-se
dizer «Vós vos queixaisNós nos queixavamos».

e) nas sentenças negativas geralmente antepõe-se,
ex.: «Elle não me quer».

2) Com verbos no imperativo o pronome objecto246

a) em sentenças affirmativas pospõe-se sempre, ex.:
«Mata-meJulgae-me vós».

b) em sentenças negativas, em as quaes o imperativo
é substituido pelo subjunctivo, antepõe-se,
continuando posposto [428-3)] o pronome sujeito,
ex.: «Não me descubras tu!».

3) Com verbos no subjunctivo o pronome objecto antepõe-se
sempre, seja a sentença affirmativa seja
negativa, ex.: «Que elle me vejaSi nos o soubessemos
— Si elles não
nos tivessem avisadoQuando
elles não
me tenham visto».

Ha a notar que nas sentenças negativas, em todos os modos
e tempos, colloca-se o pronome objecto entre a negação
e o verbo; todavia, nos tempos do subjunctivo precedidos
de quando, como, si, etc., encontra-se não raro o pronome
objecto antes da negação, ex.: «Si tu me não me tivesses dito
— Quando eu
o não descubra».

4) Com o.verbo no infinito pessoal o pionome objecto
antepõe-se ao sujeito, ex.: «Descobrires-me tu».

Si, porém, a phrase do infinito pessoal é complemento de uma
preposição, o sujeito antepõe-se ao pronome objecto, e
ambos ao verbo, ex.: «Para tu me descobriresSem vós me
verdes». Póde-se tambem dizer, deixando o sujeito depois
do verbo «Sem o vermos nós».

5) O pronome objecto, o pronome em relação objectiva
adverbial e a particula apassivadora se nunca devem
começar a sentença: Seria incorrecto dizer «Me
querem lá
Te vejo sempreNos pareceVos offereço
— Lhe digo
Lhes peçoSi contam cousas feias
— Si diz que elle vai
, etc.». Deve-se dizer «Querem-me
Vejo-te sempre, etc».

6) Com verbos no indicativo futuro e no condicional
imperfeito, usa-se de uma construcção especial: insere-se
247por tmese o pronome objecto entre o radical
do verbo e a sua terminação, ex.: «Amar-te-a
Ver-te-ia».

Si o sujeito do verbo nestes casos está claro e é representado
por pronome substantivo, melhor será construir «Elle
te
amaráElle te veria».

7) Nas sentenças negativas, estando o sujeito occulto,
o pronome objecto antepõe-se sempre, ex.: «Não te
espero maisNão me faliarias assimSi o não
quizerem
».

8) Com o verbo no infinito pessoal, estando o sujeito
occulto, é indifferente antepor ou pospor o pronome
objecto, ex.: «Sem o ter ou sem tel-o».

9) Com dous verbos, no infinito colloca-se o pronome
objecto ou antes do primeiro, ou depois do segundo,
ou entre ambos, ex.: «Sem nos poder vêr, ou Sem
poder ver-
nos, ou Sem poder nos vêr».

10) Nunca se colloca o pronome objecto depois do participio
aoristo de tempo composto: assim, não se diz
«Havendo visto-te» mas sim «Havendo-te visto».

447. Os pronomes substantivos em relação objectiva
ou objectiva adverbial que seguem o verbo são considerados
encliticos, e ligados por um hyphen ex.: «Ama-meDei-te
um livro
».

448. Quando, completando a significação de um verbo,
vêm dous pronomes substantivos, um em relação objectiva e
outro em relação objectiva adverbial, este, que representa o
dativo latino vai em primeiro logar; ambos são considerados
encliticos e presos ao verbo por hyphens, ex.: «Vendeu-mo
(vendeu-me-o) — Tomou-lha (to mou-lhe-a)».

449. Vindo, porém, se na construcçao, é elle que
sempre occupa o primeiro logar, embora esteja em simples
248relação objectiva, ex.: «Converte-se-me o filhoImputa-se-me
um erro
».

450. Os pronomes substantivos em relação objectiva
ou objectiva adverbial admittem uma construcção especialissima
usada antigamente pela gente culta, e hoje só pelo povo
rude em Portugal. O pronome sujeito pospõe-se ao pronome
objecto ou em relação objectiva adverbial, ex.: «Si vos é grave
de
vos eu bem quererE’ como a tu queresE’ como lhe
eu
digoAssim que lhe nós garantimos».

451. O, a, os, as, vindo depois de uma fórma de
verbo terminada em r, s, ou z fazem com que qualquer
dessas modificações se mude em l, ex.: «Amal-oamamol-o
fil-o» por «Amas-oamamos-ofis-o».

452. O, a, os, as, tambem convertem em l o s das
fórmas nos, vos, ex.: «Nol-oVol-a» por «Nos-oVos-a».

453. O, a, os, as, vindo depois de um verbo terminado
por voz ou por diphthongo nasal, exigem a intercalação
de um n euphonico, ex.: «Tem-noDizem-noDão-noAmavam-no».

454. O, a, os, as, absorvem o e das fórmas me, te,
lhe
, ex.: «Motalhos» por «Me-ote-alhe-os».

455. O, a, os, as, em concurso com lhes exigem a
queda do s, absorvem o e, e formam «LhoLhaLhosLhas»
(257).

456. Nos, vos, quando seguem immediatamente as
fórmas verbaes em mos, exigem a queda do s d’essas fórmas,
ex.: «Amamo-nosQueremo-vos» por «Amámos-nosQueremos-vos».

§ 4.°
Emprego pleonastico de pronomes substantivos

457. Com os verbos parecer e querer-parecer (composto)
empregam-se pleonasticamente e de modo como que
249anti grammatical os pronomes substantivos da primeira pessôa
do singular e do plural em relação subjectiva, ex.: «Eu parece-me
que Pedro é rico
Nós quer-nos parecer que não vamos».

Este uso, auctorisado pelo fallar do povo e mesmo por escriptores
como Garrett, não exige grande somma de attenção para ser entendido:
é um jogo de rhetorica instinctiva. A pessôa que falla faz uma reticencia
depois do pronome, e muda de phrase. Este modo de expressão torna-se
clarissimo assim pontuado: «Euparece-me que Pedro é rico
Nósquer-nos parecer que não vamos». Em vez, pois, de ser erro, é
uma figura cheia de naturalidade e bellissima.

458. Empregam-se pleonasticamente pronomes substantivos
em relação objectiva como explanação de um ou de
mais substantivos já expressos, ex.: «A lingua dessa terra não
a sabiam
Pinturas e pelejas melhor é vêl-as de longe».

459. Empregam-se pleonasticamente pronomes substantivos
em relação adverbial como explanação de adjectivos
determinativos possessivos já expressos, ex.: «Seu pae d’elle
— Sua formosura delias
».

Pelo que se póde illidir dos exemplos classicos este uso
só se dá com os pronomes substantivos da terceira pessôa do
singular e do plural.

460. Empregam-se pleonasticamente pronomes substantivos
em relação adverbial como explanação de outros pronomes
substantivos já expressos em relação objectiva, ex.: «Eu
feri-me a mim
Vós os vistes a elles».

461. Empregam-se pleonasticamente pronomes substantivos
em relação adverbial como explanação de pronomes
substantivos já expressos em relação objectiva adverbial, ex.:
«Parece-me a mimDei-lhes um livro a elles».

462. Empregam-se pleonasticamente pronomes substantivos
em relação objectiva adverbial como explanação de
um ou de mais substantivos já expressos: ex.: «Ao doente não
se lhe ha de fazer a vontade
».250

463. Os pronomes substantivos em relação objectiva
adverbial prestam-se em Portuguez a um idiotismo de grande
força de expressão. Collocados de certo modo na sentença, não
se subordinam á regencia e traduzem por parte de quem falla
curiosidade, desejo, etc, ex.: «Quem é que me anda a escrever
artigos de philologia na «Gazetá
»? — Quem me dera
uma coça naquelle velhaco!
». A’s vezes é expletivo, ex.:
«Qual pleuriz, nem qual carapuça! E’ comer-lhe e beber-lhe,
que ha de passar!
».

Estes processos pleonasticos, que contribuem muito para a clareza
e elegancia da expressão, encontram-se em varias linguas romanicas,
em Latim barbaro, em Latim classico, em Grego moderno, em velho
Alto Allemão, em Inglez, em Dinamarquez, em Sueco. Diz-se, por
exemplo, em Hespanhol: «Las ramas que lo peso de la nieve las desgaja
A mi hermano le parece»; em Latim barbaro: «Ipsam civitatem
restauraram eam
(1)168»; em Latim classico: «Quem neque fides neque jusyurandum
neque illum misericordia repressit
(2)169».

§ 5.°
Uso particular de alguns pronomes demonstrativos

464. Os pronomes adjectivos demonstrativos este, esse,
aquelle
prestam-se a uma construcção elliptica e comparativa
que, revestindo o pensamento de uma fórma vaga, dá-lhe
grande belleza. Em vez de dizer-se por exemplo. «Esta cousa
que parece ninho
Essas cousas que parecem astrosAquellas
cousas.que parecem estrellas
», diz-se: «Este como ninho
— Esses como astros
Aquellas como estrellas». O pronome
toma o genero e o numero do termo de comparação.

465. O artigo indefinido presta-se tambem á construcção
similhante, e assume então verdadeiro kharacter de
251pronome demonstrativo. A concordancia é tambem com o
termo de comparação ex.: «Um como ninhoUma como nuvem».

Em Francez existe uma construcção analoga a esta, com a differença,
porém, de vir o artigo depois do comme, ex.: «J’aperçus comme
une forêt de mâts de vaisseaux
(1)170».

§ 6.°
Pronomes conjunctivos

466. Que, quem referem-se sempre a um nome da
clausula principal. Esse nome chama-se antecedente: póde ser
masculino ou feminino; do singular ou do plural.

467. Nas sentenças interrogativas o pronome que admitte
depois de si o nome a que se refere ex.: «Que homem
é este
? — Que casas são aquellas?».

468. Quem, equivalente exacto de homem que, mulher
que, pessôa que, homens que, mulheres que, pessôas que
,
por isso que encerra em si o seu antecedente, não póde ter
antes ou depois de si nome a que se refira, ex.: «Conheça
quem escreveu o artigo
Vi quem quiz offender-me».

Quem (qu’hem = que homem) tem a sua syntaxe exactamente modelada
pela syntaxe latina: frequentemente cala-se em Latim o substantivo
antecedente de um pronome conjunctivo, e exprime-se o subsequente.
Lê-se por exemplo em Cesar (2)171: «Santones non longe a Tolosatium
finibus absunb
, quae civitas est jn provincia».

469. Sendo quem governado por uma preposição,
póde referir-se a um antecedente que é sempre nome de pessoa,
ex.: «O homem a quem demos o livroAs mulheres de
quem compramos fruetas
».252

Os escriptores antigos empregavam quem em referencia a cousas:
ó syntaxe anti-historica, e por conseguinte pouco digna de imitação.

Com a preposição sem usa-se de o qual, a qual, os quaes, as quaes,
dizendo-se sem o qual, sem a qual, sem os quaes, sem as quaes, e não
sem quem que formaria um ekho desagradavel.

470. Qual, considerado como pronome conjunctivo, é
sempre precedido do artigo: «o qual, a qual», etc. Serve para
variar a phrase, e evitar amphibologias que se poderiam
dar com o uso de que.

471. Qual faz as vezes dos demonstrativos este, esse,
aquelle
e em taes casos figura sem artigo, ex.:

«Qual do cavallo vôa que não desce;
Qual, co o cavallo em terra dando, geme;
Qual vermelhas as armas faz-de brancas;
Qual co os pennachos do elmo açouta as ancas (1)172».

472. Qual empregado como interrogativo não admitte
artigo, ex.: «Quaes são teus amigosQual é o teu?».

473. Cujo, cuja, cujos, cujas, equivalem perfeitamente
a de que, de quem, do qual, da qual, dos quaes, das quaes,
e, por consequencia, só devem ser empregados quando podem
ser substituidos por esses equivalentes, ex.: «O menino cujo
mestre sabe ensinar
As meninas cuja mestra é indolente».

O pronome cujo, tomado em todas as suas flexões do genitivo latino
cujus, conserva a força plena do caso originário, e só póde ser empregado
em phrases restrictivas. O uso de cujo como predicado e sem
ter antecedente claro, si bem que classico e correcto, é arkhaico, ex.:
«Cujo é o gado? — Cujas são estas arvores?». O uso actual de cujo é fazel-o
servir de sujeito, de objectivo de verbo ou do regimen de preposição,
dando-lhe antecedente claro, e fazendo-o seguir immediatamente
do nome com quo concorda (Vide 427).253

§ 7.°
Pronomes indefinidos

474. Alguem é equivalente exacto de «alguma pessôa»,
e ninguem de «nenhuma pessoa».

475. Outrem é equivalente exacto de «outra pessoa».

Actualmente mais se emprega outrem depois de preposição, ex.:
«Não faças a outrem o que não queres que te façam». Todavia pode-se
empregar como sujeito de sentença, ex.:

«Que nunca tirará alheia inveja
O bem que outrem merece e o cio deseja
(1)173».

476. Tal considerado como pronome indefinido prescinde
do artigo, ex.: «Eu não disse talNós não soubemos
tal
».

Alguns grammaticos consideram tal nestes casos como adverbio:
e fundam-se no facto de se construir tal com verbos intransitivos, ex.,
«E’ verdade que estiveste em Paris? Não estive tal».

Em estylo familiar usa-se tal como artigo para indicar pessoa ou
cousa personificada de que já se fallou, ex.: «Lá está o talAhi vem
as taes
».

V
Verbo

§ 1.°
Sujeito

477. Toda a palavra que serve de sujeito a um verbo
põe-se em relação subjectiva.

Como em Portuguez não se declinam os substantivos, a
254applicação d’esta regra só se toma patente quando o sujeito
é um pronome substantivo, ex.: «eu vejo as arvorestu queres
pão
».

Ha a notar as seguintes excepções:

1) O pronome substantivo sujeito de um verbo no infinito
depende de um verbo no finito (1)174 põe-se em
relação objectiva, ex.: «Eu vi-o caminhar ás pressas
Deixa-o ir».

Esta syntaxe, commum a varias linguas romanicas, é tomada
directamente do Latim, em o qual o sujeito do verbo
no infinito vai para accusativo. E’ erro vulgar no Brazil
usar-se em casos taes da relação subjectiva; diz-se por exemplo,
«Vi elle caminhar ás pressasDeixa elle ir».

2) Quando o infinito de um verbo transitivo que governa
um objecto ou uma phrase equivalente a um
objecto, se constróe com os verbos deixar, fazer,
ouvir, ver
, o sujeito d’esse infinito, si é um pronome
substantivo, póde-se pôr em relação adverbial,
e tambem em relação objectiva adverbial, ex.: «Deixa
ao vento levar maguasFiz a muitos verter lagrimas
Ouvi-lhe dizer que não vinhaVeja-me erguer
este peso
».

Todas estas sentenças contém dous verbos com duas pessôas
activas, das quaes uma, em sua qualidade de sujeito,
deixa, faz, ouve, vê; e outra opéra em relação á vontade ou
á sensação da primeira. Si por parte da segunda pessôa não
ha acção usa-se de qualquer outro torneio de phrase (2)175.

478. Os pronomes substantivos em relação adverbial
nunca podem servir de sujeitos, nem mesmo nas phrases infinitivas
255que vem depois de uma preposição. Em taes casos
usa-se da relação subjectiva, ex.: «Esta laranja é para eu
comer».

No Brazil pecca-se contra este preceito dizendo-se «Para mim comer
etc

479. O sujeito, mórmente quando pronome substantivo,
póde e até deve ser omittido, sempre que de tal omissão
não resultar escuridade do sentido.

480. Não se póde em geral fazer omissão do sujeito,
ainda mesmo sendo elle pronome substantivo,

1) nas clausulas que tem sujeito diverso, ex.: «Eu rio
e tu chorasSi tu ficas eu parto».

2) nas sentenças emphaticas e nas intimativas, ex.:
«Eu sei que Pedro tem dinheiroNós te ordenamos
que vás».

481. Os pronomes adjectivos indefinidos quanto, tanto
nunca estão em relação subjectiva e, conseguintemente, nunca
podem servir de sujeitos.

§ 2.°
Predicado

482. A palavra que serve de predicado ao sujeito de
um verbo, si é pronome substantivo, assume a relação flexional
d’esse sujeito, isto é, toma a flexão da relação subjectiva,
ex.: «Eu não sou tuSi tu fosses elle».

483. O predicado, quando é representado por um
pronome substantivo da terceira pessôa, referente a um ou
mais substantivos mencionados na sentença ou na clausula
anterior, assume a flexão da relação objectiva, ex.: «E’s tu o
rei? Eu o souEstarás tu cançado? Não o estou».256

Sobre a concordancia destes pronomes substantivos da terceira
pessôa ein relação predicativa, é digna de ler-se a seguinte elucidação
de Brachet (1)176, elucidação que, substituido, illud por hoc, póde-se applicar
sem restricções ao Portuguez:

O, quando não designa pessoas, mas sim cousas, como nesta
phrase: «A Polonia perecerá, eu o prevejo», significa isso, vem do Latim
illud e nos representa quasi o unico resto do genero neutro que
possuimos ainda em Francez. Eis o que nos explica porque ás perguntas
«Sois vós a mãe deste menino?» ou «Sois vós a doente?» torna-se
necessário responder «Eu a sou», isto é, «Eu sou a pessôa de que
follais
»; ao passo que ás perguntas «Sois vós mãe? — Estaes vós doente
a resposta deve ser «Eu o souEu o estou, illud», isto é, «eu
sou
isso; é assim que eu estou; é o que me tendes perguntado; possuo a
qualidade de mãe
; estou em estado de doença».

484. O predicado quando é representado por um substantivo
que não tem flexão de genero, ou que é usado em
um unico numero prescinde da concordancia com o sujeito,
ex.: «Nós somos a directoria da sociedadeAlbuquerque, tu
foste as algemas da Asia
».

Os pronomes, em geral, podem todos servir de predicado,
ex.: «Quem és tu? — Quantos são elles? Tantos somos, quantos
sois
».

§ 3.°
Objecto

485. Toda a palavra que serve de objecto a um verbo
põe-se em relação objectiva.

Como em Portuguez não se declinam os substantivos, a applicação
d’esta regra só se torna patente quando o objecto é representado
por um pronome substantivo, ex.: «Eu o vejoQueres-me muito».

Pôr em relação subjectiva o pronome substantivo que serve de
257objecto a um verbo é erro comezinho no Brazil, até mesmo entre os
doutos: ouvem-se a cada passo as locuções incorrectas «Eu vi elle
Espere eu».

486. Para evitar ambiguidade de sentido põe-se em
relação adverbial o objecto de um verbo, quando esse objecto
representa pessôa ou ser vivo em geral, ex.: «Cesar venceu a
Pompeu
A mulher ama ao maridoO caçador matou ao
leão
».

Esta regra, quasi de rigor na lingua hespanhola, não o é tanto
em Portuguez: Camões escreveu «Quando Augusto o capitão venceu
Gente que segue o torpe Mafamede».

487. Alguns verbos como achar, appelidar, chamar,
cognominar, considerar, constituir, coroar, crer, declarar,
deixar, descrever, dizer, eleger, escolher, fazer, instituir, julgar,
jurar, nomear, pintar, representar, reputar, sagrar, saber,
suppôr, tornar, trazer
admittem, além do objecto, um
attributo delle em relação objectiva, o qual póde ser substantivo
ou adjectivo, ex.: «Achei-o PresidenteElegeram-me
juiz
Julgo-o ricoTornaram-no louco».

488. Com os verbos conhecer e ter esse attributo do
objecto póde ser posto em relação adverbial por meio da preposição
por, ex.: «Eu conheço-o por PedroTenho-o por filho».

489. O attributo do objecto dos verbos acima mencionados
(464 — 465) presta-se tambem a ser construido com
como, ex.: «Achei-o como PresidenteConheço-o como Pedro
Tenho-o como filho».

Estas tres ultimas construcções (487 — 488 — 489), tambem têm logar,
estando o verbo na voz passiva, ex.: «Fui eleito juizElle é conhecido
por Pedro
Sou tido como filho».

Todavia a construcção de verbos como conhecer e ter (488) em
voz passiva com a preposição por dá logar a uma ambiguidade de sentido
que seria conveniente evitar.258

§ 4.°
Significação transitiva e significação intransitiva

490. Os verbos transitivos, si são tomados em sentido
geral, dispensam o objecto, e tornam-se intransitivos, ex.:
«Este critico louva muitoAntonio come poucoPedro não
estuda
».

491. Muitos verbos transitivos assumem significação
intransitiva, e a palavra que representa o objecto põe-se então
em relação adverbial por meio de uma preposição. Taes
são entre muitos outros verbos consentir, crer, dominar, emular,
encontrar, esperar, gosar, guerrear, habitar, egualar
.
Diz-se egualmente «Consinto isso ou nissoCreio o que dizes
ou no que dizesPedro emula-me ou emula comigo -Habitar
a terra
ou na terrá».

492. Muitos verbos intransitivos assumem significação
transitiva, isto é, a actividade de muitos verbos, restringida
originariamente ao sujeito, póde ser dirigida para um objecto
externo. Pertencem principalmente a esta classe os verbos que
têm sua causa nesse objecto externo, taes como escarnecer,
gritar, anhelar, trabalhar, chorar
, e até o verbo calar que é
de todo destituido de actividade. Tambem filiam-se n’esta classe
os verbos que significam locomoção como andar, subir, correr,
dansar, saltar, passeiar, descer, navegar
. Na construcção
d’estes ultimos o logar em que se produz a actividade toma
ares de ser o objecto della. Diz, se por exemplo «Escarnecer
o amor
Gritar o cãoAnhelar o enlaceChorar amigos
mortos
Calar motivosAndar terras estranhasSubir morros
— Correr valles
Dansar o circoSaltar fossosPasseiar
cidades
Descer o rioNavegar mares».

493. Muitos verbos intransitivos assumem significação
transitiva, quando tem sentido ficticio, isto é, quando o
sujeito suscita no objecto a actividade expressa pelo verbo,
sendo que essa actividade pertence ao objecto, limitando-se o
259sujeito a provocar apenas a manifestação della. Taes verbos
são, entre outros muitos, cessar, correr, crescer, demorar,
descer, desesperar, entrar, levantar, montar, parar, passar,
resurgir, resuscitar, subir , tinir, tocar, tombar, chegar
, ex.:
«Cessamos o fogoAs ruas corriam sangueCresci-lhe o ordenado
— Entramos estacas na terra
O general montou toda
a infanteria
». A construcção ordinaria destes exemplos seria
«Fizemos cessar o fogoFiz-lhe crescer o ordenado, etc.».

494. O participio aoristo do verbo morrer póde ser
empregado com significação transitiva, ex.: «O leão tem morto
muitos carneiros
».

495. Muitos verbos intransitivos para animar ou reforçar
a expressão se fazem acompanhar de um substantivo do
mesmo radical em relação objectiva: esse substantivo pleonastico
apparece raras vezes só na sentença; de ordinário é acompanhado
de um attributo que lhe determina a significação.
Taes são entre muitos outros, brincar, caminhar, cavalgar,
contar, ferir, morrer;sonhar, soar, vestir, viver
. Diz-se «Brincar
maus brinquedos
Caminhar longo caminhoCavalgar
bons cavallos
Contar contos incriveisFerir largas feridas
Morrer morte affrontosa, etc.».

Ha exemplos deste uso com substantivos não identicos, mas apenas
analogos em significação, ex.: «Dormir somnosFerir golpesIr
caminho
Temer medosChorar lagrimas».

496. Os verbos intransitivos dormir e viver assumem
significação transitiva, tomando por objecto o substantivo que
representa o tempo durante o qual se dormiu, viveu, ex.:
«Dormi duas horasviverei muitos annos».

Alguns grammaticos querem que haja n’estas sentenças ellipses
de por: «Dormi por duas horasViverei por muitos annos».

497. O verbo intransitivo passar presta-se a identico
uso, e toma por objecto substantivos de tempo, de logar e
260mesmo de circumstancias, ex.: «Passámos dias felizesPassámos
a ponte
Passámos friosPassámos fomes».

498. Os verbos intransitivos custar, pesar, valer,
quando seguidos de substantivos que representam o custo, o
peso, o valor, assumem significação transitiva, tomando por
objectos esses mesmos substantivos de custo, de peso, de valor,
modificados ou não por adjunctos attributivos, ex.: «Esta
espingarda custou 30 libras
Esta moeda pesa quatro oitavas
— Este livro vale cem mil reis
».

§ 5.°
Voz activa e voz passiva

499. Os verbos intransitivos não se empregam na voz
passiva. Todavia, os verbos intransitivos, tornados transitivos
em virtude das regras do paragrapho antecedente, são susceptiveis
de construcções em voz passiva, ex.: «As noutes mal
dormidas
Os golpes feridosA ponte passada».

500. Quando o verbo transitivo ou intransitivo, tomado
transitivamente, está na voz passiva o agente é representado
por um substantivo posto em relação adverbial por
meio da preposição por, ex.: «O veado foi dilacerado pelo leão
— As lagrimas choradas
por Antonio».

Com alguns verbos emprega-se de em logar de por, ex.:
«Acompanhado de muitos amigosTomado de medo».

O caso agente do verbo passivo era representado em Latim por
ablativo regido de a ou ab, por accusativo regido de per, e por dativo:
destas tres construcções só passou para o Portuguez a do accusativo regido
de per, preposição que se conservou inalterada ató o seculo XVI,
e que dahi em diante foi-se pouco a pouco convertendo em por, unica
actualmente em uso (1)177 (Vide 581 — 582).261

501. O Portuguez não tem fórma especial pára a voz
passiva: suppre-se esta falta com témpos do verbo ser e participios
aoristos, da maneira indicada na tabella n.° 9.

502. Nas phrases de sentido geral, quando não é
necessário pôr claro o agente, apassivam-se verbos nas terceiras
pessôás do singular e do plural por meio do pronome
se, considerado então como mera particula apassivadora,
ex.: «Queima-se o campoConcertam-se relogios».

Grande debate tem suscitado esta particula se entre os grammaticos
portuguezes: a ultima palavra sobre a questão foi dita pelo eminente
linguista, sr. Adolpho Coelho (1)178, que, estribado nas doutas investigações
dos mestres allemães, elucidou-a cabalmente, filiando este processo
portuguez de conjugação no puro processo latino.

Cumpre todavia notar que por meio de se só se apassivam verbos
cuja acção não possa neste caso ser exercida pelo sujeito. E a razão é que,
podendo o sujeito exercer a acção, dar-se-ia ambiguidade de sentido:
com effeito «O homem feriu-se» não é o mesmo que «O homem foi
ferido
», porque o homem poderia ter-se ferido a si proprio. Em «Concertam-se
relogios
» não se dá ambiguidade; tal phrase equivale exactamente
a «Relogios são concertados», porquanto relogios não podem concertar-se
a si proprios.

Comquanto seja muito commum em Portuguez este uso de apassivar
por meio de se verbos cujo agente deve ficar indeterminado, phrases
ha em que elle é abusivo, e que portanto melhor se construirão com
outro torneio. Taes são as phrases em que entra o verbo ser, e em geral
todas aquellas que podem ter como sujeito claro homem, pessoa ou
qualquer outra palavra de significação identica. Por exemplo: «Deixas-e
de ter boas intenções todas as vezes que se escondem os sentimentos com
expressões equivocas
Quando se é criado no meio das riquezas tem-se
dificuldade em persuadir-se de que todos os homens tem direitos
» melhor
se construiriam: «Deixa um homem de ter boas intenções todas as vezes
que esconde os seus sentimentos com expressões equivocas
A pessôa
que é criada no meio das riquezas sente difficuldade em presuadir-se de
que todos os homens têm direitos
».262

503. O infinito dos verbos transitivos póde em
certos casos exprimir um sentido absolutamente passivo, de
modo que a palavra que representa o agente desse infinito
póde ser posta em relação adverbial por meio da preposição
por. Isto tem logar:

1) com o infinito simples depois dos verbos deixar, fazer,
ouvir, ver
, ex.: «Deixei comer o toucinho pelo
gato-Fizemol-os carregar pela cavallaria
Ouvi-o
louvar por todos
Vi-o derribar por Pedro».

2) com o infinito acompanhado de preposição.

a) depois dos verbos estar, ser, levar, trazer, ex.:
«A carta está por escreverE’ para admirar que
elle não queira ir
Leva pão para comerTraze
agua para beber
»

b) quando depende de adjectivos descriptivos que
indicam aptidão em maior ou em menor grau, taes
como agradavel, bello, bom, digno, difficil, duro,
facil, mau, ruim
, etc, ex: «Cousa agradavel de
ver
Peixe bom para comerOsso duro de roer
— Massa facil de corrompem
».

Vale a pena ler o que escreve Reinach (1)179 sobre isto:

«Como o supino latino, o infinito em sua origem não tem activo
e nem passivo; ou antes, a mesma fórma pode tomar os dous sentidos
como os nomes abstractos: amor dei. E’ o que ainda se vê nos torneios
modernos de phrase: «Ich höre erzählenPar les traits de Jehu j’ai
vu
percer le pire». Porque o valor nominal primitivo do infinito reapparece
em nossas linguas analyticas».263

§ 6.°
Modos

I
Indicativo e subjunctivo

504. O indicativo mostra que é real o enunciado do
verbo: o subjunctivo apresenta esse enunciado como hypothetico.
Assim, o verbo da clausula subordinada põe-se no indicativo
quando o verbo da clausula principal (373) exprime
alguma cousa de positivo, de affirmativo; e põe-se no subjunctivo
quando o verbo da clausula principal exprime alguma
cousa de indeciso, de duvidoso.

Deste principio decorrem as seguintes regras:

1.ª

1) o verbo da clausula subordinada põe-se no indicativo
quando o verbo da clausula principal exprime
modo de pensar, crença, apparencia, affirmação, etc.,
ex.: «penso que vós sereis nomeados hojecreio
que tres e dous são cincoparece que ella vive
bem
asseguro-te que perderemos dinheiro».

2) o verbo da clausula subordinada põe-se no subjunctivo
quando o verbo da clausula principal exprime
surpreza, admiração, vontade, desejo, consentimento,
prohibição, negação, duvida, receio, apprehensão,
ordem, etc., ex. «admira-me que estejas rico
quero que vásprohibo-te que lhe falles — nego
que ella seja pobre

2.ª

O verbo da clausula subordinada põe-se no subjunctivo
quando o verbo da clausula principal é verbo
264impessoal ou impessoalmente tomado, ex.: «Convem
que estejas aqui hojeImporta que não falteis
hoje á lição
E’ impossivel que vejas agora a lua
basta que endosse elle a lettra».

Exceptuam-se acontecer, resultar, seguir-se e os
verbos em cuja composição entra palavra que
exprime ideia positiva como é evidente, é certo, é
verdade
, e o verbo ser tomado impessoalmente; ex.:
«acontece que o rei tem de passar aqui hojeE’
verdade
que lhes negamos soccorrosE’ que elles
não
querem».

3.ª

Quando a clausula subordinada está ligada á clausula
principal por um dos pronomes, conjunctivos
que, qual, cujo, tem-se de examinar si a clausula
subordinada exprime cousa positiva ou cousa incerta:
no primeiro-caso usa-se do indicativo: no segundo
do subjunctivo, ex.:

Quero a casa que me agrada.

Hei de ir para um retiro
onde
hei de estar
socegado
.

Vou dizer-te cousas que
te
hão de divertir.

Mostra-me o caminho
que
vai dar ao rio.

Enviaram deputados
que
exprimiram a vontade
do povo
.

Vou plantar alli arvores
cuja sombra
é espessa.

Quero casa que me Agrade.

Hei de ir para um retiro
onde
esteja socegado.

Vou dizer-te cousas que
te
divirtam.

Mostra-me um caminho
que
dar no rio.

Enviaram deputados
que
exprimissem a vontade
do povo
.

Vou plantar alli arvores
cuja sombra
seja
espessa
.265

Põe-se no indicativo o verdo dá clausula subordinada,
que começa pelo pronome conjunctivo que

1) quando que tem por antecedente um substantivo
modificado por um superlativo relativo, ex.: «A doutrina
da evolução é o maior presente que a sciencia

tem feito á humanidade».

2) quando que tem por antecedente um substantivo
acompanhado ou representado pelos adjectivos ordinaes
primeiro, segundo, ultimo
, etc, ex.: «Este
leão é o primeiro que
matoEsta pedra estriada é
a segunda que
vejoE’ esta a ultima arvore que
planto».

3) quando o verbo da clausula subordinada não póde
ser substituido por construcção do infinito sem que
o sentido fique alterado, ex.: «Vi o pintor que fez
estes frescos
Conheço o advogado que lavrou este
protesto
».

Põe-se no subjunctivo o verbo da clausula subordinada
que começa pelo pronome conjunctivo que
quando o verbo da clausula subordinada póde, com
leve troca de palavras, ser substituido por construcção
do infinito sem que o sentido fique alterado,
ex.: «Tive gente que fosse por mimAcharei artista
que me
de conta d’este trabálho».

Quem, sendo, como é, equivalente de homem que,
etc, (468) subordina-se ás disposições d’esta regra
3.ª, ex.: «Vi quem fez estes frescosConheço quem
lavrou o protestoTive quem fosse por mim —
Acharei quem me de conta desse trabalho
».

4.ª

Depois da conjuncção si põe-se no indicativo o
verbo da clausula subordinada.

1) quando a clausula subordinada exprime uma cousa
266positiva, actual, ex.: «Eu, si vou ao theatro, é por
que gosto de representações dramaticas
Eu sei si
sou
pobre ou não».

2) quando a clausula subordinada exprime uma cousa
futura cuja realisação tem de ser determinada por
motivo extranho á vontade da pessôa que falla, ex.:
«Não sei si poderemos ir hoje ao theatroSó em
vista da fazenda é que decidiremos
si ficamos com
ella ou não
».

Depois da conjuncção si põe-se no subjunctivo o
verbo da clausula subordinada

1) quando é condicional a sentenças ex.: «Si Pedro fosse
eu iriaSi João for eu não irei».

Por uso da lingua as sentenças condicionaes do
futuro têm ás vezes no presente do indicativo os
verbos tanto da clausula principal como da subordinada
ex.: «Si João vai eu não vou».

2) quando a clausula subordinada exprime uma cousa
duvidosa, futura, cuja realisação tem de ser determinada
pela vontade da pessôa que falla, ex. «Não
sei
si vá hoje ao theatroEstou em duvida si endosse
ou não esta lettra».

5.ª

Depois das conjuncções embora e quer põe-se no
subjunctivo o verbo da clausula subordinada, ex.:
«embora seja pobre, Pedro ha de obter o que deseja
— quer Paulo venha, quer não, Sancho irá».

6.ª

Depois das conjuncções porque, como põe-se o
verbo da clausula subordinada, já no indicativo, já
267no subjunctivo, ex.: «Não sei porque arrisca (ou
arrisque) elle tamanhos capitaesEu como entendi
(ou como entendesse) O que elles estavam
dizendo
…»

7.ª

Depois das locuções conjunctivas ainda que, antes
que, caso, comquanto, comtanto que, para que,
por mais que, sem que, si bem que
, etc, põe-se
no subjunctivo o verbo da clausula subordinada,
ex.: «Ainda que eu seja rico não farei despezas
loucas
— Antes que cases olha o que fazes».

8.ª

Nas sentenças de sentido concessivo, desiderativo,
imprecativo e comminativo, põe-se no subjuntivo o
verbo da clausula principal, ex.: «Diagnostique
quem puder, — Cure quem quizer-me Deus vida
e saude
Parta-me um raioDiga-me elle isso (1)180».

A generalidade dos grammaticos, não admittindo
268clausula principal sem verbo no indicativo, explicam
estas construcções por meio de ellipses (1)181. E’ uma
doutrina metaphygica que a sciencia ja não acceita
hoje: as theorias deduzem-se dos factos, e não os
factos das theorias.

2
Imperativo

505. O imperativo só tem duas fórmas em Portuguez:
uma para a segunda pessôa do singular; outra para a segunda
do plural.

A não ser em estylo solemne ou em estylo familiar dá-se em Portuguez
ás segundas pessoas o tratamento de terceiras.

Não tendo o imperativo fórmas para as terceiras pessoas, supprese
a deficiencia com as terceiras pessoas do presente do subjunctivo
ex.: «Vá, meu amigoFiquem,-senhores».

506. Nas sentenças de negação, em vez do imperativo
usa-se do subjunctivo, ex.: «Não faças a outrem o que não
quizeras que te fizessem a ti
».

Contra esta regra peccou o douto lexicographo Portuguez, F. S.
Constancio, que, na «Introducção Grammatical» do seu Diccionario (2)182,
escreveu «Não faze a outrem, etc.».

Em Hespanhol é identica a construcção: «No firmes carta que no
leas, ni bebas agua que no veas
». Em Italiano substitue-se o imperativo
pelo infinito presente: «Non ti scordar di me». Em Francez emprega-se
só o imperativo: «Ne faite pas des folies». Em Latim usa-se quasi indifferentemente
do imperativo ou do subjunctivo presente: «Ne concupisce
ou ne concupiscas».269

3
Condicional

507. O condicional representa o enunciado do verbo
como dependente de uma condição. Seu emprego não offerece
difficuldades.

Entre o futuro e o condicional ha analogia, não sómente de fórma,
mas até de significação. Com effeito, o condicional indica um porvir em
relação ao passado, como o futuro designa um porvir em relação ao
presente: «Eu SEI que vocé não IRà a ParisEu SOUBE que vocé não
IRIA a Paris». O Portuguez, para exprimir este matiz de differença,
concebeu o condicional sob a forma de um infinito (amar) que indica o
futuro, e de desinencias (ia, ias, etc,) que mostram o passado (1)183.

§ 7.°
Formas nominaes do verbo

I
Infinito

508. O infinito portuguez tem a particularidade de
poder flexionar-se, e divide-se, conseguintemente, em infinito
pessoal
e infinito impessoal.

Esta particularidade da flexão do infinito, notada já nos mais antigos
documentos da lingua portugueza, encontra-se tambem no dialecto,
galego, ex.: «Para sairem e entrarem« (2)184. Nenhuma outra lingua a possue.
Gil Vicente commetteu o erro de escrever em Hespanhol «Teneis
gran razon de
llorardes vuestro mal» (3)185. Alguns poetas do Cancioneiro
270Geral (1)186 cahiram no mesmo engano. Camões que muito escreveu
em Hespanho foi sempre correcto,

509. Emprega-se o infinito pessoal

1) quando a clausula do infinito póde eximir-se da dependencia
em que está para com o verbo principal,
isto é, quando póde ser substituida por outra do indicativo
ou do subjuntivo.

2) depois de verbos no imperativo, ex.: «Dize-lhes terem
chegado hoje os navios
(2)187

3) por vezes arbitrariamente nos escriptos antigos, ex.:
«De morrermos desejando (3)188Nam curees de mays
chorardes
(4)189». E tambem o contrario «Não cures
de te queixar
» (5)190.

Para que se ponha o verbo no infinito pessoal ou no impessoal
> é indifferente que elle tenha ou não sujeito proprio

Exemplos em que o sujeito do infinito pertence só a elle:

1) E’ tempo de partires (isto é, de que partas).

2) Deus te desembarace o juizo para te emendares (isto
é, para que te emendes».

3) Basta sermos dominantes (isto é, que sejamos).

4) Não me espanto de fallardes tão ousadamente (isto
é, de que falleis).

5) Viu nascerem duas fontes (isto é, que nasciam).

Exemplos em que o sujeito do infinito tambem o
é ão verbo de que elle depende271

1) Não tens vergonha de ganhares a tua vida tão torpemente
(isto é, de que ganhes).

2) Todos estão alegres por terem paz (isto é, porque
tem
).

3) Não me podeis levar sem me matardes (isto é, sem
que me mateis
).

4) Folgarás de veres a policia (isto é, de que vejas).

5) Verdade sem trabalhares e padeceres não a verás
tu jamais
(isto é, sem que trabalhes e padeças).

510. Emprega-se o infinito impessoal,

1) quando o verbo no infinito não póde eximir se da
dependencia em que está para com o verbo principal.
Acontece isto especialmente com os verbos que
exprimem virtualidades, volições do espirito, taes
como poder, saber, desejar, intentar, pretender, que
rer
, etc., ex.: «Não podemos emprestar dinheiro
Sabeis fazer as cousasDesejamos partir cedoIntentais
comprar casas
Os mouros pretendem levar-nos
de vencida
».

2) quando com tal emprego não se prejudica a clareza
do jentido, muito embora possa a clausula ser
tambem construida com o infinito pessoal, ex.: «Napoleão
via seus batalhões
cahir feridos».

Esta é a doutrina de F. Diez (1)191, deduzida dos factos, positiva,
simples, satisfatória. As regras cerebrinas que na differença de sujeitos
baseiam Soares Barbosa, Sotero e cem outros, só servem para gerar incerteza
no espirito de quem estuda. Segundo taes regras os escriptos de
Camões, de Frei Luiz de Souza, de Vieira, de Herculano, estão inçados
de erros!!!

O infinito; quando não é empregado como substantivo apoia-se
272sempre sobre outra palavra. O infinito independente só se tolera no discurso
apaixonado nas phrases exclamativas, ex.: «Mentir eu?! — Morrermos
nós?!— Padecer assim varão de taes virtudes!
».

2
Participios

511. O participio presente usado hoje exclusivamente
como adjectivo [310, VI), 1] não admitte flexão de genero, e
só concorda em numero com o substantivo a que se refere,
quer como adjuncto attributivo, quer como predicado, ex.:
«Homem amante, mulher amante, homens amantes, mulheres
amantes
Este estylo é brilhante, esta pedra é brilhante,
estes estylos são brilhantes, estas pedras são brilhantes
».

512. O gerundio serve de adjectivo accional, e funcciona
como elemento de formapão do verbo frequentativo. E’
sempre invariavel. Precedido da preposipão em indica um facto
que vai ser seguido immediatamente de outro, ex.: «Eu, em
recebendo o dinheiro, pago-lhes
».

Já se encontra em Latim o gerundio regido de in, ex.: «Sed quid
ego heic in lamentando pereo
? (1)192».

513. O gerundio perfeito é um desenvolvimento paraphrastico
romanico do gerundio; como elle é tambem invariavel.

514. O participio aoristo é empregado como adjectivo
quando elemento de formação de tempos compostos, e serve,
para formar clausulas participaes; empregado como adjectivo,
isto é, como mero adjuncto attributivo, concorda em genero
e numero com o substantivo a que se refere, ex.: «Homem
amado, mulher amada
; homens amados, mulheres amadas».273

Empregado como elemento de formação de tempos compostos
é invariavel, ex.: «Tenho comprado cavallosTenho
visto mulheres
».

Empregado como elemento de formação de tempos compostos
da voz passiva concorda em genero e numero com o
sujeito, ex.: «O homem é amadoAs mulheres são vendidas».
(Vide Tabella n.° 9).

A concordancia ou não concordancia deste participio auxiliar com
o objecto do verbo é uma das grandes difficuldades da lingua franceza;
o Italiano e o Hespanhol movem-se mais livremente; o Portuguez emancipou-se
de uma vez, e tornou invariavel o participio. Todavia, os antigos
classicos o faziam concordar, ex: «Votos que em adversidades e
doenças tinha
feitos para remissão de quantas culpas tinham commettidas (1)193
Porque sempre o achara bom servidor e leal e muito ditoso nos
serviços que lhe tinha
feitos» (2)194. Ainda em Camões lê-se «E do Jordão
a areia tinha
vista (3)195».

Nas phrases «Ter occupados os sentidosTer casadas as filhas»
o participio concorda porque não está como elemento de tempo composto,
mas sim como mero adjuncto attributivo.

515. O participio aoristo, quando não empregado como
adjuncto attributivo, nem como elemento de formação nos
tempos compostos da voz activa e da passiva, forma clausulas
participaes absolutas, equivalentes de outras clausulas do
indicativo e do subjunctivo. Taes clausulas correspondem exactamente
aos ablativos absolutos latinos, formados com participios
preteritos.274

§ 8.°
Substituição dos tempos dos verbos uns pelos outros

516. Os tempos dos verbos determinam a actualidade,
ou os differentes graus de anterioridade ou posterioridade
do enunciado da sentença.

517. Para dar mais viveza e colorido á narrativa
empresga-se frequentemente o presente do indicativo

1) em logar do aoristo do indicativo, ex.: «Ao amanhecer
de 19 de Fevereiro a esquadra
accende as
fornalhas
, levanta ferros, sobe o rio, e, por sob
avalanchas de balas, por entre bulcões de fumo,
heroica, temeraria
, passa Humaytá e ancóra além,
atirando aos ares as notas guerreiras do hymno
nacional
».

2) em logar do futuro do indicativo, ex.: «Amanhã é
domingoNós vamos na semana que vem».

3) em logar do imperfeito do subjunctivo, ex.: «Si sei,
não lhe tinha dado o dinheiro».

4) em logar do futuro do subjunctivo, ex.: «Si avanças,
morres».

518. Por uso popular emprega-se o imperfeito do indicativo
em vez do imperfeito do condicional, ex.: «Eu não
as via si m’as não tivesses mostrado
Vossas excellencias podiam
ficar para jantar hoje comnosco».

519. Emprega-se em logar do imperativo presente o
futuro do indicativo, e tambem o infinito presente, ex.: «Amarás
a Deus sobre todas as cousas
Preparar! Apontar! Descançar
armas!
»

520. Para maior intimação, ao confirmar uma ordem,
ao terminar um discurso, emprega-se o perfeito do indicativo
275em logar do aoristo, ex.: «Tenho decididoTenho ditoTenho
concluido
».

521. Por um arrojo de linguagem emprega-se ás vezes
o aoristo do indicativo em vez do futuro, ex.:

«— Onde está o passaro?
Alli, naquelle galho torto. Ve?
Vejo. Vou atirar-lhe, e já morreu».

522. Nas sentenças dubitativas emprega-se algumas
vezes

1) o futuro do indicativo em vez do presente, ex.:
«Quantos não estarão hoje sem um tecto!».

2) o futuro anterior do indicativo em vez do perfeito
do indicativo, ex.: «Quantos não terão já feito
aquillo mesmo que hoje tão acremente reprovam

523. As fórmas em ra do plusquam perfeito do indicativo,
do imperfeito e perfeito do condicional, e do imperfeito
e plusquam perfeito do subjunctivo eram muitissimo usadas
pelos classicos: hoje as outras fórmas são geralmente
preferidas.

524. Nos escriptos do seculo XVI encontra-se um uso
curioso que deve ser mencionado apesar de estar hoje banido.

O imperfeito do indicativo fazia as vezes do presente, e até
alternava-se com elle na mesma sentença, ex.:

«Dar-te-ei, senhor illustre, relação
De mi, da lei, das armas que trazia (trago)».
Camões (1)196

«Deste Deus-homem, alto e infinito
Os livros que tu pedes não trazia (trago),
Que bem posso escusar trazer escripto
Em papel o que na alma andar devia (deve)».
Camões (2)197276

«Os dias vivo chorando; as noutes
mal as dormia (durmo)».
Bernardim Ribeiro (1)198

Este uso singular encontra-se tambem em Hespanhol, e,
o que é mais para notar, fóra da rima; ex.:

«Caçador me pareceys en
los sabuessos que trayas (traes) (2)199».

«Si hallo el agua clara, turbia
la bevia (bevo) yo (3)200».

O que se dava entre o imperfeito do indicativo e o premente
dava-se tambem entre o imperfeito do condicional e o
futuro, ex.:

«Se armas queres ver, como tens dito,
Cumprido esse desejo te seria (será)».
Camões (4)201.

Ferreira e Faria e Sousa chamaram «vulgaridade, modo
vulgar» a este uso. Diez (5)202 tem-no por «solecismo».

§ 9.°
Correspondendo, dos tempos dos verbos entre si

525. A correspondencia dos tempos dos verbos entre
si effectua-se da maneira seguinte:277

1) Ao presente do indicativo correspondem

a) todos os tempos do indicativo.: ex.:

«Digo / que fazes bem,
que fazias bem,
que tens feito bem,
que fizeste bem,
que tinhas feito bem,
que farás bem,
que terás feito bem».

b) os dous tempos do condicional ex.:

«Digo /que farias bem,
que terias feito bem».

c) o presente, o perfeito e o plusquam perfeito do
subjunctivo, ex.:

«Estimo / que venhas,
que tenhas vindo,
que tivesses vindo».

d) os dous tempos do infinito pessoal, ex.:

«Creio / chegarem elles hoje,
terem elles chegado hontem».

2) Ao imperfeito do indicativo correspondem

a) o imperfeito e o plusquam perfeito do indicativo,
ex.:

«Dizia / que fazias bem
que tinhas feito bem».278

b) os dous tempos do condicional, ex.:

«Eu julgava / que virias,
que terias vindo».

c) o imperfeito e o plusquam perfeito do subjunctivo,
ex.:

«Eu julgava / que viesses,
que tivesses vindo».

d) os dous tempos do infinito pessoal, ex.:

«Eu sabia / terem elles dinheiro,
terem elles tido dinheiro».

Estas duas formulas bem como outras analogas
são pouco usadas.

3) Ao perfeito do indicativo correspondem

a) todos os tempos do indicativo, ex.:

«Tenho dito / que tu és rico,
que tu eras rico,
que tu tens sido rico,
que tu foste rico,
que tu tinhas sido rico,
que tu serás rico,
que tu terás sido rico».

b) os dous tempos do condicional, ex.:

«Tenho dito / que tu farias bem,
que tu terias feito bem».279

c) o presente, o perfeito e o, plusquam perfeito do
subjunctivo, ex.:

«Tenho estimado / que tu venhas,
que tu tenhas vindo,
que tu tivesses vindo».

d) os dous tempos do infinito pessoal, ex.:

«Tenho dito / ser elle rico,
ter sido elle rico».

4) Ao aoristo do indicativo correspondem

a) todos os tempos do indicativo, ex.:

«Eu disse / que tu és rico,
que tu eras rico,
que tu tens sido rico,
que tu foste rico,
que tu tinhas sido rico,
que tu serás rico,
que tu terás sido rico».

b) os dous tempos do condicional, ex.:

«Eu disse / que tu irias,
que tu terias ido».

c) o imperfeito e o plusquam perfeito do subjunctivo,
ex.:

«Julguei / que tu viesses,
que tu tivesses vindo».

d) os dous tempos do infinito, ex.:

«Julguei / estar elle aqui,
ter elle estado aqui».280

5) Ao plusquam perfeito do indicativo correspondem

a) o imperfeito e o plusquam perfeito do indicativo, ex.:

«Eu tinha dito / que o amava,
que o tinha amado».

b) os dous tempos do condicional, ex.:

«Eu tinha dito / que tu virias,
que tu terias vindo».

c) o imperfeito e o plusquam perfeito do subjunctivo,
ex.:

«Eu tinha desejado / que elles viessem,
que elles tivessem vindo».

d) os dous tempos do infinito pessoal, ex.:

«Eu tinha estimado / virem elles armados,
terem elles vindo armados».

6) Ao futuro do indicativo correspondem

a) todos os tempos do indicativo, ex.:

«Direi / que tu vens,
que tu vinhas,
que tu tens vindo,
que tu vieste,
que tu tinhas vindo,
que tu virás,
que tu terás vindo».

b) os dous tempos do condicional, ex.:

«Direi / que tu irias,
que tu terias ido».281

c) o presente, o perfeito, o futuro e o futuro anterior
do subjunctivo, ex.:

«Direi / que venhas,
quando tenhas vindo,
quando vieres,
quando tiveres vindo».

d) os dous tempos do infinito pessoal, ex. :

«Estimarei / vires tu,
teres tu vindo».

7) Ao futuro anterior do indicativo correspondem

a) todos os tempos do indicativo, ex.:

«Eu terei dito / que tu vens,
que tu vinhas,
que tu tens vindo,
que tu vieste,
que tu tinhas vindo,
que tu virás,
que tu terás vindo».

b) os dous tempos do condicional, ex.:

«Eu terei dito / que tu virias,
que tu terias vindo».

c) o presente, o perfeito, o futuro e o futuro anterior
do subjunctivo, ex.:

«Pouco se terá perdido / quando tu venhas,
quando tu tenhas vindo,
quando tu vieres,
quando tu tiveres vindo».282

d) os dous tempos do infinito pessoal, ex.:

«Ter-se-á dito / vires tu armado
teres tu vindo armado».

8) A excepção do perfeito e do plusquam perfeito do
subjunticvo, ao presente do imperativo correspondem
todos os tempos que correspondem ao presente do
indicativo, e correspondem mais o futuro e o futuro
anterior do subjunctivo, ex.:

«Dize / que eu venho,
que eu vinha,
que eu tenho vindo,
que eu vim,
que eu tinha vindo,
que eu virei,
que eu terei vindo,
que eu viria,
que eu teria vindo,
quando eu venha,
si eu vier,
si eu tiver vindo,
vir eu,
ter eu vindo».

9) Ao imperfeito e ao perfeito do condicional correspondem

a) todos os tempos do indicativo, ex.:

«Eu diria ou teria dito / que vens,
que vinhas».

«Eu diria ou teria dito / que tens vindo
que vieste,
que tinhas vindo,
que virás,
que terás vindo».283

b) elles proprios, ex.:

«Eu diria ou teria dito / que virias,
que terias vindo».

c) o imperfeito e o plusquam perfeito do subjunctivo,
ex.:

«Eu diria ou teria dito / que viesses,
que tivesses vindos».

d) os dous tempos do infinito, ex.;

«Eu diria ou teria dito / vires tu,
teres tu vindo».

10) A todos os tempos do subjunctivo correspondem todos
os tempos do indicativo, do condicional e do infinito,
ex.:

image «Quando eu diga / Si eu dissesse / Quando eu tinha dito / Quando eu tivesse dito / Quando eu disser / Quando eu tiver dito | que vais, / que ias, / que tens ido, / que foste, / que tinhas ido, / que irás, / que terás ido, / que irias, / que terias ido, ires, teres ido».

11) Os tempos do subjunctivo correspondem-se entre si
da maneira seguinte:

a) ao presente corresponde elle proprio, éx.: «Quando
mesmo eu digo que faças
».284

b) ao imperfeito e plusquam perfeito correspondem
elles proprios, ex.:

«Se eu dissesse ou tivesse dito / que Pedro fosse,
que Paulo tivesse ido».

12) Nas verdades positivas, provadas, a todos os tempos
de todos os modos e fórmas nominaes corresponde
o presente do indicativo, ex.:

image «Tu dizes / Tu dizias / Tu tens dito / Tu disseste / Tu tinhas dito / Tu dirás / Tu terás dito / Dize / Tu dirias / Tu terias dito / Caso tu digas / Si tu dissesses / Quando tu tenhas dito / Si tu tivesses dito / Si tu disseres / Si tu tiveres dito / Dizeres tu / Teres tu dito / Dizer / Ter dito / Dizendo tu / Tendo tu dito / Dito / que a materia é eterna».

13) Aos dous tempos do infinito pessoal correspondem
285todos os tempos dos modos e fórmas nominaes
quando elementos de clausulas substantivos que porventura
lhes sirvam de objecto.

526. Os participios, quando não empregados como
adjunctos attributivos, nem como elementos de formação em
tempos compostos e em verbos frequentativos, não entram em
relação com os tempos dos quatro modos e do infinito por isso
que, como já ficou dito (515), formam clausulas absolutas,
independentes.

§ 10
Ser e Estar

527. A differenciação entre ser e estar é uma das
maiores difiiculdades que encontram os extrangeiros na aprendizagem
da lingua portugueza: preciso é, pois, discriminar bem
estes dous verbos.

1) O verbo ser serve de auxiliar da voz passiva em
todas as phrases que podem passar para a voz activa
sem mudança de tempo, ex.: «O Cabo Tormentorio
foi descoberto por Bartholomeu Dias»; na
voz activa «Bartholomeu Dias descobriu o Cabo
Tormentorio
».

2) O verbo estar parece tomar algumas vezes um sentido
passivo: neste caso, porém, elle exprime antes
um estado do sujeito do que uma acção sobre elle
recahida, ex.: «A ordem estava firmada pelo general».

Passando-se esta phrase para a voz activa sem
mudar o tempo do verbo, prova-se o que acima fica
dito, porquanto altera-se-lhe o sentido. Com effeito
«O general firmava a ordem» não é equivalente
286exacto da primeira phrase, em que não se dava
a entender que «o general estava firmando a
ordem
» mas que «já a tinha firmado».

3) Para ligar ao sujeito uma ideia que lhe é própria, que
lhe é inherente, usa-se de ser, ex.: «A materia
é indestructivel
A agua do mar é salgada».

4) Para ligar ao sujeito uma ideia que indica apenas
estado, situação, posição, usa-se de estar, ex.: «Estou
triste
Estou em RomaEstou deitado».

Milita esta regra ainda mesmo quando se seguem
outras palavras que apresentam o estado, a situação,
a posição do sujeito como cousa habitual, permanente,
ex.: «Pedro tem estado doente toda sua
vida
Estas montanhas estão sempre cobertas de neve».

5) O verbcr ser póde ligar immediatamente ao. sujeito
um infinito, ex.: «Vender com fraude é furtar».

6) O verbo estar, em virtude . da sua significação intransitiva,
por isso que indica sempre estado, situação,
posição, liga immediatamente ao sujeito adjectivos e
participios, mas não pôde sem auxilio de particula
ligar-lhe um infinito. Assim não se póde dizer «Pedro
está dormir
» mas sim dir-se-á «Pedro está dormindo».
ou «Pedro está a dormir».

7) O verbo ser exprime

image a) a origem, a proveniencia ex.: «Estevinhoé de Xerez». | b) a propriedade – «A casa é de Paulo». | c) a participação – «Vasco é da armada». | d) o destino – «Este livro é para José» | e) a dimensão – «A cidade é pequena». | f) a côr – «O lenço é azul». | g) a fórma – «A mesa é redonda».287

image h) a matéria – «O annel é de ouro». | i) as qualidades inherentes próprias – «A neve é fria». | j) as qualidades physiologicas – «Pedro é robusto». / «Paulo é intelligente». | k) o attributo expresso por substantivo ou infinito – «Paulo é imperador». / «Viver sem amar é vegetar».

8) O verbo estar exprime

image a) o estado ex.: «Estou feliz». / «Estou a ver navios». / «Estou sem fazer nada». | b) a maneira de estar – «Estou sentado». | c) a existenuia em um logar – «A espingarda está na caixa». | d) a situação – «A casa está em um alto».

9) O mesmo predicado póde exprimir uma qualidade
própria da natureza do sujeito e tambem póde exprimir
apenas um estado, uma situação, uma posição.
Como já ficou dito emprega-se no primeiro caso
o verbo ser, no segundo o verbo estar. Facil é,
pois, estabelecer a differença que existe entre as seguintes
phrases:

image Pedro é alegre ( por indole). / Pedro está alegre (actualmente). | O chá é caro (é sempre artigo caro). / O chá está caro (actualmente). | João foi feito eleitor (é possivel que ainda esteja no desempenho do cargo). / João esteve feito eleitor (já não exerce mais as funcções do cargo).

10) Casos ha em que parece poder-se empregar egualmente
o verbo ser e o verbo estar, ex.: «Isso é claro
— Isso está claro
». A razão é que a phrase póde ser
encarada tanto no sentido de um verbo, como no de
288outro; ou então porque são quasi imperceptiveis os
matizes que nestes casos distinguem ser de estar.
Com effeito, no primeiro exemplo diz-se que a cousa.
é clara por si própria; no segundo que ella está
apresentada com clareza
. Qualquer delles serve perfeitamente
para manifestar o pensamento.

11) O verbo estar, seguido da preposição de e de um
substantivo de emprego ou de profissão, indica que
o sujeito desempenha os encargos d’esse emprego,
dessa profisssão. Assim «Paulo está de consul em
Paris
» significa que Paulo está exercendo em Paris
as funcções de consul, o que póde até acontecer sem
que elle seja realmente consul.

12) O verbo estar seguido da preposição de e de um
substantivo qualquer, indica um estado actual que
póde durar ou não, ex.: «Pedro está de camaAntonio
está de espingarda
Francisco está de luto
Maria está de-filho
».

13) Casos ha todavia de difficil fixação, em que a escolha
de ser ou de estar parece ter sido determinada
unicamente pelo uso. Para taes casos o guia unico
é a leitura de bons escriptos portuguezes.

14) Ser e estar podem ser empregados em sentido impessoal,
ex.: «E’ que nós não queremosOra está
que não vamos
».

15) Na linguagem antiga ser era frequentemente usado
por estar, ex.: «Já sois chegados. (Camões)». Alguns
escriptores modernos seguem ainda este uso,
mas sómente em estylo elevado, ex.: «Eu era mudo
e só na rocha de granito
. (Guerra Junqeiro)».289

§ 11.°
Verbos impessoaes

528. O verbo impessoal, verdadeiro verbo defectivo,
porque só é usado na terceira pessôa do singular, encerrá em
si um como sujeito impessoal que se não exprime.

Todavia, uma outra ideia impessoal, uma clausula substantivo,
por exemplo, um pronome de sentido neutro, podem, n’este caso, desempenhar
tambem as funcções de sujeito.

529. O verbo impessoal ou entra em construcção só,
de modo absoluto, ex.: «ChoveTroveja»; ou toma um adjuncto
adverbial apropriado, ex.: «Chove a cantarosTroveja
horrorosamente
».

530. São verdadeiramente impessoaes certos verbos
que indicam a realisação de phenomenos astronomicos e meteorologicos,
taes como amanhecer, anoitecer, gear, nevar,
relampejar, trovejar, ventar, chover
, etc.

Estes verbos são empregados figuradamente quer como transitivos,
quer como intransitivos, ex.: «A espada lusitana chove estragos
Chovem bombas sobre a cidade».

531. Sem que sejam impessoaes por sua natureza
muitos verbos são usados impessoalmente. Taes são entre outros,
acontecer, bastar, convir, constar, correr, costumar,
cumprir, dar, dever, doer, estar, fazer, haver, importar, occorrer,
parecer, pezar, poder, poder ser
, (composto), querer
parecer
(composto), relevar, ser, soer, succeder, etc.

A’ excepção de dar, fazer e haver, estes verbos, quando usados
impessoalmente, têm quasi sempre por sujeito uma clausula substantivo,
ou um dos pronomes isto, isso, aquillo, etc., ex.: «Convem ao geneneral
que os soldados observem a disciplina
Deve haver gente láPeza-me
290ter-te offendido
Estes homens parece estarem doentesDa India
é que nos vieram as tradições
Quer-me parecer que estamos burlados —
Ora está que não vamos
Isto convemSuccedeu isso hojeAquillo não
parece bem
».

Emprega-se tambem impessoalmente qualquer verbo na terceira
pessôa do plural, ex.: «Em Paris dar-lhe-ão cabo da pelleMataram
o Presidente
».

532. O verbo dar émpregado na sentença «Já deu
dez horas
» e em outras identicas, conservando-se transitivo,
assume o kharacter de verdadeiro verbo impessoal, e não póde
ter sujeito claro.

533. O verbo fazer empregado em sentenças como
«Faz annos que estou aquiFaz mezes que nos vimos», conservando-se
transitivo, assume o kharacter de verdadeiro verbo
impessoal, e não póde ter sujeito claro (1)203.

Em Hespanhol e em Francez ha construcções identicas, ex.: «Hace
diez anos
Il fait des éclairs». Gregorio de Tours escreveu em Latim (2)204:
«Gravem hyemem facit». Si é authentica a passagem e si a verdadeira
lição não é «Gravis hyems fuit», como traz um unico manuscripto, este
uso do verbo facere é antiquissimo.

534. O verbo haver em sentenças como «Ha homens
— Ha fructas
Ha leis», conservando-se transitivo, assume o
kharacter de verdadeiro verbo impessoal, e não póde ter sujeito
claro [Vide (163, 4)].

Em Italiano, Hespanhol, Francez e Provençal encontram-se construcções
identicas, ex.: «Ha quindici giorniDiez años haIl a des
femmes
Kon a tan fin aman cum me». Ha a notar que em Francez moderno
a construcção requer sempre o emprego do adverbio de logar y,
e que em Italiano, Hespanhol, Provençal e Francez antigo ora apparece
ella com um adverbio de logar, ora não.291

Em Portuguez antigo empregava-se tambem o adverbio, ex.: «Não
ha hi quem me soccorra
(1)205Que geração tão dura ha hi de gente(2)206.
Hoje não é mais usado tal adverbio.

As palavras requeridas pelo verbo haver nesta construcção representam
o accusativo latino, e estão, conseguintemente, em relação objectiva;
A prova disso são as seguintes passagens em que a flexão indica
o caso original

Provençal — «Mans jocs y a» (3)207.

Francez velho — «Aguait ad e traïsun». (4)208

Portuguez — «Mas ahi não os houve mais homens (5)209
— Bom vinhó! Si o haverá tão maduro e tão
cerceal em Salamanca
» (6)210.

E’, pois, dislate a doutrina de Argote assim formulada por Vergueiro
e Pertence (7)211: «O verbo haver empregado no sentido de existir
usa-se nas terceiras pessoas do singular ainda que o sujeito seja
da terceira pessôa do plural».

Também não passa de subtileza metaphisica, condemnada pelos
factos linguisticos, a explicação que desenvolvidamente dá Sotero dos
Reis (8)212: «O verbo unipessoal haver, cuja significação é a mesma de
existir emprega-se ordinariamente com o sujeito grammatical occulto
classe, genero, especie, porção, quantidade, numero, tempo, espaço,
etc. — e um complemento expresso desse sujeito precedida da preposição
de tambem oeculta». Ex.:

«Dizei-lhe que tambem dos Portuguezes
Alguns traidores houve algumas vezes».
(Camões)292

«A syntaxe regular neste caso é — Dizei-lhe que tambem numero
de alguns traidores portuguezos, ou de entre os Portuguezes, houve
algumas vezes».

Como a de Sotero pecca ainda por methaphisica e falsa a doutrina
de Moraes, exposta pelo sr. Dr. Freire da Silva nos seguintes termos (1)213:
«Muitos grammaticos chamam o verbo haver unipessoal, quando
empregado, como nas phrases seguintes: «Ha homens extraordinarios
— Havia iguarias
Si houver tempo, irei visital-o». E’ elle, ao
contrario, o mesmo verbo haver pessoal e transitivo, com a significação
de ter ou possuir, derivado de habere que, em tal caso, é elegantemente
usado no singular com o sujeito occulto, o qual facilmente se
subentende pelo sentido, como se vê das mesmas phrases que em seguida
se acham repetidas com os sujeitos claros: «Ha homens extraordinarios,
isto é, O mundo ha ou tem homens extraordinariosHavia
iguarias
isto é, a mesa havia ou tinha iguariasSi houver tempo, irei
visital-o
, isto é, Si eu houver ou tiver tempo, irei visital-o»».

A verdade é que em taes construcções o verbo haver conserva-se
transitivo, e assume o kharater do verdadeiro verbo impessoal; o que
não necessita mais de sujeito claro do que chove, troveja, ou outro qualquer.

Os caipiras, fieis aos usos arkhaicos da lingua, como sóe sel-o a
gente do povo, exprimem-se de modo analogo ao dos Francezes: põem
claro um pronome que represente o sujeito neutro e impessoal dos verbos
impessoaes. Dizem: «elle chove muito láelle hai ainda algüas
fruitas
elle corre por ahi que o rei vem vindo (2)214».

Substituem tambem ter a haver, e dizem: «tem muita gente na
egreja
Agora tem muito peixe no tanque». Este uso vai-se tornando
geral no Brazil, até mesmo entre as pessôas illustradas.

Empregam ainda haver como synonymo de existir, dizendo: «No
tempo da revolução eu ainda não
haviaQuando eu me casei, elle já
havia». Só no imperfeito do indicativo é que usam deste verbo com esta
accepção.293

535. O verbo parecer emprega-se impessoalmente em
sentenças taes como «Estes homens parece estarem doentes».
Todavia tambem se póde dizer «Estes homens parecem estar
doentes
».

536. O verbo poder, além da sua significação própria,
tem tambem a de ser possivel (1)215: neste caso assume o
kharacter de impessoal, ex.: «póde haver muitas mortes, isto
é, E’ possivel haver muitas mortes».

Os caipiras accentuam muito esta significação, dizendo: «pode
que chovapóde que elles venham».

537. Ser, ao assumir kharacter de verbo impessoal,
deixa de ser mero verbo de copula entre o sujeito e o predicado;
toma a significação absoluta de existencia que tambem
tem esse em Latim, ex.: «Da India é que nos vieram as tradições
é, existe, tem realidade».

538. O verbo estar, ao assumir kharacter de verbo
impessoal, comporta-se exactamente como ser, com a differença
apenas de que inclue em sua significação um matiz da
ideia de elevação, de posição erecta que tem o Latim stare; o
Grego στάω,ἴστημι a raiz sanskrita stha; o Inglez stand; ex.:
«Ahi está o que eu previa, isto é ahi existe eretto o facto que
eu previa
».

§ 12
Concordancia do verbo com o sujeito

539. O verbo concorda com o sujeito em numero e
pessôa, ex.: «Eu sou estimadoNós temos dinheiroElle é
pobre
Ellas são ricas».294

Com os verbos que significam sufficiencia; abastança caréncia,
falta
viola-se as vezes esta regra, ex.: falta muitos dias para os exames
— José das Dornas é tambem uma bella personificação do nosso lavrador
;
Basta os ditos que elle atira aos filhos e aos creados na occasião
da esfolhada para inculcar a verdade d’aquella indole
(1)216

540. O verbo na voz passiva tambem concorda em
genero com o sujeito.

541. Uma sentença, um membro ou uma clausula de
sentença, uma phrase qualquer que sirva de sujeito, exige o
verbo no singular, ex.: «E’ verdade que somos ricosPoder
e não querer
é preferivel a querer e não poder».

542. Quando uma sentença tiver dous sujeitos, um
da primeira pessôa e outro da segunda ou da terceira, irá o
verbo para a primeira do plural, ex.: «Eu e tu ficaremos aqui
(eu e tu
isto é, nós).

543. Quando uma sentença tiver dous sujeitos, um
da segunda pessôa do singular e outro da terceira, irá o verbo
para a segunda.do plural, ex.: «Tu e ella passais bem (tu
e ella
, isto é, vós)».

544. Quando na sentença concorrem dous ou mais
sujeitos, todos da terceira pessôa do singular, irá o verbo, ou
para a terceira do plural a concordar com todos, ou para a
terceira do singular a concordar com cada um de per si, ex.:
«A justiça e a providencia de Deus onde estão?». ou «Onde está
a justiça e a providencia de Deus
?».

545. Quando o sujeito fôr um collectivo geral seguido
da preposição de e de um substantivo no plural, o verbo
irá para o singular, concordando com o collectivo e não com
o substantivo do plural, ex.: «O exercito dos alliados ficou inteiramente
derrrotado».

546. Quando o sujeito é um collectivo geral só ou
295seguido da preposição de e de um substantivo no singular, o
adjectivo e o verbo ficarão no singular, concordando com o
collectivo, ou irão para o plural, concordando com um substantivo,
que represente todos os individuos comprehendidos na
collecção, ex.: «Ditosa gente que não é maltratada ou que
não são maltratados de ciumes
».

547. Quando o sujeito é um collectivo partitivo seguido
da preposição de e de um substantivo no plural claro
ou occulto, o adjectivo e o verbo devem empregar-se no plural,
ex.: «A maior patle dos homens são analphabetos».

Mais depois de um leva o verbo ao singular ou ao plural, ex.:
mais de um é rico ou são ricos.

Mais depois de qualquer numeral plural leva sempre o verbo ao
plural, ex.: «mais de dous são ricosmais de mil estão em armas».

548. Quando dous ou mais sujeitos estão, separados
pelas conjuncções e, nem, ou: póde-se empregar o verbo no
singular concordando com cada um, ou no plural concordando
com todos, ex.: «Ao adejar a victoria sobre um dos campos,
terá descido sobre o outro o silencio e o repouso
do aniquilamento ou terão descido, etc. — nem a pesca
nem a caça
o diverte ou o divertemou a caça ou a
pesca
o diverte ou o divertem».

549. Dando-se, porém, a alternativa, isto é, não podendo
o facto expresso pelo verbo caber sinão a um só, irá o
verbo para o singular, ex.: «Ou o pae ou o filho será eleito
presidente
».

550. Representando as palavras componentes do sujeito
differentes pessôas, o verbo irá para o plural, e concordará
em pessôa com a que tiver prioridade, ex.: «Desta vez
ou eu ou tu seremos presidente da camara
».

551. Quando na sentença ha dous ou mais sujeitos,
e o primeiro está ligado aos outros pela preposição com, póde
empregar se o verbo no singular ou no plural, ex.: «O general
296com todos os seus soldados padecia ou padeciam grande
fome
». Mas si o verbo procede o primeiro sujeito do singular,
deve empregar-se no singular, ex.: «Padecia o general com
todos os seus grande fome
».

552. Quando o sujeito é um e outro ou nem um
nem outro
, póde empregar-se o verbo no singular ou no plural,
ex.: «Um e outro é meu irmão, ou um e outro são meus
irmãos. Nem um nem outro é meu irmão
, ou nem um nem
ouVro são meus irmãos
».

553. Tudo e nada, postos depois de muitos sujeitos
continuados, levam commumente o verbo ao singular, ex.: «O
ouro, as pérolas e os diamantes, tudo é terra
Jogos e espectáculos,
nada o tirava do seu retiro
».

554. Isso e tudo, tendo depois de si como predicados
substantivos do plural, levam o verbo ao plural, ex.: «Tudo
são sonhos de Scipião, enredos de Palmeirim, gigantes de palha
Isso são boatos sem fundamento».

555. O pronome conjuntivo que, quando tem por
antecedente um pronome pessoal, é sempre da mesma pessôa
desse pronome, ex.: «Sou eu que tenhoE’s tu que tensE’
elle que tem
Somos nós que temos, etc.». Mas quando, em
vez de que, se empregar quem, como esta palavra equivale
n’este caso a homem que, mulher que, homens que, mulheres
que
, deve-se empregar o verbo na terceira pessôa, ex.:
«Sou eu quem temE’s tu quem temSomos nós quem têm,
etc.».

Assim, póde-se indifferentemente dizer: «Fui eu que comprei ou
quem comprou este livro»; ou com inversão: «Quem comprou este livro
fui
eu».

556. Quando o predicado do verbo ser é um substantivo
acompanhado de que, o verbo seguinte póde concordar
em pessôa com o sujeito desse verbo ser, ou com o predicado,
devendo-se comtudo preferir a concordancia com o sujeito, ex.:
297«Eu sou um homem que ainda não vendi, ou, que ainda não
vendeu a consciencia
Eu sou uma dona que venho ou que
vem aqui
».

Ha exemplos frequentes de ir sempre ser para a terceira pessoa
do singular, dando-se a concordancia com o outro verbo: «Eu é que fallo
— Tu
é que fallasNós é que fallamosVós é que fallaisElles
é que fallam».

VI
Negações

557. São palavras negativas não, nem, nada, nenhum,
ninguem, nunca
; e tambem conforme a phrase algum,
jamais
.

558. Não é a palavra denegação perfeita ex.: «não
posso
não dounão».

Em algumas provincias do Brazil, como Bahia, Minas, não duplica-se,
ex.: «Não posso, não. Não dou, não».

Nas sentenças exclamativas não emprega-se como particula intensiva
para reforçar a expressão, ex.: «Quantos a estas horas não estão
mortos!

Que poeta que não era
Da linda Ignez o cantor!
»

559. Nem por vezes tem sentido affirmativo, equivalendo
a e ex.: «Por ventura a necessidade será lá tamanha,
nem a esmola tão bem empregada?» Phrases ha em que
nem
equivale a nem mesmo, ex.: «O pão nem de graça me
serve
».

Nem que significa por vezes como si, ex.: «Gasta nem
que
fôra rico».

Nem que equivale tambem a ainda mesmo que, quando
mesmo
, ex.: «Nem que elle me peça de joelhos».298

Que nem equivale a como, ex.: «Bebe que nem uma esponja».

Nem, emprega-se

1) apoiando-se em uma clausula em que já exista não,
ex.: «Não como, nem quero ver comer».

2) reforçada pela repetição, ex.: «Nem tenho, nem quero
ter tal cousa em casa».

3) só; mas isto raras vezes e com sentido dubitativo,
ex.: «Deixei-o, nem sei si morto».

4) reforçada por não na mesma clausula, mas só em
estylo familiar, ex.: «Não tenho nem um vintem que
possa dar a esté homem
».

5) reforçada por sem, ex.:

«E vão a seu prazer fazer aguadas
Sem achar resistencia, nem defeza».
Camões (1)217

560. Nada, nenhum, ninguem, nunca empregam-se

1) sós na clausula si precedem o verbo, ex.: «Nada tenho
Nenhum veioNinguem vemosNunca estudamos».

2) reformados por não, si estão depois do verbo; ex.:
«Não tenho nadanão veio nenhumNão vemos
ninguemNão estudamos nunca».

3) reforçados por nem em estylo familiar, ex.: «Não
vi festas nem nadaNem nenhum tenhoNem ninguem
veio — Nem nunca estudamos».

E’ este o uso actual da lingua: os classicos reforçavam com a negativa
não a nada, nenhum, ninguem, nunca, estivessem muito embora
antes do verbo, ex.: «Para que ninguem não saiba». Empregavam ás
299vezes como reforço, sinão como pleonasmo, uma triplice negação, ex.:
«Eu não vou nunca á casa de ninguem (1)218». Os caipiras dizem não «deixa
de
não fazer malNão deixa de não atrapalhar» em vez de «Não
deixa de fazer mal
Não deixa de atrapalhar». O preceito de grammatica
latina — duas negativas equivalem a uma affirmativa — preceito aliás
falso em muitas construcções latinas, não passou para as linguas romanicas.

561. Jamais emprega-se em logar de nunca, ex.:
«Eu jamais poderei ser rico». E’ tambem reforçado pela negativa
principal não no mesmo.caso em que o é nunca, ex.:
«Não descançou jamais». Encontram-se exemplos classicos de
nunca jamais, ex.: «Os maiores apparatos de guerra que
nunca jamais se viram (2)219».

562. Algum emprega-se ás vezes no fim da phrase
em logar de nenhum, ex.: «Eu por maneira alguma consentirei».

Todavia ha exemplos de algum posposto com o seu sentido proprio
de affirmação ex.:

«D’esta gente refresco algum tomamos».
Camões (3)220

«Ethiopes são todos, mas parece
Que com gente melhor communicavam;
Palavra alguma arabia se conhece,
Entre a linguagem sua que fallavam (4)221».

563. Em estylo faceto empregam-se como intensivas
da negação as palavras boia, cuminho, fava, figo, gota, mique,
nada, pataca, patavina, pitada, rasto, sombra, chique
,
300Etc., ex.: «Não entende patavinaNão sabe pitadaNão vi
rasto
Não ha nem sombraNem chique, nem mique, nem
nada
(1)222».

O uso de palavras intensiveis para negar com vehemencia era
muito frequente no Latim: circum, granam, micam, passam, punctum,
unguem
e muitas outras eram a cada passo empregadas pelos melhores
escriptores como reforço da negação. Passum e punctum introduziram-se
no Francez e, sob as fórmas pas e point, fazem hoje parte do fundo
da lingua, ex.: «Je ne veux pasJe ne vais point». Em Gil Vicente
lé-se

«Triste pranto até Belem
Nem
passo não se esquecia (2)223».

Mica, miga encontram-se no Italiano, ex.: «Ni mica trovo il mio
ardente disio
Se sa miga». Gil Vicente usou em Portuguez do derivado
migalha: «Não me presta ne migalha (3)224». A antiga palavra rem foi tambem
muito usada como intensiva, ex.: «Não valeu rem (4)225». As palavras
latinas nil, nihil, nihilum, e as innumeras que d’ellas se derivam,
devem o ser ao uso das intensivas: «com effeito, nil, nihil, nihilum equivalem
a ne hilum (5)226».

VII
Preposição

§ 1.°
A

564. A preposição a (do Latim ad que exprime essencialmente
o movimento para um ponto determinado) indica301

1) a direcção, ex.: «Estar a oesteJazer a leste-Ir a
Lisbôa
Vir a Madrid».

2) a contiguidade, ex.: «Estar á janellaEstar á porta
— Estar á beira do rio
».

3) a exposição ex.: «Viver ao solEstar á chuva».

4) o tempo em que, ex.: «A 4 de JaneiroA oito dias
precisos
A’ 1 hora, ás 5».

5) a tendencia, ex.: «Incitar d’iraGuiar á loucura».

6) a hora, ex.: «A’s tres horasA’ uma hora e cinco
minutos
».

7) o modo, ex.: «Vender a retalhosComprar a pedaços
— Andar á moda— Vestir á Luiz XV
Matar a sopapos
— Ferir a lançadas
Beber a sorvosChorar
a potes
».

8) a distancia, ex.: «A tres leguasA doze milhas
A dezoito khilometros
A trinta passosA cincoenta
braças
».

9) o instrumento, ex.: «Bater-se á espadaMatar á
pistola
Carregar á balaPassaro morto a chumbo
Pintar a pincel».

10) a matéria, ex.: «Bordar a ouroPintar a oleo».

11) o fim, ex.: «Antonio vai a capitãoPedro a bispo».

12) a realisação em futuro muito proximo, ex.: «Antonio
está a chegar
A vaca está a parir».

13) o preço distributivo, ex.: «Vendo carneiros a dez
mil reis
Compro vacas a quinze moedasDou os
figos a vintem
».

14) a taxa de juros, ex.: «Diriheiro a dez por centoTomei
um conto de reis a cinco por cento
».

565. A preposição a serve (Vide 486) para pôr em
relação adverbial o objecto de um verbo afim de evitar ambiguidade,
ex.: «Milão matou a Clodio».

566. Unida aos-artigos o, os, a preposição a encorpora-se
e fórma com elles uma palavra só — ão, aos.302

567. Unida a a, as, aquelles, etc., aquillo a preposição
a desapparece, e um accento agudo indica essa desappasição,
ex.: «áásáquelle, etc. — áquillo».

568. A preposição a liga-se por vezes ao nome que
rege, de modo que fórma com elle um todo susceptivel de
ser regido por outra preposição, ex.: «Vou de a péAndamos
de a cavallo
».

Estas locuções usadissimas entre nós pelos caipiras constituem
um romanicismo oxtreme, que tambem se encontra no Hespanhol, ex.:
«Mozos de hasta veinte anosRimas de a seis versos». A construcção
franceza do chamado artigo partitivo du, de la, des outra cousa não é
sinao o mesmo, romanicismo, ex.: «Avec du sucreSans de la farine».

§ 2.°
Ante

569. A preposição, ante (do Latim ante), bem como a
sua composta perante, indica confronto, comparecimento, ex.:
«Ante mim estás tuPerante o principe».

§ 3.°
Após, pós

570. As preposições após, pós, (do Latim post) indicam
posposição, seguimento, ex.: «Após o exercitoPós elles».
Pós é hoje pouco usada.

§ 4.°
Até, té

571. As preposições até, té, (do Latim hactenus) indicam
o termo local ou temporal preciso, exacto, ex.: «Até Paris
Até aquiAté hojeAté hontem á noite». é pouco
usada em prosa.303

§ 5.°
Com

572. A preposição com (do Latim cum) indica

1) a companhia, ex.: «Estou com PedroAntonio está
com o rei
».

2) a permanencia sob o dominio ou em poder de alguem,
ex.: «Esse moço está comigoMeu dinheiro
está com João
».

3) a adjunção, a mixtura, ex.: «Topar com alguem —
Cal com areia
».

4) o termo de acção, ex.: «Usa caridade com os inimigos
— Sê brando comigo
».

5) a comparação, ex.: «Antonio parece com Pedro».

6) o modo, ex.: «Andar com pressaresponder com
altivez
».

7) o meio, ex.: «Elle ganha dinheiro com seus romances».

8) o motivo, ex.: «Gritar com dores».

9) o instrumento, ex.: «Matar com facaFerir com espada».

10) o preço, ex.: «Comprar com vinte mil reis».

11) a opposição, ex.: «Arcar com os malesAtrever-se
com os elementos
».

573. A preposição com precedida de para significa em
relação
, ex.: «Para com ella minha alma é de ceraElle
se tem portado bem para comigo
».

§ 6.°
Contra

574. A preposição contra (do Latim contra) indica

1) opposição, ex.: «Pelejar contra os mouros».304

2) posição fronteira, ex.: «Dista cinco léguas de Diu
contra a ilha de Bet
».

§ 7.°
De

575. A preposição de (Latim de, que primitivamente
exprimia a descida e depois o afastamento em geral) indica

1) o logar donde, ex.: «Venho de RomaParto de Stockolmo».

2) a extracção, a origem, ex.: «Sou de RavennaSomos
de Obidos
».

3) a possessão, ex.: «Casa de PedroServo de Paulo».

4) a limitação, a restricção, ex.: «O reino de Nápoles
— A cidade de Coimbra
».

5) a posição, ex.: «Estou de frenteEstou de costas».

6) o estado, ex.: «Antonio está de sitioFrancisca está
de parto
».

7) a separação, ex.: «Tirar os filhos da mãe».

8) mudança, ex.: «Trocar de facto».

9) o ponto de partida em relação a logar e a tempo,
ex.: «De Vianna para cáDe hoje em diante».

10) o tempo em que, relativamente aos phenomenos astronomicos,
ex.: «De madrugadaDe manhãDe
dia
De tardeDe nouteDe verãoDe inverno».

10) a participação, ex.: «Comer deste pãoBeber deste
vinho
Ser dos nossos».

11) a matéria, ou constituinte, ou componente, ou conteuda,
ex.: «Livro de ouroBolo de milhoCacho
de uvas
Feixe de cannasCalix de licorCopo
de vinho
».

12) o assumpto, ex.: «Fallar de guerraMurmurar do
rei
».305

13) a mudança de estado, ex.: «De leão está feito ovelha
— Liberto de servo que era
».

14) o agente do verbo passivo, ex.: «Lavores gastos do
tempo
Bemdito de DeusO mar que só dos feios
phocas se navega
».

15) o motivo ex.: «Morrer de medoChorar de alegria
— Escumar de bravo
».

16) a falta, a isenção, o provimento, ex.: «Privado de
bens
Baldo de recursos; — Abrigado de chuvasLivre
de dividas
Cheio de filhosRico de terrenos».

17) meio, ex.: «Cercar de murosNutrir-se de fructas».

De encontra-se aqui com a instrumental cum, si bem que
a primeira particula propriamente só accrescente um com,
plemento a certas ideias verbaes, ao passo que a segunda accrescenta
uma circumstancia especial ás idéias mais diversas,
porquanto a concepção não é a mesma quando se diz,
por exemplo «Sustentar-se de peixe» e «Sustentar alguem
com dous peixes
». No estado mais antigo da lingua popular
romanica de tinha uma força instrumental, illimitada, de sorte
que, sob este ponto de vista, substituia absolutamente o ablativo,
e designava por isso o instrumento até que cum lhe
disputasse essa accepção. Pelo menos em Latim baixo de
é muitas vezes empregado com esse valor. Eis uma lista de
empregos diversos desta de instrumental: «Emi de mea pecunia
(Brequigny et Theil, Diplomata, chartæ, epistoltæ et
alia monumenta ad res franciscas spectantia
, Paris, 1791,
2.ª ann. 475) — De anulo nostro subtersigillare, (Ibidem, 27.ª
ann. 528) — De radicibus alebatur (Gregorio de Tours, 6, 8)
Vittam de auro exornatam (Brequigny, Op. cit., 86.b, ann.
590) — De manus suas excorticatas (Vetera analecta, formulæ
Mabillionii
, Paris, 1723, 21) — De linguas eorum dixerunt
(Formulæ veteres Marculphi Monachi aliorum que auctorum,
Paris, 1765, app. 33) — Alveus de cadaveribus repletus (Gesta
Regum Francorum
, Paris, 1739, Tome II du Recueil des
Historiens de la Gaule et de la France, .37). — De ramis celare
(Lex salica, Tit. LXVIII) — De nostris opibus subvenire
(Tiraboschi, Storia della badia di Nonantolo, Modena, 1785,
7.b, ann, 753) — De ignibus concremaverunt (Espana Sagrada,
Madrid, 1747, XIX, 384, ano. 995)». O sentido opposto
306de despojar exige tambem de: em Italiano, por exemplo,
«Spogliare, privare, diffraudare, sgombrare, scaricare, sfornire
d’una cosa
». Em Latim baixo «De pecoribus denudare
(Gregorio de Tours, 4, 45) — Evacuare de hominibus (Ibidem,
6, 31) (1)227».

18) a determinação, ex.: «Estar bem de saudePrompto
de mãos
Formoso de rostoRuivo de cabello».

19) o modo, ex.: «Estar de lutoPôr-se de joelhosVir
de carro
».

20) a intermediaçao entre o verbo e o adjectivo que representa
a natureza ou a propriedade physica ou moral
de uma pessôa, ex.: «Acoimar de feioChamar
de coxo
Fazer de ignoranteTractar de pobre».

21) a medida, ex.: «Fosso de cinco palmosFita de
trinta pés
».

22) a quantidade, ex.: «Corpo de vinte soldadosEsquadra
de trinta vasos
».

Explectivamente, para dar força á expressão emprega-se
a preposição de entre o adjectivo descriptivo
e o substantivo ou pronome, ex.: «O bom do homem
— Pobre de mim
».

§ 8.°
Desde, des

576. As preposições desde e des (sem origem immediata
latina) indicam precisamente o ponto de partida, quer
local, quer temporal, ex.: «Desde SevilhaDesde hontem á
noute até hoje pelas cinco horas
».307

§ 9.°
Em

577. A preposição em (Latim in) indica

1) o logar onde, ex.: «Estou em RomaMôro em Milão».

2) o tempo em que, ex.: «Em 4814No terceiro dia».

Frequentemente occulta-se esta preposição quando
ella indica tempo, ex.: «Vim DomingoDou um baile
esta semana
».

3) divisão, ex.: «Cortado em quatroLivro dividido
em capitulos
».

4) o modo, ex.: «Braços em cruzGente em circulo
— Andar em guerra
Viver em paz».

5) o assumpto, ex.: «Pensar em amoresFallar em
combates
Crer em Deus».

6) o fim, ex.: «Declaro-o em abono da verdadeDigo-o
em honra da patria
».

7) a avaliação, a estimativa, ex.: «Tenho-o em grande
conta
Avalio-o em cinco contos de reis».

8) a transição de um, estado para outro, ex.: «Traduzir
em Francez
Converter em peixesFazer em
pedaços
».

578. A preposição em ao combinar-se com o, a; este,
isto
; esse, isso; aquelle, aquillo, etc., deixa cahir o e, muda o
m em n; o que dá «no, na; neste, nisto; naquelle; naquillo:
etc. (Vide 56)».

§ 10
Entre

579. A preposição entre (do Latim inter) indica.

1) posição intermediaria, ex.: «Entre Pedro e Paulo —
308Entre quatro paredes
Entre vermelho e azulEntre
triste e alegre
».

2) a reciprocidade, ex.: «Artes e sciencias tem muita
connexão entre si
».

§ 11
Para

580. A preposição para (do baixo Latim per ad) indica

1) a direcção, ex.: «Virado para o nascenteVoltados
para a esquerda
».

2) o logar para onde, ex.: «Vou para MilãoIrei para
Macau
».

O emprego da preposição para, quando se quer exprimir
logar para onde, indica a intenção de demorar no logar;
quando se pretende passar ponco tempo no logar usa-se de a;
ex.: «Vou hoje a Londres, onde tenho negocios, e depois de
amanhã partirei
para Calcuttá onde resido».

3) o fim, ex.: «Livros para estudoFerros para o
trabalho
».

4) a futuridade, ex.: «Para o annoPara o mez que
vem
».

5) a realisaçao em futuro proximo, ex.: «Pedro está
para chegar
Antonio está para fechar o negocio».

6) a proporção, ex.: «3 está para 6, assim como 7 está
para 14
».

7) a attribuição, ex.: «Zelo para as cousas da religião».

8) a approximação de quantidades, ex.: «De duas para
tres leguas
».

581. Relativamente á locução «para com» veja-se o
que fica dito acima (573).309

§ 12
Por

582. A preposição por tem duas séries de accepções
diversas por isso que é dupla a sua origem etymologica. Por,
com effeito, vem de per e vem de pro.

Até o seculo XVI a fórma inalterada per era a representante em
Portuguez da preposição latina per, como por o era de pro: dizia-se
«Per montes e valles». e «Pola ley e pola grey».

Mais tarde, confundidas as significações, per e por tornaram-se
indistinctas, e uma d’ellas teve de desapparecer: foi per. Por supplantou-a,
e é hoje a unica. Todavia per teve tambem as suas victorias: as
fórmas compostas pelo, pela, etc, venceram e eliminaram as fórmas ri-,
vaes polo, pola, etc. Per vive ainda em muitas palavras compostas, e
na locução «de per si» conserva-ae em toda a pureza primitiva.

A confusão de per e pro data já da baixa latinidade: muitas vezes
figuram ambas na mesma sentença. Na España Sagrada, por exemplo,
lé-se: «Per omnes montes ao pro illis locis» (1)228

583. A preposição por, derivada de per, indica

1) logar por onde, ex.: «Por mar e por terraElle
anda por lá
».

2) a parte por onde se pega habitual ou accidentalmente
qualquer objecto, ex.: «Pegar pelo caboSegurar
pela perna
».

3) individuação e distribuição, ex.: «Um por um
Grão por grão
Milhares por diaSeis contos de
reis por anno
».

4) a duração, ex.: «Por duas horasPor tres annos».

5) a divisão, ex.: «epartir por pobres».

6) o modo, ex.: «Contar por partes».

7) o meio, ex.: «Elevar-se pela intrigaVencer por
armas
».310

8) o motivo, ex.: «Faltar por enfermoOccultar-se
por vergonha
».

9) o agente do verbo passivo, ex.: «Assassinados por
Indios
Cultivados por nós».

10) o juramento, a attestação, ex.: «Juro por Deus
Affirmo por minha honra
».

584. A preposição por derivada de pro indica

1) a substituição, ex.: «Dar homem por siPedro
compareceu por Paulo
».

2) o preço, ex.: «Vendi o livro por cinco mil reis
Comprei a casa por seis contos de reis
».

3) a opinião, a qualidade em que se tem, em que se
recébe pessôa ou cousa, ex.: «Tenho-o por sabio
Tomei-o por transfugaRecebi-a por mulherAdoptei-o
por filho
».

4) a parcialidade, o favor, ex.: «Estou pelo reiSomos
pela republica
Combatemos por Paulo».

5) o não acabamento, ex.: «A casa está por concluir
— O muro está por emboçar
».

§ 13
Sem

585. A preposição sem (do Latim sine) indica privação,
falta, ex.: «Estou sem dinheiroPedro está sem mulher».

§ 14
Sob

586. A preposição sob (do Latim sub) indica a situação
inferior, ex.: «Sob a camaSob os olhos».311

Desta significação decorrem todas as outras que tem sob, taes como
a de disfarce, a de tempo de governo, ex.: «Sob apparencia de paz
— Sob Napoleão 1
».

§ 15
Sobre

587. A preposição sobre (do Latim super) indica

1) a situação superior, ex.: «Está sobre a montanha
— paira a nuvem sobre nós
».

2) a aproximação, ex.: «Sobre a manhãSobre a noute
— Sobre o branco
».

3) o excesso, ex.: «Sobre cem mortos duzentos feridos
— Sobre queda couce
».

4) o assumpto, ex.: «Fallar sobre physicaEscrever
sobre biologia
».

§ 16
Trás

588. A preposição trás (do Latim tras) indica a posposição,
ex.: «Traz-os-montesTrás mim».

E’ pouco usada. Substitue-a a locução atrás de» ex: «Atrás de
mim
Atraz da casa».

§ 17.°
Preposições concurrentes

589. Muitas vezes, para exprimir a natureza complexa
de duas relações que se dão conjunctamente, unem-se duas
preposições, ex.: «De sobDe sobrePor entrePor sobre,
etc.»312

VIII
Conjuncção

590. Quando por meio de e liga-se uma phrase começada
por que (pronome ou conjuncção) a outra que deva
começar pelo mesmo que, é facultativo exprimil-o ou calal-o na
segunda phrase, ex.: «Eis o homem que atacou e que venceu
os Palmares
ou que atacou e venceuCreio que elle é rico e
que quer comprar esta casa
ou que elle é rico e quer comprar
esta casa
».

591. E’ quasi de obrigação exprimir-se a conjuncção
que no segundo membro quando se passa do sentido affirmativo
para o negativo e vice-versa, ex.: «Creio que elle é rico,
e que não quer comprar esta casa
».

592. Depois de e e de outras conjuncções coordenativas
póde-se exprimir ou calar certas palavras de fórma ou
de determinação precisa, ex.: «Da italia e da França ou Da
Italia e França
Para a corôa e para o sceptro ou Para a
corôa e sceptro
».

A grammatica franceza, cujas leis a este respeito são ferrenhas,
não nos póde servir aqui de modelo; o Italiano e o Provençal movem-se
um pouco mais á vontade; só o Hespanhol gosa n’este terreno da
mesma liberdade que tem o Portuguez. A ommissão ou a repetição do
artigo depois de conjuncções subordina-se a regras especiaes ja consignadas no
logar competente.

IX
Adverbio

593. O adverbio colloca-se juncto da palavra por elle
modificada, ex.: «Homem muito illustradoPedro escreve
rápido
Cesar escreveu muito concisamente».
313Por vezes o adjectivo concordado com o sujeito tem força de adverbio,
ex.: «Ella soffre caladaOs Turcos atacaram resolutos».

594. Quando se agrupam varios adverbios terminados
era mente só o ultimo assume esta desinencia, guardando
os outros a fórma feminina singular dos adjectivos de que
nascem, ex.: «Luctaram os Paraguayos calorosa, desatinada,
loucamente
».

Esta regra, que hoje só existe no Portuguez, existiu nos velhos
dialectos francezes d’oc e d’oil: nesses dialectos a terminação ment se collocava,
ou só depois do primeiro, ou só depois do ultimo adverbio.

Os actuaes escriptores portuguezes e brazileiros já nem sempre
respeitam a regra: usam por vezes de todos os adverbios completos,
ex.: «Batem rijamente, brutamente, de encontro á verdade».

E isso fazem para dar emphase á expressão.

595. emprega-se como intensivo da primeira pessoa,
e como intensivo das outras, ex.: «Eu cá julgo que
elle não vem
Nós cá queremos; — Tu, lá sabesVós lá podeis
— Elle lá tem
Elles lá são ricos».

596. emprega-se como dubitativo em referencia
a todas as pessoas, -ex.: «Eu lá seiNós lá queremos isso».

Este modo de expressão é acompanhado de uma intonação particular.

597. A locução adverbial no mais equivale a não
mais
; como se encontra duas vezes em Camões (1)229; o colendo
mestre, sr. Adolpho Góelho, tem-na por peculiaridade camoniana
que não se faz mister attribuir á influencia da lingua
hespanhola.314

Em Sorocaba, cidade da provincia de S. Paulo, que uma feira
annual de bestas punha sempre em contacto com Orientaes e Correntinos,
e onde a linguagem é ainda sensivelmente acastelhanada, tal locução
é usadissima; ouve-se a cada passo: «Entre no maisTire churrasco
no maisEnsilhe no mais O matungo» isto é «Entre, não mais;
entre sem ceremoniaTire churrasco, não mais; sem mais preambulos
Ensilhe o matungo, não mais; nada mais tem a fazer sinão ensilhar
o matungo
». A existencia da locução no dialecto sorocabano sô póde ser
devida á influencia castelhana.

598. A fórma masculina dos adjectivos que têm fórma
differente para cada genero, é empregada adverbialmente,
ex.: «Fallar alto» (Vide 324).

Os adjectivos que tém uma só fórma para ambos os generos
admittem tambem este uso, porém mais raramente. Já
se viu o exemplo de, Gil Vicente (324). Uma construcção usadissima
é a adverbiação do adjectivo possivel, ex.: «Vai em
nove annos que o auctor emprehendeu trabalhos que deviam
ser os mais completos
possivel sobre as linguas, as tradições
e as superstições do seu paiz
» (1)230.

X
Interjeição

599. A interjeição, como brado instinctivo que é, não
se subordina a regras de syntaxe. Nada ha aqui a dizer sobre
ella.315

Livro quarto
Additamentos

I
Pontuação

600. Pontuação é a arte de dividir por meio de signaes
graphicos as partes do discurso que não tem entre si
ligação intima, e de mostrar do modo mais claro as relações
que existem entre essas partes.

A pontuação é para a syntaxe o que a accentuação é para
a lexeologia: a accentuação faz distinguir a significação das
palavras isoladas; a pontuação discrimina o sentido dos membros,
clausulas e sentenças do discurso. Os accentos são, pois,
signaes lexeologicos; as notações da pontuação, signaes syntácticos.

601. Doze são as notações graphicas da pontuação:

1) a virgula ou comma — (,)
2) o ponto e virgula ou semicolon — (;)
3) os dois pontos ou colon — (:)
4) o ponto final — (.)
5) o ponto de interrogação — (?)
6) o ponto de admiração — (!)
7) os pontos de reticencia — ()
8) a parenthesis — (( ))
9) as aspas — (« ».)
10) o hyphen — (-)
11) o travessão — ()
12) o paragrapho — ()316

1
Virgula

602. Usa- se da virgula

1) entre palavras, membros, e clausulas que estão na
mesma relação, ex.: «— A riqueza, a saude, o praser
são cousas transitórias
Antonio vive, Pedro vegeta
— Francisco disse-me que eu fosse, que batesse, que
entrasse, que tirasse os livros
».

2) antes e depois de toda a palavra, phrase ou clausula
que se póde supprimir sem desnaturar o sentido,
ex.: «Não vos aparteis, filhos, do caminho da honra
— A amizade
, dom do ceo, é o goso do sabioA
vida
, dizia socrates, só deve ser a meditação da
morte
O tempo, que voa quando somos felizes,
parece estacar quando somos desgraçados
».

3) depois de uma clausula que se não póde supprimir
sem offensa do sentido, mas que é bastante extensa,
ex.: «Um arabe que se destina ao rude officio de
salteador do deserto, acostuma-se cedo ás fadigas
das correrias
».

Chama-se a esta virgula virgula de respiração.

4) para substituir um verbo subentendido, ex.: «Eu
comi figos
; Antonio, laranjas».

5) depois de muitos sujeitos eguaes em força de expressão,
quando entre os dous ultimos não medeia
a conjuncção e, ex.: «Africanos, Gaulezes, Getulos,
Egypcios, tinham transformado a linguagem de
Roma
».

Esta regra tem per fim evitar que o verbo pareça referir-se
com mais especialidade ao sujeito que o precede immediatamente.317

6) depois das conjuncções mas, ora, pois, porquanto,
todavia, quando
; si, principiando por ellas a sentença,
quer-se insistir sobre a sua significação, ex.:
«Mas, note bem o que eu digo».

7) depois de assim, então, demais e de outros adverbios
e locuções adverbiaes empregadas em principios
de sentenças com sentido de .conjuncção, ex.: «Assim,
conto com o que me prometleu
Então, iremos
hoje sem falta
?».

8) depois de sim ou não, collocados no principio da
sentença, ex.: «Sim, ireiNão, já Ihé disse».

603. Omitte-se a virgula

1) entre partes ligadas pelas conjuncções e, nem, ou,
a não ser que taes partes sejam muito extensas, ex.:
«A soberba destróe e suffoca todas as virtudesNão
estive em Roma nem em Nápoles
, — E’ preciso vencer
ou morrer
».

Diz-se, porém: «Ninguem se contenta com o que
possue, nem se descontenta com o espirito que tem
».
porque as partes ligadas pela conjuncção nem, são
em demasia extensas para serem pronunciadas de
um só folego.

2) depois do ultimo de muitos sujeitos quando a esse
ultimo se tem chegado por uma como gradação, ex:
«Uma palavra, um sorriso, um só olhar basta».

2
Ponto e virgula

604. Usa-se do ponto e virgula para separar preposições
similhantes e de alguma extensão, sobretudo si taes
preposições compõe-se de partes já divididas pela virgula, ex.:
318«As graças, que ha no mundo, mais seductoras são as da belleza;
as mais picantes, as do espirito; as mais commoventes,
as do coração
».

3
Dois pontos

605. Empregam-se os dous pontos

1) antes de uma citação, ex.: «Aristoteles dizia a seus
discipulos: Meus amigos, não ha amigos
».

2) antes de uma enumeração, si pela enumeração termina
a sentença, ex.: «Eis toda a religião khristã:
crer, esperar, amar».

3) depois de uma enumeração, si pela enumeração começa
a sentença, ex.: «Crer, esperar, amar: eis toda
a religião khristã
».

4) antes de uma reflexão ou de uma explanação, ex.:
«Nada faças encolerisado: levantarias ferro em occasião
de tempestade

4
Ponto final

606. Usa-se de ponto final

1) para fechar a sentença, ex.: «Saudei um morto.
Vou fallar rapidamente de um livro que foi a sua
despedida, e é seu monumento. Volvo a este modesto
cantinho, onde tenho affirmado uma cousa que
julgo grande e util
».

2) nas abreviações, ex.: «Sr. — Gram. Port.».319

5
Ponto de interrogação

607. O ponto de interrogação põe-se no fim das sentenças
interrogativas, ex.: «Como passa? — Quantos são

608. Muitas vezes o verbo está era fórma interrogativa
sem que haja interrogação no pensamento: neste caso não
se usa do ponto de interrogação, ex.: «Fazem-lhe a menor
observação, zangasse
».

609. Quando uma interrogação é seguida das phrases
disse elle, perguntou ella ou de outras analogas, precede-as o
ponto de interrogação, ex.: «Que quer vossé ? perguntou-lhe
a velha
».

6
Ponto de admiração

610. O ponto de admiração emprega-se no fim das
phrases que exprimem affectos subitos, considerações vivas e,
em geral, depois das interjeições, ex.: «Que prazer!Como
é bello!
Ah!».

611. Quando uma parte da phrase exclamativa é seguida
de palavras que della dependem, mas que estão fóra
da exclamação propriamente dita, põe-se o ponto de admiração
antes dessas palavras, e então póde elle equivaler a uma
virgula, ou a um ponto e virgula, conforme o sentido, ex.:
«Que transportes! mesmo antes de erguer o panno».

7
Pontos de reticencia

612. Os pontos de reticencia indicam interrupção da
expressão do pensamento, ex.: «Ventos ousados, eu vos…
Insta, porém, abandonar as vagas
».320

8
Parenthesis

613. A parenthesis é um signal duplo que serve para
fechar palavras que, no meio de uma sentença, formam sentido
distincto e separado, ex.:

«Eu só com meus vassallos, e com esta,
(E dizendo isto arranca meia espada)
Defenderei da força dura, e infesta,
A terra nunca de outrem subjugada: (1)231».

9
Aspas

614. Aspas são signaes que se põem no começo e no
fim de uma citação, muitas vezes mesmo no começo de todas
as linhas della e no fim da ultima, ex.: — Diz o sr. Guerra
Junqueiro
: «Ha duas especies de pudor: o que nasce da ignorancia
e o que nasce da dignidade; o pudor da menina e o
pudor da mulher».

10
Hyphen

615. O hyphen serve para unir duas ou mais palavras
que se devem pronunciar como si fossem, uma só ex.:
«Mestre-EscolaEspera-meDir-te-ia».

Collocado no fim da linha indica que a palavra se dividiu alli, indo
acabar no principio da linha seguinte.321

11
Travessão

616. O travessão indica

1) uma pausa maior que a do ponto e virgula e ao
mesmo tempo, pedido de attenção para as palavras
que seguem, ex.: «Os Khristãos viam com apparente
indifferença os seus vencedores polluirem as
ultimas cousas que, até sem esperança, ainda defende
uma, nação conquistada
as mulheres e os
templos
».

2) mudança de interlocutores em um dialogo, substituindo
as phrases disse elle, acudiu ella, responderam
elles, interromperam ellas
, etc, ex.:

«Os forasteiros são nossos irmãos pela carne, disse Amador
Bueno.

Os paulistas assassinados o eram pelo sangue, volveu
Luiz Pedroso.

— Matar o inimigo vencido é uma baixeza.
— Poupal-o é quasi um crime.
— A humanidade requer perdão para os emboabas.
— Piratininga exige o seu exterminio.
— E’ inutil vencer, si não é possivel transigir.
— Si se vence para amnistiar, não vale a pena combater.
— O cautério actual queima as carnes…
— E cura o cancro.
— O rigor aterra…
— E submette.
— O odio excessivo é villania.
— Clemencia demasiada degenera em traição (1)232».322

617. O paragrapho que é formado por um espaço em
branco deixado no principio da linha, deve ser considerado como
um signal de pontuação. Indica elle uma separação mais
accentuada do que a do ponto, e emprega-se para distinguir,
os differentes grupos de idéas de que se compõe um escripto,
ou para marcar a transição de um assumpto para outro. O
paragrapho acaba geralmente por um ponto final; todavia póde
tambem terminar-se por ponto e virgula e dous pontos,
como acontece nos considerandos e nas enumerações.

Para certos casos da composição typographica ha notações
peculiares taes como o asterisco (*), o obelisco ou adaga (†),
a dupla adaga (‡), a secção (§), as parallelas (║), o párrafo
([[), os colchetes ([]), a chave (}), o carete (˄), a mãozinha
(() etc.

II
Emprego de lettras maiusculas

618. Empregam-se lettras maiusculas

1) no começo de sentenças, ex.: «Tudo perdemos excepto
a honra
».

2) no começo de citações, ex.: «Ao ver erguido sobre
si o punhal de Bruto, Cesar exclamou: Tambem tu,
meu filho
».

3) na palavra que segue aos pontos de interrogação e
admiração, quando elles finalisam o sentido, ex.:
«Não me vês? Pois sou bem altoQue loucura a de
meu filho, santo Deus! Si elle nos abandona, perecemos
».

4) nos nomes proprios, ou nos communs tomados como
taes quer sejam de pessoas, quer de cousas, ex.:
«DeusRomuloos Portuguezesos Quebra-Khilos
— Abril
Londreso Evangelhoo Coliseu».323

Os nomes referentes ás divisões territoriaes do mundo,
quando empregados como adjectivos escrevem-se com lettra
minuscula, ex.: «Aprendi Francez por livros portuguezes;
Inglez por livros francezes; Grego por livros ingleses».

5) nos nomes de tractamento, ex.: «Vossa senhoria —
Vossa Santidade
SenhorSenhora, etc.»

Nos escriptos modernos mórmente nos do jornalismo, vai-se
estabelecendo o uso de escrever estes nomes com lettra
minuscula.

6) no principio de cada verso, ex.:

«Vai despontando o rosicler da aurora:
O azul sereno e vasto
Empallidece e córa,
Como se Deus lhe desse.
Um grande beijo luminoso e casto.
A estrella da manhã
Na altura resplandece;
E a cotovia, a sua linda irmã,
Vai pelo azul um cantico vibrando,
Tão limpido, tão alto, que parece
Que é a estrella no céo que está cantando» (1)233

7) nos titulos de livros, jornaes, ex.: «Os LuziadasO
Monitor Catholico
».

N’estes casos, bem como em taboletas, inscripções,
epitaphios, é tambem uso serem maiusculas todas
as lettras, ex.: «os lusiadasa gazeta de noticias
vinhos finosa’ memória de tira dentes
aqui jaz luiz de camões».324

III
Ordem das palavras e phrases na construcção
de sentenças simples

619. A construcção da sentença simples chama-se direita
quando se segue na disposição das palavras e phrases a
ordem logica da concepção do pensamento, ex.: «Antonio livrou-se
das garras do monstro por um esforço desesperados
».

620. A construcção da sentença simples chama-se inversa
quando para maior energia de expressão não se attende
na disposição das palavras e phrases á ordem logica das idéas,
ex.: «Por um desesperado exforço livrou-se Antonio das garras
do monstro
».

Sobre o logar que em casos especiaes devem occupar as differentes
partes do discurso já tudo ficou dito nas secções respectivas.

IV
Ordem dos membros e clausulas na construcção
de sentenças compostas

621. A construcção de sentença composta chama-se
direita quando se segue na disposição dos membros e clausulas
a ordem logica das concepções que constituem o pensamento,
ex.: «Ha poucas linguas nesta sociedade gangrenada
em que vivemos, que não apregoem as minhas vergonhosas
derrotas como triumphos esplendidos
».

622. A construcção da sentença composta chama-se
inversa quando na disposição dos membros e clausulas não
se guarda a ordem logica das concepções que constituem o
pensamento, ex.: «Nesta sociedade gangrenada em que vivemos
poucas linguas ha, que não apregôem como triumphos
esplendidos as minhas vergonhosas derrotas
».325

A tendencia que actualmente apresentam todas as linguas para
tornarem-se analyticas, é a causa da preferencia que cada vez mais tem
a construcção direita sobre a inversa.

Não é por se não fazer estudo dos modelos legitimos e castiços,
não é por se lerem muito os livros francezes que se vai transformando
a lingua portugueza; nem tal transformação é vergonhosa ou prejudicial (1)234.
Producto inevitável, necessário, fatal da evolução linguistica,
ella accusa nova phase do modo de pensar, accusa desenvolvimento do
cerebro, accusa progresso da humanidade.

Compare-se a linguagem das seguintes descripções, uma, feita,
por um escriptor do seculo XVI, outras por um contemporaneo nosso:

«Seis léguas do Congóxima está
huma fortaleza sujeita ao mesmo
rei de Sacçuma, que se póde
contar entre as maravilhas do Japão:
nem das desta sorto haverá
muitas no mundo; porque, se n’outras
partes se esmerou a arte, e
industria humana em mostrar o
saber, e ingenho com que contrafaz
as cousas naturaes, aqui dou
todas as mostras da força e violencia,
que póde fazer á mesma natureza.
He o sitio huma alta e grande
serra de rocha viva, onde está
em roda, feita ao picão, huma cava
mui larga, e tão profunda, que
mais parece se abria para ir fazer
guerra aos dominios do inferno
que para os homens se defenderem
huns dos outros na torra: ficárão
no meio do vão, a largura d’esta
cava desapegados e postos, como
insulas no mar, dez baluartes, que

«O chão estava cheio de folhas
sêccas, e, entre os troncos espaçados,
moitas de hortensias pendiam
abatidas, amarelladas dos chuveiros;
ao fundo a casa baixa, velha,
de um andar só, assentava pesadamente.
Ao longo da parede grandes
abóboras amadureciam ao sol,
e no telhado, toclo negro de inverno,
esvoaçavam pombos. Por traz
o laranjal formava uma massa de
folhagens verde-escuras; uma nora
chiava monotonamente
.

Junto do muro cresciam rosas
de todo o anno; do outro lado, por
entre os pilares de pedra que sus-
tentavam a latada e os pés toreidos
dos cepas, via-se, batido de luz
com tons amarellados, um grande,
campo de herva; os tectos baixos
do curral coberto de colmo destavam
ao longe em escuro, e d’esse
326

tendo no baixo o mesmo firme com
ella, vem subindo, em boa proporção,
solidos e massiços até o alto,
onde são vasados quanto basta
para commoda habitação da gente,
que os defende. Ha d’huns aos
outros boa distancia; porque assim
é mui grande o circuito da espantosa
cava: mas todos se correm
com pontes levadiças; e da mesma
maneira se passa de cada hum
ao campo do meio, ondo está o
forte principal, a quem estes do
fóra servem somente de muro (1)235».

lado um fumozinho leve e branco
perdia-se no ar muito azul

Era uma abertura estreita no
vallado: a terra do outro lado,
mais baixa, estava toda lamacenta
Via-se d’alli a fazenda da S. Joaneira:
o campo plano estendia-se
até um olival, com a herva fina
muito estreitada de pequenos malmequeres
brancos; uma vacca preta,
de grandes malhas, pastava; e
para além viam-se tectos aguçados,
dos casaes, onde voavam revoadas
de pardaes
(2)236».

V
Estylo

623. Estylo é o modo peculiar de fallar e escrever
que tem cada homem: quem o determina é a natureza: quem
o corrige é a observação.

Todavia, ha certos modos irregulares de expressão de
pensamento, que é util classificar. Estes modos irregulares de
pensar e de exprimir o pensamento manifestam-se, alterando
a syntaxe regular.

image 1) por omissão / 2) por augmento / 3) por transposição | de palavras e phrases327

624. As alterações da syntaxe regular acceitas pelo
uso chamam-se figuras da syntaxe.

625. A omissão faz-se pela figura ellipse.

626. Consiste a ellipse na suppressão de uma ou mais.
palavras faceis de subentenderem-se, ex.: «Ordeno que saias
daqui
».

Neste exemplo constitue ellipse a suppressão dos pronomes
eu e tu.

627. A ellipse toma o nome

1) de zeugma, quando se supprime o sujeito ou o verbo
da sentença que se coordena com outra, formando-se
assim sentença contracta (Vide 366) ex.: «Napoleão
bateu os Austriacos, derrotou os Inglezes, destruiu
os Mamelulcos, venceu a todos
Deu a uns conselhos,
a outros esperanças, a todos dinheiro
».

2) de syllepse quando supprime o substantivo ou o
pronome com que deveria concordar o verbo ou o
predicado, ex.: «Eu e tu somos tolos».

628. A syllepse póde ser

1) de genero, ex.: «Vossa Magestade é justo e bom».

2) de numero, ex.: «Parte dos inimigos fugiram».

3) de genero e de numero, ex.: «Parte da gente foram
destroçados e mortos
».

629. O augmento faz-se pela figura pleonasmo

630. Consiste o pleonasmo em junctar ás phrases
outras phrases que em rigor deveriam ser omittidas, mas que
servem para dar graça e energia ao pensamento, ex.: «Parece-me
a mim
Vi com estes olhos».

631. A transposição faz-se pela figura hyperbato.

632. Consiste o hyperbato na inversão das palavras e
phrases da sentença.328

633. O hyperbato toma o norne

1) de anastrophe, quando é ordenada a inversão das
palavras e phrases, ex.: «De Jesu Khristo a egreja
vezes nove
».

2) de synkhysis quando é desordenada a inversão de
palavras e phrases, ex.: «O céo fere com gritos nisto
a gente
(1)237».

634. E’ viciosa a synkhysis que gera confusão de
idéas, ex.:

«Entre todos co’o dedo eras notado
Lindos moços de Arzilla em galhardia» (2)238.

VI
Vicios

635. Vicios ha que deturpam o discurso, já nos seus
elementos lexeologicos, já nos seus elementos syntacticos.

636. O vicio lexeologico chama-se barbarismo, e consiste

1) em usar de palavras e phrases extranhas á lingua,
ex.: «AfrosoAbat-jour» em vez de «Medonho
Quebra-luz».

2) em dar ás palavras significação que ellas não têm,
ex.: «ConfeccionarDesapercebido» em vez de «Organisar
— Despercebido
».

3) em accentuar e articular erradamente as palavras,
ex.: «PúdicoCravão» em vez de «PudicoCarvão».329

4) em empregar termos obsoletos, ex.: «BoféLidimo»
em vez de «Certamente, Legitimo».

637. O vicio syntactico chama-se solecismo e consiste
em infringir as regras da syntaxe, ex.: «Nós vaiPara tu» em
vez de «Nós vamosPara ti».

638. Ha outros vicios que deturpam a parte musical,
a harmonia do discurso; são:

1) a kakophonia ou encontro de duas palavras que produza
uma terceira de significacão baixa ou torpe,
ex.: «Alma minhaEssa fadaElla trina».

2) o hiato ou encontro de vogaes accentuadas, ex.: «Vou
á aula
Mandou-o o honrado chefe».

3) o ekho ou concurrencia de sons identicos, ex.: «Quando
ando trabalhando
Elles procurarão consolação
á afflicção do seu coração
».

4) a collisão ou som aspero e desagradavel resultante
da successão de articulações roladas ou sibilantes,
ex.: «Temol-o por reiAs azas azues».

Os rethoricos tem regras e figuras para fazer de todos estes
vicios primores de linguagem.

Fim330

1(1) William Dwight Whitney, Essentials of English Grammar,
London, 1877, pag. 4-5.

2(1) Burgraff, Principes de Grammaire Générale, Liége, 1863,
pag. 11. Allen and Cornwell, English Grammar, London, 1865, pag.
9. Ayer, Grammaire Comparée de la Langue Française, Paris, 1876,
pag. 12. Bastin, Étude Philologique de la Langue Française, St. Petersbourg,
1878, vol, l, pag. 1. Chassang, Nouvelle Grammaire Grecque,
pag. 1 e 131.

3(1) Bebgman, Résumé d’Études d’Ontologie Générale et de Linguistique
Générale
, Paris, 1875, pag. 261.

4(1) Girault Duvivier, Grammaire des Grammaires, édition de
Lemaire, Paris, 1873, vol. I, pag. 4. Soares Barbosa, Grammatica
Philosophica
, Lisboa, 1871, pag. 2-6.

5(2) Mathias Duval, Cours de Physiologie, Paris, 1879, pag.
504 e 505.

6(1) Burgraff, Obra citada, pag 34 e 38 ; De Brosses, eitado ás
pag. 46 da mesma obra, Barbosa Leão, Coleção de Estudos e Documentos,
Lisbôa, 1878, pag. 3.

7(2) Max Muller, Nouvelles Leçons sur la Science da Langage,
trad. de Harris et Perrot, Paris, 1867, vol. I, pag. 155.

8(1) Nordheimer, A Critical Grammar of the Hebrew Language,
New-York, 1838, vol. I, pag. 10-11.

9(2) Emmanuel Alvarus, Instit. Grammatica, Romæ, 1860, pag.
174.

10(3) láem, Opus citatum, pag. 174

11(1) Ibidem.

12(2) Mandl, Hygiène de la voix parlée ou chantée. Paris, 1879.

13(1) Max Muller, Obra citada, vol. I, pag. 146.

14(1) Grammaire des Langues Romanes, Trad. d’Auguste Brachet
et Gaston Paris, Paris, 1874, vol. I, pag. 358-360.

15(1) Accentus dictus est ab accinendo, quod sit quasi quidam cujusque
syllabæ cantus: epud Græcos ideo prosodia dicitur quod «προσάδεται
ταίς συλλαβαίς». Diomedes, edit. Putsch, pag. 425.

«Est autem in dicendo etiam quidam cantus.». Cicero, Orator,
XVIII.

16(2) Balmes, Curso de Filosofia Elemental, Paris, 1872, pag.
234.

17(3) Obra citada, vol. I pag. 354.

18(4) Novo Diccionario Critico e Etymologico da Lingua Portugueza,
Paris, 1873, «Introducção Grammatical», pag. XIII.

19(1) J. A. Passos, Diccionario Grammatical Portuguez, Rio de
Janeiro, 1865, art. Prosodia. Sotero dos Reis, Grammatica Portugueza,
Maranhão, 1871, segunda edição, pag. 292.

20(2) Obra citada, pag. 19-35.

21(3) A. J. R. Lobato Arte da Grammatica da Lingua Portugueza,
Paris, 1837, pag. 145.

22(1) Veja-se a orthographia (67, 2.)

23(1) M. R. Costa, Grammatica Portugueza, segunda edição, Rio
de Janeiro, pag. 6.

24(2) Parnaso Lusitano, Paris, MDCCCXXYII, pag. 149.

25(1) An American Dictionary of the English Language, Springfield,
Mass, 1869, pag. 1643.

26(1) Os adjectivos gregos μισάνθρωπος, φίλάνθρωπος etc, origem immediata
dos nossos substantivos misánthropo, philánthropo, etc, têm o
accento na antepenultima syllaba.

27(2) ΄Ιππόδρομος em grego é a «raia de carreiras»; ΄Ιπποδρόμος é o
jockey. Segue-se que o termo Portuguez hippodromo, que significa somente
«raia de carreira», deve ser pronunciado hippódromo, e não hippodrômo.

28(1) Biblia, Juizes. XII, 6.

29(1) Representação á Academia Real das Ciências sobre a Refórma
da Ortografia
, Lisbôa, 1878.

30(2) Grammatica Portugueza Elementar, Porto, 1876, .pag. 146.

31(1) Moraes, Diccionario da Lingua Portugueza, 7.ª edição, Lisboa,
1877-1878.

32(2) Garrett, Da Educação, 2.ª edição, Porto, 1869, pag. 11-12.

33(1) Grammatica Analytica da Lingua Portugueza, Rio de Janeiro,
1865, pag. 226.

34(1) Historia Universal por Cesar Cantu, reformada e ampliada
por Antonio Ennes, Lisbôa, 1879.

35(1) Obra citada, pag. 10-12.

36(1) Do Grego θείος, θεία. E’ curioso que o Hespanhol, o Italiano,
o Portuguez e o dialecto da Picardia tenham tomado este termo do
Grego, deixando de parte os vocabulos latinos avunculus e amita dos
quaes os francezes derivaram os seus oncle e tante. Tia, Tio (Hesp.),
Zia, Zio, (Ital.), Thia, Thio, (Port.), Thïe, Théion (dialecto picardo).

37(1) J. A. Passos, Obra citada, art. Th.

38(2) Obra citada, lettra W.

39(3) Obra citada, artigos Revolve e Revolver.

40(1) Eurico, 4.ª Edição, Lisbôa, pag. 187 e passim.

41(1) Canto IV, Est. XXXVII.

42(1) J. A. Passos, Obra citada, pag. 33. T. C. Portugal, Orthographia
da Lingua Portugueza
, Paris, 1837, pag. 11.

43(2) Vergueiro e Pertence, Compendio da grammatica Portugueza,
Lisbôa, 1871, pag. 136.

44(3) Obra citada, pag. 11, nota.

45(4) O Hyssope, Paris, 1817, prefacio, pag. XIII.

46(1) Constancio, Obra citada, «Introducção Grammatical».
pag. L. T. C. Portugal, Obra citada, pag. 12.

47(2) Valle Cabral, Guia do Viajante no Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 1882, pag. 9.

48(1) Thomaz Ribeiro, D. Jayme, Canto IV.

49(1) Obra citada, pag. 61.

50(1) Guadia er Wierzeyski, Grammaire de la Langue Latine,
Paris, 1876, pag, 69.

51(1) Guardia et Wierzeyski; Obra citada, pag. 72-75; Burgraff,
Obra citada, pag. 526; Bastin, Obra citada, pag. 303.

52(1) Guardia et Wierzeyski, Obra citada, pag. 72; F. Dubner,
Grammaire Elémentaire et Pratique de la Langue Grecque, Paris, 1855,
pag. 11-14

53(1) Chassang (Nouvelle Grammaire Française Paris, 1881) elimina
o chamado artigo indefinito, qua vai com toda a razão occupar
o seu lógar de adjectivo determinativo indefinido.

54(1) Grivet, Obra citada, pag. 90.

55(1) Obra citada, pag. 64.

56(2) Grivet, Obra citada, pag. 96.

57(1) R. Schmidt, Stoicorum Grammatica, Halis, 1839, pag. 63.

58(1) Obra citada, pag. 237.

59(1) Brugraff, Obra citada, pag. 522.

60(2) Bergman, Obra citada, pag. 448.

61(1) Epitome da Grammatica Portugueza, na 7.ª edição do Diccionario,
pag. XIV.

62(1) Obra citada, pag. 512.

63(1) Obra citada, pag. X.

64(1) Guardia et Wierzeyski; Obra citada, pag. 75. Bastin,
Obra citada, pag. 303. Burgraff, Obra citada, pag. 527-528.

65(1) Mélanges de Mythologie et de Linguistique, Paris, 1877, pag.
328-329.

66(1) Nas linguas romanicas não ha supino; o snr. Bréal refere-se
ao Latim.

67(2) Theoria da Conjugação em Latim e Portuguez, Lisbôa, 1870
pag. 124 e seguintes.

68(1) Do grego ἀόριστος indefinido, indeterminado: tomou-se da
grammatica grega a denominação do tempo, e a maneira declassifical-o.

69(2) Em geral considera-se este tempo como presente; alguns
grammaticos têm-no como futuro. Pelo estudo comparativo da grammatica
latina vê-se que é imperfeito, e como tal o avaliam, entre outros,
o snr. Bento José de Oliveira na Nova Grammatica Portugueza,
(13.ª edição, Coimbra 1878) e o snr. Adolpho Coelho Obra Citada,
pag. 18.

70(1) Lusiadas, Canto V. Est, XXIV.

71(1) A razão é que = grão, gran, grand’ é o thema de grande,
tendo se de uma vez perdido a terminação. O mesmo dá-se com são =
san, sant’.

72(1) A. F. Castilho, Sonho de uma noute de S. João, Acto II
Scena 2.ª

73(1) Hyssope, Canto V.

74(1) Guilherme Braga, Parnaso Portuguez do Theophilo Braga,
Lisbôa, 1877, pag. 121.

75(2) Canto II, Est. IX.

76(1) Ayer, Obra citada, pag. 177-178.

77(1) Serm. tom. IV, edic. mod. pag. 297.

78(1) Reflexões sobre a Lingua Portugueza, Lisboa, 1842, 2.ª parte,
pag. 31.

79(1) Obra citada, pag. 29.

80(1) Obra citada, pag. 187.

81(1) Genio da Lingua Portugueza, Lisboa, 1858, tom. I, pag 244.

82(1) Émile Ferrière, Le Darwinisme, Paris, pag. 121 a 123.

83(1) Hovelacque, La Linguistique, Paris, 1877, pag. 377.

84(1) Na população que dao os documentos officiaes a esta região,
bem como nas de Moçambique e de Timor, estão comprehendidas
muitissimas tribus que não fallam Portuguez. Seria talvez rasoavel
baixar o total a 16.000.000.

85(2) O principio biologico que, conjunctamente com a acção dos
meios, produz a contração dos sons vogaes e a permutação das alterantes,
chama-se o — principio da minima acção, — isto é, do menor esforço
a fazer para pronunciar.

Baseia-se neste principio a celebre — lei de grimm — que se póde
assim resumir: «Estando verificado, como está; que o alphabeto primitivo
de nossos idiomas só comporta as alterantes — k, g, gh; t, d, dh;
p, b, bh
; n, m; r, l; j, v; s — segue-se que:

as — sonoras, surdas, aspiradas, — originaes
são — surdas, aspiradas, sonoras — em Gothico
e — aspiradas, sonoras, surdas — em Alto Allemão.»

Exemplo tomado dos sons dentaes

Sanskrito … Danta (dente)
Latim … Dentis
Grego … Odóntos
Gothico … Tunthus
Inglez … Tooth
Alto Allemão … Zande
Allemão … Zahn

86(1) Para exemplos de derivação de substantivos e adjectivos
emprega-se o ablativo singular da declinação latina.

87(1) No eskhema está c substituido por k: de facto, k é sempre
o representante do e latino, e a lettra e nas linguas romanicas symboliza
diversas modificações (k, s, tch).

88(2) Santa rosa viterbo, Elucidario, artigo jamar.

89(3) E’ esta a primeira vez que apparece a verdadeira etymologia
da palavra portugueza cacho. Moraes nada diz sobre a derivação
de tal palavra; o douto organisador do Diccionaurio de Fr. Domingos
Vieira
ensina que é ella de origem duvidosa; Diez (Worterbuch der
Romanischen Sprachen
) propõe cap’lare (capulare). Constancio deriva-a
de acinus!!! O maior mestre actual da philologia portugueza, o colendo
sr. Adolpho Coelho, entende que colcha e trecho são os casos unicos
da conversão do grupo inedio ct em ch.

Colcha e trecho autorisam-nos a derivar cacho de cacto (Κάκτος),
palavra grega que significa alcachofra, e que Plinio (21, 16, 57) empregou
em Latim como nome de uma planta siciliana «que tem caules
sahidos da raiz e alastrados pelo chão».

90(1) Quer Dioz (obra citada, vol. II pag. 3 e seguintes) que o caso
gerador dos nomes romanicos tenha sido o accusativo. Sobre o plural,
não ha duvida, foi. Quanto ao singular, as considerações do douto
mestre tanto se applicam ao accusativo, como ao ablativo. O que
elle diz dos nomes neutros fel, mel, corpus, prectos em portuguez fel,
mel, corpo, peito
é justo: não podiam vir do ablativo. Mas podiam vir
do nominativo, e o proprio Diez o reconhece em relação a substantivos
masculinos e femininos do Italiano e do Romeno.

O que dá ganho de causa ao ablativo, que alias satisfaz a todas
as exigencias, são as formas ablativas latinas mecum, tecum, secum
que passaram agglutivas eom a preposição para o Italiano, para o Hespanhol,
para o Portuguez.

91(1) O facto de terem muitos nomes em ão pluraes anti-historicos
e até mais de um plural, vem de que as combinações am e om, e om
que se representavam os derivados de substantivos de baixa latinidade
em ane, ano e one, passaram com o volver do tempo a serem lidas
da mesma maneira ão.

92(1) O erudito Plinio o Moço, escriptor do 1.° seculo da Era
Khristã, entendia que o prenome hic, hæc, hoc, empregado como determinativo
deveria ser reconhecido como verdadeiro artigo (phobus
Art. Gram., Edição de Lindeman, § 572, pag. 349). Nas escolas do
Imperio do Occidente usavam os grammaticos romanos de hic, hæc,
hoc
, para designar o genero dos nomes, como o confirma uma passagem
de Prisciano (Egger, Appollonnis Dyscolus, Paris, MDCCCLIV,
pag. 134-135).

93(2) Obra citada, 2.° vol, pag. 29.

94(3) Diccionario, «Introducção Grammatical», pag. XVIII.

95(4) Obra citada, pag. 37-38.

96(5) Genio da Lingua Portugueza, Lisboa, 1858, 1.° vol. pag.
201-202.

97(1) Guardia et Wierzeyski, Obra citada, pag. 272.

98(1) Em Francez doublet.

99(1) Para facilidade do confronto empregam-se na maioria d’estes
exemplos as fórmas do ablativo singular e do accusativo plural, matrizes
das palavras portuguezas.

100(1) Helferrich, Les langues néo-latines en Espagne, pag. 37.

101(1) Theophilo Braga, obra citada, pag. 65.

102(2) Obra citada, art. Fulano.

103(3) «Bertrand avec Raton, l’un singe, l’autre chat». Fables,
Edition de Hachette, Paris, 1849, Liv. IX, Fah. 17.

104(1) Nouvelle Grammaire Française, Paris, 1878, pag. 121.

105(2) Obras de Gil Vicente, Hamburgo, 1834, vol, III, pag. 6.

106(1) J. P. Ribeiro, I. 292.

107(2) Adolpho Coelho, Obra citada, pag. 82.

108(3) Gil Vicente, Obras citadas, vol, III, pag.175.

109(4) Cortes de D. Fernando, 1363, art. 18.

110(5) Frei João Claro, Opusculos, 234.

111(6) João de Barros, Grammatica.

112(1) Regra de S. Bento cap. 73.

113(2) J. P. Ribeiro, Documento de 1303, Diss. I, 292.

114(3) Cancioneiro da Ajuda.

115(4) J. P. Ribeiro, Diss. I, 285.

116(5) – – – Documento de 1364, Diss. IV, 155.

117(1) Cancioneiro de D. Diniz, pag. 24.

118(2) Dom Diniz, n. 125.

119(1) Frei João Claro, 28.

120(2) Idem, Cap. 3.°

121(3) F. Guard. 422.

122(4) – – 401.

123(1) Doc. das Bentas do Porto, 1318.

124(2) Cancioneiro da Vaticana, Canc. n. 509.

125(3) Documento da Cam. Secul. de Vizeu, 1304.

126(4) Cod. Alf. Livro III, Tit. 53. § V.

127(1) Cancioneiro inedito, e dom diniz.

128(2) 1481.

129(3) Grammatica, 1540.

130(4) Obra citada, vol II, pag. 170.

131(1) Obra citada, vol. II, pag. 178.

132(1) Trovas e cantares, Madrid, 1849, 32, 246. Dom Diniz, 72,
81, 118, 182. J. P. Ribeiro, I, 273.

133(2) J. P. Ribeiro, I, 297. Actos dos apostolos, 13, 47. Trovas e
Cantares
, 42. Dom Diniz, 17. Regra de S. Bento, 6. Memoria das
Rainhas de Portugal
, pag. 254. Livros de Linhagens, II, 216.

134(3) Trovas e Cantares, 246, 285. Dom Diniz, 58, 63. Foros de
Castello Rodrigo
, 869, 895.

135(4) Dom Diniz, 49, 72. Gil Vicente, I, 135. Trovas e Cantares,
56.

136(5) Chronica de Guiné, 33.

137(6) Historia Geral de Hespanha, prologo.

138(7) Fernão Lopes, 26.

139(1) Gil Vicente, I, 132. 257. Livros de Linhagens, I, 161, 171
Actos dos Apostolos, 23, 25, 26. Fernão Lopes, 6.

140(1) Todas as linguas romanicas, excepto o Rumeno, aproveitaram
esta construcção latina para exprimir o futuro.

141(1) 1492.

142(2) 1606.

143(1) Obra citada, vol. II, pag. 157.

144(1) O gerundio latino que é, por assim dizer, uma verdadeira
declinação do nome verbal infinito presente passou para o romanico
na fórma ablativa. Que o gerundio é o mesmo que o infinito presente
acompanhado de proposição prova-se pelas seguintes identicas phrases:
Vi-o chorando (Brazil), Vi-o a chorar (Portugal).

145(2) Regra de S. Bento, I pag. 266.

146(3) Ibidem, pag. 263.

147(4) Lusiadas, Cant. X. Est. CII.

148(1) J. P. Ribeiro, IV, 156.

149(1) Brachet, Obra citada, 119.

150(1) «Lectos per ad pauperes» (España Sagrada, Madrid, 1747,
XIX, 332, ann. 996) — Post egressum domini per ad Romam (Ibidem,
XL, 22, ann. 934.). Os antigos classicos portuguezes escreviam mais
etymologicamente «pera».

151(1) Frei Bernardo de Brito, Monarchia Lusitana, Tomo IV,
pag. 319.

152(2) Obras citadas, II, 497.

153(3) Horatius, Lib. I, Od. 22.

154(1) Rhetorica, 3, 9, 3.

155(2) Orator, LXI.

156(1) English Grammar, London, 1864, pag. 95.

157(1) Lusiadas, Cant. VI, Est. LXIV.

158(2) Cicero, Pro Archia, trad. de Borges de Figueiredo.

159(1) Lusiadas, Cant. III, Est. LI.

160(1) Barreto Feio, Prologo á edição de Gil Vicente.

161(1) Obra citada, vol. III, pag. 88.

162(2) Lusiadas, Cant. I, Est. XIII.

163(1) Lusiadas, Canto VI. Est, LXIX.

164(2) Affonso Africano, edição de 1611, pag. 216.

165(1) Lusiadas, Canto I, Est. LXXXVIII e LXXXIX.

166(1) Aeneis, Cant. I vers. 327.

167(2) Idem, Ibidem, vers. 343.

168(1) España Sagrada, XL, 365.

169(2) Terentius, Adephi, Act. III, Sc. 2.

170(1) Fénélon. Télémaque, Livre II.

171(2) De Bello Gallico, I, 10.

172(1) Lusiadas, logar já citado.

173(1) Lusiadas, Canto I, Est. XXXIX.

174(1) Chamam-se finitos os quatro modos, indicativo, imperativo,
condicional e subjunctivo.

175(2) Diez, Obra citada, vol. III, . pag. 122-123.

176(1) Obra citada, pag. 93.

177(1) Per, a não ser como prefixo, só se conserva na locução adverbial
«de per si».

178(1) Theoria da conjugação em latim e Portuguez, pag. 48-56.

179(1) Manuel de Philologie Classique, Paris, 1880, pag. 145.

180(1) Não é pretenção do auctor que estas regras abranjam todos
os casos possiveis do uso do subjunctivo. Este uso nas linguas aryanas,
mórmente nas indicas, hellenicas e italicas, é um verdadeiro Proteu:
quando o grammatico julga tel-o sob si vencido, atádo, captivo,
eil-o que se escapa fremente, livre, indomável. O uso do subjunetivo é
uma cousa instinctiva, como que o produeto de uma faculdade criada
no individuo pelo meio linguistieo que o rodeia desde a infancia. Entre
nós ouvem-se a escravos e a capiras analphabetos formulas complicadas
e correctissimas do subjunctivo portuguez, ao passo que estrangeiros
litteratos, versados em grammatica e philologia, após longos
annos de residencia no paiz, naufragam quasi sempre quando as
têm de empregar.

181(1) Girault Duvivier, Obra citada, pag. 689-690.

182(2) Pag. XXI.

183(1) Ayer, Obra citada, pag. 175.

184(2) Espana Sagrada, XLI, 351, carta de 1207.

185(3) Gil Vicente, II, 71.

186(1) Gessner, Das Altleonesische, pag. 26.

187(2) Esta eonstrucçao não é usual: seria preferivel dizer «Dize-lhes
que chegaram hoje os navios

188(3) Cancioneiro Geral, I, 293.

189(4) Ibidem, I, 289.

190(5) Bernadim Ribeiro, Obras, Lisboa, 1852, pag. 309.

191(1) Obra citada, vol. III, pag. 202-203.

192(1) Plauto.

193(1) Fernão Mendes Pinto, Peregrinação, Lisboa, 1829, Tomo
II pag. 347.

194(2) Fernão Lopes, Historia da India, Tomo I, cap. 1.°

195(3) Lusiadas, Canto III, Est. 27.

196(1) Lusiadas, Cant. I, Est. LXIV.

197(2) láem, idem, Est. LXVI.

198(1) Egloga IV.

199(2) Silva de Romances Viejos, Vienna, 1816, pag. 238.

200(3) Idem, pag. 310.

201(4) Lusiadas, Cant. I Est. LXVI.

202(5) Obra citada, vol. III, pag. 255.

203(1) Grivet, Obra citada, pag. 158-161.

204(2) III, 37.

205(1) Chronica do Condestabre, Lisboa, 1526, cap. 58.

206(2) Camões, Luziadas, Cant. II, Est. LXXXI.

207(3) Choix des poésies originales de Troubadours, Paris, 1816,
Tomo III, pag, 211.

208(4) Le Roux de Lancy, Les Quatre Livres des Rois, Paris, 1841,
pag. 337.

209(5) Bernardim Ribeiro, Obras Citadas, pag. 19.

210(6) Garrett, Arco de Saut’ Anna, Tomo I, pag. 78.

211(7) Obra Citada, pag. 85.

212(8) Postilhas de Grammatica Geral, 2.ª edição, Maranhão,
MDCCCLVIII, pag. 58-59.

213(1) Compendiode Grammatica Portugueza, S. Paulo, 1879, pag.
150.

214(2) Parece ser tambem este o uso corrente em Portugal. Garrett
o põe na bocca da gente do povo que faz entrar em suas composições:
«Tambem vós, Gertrudinhas! Elle era o que faltava (Arco de Sanct’ Anna,
Tomo I, pag. 120)». E só assim se explica a existencia de tal uso
no fallar da gente rude brazileira: é um legado dos colonisadores.

215(1) Roquette, Diccionario Portuguez-Francez, Pariz, 1855.
Art, Poder, v. n.

216(1) José Maria de Andrade Ferreira, Critica ás «Pupillas do
snr. Reitor», Gazeta Litteraria, Porto, 1868, pag. 92.

217(1) Lusiadas, Cant. I, Est. XCIII.

218(1) Diez, Obra citada, vol III, pag. 390.

219(2) Moraes, Diccionario, edição citada, Art. Jamais.

220(3) Camões, Cant. V, Est. LXIX.

221(4) Idem, Cant. V, Est. LXXVI.

222(1) Gil Vicente, Obras, edição citada, vol. I, pag. 127.

223(2) Ibidem, vol. III, png. 350.

224(3) Ibidem, vol. II, pag. 501.

225(4) Nobiliario do Conde D. Pedro, Roma, pag. 288.

226(5) «Hilum» significação «olho preto da fava».

227(1) Diez Obra citada, vol. III, pag. 152.

228(1) XXVI, 443, ann. 804.

229(1) Lusiadas, Cant. III. Est. LXVII, e Cant. X. Est. CXLV.

230(1) Adolpho Coelho, Questões da Lingua Portugueza, Porto,
1874, Advertencia, pag. V.

231(1) Lusiadas, Cant. IV, Est. XIX.

232(1) Padre Belchior de Pontes (romance do auctor), Campinas,
1876, Tomo I, pag. 229-230.

233(1) Guerra Junqueiro, Morte de D. João, Porto, 1876, pag. 313.

234(1) Ao pouco estudo dos classicos portuguezes e á leitura de livros
francezes attribue Sotero dos Reis a transformação do Portuguez,
e a qualifica de vergonhosa metamorphose (Postillas citadas, pag. 56-58)!!!

235(1) Lucena, Vida de São Francisco Xavier, Liv. VII, Cap. 21.
Foi conservada a orthographia do auctor.

236(2) Eça de Queiroz, O Crime do Padre Amaro, Porto, 1880,
pag. 157, 148, 250.

237(1) Camões, Lusiadas, Cant. VI, Est. LXXII.

238(2) Vasco de Quevedo Mousinho, Affonso Africano, Cant. III,
Est. LXXIII.