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Ribeiro, Júlio. Grammatica portugueza – T02

[Grammatica portugueza]

Prefacio

As antigas grammaticas portuguezas eram mais dissertações
de metaphysica do que exposições dos usos da lingua.

Para afastar-me da trilha batida, para expôr com clareza
as leis deduzidas dos factos do fallar vernaculo, não me
poupei a trabalhos.

Creio ter ferido o meu alvo.

Os erros de etymologia e de distribuição de matéria que
a critica honesta e illustrada de Karl von Reinhardstoettner (1)1
e de Alexandre Hummel (2)2 descobriram na primeira edição
de meu livro, corrigi-os eu n’esta segunda.

Acceitei grato os elogios da imprensa brazileira : com
os louvores dos competentes, de Ruy Barbosa, de Theophilo
Braga, do conselheiro Viale, exultei.

A’s criticas injustas e virulentas de gente atrabiliaria
que, á mingua de sciencia, lança mão do insulto, não havia
resposta a dar. Não é de bom conselho perder tempo com
cousas que a ninguem aproveitam.

Duas palavras sobre esta grammatica, e em particular
sobre esta edição.

Abandonei por abstractas e vagas as definições que eu
tomára de Burgraff : preferi amoldar-me ás de Whitney, mais
concretas, e mais claras.I

O systema de syntaxe é o systema germánico de Becker,
modificado e introduzido na Inglaterra por G. P. Mason, e. adoptado
por Whitney, por Bain, por Holmes, por todas as summidades
da grammaticographia saxonia.

O meu modo de expôr, a ordem que segui em distribuir
as matérias é de Bain. Cumpre notar que, ao dar á
luz em 1881 a primeira edição desta grammatica, eu ainda
não, tinha visto a « A Higher English Grammar ».

Folgo de que, sem previo accordo, eu tenha no campo
do pensamento caminhado a par de espirito tão elevado. Que
se concluirá de ter a minha obscuridade achado sem guia o
mesmo caminho seguido pelo eminente logico inglez ?

E’ que, sendo identicos os processos que empregamos
na distribuição dos factos glotticos e na maneira de encaral-os,
identico foi o resultado.

E’ de crer que tenhamos ambos acertado ; que se possam
applicar ao caso as palavras do sr. Michel Bréal (1)3 sobre
facto similhante, o encontro, a homogeneidade das grammaticas
gregas dos srs. Chassang e Bailly : « Quoique les
auteurs aient travaillé d’une façon indépendante, leurs
ouvrages présentent de nombreuses analogies, qui prouvent
en faveur de l'un et de l'autre, puisque le champ de
l'erreur est trop váste pour qu’on puisse aisément s’y rencontrer
 ».

Agora faço minhas as seguintes considerações de Bain,
mutatis levemente mutandis : « While availing myself of
the best works on the English Language, I have kept steadily
in view the following plan. Under Etymology (Lexeologia)
the three departments : 1.st, Classification of Words or the
Parts of Speeche
(Taxeonomia) ; 2nd. Inflexion (Kampenomia) ;
3rd., Derivation (Etymologia), have been separately
discussed. This method I think better adapted for conveying
IIgrammatical information than the elder one, of exhausting
successively each of the Parts of Speeeh in all itst relations
 ».

« For the sake of the accurate defintion of the Parts
of Speeeh, as well as for General Syntax, the recently introduced
system of the Analysis of Sentences is fully
explained. On this subject the method given by Mr. C. P.
Mason has been principally followed
(1)4 ».

Ocioso seria confessar o muito que devo a Paulino de
Sousa, a Theophilo Braga e a outros grammaticographos portuguezes.
Quem fòr versado em estudos de lingua vernacula
facilmente verá de quanto me valeram esses mestres.

Pelo que respeita a Adolpho Coelho, pergunto : quem
poderá escrever hoje sobre philologia portugueza sem tomal-o
por guia, sem se ver forçado a copial-o a cada passo ?

Apresento ao publico esta segunda edição de meò livro,
escudando-o com os louvores de tres homens venerandos, Ruy
Barbosa, o conselheiro Viale, André Lefèvre.

Por falta de espaço deixo com pezarde adduzir as opiniões
de Sylvo Romero, de Capistrano, de Arthur, de Theophilo
Braga, de tantos outros competentissimos.

Faço votos para que uma critica severa mas honesta auxilie-me
sempre em melhorar um trabalho que tanto favor
tem merecido.

Capivary, 30 de Dezembro de 1884.

Fragmento de uma carta do conselheiro Antonio José
Viale ao Exm. Sr. Dr. Rozendo Muniz.

« Li com grande satisfação a nova Grammatica Portugueza
do professor paulista o Sr. Julio Ribeiro. Aprendi n’ella muita
e muita cousa. Na minha opinião leva a palma a quantas grammaticas
IIIportuguezas conheço, algumas das quaes tenho approvado
na junta central de instrucção publica, de que sou
vogal. ».

Parecer e Projecto da Commissão de Instrucção publica,
apresentado á Camara dos Deputados em 12 de Septembro de
1882 ; relator Ruy Barbosa. Pagina 172 ; nota :

Louvores ao nosso distincto philologo, o Sr. Julio Ribeiro, pela intelligencia
com que comprehendeu e traduziu esta nova direcção (a de
Whitney) dos estudos grammaticaes. « Grammatica, diz elle, é a exposição
methodica dos factos da linguagem. »IV

1(1) Professor da Polytekhnica de Munich.

2(2) Distincto professor dinamarquez, residente em Tietê.

3(1) Mélanges de Mythologie et de Linguistique Paris, 1877,
pag. 335.

4(1) Desvaneço-me de que até na escolha de guia a soguir me
tenha eu encontrado com o grande philosopho inglez.